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Do.icdt, Google
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REVISTA TRIIIENSAL
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Do.icdt, Google
REVISTA TRIMENSAL
INSTITUTO HISTÓRICO '
Geographieo e Eduognphico do Brasil
FUNDADO SO BIO DB JANEIRO
DEBAIXO DA IMMEDIATA PROTECÇÃO DE S. U. 1.
O Sr. D. Pedro 11
TOHO XXXI
Parle prlaielra
lloc fácil, ui longoi iurent bene getla ptr annos
El potnnt terá ptulerilale frui.
RIO r>E JAINEinO
B. L. Saralcr — LlTrelr«-e41(*r
69 HUB do Ouvidor 69
i8«6
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'''^REVISTA TRIMENSAL
INSTITUTO HISTÓRICO
GEOGBIPBIOD, E ETHNOGRAPHICO DO BRASIL
l^RIMESTKE DE 1868
MEMORIA
SOBRE O UBLHOHAUBNTO DA PROVÍNCIA DB
S, PAULO
APPLIUTEL CM 6AAKDE PARTE As PROVI NCI.IS DO
BRASIL (•)
ASTONIO RODR1OUBSVE1.LOSO0E OLIVEIRA
ConuRendador da Ordem de Christo. do Confielbo de Estada de Sun tlages-
t*d« D Imperador Coiutitucional do GtmíI e seu Defeneor PeriKtuo
ADVERTÊNCIA
LbC' ViX. E dbRio-Jvii,
Para uãu apparecer criminosa na presença da lei, frau-
dados os meus deveres pela sempre culpável ínercía, ira^
balbei por fazer o que devia, advogando a causa da pátria,
e promovendo os seus mais preciosos interesses, como me
permittiram as minhas poucas forças.
Por esta razão, live a honra de oETerecer a el-rei o Senhor
D. João VI em 1810 a M.einvma, que sahe agora á luz, para o
(*) Julgamoe de sumiiio íDtercseu a reiíupjessTio d'esla ialcressíinle
Manoria do conEelheiro Velloso, que devemos á obsequjosiiladc do
nosM consócio o Sr. Dr. Ernesto Ferreira Franga.
[ Nota dí redacção )
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melhoramealo da capitaoía, hoje província de S. Paulo,
appticavel em grande parta a todas as outras do Brasil.
Não era minha intenção que ella se fizesse publica por
meio da imprensa, apezar dos votos dos meus amigos que
a leram; mas, honrado agora pela minha provinda de
S. Paulo, constituindo-me seu procurador geral, devia neces-
sariamente mudar de parecer, publicando as minhas anti-
gas reflexões, para de algum modo cumprir os deveres que
me são impostos pelo nunca assaz louvado decreto de-26
de Fevereiro d'este venturoso anno de 1822, 1° da liber-
dade e independência do Brasil.
E' na época feliz da honesta liberdade, e quando fa-
voráveis circumstancias concorrem á porfia para o augmento
e prosperidade da pátria, alé agora desvalida, que todos os
cidadãos de algum préstimo devem pensar com maior ar-
dor, escrever e manifestar as suas idéas. Eu os convido ao
necessário cumprimento de tão dignos ofllcios; e a lerem
com a mais imparcial reflexão a minha não' desprezivel
Memoria, que lhes vai ser apresentada, como ha doze an-
n06 foi escripta, intervindo comludo alguns adiantamentos
quome pareceram necessários á maior illuslração da matéria.
Da justa discussão de cada um dos artigos dos meus diffe-
rontes projectos ha, sem duvida,de resultar o importantíssimo
fim quii dirigiu a minha ponna, ísto é, a prosperidade da
grande terra que habitamos, c dos nossos mais proveitosos
interossos.
Dictzedby Google
INTRODUCÇAO
Agradou ao justo e incomparável soberano que nos go-
Tema, firmar a gloria da monarcbia do Brasil, c a fortuna
particular dos seus lieis vassallos sobre alicerces indestruc-
liveis.
Dignou-se, portanto, estender as suas vistas paternses
sobre a agricultura, fabricas, commercío e povoaçSo d'esle
mui vasto e interessantissimo psiz : destruiu o antigo sys-
tema colonial, que a fraqueza organisára e a necessidade
conservara: substituiu-Ihe a honesto liberdade de cultivar
com proveito desertos até agora inúteis, e que não podiam
vivificar-se; associando aos nossos trabalhos agrários a
industria e as fadigas dos estrangeiros, aos quaes mandou
distribuir terras com largueza e sem pensão alguma.
Quer que em Ioda a extensão dos seus vastos domínios
sejam os grosseiros tecidos de algodão para saccas, que
unicamente se permitliara, sem demora substiluidos pelas
mais preciosas e ricas producções da industria, applicada
ás matérias, que na maior abundância e como à porfia
nos ofTerecem o reino animal, o vegetal e o mineral :
determinou, emfim, que o commercio livre, e sem conhc-
ceroutros limites, além d'aquellesque são prescriplos pelas
regras do justo e do honesto, se encarregasse de levar
•tos paizes mais lemotos e ao mundf^inteiro os fructos da
nossa industria, e de augmentar o seu valor natural e
primitivo (1). E taes são, com efTeito, as solidas bases em
que deve repousar o respeitável edifício de um império
grande, justo, e equitavcl.
E' pois muito próprio da obrigação de todos os vassallos
(1) São capitães n'esios matérias a caria régia de 28 de Janeiro
de 1808, o atvará do 1° de Abril, c o decreto de 25 de Novembro do
mesmo anão.
DictizedbyGoOJ^IC
que pensam manifestar as suas idéas sobre o melhoramento
de qualquer ramo de industria nacional, ou de alguma
parte do paíz que habitam ; porque n'isso, imitando o seu
mesmo soberano, concorrem, como lhes é possível, para
facilitar os estabelecimentos, que elle lem em vista «para
a fortuna dos seus compatriotas.
Eis-aqui os motivos que me obrigaram a escrever esta
Memoria a respeito da capitania de S. Paulo, aonde nasci,
e cujas particulares circumstancias tenho cuidadosamente
examinado. Ella é uma das províncias mais interessantes
(]e todo este continente, e da qual se devem, com razão,
esperar riquezas incalculáveis, logo que se lhe proporcio-
nom os meios e se formem os estabelecimentos de que é
snsceplivel.
PARTE I
CAPITULO I
DESCRIPÇ^O t>\ CAPITANIA DE S. PAULO
E' a capitania de S. Paulo, como lodos sabem, muito
extensa, muito fértil o muito amena. Dívide-se natural-
mente em duas parles, maritima e central : seis portos
grandes, além de muilos pequenos, formados por outros
tantos rios, e numerosas enseadas, com seguros ancora-
douros, pela maior parte, adornam as suas costas, que se
estendem desde a praia Brava e ilha das Couves, aonde
termina a capitania do Rio de Janeiro, pela porte meri-
dional, na latitude austral de 23° e 3^, atéa do Rio Grande
de S. Pedro do Sut e Santa Catharína, na foz do rio de
S. Francisco, cm latitude de 26° e 25'. A sua extensão
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— 9 —
pelos tMiilorios de serra acima q&o é bem conheeida, e
chega talvez a 29* em aUeiiQão á sua irregularidade.
Por eete modo se devem considerar os seas limites occi-
deolaes ; por qutiDto, para esta parte, e carregando mais
ao sul, oooãoa com os povos das missdos do Uruguay, e
com os da Assumpção do Paraguay ; eiDcliaando-se para o
norte, ou pontos mais occidenlaes, termina com as capi-
tanias de Goyaz e Mato-Grosso; e em outros mais orien-
taes, com as de Minas Geraos e Rio de Janeiro, tendo
finatmeote este ímmenso espaço quanto á sua latitude 3°,
e de longitude t4°.
CAPITULO II
CIBCUMSTANCUS PRÓPRIAS DA PARTE MAUTIMA
As liellas madeiras, de que, abundam as ditas costas, «
igualmente as serras vizinhas, e as margens de muitos rios,
que descem do interior e são navegáveis por grandes es-
paços, ainda que não pouco desiguaes, otTereccm á con-
slrucçáo, em geral, foda a facilidade, e ao commercio
grandes riquezas.
A extraordinária e mui variada quantidade dos peixes,
que multiplicam quasí inutilmente para o homem nos
mares vizinhos, e vão, conduzidos pela naluroza, a des-
fructar o saboroso e certo alimento, que ellos diariamente
lhes liberalisam, e a possibilidade de se estabelecerem sa-
linas em muitos e dilferentes lugares, apropriados ao in-
tento, seguram á pescaria e a outros diversos estabeleci-
mentos muitas vantagens.
As matérias o pedras calcarias, que principalmente na
formosa ribeira de Iguape e nas costas da Cananéa for-
mam grandes e inexhauriveis montanhas, convidam áedi-
TOMO XXXI, P. 1. 2
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— IO —
fieaç&o, já faciliuda peU abuodancia das madeiras, e pro-
metlera ás operações agrarias ef&caz auxilio.
A espoDtonea producção da baaoilha, a outra da gerum -
beba, ou calo de coxonílha, cujo préstimo e valor DÍnguem
hoje ignora, assim como do piquíi, da sapucaia e dos
coqueiros de differentes espécies particulares (três ma-
naamaes fecundos de excellentes azeites, até para os adubos
da mesa) parecem anticipar aos poros os trabalhos e as
despezas da plantação e da lavoura.
A cultora, emfim, da laraogeira, da pimenteira da índia,
do craveiro e do cafezeiro, que parecem indígenas do paiz.
e a outra do arroz, o melhor que se conhece no Brasil,
bastariam para a producção das mais avultadas riquezas.
Mas o assucar, o algodão e o tabaco, com todos os mais
fructos e gados, que se cultivam e criam nas outras ca-
pitanias marítimas ao norte, prosperam de uma maneira ad-
mirável, e pelo menos com igual vantagem nes terras de
que fallo, divísando-se ainda n'eUas com mais particulari-
dade a grande abundância de aguas, que por toda a parte
se prestam liberalmente ao serviço de quaesquer machinas
e moinhos. Não é fácil eneonlrar em uma só província
tantas circumstancias, e tão vantajosamente reunidas a fa-
vor da agricultura, fabricas, navegação, commercio e po-
voação. Elias parecem desafiar de uma maneira imperiosa
os cuidados e as providencias do governo.
CAPITULO III
hAS PROPRIEDADES QUE ADORNAM A OUTRA PARTE CENTRAL
Não menos interessante se ostenta a parte central da
capitania de S. Paulo. Este paiz immenso, seguindo em
comprimento a direcção do sul e em largura a do oeste,
D,:„l,;cdtv Google
^ 11 —
para oade se estende mais, é todu alto e superior ao que
borda o mar. Talves que pela igualdade e circumstancias
da sua Ronfigoratão, seguindo constante, e suavamente por
um modo admirável a volta do globo, seja tfto fértil, como
se sabe, e a porção mais bella de todo o Brasil.
Prosperam no seu delicioso clima os fructos das quatro
parles do mundo conhecido em pleao ar, ainda que nem
todas as situações lhes sejam igualmente favoráveis. Os
gados oão precisam os cuidados da arte para multiplicarem
liberalmente, e o homem frugal e moderado desfrucla,
em quasi todos as lugares, os doces prazeres da natureza,
juntos dqueltes da saúde, da força do corpo, das bem
desenvolvidas faculdades da alma e de uma vida assaz
longa.
Os muitos e caudalosos rios, que regam o seu bellu
loreno, todos bordados de preciosas madeiras e variados
fructos, com outras producQÕes de grande estímaçAo e
valor, todos mui piscosos, todos navegáveis e abundantes
de ouro, e não poucos de mármores excellentes e das mais
ricas pedras preciosas, entre as quaes não se esconde o
diamante, augmentam ainda mais o valor do mesmo ter-
reno, e multiplicam as commodidades do homem. Assím
as muitas cachoeiras e a fereza dos índios que habitam as
margensde muitos d' estes rios, não puzessem tantos limites
ás mesmas commodidades.
Presla-se, não sem grande conveniência, A economia pu-
blica eaocommercioínterioroencadéamentodelantosaguas,
que, passando por planos successivamente inclinados e
engrossando com a união de outros, facilitam a narração
por todas as povoações ao norte de Mogjr das Cruzes, até
Lorena, pelos rios Parahybu, Paraitinga, Jacuy e Parai-
buna Pequeno, até agora não bem conhecidos, e meito
menos os vastos sertões que existem n'esta bellisstma si-
Dictzedby Google
(uação; entrelaato que outros váo fazer, pelo occídeote,
volumoso o Tietê ou A.Dhaniby , o Iguaçu, grande rio da
Curitiba, o Ivai, o Piquery, e o Paraná panema, formado
pelo Itapitininga, Taquary e Piray, no qual desagua o dia-
mantino Tibagy. E todos acompanhados de nSo poucosniais,
preslando-se á navegação da capitania inteira ea diversos
rumos, na distancia de mais de duas mil léguas, calcu-
lada a extensão das suas duplicadas margens, vSo emlim
enriquecer o Paraná, ponto centra) de toda a navegação
interior do Brasil para Goiazes, Cuyabá o Mato-Grosso,
assim como para os dois maiores rios do mundo, o Paraguay
(melhor conhecido com o nome da Prata, depois que n'elle
enlra o Pilco Mayo, e confunde as suas aguas com as do
mar, nas vizinhanças de Montevideo) e o Amazonas, que
na sua eitensissiraa ca rreira se presta ainda á navegação in-
teira de rauilos rios famosos de uma e outra margem;
sendo entre elles notados com muita particularídada o rio
Negro e o Branco, que n'ellc conflue pela parte de Teste,
regnndo as riquíssimas e intermináveis campinas da Guia-
na ; o Iça, não menos apreciável, e por fim o Jupurá, cuja
navegação franca se estonde por quatrocentas léguas. Qual
outro paiz no mundo tem proporções para tão extensa na-
vegação interior ! I Quando nos séculos futuros a povoação,
que ornava tanlos mares interiores, o o brutal despotismo se
não envergonha da haver destruído, fdr emfim restituída
ao seu antigo numero, e melhorada pela educação pró-
pria, que dirá o mundo da grande terra que habitamos I !
Não menos apreciáveis, emfim, são os famosos campos,
que geralmente formam o assento de um paíz tão recom-
mendavel: só elles, tomados separadamente, podem servir
para o mais rico e sohdo estabelecimento de uma nação tão
numerosa como a França eAllemanha : taes são os Gemes
na Curitiba, com os denominados de Ambrósio, cuja vas-
Dictizedby Google
— 1» —
tisBtraa extensão parece iaterminavel, e aiada se aSo cal-
culou exactamente. Os de Garapuava, que, separados
d'aqueUes por uma grossa mata de quarenta léguas de lar-
gura e desconhecido comprimeolo, correndo pela imme-
diaçào da serra da Apucurana, á margem do rio Iguaçu,
formam uma superfície, que se avalia em mais de seis mil
léguas quadradas. Os de Igatimy, aioda maiores e impor-
laolíssífflos, abrangendo desde a foz do rio Igua yniy, nas
Sele Quedas, e por ello acima, até os pontos mais altos da
Serra de Marecajú, e vertentes dos rios Ipané, Guaraj' o
Vocuy ; e por este abaixo até o Paraguay, os grandes paizes
de Guairá, Itaty e Tape, com os da antiga Vaccaria.
Os de Paranãpanema, de Itapetininga e de Mogy Guaçú,
até onde vai terminar com os remotissimos limites das
capitanias de Minas-Geraes, Goyaze Cuyab^, e além d'estes,
outros, que se vão pouco a pouco descobrindo no meio de
um vastíssimo e desconhecido sertão, laes como os de Arara-
quars nas margens do Tietê e Piracicaba, e os de Potenduba.
E para que um quadro tão importante terminasse com
os precioMts ornatos, que Ibe convém, nenhuma capitania
se tem feito tJo recommendavel, como a de S. Paulo, pelos
importantes e arriscados serviços que (Izoram á corda e
ao Estado os seus industriosos e esforçados naturaes;
serviços qiieexcitaram sempre o reconhecimento do throno,
e merecem a honrosa recordação que d^elles se digna, imi-
tando os seus augustas predecessores, fazer ultimamente,
DO alvará de 39 de Agosto de 1808, o mais amável dos '
soberanos.
Com efibito, aos naturaes de S. Paulo, í sua industria, á
sua força, e extraordinária constância, qualidades que os
fazem láo recommendaveis, como os povos mais celebres da
antiguidade, se deve o descobrimento ,e povoação de quasi
todas as terras que possuímos, desde o cabo de Santo
Dictzedby Google
^ u —
Agostinho alé os remulos coulins íb Mato-tirosso, e elles
mesmos as conservaram em toJa a sua iolegrídade, em
tempos calamitosos, e om dura guerra, destituídos de
auxilio externo, para d'ella3 fazerem fiel deposito nas mãos
augustas de nossos legítimos soberanos.
Um paiz tão importante não deve jezer por mais tempo
iiadesgra^-a que o tem opprimido. Vejamos de que modo
podor&o agora os seus naturaes dar-lhe o esplendor, que
Ibe convém, e habilitarera-se elles mesmos, no meio das
riquezas e das commodidades, para o bom exilo de todas
as emprezos necessárias ao serviço do Estado e á gloria do
soberano.
CAPITULO IV
DOS MEIOS PRÓPRIOS E REGRAS GERAES, PARA O APROVE tTAHEnTO
DA PARTE MARÍTIMA
Para se felicitar a parte marítima da capitania de S. Pau-
lo, ou para reviver com gloria a aatíga capitania de S. Vi-
cente, a primogénita do Brasil, creada pelo grande Martim
Allonso de Sousa, aquella que liberalísou is mais a plaota
das cannas de assucar, as sementes e os gados, que formam
actualmente os seus respectivos estabelecimentos, nada
mais seria necessário do que observar bem, e aproveitar
devidamente as circuoistancias particulares do paíz, segun-
do as idéas que ficam acima expendidas.
Com effeito, um corte económico de oiadeiras em diffe-
rentes lugares, e o estabelecimento dos competentes
moinhos, ou serras d'agua e de vapor, ou aind» de ani-
mães próprios, para a serragem e o aproveitamento d'ellas,
ó um dos meios mui lucnisos que se podem proporá in-
dustria e trabalho popular, não sem grande utilidade do
governo, cujns luzes u i)fudente economia desejava eu ver
DictzedbyGpOgle
— IS —
enipr^iadas «n dír^ir bem esta exceltente operação, sem
d'ella comtudo perceber direitos, ou emoiume ntos «Iguas,
coQtra o que agon se pratica sem lei nem ordem.
Uma espeeiiiação doesta natureza, e que por si mesma
se recommenda^ produziria : 1*, um ramo de commercio
assaz vantajoso, e tão superior ao da Suécia e Dinamarca,
quaolo é mais subida a qualidade das nossas madeiras,
mais rariada nos seus usos, e mais abondaute a quantidade
nas Doasas matas. Se pobres pinhaes podem na verdade
produzir avultadas riquezas, qual deve ser a nossa sorte
no commercio de madeiras tão preciosas, e que a Europa
inteira tanto ambiciona ? 3*. ella nos suppriria de Ioda a
qualidade de moveis grossos e miúdos, entre os quaes a
aduela, de que precisaremos em pouco 'tempo para mui-
tas mil pipas, e grande numero de toneis e barris, merece,
sem duvtda, particular memoria -, 3», forneceria grande
abundância de resinas, tintas, óleos e vernizes de se-
melhante valor, cujos préstimos, usos e necessidades seria
injurioso ignorar ; 4°, serviria de origem certíssima ao es-
tabeleeimeato dos estaleiros para a construcção dos barcos
e navios destinados á pescaria, á cabotagem, ao commer-
cio estrangeiro e armada real; 5*, produziria uma quanti-
dade avultada de porlassae potassa, originada de ramos,
folhas e cavacos inúteis. Os inglezes chamam perlassa o
sedimento do sal, que Uca no vaso, depois de cozida a li-
xívia, ou decoada das cinzas. Quando este sedimenta é pu- ,
ríficedo pelo fogo toma-se potassa ; 6', finalmente des-
embaiai^ria as terras de arvoredos importunos, e até agora
inutcBs, tornando-se logo em preciosos fundos de cultura,
e nova origem de população, de navegação mais fácil pelo
interior dos rios que descem ao mar, de novos prazeres e
commodidades ; e, o que mais importa sobretudo, de
sendo MM seus antigos e novos habitantes.
Dictzedby Google
— u —
Esle commercio d«s madeins exige aa verdade muito
cuidado e a mais particular atteoçáo; porque seguramente
se pôde dizer privativo do Brasil. B' um thesouro que a na-
tureza aos deu ua maior abundância para todos os nossos
usos e riquíssima exportação, e não deve ficar ioulil por
mais tempo. As nossas malas por si mesmas, e sem neces-
sidade de cultura, se reproduzem, jA das sementes cabidas
das grandes arvores, já dos próprios troncos, depois de
cortados , e chegam no espaço de trinta annos a grande
perfeição.
O Peru e o México não podem entrar em concurrencía a
este respeito com o Brasil, impedidos pela maior difficu)-
dade da sua navegação , e fretes muito mais subidos. As
madeiras da America Septenlrional, -que se podem reduzir
i duas espécies principaes, carvalho branco e pinho,
ainda vendidas com a mesma proporção ou dífTerençn de
preço que no mercado publioo adiam a aduela branca d'a-
quelle paiz e a preta do Báltico, vulgarmente chamada de
Hambuigo, não poderão jamais impedir o prompto con-
sumo das nossas, como se verifica a respeito da mesma
aduela; não sendo além d^isto o pinbo melhor que o do
norte da Europa ; e o carvalho tão inferior que um navio
fabricado d'esta madeira dura menos de metade do (empo,
do que outro feito de carvalho da producção européa.
Ora, que a exportação de madeiras unicamente da capi-
tania de S. Paulo, estendendo-se a todos os rios que do
mais interior descem ao mar por dilTerentes vias, podia ap-
proximar-se em valor á que actualmente fazem muitas das
provincias unidas, quando nos não impedisse a pobreza
da povoação, <i falta de braços e de industria , verdade é
de mui fácil demonstração, alheia porém d'es(a Memoria.
E que as nossas madeiras sejam melhores do que qualquer
espécie de carvalho, roais bellas e de uso muil o mais varia-
Dictzedby Google
— n —
do.iiem o abbado Paw se atreveu a negar; et[e,que,doininado
pelo espirito do mais decidido partido, viu por toda a parle
a natureza como degradada e privada da sua grande força
no novo mundo, e incapaz por isso mesmo de alguma
producçào tão bella e igual & do antigo.
Quantos bens procednm da pescSria em grande e bem
regulada lodos sabem. A ella devem a (irã-Bretanha, a
Krani;a, a llollanda e a Dinamarca uma não pequena
parle do seu eslabelecíraenlo o da sua prosperidade. Mas
quantas tentativas, inúteis umas, e todas dispendiosas;
quantas perdas de navios, quantos encontros políticos e
hostis não precederam a estes ricos eslabolecimentos?
Nós, pelo cootrarío, aâo temos de pescar em mares tor-
mentosos, e embarai^dos por eslranjjeira industria, ou
pela mã fé de pérfidos concurrentes : tudo para nás é fácil.
Vequenos capitães avançados a propósito, a formatura de
associações piscatórias, a vigilância constante do governo,
e a protecçio infailivel de que precisam os pescadores
são os instrumentos únicos e necessários para a perfeição
doesto ramo de industria.
Fanamos então a pescaria da tainha, da garoupa, da mi-
ragaia, da pescada, da sardinha ede outros muitos peixes,
entre os quaes nào falta obacalhão, que se divisam nas
estações próprias, e em (empos competentes, na maior
abundância, por tn<los os mares, ilhas, b;mcos, costas e
rios ao sul do Rio de Janeiro Alé Santa Catliarina : e ella
promette riquezas semelhantes às produzidas pelo bacalháo
uos bancos da Terra-Nova, e pelo arenque c sardinhas nas
costas de qualquer das quatro nações referidas; e além
d^ísto uma grande população e abastança de marinheiros
excellentes, como entie ellas acontece, para a navegação
mercantil, (la qual em toda a parte procede, como da sua
mais pura fonte, a armada real, a cujo estabelecimento ne-
TOMO XXXI, c I 3
Dictzedby Google
cessario é que se dirijam consta ntein«Dle os nossos votos,
porque elle conlém o meio singular, ou pelo menos mais
apropriado, para íezer poJerosa e mui respeitável a nossa
nascente monardiJa. C como na verdade de outra maneira
poderemos derender dos insultos bostis e inimigos as nos-
sas costas. ermas e desertas, offerecendo na extensão de
mil e duzentas léguas Irequenles e seguros desembarques ?
O estab^ecimento das salinas, sejam estas construídas
em pleno ar, ou cobertas e derendidas do insulto das chu-
vas copiosas d'estes climas, promettem igualmente riquezas
de maior consideraçio e o meio certissi mo de se melhora-
rem os animaes, as carnes, o leite, o sebo e as pelles, da
maneira mais própria e mais conveoieiite ; servindo-nos
assim o reino animal de fundamento ao commercio mais
rico do mundo, n^este artigo interessantissimo. Mas como
poderá formar-se um estabelecimento doesta natureza,
achando-se opprimida a capitania com o enorme direito'
de 400 rs. cada alqueire de sal, além das mais iroposi^-òes
communs a outras? EUe, que eiige lodo o Favor ea mais
particular protecção? (2) Sem duvida que as primeiras
tentativas deviam ser feitas á custa das rendas publicas on
de associações particulares, meio singular e dotado da oe-
cessaria forçA para vencer qualquer difficuldade : ellas Dão
seriam inúteis, porque o Cabo-Prio e o Rio-Grande, em
eujo intermédio existem as terras do que se trata, tém sa-
linas naluraes, o que procede mais da qualidade particu-
lar do terreno ou do fundo próprio dVlle, do que das cir-
cumslancias do clima. E' nesta operação que a arte faz o
que nSo fez a natureza.
Mas quando a natureza se recusasse, pelas circumstancias
(2) Oraças à Providencia! Já S. A. R. o príncipe regeole etiíDBUlu
esla enorane impmlf^o pelo lírcrdo de U de Maio de 1821.
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— 19 —
particulares do clima, á cryslalUsação perfeita das aguas
salgadas em pleno ar, e nos (aboleiros, destinados á ope-
ração, DÃO seria mui fácil fazer -se a mesma operação por
meio de fogo e da fervura, em um paiz tão superiormeote
prolifico em combustíveis, e do qual, com pouco trabalho,
nenhuma oulra despeza, se podem obter grandes e supw-
abandantes quantidades? Seria esta operação muito eco-
nómica, de grande proveito, e o melhor substituto das sali-
nas naturaes.
NAo tem a França as mesmas proporções ; e com tudo
das fontes salgadas da cidade de Salins eitrahe todos os
anoos 100,000 quintaes do sal, fazendo evaporar pela fer-
vura em caldeiras, no fundo das quaes se acha opportuna-
mento o sal crystallisado, as aguas de maior saturação, con-
tendo umas 8, outras 12 e algumas 15 libras de sal sobre 100
libras d'^ua ; e as inferiores, que não contam mais de 3 a
4 grios s6menle, são conduzidas por canaes de madeiras,
pelo considerável espaço de dez mil toezas, até a salina de
Cbauz, construida em 1775, e a proximidade do bosque
d''aquella povoação : e sendo evaporadas e concentradas ao
ar, náosem muito trabalho, até adquirirem 11 a 12 gráos
de saturação, para poupar-so a lenha, são fervidas em cal-
deiras pelo mesmo methodo praticado em Salins. D'esta
maneira se fabricam 40,000 quintaes, pouco mais ou me-
' DOS, de sal, para supprímento da Suissa. Pucchet Georg.
Comerc. artig. Salines. A liberdade e instrucçâo fariam
prodígios n^este ramo de industria ; sendo prohibidas as
caldeiras de cobre, pelos mios resultados que occorreriam
contra a saúde publica, e fazendo-se uso das de ferro, assen-
tadas sobre fornalhas económicas, para o co.iimercio, e de
qtiaesquer vasos de barro, para o uso domestico dos pobres.
As aguas do mar não c<nitêm menos de seis ou oito gráos
"de saturação, seguodo os cálculos de Beume.
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Aproveilcoi-se', e lico certo da nossa independência a
esle respeito ; c também posso seguramente aSirmar, q«e
ainda o sal de Lisboa, Setúbal, e do Cabo Verde, não en-
trará em coDcurrencia do preço com o nosso ; posto quo
fabricado artiticialniente, como fica ponderado.
A calcinação da pedra calcaria é finalmente outra origem
de bastante riqueza para as terras de que fsllo. Ella pro-
duziria um bem de grande valor, ainda em outras partes,
principalmente aqui no Rio de Janeiro : a saber, a econo-
mia de muitos braços que se ocuupam em ajuntar, não sem
yrande risco de vida, excessivo trabalho e perda de saúdo,
as cascas de mariscos, pard'a cal inferior, de que n neces-
sidade faz agora o uso absolutamente necessário, com pre-
juízo 6 menos solidez dos prédios urbanos e mais obras do
pedreiro, assim como das lenbas, que, consumidas em
grande parte nas caeiras, se fazem todos os dias mais caras
nVsta cidade, podendo os ditos braços, melhor dirigidos,
empregar-seem cousas mais utois e menos arriscadas; assim
como a necessidade de transportar a cal necessária (Kir
toda a extensão maratime d'esta e d'aquella capiUinia, c
por onde mais convier nos tempos futuros, augmenlaria
proporcional menl<i as embarcações costeiras eosmarinhei-
ros ; e pôde seguramente aílirmar-se que serviria de ori-
gem a outras espécies de commercio, que o tempo e os
conhecimentos ainda não adquiridos hão du crear nas épo-
cas futuras.
CAPITULO V
d'oUTROS objectos de SEMELHASTi; E GR.^KDE IMPORTANCIi
Tenho tratado de quatro ramos de industria, cada um
dos' quaes, c com muita particularidade os Ires primeiros,
podem servir de origem certíssima A fortuna c prospari-
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— 21 —
dad« de um grande paiz. Elles se apresentam destmbtra-
(Ados dos trabalhos e riscos de uma cultura incerta e de
especulações arriscadas, comprehendendo os meios bem
proporcionados áa aproveitar as dadivas, que a natureza
nos ofTerece com pródiga e bemfeitora mão, e que senão
semearam.
Pede agora a ordem das idéas expendidas no principio
r)'esta Memoria que eu trate particularmente de algumas
producções verdadeiramente agrarias, indigitadas pela na-
tureza, c porella mais particularmente favorecidas, que por
isso mesmo convêm muito ao terreno, que desejo ver apro-
veitado, e cuja cultura é mui fácil, mui lucrosa, eamaiti
própria para auxiliar povos destituídos de industria o fal-
tos de meios.
A cultura, pois, d<i baunilha, de que temos espontânea
abundância, principalmente nas praias e matos da Con-
ceição de Ilanhaem, cujo valor é bem conhecido, apar da
outra de gerumbeba, ou cato de coxonilha, que por toda
n parte se apresenta e forma uma das bases da maior ri-
queza do gran-Je reino do México, tem clamado inutilmente
até agora e mendigado protecção, para logo recompensar
com largas usuras os cuidados do governo, e os trabalhos,
posto que bem suaves, do cultivador, ''
Semelhante fortuna devemos, com razão, esperar da bem
legulada cultura do Píquií, amendoeira, assaz recommenda-
vel pela grande quantidade e particular excellencia dos seus
bellos fruclos, assim como da sapucaeira e dos coqueiros,
que com muitas outras arvores de azeites e óleos precio-
sos, parece ter creado a provida natureza por todas as cos-
ias, nio menos que pelo interior do Brasil, para supprir de
uma maneira mais vantajosa ainda as oliveiras da Europa.
Augmeular as operações da mesma natureza, re<luzit-as a
certos e determinados lugares, facilitar a colheita dos fruc-
D,:„l,;cdtvG00J^IC
tos e sfferfeiçAar as dilTeretites espécies de azeites, pela
manufactura própria u bem entendida, é quanto se deve
uiígír da industria nacional, para a acquisiç^o das prometlí •
das riquezas.
Por que dura fatalidade não vemos vegetar e crescer mui-
tos milhares dos coqueiros da índia nas costas do Ubatuba,
S. Sebastião, Santos e S. Vicente, como om Pernambuco
' o na Bahia, quando os poucos existentes mostram a pro-
(triedado do local para a plantação d'elles ? E talvez acon-
teceria o mesmo por toda a costa até Paranaguá ! Resta a
(experiência. Elb mesma convenceria aos cultivadores da fa-
cilidade de plantarem as pimenteiras da índia, e as bau-
nilhas em terras apropriadas junlo aos ditos coqueiros;
porque, sendo plantas da classe das trepadeiras, lhes fica-
riam servindo de excellente arrimo os mesmos coqueiros,
e participando do melhor tratamento, que ellas precisam,
se fariam mais robustos. Com uma só cultura se recolhe-
riam fructos preciosos das lies espécies, [Ima família, que
cultivasse d^sla forma mil coqueiros, viveria com muít»
abundância e Dão pouca riqueza ; em pequeno c mui
aprazível terreno ; porque é lacil de observar que para a
plantação de mil coqueiros, na distancia de vinte palmos
uns dos outros, é bastante a superfície desembaraçada de
cincoenla braças quadradas, com largas sobras para a casa
e habita^'ão do plantador e sua família, e a necessária cerca
ou tapagem do prédio, ficando esle no todo disposto e
accommodado á cultura de muitos e variados fructos hor-
tenses, ou á bem regular plantação do café o do cacáo, e
aindadocravodalndia, nos espaços lambemde vinte pal-
mos,que Scariam mediando eniream e outro coqueiro;o que
lAo prejudicaria a pruducção da pimenta e da baunilha, que
crescem á sombra. Quem fdr menos curioso, ou não quizer
adoptar este plano, pôde entre um e outro plantara caba-
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— M -
cein, arvore de reoooheciíla ulilidade, para arrimo das pi-
meatoiras e baunilhas, não sem grande lucro, ou, emfim,
cultiTar, como fór do seu prazer, o terreno plantado de co-
queiros.
De azeites não comiveis também poderíamos tergrandes
quaalidades, superiores, sem duvida, a todos os pedidos
do commercio, ofTertados pelo castor, ou ricino, vulgar-
mente, carrapateiro, pelo algodoeiro, pelo andaguaçú, pelo
pinheiro da cerca (assim chamado, porque se deslina á
(apagam das fazendas), pela andiróba, e outras arvores es-
pontâneas da terra, ou anleí importunas, das quaes as duas
primeiras se aperfeiçoam em menos de um anno, as mats
em (r^s regularmente, e são conhecidas como verdadeira-,
mente prolíficas e da mais copiosa producção. Pois que
fatio de azeites, não devo esquecer a inleressaiilissima cul-
tura do amendoim, ou mendobí, sementeira riquíssima,
porque é o seu óleo o melhor do lodos os azeites, pela
particular o privativa qualidade, que lho é inberente, de
nunca se fazer rancido, como attestam os mais recentes
agrónomos da França e da Hespanha, tendo-se por isso
mesmo reoommendado, n'os1esutlÍmos tempos, aculluraem
grande nos lugares próprios d'aquelles estados. As terras
aréentas nas margens das praias vizinhas ao mar são as mais
próprias d'esla cultora.
A. larangeira, cujo fnicto se perdo em grande parte, assim
nas terras da marinha, como nas centraes de S. Paulo, por
não achar comprador no mercado publico, principia a des-.
envolver entre oúsos seus mysteríose riqueza. Já ninguém
ignora que da laranja se faz excellenle vinho, e pôde ser
mais saudável, s^undo as experiências chimicas que tenho
visto, do que o das uvas, seiído os seus principios sacca-
rinos mais abundantes, e com menor porção de larlaro, do
que conléia este ullimo fracto.
D,:„i,;cdtv Google
— st —
Do vinho, pois, da laranja, das aguardentes mui bellas,
que elle produz, e dos licores, assim como de seu caldo
reduzido a larope com a consistência do nosso melado or-
dinário, e que agora geralmente se recommenda como ad-
mirável anliescorbutico para o uso da navegação, ou dos
navegantes, e dos caroços. emRm, dos quaes so extrahe
exrellente óleo com saudáveis applic^ções na medicina, se
pôde e deve estabelecer um novo ramo de commercio de
muilo valor e riqueza ; o em nenhuma parle melhor do
que nos lugares de que se trata , porque as laranjas de S.
Sebastião, Santos e seus adjacentes territórios até Santa
Catharina, passam por mui particularmente boas, e das la-
rangeiras triplicada mente maiores e na mesma proporção
mais productoras do que as do Rio de Janeiro. Póde-se
dizer que esta cultura se acha feita, precisando apenas de
uma certa impulsão, yaia produzir os bens que se dese-
jam.
A plantação do cacaoeiro, da pimenteira da índia e do
cafezeiro. Ires producções de indubitável prosperidade
n'estes climas, deveria aperfeiçoar o bcllo quadro da
cultura arbórea nos sitios mais convenientes da nossa ca-
pitania.
Na verdade, que para a acquisição de grandes riquezas,
nada mais é preciso além da cultura das terras de que se
irota. Qual, porém, deverá ser o seu estedo de prosperidade,
se a tentos manancíaes perennes do fortuna publica e par-
ticular ajuntarmos a sementeira do arroz, grão o mais pro-
lífico e por isso mesmo o mais ulit á pupulaçio, e seu
grande augmonto ; e em que parte do mundo cresce elie
com mais vantegem ou vem de melhor qualidade ?
Que deveremos, emllm, esperar? Se a este ultima cul-
tura accrescerem as outras do nssurar, do tiibaro, do algo-
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— «( —
dSo, dos legiunes, mandiocas, milho e mais grSos fnmeií-
Urios, como a dos gados.
E que direi emGm da bananeira (musa), esta dadiva a
mais preciosa da natureza ? Duas espécies principaes, sem
coalar algumas variedades, são geralmente conhecidas em
S. Paulo, assim como em quasi Ioda a eitenaão do Brasil.
Qoal seja mais útil, difficultoso é decidir. Ambas se plan-
tam e collívam da mesma maneira ; ambas multiplicam
pelas suas respectivas raizes, e produzem os seus cachos
entre oove e dez mezes, e sSo subslituidas por um pim-
polho que em três mezes apresenta o seu fructo particular,
capaz de ser colhido, e assim successivamente, de maneira
-que, dispostas as primeiras plantas, em pouco tempo se
forma um eicellente bananal, sem ez^r outro trabalho,
que Dão seja o de o conservar limpo por meio de uma
saxa annual.
As terras que melhor convêm a esta plantação e cultura
são as grossas, quentes, húmidas e abrigadas do insulto dos
ventos rijos. Os lucros e utilidades que procedem da cul-
tura das bananeiras são quasi incalculáveis ; não entro m
enumeração doestes objectos, que seria desviar-me dos cur-
tos limites doesta Memoria ; notarei comtudo o que me
pareceu mais interessante na matéria, para persuadir aoS
nossos lavradores que de um bananal podem elle» tirar
com facilidade superabundante alimento para as suas famí-
lias, e os capitães necessários para outros estabelecimentos,
augmenlando-se lodos os dias a potencia producliva do
trabalho nacional.
Eu duvido (diz O sábio Humboldl, Esiai politique tur U
royaume de la NouveUe Espagne, tom. 3' cap. 4') que
exista no globo outra planta que em um pequeno espaço de
terreno possa produzir uma massa de substancia nutriente
tão considerável. £, comparando a nossa cultun com a do
TOMO XXXI, P. 1. V
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— ae —
trigo e dli3 batatas, demonstra que o prodoeto da bananas
é> a respeito do trigo, cotno de 133: 1, e pelo que respeita ás
batatas, como 44: 1. Seria difficultoso (continua o mes-
mo autor) descrever as numerosas preparações pelas quaes
os americanos tornam o fructo do musa (bananeira), sej a
aoles ou depois da sua maturidade, uma comida sã e agra-
dável. Temos visto, accresceota ainda Humboldt, que a
mesma eileasão de terreno em um dima favorável pôde
produzir 106,000 kilt^rammos (i) de bananas, ã,4(K> kilo-
grammos de raízes luberosas e 800 kilogrammos de trigo; e
conclue que uma geira de terra da maior fertilidade, plan-
tada de bananeiras da grande espécie (plátano arton) de-
nominada banana da terra, pôde sustentar mais de clncoen-
ta individues, entre tanto que na Europa a mesma geira
não daria por anno (suppondo-se a producçSo dê 8 gr8os)
poi mais que 576 kilogrammos de farinha de trigo, quanti-
dade que não é sufficiento para a subsistência de dois in-
divíduos. Este calculo é exacto ; porque 100 kilogrammos de
trigo produzem 73 kilogrammos de farinha, e 16 kilogram-
mos de farinha se convertem em 21 kilogrammos de pão. O
sustento de um individuo é co atado em razão de 647 ki-
logrammos de pão por anno, ou libras 1,083 1/2. Sabe-se
que as bananas verdes de qualquer espécie, descascadas,
cortadas em pedaços, seccas ao sol e pisados em pilões se
reduzem com maior facilidade em preciosa farinha, e que
esta se pôde destinar a todos os usos próprios da farinha
de milho e arroz, e também de trigo. Depois de maduras,
e seccas ao sol na própria casca, se conservam como os Ggos
passados, e formam um artigo importante de alimento mui
saudável, nutriente e agradável, e por isso mesmo de lu-
croso commercio, e tal como se faz em Meekoacan.
(3) UmUtagrammoé Igusl admalibna.
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• - tr-
Acerasceatarei comtudo ao que fies tefleelido': 1." Qu«
psra a plantação de que se trata nio se deve fazar uso áe»
próprias bansDeiras grandes ou pequenas, mas sim dos
olhos. GOriando-se a batata, ou nabo. em tantas partos
quantos forem os mesmos olhos. Mostra a experiaocia,-
como cada um pôde observar, que a plantação assim feita
produz melhores bananeiras, mais fortes e vigorosas e de
maior e mais breve producção. S." Que é muito conve-
niente, em lugar de alimpar as bananeiras das folhas ve-
lhas, eortar pelo meio o tronco do pimpolho, de que se es-
pera o cacho, porque engrossa mais,',e se toroa mais vigoro-
so para sustentar o mesmo cacho, ainda que maior, sem
depeodencía de espeques, e Bcando meoos alto resisto
melhor ao ímpeto dos ventos. Esta operação não tem lagar
quando a bananeira tem jã principiado a sua producção, ou
desenvolvido o fructo. o que é fácil observar. 3.* Final-
mente , que do tronco das bananeiras se exlrahe muito
linho, que pôde destinar-se aos usos communs, e serviria de
excellente meteria ás fabricas de papel, formando interes-
santíssimo objecto de industria fabricante e de mui rico «
lucroso commercio. Para que é dizer mais ! I Pensam um
pouco os nossos lavradores, e esta cultura será elevada á
maior grandeza. Nas ainda é preciso reflectir que esta
plantação augioentaria muito a povoação, sendo os escra-
vos soccorridos pela abundância de um fructo tão saudá-
vel e tão Dutrienie, e alliviados os brancos da necessidade
da outro páo. Em Secríuaa, onde os escravos fasem tra-
balhos mil vezes mais peniveis do que geralmente em ou-
tro parte da America, abrindo no lodo do mar lai^s e pro<
fundas valias, slo sustentados unicamente com bananas, e
desprezam as batatas indígenas do paiz e das quaes abunda
por extremo. E não seria muito útil, e mesmo oecessario,
que DOS engenhos de assuoar do Brasil fossem compelUdos
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- 2« - •
os proprietários s plantar e conservar um bananal propor-
cionado ao sustento dos pobres escravos, sem que com-
ludo se lhes negasse a ração ordinária? Doesta doce vio-
lência resultariam aos mesmos proprietários incalculáveis
benalicios, que não é necessário enumerar.
CAPITULO Vi
DOS OFnCIOS QUE DEVE PRESTAR O GOVERNO
Tudo isto é certo, e é incontestável o que acabo de es-
crever; mas, se o governo não proporcionar os meios, con-
teniar-nos-hemos, como até agora, de conhecer o que
podíamos ter (nem eu revelo segredos, ou verdades desco-
nhecidas) e nunca desfrutaremos as riquezas da natureza.
Como sem plantar poderemos colher? E de que maneira,
destituídos inteiramente dos princípios da chimíca mo-
derna, pretenderemos a perfeição dos fructos, que, ou
achamos nos campos, matos, nos mares e rios, ou culti-
vamos e colhemos efb todas estas partes? Como, absoio-
laroente fallo de mestres e de preceitos, e de instrumentos
aratorios, de machinas e moinhos, ousamos aspirar á for-
tuna das nações industriosas ? Necessitam as arvores e ar-
bustos a cultura em geral ; e a creação dos gados, em qual-
quer situação do globo, aquella mesma protecção que em
Atbenas acharam as oliveiras do Pedion. Elias se estendiam
por três léguas, pouco mais ou menos, e formavam um
bosque immenso: os possuidores d'esta vasta plantação
passavam pelos mais ricos e ao mesmo tempo pelos mais
espirituosos dos atheníenses. Em differentes aldêas d'esta
famosa campanha nasceram homens tão celebres, como
Sócrates, Sophoclea, Tkticidides, Platão o Epiciro: em
nenhuma parte do mondo, reconhccom lodos os hístnria-
Dictzedby Google
— a» —
dores. « TÍgilaacia ria administração foi elevada a maior
(Cr<o de actividade.
Os areopagitas examinavana pessoalmente o estado dos
bosques e contavam as oliveiras plantadas ao longo das
estradas, conservavam cuidadosamente o registo d'estas
arvores consagradas a Minerva ; e quando alguma pessoa
era comprehendida no facto criminoso de destruir um só
tronco, elles a castigavam com todo o rigor (3). E não de-
vemos imitar, exemplos 'que por velhos serão sempre mui
respeitáveis f I
Mas isto não basta ; quando um povo tem desmaiado na
carreira da industria, vendo desgraçadamente destruida
a sua agricultura, aniquilado o seu commercio e muito
reduzido o numero dos seus individues por causas pb}-
sicas ou moraes, a que elle não podia resistir, como se
veríGcou a respeito da capitania de S. Vicente, é neces-
sário que uma mão hábil o conduza, e lhe mostre o antigo
caminho da sua gloria, com os meios ofTerecidos pela
Datureza, para se remediarem os males occasionados por
circumstancias particulares. '
Acostumado á vida solitária, ou limitado no pequeno
circulo da sociedade domestica, sempre destituído da útil
e muitas vezes do necessário, este povo nio conhece
prazeres, e tem horror ao trabalho.
E* preciso instrui-lo e mostrar-lhe um lucro facíl, e que
para o adquirir consuma pouco tempo, sem muita fadiga,
e foniecer-lbe para isso mesmo os meios necessários,
porque sem anticipação de capitães não sa devem espe-
rar rendimentos certos.
De tudo quanto se vè D'e8te mundo, elle só foi a obra
da vontade e da palavra, sem anticipação de outros meios
^3) Ceui:bel. Intrud. á Geugrar. Comuicrciíiiit.
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e capitães, mas a vontade e a palavra do Todo Poderoso
foram os agonies mais adequados, ou antes privativos, que
se podiam empregar em uma obra que d'outra maneira
se nSo podia fabricar. E' fioalmeute oecessario tomar
esse mesmo povo social e infundir-lhe o desejo de novos
prazeres; porque estes se multiplicam l(^o, ioseosivel-
mente produzem a necessidade, e o amor do tiabalho,
sem o qual se nlo podem desfroctar. Eis-aqui a origem
da industria e de todas as virtudes sociaes, que consti-
tuem e formam um povo enérgico, rico, vigoroso, sábio,
e por todos os modos respeitável.
CAPITULO VII
OBSERVAÇÃO PRIMEIRA
Sobre o carte das madeiras
A simples inspecção dos mappas chorographicos d'esla
costa marítima basta para se conhecer que a ella baixam
duzentos rios, pouco mais ou menos, calculados os seus.
difTereotos braços, os quaes occupam espaços immeasos>
sendo quasi todos navegáveis por laicas distancias e mui
piscosos; as suas margens eas terras adjacentes, repre-
sentando ainda o estado primitivo da natureza, cobertas
de riquíssimos arvoredos da mais variada qualidade, e
abundantissimas de muitas e differenles producções de
grande préstimo e valor, merecem particular eiame e as
mais apropriadas reflexões.
Muitos dos mesmos nos se acham reservados para o
eórte privativo em beneficio da armada real. Os que
porém existem livres e franqueados ao uso particular dos
povos são mais que sufficientes para entreter o riquíssimo,
(acil e nâo interrompido commercio d'aquella extensão
Dictzedby Google
— 31 —
e variedade que Cca acima notada, O interesse publico
exif^ da maneira mais positiva que as arvores fructiferas,
que se forem encontrando, Bquem salvas do iosuUo dos
machados, e que o córle dVIas seja um facto rigorosa-
mente punivel.
Um regulamento a este respeito me parece de maior
imporlaacla: elle é por sua natureza compreheasívo de
lodo o oontinente que habitamos. Também na exportação
do assocar em caixas diviso eu uma perda excessivamente
grande e com trato successivo. Devia antes fazer-se em
barricas, como se pratica na Jamaica e nas West índias
geralmente, assim como na Índia. Madeiras inferiores, de
qualquer qualidade e grossura, se apresentam em toda
a parte para aduelas, bem proporcionadas ao intento.
E' fácil de comprehender que os mesmos braços destinados
á fabrica d'uma caixa de 40 arrobas podiam fazer no
mesmo tempo, e com mais suavidade, três barricas de 20
a S5 arrobas, bem pro porcionadas à facilidade do embar-
que e desembarque : e as madeiras agora empregadas nas
caixas, cujo valor se perde por dois terços, ao menos,
na Europa, serviriam d'um ramo privativo de grande com-
mercio.
CAPITULO Vlll
OBSBRVAÇXO SEGUNDA
Acerca dos ancoradouros mais notáveis e de algumas
propriedades partiatlares de cada um dos concelhos
(feita costa, e entradas dos prindpaes rios do limite
septentrional até o austral.
!(a ilha dos Porcos do Sul, na enseada dos Flamengos,
agora dita dos Tubarões,' quasi em frente da sua extremi-
DictzedbyCoOgle
dade meiidioiu) aa terra firme, ha excellentas ancora-
douros. Por uma tradição constantíssima se diz que n'e5ta
ultima parte ancoraram mais de 40 vasos de guerra dos
hollandezes no meio do século declmo-sexlo ; sendo tam-
bém de grande proveito ao commercio e a Ioda a qua-
lidade de importação e exportaçioa enseada Ubatumirim,
o sacGO doeste nome, e outros de Ubatuba na ponta do
Alegre. Todos estes ancoradouros fazem independente
de alheia nav^ação o coDcdho inteiro, de que é cabeça
a pequena vílla de Ubatuba, a mais septentrional da refe-
rida costa. São bem conhecidos por grandes e seguros os
ancoradouros entre a ilha de S. Sebastião e a sua terra
firme, e servem de muito proveito aos povos d'este con-
celho, immediato ao de Ubatuba. Em uma e outra parte
é fertilissima a terra para todo o género de cultura. No-
ta-se principalmente em S. Sebastião (talvez porque alii
se acha mais apurada a industria) que o assucar é da
melhor qualidade, admirável o tabaco e o gado vaccum
de extraordinária grandeza, chegando as rezes pelo com-
mum a 35 e -26 arrobas, muitas a 30 e algumas a 4-0.
O leite é o mais bello, e as vaccas o produzem em
quantidade incomparável A ordinária das outras partes-
Attribuem os bons conhecedores estas particulares ex-
celleocias ao capim nobre, ou feno riquíssimo, e pri-
vativo da terra E' pois evidente que n'estes dois conce-
lhos se podia levar a ímportantissima creação do gado
vaccum a um ponto de perfeição, ou muito raro, ou sempre
admirável, logo que se iotroduzissem gados de escolhida
raça, e as regras pastoraes se estabelecossem na devida
forma, assim como a oãicina regular dos queijos e man-
teiga.
Esta villa pôde subir a um ponto vantajoso de riquezas,
logo que um caminho dirigido a ella da de Taubaté se con-.
Dictzedby Google
_ 33 —
duza, cujo projecto não foi adiante por motivos particulares
e dignos somente de desprezo ; mas as paixões e os des-
piques sempre se manifestam em desfavor dos povos e do
serviço publico.
Se em lodo o costão da grande enseada do rio Juqui-
ricaré, na do Caratatuba, e nas mediações dos outros bem
conhecidos, h saber, do Encantado, Verde, Pardo, Claro,
e das Antas, que desaguam no primeiro, e lodos notavel-
mente despovoados, se formassem estabelecimentos, ao
menos para cem casaes industriosos, com os precisos
soG«oiTOs inseparáveis doesta sorte de especulações, e com
obrigaçlo de seguirem um plano económico sobra a maté-
ria proposta, em pouco tempo se desfructariam os mais
lisongeiros resultados.
Os dois concelhos, que se seguem das víllas de Santps
e S. Vicente, abrangem um território extensíssimo, e
com a singularidade da correspondência reciproca de 22
rios d'uma desembaraçada navegação, de cujo encontro e
união resultam três barras ao mar; a grande, denomi-
nada de Santo Amaro, a da Bertioga e a de S. Vrcenle.
Pela primeira entram as maiores nãos, a segunda prestasse
a grandes brigues e escunas, a terceira serve para lanchas,
c canoas.
Os soccorros d'es(es, e por consequeaoia o encadea-
mento de tantas aguas, o lluxo e refluxo que sofTrem,
cl'uma maneira admirável, enchendo uns quando outros
vasam, em consequência mesmo das tros barras, entre si
apartadas e oppostas, concorrem muito a bem da sua fer-
tilidade, assaz provada, e com particularidade singularna
producção e belleza do arroz, café e cação.
O grande porto de Santos forma um ponto quasi central,
aonde pela combinação das circumstancias expendidas se
ha de naturalmente estabelecer o assento do commercio
TOHO XXII, p. 1 5
Dictzedby Google
gatai da capíiAnia de S. Paulo, e das auaa mais proxiotas
B<tjaceQles.
Em oeahuBia outra parto que eu saiba se pôde crear um
arsenal tio importanlfi e de tanta economia ao mesmo
lempo. Os rios, que foram reservados para o corto dos
madeiras destinadas ao serviço da armada real, serão
abundantes nas épocas mais remotas d'esta riquíssima pro-
ducção. Nos interiores de uma e outra vílla, por toda a
extensão da costa mais austral e fias terras de serra acima
(coíbo notarei, quando d'ellas fallar em particular), riquíssi-
mas colheitas de cânhamo e linhos hão de necessariamente
auxiliar o projectado e necessário estabelecimento ; prin-
cipalmente se as providencias do governo se estenderem a
formar uma cordoaria com macbinas a propósito, movidas
p9T aguas, aproveitaodo-se para este fim as cachoeiras des-
penhadas das muitas alturas que ficam em torno das mes-
mas víllas e em lugares muito próprios ao intento.
Aa excellentes resinas e o pez, que possuímos na maior
abaadaocia e podemos exlrahir com mais particularidade
dos nossos pinhaes, seguram ainda melhor a fortuna do
mesmo arsenal, cuja independência e perfeição absoluta
lhe deveria emfim resultar de uma completa ferraria, para
a qual se^prestam com a maior liberalidade e excellentes pro-
porções as ricas e bem conhecidas minas de liuiraçoísba,
da Parnahíba sobre as margens do rio Tietê, e de Santo
Amaro nas immediaçAes do rio dos Pinheiros.
Estabelecimeotos á semelhança dos da Suécia, Dina-
marca e Rússia, da França, e dos maís recentes o menos
dispendiosos de todos, da America Septen trienal, fornece-
riam todo o ferro necessário para a nossa armada real e
meroantil, as ancoras competentes e toda a artilheria naval
e de terra com o armamento preciso aos exércitos nacio-
naes : sendo muito digno de reflecljr-se que o ferro das
DictizedbyGoOJ^IC
— M —
ditas mioas se pôde conduzir ao porto do Santos, oa por
terra ou em grande parte pelos ditos rios Tietê, Pinheiros
grande e pequeno, sempre navegável até a distancia de
quatro léguas d'aquelle porto, no qual emliin a mão de
obra aâo prometle grande augmento para a futuro, porque
os alimentos necessários aos obreiros serão sempre ven-
didos de S. Paulo por preços mui accommodados, ao que
se divisa ainda a utilidade da marinha re^.
A barra da villa da Coucei^ de Itanbaem, immediala
é de K. Vicente, é pequena e sn-ve pan lanchas e canâas
de voga ; mais próprias d'este e d'outr08 portos semelfaaBtas
seriam embarcações mais rasas, largas e de fundo de prato.
Dista esta b^rra da outra de Santo Amaro doze laguas, e
Isnto t£m de extensSo as suas praias ; i capaz da bom
cominercio, pela abundância de farinhas de mandioca,
^elas madeiras as mais ahas e oirpuleotas de toda a oo^,
pela cultura da baunilha (géneros estes de qoe podia Uztt
largas exportações), e bem assim pela oriaçio dos gados;
sendo além d*Í3to de grande extensão o terreno, qae borda
as ditas praias, e accommodados para a produoção de todos
os fruclos análogos ás terras marítimas do Bra«l.
É muito provável que Doestes lugares viessem ooqa mui*
to proveito os coqueiros da índia, que chamamos da Ba-
hia ; e n2o ha duvida que os outros já lembrados, coaM
das espécies particulares dendé e macauba, ro(|«ÍssÍB0s
em azeite e o ultimo em linho, predoso igualments, faifaa
alli grandes progressos e tornariam com muito pouco (ra-
balho areaes incultos em prédios estimáveis e de avultados
rendimentos.
No meio da praia existe a aldâa de S. João de Peroibe,
habitada pelos indíos, restos dos antigos moradores do paiz,
que s3o dotados de mui particular habilidade e industria
para o trabalho do mar e eiercicios das pescarias, mers-
Dictzedby Google
- in-
cendo por isso mesmo toda a protecção e cuidado, A seme-
lhança d'esta se deveriam formar algumas aldéas pela ex-
lensáo e no longo d'esta cosia na direcção do sul, e assim
teriamos em tempo opportuao muitos pescadores excellen-
tes marinheiros.
A villa de Iguape, que se avizinha & da Conceição, tem
um dístriclo considerável, mas a sua barra própria é ioca-
paz de nav^ação. Servem-se ds de Canaoéa, por onde
entram sumacase corvetas; além d'isto servem muito bem a
da Ribeira e a de Una, por onde entram lanchas aos mo-
radores d'esta parte. Este território é fecundissimo para
toda a qualidade de cultura : abunda em beUas matas,
que ma^eam o dito rio Una, o do Prelado e da Ribeira,
UkIos três mui piscosas, e o ultimo racoromendavel ainda
pela pedra calcarea, de que igualmente são formados os
montes de Cananéa, como fica notado, e pelo muito ouro
que se pôde extrahir na sua continuação e vertentes. Por
ssle rio, ou ribeira de Iguape, que é desembaraçado de
cachoeiras, se pôde exportar privativamente e com muita
facilidade todo o ferro que se fabricar em Guiraçoiaba, cu-
jas forjas existem na distancia de oito léguas do dito rio e
lugar do embarque, e também por elle se podem navegar
todos os géneros dos districtos inteiros das villas de Soro-
caba, Apiaby e Paranãpanema, com grande augmento da
agricultura e do commercio marítimo.
É muito insignificante agora a villa de Cananéa, que se
divisa mais avantOt tendo comtudo as proporções que lhe
ofTerece um terreno fecundo, paia enriquecer pelo meio da
agricultura e do commercio. Ella pôde conservar, pela
abundância e sobras de madeiras para a construcção na-
val, um estaleiro que jã possue, e no qual se fabricam na-
vios grandes e eloval-o á devida importância ; pois que a
Dictzedby Google
— 37 —
sua barra permítle fadl eatrada e sabida aos vasos d^esle
porto, sendo alliviados da maior carga.
Paranaguá é uma grande villa cabeça da comarca d'esle
nome, e tem Iodas as proporções para cidade mui rica e
poderosa. A sua barra é larguíssima e do centro de uma
notável e formosa babía. A natureza lhe negou o fundo
necessário para a entrada de embarcações maiores ; nSo se
recusa porém a brigues e sumacas, que bastam para todo o
género de importação e exportaçfio. A juncção de qua-
renta rios, com esgoto á barra, dão lodo o merecimento ao
paiz, cujas alturas são formadas pelos soberbos e fertilissi-
mos campos da Curitiba, na distancia de quinze léguas ao
mar : os seus preciosos effeilos podem ser navegados por
differentes canaes, entre os quaes se faz mui recommendavel
o da vitla de Antonina, cujos progressos rápidos Ibe
seguram os foros de grande e populosa cidade em poucos
annos.
Em Paranaguá deve estabelecer-se umn cordoaria, ou
adiantar-se a que já existe : em poucos annos chegará a
muita perfeição, porque no seu território o cânhamo e os
linhos de variadas espécies sSo dotados do mui superior
qualidade. Deve ainda considerar-se a mesma vitla como
o assento natural de ricas pescarias, de importantes sali-
nas, e bem proporcionada para o commercio de madeiras
e resinas, assim como para toda a sorte de lanílicios e
manufacturas de linho; podendo d'eslas duas producções
receber dos Campos Geraes, em supprimento das que lhe
faltarem, todas as qualidades necessárias para fabricar e
fazer d'ãllas vantajosa exportação.
Finalmente, as barras dos dois grandes-rios Guaratuba e
S. Fraocisco dão entrada segura a bergantins, sumacas e
corvetas. Os seus habitantes, poucos e pobres, vivem
principalmente de pequenas pescarias, no seio da maior
D,c,t,zedb*G00gIe
— ti —
abundância de muilos e diffweatex peixes, entra os quaes
é roais vulgar a pescada e a miraguaia, cuja salga se faz
com perfeiçio segundo os princípios da arte, e com mais
particularidade ainda no segundo dos ditos rios, ou uo
concelho da S. Francisco do goverao de Santa Catliarina.
Estes dislrictos são muito extensos, dotados de grande fer-
tilidade e em nada inferiores aos que Ticam descriptos:
bio de consarrar-se porém na miséria, e quasi de todo
incultos, emquaotoa sabedoria do governo não estender
sobre fllles a sua benéfica e paternal providencia.
CAPITULO IX
UBSERVAÇiO TERCEIRA E ULTIUA
Sobre as pescarias e lugares em qxie ornais convém
esU^lecerem-se
Kas duas ilhasdos Porcos, na dos Alcatrazes, do Monto do
trigo, da Queimada, e outras, que por menores não refiro,
se podem formar sociedades piscatórias de grande impor-
tância, logo que este ramo de industria chegue a sua devi-
da perfeição e se exercite da maneira mais própria a artç
das salgas. Para este fim necessSrio é que se facilite o
sal por um preço módico, conformo as idóas que Picam
expendidas, e com os mesmos meios em Ubatuba o suas
enseadas subjacentes, era S. Sebastião e seus dístrictos,
nas barras de Una e du ribeira de Iguape, nos recôncavos
de Paranaguá, Guaratíba e S. Francisco, devem as pesca-
rias, pelas razOes, que já lembrei, chogar a um commer-
cio riquissimo, e tal como lenho augurado e cordialmente
desejo.
FIH Dí PRIMEIRA PARTE
Dictzedby Google
— 8» —
PARTE II
CAPITULO I
DO QUB SE DEVE PftRSENTEHENTE FAZER NAS TERRAS CENTRAES
DA CAPITANIA BE S. PAULO
Tratarei agora da outra parle contrai da capitania de S.
Paulo, queé, como Pica dito, não menos interessante do
que a marítima; c apontarei os meios necessários para o
estabelecimento da sua agricultura, Tabricas, commercio e
povoação.
A criação dos gados é da primeira necessidado em todos
os paizes, para ferlilisar as terras por meio de estrumes que
ella procura e para ajudar o homem nos seus trabalhos
agrários. E, seado mui lucrosa em quasi todas as situações
do globo, produz fruclos ubérrimos nos rlimas temperados,
como o de que so trata.
Ê pois necessária a criação das bestas cavallares e mua-
res em toda a extensão dos campos do interior, na dttvida
proporção ao serviço publico e ás commodidades dos po-
vos ; ella teria feito grandes progressos nos lugares designa-
dos e produzido consideráveis riquezas, se o favor conce-
dido ao Hio-Grande de S. Pedro e as imposições fiscaes a
não prohibisse em todas as terras áquem do rio Iguaçu :
criação que a respeito dos cavallos se tolerou de alguns
annos a esla parte, como acanhada e feiLa pnr assim dizer
és escondidas ; introduziu do -se nas Minas-Geraes a outra
das bestas muares pehi industria do capitão António de
Abreu Guimarães, que fez passar a este Hm para aquello
paizepolo iaterposto de Lisboa eicellentes jumentos da me-
lhor Ta!;a de Hespanha. Agora porém que as idéas do go-
Dictzedby Google
— 40 —
vemo são Armadas nos principios sábios da liberdade e in-
dustria civil, póde-se estabelecer uma e outra criação nos
sobreditos campos, melhorando-se muílo, e tornaado-se
mais proveitoso a dos cavallos, com o encnizamento das
raças pela particular do Cbile, uma das melhores do mundo;
pois sSo os cavallos d'aquelle reino mais formosos e mais
fortes do que os de Andaluzia, dos quaes descendem; edas
bestas muares, estabelecendo-se nas nossas terras a edu-
cação dos jumoatos do Paraguay, o que é muito Cacil e
pouco dispendioso.
Esta operação é necessária e deveria pâr-se em pratica,
apezar de qualquer difliculdode ou despeza; seado certo
que o notado privilegio contém o mais duro monopólio,
torna muitas provindas do Estado escravas de uma só,
ataca os fundamentos da grande agricultura e a liberdade
dl) commercio, perturba os direitos do cidadão e faz que
o mesmo Estado nas terríveis circumstancias da guerra,
que a Providencia quererá desviar para sempre dos nossos
climas, mande conduzir, se lhe fôr possível, á custa de
muitas despezas, perigos e trabalhos, e por trezentas léguas
de distancia, os cavallos e as bestas necessárias para o seu
serviço.
Igual protecção e cuidado exige a criação dos camelos e
dromedários. Sabe-se que em todos os districlos da Ásia
e da Africa em que os desertos se 16m multiplicado ha
muitos camelos. Estes paizes lhes são próprios e eUes não
procuram estender-se mais longe, temendo igualmente o
excesso do frio e do calor ; comtudo o diligencia e o tra-
balho os acciimalisou sté na Saxonia, aonde prestam para
muito, e não achariam dilTiculdade alguma para muUipli-
rar bem no paiz de que se trata, e com muita particulari-
dade nos campos de Mugyguaçú, nos quaes nSo ha neves
' doslruidoras; o frio não faz grande impressão, sendo pelo
Dictzedby Google
ntesnio modo mui supportaveis as calmas. Este animal
sóbrio, forçoso e dócil, vulgarmente chamado o navio do
deserto, faria entre nós grandes serviços por toda a exten-
são do Brasil no transporte das difTorentes mercadorias, e
pouparia a falta dos canaes, de qiie o commercio muito
precisa para as suas differentes operações ; tornsr-se-iam
estas mais fáceis e menos dispendiosas, porque um ca-
melo equivale a seis ou sete bestas muares, calculada a sua
carga, presteza, alimento, trato e ferragem, e os povos do
interior ficariam assim libertados do tributo indirecto, que
pagam pela maior carestia dos géneros que devem consumir,
podendo ao mesmo tempo metter em comroercio com mui-
ta commodídade as matarias e fructos, que ou não culti-
vam ou Acam inúteis nos lugares da sua origem e nasci-
mento. Pelo interposto de Gibraltar, e em direitura dos
portos da Barbaria, das ilhas Canárias e melhor ainda de
Cacheu e Bissau, podíamos com facilidade e a bom preço
fazer esta preciosa acquisiçSo.
A criação do gado vaccum pôde e devo estendeixe a
todas as terras de S. Paulo, assim da marinha como do in-
terior, e ainda Dão lembrados os campos geraes da Curiti-
ba, com os outros acima referidos, que conservamos na
mais perfeita inutilidade, podíamos ter tão grande numero
deboíse vaccas que nada restasse a desejar sobre uma ma-
téria tão importante : comtudo, as raças aqui conhecidas,
posto que boas e merecedoras do mais cuidadoso melhora-
mento, acham-se em muitos lugares notavelmente degene-
radas e não bastam para todos os usos e conveniências que se
podiam fazer e desfruclar;ellas não produzem aquella abun-
dância de leite que se admira em outras partes, principal-
mente na Iriandia e na Hollanda. N'este ultimo paiz as
rafas da índia fizeram prodígios; e apezar dos curtos
limites da terra pretendiam os hoUandezes ter maior quan-
TOJIO XUl, P. 1, 6
D,:„l,;cdtv Google
— u —
'tidadedeleitedo que de vinho produzido nas grandes vinhas
da França ; o que é superior o toda a cogitação.
Hoje poréDi.que a pobreza e a miséria são o patrimó-
nio da antiga republica da Hollanda, também este ramo de
industria nacional ha de ter soíTrido a sorte das fabricas,
pescarias e commercio, e nÍo ousarão os hollandezes pro-
ferir a meamá proposição. Também no Chile é mais bello
emeihor do que na Hespanba o gado vaccum que, á
semelhança do cavallar, se aperfeiçoou n'aquella parte da
America, acontecendo o mesmo ás outras aspecies dos
gados cornigeros. EÍ3-&qui um dos lugares d^onde pode-
mos adquirir, sem diOiculdade, os indivíduos necessários
para reformar de todo os nossos gados. {Alcedo, Dictiontar.
Geogr. art. Chiii.) Ain<)a que já reflecti sobre a particular
excellencia do gado vaccum de S. Sebastião, lembrarei
agora que o do nosso dístricto das Caldas goza com razão
de muita celebridade, respectivamente á sua grandeza e cor-
pulência. Qualfosse o commercio d'aqueUa republica pro-
duzido pelo leite, todos sabem. E porque não imitaremos
os industriosos hollandezes, quando a criação de uma vacca,
eulre elles, é mais custosa do que entre nós a de trinta pelo
menos? Éprecisofazeroqueellesíizeram; os nossos traba-
lhos serão muito mais pequenos, muito mais fáceis e muito
menos dispendiosos, devendo os lucros e as conveniências
avantajar-se muitas vezes mais. A prosperidade dos gados
procede muito principalmente da bondade dos pastos : uma
dada porção de terreno pôde apenas criar duas vaccas,
produzindo bem pouco leite, e este de inferior qualidade,
se não cultivar. Pôde pelo contrario sustentar com abun-
dância o triplo e quádruplo, produzindo as rezes muito
e bello leite, logo que .a industria dos pastos artiticiaes
fdr exercitada como convém, fazendo-se uso das hervas
que em <lifferentes paizes se reputam melhores ; nenhuma
Dictzedby Google
— 48 —
pareça lâo - vaúlajoaa como a denomioada capim de
Angola.
Um campo o mais estéril e (por me explicar assim) de
nenhum valor pôde em dois ou tros anoos formar excel-
lente prado, oapaz de sostentar com fartura e abundaooia
muitos animaes, sendo semeado de giesta, o que se pôde fazer
com muita facilidade, sendo bastante queimar-se o campo
e lançar^bea semente, e melhor ainda sendo lavrado, posto
que superficialmente; e a giesta, que nasce em terrenos
muito estéreis, em pouco tempo cubriria o campo inútil,
offwlando aos gados bom alimento nas suas folhas e reno-
los, assim como no grSo que produz, e nas muitas hervas
que se criam á sua sombra. Haverá um meio tão facitde
multiplicar pastos ou prados artificiaes? Estes mesmos
giastaes, passados três, quatro ou cinco anãos, sendo roça-
dos a queimados, produzem qualquer sementeira como os
matos virgens ou capoeiras velhas, e d'esta maneira se cul-
' Mtariam as folhas, e, com muito proveíto,vastissímos terre-
nos agora despreudos.
Sendo o búfalo, uma espécie de boi, maior porém, mais
forte, ainda quede carnemenos saborosa, servindo aos mes-
mos usos e a femaa mais abundante de leite; quando se txata
daeducacãodogadovaccum.demelhoraredoTaríaraa raças,
o mesmo se deve dizer a respeito dos búfalos : da índia, da
Africa, também da Europa, com mais facilidade do que de
ilgumas partes da America, podem vir as rezes necessárias
para o primeiro estabelecimento. Criar ovelhas e carnei-
ros em um paiz apropriado ao intento pela sua amenidade,
eiteosão o abundância natural dos pastos apropriados, ope-
ração é mui pouco trabalhosa, que promette incalculáveis
riquezas e muitas commodidades. A ella devem os ingle-
les o seu primitivo e mais rico estabelecimento.
Ainda antes de conhecerem e poderem exercitar a arte
Dictzedby Google
— *4 —
interessantíssima dos lanificios, creada por Henrique
e quasi aperfeiçoada pela grande Isabel, desfructavaa <
Bretanha as muitas riquezas que Ibe produziam as t
lãs; com os lanificios cresceu a sua fortuna, e seelov<
prosperidade que todos agora invejam e a que nenh<
nação tem podido chegar, nem chegará provavelmente
Europa.
As lãs inglezas valiam ha trinta annos, segundo os es
los bem reflectidos do ssblo Arlhur Wong, S,600,00
bras esterlinas. E, ainda que o favor injustamente libe
sado, na opinião do mesmo Wong, pelo governo em bi
ficio dus fabricantes, lenha reduizdoesta somma a 3,400
libras esterlinas, assim mesmo é de um valor excessivam
grande esta ultima quantia. EUa porém excede muii
primeiro calculo, contemplando-se a importância e
das carnes, das pelles, do leite, do sebo e dos estrura<
que a agricultura em geral recebo inexbauriveis riqueza
Para se estabelecer nas terras centraes de S. Paulo a
cação do gado ovelhnm, como convém e se deseja,
é preciso o trabalho, nem o tempo n'Í3to consumido
hotlandezes ; acclimatísando na sua terra áspera e desa'
as raças da índia, que todavia multiplicaram entre
com largas conveniências e de uma maneira admirável,
gando as ovelhas a produzir regularmente quatro cord
cada anno, e de dez até dezeseís arráteis de lã comp
fina e tão bella que muitos as vendem com o nome <
de Inglaterra. Melhor ainda se tornou esta descobet
Flandres, aonde a raça dos carneiros indianos adq
maior fertilidade e tal perfeição nas vizinhanças de L
de Warneton, que toda a espécie lomou o nome de es
ros do Flandres. São da mesma forma escusados o:
balhos e a industria bem dispendiosa da Suécia e de '.
em naturalisar as ovelhas da Barbaria, nem mais os n
DictzedbyGQOgle
— 48 —
ciosos'ragola[nmto3 da GrS-BrelaDha, e qun se conservam
em vigor k custa de grandes sommas e do raais assíduo
cuidado do govcioo.
Pelo contrario, na Curitiba ha mui bellas ovelbas, que
produzem mais de seis e oito arráteis de excellente \i.
Ho Paraguay e no Uruguay eiislera as raças de Hespanha
mui bem conservadas ; da Africa inteira e da Ásia nlo é
difficulloso obter as mais variedades que se desejarem.
Nola-se com particularidade que as cabras o ovelbas do
reino de Fulis, subindo o Níger, ou Senegal, sâo excel-
lentes e de muita conveniência. EmRm, não nos faltaria
cousa alguma no art^o importantíssimo das lãs, se se
mandassem conduzir das serras do Peru para as nossas as
TÍguaias, os lamas, os paços e guanacos, que a industria
européa não tem podido naturalisar nos Mus climas.
As cabras aqui são pequenas, de má qualidade c com
pello de boi. Em S. Paulo existem algumas da raça de
Portugal, que também não é boa. Com facilidade pode-
mos mandar vir cabras de Cabo Verde, e melhor ainda das
ilhas Canárias, as melhores, mais fortes e mais abundantes
de leite e pello que eu tenho visto; e não será difBcultoso
obter, por via de Gibraltar, algamas da raça particular e
singularissima de Angora, que,apezardofrio, setêmacclí-
matísado na França e ainda mesmo na Sueeía, cuja propa-
gação faria prodígios nas nossas terras da marinha, e fica'
riamos por esta maneira sócios no commeroío privativo e
rauí lacroso qne do seu preciso pello, assim como da lã do
camelo, fazem os turcos. Merece emfim particular pro-
tecção e cuidado a criação dos porcos nas terras cenlraes
deS. Paulo, onde teria crescido muito este ramo de intlus-
Iria, se o excessivo preço do sal^ aagmentado ainda com
o gravoso direito de um cruzado por alqueire, como fica
acima notada, o não tolhesse do uma maneira eitraordina-
;dby Google
'- M —
ria, assim como é notoriamente piejadicia) á omçJo de
todos 03 outros gados,e impede o aproveitamento de muitas
produoçdes do reino animal. Este embaraço já felizmente
se acba removido.
As grandes matas de pinheiros de que abunda aquette
paiz, e que se devem multiplicar pelos montes e terras in-
feriores, podem criar muitos milhares de porcos, sem tra-
balho e com mais faoilidade do que se observa no Alem-
tejo oom as asinbeiras, cujo fnicto é para o intento muito in-
ferior aos nossos pinhões, dos quaes as carnes recebem me-
lhor sabore mais consistência. Lembrarei mais, porque con-
vém saber-se, que entre as muitas producções que se podem
destinar á ceva dos porcos nenhuma é mais fácil de culUvar-
se, nem nais prolitica e proveitosa do que a junca, cujas
bolotas assucaradas uma vez semeadas em terras húmidas,
oude vargens, multiplicam-se da maneira mais extraordiná-
ria, á semelhança da gingibre. e com ellas os porcos, de-
signados á chacina, engordam perfeitamente em poucos
dias, soltos Qo juncal que em breve tempo se renova, sem
embargo do estrago que com sua ávida foça lhe fazem
estes aoimaes vorazes.
Também as raças necessitam de reforma. Nas ilhas do
Cabo Verde existe uma particular e maior que eu tenho
visto; é verdadeiramente proveitoso e muito fácil o passaL-a
para o Brasil, assim como a <lo Cabo da Bua Esperança e
também da America Septentrional, cujos indivíduos che-
gam ao peso de dezoito e vinte arrobas.
Tses são os animaes cuja criação e educação muito de-
sejava ea ver estabelecida na capitania de S. Paulo, de
uma maneira porém regular e própria, e não ao acaso e sem
arte, como tudo se tem até agora feito e praticado no Bra-
sil. Esta ramo de industria, ou cultura, basla e é muito
snlDcieute para enriquecer qualquer paiz a para felicitar os
Dictzedby Google
- w —
MUS babilaotes, 1<^ que o conamercio auxilie os seus
tnbalbos, coosuma e dê um preço racigoavel As suas
producfiões, apenas capazes de eutrar do mercado pu-
blioo, exonerado das imposições, taxas e alcavalas que
destroem e sullocam qualquer producção na sua origeiú e
nascimeoto.
O governo, a quem dirijo os mais humildes votos, é sev
duvida o arbitro dos trabalhos campestres, assim como de
todas as espécies de industria. Debaixo de seu abrigo tu-
telar fertilisam os campos, nasce o commercio e multipli-
cam as manufaclucas. Se elle qutzer (sua vontade me é
bem conhecida), mandando o escolhendo executores intel-
ligentes e dominados pelo amor da pátria e do bem publi-
00, tudo será feito, e uma grande provinda sempre honra-
da 6 capaz de encarragai^e da defesa do tbrono sahirá do
ouior abatimento, para fazer a mais brilhante Bgura.
CAPITULO 11
DA CULTURA ARBÓREA E CERCAL
Da cultura pecuária e da educação dos gados deveria eu
passar á arbórea e cercal: mas peto que respeita d primeira
espécie, bastará reflectir que em quasi tudas as situações
se podem cultivar no interior da capitania todas as arvores
earbustos que parecem peculiares da parte maritima, e de
que tenho feito particular memoria ; assim como de todas
as fructiíeras queeecultivsm aã Europa, ou sejam indigenas
d'aque)lB paiz ou n'elle acciimatisadas, como o castanheiro,
a nogueira, a pereira e a oliveira.
Não devo, comtudo, passar em silencio que a cultura dos
pinhaes, para a qual se prestam de boa vootade as terras
mais inferiores e os montes escabrosos, fúrma um objecto
D,:„i,;cdtv Google
- 48 -
assaz recommendaTel, sendo o nosso pinheiro uma arvore
de reconhecida utilidade e das mais ricas do Brasil, por-
que ella fornece no seu copioso fructo mui saboroso ali-
mento, sâo e nutriente ao homem e a quasi todas as espé-
cies de quadrúpedes, e de uso mais variado do que a cas-
tanha, fazendo com o trigo e milho excellente mistura e
muilo hora pão. Pôde seguramente dizer-se, que é impos-
sível haver fome em um paiz abundante de pinhões da es-
pécie paKicular que a natureza produziu nos nossos climas
frios ou temperados do interior. Do tronco alto e corpulento
doesta excellente arvore, que chega algumas vezes a cin-
coenta e mais palmos de círcumferencia, tiramos mui boas
madeiras, muita rezína e vernizes estimáveis.
Não esquecerei igualmente a cultura das vinhas origina-
rias da Ásia e da America, que ua Europa acharam a sua
verdadeira pátria por meio de uma cultura regular e bem
aperfeiçoada; pois nas terras de que se trata existem situa-
ções pioprias para a sua grande prosperidade.Osjesuitas cul-
tivaram vinhas na sua bem conhecida fazenda da Arasseri-
guama, distante dez léguas da cidade de S. Paulo, e faziam
bou) vinho. Esta cultura é para nós da primeira neoessi-
dade, e tudo quanto se páde objectar a este respeito fica
desprezível á vista do que escreveram o abbade Rosier e o
grande chimico Chaplal, e dos methodos por elles mesmos
prescriptos, para se fazer bom vinho de uvas imperfeitas e
não bem sazonadas.
Quem sabe que cousa seja a uva na província do Minho
em Portugal, fructo de vinhas bravias,plantadasem terrenos
conslanteroonte encharcados, levantadas sobre carvalhos
e castanheiros, participando diariamente dos demasiados
ácidos de que abundem estas arvores, a com particularir
dade quando estão em ceva, não duvidará entregar-se à
bem regulada cultura das vinhas em S. Paulo, ainda antes
Dictzedby Google
— 49 —
de calculara quantidade e a qualidade dos vinhos d^aquella
famosa proriíicia ; a melhoria de que são susceptíveis, e
immeDsa riqueza que elles produzem apozar do seu ínãmo
preço.
Mas dizem que esta cultura não pôde aproveitar em
S. Paulo, porque a vindima seria feita nos mezes de De-
zembro e Janeiro, estação chuvosa e destruidora das uvas ;
e eu digo que a espécie bem conhecida com o nome de
terrantez resiste perfeilameate As chuvas mais copiosas,
e que cultivando-se esta espécie, que pôde vir do alto Dou-
ro, desapparecia a objecção. O mesmo se páde dizer do
verdelho, a que na ilha da Madeira chamam de carapuço, e
se cultiva bas alturas do norte e particularmente na Achada
do iudeu da villa de S. Vicente, fazendo-se a vindima «m
Novembro, apezar do frio e chuvas excessivas e sendo
além d'isto criadas as uvas sempre debaixo do mais es •
pesso e continuo nevoeiro.
Se cultivarmos pois vinhas de pé, de copa e latada, para
o que são perfeitamente boas os montes expostos ao
nascente e meio-dia, e abrigados dos ventos frios, teremos
muito bons vinhos, ainda que não cheguem á perfeição
dos melhores da Madeira e Douro. Se os cultivarmos sobre
arvores, a que chamam vinhos de baleeira e de enforcado,
desfructaremos uma copiosa abundância de vinhosmelhoros
todavia do que os da provincia do Minho; uma e oulra cultu-
ra nos convém; mas para a segunda deque arvores nosdeve-
riamor servirf.Das amoreiras, sem duvida, sejam ellas em-
bora pretas, ou brancas, a que chamam rosas do Piemonte,
ou pardas, emãm, da Hespanha, eque foram transplantadas
da Sicilia; porque é preciso confessar, que nenhuma arvore
se tem achado até agora tão proveitosa para a criação das
vidas e perfeição da uva como a amoreira.
No bello paiz que banha o Obío, e em muitas outras
TOHO XX\1 P. I 7
Dictzedby Google
— 50 —
TJztDhinças do Mississipi, dilatados e vastíssimos tertenos
so offerecem á vista de todos, cobertos de amoreiris brancas,
e com filias enlaçadas «s vides, vegetaodo d' uma maneira
admirável, e no mais doce consorcio, como producções de
mui perfeils analogia. (CuííuraAinericana, tom. l''paf.259)-
Imitaram os píemonlezes a natureza, que até dos sertões
da America iostrue aos homens ; aprenderam as suas lições>
observaram as suas leis, cultivaram vinhas sobre amoreiras
brancas, e fazendo passar com admirável artificio as vides
dMmas para outras arvores reduziram cada um dos seu^
campos a uma espécie de jardim, ornado de pirâmides
e grinaldas ; e d'esta maneira, sem muita despeza, e com
pouco trabalho, melhoraram prodigiosamente o estado das
suas searas : t6m muito bello vinho e fazem com facilidade
a vindima ; conseguiram enriquecer o seu paiz com o excel~
lenie commercio da mais preciosa seda da producção
européa, e que tanto invejam as outras nações. E' em
tudo semelhante á cultura dos milanezes. E não poderemos
nós fazer o mesmo, imitando a quem imitou a natureza?
Merecem para este fim muito particular exame os bichos de
seda nascidos na America Septentrional, dos quaes se alBr-
ma, que produzem tão beila seda como a melhor e mais
afamada do Oriente ; que n&o ha insectos d'esta espécie
tão fáceis de criar; que elles nSo temem nevoeiros, relâm-
pagos, nem trovões, que em toda a parte os destroem ; e que
emfim cada um dos seus casulos pesa tanto como quatro
de outra qualquer parte. {Peueliet). Pôde ser que as mesmas
qualidades, ou semelhantes, se encontrem nos bichos de
seda naluraes do Brasil, que nascem, crescem e fazem
todo o trabalho, a que a natureza os destinou, indepen-
dentes da mào e cuidados do homem. Por que dura fa-
talidade os nossos naturalistas não tém examinado esta
e outras matérias de semelhante importância ?
DictizedbyGoOJ^IC
_ SI —
Existem, por exemplo, por Ioda a parte central da
capitaniB deS. Pauto, bosques immensos de jaboticabetras:
do seu bello e copioso fruclo podíamos aproreitar, cada
amo, muitas mil pipas de excellentes vinhos, e aguas-
ardeDles, como a expeneocia, ainda que nSo bem calcu-
lida, tem feito ver; e os nossos philosophos guardam a este
respeito ornais profundo silencio! Que independência de
commereio esb'anbo nos nio offereoe este simples artigo !
Qoanto pouparíamos e quanto ganharíamos na expor-
laçiol
Quanto a cultura cercal, é bdl de comprehrader, que
tniimos nas terras centraes da capitania toda a quaniidada
dos differenles grlos, legumes, batatas, e mais producções
tuberosas que se conhecem, e que a vontade a mais e ávidg
pedesse desejar, assim como dos fruetos bortenses : logo que
se removessem os embaraços que tém retardado a agricul-
tara d^aquelle paíz ; logo que o commereio livre se encar-
regasse de consumir por preços racionáveis as prodnofõe
agrarias; e li^oemfim, que a mesma agricultura se fixasse
nos campos e lugares próprios, e se fizesse dirigida pelos ver
dideiros princípios da arte, e por meio dos instrumentos
que a muito custo se intentaram, e nos paizes policiados
servem para snpprír a falta de braços e a fraqueza natural
do homem, empregada a força dos animaes brutos, princi-
palmeole do cavallo e do boi, assim como dos elementos,
entre os quaes é mais apreciável a agua, para tornar
próprios do uso particular e do commercip muitos fruetos,
que, depois de colhidos, necessitam do uma certa manu-
factura, e que, faltando ella, ou valem pouco, ou ficam
de todo desprezíveis.
Comtudo, como o meu intenlo nSo seja desenvolver
quanto se pôde cultivar, se nio o que mais convém no
primápío, e mais lucros carece á industria agraria, lem-
Dictzedby Google
— 5t —
brufli que a cultura do liabo e cânhamo é. absoluUm
necessária. Ella só produziria abuadanlissiaus riqu
em S. Paulo. Para ella se prestam com decidida vanla
as extensas otargeos do rio Pinheiros, que dista do
de Santos cinco legius, as do Tamandatay, e Tietê, '
as do Hugy das Cruzes, seis, as do Jundiay, quinze, e
fim as do Paraíba, ooie. Doestes lugares unicameote,
fallar d^oulras muitas sítuafõea accommodadas ao ÍDt(
nem lembradas as terras da marinha e da Curitiba, de
já fiz menção, todas em geral capazes da projectada
lura, podiamos tirar anntialmente abuudantissimas colh
de linho e cânhamo para as nossas fabricas, com se
para mui rico e importante commercio : pois além
outros paizes da Europa, que precisam d'este género
não podem haver das próprias terras, a Grã-Bretanh^
menle, que todos os annos paga por elle i Rússia |
cipalmente, 4,000,000 de Libras esterlinas, nos cOmp
de muito boa vontade todo o resultado da nossa cul
por isso mesmo que a navegação do Brasil lhe será se
mais lucrosa que a da Rússia, e ao mesmo tempo
fácil e menos perigosa. Tem-se favorecido (e nSo
grande despeza da real fazenda) esia espécie de cu
no Rio-Grande de S. Pedro do Sul ; e desgraçadan
se roallogrou a empreza. Se ella se Qzosse em S. P
outros seriam os resultados. O Rio Grande é muito
paiz; quando porém fosse mais fértil de que a Guri
o que na minba opinião passa pelo contrario, verifícam
o mesmo a respeito d'outras muitas terras da capit
sempre o commercio ha de achar mais diOiculdade
aquelle porto do que para o de Ubatubs, S. Scbi
Santos, Conceição de Ilanhaem, Cananéa, Igudpe e
Q^iguá, que todos existem ua latitude austral do 23
slé 20", com suJIicienlcs caminhos para o iulorior.
Dictzedby Google
— S3 -
cootrario, o Rio-Gramle fica a 33* ; a stia barra é pesráua,
mais ásperos os mar^s e mui tormsjitoso o rÍo, cuja
navegai^o de sessenta léguas alé Porto-Àl^^ eonsome
não poucas vezes quarenta, cincoenta 6 mais dias de assí-
duo e pesado Irabalho ; é força que se faça em pequenas
embarcações, que exigem grandes fretes, de maneira que
os géneros navegados para a Europa são absorvidos em
não pequena parte pelos dilos fretes, e mais gastos insepa-
ráveis das escalas, se o commercio se fizer por meio
de interpostos. Eis-aqui a razão por que a dita cultura
prometie maiores vantagens nas (erras de S. Paulo, onde
entraremos logo em concurrencia com a Rússia, e depois
de bem regulada a nossa cultura nos faremos muito su-
periores ; e tanto, quanto o nosso paiz é mais productor
do que podem ser, apezar de qualquer industria, aquelles
terrenos amortecidos pelas neves e ventos frios.
Não trato da cultura d'outras espécies de linho, que
se conhecem no Brasil, como, por exemplo, o produzido
pela palmoira ticum, e polo coqueiro macauba, cujos cdcos
produzem muitos e excellonles azeites para a mesa ; por-
que, feita a devida reflexão, se achard que esles linhos
procedem das folhas, e que estas plantas privadas d'um
dos principaes orgSos da sua vegetação, não sei se em
pouco tempo se (ornarão inúteis e incapazes de produzir
folhas e fructo, ou linbo e cucos; são artigos curiosos,
e como taes se devem tratar, emquaato não forem bem
calculados.
Passo em silencio, da mesma forma, a cultura d'outras
producções e fructos, posto que muito recommeodaveis,
como o café e algodão, que nas terras quentes da capitania
são de superior qualidade ; o anil, que por si mesmo
se ropruduz annualmcnio om muitos lugares, e quasi gu*
ralmcnte pur toda a partu ; as diversas o finíssimas painas.
Dictzedby Google
— 54 —
de qcM podisinoa tirar largss ooDTeniencías ; finitme
do tabaco, assnear, podiamos tirar muita riqueza ; se
certo qt» a cuUnra do assuor em nenhuma outra [
se faz com maia vanlaisem do que em Itú, nas Campi
6 em Jundiay, lugares dos qaaes uma dada porçãc
caoaaa de igual peso produz o dobro do assucar qut
pôde fabricar nos eogenhos d'esta capital, e nasce na
tade do terreno que para isso 6 aqui destinado.
Todas estas culturas, e outras, ou já conhecidas.
ainda nâo experimentadas e estranhas, por isso me;
do nosso commercio, hèo de prosperar com o tempo
sombra das primeiras, logo que a sua utilidada fAr
conhecida, e a agricultura entro nós achar aquella
mação qae lhe prestavam os antigos, que a reputt
como uma dadiva celeste, a primeira das artes e a
interessante de todas, ou como se exprime Cicero. —
ntum rerum, ex qtiibtis altquid acquiritur, nihil est i
GUÍfura utiliuí, nihil liberiua, nihil homine libero digi
DiS CAUSAS QUE TEM RETARDADO O PROGRESSO DA AGRICUl
EH 8. PAULO
Mas como se poderá comprehender, dirá alguém,
um paiz dotado de tanta fertilidade, d'uro clima tão ai
e saudável, cujos habitantes e naturaes são fortes e
rosos, e amigos do trabalho, não tenha podido fazer a
prc^resso memorável na carreira da fortuna, que lhe
mettia a sua agricultura? Primeiramente nSo pôde 1
tar-se pela agricultura aquelle paiz que ainda no berço ]
todos os dÍBS uma grande parte da sua povoação
Dictzedby Google
guerras destruidoras em lugares remotos e desertos, e por
iQultiplicadas coloniss, que, sem calculo, envia todos os
ânuos i grandes distaacias, e sem relação co m a mâi pátria.
Depois, o comtnercio acanhado e mesquinho áis frotas^
que fioalisou em 1765, conhecia apenas os portos de
Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janoiro : não tíoba
narios bastantes para o transporte de lodos os géneros
que se cultivavam nas difTereates capilauías d'este vasto
coolinente: faltava aos mesmos navios o tempo necessário
para se desligarem do chefe que os comraandava, para
fazerem as suas especulações mercantis em outros lugares
mais longínquos, e para voltarem opportunamente aos por-
tos, dos quaes deviam ser comboiados para Europa: todas
estas circomstancias toraavam necessariamente inúteis os
trabalhos agrários, superiores ao gasto e consumo do pró-
prio paiz nativo ou productor, em beneficio particular
d'aqueltes portos privilegiados.
A abertura da estrada de Minas-Geraes, de &oyaz e de
Nato-Grosso pela serra dos Órgãos, a suspensão do governo
geral d'aquella capitania, a vontade cega de Godlea Freire
de Andrade, depois primeiro conde de fiobadella, que
a govetnava, ou antes maltratava de longe, e queria por
todos os modos augmentaro Rio de Janeiro; o espirito
do monopólio, emfim, que, sendo mortal inimigo do com-
mercio, é a jóia mais ambicionada pola maior parle dos conu
merciantes, e havia estabelecido o seu funestíssimo throno
n^esta capital, acabaram de destruir ledas as relações mer-
cantis da referida capitania com a metrópole, e por con-
soqueocia as bases da sua agricultura e prosperidades.
Õual outro paiz poderia resistir a tantos males? Pois
ainda se accumularam nâo poucos mais, que é preciso
referir em parte, e que parece foram de propósito calcu-
lados para destruir inteiramente, não digo povos ainda
D,:„l,;cdtv Google
— Se-
na inraneia dos primemos estabelecimentos, mas encai
eidos na prudência do governo e na mais perfeita inilust
de todas as artes.
O cMDmercio libertado do monopólio das frotas,
morte de Bobadella e o restabelecimento do governo g
são três acontecimentos muilo memoráveis na bislõrit
capitania de S. Paulo, verilicados quasi ao mesmo len
e dos quaes deveria ella esperar grandes mudanças na
fortuna : os males, porém, que a tinham opprímido ne(
silavam remédios mais efiicazes, isto é, melhores e ir
sábios administradores.
Ho já designado anuo de 176S appareceu em S. Pa
o morgado de Mathcus, D. Luiz António de Sousa, rev
tido do cargo de governador e capilâo-general. Em cot
quencia das sabias instrucções que lhe dera o marq
de Pombal, mandou elle examinar a confluência e ni
gação dos dois rios da Curitiba, o Iguaçu e o Ivay,
ao depois 90 chamou de D. Luiz, e bem assim do Igati
em cuja margem septenlrional, e na distancia de sess<
léguas de apartamento do famigerado sitio das Sete Quéi
a rumo de Oeste, se eregiu a praça de Nossa Senhora
Prazeres, em um lugar vantajoso, e agradável, pela bel!
dos seus matos pelas costas, ferlilissimos e exlensissii
campos pela frente.
Olhava-se para esta praça como origem certíssima
grande commercio e prosperidade, nem d'outra sorte
divisavam as duas mais, para cuja edificação se hav
tomado medidas praticas e bem dispendiosas ; e o dito
vernador, desenvolvendo grandes vistas politicas e mil
ro9, intentava levantar a primeira, na margem meridit
do Ivay, e no mesmo sítio onde existira Vitia Rica,
os nossos destruíram, para reivindicar o paiz de m
paçío bespanhola, e a segunda na entrada dos cam
Dictzedby Google
— 67 —
de 6afa{Kiav«, «Booatando-se á maif«n septentrioDnl do
Iguaçu.
Seguravam eslas praças as nossas antigas possessões até
á Assumpção do Paraguay, s em repugnância do Tratado
de limites de 1700^ fechavam aos hespanbóes três porias
francas para entrarem muito a seu salvo nas capitanias
de S. Paulo, Gojaz e Minas-tieraes, e só faltavam ao nosso
socego e perfeita segurança semelhantes providencias a
respeito da navegação do rio Paranãpanema, e da pas-
sagem dos morros do imbotetyu, situados na vizinhança
do preaidio da Nova Coimbra: outras duas portas, qno
com u tempo e a exemplo das primeiras emprezas se
devwiam ler ha muito fechado, ao menos com a povoação
do imporlantissimo sitio de Capuãn e da bem propor-
ãúnada e necessária guarnição d'elle.
Com eSeito, do estabelecimento das ditas praças n'8-
quellas lugares ermos e remotos teria certamente resul-
tado a creaçAo d'oalras tantas povoações, ao menos de
moltípUcadas estancias para a educação dos gados, <iue
nos teriam ha muito offartado largas conveniências e meios
b«o proporcionados para a domesticidade dos Índios que
habitam aqueltes sertões, e que com brandura, tralocivíl
e ameaças a pnpoeito teríamos attrahido em grande parte
ao noBso partido e amizade ; e Qnalnwnte para o com-
mercio, que podíamos ter introduzido no Paraguay, no
UrDguay, e grande parte do Peru, até ás minas do Potosi,
que táes eram indubitavelmente as vistas do grande e
íUusirisBÍmo Pombal.
Mas este grande projecto, assim bem oi^nisado e bem
prínàpiado, por uma desgraça incomprehensivel se trans-
tornou em fura perda fla infeliz capitania de S. Paak>;
porque, suecedeodo no seu gpverno em 177S Marlim Lopes
Lobo de SaldaiAa, vaidoso e inimigo do antecessor, des-
TOMO XXXI, P. I. 8
Dictzedby Google
tntraqaaDtoeUehanaprincipisdo. Foi s ^ça dos Pnzares.
por falta de soccorros, como da propósito entregue aos
hespanhóes, e desfeita a povoação, que já contava qnasi
dei annos, perecendo uma parte dos colonos á fome,
oa Tolta para a pátria e reduzida a outra á maior e total
indigeocia : ficaram impunidos estes factos, porque são
mui poucos 03 qae se não podem revestir de formosos
ornatos e enganosas c6res.
Dormiram os outros gOTM-uadores até agon sobre pontos
tão 'essenciaes da sua mais particular obrigação, nem corri-
giram o mal lercivet e de péssimas fionsequeocías, feito
pelo dito Martim Lopes, ou pela junta da fazenda, debaixo
da sua direcção, e presidência, estancando a navegação
iivre do rio Cubatão para a villa de Santos, pelo ostabe-
cimento, sem lei e sem ordem, do mais absurdo contrato
real, compellindo os lavradores e commerciantes a nave-
garem os seus géneros e elTeitos nos poucos barcos que
se fecharam D'aqueUe porto, cada vez mais insufficwutes ao
lim proposto : de sorte que muitas vezes, por- espaço de
oito dias, são retidos os comboieiros com as suas bestas
mortas á fome, e prejuízo das mercadorias expostas ao
tempo, esperando pela occasião do seu respectivo em-
barque, impacientes por não poderem reo^er os retornos
para o seu penoso trafico. E' claro que n' estas circum-
stanciasa agricultura e o commercio nSo podiam crescer
além da regra ou da quantidade da exportação.
Tornou-se mais gravoso ainda, e peior o mal pelas impo-
sições feitas no tempo d'outro governador, subindo cada
arroba de qualquer género á pensão de oitenta réis, não
augmentados os meios necessários para mais ampla expor-
tação. Muitos dos ditos govwnadUres até agora, m^lw-
do-se a dirigir por minuciosos regulamentos, estranhos da
sua jurisdicção, e absolutamente contrários ao systema do
Dictzedby Google
eemmeroio, que uão floresce jamais sendo destitaido da
pleaa liberdade, que exigem as suas differeates opera{ões,
puzersm tantos e taes impedimentos ã agricultura e ao
commercio, que uma e oulra cousa se teriam de todo
aniquilado se a fertilidade e mais àrcumstancías particu-
lares da terra não podessem resistir a tantos e tamanhos
males.
A todos estes males moraes accrescem ainda.outros muitos
da mesma natureza, e que não deveriam ter existido
jamais, assim como alguns da ordem physica de não diffi-
cultoso remédio, que nuuca porém mereceram a mais
ligeira reflexão da parte dos empregados públicos ; antes
os primeiros se tem aggrarado todos os dias, polo mais
duro e tyrannico despotismo, cuja enumeração particular
seria entadonha. Os principaes s&o: 1*, a faUa da de-
vida atlenção ás mais justas representações dos pobres^
quando d<zflm respeito aos ricos e poderosos; 3*, a usur-
pação da jurisdicç&o dos juizes pelos goreroadores, ta-
(Hfiies-móres e commandantes, os quaes, fatendo me-
noscabo das pessoas dos julgadores, nada ambicionam
tanto como o exercicio tumultuarío das funcções, que
lhes não compelem e se acham pela sabedoria das leis con-
fiadas privativamente aos ditos juizes, sujeitos aos compe-
taotes recursos; 3°, os casamentos violentos, origem fu-
nestíssima de mates ÍDcaiculaveis, que todavia se tãm
multiplicado por falsas idéas, assim como por um contraste
bem admirável, tem sido constantemente repellidos da
associação conjugal muitos pobres, por não terem meios
de pagar as gravosas dispensas ecolesiaslicas, que augnieQ<-
tam e crescem por qualquer motivo, e que se deveriam
fazer pelo officio dos parochos de graça; 4*, a violência,
que se (az aos milicianos pobres de se fardarrau ã sna
custa, não tendo meios nem proporções para o fazerem.
Dictzedby Google
e seodo de cATallaria tanto peior. E' iDsis iiuapwt
ainda a oulra violência de os obrigarem a comparecei
cidade, aio só para mostras, e exercícios, que se de
fazer nas próprias freguezías e concelho, mas para gusi
cerem as roas na procissão de Corpo de Deus, e faiei
sem necessidade, o serviço próprio do exeroilo da prim
linha, compellidos a jornadas de cincoenla e sess
léguas por ida e volta, deixando ao desamparo suas c
e famílias, perdendo muitos dias de trabalho, obrigi
a despesas extraordinárias e sujeitando-se muitos a
préstimos e dividas, que ao depois não podem pagar
custosos sacrificios. Uma func^jão d'estas, ou uma
ctssão loroa-seem tributo de capitação, posto qae dasi
e vexatório ; e pôde alfirmar-se que, calculada a deAcie
do trabalho e a despeza extraordinária na iosignifíc
quantia de 800 rs. por dia, sobe a mesma capitação er
(lias a 2&:000{j[000 suppondo, que a violência se
estende a mais de 2,000 homens, perda irreparável.
E quem diria que a fatalidade inseparável dos negt
de S. Paulodeviaaccenderos fachos da guerra uocontii)
do sul, e que a brava legião d'aqaella cidade seria obi
da a desamparar os seus lares, para a defesa da pátria
raslmdo a Qdr da mocidade e os capitães mais liquide
a moeda do paiz, para ser tudo consumido em outra p
com grande numero de seus habitantes e perda irrepai
da povoação, agricultura, commeroio e industria ?
Queira a Providencia que este mal desappareça em pi
tempo ! E que n'est8 epocha de luzes se trate mui cu
dosamente de remover ainda outros males gravíssimos,
atacam a povoação e a agricultura e dependem uaicsmi
das providencias do governo ou de legislação propr
aecommodada ao intento i Consistem os ditos males :
Na f«lta de professores de cirurgia e medicioa pratic
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— «1 —
^na necassariameate se devem crear e estabelecer em cada
um dos concelhos da capitania, para que ato aconteça
mais perecerem, por falta de curativo, muitas pessoas «n-
tr^ues a curandeiros e empíricos, qne, sendo devidamente
tratados, viveriam por muilo tempo além do termo fatal
que todos os dias lhes prescreve a ignorância. Esta provi-
dencia é (ão necessária que parece inseparável da toda a
associação civil, assim como a outra de um hospital para
asylo dos pobres. Como, na verdade, sem estes meios
podwão viver os pobres, a quem ludo falta t 2." Ha outra
falta tio fácil de remediar-se, do uso e administração da
vacciíu, objecto de simples curiosidade e {{ue devia servir
de meio efficaz para atacar a terrível enfermidade das be-
xigas, que tem causado o maior terror aos nossos paulistas,
devorando grande parle da povoação. Aos parochos e
dois homens principaes do cada uma freguezia se deveria
incumbir o trabalho de vaccinar todos os domingos os
crianças necessitadas d'este quasi divino soccorro, sendo
dirigidos por um pequeno regulamento e sendo obrigados
lodos os pais de família a fazerem vaccinar seus filhos, de-
baixo de certas penas pecuniárias : pôde ser que fosse mais
conveniente (mas deixo isto ao pensar dos ptofessords de
madicina] que na oceasifto do baptismo se administrasse a
vaccina. 3." Ha um outro mal, talvez mais funesto do que
o das bexigas, que devora grande parle da povoação do
Brasil e com mais particularidade nos paizes frios, como
S. Paulo, e tal é o sarampo, a cujo respeito só me é licito
ponderar a necessidade de serem convidados os professores
de medicina a formarem algum directório circumstanciado
para o competente curativo: elle seria de muito proveito em
um paiz que por muitos annos ha de carecer de medieos e
cirurgiões sufficientes em numero, e recommen dáveis peta
instntcijão. Existe ainda uma 4' cousa de enfermidades
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— C3 —
variadas e de díffereotes espécies em lodos os paizes, é das
quae^ não eslá de todo livre a capitania de S. Paulo, a
saber, as provoníeDles dos eStuvios pestíleaciaes dos lagos
e immediações dos nossos rios.
É preciso que a sã politica faça pouco a pouco desappa-
recer esta origem de inoommodos, molestías e mortalidade,
por exemplo, a várzea do Carmo, inferior á cidade, cobriu-
do-sedas aguas do Tamandalay.que podiam.segundo penso,
correr livremente pnra o Tietê, seudodeseccada por meio de
dilTerentes valias, não atacaria para o futuro a dita cidade
com nevoeiros importunos, humidades, defluxos e rheuma-
tismo; os seus habilaates desfructariana a mais perfeita
saúde e a mesma várzea lhes subminislraria muitos e excel-
lentes prédios de lavoura, que melhorariam ainda o clima
V que, sendo vendidos ou aforados em proveilo do conce-
lho, bem podiam ser origem de outras bemfeitorias pro-
veitosas.
Darei fim a este importaniissimo capitulo faltando das
formigas. Este insecto voracíssimo nos faz em toda a ei-
tensio do Brasil a mais cruel e desapiedada guerra, e são as
terras de S. Paulo feridas doesta inexorável praga. Exige o
bem geral da agricultura que se remova tão prejudicial
impedimento ao seu feliz progrosso. É preciso que postu-
ras geraes declarem os povos sujeitos ao trabalho da eitinc-
çno das formigas, que não haja privilegio a este respeito,
que os ricos e pobres, á proporção dos seus haveres, tra-
balhem para este importaniissimo âm, concorrendo para
elle com dinheiro, o trabalho pQssoal dos escravos, ou jor-
naleiros ; que entre os mezes de iulho e Agosto, os mais
livres do peso da lovoura, o quando as formigas ainda se
conservam nas suas panellas, para enxamearem com as pri-
meiras aguas, se designe o espaço de 20 dias, pelo menos,
para o trabalho que a todos deve ulilisar ; que se d
Dictzedby Google
10 mesmo tempo inspectores TÍgila ates para a direcção dos
trabalhos, e que estes prÍDCípiem á roda das povoações, e
continuem, sem internipção. por todas as terras do cada
um dos concelhos, especificando-se as mais circuinstancias
que se acharem próprias de matéria táo ponderosa. Re-
moTÍdos assim todos os embaraços impeditivos da agricul-
tura e povoação, crescerá a passos laicos uma e oub'a cousa,
eS. Paulo seri feliz.
É para admirar que a agricultura assim vexada e oppri-
mida produzisse no anno de 1607, ao qual respeita o ul-
timo calculo que pude ver, aexportaçSo de 496;i09jí4â0,
regulados os effeitos pelos seus preços originários e
exportados em 95 embarcações, que sabiram do porto de
Santos. Talvez que a somma da exporlaçio integral ex-
cedesse o dobro do valor calculado, se nVUe se meDcionasse
a importância doouro,dos diamantes e mais pedras preciosas
que gyram no commercio legal e clandestino, observando-se
que o quinto.do ouro produziu em 1806 a quantia de
2:3698783, e que os rendímeatos teaes chegaram no mesmo
anno a lâa:710|910.
Pertence agora á equitavel prudência e imparcial sabe-
doria do governo de Sua Alteza Real a não pequena gloria
de curar os mesmos males, fazendo-os arrancar pela raiz,
para que não produzam mais os seus perniciosos elTeitos ;
neoD para outro fim os teria eu referido, pois que a minha
intençio não foi jamais molestar pessoa alguma.
CAPITULO IV
DAS PROVIDENCIAS NECESSÁRIAS PARA A DEFESA DA CAPITA-
NIA, TANTO POR MAR COMO PQIl TERRA
Itão basta extirpar erros e destruir abusos, restituindo a
agricultora e o commercio á sua nativa dignidade e natural
D,:„i,;cdtv Google
— M —
É necessário ainda que o goTemo fafs ostros
beoa, rinaaodo primeiro em solidas bases a sua segwança
exleraa, e promovendo por todos os meios a commodaeiis-
tencia, a industria e as virtudes dos povos.
A defesa das costas maritimas e dos portos da capitania
depende do plano geral, comprebensivo de todo o Brasil,
e n'elle entra sem duvida o necessário estabeloeimento da
marinha real, com o dos fortes, praças e fortalezas nos lu-
gares proimos e cooTenientes : operações difficultosas, que
exigem ^andes cabedaes e que só o tempo e a industria
nacioiía) poderSo formar potico a pouco.
Outro é o systema que respeita ao interior e ás nossas
fronteiras limitrophes com os hespanhoes, os quaes por
toda a parte nos cercam, avizinhando com as nossas me-
Hiores provincias, por nSo dizer com todas, como nos acon-
tece na Europa. Se as nossas vastas possessões se acham
pela maior parte ermas e despovoadas, isto mesmo se veri-
fica a respeito d'elles, e, ainda que superiores em forças,
hão de succumbir sempre nos seus planos de ataque, logo
que, mais industriosos, formos estabelecendo BS.basesefun-
dameotos da nossa defesa petos sítios jà lembrados, e se-
gurarmos os nossos limites do llruguaj* e Paraguay, já
em muitos lugares torpemente violados, e franqueando ao
mesmo tempo a navegação dos sobreditos rios, por cujas
margens se deveriam estabelecer -pequenas aldéas com a
competente artilheria e armamentos necessários, contra as
tentativas da naçfto confinante e invasão dos selvagens, que
hão de necessariamente receber mais docilidade e alguma
industria dos bons engenhos dos seus novos e melhores
vizinhos.
Estas operações são de absoluta e indispensável necessi-
dade, e ellas mesmas nos subministraríam meios fáceis para
estender os nossos limites e co)local-os em toda a extensão
D,:,ll,;cdtv Google
— 65 —
na msi^enu oríaotal do Paragusy, cuja navegação é natural-
mente cominum a ambas as nações. Seria para desejar
que o mesmo se permitlisse aos hespanhoes a respeito do
Amazonas; assim a utitidade da navegação franca d'e3tes
dois rios, os maiores do muado, se tornaria mui provei-
tosa ás duas nações. Presta-se de uma maneira excellente
a esta idéa o famoso Tietê, ou Ánhamby, cujas margens,
de um e outro lado, so estendem por quatrocentas léguas,
formando um paiz sempre bello e mui saudável pelo cen-
tro do cApítania desde a sua origem nas Serras do Mar, ao
norte de Mugy das Cruzes, latitude austral de 23" e lon-
gitude 340* e 53", até que se vai confundir com aguas do
Paraná, tendo corrido para o occidente, curvando-se sem-
pre ao norte, e segurando aos novos colonos, olém da
abundância de todo o género de alimentos, o meio muito
fácil de se enriquecerem pelo commercío do mel e cera,
dos bálsamos, resinas e óleos, outras tantas producções
espontâneas, abundantes d^aquelles sítios, assim como aos
mármores e ágatas de variadas cáres, e dos gados de Iodas
as espécies, que se podem crear na maior abundância.
Nem as aguas d'este grande rio cedem á fertilidade da
terra, pois é admirável a quantidade dos peixes que n^el-
las se criam, e taes são entre os de pelle e de espécie par-
ticular dos bagres, os jaús, os piracambucos e os surubis
(lie Ires qualidades), todos grandes, ou antes monstruosos,
excedendo muito ao peso de três ou quatro arrobas ; dos es-
camosos são mais notáveis os dourados, piracanjubas e pa-
cupevas. O commercio limitado que d'este3 peiíes se faz ha
muito tempo pelo pequeno povo de Araritaguába, ou Porto
Feliz, pôde com facilidade proporcion&r-se ao maior con-
sumo e produzir muita riqueza, ainda não calculados os
lucros semelhantes que devem produzir as muitas espécies
da outros mais pequenos de que abundam por extremo as
Tono XXXI, p. I. 9
Dictzedby Google
— 60 —
ditas aguas. É bem conhecida em Porto Feliz a arte das
sa^as e methodo de seccar todos estes peixes ao veato.
Em que parte do mundo se encontram meios tào super-
sbundantesede semelhante importância e facilidade para o
estabelecimento de colónias ou novas povoações?
CAPITULO V
DAS FADRICAS E UA>'UFACT(JHAS EH GERAL
Fiigem 05 trabalhos ararios o favor e auxilio da indus-
tria fabricante. Em quaesquer circumstancias pois em que
se ache a sociedade civil, o seja qual Íòt o estado da sua
agricultura e povoação é necessário conceder, que os homens
tôm direito aos alimentos, ao vestuário e habitação; e este
direito, que procede immediatamenie da necessidade de uma
existência commoda, não admitlo espaço nem pôde supprir-
se pela simples esperança da abundância das commodidadcs
do fausto e riqueza das gerai^õos futuras.
: A falta de povoação não pôde remediar-se em um mo-
mento ; éa obra dos tempos e das circumstancias bem di-
rigidas ; se a agricultura augmenta a povoação c lhe dá uma
doce e agradável existência, não pôde negar-se que as artes
e as manufacturas sejam dotadas de semelhante força o
poder ; todo o ponto consiste em que o lavrador e o artista
achem cousumidores aos fructos da sua particular indus-
tria por um preço que recompense os seus respectivos tra-
balhos e lhe oflereça vantajosas commodidades.
Estas commodidades são procuradas pelo commercio.logo
que elle com mão liberei e bemfeilora oíTereça aos artistas
e fabricantes os fructos variados da agricultura e as maté-
rias brutas, a que elles vãodar nova existência e multi-
plicados valores, e aos lavradores, as producções da arte.
Dictzedby Google
— 67 —
que não podem adquirir da própria industria e que seriam
obrigados a mendigar do estrangeiro, muilas vezes de inferior
qualidade e pouca duração, e quasi sempre por preços des-
medidos e tendentes a absorver os seus mais rudes trabalhos;
sendo por isso mesmo constrangidos a viver como exulados
e oa mais austerapobreza.
O autor do elogio de Colbert tinha pois muita razão
quando disse que a agricultura, as manufacturas e o com-
mercio pareciam formar umacadda de benefícios, e unir-se
para estender a povoação e as commodidades : Que Vagri-
ctUture, les manufacivres et le commerce semblent former
une chaine de bienfaiís, et 3'unir pour élendre la popula-
lion et kíjouissances. D'esles principies sediriva, como da
sua mais pura fonte, a deliberação que tomou o nosso
augusto soberano, permiltindo entre nós o livre estabeleci-
mento de (odas as fabricas que exigem preferencia e de-
vem logo eslabelecer-se na capitania de S. Paulo, e por toda
a extensão Jo nosso Brosil.
Se eu disser que na vastíssima extensão doeste grande paiz
não ha cHma mais próprio para o feliz estabelecimento de
Iodas as fabricas o manufacturas, que se acham espailhadas
peto mundo, não merecerei por isso a mais leve reprehonsSo
da parte dos bons conhecedores, porquanto elles não podem
ignorar que são impróprias dos paizes demasiadamente
frios e intemperados aquellas manufacturas que exigem o ar
livre ; e que não podem afTazer-se aos climas quentes todas
as outras que. necessitam de mais vigoroso e aturado tra-
balho, ou devem manobrar-se mediante um fogo vivo. Es-
tes inconvenientes não se encontram nos paizes temperados
e amenos ; e são elles tanto mais vantajosos ás manufactu-
ras quando a abundância dos viveres, das matérias primas,
das aguas e combustíveis se apresentam com as commodi-
dades que se não podem negar ás terras de S. Paulo.
Dictzedby Google
DAS FORJAS E FERRARIAS
São bem conhecidas entre nós as ricas minas de ferro
de Guiraçoyába (que desde os tempos de D. Francisco
de Sousa, sétimo governador geral do Brasil, tãm feito
muita bulba, sem neobum proveito) ; descobertas por AÍFonso
Sardlnba, que a'ellas estabeleceu uma forja regular de mui
boa conveniência, foram tomadas para a fazenda real e com-
mettídas á admiaistração d'aquelle fidalgo, que, bavendo-se
retirado para Lisboa no fim do seu governo em 1603,
voltou a S. Paulo em 1609 com o cargo de governador
e administrador geral de todas as minas descobertas e por
descobrir nas três capitanias, do Espirito-Santo, Rio de
Janeiro e S. Vicente, e promessa do titulo de raarquez
das Minas (que alcançou o neto do mesmo nome) e outros
despacbos, que se deviam verificar depois de cinco annos
de trabdlbo com a qualidade de juro e berdade: fallecendo
porém em 1611, tudo se perdeu, e pelo regimento de 8
de Agosto de 1618 se entregaram com aquellas todas as
outras minas á industria dos povos; mas opprimidos com
o enormíssimo tributo do quinto. U'aqueile tempo em
diante apenas se trabalharam as minas de ouro e nenbuma
pessoa se applicou ao sproveitameoío dos outros metaes
inferiores, porque não podiam supportar, sobre as des-
pezas da exploração e subsequente manufactura, o peso
d^aquella Imposiçio.
E' preciso, que se revogue o dito regimento n'este ponto,
menos pelo que respeita ao quinto do ouro (sobre o que não
faço alguma reflexão). Poderão assim trabalhar-se aquellas
minas com a de Santo Amaro e Pamabyba, menos conhe-
cidas, e quaesquer outras que se descubram. Seodo certo
que diurna boa ferraria, elevada pela ('urúa à devida per-
Dictzedby Google
feiçSo, e das dilTerentes forjas, que podem erigir quaesqaer
empreheadedores conforme os metbodos estabelecidos pela
administração publica, se derem esperar, além dos bene-
ficios já acima augurados, semelhanles conveniências ás
que percebe a Suécia das 56 forjas, que se acbam esta-
belecidas DO seu território, e cbega annuatmeDle o seu ren-
dimento a 13,000,000 de lib. tom. no art^o simples
de ferro em barra, ou trabalhado. (Vid. Peuchet Art.
Suécia.) E' superior a esta grande somma a outra do aço
da artilheria, balas, etc. Por si mesmo se recommenda
este ramo de industria fabricante, e que só depois de aper-
feiçoado poderá supportar os regulamentos fiscaes propor-
cionados aos da mesma Suécia, sendo ainda para reflectir
que as minas de Guiraçoyába se fazem particularmente
recommendaveis pela sua situação local nas serranias im-
medíatas aos rios Iguape e Sorocaba : por aquelle podiamos
navegar o ferro, e muitos effeítos agrários, por todas as
costas do Brasil, como fica notado ; e por este e pelos con-
fluentes do Tietê, Paraná e Paraguay se pôde navegar o
mesmo ferro excedente dos nossos usos a todas as posses-
sões bespanbolas, com as convenienáas que cada um pôde
fscilmente conceber.
A cidade de Calbeiinemburg, na Sibéria, edificada por
Pedro I e acabada peia imperatriz Catharina, sua mulber,
será em todos os tempos um modelo perfeilissimo d'esta
espécie de industria, e a demonstração mais authenlica da
sua força, para tirar da miséria uma província desgraçada
e elevada á grande prosperidade.
Dictzedby Google
- 70 —
CAPITULO Vil
DAS FABRICAS PHOPIUAS DOS LAVRADORES
Depois d'e9ta fabrica, que é da maior importância,
exigem particular cuidado e decidida preferencia as quo
sio como inseparáveis dos campos, o devem ser tratadas
pelos mesmos agricultores e suas famílias; a saber, a ma-
nufactura do queijo e da manteiga, na melhor perfeição ;
a da salgo das carnes e presuntos o decortimeato das pelles ;
sendo igualmente recommendavel p mui necessária a con-
strucção de toda a qualidade de moinhos, para a maoofa-
clura das farinhas, de que fazemos ou podemos fazer uso ;
dos azeites, maceração dos linhos (Vj a outras : após estas
se seguem os lilatorios e teares ordinários de lã, de linho
e de algodão, e finalmente as de refinar assucar e restiiar
aguas ardentes.
Estas duas ultimas fabricas são importaolissimas e do-
brariam, pelo menos em S. Paulo, o valor do assucar o
das aguardentes, calculado o seu maior preço intrínseco,
e contemplada a diminuição dos gastos feitos nas conduc-
ções por torra, e fretes marítimos, logo que se exportasse
o assucar puro e aguardente do mais subido quilate e ele-
vada á perfeição da denominada — Três Seis — e do álcool,
sobre o que dissertou muito bem João Manso Pereira no
seu folheto Memoria sobre o metkodo económico. Todas
as outras fabricas e manufacturas, sendo mais próprias
das cidades, facilmente acharão emprchendedores logo que
se llies proporcionem os lucros, e não têm necessidade
de tão particular vigilância da administração publica.
(A) E' agora bem conliecída a iDscliíaa de Mr. Clirbleia para o
preparo do iinlio, e d'eUa se deve lazer uso.
Dictzedby Google
— íl -
CAPTTULO Vm
DO COHHERCIO GERAL DA CAPITANÍA
Do cniDiiiercio, sobre as reflexões já feitas, direi em
poucas palavras o que mais convém. E' preciso que as
leis da sua regulação sejam, como exige a razão em Ioda
a parte, dirigidas a dois pontos unícameate, isto é, a man-
ter a boa fé das transacções e a constttuil-o na maior segu-
rança e roais perfeita liberdade. Tudo o mais pertence por
sua natureza á industria dos especuladores, «empre dignos
da protecção do governo, emquanto por meios honestos
concorrem para a fortuna da sua pátria. Criminosos e
necessariamente puníveis, logo que predominados da sór-
dida avareza intentam lucros oppressivos, fazem contra-
bandos escandalosos, formam monopólios (yrannicos, re-
tardam sem causa alheios cabedaes, ou se levantam com a
fazenda que se lhes confiou.
Os direitos da sabida sejam nenhuns, ou sempre mo-
derados. Isto basta, e nãoé, regularmente faltando, neces-
sário que a exportação cresça e se.augmente por força
dos prémios para isso liberalisados pelo governo, como
na Grã'Brctanba se pratica sem necessidade sobre muitos
artigos. Os da entrada são mais arbitrários do seu estabe-
lecimento e devem formar objectos sérios de mui severa
especulação: fallo do commercio estrangeiro, ou não com-
prehendido no de cabotagem dentro d'esle paiz, que para
se ai^^enlar, e para prestar o devido auxilio aos trabalhos
agrários, necessita ser absolutamente livre de todos os direi-
tos de importação e exportação. Exige comtudo a imparcial
razão e quer absolutamente a justiça que os direitos de im-
porução exclusiva da cabotagem sejam pagos por uma só vez
e oáo rresçam á proporção da extensão dos caminhos e das
DictizedbyGoOJ^IC
passagens dos rios, ou serras, pelo interior do paiz; porque
n^isso desapparece a igualdade, que a lei deve sempre guar-
dar eolre os cidadãos. Não basta que o panno, por exemplo,
de que um homem morador ao Cuyabá, ou uo Mato-Grosso,
ba de faser o seu vestido, se veuda por preço dobrado do
que custa ua Babia, ou aqui ao Rio de Jaaeíro, om razão
mesmo das tiaasacçóes mercantis, gastos de cooducções,
riscos e juros, com que vai sobrecarregado. Esta desgraça,
occasionada pelo lugar e sitio da habitação em que vítb
o consumidor, aâo deve tornar-se ainda mais dura pelas
imposições liscaes de 10, 12 ou 30 */., sobre os quaes não
esquece ao mercador o calculo dos seus lucros, pois que
em seu beneficio devem produzir os avanços anlicipados
no pagamento dos impostos direitos.
Os fructos produzidos no interior do paiz merecem mais
favor á proporção da distancia d'oode se conduzem ;
porque d^ouUa forma não poderão enurar em coocurrencia
com aquelles que se cultivam na beíra-mar e em lugares
mais vizinhos. Elles se tomarão inúteis logo que desappa-
recer a dita concurrencia, proceda isso de causas phj^sicas,
ou puramente moraes. Por tanto, imposições taes, como
a do Gubatão de Santos, serão sempre destruidoras do
commercio externo o da agricultura do interior; muito
principalmeute ditficultando-se os Uansporles pela raridade
e insuÚiciente numero dos barcos em que se costuma
fazer, e que se não podem proporcionar aos interesses par-
ticulares, acbando-se r^^lados pelas leis do moDOpolio.
Não é diíQcultoso e seria muito conveniente a intro-
ducção e estabelecimento do commercio, tanto do ferro
como de quaesquer mercadorias nacionaes e estrangei-
ras, pelos nossos rios, em diversas partes das índias de
Hespanha, até o centro do Peru. Este commercio pôde
fazer-se para os hespanhoes com mais commodidade do
Dictzedby Google
— T8 —
que por otilrn qualquer parle, e para nós com la^s ron-
veDíencías.
Logo que fossem estabelecidos mercados, lojas, ou ar-
mazéns em Camapuãn, Forte Albuquerque e ViUa Maria,
e se exonerassem de direitos uas alfandegas d'este reino
as fazendas para cllc destinadas, ao menos dos primeiros
annos, diminuiria, sem duvida, o commercio de Buenos-
Aj^res para a cidade da Assumpção do Paraguai, não po-
dendo entrar em concurrencia com o nosso, pelo eicesso
dti mais de 40 ou 50 por 100, com que se acharia onerado.
Em tempos menos cultos e com bem acanhados conheci-
mentos do rommercio, abundava a cidade de S. Paulo de
praia estrahida das minas do Potosi. E porque havemos
agora perder ume especulação de tanto proveito?
Também por muitos dos mesmos rios e pelo Paraguay,
que não tem cachoeira alguma, podíamos navegar em barcos
c jangadas grandes e avultadissimas quantidades de excel-
lentes madeiras, até Buenos-Aj^res e Montevideo, e d^alli
para onde mais convier, fazendo assim riquíssimo commer-
cio de cousas até agora inúteis ; e d'elle procederão outros
bens e commodidades.
Nada mais seria preciso dizer-se a respeito do commer-
cio: comtudo devo ainda reflectir que o particular de
S. Paulo tem, por causa da posiç&o geographíca d'aquelle
paiz, natural tendência para as especulações do Rio-Gi«nde,
e melhor ainda para Montevideo, Buenos-Ajres, Mesdonça
e Vai de Paraiso, por serem portos entre si os mais vizi-
nhos e carecerem os últimos dos géneros de que em
S. Paulo exísie sufficiente abundância, nâo podendo alguma
outra capitania do Brasil concorrer para o mesmo com-
mercio com igual vantagem.
E taes são u assucar, a aguardente, o (umo, o café,
o cacáo, a baunilha, a pimenta da índia, as carnes de
TOMO XIXI, P. 1 10
Dictzedby Google
— 74 —
porco, o arroz, a farinha de mandioca, u algodão eui rama
e (ecidd, moveis, para o serviço, ornato das casas e madei-
ras de construcç&o. A industria mercantil pôde tornar pri-
ratiTos da nossa capitania quasi todos estes objectos de
comroercio, com muita conveniência e grande prosperi-
dadâ, até porque o saldo se faria sempre em prata, cuja
distribuição daria á agricultura e aates a necessária energia
e augmento de que precisa.
CAPITULO n
DA POVOAÇÃO E COMO 8E PÔDE ELT.A INTRODUZIR DE FORA
E HAVER DO' PRÓPRIO PAIZ
Nas circumstancias actuaes em que se acha a Europa,
devastada por uma guerra fatol e exterminadora, e os povos
suspirando pelo momento feliz de abandonar os pátrios
lares, nenhuma cousa tio utíl se páde propilr d sabia con-
templação do governo de S. A. R. como o estabelecimenlo
d'um corto fundo, ou de rendimentos annuaes para paga-
mento e gastos de passagem e estabelecimento aqui a lodos
03 Lavradores, artistas e mais homens de préstimo, que do
nosso Portugal, das ilhas adjacentes de toda 3 extensão das
Mespaohas, ou da poninsula inteira da Itália e mais paizes da
Europa quizessem passar ao Brasil ; o mesmo se deveria pra-
ticar a respeito da índia, Malaca e China. D' esta maneira
apressiriamos a passagem dos impérios para a America, o
que já parece inevitável; assim como evidente que esta parla
do mundo vai ser a principal e da maior preponderância,
ou a dominante agora.
Qualquer que fosse a despeza doesta excellcnte especu-
lação e que devera elevar-se, apezar de custosos sacriJicios,
ao maior ponto de grandeza possível, ella não poderia ser
Dictzedby Google
— Y5 —
olhada pelos bons politicos como de alguma maneira pre-
judicial. Pelo contrario, sobre o progressivo augmento das
forças physicas e moraes, coiii que nos veríamos enrique-
cidos, e todos os dias com melhores proporç(5es para a nossa
eiterna segurança, os capitães despendidos produziriam
com largas usuras a favor do erário régio, augmentando
sempre as riquezas e commodidades individuaes. A adoii-
DÍstração dos fundos e todos os trabalhos da proposta espe-
calação deveriam conSar-se ao zelo e cuidados de so-
ciedades patrióticas, formadas pelo governo e compostas
de homons que respeitassem por único pagamento a gloria
de bem servir a sua pátria. A Grã-Bretanha ofTerece
a este respeito modelos admiráveis e dignos, sem duvida,
da mais titteral imitação, ainda que estranhos d'esta ma-
téria. Eu me faço cargo de dizer adiante o que melhor
convém a este respeito sobre a povoação de S. Paulo em
particular, porque as idées que acabo de expender são ge-
raes e comprehensivas de todo o paíz que habitamos ; e bem
poderá o meu plano particular applicar-se a todas as capita-
nias, como permitlirem as suas particulares circumstancias.
Esta qualidade de povoação, regulada, não só pelo acci-
dente das cores, ou em tudo conforme, ou sempre mais
análoga i nossa, mas pelo essencial da liberdade e bons
costumes, é a que nos convém; assim como a dos ín-
dios, ou naturaes da terra, que a industria e o trabalho
devem pouco a pouco arrancar dos bosques, onde vivem
de^açadamentc, ou antes vegetam da maneira mais es-
U^nha da condição da raça humana, para se tomarem úteis
a si mesmo, á religião e ao Estado.
Os negros braços dos selvagens africanos, que nos cus-
tam importantes sommas, cuja vida se estende na Ame-
rica ao curto espaço de oito a dez aniios (segundo os cál-
culos bem reBectidos dos melhores economistas), que re-
Dictzedby Google
— 76 —
eusam constaatemeDie o trabalho, e só conduiidos pe)
força, sem outro algum estimulo mais, preenchem
tarefa que ihes é imposta com a maior imperfeição
de uma maneira incompleta , serão em qualquer époc
fuiura, o em todos os tempos, e lugares, meios despropoi
cionaHos para o estabelccimoato da verdadeira agricul
(ura, das artes e manufacturas mais preciosas. Como, n
verdade, estas protissões, dignas somente do bomem livn
sendo tratadas por mãos escravas, produzirão a civilidade
as sciencias, os bons costumes e o amor da pátria
Estas virtudes, por certo, não cabem no curto e limí
tado património da acanhada e indigente escravidão.
As republicas da Grécia e Roma, lutando perpelU'
mente com os seus escravos, melhores todavia do qi
os nossos, não poderam achar entre eltes s^urança algi
ma. Eiercilaram crueldades espantosas, e sempre ini
teis, para dar á escravidão qualidades que lhe não coi
vinham, isto é, tidelidade, industria o amor do trab
lho; e apezar de todos os esforços mendigaram nos se
melhores dias por toda a extensão da Índia as riquissim
producí^ões da engenhosa liberdade. São mui dignos i
particular reflexão os casos tristes e mais recentes da J
maica, de Suriorão e de S. Dominas.
Conserve-se embora (se é honesto o conforme a razi
o commercio dos escravos da costa d'Africa, e mui
mais nos termos era que mereceu [com verdade, ou aíTt
tacão, não sei) charaar-su de resgate; esta causa foi 1(
gamente discutida, e obteve a mais completa victoria, p
meíro em Portugal, que em todos os tempos ofTerecei
Europa eiemplos originaes das melhores virtudes, e o ■
minho seguro, ainda que muito trabalhoso, de adqu
a verdadeira gloria e chegar ao templo da immortalidfli:
e logo em algumas parles d' America do Norle, depois si
Dictzedby Google
- 77 —
oessiTamenle na França, oa Dioamarca, e einfim na Grã-
Bretanhs. Porque razão pois me alo será permtttido dese-
jar ao menos que no Brasil nasçam livres os filhos dos
escraros, e que a escravidão seja puramente pessoal, ou o
triste premio d'aquellesque eita libertou da morte? A huma- .
nidade, os bons costumes, a industria, a segurança interna
e a defesa exterior ganhariam muito n'esla feliz alteraçSo.
Já o Brasil não é uma colónia ; serve agora de assento
«o m^sloso throna do nosso grande monarcha. Obsec-
re-se pois entre nós o sempre respeitável alvará de 16
de Janeiro de 1%S'1, em uma das suas mais importan-
tes determinações. Conviria talvez (e eu o creio} que os fi-
lhos dos escravos uascidos no seio da liberdade se con-
servassem nas casas onde viram a luz do dia aXé a idade
de 25 aonos, recebendo a competente educação, e pres-
tando os devidos e racion aveis serviços que d'elles se
exigissem, sendo tratados como libertos úu orphãos.e apren-
dendo um officio ou profissão, de que podessêm viver
ao depois; o mesmo se deve dizer das libertas fêmeas, com
as distincções próprias do seu soio.
A mais exacta policia se deveria observar a este respeito,
debaixo de um regulamento especial: e em tempo op-
porluno teríamos abundância de officiaes mecânicos, de
costureiras, de serviçaes, etc. E porque razão ainda não
será permittido ao escravo, que otterece o preço da sua
pessoa, regulado polo juízo publico dos avaliadores dos
concelhos e autboridade dos magistrados territoriaes, ob-
ter a liberdade, que lhe nega absolutamente a huma-
nidade de um senhor cruel, ou muito difficulta a ava-
reza de outro, exigindo por ella o preço mais excessivo?
Se a lei das laias, com a designação do maximum, pôde
admittir-se em alguns casos, o de que so trata certamente
se diria bem próprio d'ella.
DictzedbyGoOgle
- 7S -
Esta eicepçio ás regras geraes do domínio seria sempre
justa, como exigida pelos mais sólidos princípios de di-
reito natural e das gentes, assim como peta utilidade pu-
blica da sociedade civil. Um exemplo celebre nos vai con-
vencer da justiça de uma e outra lei, e da necessidade
de se franquearem aos escravos os meios de que muito
precisam para obter a Uberdade; este bem inapreciável,
que fórmn a parte mais essencial do homem moral, esem o
qual não ba virtude e desapparecem todos os princípios da
industria.
£m um terreno da extensão de 100,000 acres, conce-
dido pelo governo britannico a M. Turnbull, associado
com lord Temple e outros, nas margens da ribeira de
Kilbsborough na Florida, se estabeleceu em 1767 uma
colónia, cujas despczas chegaram apenas a 30,000 libras
esterlinas. Transportou M. Turnbull para o lugar da sua
plantação, quasi ao mesmo tempo, o em oito navios gran-
des, dilTerontes famílias grrgas, com algumas italianas
e outras atlemãs, as quaes todas formavam o numero de
1,314 pessoas. Na passagem, que foi penosíssima, morre-
ram muitas; sendo porém mais os nascimentos, na occesíão
do desembarque contaram-se cinco pessoas sobre o nu-
mero das embarcadas.
Estes colonos acharam no lugar da sua nova babítação
boas casas, instrumentos de lavoura, a quanto era neces-
sário para o estabelecimento agrário, a que se destinavam.
Elles deviam pagar em trabalho, até a devida concurrencia,
todas as despezas feitas em seu beneRcio, para ao depois
se conslituirem rendeiros dos proprietários, á meias. Esta
pequena povoação não teve já mais escravos, vivia em paz
apeznr da diversidade das línguas e das religiões, gozava
dos fructos da sua cultura e vendia desde os primeiros
anãos 9,000 libras de anil. A outra parte do estabeloci-
Dictzedby Google
— 79 —
ineiilo in^ez na vizinhança do mesmo lugar, cultivada por
negros, custou 90,000 libras esterlinas, três vezes mais do
que importara a colónia de Hilbsborough : o seu resultado
foi quasi aullo. V.is aqui justificados os cálculos do rendei'
ro da Pennsjlvania e os de Duponl a respeito da vanta-
gem da cultura por brancos.
Peuchet, que transcreveu este paragrapho de uma me-
moria do tempo ou coeva à colónia de que se trata, ac-
crescenta do artigo Florida do seu Diccionarío o seguinte:
•A pequena povoação recebeu do seu fundador institui-
ções que ella mesma approvou e que se observam. Em
o 1* de Janeiro de 1776 eita tinha já cultivado 2,300
acres de um terreno fcrtilissimo : possuia bastantes ani-
mães para o seu sustento e para o seu trabalho : as suas
colheitas bastavam para as suas consumações, e ven-
diu 67,500 libras dennil. Da outra colónia não se trata,
porque, não tendo sido renovada por casamentos desgraça-
dos, como são os dos escravos, ou pela substituição do
outros, comprados a peso de ouro, ha muito não deve exis-
tir, pois já fíca reflectido que a vida dos negros se pro-
longa na America pelo espaço de oito a dez annos.i
O exemplo referido prova quanto eu tinha em vista e
quanto convém fazer-se: d'elle cíim eíTeilo se vi que a
metade das 67,500 libras de anil ficava por direito pertvn-
cendo aos proprietários ; e o calculo dos IHIOOO por libra,
tanto mais moderado, quando com elle se não contem-
plam os outros artigos da producção da colónia, e de cuja
metade é que deviam viver os colonos, demonstra muito bem
o rendimento aanual, sempre em progressivo augmento,
de 33:750||[000 quasi um terço das 30,000 libras, ou
108:000|000 capital desembolçado, e que já nos nove an-
ãos anteriores tinha necessariamente revertido para a bolça,
que o despendera com os seus competentes juros, o que é
Dictzedby Google
- 80-
racil de comprehender, suppondo os rendimenlos dos qua-
tro annos últimos, aiacta que inferiores, proporcionados
ao de 1775.
Àccresce que os colonos se tinham obrigado a pagar
em trabalho o capital desembolçado; e se esta forma de
pagamento, refluindo apenas sobre -2,300 acres, mostrava
tão vantajosos rendimentos, que se deveria esperar para o
futuro, desenvolvendo os colonos parciarios toda n sua
força e vigor, sobre um terreno de 100,000 acres? ii
no aano de 1776 se não podia duvidar que o valor da
colónia excedia mais' de vinte vezes ao do seu primeiro
custo; e nenhum capitalista da Grã-Bretauha duvidaria
compral-a por 600,000 libras esterlinas, suppondo que
os rendimenlos respectivos aos primeiros annos, e sem-
pre roais diminutos, por mil embaraços náo cogitados,
promettiam para o futuro lucros permanentes, e supe-
riores a SO 7>; principalmente passados mais quinze annos,
e tendo a povoação dobrado, peia regra dos vinte e cinco,
em um paiz ameno, fértil e saudável.
Eu vi milagres da colónia parciaria, i meias, na ilha
da Madeira, aonde terrenos de mui pequeno vator e des-
prezados, entregues i industria de pobres caseiros, se ele-
vavam bem depressa á importância de muitos mil cruzados,
logo que o senhor lhes fornecia os meios necessários para
a subsistência dos dois primeiros annos, obrigando-se
elles ao pagamento pelos fructos da sua meiação; e ha muito
twnpo que estou persuadido da utilidade da cultura à
iueias, terço, quarto, ou outra qualquer ração moís equita-
vel ainda a favor do colono.
Doesta sorte de estabelecimentos conhecidos nos enge-
nhos de assucar d'esta capita), sendo a regulação porém
arbitraria e muito mal dirigida, tirariam os pobres mui
largas convontencias ; elles, que, ainda tendo abundância
-DiCtzedby Google
de terras, aio po4eni com as despezas oi^inarias da uma
planlação, receberiam os propríetarios roaitos rendimentos,
a povoação, e o Estado novas forças e riquezas.
Com a despeza de um milbSo de cruzados em otda un
aaoo (bem íasigoifícante na verdade aos olhos de quem
observa o Brasil, e divisa n^elLe por toda a parte maoain-
ciaes pereanes da mais abundante riqueza] podemos adquirir
uma excellenie povoaç&o de fóra, e com ella a industria e .
força, que não devemos jamais esperar dos negros, posto
qne o preço da acquisiçSo d'elles seja muitas vezes maior,
excedendo á enorme quantia de doze milhões, como é
facit de observar.
Examioemos mais a fundo esta matéria, porque é inte-
ressantissima ; e sirva de fundamento ás nossas reflexões
a nota de um americano no art. 1* da constituição da re-
publica de Hassachossetls. Muitos dos emigrantes da Ingla-
terra, da Irlanda, da Allemanha, etc. (diz o autor), que
passam para a America do Norte, não teudo meios para pa-
gar passagem, convencionam com os capitães dos navios
de os servir, e a quaesquer peaioas, a quem elles cederem
os seus direitos, por um, dois, três, ou quatro aaoos, mais
ou menoB, em lugar de dinheiro : a extensão do contrato
regola-se á proporção da idade e dos talentos do criado :
os obreiros mestres não contratam senão por mui limitado
tempo.
Os capitães, chegando á America, cedem estas conven-
ções de serviço aos habitantes, que tém necessidade de
oiados ; mas é necessário ' que a cessão sa faça na presença
de um magistrado, qne regula a convenção coaforme a
razão e a justiça, e que obrigue os amM ^r termo afôíg-
nado, que durante o tempo da cíuveação o criado será
bem e devidamente sustentado e vestido, com habitação
proporcionada, ete. Que se lhe ensinará a br, escrever ■
TOHO XXXI, p. I. ti
tvCooj^lc
— w —
oODtBr, « ujna profissão, que possa procniaE-lhe parao Tu-
turo meios de subsislencia : e que emãm, terminado o
tenapo do ajuste, será o dito criado posto em liberdade, e
reoeberi, deixando o seu amo, um vestido doto e com-
pleto, Entrega-se ao criado umo cópia da convenção, e fica
outra DO registro do juízo ou do magisbado, a quem o
criado pôde em todo o tempo recorrer, se o amo o maltrata
ou não cumpre exactamente a obrigação a que se sub-
metteu.
Este feliz costume facilita ás colónias a acquísigfto de
noTos habitantes, e fornece aos pobres da Europa o meio
de se transportarem para um paiz, no qual aprendem a in-
dustria, que lhes segura para o futuro uma honesta subsis-
tência. Seria muito para desejar que o mesmo se prati-
casse no Brasil, ou ao menos em S. Paulo emais capitanias
do sul, por serem mais análogas aos climas da Europa, e
semelhante a cultura arbórea e cercal, com a criação dos
gados. Isto não seria diíHculloso, logo que os capitães de
navios fossem convidados com um premio, além do prí-
oâtiro ajuste da passagem, rerbi gratia de 6^400 pagos pelo
Estado por cada individuo que desembarcasse nos nossos
portos em boa saúde e na idade de 7 até 40 annos. Era
porém necessário que a todos os protestantes fossem con-
' cedidos os mesmos direitos e privilégios outorgados aos
inglezes a respeito do culto e liberdade de consciência
pelo art 13 do tratado de commercio de 19 de Fevereiro
do ODDO de 1810. D'este principio não nos pôde resultar
prejuízo a^cum, «ntes muito proveito, além da gloria que
reoeberi» o governo, ostentando-se verdadeiro imitador do
Divino Mestre ^sus Christo, que tudo soETrea, menos o
fingimento e hipocrisia dos pharíséos; e que pela sua to-
lerância principalmente é por todos os sábios respeitado
pelo mais completo modelo dos legisladores.
Dictzedby Google
— 83-
Resullaria sem duvida d'esta justa medida, que a emí-
paçio dos pobres da Europa se faria aates para o BrasU
doqoe para as proTÍncias unidas da America Septeotrional,
vista a decidida vanlagem que tem este paiz sobre aqnellei
ou se contemple a melhor salubridade do ar e s vida mais
prolongada do bomem, ou a maior variedade das pro-
ducçOes análogas ao clima, ou finalmente a sua maior fer-
tilidade.
Os pobres da Europa emigram para o norte da America
por Torça de imitação, o porque Ibes não è permitUdo
amigar para o Brasil. Se lhes íòt concedido o direito de
escolha, elles de boa vontade virão desfructar as delicias e
as commodidades que não poderão achar em outra parte,
o que comtudo desprezariam na presença da liberdade, se-
garaaça e propriedade, que n'aquelle paiz não sofi^m o
mais leve attentado, e que se lhes deve offertar aquí. Estão
os capitães se tomariam nossos procuradores, convidados
ptAo maior e certo lucro, desviando a emjgraçio do norte
para o sul.
Apenas se poderia perguntar se os nossos lavradores
queriam lavrar as suas terras antes com jornaleiros do
que com escravos ! Mas, por uma parle a falta de escra-
vatura, cuja exiincçBO se acha estipulada no art. 10 do
sobredito tratado, e por outra a doce persuasão que se deve
haver por bem calculada, que o trabalho do homem livre,
conduzido pelo interesse, é três e quatro vezes mais pro-
duclor do que o do miserável escravo, rude e forçado; toma-
riam a questão ociosa, ou a sua resolução pela afirmativa,
ainda não contemplados os maiores capitaes despendidos
na compra dos escravos, e os riscos de vida, que não en-
tram na lavoura dos jornaleiros com a mesma proporção, a
são muito inferiores.
Como porém se podem e devem empregar os pobres
DictzedbyGoÒgle
— w —
ludonaes, e também os esimtgeirDB, finalinvlo o tompo
das cnai coaTeacõM servis ? O decreto de a& de Novembro
da f 808 igualou, é verdade, os estrangeiros resideotes do
Bnsil aos rassallos portugoexes, ooocadendo-lhes sesma-
rias oaoonformidtde daaraaea ordeos, e sem differenca
alguma.
Este aabio decreto ha de produzir mui bellas coosequeo-
cias, priocipalmeate i vista do alvará de 3& de Janeiro de
1809, que segura a cada um dos sesmeiros a propriedade
adquirida da maneira mais firme e superior a contendas
faturaa. Comtudo do beneficio d'estas leis só os ricos na-
cionaes e estrangeiros podem gozar ; isto é, aqueltes que
I6m meios sofficientes para as despezas, sem as quaes se
uáo podem obter os ditas sesmarias, e de outras necessárias
e mui quantiosas á rotea^So, amanho e cuUura regulai de
um terreno de meia légua quadrada pelo menos.
Os pobres poràn nacionaes e estrangeiros, que intentam
adjudicer-se á industria agraria na qualidade particular de
proprietários, nSo acham protecção nas leis existentes, e
Dão'podem por isso mesmo p&asar da classe de colonos
parciarios, rendeiros e partidistas ; obstáculo terrivel ao
progresso da agricultura e povoação ! ! Este mal necessita
o mais prompto e effieaz remédio, e conforme as idéas já
lembradas, parece que consiste precisamente na distribui-
ção gratuita das terras desoccupadas, e que se acham á dis-
posição da corda e com a devida proporção ás suas poucas
forças.
Reparlam-se pois as ditas ten-as, a saber, na beira-mar,
d'e8de Ubatuba até Paranaguá, em lotes de 50 a 60 braças
quadradas, como eiigir a sua particular situação e especifica
qualidade ; e de serra acima de 100 a 120, sem interrupção,
quanto fàr possível, e sem prejuízo das competentes servi-
dões que devem ser francas ; seja a repartição incumbida ao
Dictzedby Google
-f«5 —
offido dâs respectivas camans e da dois a^imensores por
etia devidaniMiIe eleitos epagosá custa dos bens dos conce-
lhos : lambem derem ser os lotes demarcados com a precisa
iadividuação e clareza oo livro para isso particular ou priva-
tivamuite designado; e recebendo o cunho de autheaticida-
d04as competentes assignaturas dos vereadores e agrimen-
sores entregue-se ao novo sesmeiro o titulo sellado com as
armas do concelho, para a posse Judicial da qual, assim
como do mesmo titulo, deve o sesmeiro pagar os compe-
tentes salários ao escrivSo da camará e officiaes que o em-
possarem. Seja emiim o titulo de que se trata firme e va-
lioso, sem dependência de outra dguma solemnidade, á
maneira dos que se mandaram dar aos iltiéos na capitania
de S. Pedro do RtO-Grande do Sul ; e os pobre* receberSo
o melhor soccorro para o seu estabelecimento, entrando,
tomo os ricos, na distribuição das terras, o que oiige a
raz&o e quer a mais imparcial jostiça. Esta providencia
convém perfeitamente a todas as outras capitanias de que
se compõe o territorio do Brasil.
Tém os homens ricos na bolça e credito meios suQicientes.
para realiatrem os seus projectos racionáveis : não acontece
o mesmo aos pobres, e assim ditBcullosemento se entregam
ao trabalho, que nâo fruclifica diariamente. A cultura de
uma terra bruta exige por sua natureia , ainda que peque-
na seja, uma casa, que para o pobre serA a triste cabana ;
são precisas as sementes, os instrumentos indispensáveis
da lavoura, e os trabalhos da cultura e tapumes necessá-
rios á defesa da mesma cultura ; o que tudo, sobre dispendio-
so, necessita soccorro extorrto, ou associação estranha, se o
pobre colono não acha na própria família, ou não tom.
É pois necessário que uma mão poderosa e bemfeitora
appareça em todos os lugares o tompo em favor dos neces-
sitados } o qual pôde ella ser senão a do Estado, cujos recur-
Dictzedby Google
— M —
SOS são ÍDeihaurÍTeis ! E não Tão eUes sempre em preces-
sifo augmento a par da cultura, povoação e industria po-
pular? Seria portanto uma lei muito sabia e a mais econó-
mica aquella que, depois de liberalisar terras aos pobres,
os soccorresse com o empréstimo gratuito de lOOJOOO,
pelo espaço de seis annos, a pagar dos quatro seguinte^ i
razão de 35| em cada um, a quantia mutuada, dispensa-
dos ao mesmo tempo os pobres colonos de todas as impo-
sições territoriaes e até do próprio dizimo por dez annos, e
recebendo as sementes necessárias, para serem pagas com
os fructos da primeira colbeita. Quem assim protegido
não quereria adjudicar-se á cultura das terras, ou recusaria
vir estabelecer-se no Brasil t Em concurrencia, os casados
deveriam obter decidida preferencia a respeito dos solteiros ;
deveriam hsbilitar-se comtudouns eoulros, para os propos-
tos beneíicios, pela prova exacta de saúde regular, probidade*
e bons costumes. Esta lei deve ser olbada como a base mais
principal da nossa agricultura e povoação ; e ella receberia
o cunbo da perfeição, sendo auxiliada pelo espirito de as-
sociação o mutuo auxilio, que os lavradores por' própria
conveniência devem prestar uns aos outros, e qae o gover-
no deve, ou introduzir, ou fomentar, pelo oflicio prudente
dos empregados públicos. Esle espirito de associação e
auxilio mutuo é felizmente conhecido nas terras centraes
de S. Paulo desde o principio, nas derrubadas de matos,
colheitas e fiação de algodão, com o nome de Muxiron.
Esta industria jã se acba felizmente em pratica nas viUas
de S. João do Príncipe e de Rezende, originaria colónia de
S. Paulo; é preciso que cresça e se estabeleça na beira-mar,
e logo os pobres auxiliando-se reciprocamenle não pode-
rão dizer — ai de quem vive solitário ! ! vts soli ! ! — e
farão prodígios de trabalbos, como acontece na província
do Minho em Portugal, principalmente nas esiwdelladas e
Dictzedby Google
^ «r —
6a(ão do linho, mattuidas áos milhos e rogadas de car-
ros, etc.
Coma quantia permanente, ou rendimento fixo de 100,000
cruzados, boa e regular inspecç&D, porque emfim a agri-
cultura deve ser dirigida e iDspeccÍ0Dada,8e poderiam esta-
belecer pelo methodo ponderado 400 casaes ou colonos em
S. Paulo, a saber, 260 na boira-mar e SOO no interior, lodos
os annos. Que eslas providencias sejam muito úteis e dig-
nas de se estenderem a Iodas as capitanias do Brasil ninguém
quererá negar : discorram outros, se Ibes agradar, sobre as
meios pecuniários para a eiecução doeste projecto ; eu,
qve escrevo mais particularmente acerca da capitania do
meu nascimento, já indiquei na primeira parle d'esta jlfe-
moria, e hei de dizer adiante, como se podem fazer as des-
pezas^ecessarias ao intento, sem tortura do erário e dos
povos ; antes com proveito e decidida conveniência publica
e particular, reflectindo desde já que, passados os seis pri-
meiros annos do empréstimo, teremos no 7* o accrescimo
de 25,000 cruzados para o estabelecimento mais de 100
fazanias ou colonos ; no 8°, de 200 ; no 9', de 300 ; no
i<y, de outros 400, e assim successivamente até completar
se o numero de 1000 em cada anno, que é quanto basta
para se obter o fim desejado.
Pôde ser que a cobrança não seja inteira, e que h^
algumas falhas ; isto porém nada intlue contra o meu pro-
jecto, posto que diminua em parte o seu progresso. E qual
é o projecto de todo isento de perdas e falbas ? Seja porém
o que íòi, o certo é que do rendimento fixo de um milhão
derivaria a despeza de 100,000 cruzados em beneficio de
cada uma das nossas províncias ^maiores, e a possibilidade
de se estabelecerem 400 colonos todos os annos, em
cada uma d'ellas, sendo a .despeza respectiva de lOOifOOO
por casal, ou ainda por cabeça, misturados sempre os na-
DictizedbyGoOJ^IC
— 88 —
cioases com os estrangeiros. Os fnictos qno com razio se
podem e devem esperar d^fiel e judiciosa execaçao d>5le
projecto melbor se comprebendem do que se podem expli-
car. Direi comtiido qae temos muíla terra, abundância de
metaes preciosos e de variadas producções de grande valor
e préstimo, que, destituídos da necessária povoação, vtvire-
mos pobres no meio das riquezas, podendo ser insultados
a cada momento por quem vier de fora com animo hostil.
E que direi da povoação, que podemos adquirir dentro
do mesmo paiz que habitamos t Não é licito ignorar, por-
que a historia o publica, que os índios do Brasil, persegni-
dos sem causa pelos nossos, atropeltados em dura guerra "O
opprimidos com a mais injusta escravidão, acharam a sua
defesa na fugida, e algumas vezes na traição, anna própria
e inseparável da fraqueza dos selvagens, e que deseftando
dabeira-mar e suas vizinhanças, i proporção que iamos
occupando uma e outra cousa, foram habitar matos espes-
sos, campos exulados e as margens dos rios mais remotos,
ou concentrados nos desertos, aonde conservaram até agora,
pelo meio da mais austera tradição, mui fresca a meAo-
ria dos males sofTridos pelos seus passados e da nossa posi-
tiva má fé, dizem elles.
^0 celebre Piyé, am dos principaes e mais affamados ca-
ciques dos Nheemgaibes da ilha que hoje chamamos de
Joannes, quando no festivo Triumpho da Religião, tão digna-
mente representado á Magestade do Senhor Rei D. Pedro IT,
peto padre António Vieira(5), foi chamado para firmar com
juramento as suas promessas e fidelidade á corda de Portu-
gal ; respondeu com admirável intrepidez que isso não ju-
rava etie, nem deviam jurar os seus; e era força o fizessem
Dictzedby Google
ús portuguezes, que sempre quebravam a té- dada, a que
elles D80 sabiam faltar.
Emqunnto os índios vivereai imbuídos Doestes principias
bão de fugir de dós, e bnu de boslilisar-aos, porque a ídéa
da escravidão os conserva a eiles n^aquella mesma aversSo
e ódio que nós sustentamos, apezar da nossa civilidade e
moral, contra a perfídia das nações barbarescas, que vi-
vem do corso e tornam escravos os cbristãos que desgraça-
damente cabem no seu poder. O peíor foi que as . ídéas e
as expressões do Piyé se jusliricaram pelo successo; porque
feita a paz cahíu o seu poder, acabou etle, pereceram os
seus o a ilha Qcou em pouco tempo desbabitada; ella, que
em um só dia oíTereceu ao baptismo mais de 100,ODt) pes-
soas.
E pois necessário que os selvagens so persuadam, sem
que lhes reste duvida alguma que as suas idéas são falsas
agora, e que da nossa parte não tém a receiar o meoor
damno, antes receberiam os effeitos da mais cordial fraterni-
dade. N^este empenbo desejava eu que entrassem de cora-
ção os nossos bispos, as ordens religiosas eo clero secu-
lar. Eis-aqui a vinba do Senhor, em que elles deviam
trabalhar de dia e de noite com a maior constância. Mis-
sionários, se não da tempera fioissima dos Las Casas e dos
Anchielas, dominados pelo desejo de utilisar a religião e o
Estado, tomariam o trabalho de aprender a língua geral, ou
guarani, e iriam defendidos pela força publica, á maneira
dos jesuítas em outro tempo, fallar a homens, não incré-
dulos, mas desconfiados. A primeira conquista seria talvez
difficuttosa ; seguir-se-hia a segunda, mais fácil ; e a expe-
riência própria dos selvagens tomaria o lugar do mais
bello pregador, e faria emfim quanto podemos desejar.
De que importância não seria ainda que entre os mis-
sionários se divisassem alguns da raça originaria dos mes-
TOHO XXXI, P. I 12
ídbyGoOJ^IC
— w —
hios selvagens ? Se elles nuvissom nos da sua própria casla
as suas sem razões, e as nossas virtudes, não leriam mais
facilidade para «crença? Que triste idéa 1 Tudo se deve
fazer, e nada está feito. Nunca se cuidou entre nós na edu-
cação dos pobres iadios de uma maneira própria. Nenhum
sõcollegio se tem estabelecido a favor d'elles. Nenhum
Índio lem obtido, talvez, a fortuna de entrar como alumno,
nos seminários episcopaes do Brasil, de professar religio-
samente ou de ch^ar ao sacerdócio (6) ; tudo tem sido des-
prezo, e esle terrível agente da soberba tem devorado mi-
lhares de Índios entre nós ; ao mesmo tempo que no Peru e
no Mbxíco se t6m feito cousas admiráveis a este rospeito, e
os Índios téra livre accesso is honras civis e militares, assim
como is dignidades ecclesiasticas, até o episcopado mesmo ;
o que bem prova o exemplo de D. Nicoláo dei Puerto, na-
tural de um dos povos de Mixteco, que foi bispo de Oaxaca.
(Alcedo Diecion. Geog. tom. 3',pag. 21T.)
D'esla maneira, e com bem pouca despeza (sem desprezo
comtudo dos meios trístes, que autorisa o direito da guer-
ra, muitas vezes dSo só justos, mas necessaríos ainda, que
por isso os mandou exercitar agora o nosso immortal sobe-
rano, apezar dos votos bem contrários do seu humaníssi-
mo coração] poderemos em poucos annos arrancar dos bos-
ques, e tornar sociáveis muitos milhares de Índios, que
habitam o interior das capitanias do Rio de Janeiro, S. Paulo,
Mioas-Geraes, Goyaz,Mato-Grosso, Maranhão e Pará. Então
a educação publica, esta alma feliz dos Estados, estendida
(6) Dois moços iodios da víUa de 5 José d'El-Rei foram edocados
DO semloario de s. Joaquim d'e8U cidade de Rio de Janeiro, gover-
Daodo-a o marquez de Lavradio ; ambos aproveitaram e foram ordena-
doa de presbylcro. E^le exemplo singular prova o que acabo de es-
crever, e a enormíssima perda que nos resulta da falia de educação
dos pobres iodios.
Dictzedby Google
- 91 -
sobre todas as classes da sociedade, elevará bem de-
pressa a nasceDte monarchie do Brasil áquelle gráo da
grandeza e prosperidade que se lhe pôde augurar. '
CAPITULO X
DOS XEiOS NECeSSAJtlOS PARA A EXIXUÇilO DOS PLANOS
PROPOSTOS
Dois são os meios que a reDexâo e a industria devem
ofTertar ao governo para a feliz execução de tantos, tão im-
portADles e necessários estabelecimentos. l.*A creação
dos fundos proporcioDados á empreza. 2.* A eleição de
homens sábios, desinteressados e dominados do amor do
soberano e da palria, aos quaes seguramente se possa e
deva encarregar o importantíssimo e muito honroso Ira-
balbo de promover a fortuna publica. A creação dos fun-
dos não tem difliculdade, ainda que d'elle3 se não devam
esperar no momento todos os effeitos desejados.
Estabeleceu o alvará de 15 de Julho de 1809 avultados
rendimentos para o bem geral da agricultura, fabricas e ou-
tras cousas interessantes ao Estado, commetiendo a arreca-
dação e administração d'elles á real junta do commercio.
Tem a capitania de S. Paulo o mesmo direito que compete
proporcionalmenteás outras, para o melhoramento quethe
póderesultar do bom emprego dos ditos rendimentos. Sepa-
rando-se pois d^elles para sempre a quantia que elta mesma
paga, e me persuado não ser inferior a 2:0008000, auxiliada,
além d^isso, com a doação de outros 2:000j|000 á custa da
dita imposição, pelo espaço de dez annos, o que importa o
mesmo que determinar-seá real junta a execução de um
projecto ulil com preferencia a outros, ficaria a mesma
capitania com um fundo sufGciente, com o qual poderia.
Dictzedby Google
_ 92 _
ou antes devaha crear outros permanentes e bem propor-
cionados ao fim proposto. A h^polbeca de 4:0000000
annuaes ao banco do Brasil facilitaria sem duvida o em-
préstimo das quantias necessárias para a roais prompta
etecu^tío dos projectados estabelecimentos, indispensáveis
a S. Paulo e úteis ao Brasil em toda a sua extensão. E taes
sSo : 1°, o estabelecimento dos moinhos e serras de
agua e de vapor, fixas e amovíveis, na costa marítima e nas
margens dos rios do interior, com a navegação franca ao
mar, como por exemplo o rio Juqueriquere em S. Sebas-
tião, o do Cubatão em.Santos, e com a devida proporção
ao lucro, pelo monos de 50:000$000, o que não é diflícul-
toso pelas razões acima expendidas, e outras que se ofTe-
recém á reilexão dos conhecedores ; assim como é fácil de
compreheoder que os rendimentos dos primeiros devem
facilitaroestabclecimento de quantos se quizerem estabe-
lecer. Esta especulação exige por sua natureza a industria,
trabaíboeboafédosadministradores, qualidades que se não
podem jamais separar sem evidenle ruine de qualquer
manufactura ou estabelecimento. 2°, o outro, muito pouco
dispendioso o do mais fácil administração ainda, dos fornos
de cal na ribeira de Iguape e cosias da Cananéa. D'«sta fa-
brica resultaria muito proveito, porque os seus lucros ten-
dem a benefícios públicos de grande valor. A venda de 5,000'
moios de cal unicamente a 9(600 medida doesta cdrte,
nos armazéns das fabricas, forniaría um rendimento aanuo
p^manenle e disponível de 48:8000000, pagas todas as
despezas de manufactura. Estes dois projectos podem re-
alizar-se em pouco tempo ; fructificar no mesmo anno
com grande proveito dos pobres, auxiliados por jornaes
bem pagos, além dos outros beneficios augurados na pri-
meira parte d' esta Memoria, sobre os quaes devo ainda re-
flectir que, valendo um moio de cal de pedra, dois, pelo
D,:„l,;cdtv Google
— 93 —
meoos, da outra cal de mariscos, e vendeodo -se esla agora
a ãOJIOOO e a L'4V000, bem podiam os eiporladores vender
a de pedra pelo mesmo preço, com laicas coDveaiencias ,e
por isso não fatiaria quem se adjudicasse a este commercio.
Auxiliada assim a povoação o a agricultura, afto esque-
cidos os hospttaes e outros trabalhos públicos de maior ne-
cessidade e urgência, deveria ainda a administração publica
da capitania promover o fácil e intoressantissímo estabo-
lecimeoto de uma fabrica de papel, na maior ettensão
possivet, bem junto A cidade; prescindindo da idéa de
magairicencia e sumptuosidade dos edifícios, que tem
constantemente servido de irresistivel impedimoDto ao pro-
gresso das fabricas em Portugal, por se empregarem nos
ditos edifícios quantiosos capitães, superiores ás forças dos
emprehendedores, e sem proporção com os proveitos da
manufactura, ató para o pagamento dos juros de S% a
respeito dos mesmos capitães.
Para um estabelecimento d'esla natureza, além das ma-
chinas precisas, pobres telheiros, feitos com a devida se-
gurança, são bastantes; eraquanio não se poderem aug-
mentar com o tempo, e a medida dos materiaes, que se
devem guardar, e da crescente manufactura.
Tem a dita cidade todas as proporções necessárias, e
ateis ao intento; porque, além da commodidade reconhe-
cida de mão de obra, e sendo n combuslivel mui barato,
por todas as partes se divisam mananciaes abuodaotissimos
de aguas porennes, despenhadas de competentes alturas
para o gyro dos moinhos, e qualquer trabalho em grande ;
e, o que mais importa, superabundância de matérias papi-
raceas, que bem podem supprir a falta de trapos e farra-
pos de linho, que com razão obtém o primeiro lugar entre
as ditas matérias, porquo, tendo passado por muitas e dif-
ft^rentes macerações, não contém partes heterogéneas ;
Dictzedby Google
— 94 —
porém isto mesmo se verifica a respeito dos trapos de al-
godão; e é d'esla matéria, abundantissima eaa 8. Paulo,
que nos vendera aqui os inglezes grandes quantidades do
papel, ou quasi lodo o que gastamos ; sendo quasi desco-
Dhecida na America do Norte outra espécie de papel. Não
trato de outros artigos de que nos deveríamos aproveitar
para esta manufactura, por tantos princípios recommen-
davel, por não ignorar o quo a respeito de muitos têm dilo
os mais celebres escriptores, ponderando as difficuldades de
separar d^elles a parte lenhosa, tornando-se por isso ou po-
bres de linho, ou muito caros. Comtudo julguei nocossft-
rio recommendar o linho da bananeira, como mui apro-
priado ao intento, parecendo-me que a operação de o pu-
rificar das partes heterogéneas é de toda a facilidade, fi-
candu a raateria papíracoa elevada á devida perfeição, e
mui barata, principalmente calculado o preço do papel
entre nós, e ainda sem referencia a esta círcumstancia.
Mas, quando este vegetal se tornasse pela competente ma-
ceração um pouco mais caro do que se poderia desejar,
para a perfeição da papel, & superior a toda duvida que
d'âlle em estado imperfeito, assim como das folhas da ma-
çaroca do milho, da piteira, dos quiabos, das ortigas, da
guaxima,ananazesbravos,e muitos outros vegetaes filamen-
tosos, se podiam com bem pouco trabalho fabricar grandes
quantidades de papel pardo, ou de embrulhar, de papel
destinado a pinturas, para ornato das casas, e lambem de
p']pelão; o que tudo concorreria muito para o fim proposto,
formando novos artigos de trabalho popular, e mui próprios
de uma cidade sobrecarregada de mulheres pobres, que
se deveriam empregar, senão no lodo, em muitos ramos
doesta excellente fabrica, a quem assciencias sáo devedoras
do seu mais rápido augmenlo e mais admiráveis progres-
sos. Com este a uxiltu somente poderia ella viver superior
ty Google
— 9S —
i pobreza que a vexa e oppríine. Quem nSo t6 pois, que,
produzindo as lies fabricas de que (eofío feito particular
memoria, e sem muitos esforços, a quantia de 800,000
cruzados por anno, que com ella, bem adm intstrada,
se deveria elevar a industria de S. Paulo a um ponto de
grande perfeição em Iodos os ramos!
Emfím, outro meio se offerece em benefício geral do
Brasil, e por isso nSo parecerá alheio d' esta Memoria, nem
estranha na capitania de S. Paulo a descripçio d'el]e.
Consiste no commercio da Chins, que bem o podemos fazer
sem moeda especifica, ou daslruição do nosso numerário,
oomo até agora praticamos, mas com muitos géneros da
nossa própria lavra e principalmente com o tabaco. Tra-
tarei doeste grande agente d» prosperidade publica e in-
dividual.
Sabe-se a historia d'este commercio em Mscáo; como
cresceu e promettia laicas conveniências, e como final-
menle ò monopólio e a péssima administração publica no
principio, e a dos contratadores ao depois, dirigida unica-
mente pelo desejo immoderado de muitos ganhos em pouco
tempo, exigindo para isso no curlo espaço dos três annog
das suas arremataçõt^s preços verdadeiramente exorbilao-
lantes, e lesivos na venda, diminuiu o numero dos com-
pradores na China e reduziu o mesmo commercio a lermoS
bem insignificantes.
Os erros passados podem corrigir-se facilmente, ou pelo
meio d'uma adminislração publica bem regulada, c«mo
eiigem imperiosamente as circumstaaoias dos tempos que
correm, e as idéas liberaes do trafico e mercancia geral;
ainda mesmo conservando-se o exclusivo a favor do Istadoí
ou, o que me parece mais proveitoso á causa publica
e particular, vendendo a r^al fazenda no Brasil os tabacos
manufacturados em pó e por sua conta a negociantes par-
Dictzedby Google
— 9« —
tieulires, pan eUes os fazerem gyrar a seu proTeito por
toda a exteosio da China e por onde mais Ibes convier.
l'ra e ontro arbitrio parece exigir o estabelecimento de
duas fabricas reaes do tabaco n^este paiz, a saber, d'amos-
tra, de cidade, de simonle, e do chamado do Porto, que
são as quatro qualidades especificas que gyram no com-
mercio da Cbina. k primeira das- ditas fabricas tem o
seu assento natural e próprio na Bahia : a segunda em
S. Sebastião, cujos tabacos são, como é vulgarmeole sabido,
tia mais superior qualidade ; sendo a manufactura, em caso
de necessidade, ou maior utilidade, compreheosiva de
quaesquer outros das capitanias de S. Paulo e das Miaas-
Geraes, que para o fim proposto merecerem a imparcial
approvação dos peritos. O mais sssiduo cuidado se deveria
emproar para a conservação das sobreditas qualidades no
gráo mais superior. Talvez seria necessário quo de Lisboa
e do Porto viessem os methodos privativos, ou ainda os
mestres próprios, para a perfeita manipulação d: cada uma
qualidade em particular.
Em a primeira das referidas fabricas no principio, e ao
depois em ambas, se venderiam os tabacos sorteados,
i vontade dos compradores, em latas de folha do Flandres,
soldadas a estanho, de meio arrátel e quarta ; tendo cada
uma gravada na mesma folha as armas reaes e juntamente
a qualidade do tabaco; assim como o preço inalterável da
venda em Macào e mais portos do império ; sendo demais
as latas bem acondicionadas em caixas de quatro arrobas
líquidas de tabaco, as quaes, da mesma forma marcadas
com as armas reaes, correriam livres de quaesquer direitos,
alcavalas e emolumentos, por exportação e impociaçAo nos
uossos portos; e com o respeito aos direitos nos estranhos
da nossa administração. Os greços d'estes tabacos em
Portugal, vendidos por grosso, ou por arrátel, são, na forma
Dictzedby Google
-9Í -
do regimento do 1* de Janeiro de 1722, os seguintes.
amostra 2|000, cidade 10600, simonte e do Porto 10200.
Estes pre{os porém se reputaram excessivos para a expor-
tação; e por isso determinou o decreto de 19 de Janeiro
de 1784 ({ue os contratadores, pelo que toca ao contrato
de Macáo, Tossem obrigados a deisar aos que lhes succe-
derem a quantidade de 2000 arráteis de tabaco, a saber,
de simonte 1,000 arráteis, de cidade 560, de amostra
360 e do Porto 80 ; sendo pago cada arrátel, sem distincGão
de qualidade, a 7S0 rs.
Ainda se podem reduzir mais estes preços, pondera-
das as circurnstancias que a este respeito occorrem entre
Portugal e Brasil, sendo substituídos, quanto ao simonte
e do Porto, pelo de 600 rs., o da cidade pelo de 700 rs.,
e o de amostra emfim pelo de 800 rs., incluído nos
mesmos preços o valor das latas e caixas.
Todos os ditos tabacos seriara vendidos nas fabricas
reaw, a credito, com as competentes e necessárias Ganças,
para serem pagos Ires mezes depois de chegarem aos
portos do destino os navios em que fossem exportados,
correndo o risco por conta dos compradores. Os preços
da venda em Macáo comprehenderíam o ganbo certo,
inalterável e permanente de 300 rs. por arrátel, sem dis-
tincçAo de qualidade ; e assim deveria correr o simonte, e
o do Porto aSOOrs., o da cidade a 900 rs., e o de amostra
a IfOOO ; e são estes os preços que se deveriam gravar, ou
inscrever nas latas, para serem notórios a lodos, e evitar-se
ã este respeito qualquer fraude e engano.
As consequências d' este projecto seriam : 1*, substiluír-se
o tabaco ao ouro e á prata, resultando dn perda d'estes
metaes enormíssimo prejuízo, que nos devora. 2", lucrar
a real fazenda cento por cento, ao menos, na manufactura
e venda dos tabacos, fornecendo ao mesmo tempo mão
Tono XXXI, ,p. I 13
Dictzedby Google
d'obra no paiz. 3*, promptUicar fundos i um commt
dâ nova e utilíssima especulação. 4", augmeDtar os re
mentos dss Dossas alfandegas, pelo pagacneato dosdin
que D'eUas se arrecadam sobre as mercadorias da Ct
5*. proteger a agricultura em um ramo ioteressaotiss;
6% emfira animar os commerciantas da maneira mai
voravel, para que os povos também se possam vestir
fazendas accommodadas ao clima e a menos custo, qi
allivial-os de não pequeno tributo.
Ora, que tudo isto deva acontecer e verificar- se, f
mente se comprehende; porque no tabaco amostra, q
de todos o mais caro, menos lucroso, e que n'es(e c
mercio entra com bem pouca proporção aos mais e
particularidade ao simonie, ganha o exportador 2S */
preço, não tendo que deduzir senão fretes, comm
e seguro: poupa além d' este ganho 30 7» ^^^ ^^'
pagar do dinheiro destinado ao seu commercio, e
evidente que da proposta especulação resulta a favoi
emprebendedores o lucro certo de mais de 45 */,. E'
necessário que uma especulação de tanta importancia
posta em pratica e mui protegida ; porque além dos
eros, que ficam apontados, nos servirá, como acima
semos, do meio mais bem proporcionado para o augn:
progressivo da povoação e supprimento abundantissimi
despezas necessárias ao mais útil de todos os proje
qual o da povoação, deduzindo-se para as despezas c
a quantia necessária, e que dissemos ser de um mitbã
Com estas condições, e com o favor que se po<
alcan^r do governo chinez, e que muito importa
iitar por todos os meios possíveis, em pouco tempo s
rá este commercio a mais de 2,000,000 ou 3,000,0C
arráteis ; suppondo a povoação da China unicamoni
100,000,000 como é opinião de alguns autores, e
Dictzedby Google
— 99 —
waóo sobre arílbmetica politica, e não de 200,000,000,
calculo mais geralmeate seguido; alada que Rayaal affirma
qao no ultimo Dumerainento linha a China 59,79B,36i ho-
mens capazes da milícia annada ; e nSo parece discordar
doesta opinião o que diz o compendio do anno de 1807,
elevando a povoação de todas as provindas do império a
350,000,000. Labbé Paw, que, sempre fiel ao seu espi-
rito de partido, não pôde divisar na China as excelleates
iosUtuiçdes, as bellezas, saber e industria que escripto-
res da primeira nota lhe atlríbuem com muito respeito e
veoeração, teve o ineiplicavel conlenlamento de suspei-
tar qae a povoação dMquelle vastíssimo paíz n&o chegava
a 30,000,000.
E para admirar que um escriptor como Pouchel se te-
nha decidido por uma opinião tão absurda e convencida
por elle mesmo, apresentando a relação das províncias e ci-
dade3,além das mais povoações com seus parallelos na Fran-
ça ; e da qual se conclue precisaraenle o contrario do que
ella inculca.
Ainda que os chinezes cultivam o tabaco em todas as pro-
víncias do império o o vendam por preços mui commodos,
o do Japão é mais estimado entre elles e melhor ainda o
nosso, pela particular exceileacia da sua qualidade e ma-
nufactura, como bem provam os excessivos preços do seu
coDSumo. O que âca dito a respeito d'es(e commercio dos
tabacos na China é applicavel á índia em quasi toda a sua
vastíssima extensão.
Muito é o que além d^islo devemos esperar com o tem-
po, o em uma época mais distante do commercio d' esta
droga, e de muitos outros géneros da nossa particular cul-
tura ; por cujos roeios bem podemos haver as mercadorias
e preciosidades da Ásia, e com superior vantagem a Iodas
DictizedbyGoOJ^IC
— 100 —
IS m^ões qua fr«qaaalam a marcaam d^aqoella pvte do
mundo.
Muitas embarca(ões nos seriam em pouco tempo neces-
sárias para o projectado oommercio, e o'eUas mesmas
(por preços moderados, estabelecida a devida ecoaomia
se podiam transportar outras tantas pessoas, pouco mais
ou meaoSfquaatas fossem as da tripolação própria de cada
uma. Os artistas deveriam ser procurados com preferencia;
a passagem d'elles mereceria demais a recompensa de um
premio particular aos capitães, quando n'iâ30 houvessem
ioQuido. Mas, pelo que respeita a simples trabalhadores,
parece muito acertado que viessem unicamente pessoas em
idade, na qual os principios de religião do paíz não
tivessem ainda occupado os seus tenros cérebros, porque
com mais proveito os educaríamos segundo os nossos mui-
to justos e acordados.
CAPITULO XI
COHO SE DEVE REGULAR E DISTRIBUIR k POVOAÇXo NO BRASIL
Ainda que muito convém ao Estado multiplicar o nume-
ro das cidades, villas, lugares e aldéas, e augmentar quanto
í6t possível, segundo as circumslancias do paíz, a povoa-
ção em geral, porque d'eila procede a industria e força da
naçáú; não - será jamais conveniente, antes sobremaneira
prejudicial, que cada uma das cidades e villas adquira tal
grandeza 0 tamanha extensão, que as commodidades so-
ciaes, em vez de crescerem, fujam para sempre do seio
d'ellas.
Com efTeito, as povoações demasiadamente grandes são
umas massas enormes e contrarias A natureza, que ella
procura por isso destruir a cada momento o de mil manei-
Dictzedby Google
ns dififereaies. Os males physieos uaBifeslADdo-sfl par
enfermidades extraordinárias, ooraplicadcs e absolaUmente
desconhecidas nos pequenos povos, as atormentam eom
iaexplicavel rancor ; e os moraes, de um caracter muito
niais acre, rdsistem, como de propósito, á força o autori-
dade das leis, exigindo todos os dias novos e sem[we Inefi-
cazes remédios : — Ponaaía la lege, petuata la malixia.
Oa união d'estes males resulta, sem duvida, a oeoeasida-
de de manter a povoaçfto das graúdos cidades com habi-
tantes estranhos da sua natural produoção e oianifeato pre-
juízo dos eampos, como ae verificara em Lisboa, onde duas
terças parles do povo perleaciam ás provinoias. Do mesmo
principio deriva ainda a outra necessidade mui funesta de
novos estabelecimentos, a multiplicidade de agentes, e ad-
mioistradores públicos ; a dureza da policia, o augmeolo
das contribuições o invenções engenhosas de novos tribu-
tos, de que o Estado nau tira o mais leve proveito ; e a com-
plicação, emfim, da madiina destinada a reger a naçèo.
Estes nules são inevitaveb, nem se podem remediar ealre
povos ant^s o ha muito estabelecidos em certos o determi-
nados lugares. Como na verdade se poderiam restringir
limites e prescrever regras á povoação de Londres ou de
Taiís ? E^ porém muito possível acautelar as suas funestís-
simas consequeacias, quando uma nação se vai foraiar.
Para esta importantíssima operação é preciso que a car-
te se não fixe em algum porto marítimo, principalmente
se elle fõr grande e com boas proporções para o commer-
cio; pois que a concurrencía de muitos negociantes e das
pessoas da curte bem depressa formaria uma povoação
lai como as que ficam descriptas, e todos os dias maia per-
turbadas pelo luxo e excessiva carestia dos víveres, que
os cortesãos o funccionaiios públicos, que vivem dos ali-
mraitos do Estado, não podem supportar ou pagar sem no ~
Dictzedby Google
— 102 —
(oiio detrimento', e os menos austeros adquirem com per-
da do próprio decoro e prejuízo da causa publica. Deve a
cdrie viv^cor um lugar, a agricultura, o commercio e as
arles, todos aquelles por onde a sua influencia tòt sabia-
mente distribuída pelo governo.
Escolher a síluaçío mais conveniente para o estabeleci-
mento da cArto e residência do soberano, é pois uma ope-
ração bem delicada, e que se não deve deixar ao acaso e ao
concurso das circumatancias, para que não aconteça que
todas as fortunas se accumulem na cdrte ; não lenba elía
proporções com as províncias, e fiquem eslas as indigentes
tributarias de uma capital, que as despreze com o mais al-
tivo e insuportável orgulho ; exigindo imperiosamente dos
campos os braços necessários á agricultura e ãs arles, para
todos os dias se ostentar mais bella na apparencia e mais
prejudicial na realidade á população do Estado, á sua força
intrinseca e á pureza da moral dos povos.
Se o commercio porém e as artes não devem concen-
Uar-se na cArle, espalhando-se pelas províncias, concor-
rem para a feliz distribuição das riquezas e para augmento
da povoaçto de uma maneira conveniente; pelo contrario,
os estudos mais graves, as escolas mais difficultosas e as
universidades emRm, parece que tôm nas cortes, o seu as-
sento principal. As sciencias dão ds cartes um certo lustre
que d'ellas não se deve jamais separar, e a mocidade estu-
diosa, destinada aos empregos públicos, adquire na pre-
sença do soberano um certo gráo de civilidade, quo a torna
mui recommendavel e a mais própria para tratar os povos
como convém, e para os tornar todos os dias mais civis e
urbanos. E' pois por esta razSo ainda, sem lembrar outras
muitas, que a capital do Império se deve fixar em um lu-
razivel e isento do confuso tropel de
anto accumuladas, e unde a educação
Dictzedby Google
— 103 —
puUica acbe o seu verdadeiro asseato, recebendo do sobe-
rano aquella protecção sem a qual não poderá jamais
produzir os fructos que llies são naturaes. Deve pesaroso
bem esta matéria, quando se trata dos meios de povoar
uma ou mais províncias do Estado; porque é inleressaaiis*
simae talvez amais importaote de todas.
UPITULO XII
DA ADHINISTRAÇÀO PUBLICA
A. eiecução dos ditTerentes planos que se contém n'esla
Memoria e de outros que necessariamente se devem formar
sobre estradas, melhoramento de navegação pelos rios,
abertura de canaes, e outras cousas tendentes ao bem geral
dos povos, deveria corametter-se aos tobalhos, meditações
e cuidados d'uma junta, no principio composta de ciiiro
membros, ou deputados, e cujo numero ao depois se po-
deria augmentar, como exigissem a necessidade e o inte-
resse publico.
O seu titulo seria— Junta da direcção e administração
geral da província de S. Paulo. — Eitincta a denominação
de capilaaia, com o cat^o de governador e capítão-general
d'ella, cujos princípios militares não convém mais ao Brasil,
e são contrários aos da nossa constituição, deve necessa-
riamente substituir-se este officio pelo estabelecimento das
comarcas, em territórios mais pequenos e na devida pro-
porção; assim como pelas juntas administrativas, separado
inteiramente o governo civil, como acontece a respeito
do eccclesiastico, da influencia das armas, concentrados
os cUefes militares nos limites que lhes prescrevem os seus
respectivos regimentos, ou forem regulados por aquelles
que de novo se ordenarem.
Dictzedby Google
— !•* -
Com estes princípios se formoa a mçio portngueza, co
flUes cresceu e chegou á mais robusta virilidade; com ell
demuos TÍYer aqui, suffocada para sempre, pela justa si
psração e necessária independência das autoridades suba
temas, aconteçam, e o choque das jurísdicç6es, cousa
mais funesta, e da qual a causa publica e o interesse d
poTos se resente sobremaneira.
E que outra forma de administração se deveria co
effeito propor f Um bomem s6, quem quer que elle sej
é insufficiente para a execução de planos tão vastos \
torpeza seria desviar-mc eu do sjstema bem calculado d
senhcffes reis d'es(es reinos, manifestado constanlemei
• por mui lai^s tempos a favor das juntas, já para
administração das rendas publicas em todas as reparliçõi
j para regulação do commercio e das fabricas em ge
e em particular, já para a direcção de quaesquer estsbe
cimentos mais interessantes, e já igualmente para a snbí
tuição temporária dos governadores ; no que sem duv
lém sido bem palpáveis as conveiiiencias do Estado.
Dos cinco deputados, um deveria ser mililar, (irado
tropa da Unha, versado nos estudos da mathemalica
com bastaotes conhecimentos da geographia do paiz o
scúeocia de forliíicar, ornado com a patente de coror
pelo menos, a quem se daria o titulo e carta de conse
Outro deputado seria um desembargador da casa
supplicaçãú, passando logo a effectivo de qualquer
dois grandes tribunaes do desembargo do paço, ou <
' selho da fazenda ; e elle mesmo deveria occupar o c
de presidente da junta da real fazenda, que me pa
D&o deveria commetter-se aos Roveroadores das ar
Além da sciencia das leis, que se presume, os so
conhecimentos da economia publica, do local da prov
e das suas privativas circumstancias, deveriam on
D,:„l,;cdtv Google
— 10» —
pessoa d'este msgislrsdo. Os demais deputados, exigem
as mesmas razões do estabelecimento, que fossem um
philosopho acompanhado, de bons conhecimentos chími-
cos, um lavrador e um commercíante e fabricante ao
mesmo tempo, sendo possível ; e todos três de notória
probidade, honra e intelligéncia dos seus respectivos em-
pregos.
Dos 10,000 cruzados que percebem agora os gover-
nadores, se dariam dois a cada um dos deputados das
juntas a titulo de ajuda de custo. O secretario ficaria sendo
o raesmo do actua! e presente governo, çom o ordenado
que percebe e emolumentos que Ibe respeitassem, consti-
tuída a secretaria pelos mesmos oQiciaes eiislentes, e crean-
ilo-se para o governo das armas outra secretaria militar,
que é própria e lhe convém.
As funcçdes de presidente seriam exercitadas conforme
as r^ras, que a este respeito se observam nos ditTerentes
Iribuoaes do leino. A junta se formaria duas vezes impre-
terifelmento cada semana, ôs terças e sei tas- feiras, substi-
tuídos os dias seguintes aos ordinários, lendo sido feriados.
O seu tratamento seria o dos primeiros deputados e as
sessões seriam feitas na satã da camará, com o mesmo
porteiro e continuo, tendo de mais um meirinho, com o
ordenado annuo de 2005000; compensar-se-hia ao porteiro
e contínuo o maior trabalho com a quantia de lOOjfOOO
a cada um, e todos seriam pagos pola caixa da adminis-
tração dos rendimentos públicos da província, assim como
o ihesoureiro e mais offíciaes, que se julgassem neces-
sários, e sobre o quo deveria a junta interpor os seus
officios, logo que se achasse formada.
A jurisdicçâo da junta deveria ser comprehensiva da
policia iateraa, civil e rural da província toda, n&o excluída
a (irdÍDaría de quaesquer magistrados civfs, ou crimínaos ;
TOMO XXli, P. 1 14
Dictzedby Google
e bem assim de todos os ramos de industria e economia
publica.e com a necessária faculdade para fazer empréstimos
e dar prémios, até á quanUa de aOOíMMM) em dinheiro,
ou medalhas, á cusia dos fundos públicos, confiados á
sua administração, afio excedendo todos i importância
de 4:0001)000 em cada um anno. EUa mesma exercitaria
o offlcio de sesmeiro-mór na forma que o servem os gover-
nadores; e quanto ás outras funcçdes, sem responsabilidade
do mais, do que ao nosso augusto soberano, pela secretaria
d'Estado dos negócios da fazenda, pondo na sua real presença
lodos os annos, no raez de Janeiro, a conta exacta da
sua administração e demonstração fiel dos progressos da
provincia (7).
Taes são as idéas que me pareceram mais próprias de so
proporem á sabia e prudentissima contemplação do governo
de S. A. R. sobre o melhoramento da capitania de S.Paulo.
Se ellas forem approvadas e da sua execução resultar o
bem, que eu tenho om vista, d'eile mesmo receberei n
melhor satisfação e a nio pequena gloria de haver servido
utilmente ao meu soberano, ao Estado e á minha pátria.
FIM DA SEGUNDA E ULTIMA PARTE
(7) E' bem semelhante ao dobto antigo sygtema o governo que
agnni 8C principiíi .i eslaliflec^r em cad.i uma das nossas pruvincins.
E.-luu pt^isiiudjilo e já '.lidos geralmeiíle rallaiido acreditam que, Beado
bfm organizada, produzirá a ge^iuranca, |ii'ofippríilade e foriuna publica
e iodividual de iodo esie vastíssimo império. F^rtence á nossa assem-
bléa geral a uUima decísílo em maieria de tanta importância que nós
■gora Dão discutimos, e oin permitliram as circums landas dos tempos
em que escrevemos que déssemos á mesma matéria inteiro desenvoU
vim ento, para que as nossas idéas não foesem de todo despreiadas.
Dictzedby Google
ABEBTORA DE COMMUNICAÇÂO COMMERCIÂL
INTII • DISTIICTO BE GDVABA' E A CIDADE DO PAIA'
POR MEIO DA NAVEGAÇÃO DOS RIOS ABINOS E TAPAJffS
EMPREBENDIDA EH SETEMBRO DE 1813
E RKAUSADA BH 1813
P«lo regrwso dai pessoas qat n'essa diligeocía mandou o govenndor
e ctpitio-general da capitania de Ualo-tirouo.
(Copiado do Archivo Publico)
DIÁRIO
Da viagem que por ordem do [llm.* e Eim.* Sor. Joio Carlos Augusto
d'Oefiihausen Grevemburg, goveroador e capitão general da capi-
tania de Halo-GroBSO, nomeado para a do Pará, fizeram m caplties
M^uel Joio de Castro e António Tbomé de França, pe lo rio Arinos
noannode 181 3.
Embai*cámos no rio Preto, 5 léguas distante do arraial
do Paraguay Diamantino, no dia 14 de Setembro de 1812»
com as canAas a meia cargs, e pelos muitos baixos e tran-
queiras do rio não se p4de chegar ao Arínos senão no
dia 18, ás 5 horas da tarda. (5 dias de viagem.)
No dia 19 de Setembro voltaram as candas a buscar a
gente e cargas que haviam ficado no porto do rio Prelo, e
no dia 31 pelas 6 horas da tarde se reuuiu toda a tropa,
onde se achavam os ditos capitães.
Constava a expedição de 1 canAa grande e 7 batelitest
em que se embarcaram 73 pessoas, sendo 8 brancas entre
patrões e passageiros, 57 camaradas de serviço e 7 escravos.
No dia 23 se repararam as candas que estavam damni-
Dictzedby Google
— 108 —
ficadas e apenas podemos partir ès 4 horas da tarde,
e ds 5 1/3 Rzemos pouso.
Sabímos a 23 pelas 6 horas da manhã; ás 6 1/3 pas-
sámos um ribeirão do lado esquerdo; ás II oulro do
direito na cabeceira d'uma correnteza; ás II i/2 oulro
do esquerdo, e ás 4 da tarde outro á direita. A's 5 1/2
fizemos pouso. (6 dias de viagem )
Passamos n'este dia muitas correntezas e baixos, toas
sempre com bons canaes. O rio não corre a rumo cerlo,
pois em poucas horas se volta para todos os lados, lendo
sempre maior propensão para o poente e norte.
Partimos no dia 24 ás 5 3/4 horas ; ás 6 e 40 passámos
um ribeirão á esquerda; ás 8 1/2 oulro maior do mesmo
lado ; ás 9 passámos do direito um alto e comprido paredão
de cõr vermelha e amarella ; ás 10 1/4 deixámos um
ribeirão do esquerdo, e ás 4 da tarde outro do direito.
A's 5 e 30 fizemos pouso. Passámos D'este dia mais baixos
e correntezas que no antecedente. (7 dias do viagem.)
Fizemos viagem no dia 25 pelas 5 1/4 horas; is 6 e 20
passámos uma grande correnteza, elogo abaixo d'elta uma
ilha e pouco abaixo oulra.
A's 7 3/4 horas passámos a barra d'um riacho com 10
ou 12 braças de boca o bastante fundo, o qual fiue na
margem ilireita, e o denominámos rio de S. José, e sahe
de frente uma pequena ilha. A's 9 3/4 passámos um
ribeirão do lado esquerdo, e ás 12 um córrego do mesmo lado
pouco acima do porto do Arraial Velho, antigamente cha-
mado Minas de Santa Isabel.
A's 2 horas da tarde passámos um ribeiro á direita>
e ás 5 3/4 fizemos pouso. (8 dias de viagem.)
Passámos n'este dia muitas ilhas e correntezas. Temos
visto muitos vestígios dos indíos habitantes nas círcumvi-
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— Í09 —
uahaiiç«i do rio, e por toda a tarde lançaram muitos fogos
d'um e oulro lado, e alguns quasi nas margens.
Sahimos ao dia 26 pelas 5 3/i ; logo abaixo passámos
uma grande correnteui no braço direito d'uma ilha; ás 6 1/4
chegámos á barra do rio Sumidouro, que flue do lado
esquerdo e depois de unido com o Arioos ficam ambos
da mesma largura do rio Cuyabá. O ArJnos até aqui,
como já adverti, não se dirige a rumo certo : da confluência
do Sumidouro para baixo tera mais aturada direcção para
o norte. A's 7 l/i passámos um ribeiro á direita; ás 8
uma groode correnteza, e 1/4 depois duas pequenas ca-
choeiras com bons canaas; a primeira pelo lado esquerdo
e a segunda pelo direito. A's 8 e 30 passámos um ribeirão
á esquerda, e 1/2 depois outro á direita. Continuou a
navegação d'este dia com muitas correntezas. TAm conti-
Quado 09 vestígios dos índios; achando-se vários portos,
ranchos u outros signaes; fizemos pouso ás 5 l/â. (9 dias
de viagem.)
Partimos no dia 37 pelas 5 1/4, e depois de passar
alguns campestres, paredões e ilhas deixámos ás 7 3/4
um ribeiro, que flue do lado esquerdo, de 6 ou 7 braças
de largura, e o chamámos Rio dos Pareciz. A's 9 pas~
sámos outro maior do lado direito, que na confluência
ha de ter li braças de largura e competente fundo, e o
denominámos rio de S. Cosme e Damião. A's 9 3/4 pas-
sámos um ribeirão á direita; ás 12 outro do mesmo lado,
e ás 4 e20 outro-, ás 5 passámos um sangradouro do lado
esquerdo defronte d'uma ilha. Fizemos pouso ás S e 40.
Tem o rio alargado bastante e com pouca correnteza.
(10 dias de viagem.)
Seguimos viagem no dia 38 as 5 1/3; logo abaixo pas-
sámos um pequeno córrego á direita, eás G 1/3 um ribeirão
do mesmo lado; ás 7 1/4 passámos outro ; ás 8 outro,
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— 110 —
ambos do Isdo esquerdo. A^s 4 da isrde passámos a boca
d'um riacho com 13 ou 14 braças de laigura, que desagua
á direita, e o chamámos Rio de S. WencesMo. A's 5 1/4
passámos um ribeiro do mesmo lado. no qual estava um
cerco de páos e taquaras, que os índios tinham feito
para pescar ; e logo abaixo d elle Hzemos pouso. (11 dias
de Tiagom.)
Sabimos QO dia 29 ás 5 1/4 horas, ás 6 e 20 deixámos
um ribeiro á esquerda ; és 9 outro do mesmo lado : ás 9 1/4
outro á direita ; ás 10 1/2 passámos do mesmo lado um
riacho de 10 ou 12 braças de largura, e o chamámos rio
de S. Miguel. A's 11 passámos á esquerda um ribei-
rão e ás 12 oulro; logo abaixo outro, e ás 2 da tarde
outro; ás 2 3/4 passámos á direita um maior ; pouco
abaixo deixámos á esquerda três pequeuos nbeíros pouco
distantes entre si ; ás 4 e 20 passámos um pequeno riacho
á direita, e oa boca estava uma grande rancharia de Índios,
que havia pouco lempo alli tinham estado. A's 5 c 20
fizemos pouso, pouco abaixo de dois pequenos ribeiros,
que estavam quasi fronteiros d'um e oulro lado do rio.
(12 dias de viagem.)
Portimos no dia 30ás 5 1/4 boras. Passamos um córrego
á esquerda e alguns á direita pouco notáveis. A's 11 1/4
passamos um ribeirão á esquerda. A's 11 3/4 outro a di-
reita. Passámos d'um e outro lado alguns pequenos cór-
regos. A^s 5 da tarde fizemos pouso. (13 dias de viagem.)
No dia r de Outubro seguimos viagem ás 6 da ma-
nhã ; ás 8 1/2 passámos um ribeirão á direita pouco acima
de uma grande ilba. A's 9 e 25 um ribeirão á esquerda ;
ás 10 1/2 entrámos por correntezas, baixos e alguns rebo-
jos, mas sempre achámos bons canaes ao lado direito, e
assim continuou o rio por entre rochedos, que não emba-
raçam a viagem ; logo depois seguiu-se uma cachoeira com
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- 111 —
bom canal á direita, e até a sahída faz três boqueirões
fundos, mas com alguma tortura. Continuaram depois cor-
reolezas, e reductos de pedras que formam alguns canaes
pouco consideráveis, o assim prmeguíu a navegaçfio pelo
decurso da tarde por entre muitos penhascos e multiplica-
das ilhas; ás 5 e 10 ctiegámosa uma cachoeira, na cabe-
ceira da qual fizemos pouso, (li dias de viagem.)
Partimos no dia 2 pelas 6 da manhjl. Examinando-se os
canaes da dita cachoeira, que chamámos Das muitas
'ilhas, achámos ser preciso descarregar-se a canda grande
de meia cai^a para passar por um canal do lado esquerdo,
e os batelões vieram carregados por um pequeno do di-
reito ; ás 8 seguimos viagem, e logo abaixo passámos outra
pequena cachoeira com canal largo, porém baixo, e prose-
guimos a navegaçAo por entre ilhas com algumas corren-
tezas. Seguiu-se um curto espaço de rio morto, e depois
formam-se alguns boqueirões fundos do lado direito, e no
fim d'elles uma cachoeira, pela testo da qual passámos
para o lado esquerdo, onde tem um caminho franco por
entre ilhas, e torna a buscar o lado direito para a sabida,
que é por entre reductos de pedras coAi alguns rebojos. A
estes boqueirões e pequenas cachoeiras, chamámos Esca-
ramuça Grande ; abaixo seguiu-se um comprido estirão de
rio morto e depois umas pequenas cachoeiras por entre
ilhas, que deicamos á direita, e a chamámos Escara-
muça Pequena. Seguiram-se depois de algum espaço de
rio morto algumas pequenas cachoeiras, e compridos bo-
queirões com alguns rebojos, e sempre com bons canaes ;
logo abaixo passámos á direita um pequeno ribeiro, em
que estava um cerco já Telho, que os Índios fizeram para
as suas pescarias, e pouco depois s^uiu-se um espaço de
rio morto, e nu fim uma pequena cachoeira com bom canal
pelo meio, e d'ella se v£ uma grande ilha, a que chamámos
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— 112 —
de S. Sebaslião ; e ÍD(lo-Ee procuraiida porto n'ellH
se íizer pouso, percebeu-se na term firme do larlo dii
uma caada de casca, de que usam os índios, e foge
terra. Foi-se reconhecer uma e outra cousa, e se fii
um raucbú novo com 7 redes armadas, rcuitas pan<
cuias, caba{88, peneiras, vários saccos tecidos e cheio
farinha de mandioca, a algumas raizes da mesma ; m
peneiras cheias de castanhas, e outras bugigangas. 0)
vamos que as redes eram de lio de algodão, umas de tn
e outras de panno, tecidas eo nosso modo com ISTorc:
riosos.. Doeste porto seguia-se um largo caminho para <
terior, e indicava que os Índios moravam para denlt
vinham ao rio só para monlariar. Mandamos duas ca
armadas reconhecer a ilha em que estava de pouso,
chegarem ao fim d'ella viram muitos indio^ na terra I
do lado esquerdo, os quaes tanto que viram as csn
gente que haviam ido reconhecer a ilha levantaram
grande e confusa gritaria, a qual continuéram toda a
com muitos toques de tambores, roncos, e outros in
mentos bárbaros.
Partimos no dia 3 da ilha de S. Sebastiio, em que
vamos de pouso, pela 6 da manhã : ao tempo da s.
avistámos uma canoa em que vinham oito Índios, os ■
tanto que perceberam a nossa tropa voltaram com t(
velocidade, e foram parar na terra firme do lado esqu
onde por toda a mai^em do rio, quanto a vista alcan
estavam inaumeraveis índios, e Jilguns passos adian
cbusma se divisavam alguns de espaço em espaçr
mostravam superioridade, os quaes tinham na cabei
alto penoacho branco, que circulava de uma a outra f
00 pescoço traziam um grande collarbranco e lustros(
depois de averiguado se achou ser de conchas. Eltes,
que as nossas caudas se avizinharam, começaram a
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nauito com diversas acgões ; or»-mefie«ndo e muslrando-iioft
n arco e Hecbas, .ora cltamando-tios imperiosaoiente paios
aceoos que faziam, para que embicas» vsin.
Mandámos fallar-llies pela língua geral i tom
de paz e amizade. Responderam ; ma oalas ■
não eram perceptíveis ; porém depois illou,
moderaram oa que mostravam serem d >o em
que tinham principiado, e comegou ei todn
a fallar com uma confusa gritaria. Quando os primeiros
viram que as canoas desciam, e elles ficavam, puzeram-so
a correr pi^la margem quanto as canoas pelo rio, e onde
era lajedo au praia sabiam todos a peito descobwlo com
saitos, dansas e outros muitos gestos, sem nunca arroja-
rem flectia alguma, apezar de obVigar o canal do rio que as
canoas se avizinhassem é margem onde elles estavam ; bd-
tes observámos que elles tinham os arcos desarmados.
D'esle modo vÍeram-DOS seguindo mais de duas horas, em
que passámos muitos portos delles, onde ficavam uns, o
acompanhavam outros de novo, e assim vieram até que em
uma grande lage ficaram assentados, e não se retiraram:
emquanto não perderam as canoas de vista. N'e5le espaço
lemos passado por muitas ilhas, Teduclos, coirentezas e
pequenas cachoeiras com bons canaes, e também alguns
córregos c ribeiros pouco notáveis. A-'s 3 da tarde avistá-
mos uma serra que corria de norte a sul, e a denominámos
Serra dos Apiacaz. Por lodo o dia temos passado mui-
tos portos d'elles de um e outro lado do rio, e lambem ca-
poeiras, ranchos e outros signaes, que demonstram !4rcm
habitantes d'aquelle terrilorio. A^s 4 da tardo lizeuios
pouso em uma ilha. (16 dias de viagem).
iVo dia 4 fízumos viagem ás 7 l/â da manhã por causa
lie uma grande cerraç&o.
Pouco abaiio passámos dois pequenos ribeiros á direita.
TOMO XXXI, P. 1 15
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— It* —
e foi contíniuuQdo o rio por entre gnodes penedos, e com
■Igunias correntezas DOS braços das ioDumeraveis ilbas que
tíiib o d'ella5 deixámos dois pequenos
moDi depois s^uiram-se alguns estirões
de rii tvistámos mais vizinha 8 serra dos
Apiíi livisado ao Longe no dia antecedente.
A*s ! )3 á barra de um rio de 40 braças
deb ] menos, o qual flue na ma^em di-
reita ;erra ; e no estirão da sua confluen-
da . ^ divisa bem da foz, a qual está por
cima de um alto cordão de pedras.
Ao dito rio puzemos o nome rio de S. Francisco de
Assis. A's 3 1/2 chegámos a uma grande ilha que gas-
támos 1 1/4 hora a pa*s$at-B ; abaixo d'ella está a
serra mais próxima ao rio. A's 5 1/2 lizemos pouso em
uma ilha. Passámos n'e8te dia vários portos de Índios, o
também o sitio em que diz Manoel Gomes no seu Roteiro
que elles habitavam, e onde o atacaram, cujo lugar está
desorto, e o terreno já com maio assaz crescido, que mal
se percebe ler sido alojamento ; do que inferi que os Índios
que alli moravam eram os mesmos que encontrámos no
dia anlecedenle, e se mudaram para cima. (17 dias do
viagem.)
Passámos n'este -dia muito boas matarias e principal-
mente nas circumvizinbanças das serras ; qualidades que
se dSo observou nas que temos deixado, e principalmente
da barra do Sumidouro para cima, onde todos os matos das
marglns do rio denotam serem alagadiços, epela maior
parte só vimos cerrados e campos bravios.
No dia & partimos pelas 6 horas, e ás 7 chegámos a
uma cachoeira dividida em ires cordões interpolados:
DO do meio foi preciso descarregarem- se de meia carga as
canoas para passarem o canal. |ior causa des rndas v rr-
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- 115 —
bojos, e as denominámos, As Três Irmás. Abaixo togo
ds segunda Que do lado direito um ribeiro de bastante
largura. N^aste tugar a serra do lado esquerdo está chegada
ao rio, e este é retalhado por varias ilhas, e no Hm d^ellas
está uma pequena cachoeira com canal grande e fundo. A's
9 Vi passámos um riacho á esquerda, e o denominámos
rio Sararé. A''s 11 chegámos a uma cachoeira caudalosa,
mas com bom canal á esquerda, e a denominámos Re-
cife Pequeno. Por estes lugares vem o rio entre duas serras.
A's 13 chegámos a uma cachoeira maior que. as antece-
dentes e a denominámos Recife Grande. Para passal-a
foi preciso descarregaiem-se as candas sendo o descarre-
gador e canal do lado esquerdo. A^s 3 da tarde seguimos via-
gem: ás 4 1/2 passámos um córrego á direita, onde estavam
atadas duas canoas de Índios, e ao pé d'ellas dois pequenos
ranchos com vários trastes de seu uso ; e por se ter conhe-
cido que elles haviam mudado do systema hostil que pra-
ticaram na expedirão que desceu em 180S, deiíamos
n^aquellê porto um machado, S facões, alguns maços de
rais$angas, facas e espelhos. A's 5 l/â fizemos pouso em
uma ilha defronte á qual do lado esquerdo fine um-pe-
queno rio de 8 ou 10 braças de largura.
Partimos no dia 6 ás 6 l/i da manhã. Logo abaixo da
ilha em que pousámos seguiu-se outra maior, que dei-
xámos i esquerda. A^s 7 passámos á direita 3 ribeirões
interpolados. A^s 8 chegámos ao 6m da ilha em que en-
trámos logo que sahimos do pouso, e a denominámos
nba da Madeira. Do fim d'ella se divisa á esquerda a
barra do rio Jeruena, o qual é mais largo e a agua mais
clara que o Arínos.
Para dentro da bana tem duas ilhas, que fazem sahir o
rio por trez bocas, .« em curta distancia da foz se diyisa
uma serra, qoe pareoe atravessal-o. Elte demonstra vir
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— <1S —
parallelo ao Arinos, e trazer a mesma direcção, e a que
mais aluradamente seguem depois de unidos, que é de sul
a Dortfl.
Mandámos reconhecer a ponla de terra que divide am-
bos os rios, e n'eUa so achou o páo lavrado, que Manoel
Gomes diz no seu Roteiro ter alli posto para servir da
padrão.
Uuasi defronte da barra encontrámos quatro canoas de
Índios, em que vinham 27, os quaes embicaram om unins
pedras, logo que perceberam a nossa tropa, c entraram
a faliar do mesmo modo que os primeiros que encontrámos.
Das nossas canoas so lhes respondia com a0abilidade, e
elles não pegaram nas suas armas. Embicámos em uma
ilha frunleira c d'cllu nos embarcámos com 14 pessoas e
fomos onde elles estavam: receberam-nos com alegria mis^
turada com temor, que logo perderam, vendo o agasalho
que se lhes fazia, dando-lbes machados, facões, facas,
espelhos, missangas, aozoes, fumo e algumas roupas, que
tudo aceitaram mui gostosos, e corresponderam Tiom pe-
daços de porcos moutezes, farinha de mandioca e alguns
arcos e Hèchas.
Convidámo-os que viessem & ilha onde eslava a nossa
tropa, o clies responderam que sim ; porém significaram,
miiis por acenos que por palavras, que iam primeiramente
descarregar as suas caudas, o depois voltariam; e embar-
caudo-se n'eilas subiram para cima. Ksperámo-os mais
de duas horas, e por vermos que não appareciam resolverao-
nos a seguir viagem : e nWo tempo sppsreceu do lado
esquerdo outra canoa, em que vinham sid>indo 8 Ín-
dios, e embicaram e melteram-se ao mato logo que per-
ceberam a nossa tropa, sem quererem apparecer por mais
quo se chamou.
Deiíámo-lhes oa camb alguns tuimos, n seguiinus via-
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— «7 —
gem. Estes Índios sadam totalmeoto diís e cobertos rigo-
rosaDiente da tiole chamada urucú, e ioãrímos aer o
uso d'ella para se livrarem da enfadonha praga dos bor-
rachudos, e outros insectos perseguidores, d« que abon-
dam as ma^ens do rio. Elles tâm as orelhas furadas na
parte iarerior e trazem nos furos deales de porcos mon-
tezes, e ao pescoço uma graade enUada, que dá varias vol-
tas, de dentes de cotias e outros animalejos, e alguns d'el-
ies cingem o corpo com varias voltas da mesma enfiada.
Os que se denominam chefes trazem demais, como já referi,
o penuacho e o collar de conchas. Muito$ d'eUes tdm os pei-
tos, ventre e braços pintados curiosamente de linta preta.
(>s rapazes ttazem os buios dos braços apertados rigorosa-
mente com uma ciata ou liga de mais de quatro dedos de
tai^ra, que pela continuação vem adelgaçar os braços n^a~
quelle lugar.
Todos os que vimos eram de mediana estatura, porém
muito bem proporcionados.
Proseguimos a viagem ás 11 horas por entre innume-
raveis ilhas, umas maiores e outras menores, ficando o
rio com extraordinária largura, formando nos difTerentes
braços das ilhas umas correntezas o pequenas cachoeiras.
A's 4 i/i da tarde encontrámos três canoas de casca,
em que vinham subindo 22 Índios, os quaes tanio que perce-
beram a tropa pozeram-se em retirada com toda a força, e
poi mais que se chamou não quízeram chegar nem esjie-
rar, e passaram-se para o lado esquerdo, d'ondc deram al-
guns gritos. Passámos n'esta tarde dois pequenos ribeiros
ao lado direito, que é a ma^em que iamos seguiudo ; e ds
esquerda nada temos observado, pois que a muita lai^ra
do rio e multiplicidade de ilhas impossibilita poder-se ao
mesmo tempo observar um e oulro lado. A's 5 3/4 fizemos
pouso em uma ilha. (19 dias de viagem )
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— Il« —
Seguimos viageai no dia 7 pelas 6 da manliã, costean-
do sempre a margem oriental. A's 7 passámos um ribei-
Fio, e ás 8 e 10 uma babla. A's 9 avistámos ao norte uma
pequena serra que logo passámos, um riacho de 10, ou 13
braças de latira. Pouco abaixo outro menor, e logo de-
pois outro maior que os antecedentes, e a todos denomi-
namos, Os Três Irmáos. A^s 12 chegámos á rabeceira
de uma cachoeira, e examioando-se, o canal se achou su-
ficiente psra canAa grande, descarregada porém de meia
cai^a : as menores vieram á sirga por um canal encostado
á mai^m. A esta cachoeira obamámos das, Lages Grandes-
Seguimos viagem ás 3 1/4. A^s 4 3/4 passámos dois peque-
nos sangradoaros, e logo abaixo um ribeiro gran^de. A's K 3/4
fizemos pouso em uma grande ilha, e a denominámos com
todas as que estáo da barra do Jeruena para baixo. Ilhas
do Archipelago. (20 dtas de viagem.)
No dia 8 seguimos viagem ás 6 1/4, e 1/4 depois passámos
um ribeirão grande, e depois entrámos a passar por muitas
pedras atlas, reductos 9 pequenas cachoeiras, que não im-
pediam a viagem. A's 9 chegámos a uma mais caudalosa,
mas com bom canal, e a denominámos das, Lages Pe-
quenas. A's 10 1/2 passámos um ribeirão; ás 3 da (arde
outro, ás 3 3/4 outro, e ás 4 1/2 outro.
Todas estas vertentes fluem na mai^em oriental, ou di-
reila, que é a que viemos sempre seguindo. A^s 5 1/2 fi-
zemos pouso em uma ilha. (21 dias de viagem.)
No dia 9 partimos ás K 3/4. A's 6 passámos um ribeirão,
e pouco abaixo outro menor. A's T 1/2 passámos um ria-
cho de 12 ou 14 braças de largura, e o chamámos de. Santa
Anna. Seguíram-se depois mais outros ribeiros menores com
pouca distancia uns dos outros. A's 3 da tarde entrámos
a passar algumas pequenas cachoeiras, correntezas e bo-
D,:„l,;cdtv Google
— 119— _
qoffrões. As 6 1/4 fizemos pouso em terra firme. (22 dias
de viagem.)
Partimos no dia 10 ás 6 1/4 por causa de uma grossa
cerração. Continuámos a navegar da mesma fórma como
□a tarde antecedente. A's 6 chegámos á duas cachoeiras com
bons canaes. A's 9 chegámos a uma maior, em que foi
preciso descarrc^rem-se as canoas de meia carga para pas-
sarem á sirga por um pequeno canal encostado á margem
direita. A esta cachoeira chamámos de, S. Luiz. A's 11
seguimos viagrai com mais amiudadas correntezas, boquei-
rões e pequenas cachoeiras, e assim continuou a na-
vegação por Ioda a tarde, vindo o rio por entre peque-
nos montes, pelo que chamámos as referidas cachoeiras
dos, Morrinhos. A's 5 chegamos a uma assaz grande, com
canal largo.e fundo, porém, muito furioso, com ondas e
rebojos, e chamámos a esta cachoeira de, S. Germano da
Bocaiua. N'ella pousámos com as cargas e maior parte das
canoas para baiio. (23 dias de viagem.)
No dia 11 pelas 7 da manhã seguimos viagem por entre
boqueirões e rebojos, e logo ás 7 1/4 chegámos á coniluen-
cia de um rio de 30 braças pouco mais ou menos de boca,
e o denominámos, Rio de S. João, o qual desagua na
testa de dois grandes boqueirões, que formam uma ca-
choeira maior que todas as antecedentes. Para passal-a
foi necessário descarregarem-se as canoas duas vezes, em
duas distinctas ilhas ou montes, que estão no meio do rio,
sendo a entrada por um canal á direita, e a sabida por
outro á esquerda ; ainda que depois se especulou que na
terra Srme do lado oriental tem bom descarre^dor, que
com prebende ambos os boqueirões doesta cachoeira, a que
denominámos de, S. João da Barra. D'ella partimos pela 1
da tarde ; ás 2 passámos duas pequenas cachoeiras co m
bons canaes, e algumas conenlezas intermédias, e logo
Dictzedby Google
— IW —
depois ohoginos á ealiaceira d'outra a^ar gipnde e fiaud»-
losa, com muitas ondas e rebojos, e Toi necessário ries-
carregarem-sQ inleiranieole as caoftas para passal-as, indo
a maior p<M um caaal eacostado á margem direita, e os ba-
telões por outro maoor da esquerda, pelo qual também se
observou que secia mais favorável a subida doesta cachoeira,
a que cbamAmos de, S. €arlos. D'ella partimos ás 5 J/i, e
\(ig/o abaiio avistámos um espesso nevoeiro que subia de
um grande salto, cujos bramidos já de loage se faziam ou-
vir e temer. A^s 5 1/2 embicámos na ealrada do varadouro,
que é na mesma margem oriental. Tem este salto 90 »u
100 palmos de altura, dividido em 2 degráos, e por ser
este o passo mais notável que temos encontrado, e nos
persuadimos encontraremos n^esta navegação, com aceita-
ção e applauso geral dos nossos companheiros,. o denomi-
námos. Salto Augusto, em reconhecimento e meíDoria do
Itlm. e Exm. Sr. João Carlos Augusto d'Oeynhausen Gre-
venbui^, acluai governador e capit&o general da capitania
de Mato-Grosso, e nomeado para a do Pará, que tío pode-
rosamente favoreceu esta expedição, para se es]^ular e
pAr em pratica esta, até agora quasi desconhecida navega-
ção. (24 dias de viagem.)
No dia 12 se preparou o caminho, e é o mesmo por
onde passaram o sargento-mór João de Sousa e o forriel
Manoel Gomes, segundo diz este no seu Boieiro Tem o
varadouro 966 braças, e quasi todo por bom terreno, mas
da parte de baixo ao chegar ao rio tem um inevitável monte
muito íngreme, que faz ser a varação perigosa para os que
descerem, o muito trabalhosa para os que subirem ; e só
com grande força de gente, e pouca pressa se conseguiria,
com não pequeno trabalho ahrir um caminho menos ás-
pero, ou rasgando o mesmo que existe até fazél-o mais
commodo, ou abrindo outro em lugar mais praticável, po-
D,:„i,;cdtv Google
- tlt -
rém rai qnalqoer dos casos seria necessário em algiunas
parles arrebeatar e arredar grandes penedos, e em OQtras
fner teruplano. (2K dias de viagem.)
No dia l.t se puzeram iodas as cargas para baixo e se
Tararam os batelões; e a canda graade ficou no cume da
referida montanha. [36 dias de viagem.)
No dia li concluiu-se a varação ás 6 da tarde, cora gran-
des desmanchos nos concertos antigos, e algumas novas
quebraduras, damao que também (ivcrsm as outras candas.
37 dias de viagem.)
No dia 15 SQ concertaram as canúas desmanchadas, e fi-
caram promplas para seguir viagem. (iS. dias de viagem.)
Partimos jio dia 16 pelas 8 1/2 da manhã com boa nave-
gação, tendo sempre em vista a serra que )i os dias antece-
dentes vem acompanhando o rio, não só de um lado como
de ambos, e a denominámos Serra Morena. A's 13 chega-
mos A uma cachoeira com bastante queda, muitas ondas e
rebojos, e foi necessário descarregarem-se as candas do
lado esquerdo, e a denominemos do Tucarizal. A's 3 se-
guimos viagem, e logo abaiio lornánios a parar para se
concertarem dois batelões que faziam muita agua, e quast
se alagaram. Àlli falhámos o resto do dia. (29 dias de
viagem.)
CoDtinuou-se a 17 o concerto das canoas, até ás 10 1/^
da manbi em que seguimos viagem. A'5 13 chegámos a
uma grande cachoeira que fas um furioso e temivel canal
entre penedos com muitos rebojos e ondas, e a chamámos
de Santa Edoviges das Furnas. Descarregaram-se as canAas
na margem oriental : a grande desceu por um canal encos-
tado ao mesmo lado, e os batelões por um menor do
Occidental, pelo qual se especulou que (eri melhor subida.
A's S 1/3 seguimos viagem, e ás 5 passámos 3 cachoeiras
TOMO XXXI, P. I. 16
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pouco distantes ama das outras. A's & 3/4 fitemos
fim uma ilba. (30 dias de viagem, )
Seguimos viagem do dia 18 ás 6 1/4 da roanhã,
passámos duas cachoeiras com bons cauaes eocosla
lado direito. A's6e 35 passámos outra com canal pelo
A's 7 chegámos a um lugar em que se acha o rio c<
da reductos de pedras e pequenas ilhas, e se divide
canaes, os quaes depois de especulados se achou
canoa grande só podia descer por um boqueirão sej
do lado direito, e os batelões pelo esquerdo, pel
dizem os pilolos ser mais praticável a subida dV
choeira, que chamámos das Ondas Grandes. DVIIa pari
esiá a serra encostada nu lado occidenlal, e se djvisan
algumas pequenas campinas. A's 10 1/2 chegámos
grande cachoeira em que foi preciso descarrega
ínteiramenie as canoas, que vieram à sirga pelo dl
esquerdo, esóse puderam nVste dia passar C, fit
para cima da cachoeira, que denominámos de S.
Erangelísta.
Passaram-se no dia 19 os dois balelões que
fíeado para cima, e por um d'elles eslar muito <1
lelado, e não admillir mais concerto foi preciso A
6 lizemos adiantar sele pessoas para que abai
cachoeiras grandes, que ainda tinham de passar f
uma canoa que supprisse a faltada deiíada. A's
seguimos viagem e logo abaixo vai o rio po]
penhascos com alguns rebojos. A'$ 10 l/â pass
barra de um rebeirão grande, que desagua na :
oriental. A^s 11 chegámos a uma cachoeira po
muitos reductos e pequenas ilhas: achou-se ui
sufBciente para a canoa maior, que desceu carr
sahiu felizmente, apezar das grandes ondas e reb
menores vieram por enlie ilhas por um canal ci
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— 123 —
ao lado direito. A esta cactoeíra chamámos de S. Gabriel
A'5 3 da tarde seguimos viagem tendo em vista a Sena
Moreoa, que alli parece atravessar o rio, e estando ainda no
mesmo estirão da passada cachoeira chegámos á testa de
outra ainda maior, dividido alli o rio por mil regatos,
entre ínnumeraveis ilhas com perigosos saltos, quasí todos
os braços, que ellas formavam. Depois de trabalhosas
especulações achou-se um pequeno braço quasiaolado
oriental para n^elle se sirgarem as canoas, as quaes ficaram
descarregadas no lado occidental onde pousámos. ( 3-2 dias
de viagem.)
No dia 20 ás 10 da manhã, estiveram todas «s canoas
para baixo d'esta grande cachoeira que denominámos de
S. Raphael. A^s 10 1/2 seguimos viagem, e não lendo bem
passado um quarto de hora, chegámos a outra temivel
cachoeira com três boqueirões ou saltos, com terríveis rebojos
e grandes ondas. Quasi encostado ao lado direito, se
achou um pequeno canal, pelo qual se passaram os batelões,
e a canAa grande se aventurou por um canal que pareceu
mais moderado entre os furiosos, que alli havia, esahiu
felizmente, bem que cheio d'Rgu.i, não obstante estar de
Indo descflrr^ada. A esta cachoeira chamámos de Santa
Iria das Três Quedas. A's i da tarde estiveram canoas e car-
gas para baixo d^ells, e fizemos pouso na cabeceira de
outra ainda mais terrivel, da qual pouco distava, a qual
pelo muito declive, e estreiteza do boqueirão por onde
pn-^sa lodo o rio, faz um turbilhão horrivel, assaz com-
prido, que ameaça submei^ir qualquer canoa que quízer
passar o canal. ( 33 dias de viagem, j
No dia 21 descarrega ram-se as canftas no lado oriental,
e passaram-n'8s para o occidental para se especular, se por
alli se poderia sirgar, e por se reconhecer depois sor a
sirga impraticável se assentou em abrir varadouro, que
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- 1S4 —
n'e»ti m»smo dia esteve prompto. A eslagraode cachoeira
ctuiMiaioa de &. Úrsula. [ 34 dias de viagem j,
{>M*M principio A varação ao dia 22, e pur cau&a das
chuvas e as|>weEa do camiobo pouco se adiantou; e o
mesmo aroDieceu dos dias 23, 24 e 25, em quQ mal se
pdde concluir, ficando a caa^a grande maito maltratada,
eobatelão maior totalmente ínulil. (36 dias de viagem).
Partimos no dia 26 pelas 11 e 40 da manhã. Logo abaixo
passámos um pequeno libeirSo que desagua na margem
oecídenlal. ( 36 dias de viagem).
A' 1 da tardo chegámos a uma cachoeira em que íoi
preciso descarregarem- se as camVs de meia caiga, e passa-
p«m felizmente. A esta cachoeira chamámos da Misericórdia.
N'ella diz Manoel Gomes nu seu Roteiro haver naufragado
uma das suas canoas. A^s 3 seguimos viagem, e 3/4 depois
chegámos a uma cachoeira de pouca queda, porém bastante-
mente comprida com bom canal á esquerda; e pouco
abaixo passámos outra com canal á direita. A's % t/4 che-
gámos a uma assaz grande, com queda alta furiosa, rebojus
e ondas.
Embicámos do lado occídental, onde mostrou (er mais
praticável passagem, e alii fizemos pouso. (37 dias de via-
gem).
Passáram-se no dia 27 as cargas ecanfias pelo lado es-
querdo d'esla cachoeira, que chamámos de S. Florêncio ;
ficando o'esle dia tudo promplo para a parte de baixo. (38
dias de viagem. )
Seguimos viagem ao dia 28ás 7 da manhã; ás 9 entrámos
em uma comprida cachoeira de pouca queda, mas com
vários boqueirões e caiiaos, uns á direita, outros oo ineio,
e outros á esquerda, e em todos muitas ondas e rebojos, e
a chamámos do Labyriutho. A^s 12 chegámos a um salto de
40 palatos pouco mais ou menos d« altura^ formado em
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-1»-
uiD logir, em que ee acha o rio apertado eatredius serras :
embioou-se pelaparta esquerda, eespecultds a passagaiQ,
depois de trabalhosas indagações, se observou ser impra-
ticável a passagem, assim por agua como por terra, e por
isso voltou~se 8 tomar pelo bra^o de uma ilha ao lado
oriaotal. Á. este salto chamámos de S. Simão de Gibraltar.
Este é um dos maia trabalhosos passos que temos eocoo-
teado ii'esta viagem, pois que, não só náo admítte nav^a-
çio, como Dem aiada varação, por serem as margens
formadas só de altos e descarnados penedos, com varias
passagoDs, em que é preciso vater-se também das mãos
para se oão cabtr. Depois de bem especulados todos os
lugares, por onde se poderia passar, achou-se que encos-
tado á ilha, em cujo braço estávamos, se poderia formar um
praticável varadouro, abrindo-se o «miobo por entre os
penhascos, arredaiido-se uns, e ígualaado-se outros cora
estivas. (39 dias de viagem).
Preparou-se o varadouro Do dia 29, e deu-se principio a
varaçáo, e só ficaram varados 3 batelões. (40 dias de via-
gem.}
Proseguiu-se no dia 30 a varaçío das mais canoas, e
ficaram todas para a parle de baiio. Concertou-se no dia 31
a caoAa grande, que ficou muito maltratada, e se foi varar
uma Dova, que pouco abaito d'este salto Unham feito as 7
pessoas qae ae haviam adiantado para este Aro, como fica
raArido. (41 dias de viagem).
Partimos do 1* de Novembro ás O i/i da manhã em
boa navegação; ás 1 1 chegámos a uma comprida caohoeira
com vários boqueirões, ondas, e rebojos, mas sempre com
bons canaes, sendo a entrada pelo lado occidental e sabida
pelo oriental. A esta cachoeira chamámos de Todos os San-
tos. No fim d^ella fiue do mesmo lado oriental um rio de 30,
uu 35 braças de largura, froateiro a mua grande praia^ e a
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chamamos rio de SSo Thomé. As 4 da tarde paasá
bocea de outro menor, que desopis do lado occtdenti
chamamos de S. Martinho. As B3/i fizemos pou
uma ilha. (42 dtas de viagem }.
Seguiu-se viagem no dia 3 ás 5 1/4 com boa navei
e fnmns passando muitas ilhas, grandes praias, e
pequenos montes do lado esquerdo. As S da tardo pas
a conflucncia de um riacho, que Rue na mai^em dir
o chamámos rio das Almas. Logo abaixo da foz vi
sertão alé o rio uma ponta de serra. As 6 Tizemos ]
(43 dias de viagem).
Partimos no dia 3 ás 5 1/2 horas ; ás 6 3/4 pass^
direita um ribeiro que flue defronlo uma ilha o di
duetos de pedras ; ás 8 chegámos a harra d'um grane
a que Manoel Gomes no seu Roteiro chama de S. M.
elle tem a mesma largura do Jeruena e a mesma dir
Na poDta' de terra que divide ambos os rios se ac
padráo que alli pdz o dito Manoel Gomes. A conflueti
dito rio é na margem oriental. Por cima d'ella em
distancia iluem no Jeruena três sangradouros, ('si
o mesmo a que os uaturaes chamam Tapajoz, cujo
conserva até desaguar no Amazonas, do qual é um do
consideráveis braços. Proseguindo a viagiim, encon
ás 10 horas embicadas em uma ilha três çanOas de
Mundurucáz, e alli se achavam 23 homens e 5 mulh
tanio estas como aquelles totalmente nus. Embicou
tropa onde eiies estavam, e Ticiram algum tanto so
tados. Entre a sua,conrusa linguagem se percebiam a
palavras do idioma geral di)s índios, e significaram <]
davam á montaria c habitavam para cima d'aquellc
e entendeu -se ser a sua morada no rio de S. Manoel ,
mais se podo pon-eb er.
Deu-se-jhes vanos mimos, que aceitaram mui con
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- t«r —
EJIk tiobam alguns trinchetes e facões pequBD ; e as
mulheres e crianças contas brancas e <l'oatras < es, que
davam certeza de terem elles mais ou menos mmuDi-
cação com gente civilisada; porém em Indo o ais nos
pareceram tão bárbaros e ainda mais pobres - j que os
Apiacaz, puis que até as suas redes eram de embiras, e nada
tinham de algodão.
Os homens quasi todos tém a cara tinta de preto, e as
mulheres pela maior parte tingem somente parle do rosto,
e todos elles lêm as orelhas furadas superiormente. Pouco
abaixo do lugar em que os encontrámos passámos no lado
oriental uma grande praia, e no fim d'ella desagua um rio
de 40 braças com pouca difTorsnça, bastentemente fundo,
e corrente com a agua preta, que denotava virem de alguns
pântanos. Na barra acharam-se páos cortados e armadores
de rede, pelo que o denominámos río dos Bons Signaes.
Continuámos a viagem por entre innumeraveis ilhas, e
eitensas praias. A^s 6 da larde fizemos pouso. (44 dias
de viagem.) ^
Partimos no dia 4 ás 5 3/4 horas da maobfi, lendo em
TÍsta altas montanhas d'um e d'oulro lado do rio; is 7 pas-
sámos uma correnteza, e ás 10 outra mais comprida, con-
tinuando o rio com extraordinária tai^ra : ás S da tarde
chegámos ao fim d'um comprido estirão, e logo entrámos
a passar correntezas e baixos de lagedos, e assim continuou
por grande espaço. N'este lugar tem a serra do lado Occi-
dental algumas campinas, e defronte desagua na margem
oriental um ribeiro caudaloso.
A'5 C 1/4 fizemos pouso na testa d'uma cachoeira maior
que as que temos passodo na tarde antecedente. (45 dias
de viagem.)
No dia 5 se especularam os canaes de referida vachoeira,
fl pariimos ás 8 da manhã costeando os canaes encostados
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ao laâo dlnito, que eram bons, e por entre os bnços
ã'algnmas ilhas.
Em meio da cachoeira eslava uma roça velha, e haveria
um anno que os índios tiobam alli plantado. A's 9 sahimos
da sobredita cachoeira, e proseguimos com boa navegação
até ás 3 da tarde, em que chegámos a uma cachoeira, com
caDaes muito baixos, e em parte se passou á sirga pelo
braço d'uma ilha ao lado occidental, e defronte a mesma
ilha flue um riacho. A.'s 4 chegámos a outra cachoeira, e
por se oío achar boa passagem para aquelle lado se passou
para o occidental, e se desceram alguns cordões da referida
cachoeira, e na cabeceira d'um mais caudaloso se fez pouso
ás 4 3/i. N'esle lugar assim como em outros vários que
temos portado tém-se visto muitos ranchos velhos, páos
cortados e outros vestigios que denotam haver alli frequên-
cia de passageiros. (46 dias de viagem.)
No dia 6 se descarregaram as canAas e passaram a refe-
rida cachoeira. A's 8 horas dn manhã seguimos viagem pelo
braço d'uma ilha encostada á margem esquerda, e fomos
passando muitos cordões, com os canaes baslaniemente
baixos, e em quasi todos era preciso irem as canoas á
sirga, e assim continuou a navegação por entre correntezas
e baixos. Ã's 11 chegámos a uma cachoeira msis caudalosa
que as antecedentes, e para passal-s se tornaram a descar-
regar as caudas de meia carga. A estas ditas cachoeiras
chamámos, Sem Canaes. Pela 1 da tarde seguimos viagem,
iodo o rio por entre serras e do mesmo modo apar-
cellado como antes. A's 5 ficou na sua costumada largura
e com melhor Dav^ção. A^s 5 1/2 fizemos pouso á di-
reita. (47 dias de viagem.)
Partimos no dia 7 ás 6 da manbã ; ás 10 passámos um
sangradouro é esquerda, e ás 5 ds larde outro maior á di-
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- 120 —
raiUi defronto de urtia ilba; ki 8 faiemos pouso. [46 dias dp
viagem.)
No dia 8 seguimos vú^em ás 5 da manbá com boa nave-
gsçSo ; is 7 paRSámos um sangradouro do lado direilo ; is
10 entrámos a passar muitas pedras altas por todo o rio, e
assim continuou um grande espaço, sem oointudo fazer
correntezas. A's S da larde fizemos pouso. (49 dias de
viagem.) f
Fizemos viagem no dia 9 ás 6 da manhx ; ás 7 1/2 en-
trámos em uma comprida' cachoeira pouco alterosa. Depois
segaimoB viagem por entre ilhas e reduclos de pedras com
algumas correntezas e baixos, ás 6 fizemos pouso. (50 dias
de viagem.)
Partimos do dia 10 ás 5 3/4, e logo entrámos em umas
correatezas que em partes faziam pequenas cachoeiras.
Das 8 em diaole proseguimos com boa navegação até ás
h 1/4, em que. fizemos pouso abaixo de um rio de 2S a 30
braças de largura, a que os naluraes chamam Crepurí, e
desagua na margem oriental, e porella adentro tem aloja-
mentos de Mundurucuz. (51 dias de viagem.)
Seguimos viagem do dia 11 ás fi da manhã por entre
ilhas, e o rio bastantemente aparcellado. A.'s 5 da tarde di-
visámos em cima da serra de um e outro lado do rio alguns
campestres, defronte dos quaes fizemos pouso. (52 dias de
viagem.)
Proseguimos do dia 12 ás 6 da manhã, e logo entrámos
a passar muitas correntezas, baixos, u depois uma ca-
choeira oom bom canal á esquerda ; ás 9 1/2 entrámos em
outra mais comprida com innumeraveis boqueirões, ondas
e rebojos, e assim foi coaiinuundo até ás 11 1/2.
A estas cachoeiras chamam os naturaes, das Mangabeiras.
Proseguimos depois com boa navegação até ás 6 da larde
em que fizemos pouso. (K3 dias de viagem.)
TOHO XXXI, f. I 17
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— ISO —
Fizemos viagem no dia 13 As 6 1/4 ; logo abaixo chegá-
mos a uma grande cachoeira na qual sa acha um canal suf-
ficieate para as candas maiores encostado á mar^m orien-
tal ; as pequenas vieram A sirga pelo mesmo lado. Esta
cachoeira tem em meio um alto monte por detrás do
qual passa um grande braço do rio. Os naluraes chamam-a
Acaraitú , e nós a denominámos da Montanha. D^ella
para baixo seguimos por entre algumas correntezas e re-
bojos, Vs 10 chegámos a um lugar em que fica o rio assaz
estreito, e tem uma cachoeira com canal largo e franco ao
mesmo lado oriental. Oâ natura es a chamam Urubutú, e
DÓS a denominamos dos Feíxos. Continuámos depois a
viagem com boa navegação até ás 41/2 da (arde, em que
fizemos pouso por causa dos ventos. (54 dias de viagem.)
Partimos no dia 14 ás S da man hS com boa navegação ;
ás 8 passámos a barra de um caudaloso rio a que os oatu-
raes chamam Jaguaim, e desaba na margem direita. A^s 10
passámos duas pequenas cachoeiras com pouca distancia
uma da outra. A's 2 da tarde entrámos em outras muito
compridas com vários cordões, e alguns caudalosos boquei-
rões, e sempre se acharam bons canaes, e toda a tarde na-
vegámos por uma continuada cachoeira, e fizemos pouso
na tesl^ d'outra, que indicava ser maior que as anteceden-
tes. (55 dias de viagem.)
Seguimos viagem no dia 15 ás 8 1/2 por causa de chu-
vas, logo passámos á canal um caudaloso cordão de ca-
c hoeiras, e pouco abaixo foi preciso descarregar e sirgar
em outro maior. A's 3 da (arde partimos ; e por ser impra-
ticável a descida pelo lado esquerdo, que temos seguido,
atravessámos para o direito por entre diversos cordões, e
por cima de um assaz furioso, pousámos. A estas referidas
cachoeiras chamam os naluraes, do Pacoval. Pouco abaixo
d'ellas divide-se o rio por muitos braços entre montes,
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— 131 —
formaudo em todos temíveis cachoeiras e saltos. {K6 dias
de rí^em.)
No dia 16 logo de manhã se descarr^aram as canl^as, e
passaram o caoal por um estreito braço a que os naturaes
chamam das Frecheíras. Seguindo viagem por um pequeno
espaço por entre boqueirões e rebojos, logo foi preciso tor-
nar a descarregar as caudas por se subdividir o rio por
oode temos vindo em mil pequenos regatos ; e para pas-
sarmos abriu-se um quasi secco, e em parles varando e
em parles sirgando, estiveram no &m do dia por baixo
todas as canAas, (endo logo em vista outras cachoeiras
muito grandes e caudalosas. (57 dias de viagem.}
A 17 se carregaram as caudas e s^uimos viagem ás 8 da
manhã, por espaço de 6 minutos, e Ic^ embicámos na
lesta da referida cachoeira, ou quasi salto. As caudas maio-
res vieram & sirga, e as menores se vararam por uma ponta
de lage. A's 12 esteve tudo para baixo, e s^uimos por
eofre boqueirões com ondas e rebojos. Pela 1 da tarde
passámos outra cachoeira grande, mas com canal franco
pelo lado Occidental. A esta e ás duas antecedentes chamam
os do paiz cachoeiras do Maranhão. Seguimos quasi uma
hora por um estirão de rio morto, e depois chegámos a
uma cachoeira assaz grande, roas cora canaes laicos e fun-
dos, se bem que com muitas ondas e rebojos. Por ciroa
d^ella escoa um riacho de mais de 20 braças de boca, a
que chamam os naturaes Tracoá. £ o mesmo nome tem a
dita cachoeira. Logo abaixo d'ella se reúnem os differen-
les braços de rio que se haviam separado por entre os mon-
tes, e fica na sua costumada e extraordinária la^ura e com
boa nav^ção. A's 5 1/2 azemos pouso defronte de um
sangradouro que flue na mai^em esquerda. (58 dias de
viagem.)
Partimos no dia 18 ás 5 da manhã, e logo abaixo cbegá-
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— 138 —
mos a uma praia oode estavam de moalaria alguns índios
das povoações do Pará ; e um d^elles, quefallava soffmel-
meute porluguez, uoticiou-me a vizinhança em que já es-
tava dos primeiros moradores, e por astaram já de viagem,
de compaubia comoosco seguiram para baixo, costeando
o lado oriental. A^s 40 encontrámos ama igaríté grande que
vinba subindo com muitos indíos que não quizeram che-
gar á Talla. Á^s 12 passámos a boca de um riacho, a qa«
chamam Tapaeorá, e desagua na mai^m direita. A's 5 da
tarde passámos dois sítios quasí fronteiros de um e outro
lado do rio, sendo o do oriental de índios Jfundurucuz, e
do Occidental de Magúet. Á's 6 chegámos a um estabeleci-
mento maior das mesmas nações, e por seu principal e
director um homem branco moria^anúta de nome José An-
tónio de Castilho, em cuja casa fizemos pouso. (59 dias de
viagem.)
Seguimos viagem no día 19 ás 5 da manhã, e logo fomos
encontrando verias canoas, e passando muitas situações,
algumas de pessoas civílisadas, ea maior parte de índios.
A's 6 fizemos pous<>. (60 dias de viagem.)
Sahimos no dia 20 ás 3 da madrugada costeando sem-
pre a margem oriental, e fui continuando a passar muitas
situações de um e outro lado ; e na seguinte madrugada
chegámos ao lugar de Aveiro, que tem vigário e juiz vínte-
nario. Falhámos n^aquelle lugar no día 21 por estará espe-
ra de uma das canoas, que, tendo vindo pelo lado esquerdo,
parou em Villa-Nova de Santa Cruz, que está quasi defronte
a Aveiro, e por causa dos ventos oáo fòàe passar o rio
senão já alta noite. (61 dias de viagem.)
Seguimos viagem oo día 32 ás 9 l/*2 da manhã, e fize-
mos pouso ás 5 da tarde defronte da villa de S. José de
Pinhot, a qual pela eicessíva largura do rio se não divisa
distinctamente. (62 dias de viagem.)
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No dia 23 seguimos' viagern ás âda madragadii. A's 11
da luai^ passámos defronte a Villa-Boioi. kh 5 fizemos
pouso. (63 dias de viagem.)
Sahimos oo dia 3i is 3 da madrugada, e viajámos até
is 6 da tarde sem novidade. (64 dias de viagem.)
Partimos no dia 35 ás í 1/2 da manhã. A'a 3 da tarde
chegámos á villa de Alter do Cbâo, situada ao lado direito
em uma ^nde enseada. Aili parámos o resto do dia, e
pousámos. Esta villa assim como as que já ficam nomeadas
sáD pequenas povoações de 400 a 500 almas. As casas
todas e as mesmas igrejas sio cobertas de palha. Os mo-
radores são pela maior parte iadios, doe quaes mui poucos
sabem a língua portogueza, usando todos, e alé as mesmas
pessoas brancas que entre elles moram, do idioma a que
chamam língua geral. Defronte a esla villa do Alter do
Chão está na mar^m Occidental Villa-Franca, povoatjão de
méis de 1 ,000 almas, e eota moradores mais bem estabeleci-
dos. (65 dias de viagem.)
Seguimos viagem no día S6 ás 8 da manhã. A's 10 pa-
rámos por causa de uma grande tempestade, e prosegnindo
ás 3 da tarde fomos pousar oas viziobanfas da villa de
Santarém, na qual aportámos ás 8 da manhã oo dia 27.
Esta viUa é a maior do sertão, do qual é considerada como
capital. N'ella tem muitos hooieas estabelecidos com bas-
tante escravatura, que empregam oa plantação do cacáo,
principal género de oommercio da capitania. Ha também
muitos negociantes, uns que estão arranohados com loja, e
outros a que chamam volantes, que commerciam oas suas
canòis, nas quaes andem contiauamente gyrando da um
paia outro lugar. (66 dias de viagem.)
Partimos d'es(a vílla de Santarém para a cidade no dia t6
de Deiembro era duas igarités, por ser impraticável a conli-
Duaçlo da viagem nas canâas em que até alli tinha vindo.
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— 134 —
Pouco abaiio d'esla villa, e ainda á vista <l'eUa, entra o
corpulento rio Tapajoz no grande rio Amazonas, pelo qual
proseguimos com muitas paradas por causa das tempesta-
des. Ao norte d^elle desaba o rio Surubiú, e ao sol o do
Coroa. 25 léguas de Santarém está ao norte a vjlla de
Moate-Al^re, e abaixo d^ella desagua o rio Curapatuba,
que dizem descer de uns dilatados pântanos, que se re-
putam pela longitude de mais de 80 legaas. Mais abaixo atra-
vessámos a boca do rio Urubuquara, e pooco distante a do
Mapaco. Pelo mesmo lado avistámos as elevadas serras do
Parei, nas quaes conceberam os naturaes por antiquíssi-
mas tradições haver preciosos (besouros.
D*este sitio busca o Amazonas o oceano, e n^elle des-
emboca pelo cabo do Norte, introduzindo as suas aguas
pela distancia de 40 léguas, sem mudança na doçura, se-
. guodo affirmam os náuticos. Apartada a nossa nav^açáo
do Amazonas, a continuámos pela banda do sul ; e por um
estreito que formara duas ilhas entrámos no volumoso rio
IVingú ou Xingu, conforme dizem os naturaes.
Este rio é povoado de varies lugarejos, a que chamam
villas de Souzet, Pombal, Porto de Moz, Villarinho, Carra-
zedo e outras.
Navegando um dia de viagem por elle abaixo chegámos
a 33 á villa e registro de Santo António do Gurupá, onda
nos detivemos até o dia 27. (73 dias de viagem.)
Proseguindo pelo mesmo rio Xingu, a pouca distancia o
laigámos embocando o estreito de Tanagepurú, e doeste nos
passámos ao de Paraitaes.
Ao sul da nossa navegação deixámos as villas de Ar-
raiolos, Portel, Melgaço, Oeiras e outras povoações. Atra-
vessámos depois a Bahia de Haruarú, deixando ao norte
a grande ilha de Joanes, que os nacionaes chamam Marajó.
Costeando depois um estreito do mesmo nome da no-
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— 136 —
meada bahia, chegámos á grande e famosa chamaita do
Limoeiro, formada pela espaçosa boca do rio TocantiDs, e
igualmente a do Marapalé, que ambas feliimeate atraves-
sámos DO dia 3 de Janeiro, e conduziado-nos por um es-
treito, a que dão o nome de Igarapé-merim, entrámos no
tio Majú, em cujas margens estão ediScados muitos enge-
nhos de fabricar assucar e aguas ardentes; e tendo aav^ado
por elle roeío-dia de viagem passámos a boca do rio Acarú,
que escoa na margem direita, e pouco abaixo entraram
ambos no Guamã, e na juncção dosditos três rios se fónua
a bahia da cidade de Belém do Gráo Pará, onde chiamos
ás 6 1/2 da tarde do dia 5 de Janeiro d'este corrente anão
de 1813. (92 dias de viagem.)
REGRESSO
Partimos da cidade de Belém do Gião Pará no dia 8 de
Março com 6 boles e 1 igaríté.
A 11 atravessámos a bahia de Marapatá e a 12 a do
Limoeiro.
A 35 chegámos á villa e registro do tiunipá, d'onde par-
timos a 31 .
A 12 de Abril chegámos á villa de Santarém, onde tios
detivemos por falta de equipagem até 12 de Maio.
A 13 chegámos á villa de Aller do Cháo.
A 16 passámos Villa-Boim ; a 18 Piohol, e a 19 o lugar
de Aveiro, e pousámos em Villa-Nova de Santa-Cniz.
A 23 passámos o lugar denominado Curi, habitação de
Índios Munduruoaz.
A 24 chegámos ao sitio d'um morador de nome Jeronymo
João, onde parámos para fabricar algumas candaâ que nos
eram necessárias.
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N'aste lagar demorJno-nos atá IS de Julho.
A 19 parUmos com S boles, 2 igerilés grandes, 3
pequenas, 1 caDda graode, 2 batelões, 1 bote pequt
2 CBDoinhafi para monlariar, e n'eUaB se embarearat
pessoas, send.o d'esta8 73 de trabalho.
Ro dia 20 passámos pelo nlllmo morador, José An
de Castilbo, e viemos pousar no sertão.
A 21 pequena viagem fizemos por parar a maior
do dia para fabricar cordas de sirga, as quaes se acab
de apromptar no dia 22.
A 23 prosc^imos viagem, e passámos a barra d
Tapacorá e viemos pousar por baiio da cachoeir
Tracoi.
A 24 se passaram os primeiros cordões da dita cache
Em meio d'ella naufragou uma das igarités, e foi ao f
com toda a carga que trazia, das quaes poucas se t
veitaram.
A 25 se descarregaram as canoas de meia carga
passar o ultimo boqueirão. A's 2 horas da tarde segu
d'esta cachoeira para cima, e viemos pousar por baixi
do Maranhão. lí^esta noite nos fugiram 8 Índios.
A 26 descarregaram- se as canoas de mua carga,
passaram algumas para cima.
A 27 se passaram as canoas que faltavam, e segu
uma pequena viagem, e logo chegámos a outros coi
da mesma cachoeira em que também era preciso de:
regarem-se as canoas, ao que n'este dia oâo se pòàe
principio por oausa de chuvas.
A 28 descarregaram-se 2 canoas, e se passaram
cima ; a 29 se proseguiu na descarga e sirga das oulr
se continuou do dia 30. N'e&le dia fi^iram mais 3 ím
por cuja causa nos vimos precisados a deixar D'aqi
ti^ar 2 botei; com as cargas que traziam, pois que
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_ tlt -
foHa de eqaipagHin Alo podia eonlinasr a viagem ooro
(Mes.
A 31 se fez o rancho, em que tinham de fiear agasalhadas
as cargas dos dois bdtés que deixávamos.
No dia 1* de Agosto se accommodaram as ditas caibas, e
pelas 4 horas da larde s^uimos viagem por um curto es-
paço. No dia S 1(^0 de manhã chegámos a outros boquei-
rões, DOS quaes sa sirgaram as canoas, e fomos pousar na
hoca d'um pequeno braço, a que os nacionaes chamam
do Apohi, pelo qual tinha de subir por ser mais favorável,
se bem que era preciso descarregarem-se as caudas dê toda
a carga.
No dia 3 se deu principio á descarga, e se continuou jun-
tamente com a sirga das candes nos dias i e S.
No dia 6 pelas k horas da tarde esteve tudo para cima, e
fizemos uma pequena viagem até outra cachoeira, em que
também era preciso descarregarem-se as candas.
A 7 se passaram para cima caibas e caudas, e Acaram
promptas e em termos de seguir viagem.
No dia 6 quando amanheceu, Mboa-se que tinham fugido
lodos 03 índios Mundttnusttz, que vinham na tropa com os
seus respectivos capatazes, sendo ao todo 37 pessoas, p^
que nos foi forçoso fazer novo rancho para deitar todas as
cargas que não podesse conduzir com a pouca gente que
nos restava.
Na noite seguinte, que foi de 8 para 9, fugiram mais 7 pes-
soas, e ficámos reduzidos somente a 30 pessoas de trabalho.
R'aqnelle lugar deixámos 2 igarités grandes e 1 bote pe-
quefto, e 170 car^s de negocio.
No dia 10 sa carregaram as canftas com que tinha de se-
guir viagem, e <s segaimos no dia 11 emn i canAa grande,
2 baielões, 2 igarités e 2 montarias, sendo a navegaQSo per
entre correniwas e baixos.
TOMO XXXI, P. I. 18
D,:„l,;cdtvG00J^IC
— lí« -
A 19 prosegoimos da mesma forma, e fomos poiuar por
baixo d'uma cachoeira alterosa, em que era preciso descar-
regar«m-se as candas de meia carga.
A 13 peto meio-dia estiveram para cima as canâas e
cargas, e seguimos viagem ainda por baixos e correntezas,
A li continuou a navegação com o rio da mesios forma
aparcellado. A's 2 boras da larde sahimos em rio morto,
e assim proseguimos o resto do dia. Estas referidas ca-
choeiras são as que constam do Diário da descida, termos
passado oos dias 14, 15, 16 e 17 de Novembro.
A 15 seguimos com boa navegarão. A's 8 horas d«
manhã passámos a barra do rio Jaguaim, e seguimos alé
o fim do dia sem novidade.
A 16 continuámos da mesma forma até ás 4 horas da
larde, em que parámos por causa d'uma furiosa tempestade.
No dia 17 logo de manhã chegámos á cachoeira dos
Peixos, que a passámos, e fomos pousar debaixo da da Mon-
tanha, ambas notados na descida no dia 13 de Novembro.
A 18 descarregaram as canoas de meia carga, e se pas-
saram para cima da dita cachoeira.
A 19 pequena viagem fizemos por causa de um baixo
que está logo na testa da dita cachoeira, e foi necessário
alliviarem-se as caDÕas maiores para passat-a, e se condu>
ziram as cargas nas pequenas.
A 20 seguimos boa navegação, e pousámos por baixo da
cachoeira das Mangabeiras, notadas a 12 de Novembro.
A 31 passaram-se alguns caaaes das ditas cachoeiras.
Em um d'elles que eslava mais alteroso se descarregaram
as canflas de meia carga. Do meio-dia para tarde não via-
jámos por causa de chuvas.
. , A 23 seguimos viagem por um pequeno espado, e toga
eliegámos a um boqueirão, em que se descarregaram as
cai)6as de meia carga, e o mesmo se praticou em o outro,
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— 189-
qae eslava logo acima, no qual se Dão poderam passar todas
as canoas ateste dia, ficando duas para baixo.
A 33 pelas 8 da manhi se reuniram todas as canoas, e
seguimos viagem por entre baixos e boqueirçes. A's 3 da
tarde chegámos a um mais furioso, em que foi preciso des-
carr^arem-se as canoas, e só se puderam passar três.
A 24 até ás 9 da manhã se concluiu a passagem das ca-
noas que faltavam, e viajando um pequeno espaço logo
chegámos a outro boqueirão, no qual também se descarre-
garam as canoas. A's 2 da tarde proseguimos por entre
pequenas cachoeiras.
A 35 logo de manbã se passou o ultimo cordão das re-
feridas cachoeiras das Mangabeiras ; por cima d^elle flue um
riacho, que na descida não observou-se, assim como outros
mais, por estarem cobertos em uma ilha. Proseguimos de-
pois a viagem com boa navegação até ás 3 da tarde, em
que pousámos por causa de uma grande tempestade.
A 26 continuámos com boa navegação, e alé o fim do
dia sem novidade ; e da mesma forma no dia 27.
A 28 seguimos do mesmo modo. Ao mesmo dia passá-
mos a barra do rio Creporé, notado na descida a 10 de No-
vembro.
A 29 seguimos com boa navegação. De tarde passámos
alguns baixos e correntezas notadas no dito dia 10 de No-
vembro.
A 30 acabámos de passar os ditos baixos, e entrámos em
outros notados no dia 9.
A 31 acabámos de passar as sobreditas correntezas. De
tarde não podemos viajar por causa de uma grande tem-
pestade.
No 1° de Setembro de manhã fugiram 2 camaradas, e
mandando gente após, voltaram de tarde sem os ter ai-
can<;ado. Fizemos no resto do dia uma pequena viagem.
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- 140*
A 2 proseguinuM oom boa jiavegaçio. A's 9 -da msnhi
passámos a boca <le luo riacho graade a assaz corraote,
deairo do qual tem alojameaio de Jfundurucuz.
A 3 Seguimos do mesmo modo, e passámos mais dois
ríacbos. À'8 & da tarde foi ao fuodo ama das ij[arités com
toda a carga por causa de um furioso eocontro que deu em
um neine, que a varou para dentro, e logo se encheu d'agua
e foi a pique, ficando presa pela prda.
No dia & falhámos para se (irar o que se pudesse da ca-
noa naufragada, e só sa aproveitaram as ferragens, e o mais
ludo se perdeu.
Á S seguimos viagem por todo o dia com boa nave-
gação.
A. 6 pelo meio-dia chegámos ás primeiras correntezas e
pequenas cachoeiras notadas a 6 de Novembro, e de tarde
palmos alguns cordões,
A 7 proseguimos por entre as ditas cachoeiras. A's 3 da
tarde atravessámos o rio para o lado occidental,por ser
mui difficil a passagem pelo orieatal, que temos seguido
desde que entrámos no sertão, e logo chegámos a um cor-
dio mais caudaloso, em que se descarregaram as canoas de
meia carga.
A 8 seguimos viagem por pequenos passos, e logo che-
gámos a outro cordão alio e furioso, em que também se
descarr^aram as canAas, e se gastou quasi todo o dia em
passar cargas e can6as. A^s i 1/2 da tarde seguimos uma
pequena viagem e l(^o chiámos a outro cordão igual-
mente caudaloso.
A 9 se descarregaram as canAas. E o mesmo aconteceu
nos dias 10 e 11, e n^este viemos pousar no mesmo lugar,
em que pousámos na descida no dia 5 de Novembro.
A 12 seguimos viagem ainda por entre cachoeiras, ^
tornámos a passar o rio para o lado oriental. Ao meio-dia
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coQcIuiiBos a passagem das cachoeiras sem canal, notadas
DO Diário da descida, oa tarde do dia K, e no dia 6 de No-
TQDiíbro. De (arde não se viajou poc causa dos ventos.
A 13 de manhã chegimos á entrada das cachoeiras das
Capoeiras. Passáram-se alguns cordões á siq^, e comaseaz
trabalho por estarem os canaas muíto baixos.
A. 14 prosegaimos por entre as mesmas cadtoeiras. Da
tarde náo viajámos por causa de chuvas, que igualmeolo
impediram lodo o dia I K.
A f6logodemanhft chegámos a um cordão maisfuriosoi
no qual se descarregaram as caudas, e o mesmo aconteceu
em outro pouco acima doeste, e se nSo pAde concluir a
passagem d'ellen'estedia,e se continuou alT atóao mmo-
dia.em que se acabaram as CBchoeiras'ds8 Capoeiras, que são
as indicadas na descida na tarde do dia i e na manhS do
dia 5 de Novembro.
A 18 proseguimos viagem com boa navegação, e ora
por muitos baixos e correntezas. A^s 2 da tarde fomos al-
cançados por alguns Índios Munduruais que vinham em
uma pequena caoda, os quaes disseram que moravam do
lado do oecidente e perto do rio, e que no seu alojamento
tiobam farinha e outros legumes para venderem, pelo que
nos resolvemos a mandar comprar alguns comestiveis, e pa-
rámos no mesmo lugar onde fomos alcançados.
A 19, estando de falha á espera da gente que tinha ido
com os Índios, veiu uma furiosa tempestade, que em pouco
espaço, e antes quo podessemos acudir ás candas, alagou
um batelão, que foi ao fundo com toda a cai^a,perdendo-s«
o sal e mantimentos que n'elle vinham: e no acudir -se ás
cargas quebraram-se frasqueiras e caixões de vinho, de vi-
dros e de louça ; e houve mais outros damnos inevitáveis
em laes desastres.
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A 30 por todo o dia não appareceo a nossa gente qae li-
nha ido ao alojamento.
No dia 31, vendo tanta demora, mandámos algumas pes-
soas a saber se ha?ia alguma novidade. De tarde chega-
ram com a maior parte dos que tinham ido, e referiram
que os índios nío moravam tão perto do rio como haviam
■ dito, pois que o seu alojamento estava pelo menos S léguas
pela terra dentro, e que tinham sido obsequiados com
abundância de legumes, e estavam apromptando forinha
para trazerem.
A' espera d'elles se passou o dia 23, e chegaram a
33 já por tarde, e eom efTeito trouteram 16 alqueires de
farinha pouco mais ou menos, muitas bananas, carás e
algum tabaco , que tudo comprámos por machados ,
fouces, cavadeiras, facas, tesouras, cuias, e outras miude-
zas, de que ficaram muito satisfeitos; e lanio que um prin-
cipal e mais seis indivíduos se ofTèreceram a acompanhar-
nos, e trabalharem o que fosse preciso na viagem, e dar-
mos-Ihes em pagamento quatro machados e duas fouces ou
cavadeiras a cada um. O bom comportamento que estes Ín-
dios mostraram para comnosco n'esla occasíào, fez-nos mu-
dar do conceito que a respeito d'elles tínhamos formado
quando na descida os encontrámos, como fica referido, no
dia 3 deWovembro.
A 2* se carregaram as canoas, que por causa das tempes-
tades se haviam descarregado, e ficou tudo prompto.
A 25 ao tempo da sabida se achou falta em um camara-
da que tinha fugido. Mandou-se logo fazer diligencia por
elle, mas não foi possível achar-se, e por este motivo se
fez viagem ris 11 horas, e proseguimos ttté ao fim do dia
sem novidade.
A 26 amanheceu chovendo, o assim continuou até de
tarde, em que fizemos uma pequena jornada.
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— 143 —
A 97 I<^ da manhã passámos a barra do rio dos Bons
Sigoaes, e de tarde a de S. Manoel de Tapajoz, notados no
mesmo diaSde Novembro, e mais sangradouros adjacentes.
A. 28 passámos pelo Jeniena, e pequena viagem fizemos
por causa das chuvas. Passámos n'e5te dia a barra do rio
das Almas, notado na descida a 2 de Novembro.
~A 39 amanheceu chovendo, e assim continuou até ás 3
da tarde, em que fizemos uma pequena viagem.
A 30 seguimos até ás 11 da manhã, em que chegámos a
uma praia na qual passámos o resto do dia para se lavar e
eniugat o falo, que estava (odo molhauo das grandes chu-
vas antecedentes.
No l*de Outubro seguimos por todo o dia sem novidade,
e da mesma forma no dia 2 : na tarde d'esle passámos a
boca do rio de S. Martinho, notado no 1* de Novembro.
A 3 passámos ás 9 da manha a barra do rio de S. Tho-
mé, e entrámos na cachoeira de Todos os Santos, igual-
mente indicada no dito dia 1° de Novembro. Passáram-se
as candas á sirga, os primeiros cordões, e nos últimos
se descarregaram duas vezes.em cujo trabalho se emproou
lambem o di& 4,'em que tudo ficou para cima.
No dia 5 proseguimos com boa navegação alé ás 11 da
manhã, em que chegámos ao salto de S. Simão de Gibraltar,
descripto na descida a 28 de Novembro. As muitas chuvas
e tempestades que sobrevieram, occasionaram passarem-se
as cargas e canoas com muita lentidão; e n'este trabalho
se empregaram os dias 6, 7, 8, 9 e 10, em que ficaram para
cima, porém com grandes desmanchos, em cujo reparo
se gastou o dia 11, na tarde do qual se deu principio a
carregar.
A 12 de manhã se concluiu o carregar das canoas, e
partimos ás 9 A pouco espaço foi preciso tornar a descarregar
de meia carga, por causa de uma pequena cachoeira, que
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está no mesmo braço da ilha por oode víeraos, e é cabe-
ceira do dito salto. A*sll t/3 s^uimos d'ella para cima.
A^s 3 da tarde chegámos á cachoeira do Labyriotho, notada
no mesmo dia 28 de Outubro. Passaram-se á sii^ alguns
cordões e em meio d'etta fizemos pouso.
A 1 3 se concluiu a passagem com navegação bastante-
menle trabalhosa, por estar o rio D'este lugar apertado an-
tre serras, e consequentemente muito fundo e alcantilado.
Das 10 até ás 3 da tarde não podemos viajar por causa das
chuvas. A's S chegámos á cachoeira de S. Plorencio, notada
a 26 de Outubro.
A 14 se deu principio á descarga ao mesmo lado Occi-
dental onde descarregámos na descida ; mas a passagem
das candas se fez pelo oriental pelo braço de uma ilha.
N^este trabalho se empregaram lambemos dias 15, et6,
com bastantes intervalios por causa das muitas chuvas.
No dia 17 seguimos doesta cachoeira para cima, e passá-
mos as compridas cachoeiras notadas no dito dia W de
Outubro.
A 18 logo de manhã chegámos á cachoeira da Misericór-
dia, notada no sobredito dia. Para passal-a descarregaram-
se as candas de meia carga no lado oriental, e por ser alli
impraticável a siiga, se passaram para o occidental on-
de se sirgaram. Pelas 2 da tarde seguimos vissem d'ella
para cima com navegação muito trabalhosa, e viemos pou-
sar ao pé da cachoeira de Santa Úrsula (a qual os camaradas
da equipagem denominaram Canal do Inferno.pelo seu hor-
rível turbilhão), descripta na descida do dia 20 de Outubro.
A 19 se especularam todos os lugares por onde se pode-
ria passar, visto que por estar o rio mais caudaloso do que
na descida, era impraticável aproveitar-se o varadouro que
então se abriu no lado occidental, e se assentou passar
cargas e canoas pelo braço de uma ilha, que em partes ti-
Dictzedby Google
— us —
Dha a%uma afíua, >e bem que a varação por aqui era assaz
Cumprida e difficillina por causa dos escabrosos peohas-
cos, pelos quaes era ínevitaTel passar-se. Na passagent d'es-
ta gnnde cachoeira se occuparam os dias 30, 21, HS e 38,
e se coDcluiu tudo a 2i, ficaado as canda» cairegadus e «m
tennos de seguir TíagenOi
No dia 35 ás 6 da noaobi chegámos á cachoeira de Saola
Iria das l^esQuédas, notadas no mesmo dia 20 de Outubro.
Desoarr^ram-se as canoas, e por estar o rio com alguma
encheele se facilitou a passagem d'ellas por um canal co-
lateral no braço de uma ilha quasi encostada á mai^gom
oriental. A'$ 6 da tarde esteve tudo para cima e se pousou
já oom os caudas carregadas, e em termos de seguir
nagem.
Pelas 9 da maahá do dia 36 diegámos á cachoeira de •
S. Raphael descripta a 19 de Outubro. Descarregaram-se as
candas, e se passaram pelo mesmo canal da descida: ii'es-
ta trabalho se empregou também o dia 27.
A 38 carregaram-se as candas e seguimos viagem ás 10,
e ás 1 1 chegAmos á cachoeira de S. Gabriel, notada do dito
dia 19 de Outubro, Por estarem muito alterosos os canaes
do lado direito se passou para o esquerdo, oude se achou
favorável passagem, descarregando-se porém as canoas de
meia carga. A^s 3 da tarde seguimos viagem, e pousámos
acima do nbeirão notado do sobredito dia 19.
A 29 pelas S da manhã ch^mos i cachoeira de S. La-
cas Evangelista, notada a 18 de Outubro. Deo-se principio
k descarga com pouco adiantamento pela aspereza do ca-
minho, e se concluiu no dia 30.
No dia 31 pasBaram-se as candas e se carregaram. A's 3
da tarde fizemos viagem oom boa naregaçAo pelo reslo-
do dia.
No i* de Novembro continuámos a viagem, e logo cha-
TOHO XUI> t. 1 19
Dictzedby Google
— f 46 —
gamos á' cachoeira das Ondas Grandes, notada no referido
dia 18 de Ouiubro. Subiu-se por um canat cotiateralda
margem occideatal cora as canoas à sirga, e 43 3 da tarde
estiveiam para cima, e pousámos por baixo das cachoeiras
notadas na maobS do mesmo diá.
No dia 3 descarregaram-se as canoas de meia carga era
2 cord6es das referidas cachoeiras: ao meio-día estivemos
acima d'ellas, e passando o rio para o lado do oriente pro-
seguimos a viagem, e viemos pousar ao pé das cachoeiras
notadas na tarde do dia 17 de Outubro.
A. 3 se sirgaram as canâas, e pelas 9 da maahS seguimos
viagem. A's 11 chegámos á cachoeira das Furnas, notada
no dia 17 de Outubro, e se assentou passar pelo braço de
uma ilha onde era mais favorável, e aiti se dividia a ca-
choeira em dois cordões, e em ambos se descarregaram as
canAas, em ciyo trabalho também se occupou o dia i.
No dia ft ás 8 da manhã esteve tudo prompto para seguir ;
mas sobreveiu uma grande tempestade gue durou até
ás 3 l/S da tarde, e apenas podemos chegar á cachoeira
do Tucarizai, notada a 16 de Outubro. A's 6 se descarre-
garam as canoas, e se sirgaram pelo lado oriental. A's 3
da tarde seguimos viagem pelo mesmo lado com boa nave-
gação o resto do dia.
Amanheceu chovendo o dia 7, e nsaim continuou até
ás 3 horas da tarde, em que partimos e chegámos ao Salto
Augusto, descripto no Diário da descida a 11 de Outubro.
A 8 se descarregaram as canAas, depositaodo-se as car-
gas na testa do morro, e ao mesmo tempo se especularam
todos 09 lugares por onde se poderia abrir um praticável
varadouro ; e com effeito achou-se um que, supposto era
mais comprido do que o antigo (pelo qual. se reconheceu
ser a varação de absoluta impossibilidade), comtudo ofTo-
recia melh or commodidade.
D,:„l,;cdtv Google
^ itír —
Nos dias 9 e 10 se pre|iarou o varadoaro, e se fizeram
moitões.
À 11 se dea principio á varação com muito va^r, já
pela aspereza do caminho, já por causa das muitas chuvas,
e finalmeote por ser preciso fazerem-se cordas aoTSs, risto
lerem-se arrebentado os cabos que trazia, e a muito custo
e maior trabalho se conseguiu lançarem-se ao rio da parte
de cima do salto as ires candas maiores no dia 15. '
A 16 se vararam as caudas pequenas, e se deu principio
i conducção das caibas, e ao concerto das canâas que
sahiram maltratadas da varação.
N. B. Como esle Roteiro foi enviado do Salto Augusto
ao lUm. e Exm. Sr. general, pelo capitão António Thomé
de França, que ficou alli tratando do arranjo de sua
viagem ; continua agora a viagem do capitão Miguel João
de Castro, e de Joaquim Barbosa, conductores do mesmo
Botwv, por ordem do mesmo Exm. Sr., cujos conducto-
res por se terem apartado do dito capitão António Thomé
sabiram d'este salto a 12 de Setwnbro do mesmo anoo.
Aos 13 de -Semstm)' '^guimos i esquerda ; logo acima
está uma cachoeira grande com bastante queda ; passa-se
para a direita pelas muitas lages, quando vão acabando as
ondas tem um bracinho que procura a terra pela parle di-
reita ; entra-se por detris da ilha, e tem bom caminho para
sii^ a meia cai^a, e estando cheio passará carga inteira.
Logo acima da cachoeira l«n>uma ilha, e depois duas ca-
choeiras pequenas ; deve-se passar á esquerda, que tem
melhor caminho para subir a carga inteira. Ao meio-dia
chegámos a uma cachoeira que tem um travessão de pedras,
com malas, que atravessa o rio ; esta chama-se cachoeira
da Barra do Rio de S. JoSo, qne flue na cabeceira da dita
cachoeira, a qual tem dois boqueirões apertados com muita
faria.
Dictzedby Google
-ia-
Descarrega-se á esquerda, e as canúas pasaan-« ao
boqueirão da direita, sirga de corda, encostado á esquerda ;
. passaodo este primuiro boqueirão sabe um rio mansa, e
para cima estA outro travessão de pedras, com ilbas de
matas, que faz duas bocas com cachoaras melhores, e
DO meio d'este travessão tem um pequeno braciabo, que
á& boa sirga, e passando is 2 carregam-w as candaa na
barra do Rio de S. João, na qual gastámos dia e meio paca
abrir caminho, e arredando pedras no dito bracinho, que
ficou dando bom caminho.
Aos 13á esquerda, logo acima, esta outra cachoeira; tem
duas ilhas, três boqueirões, toma se pelo braço da esquerda
acostado á terra, que descairega-se em oima das pedras, e
pousámos.
Aos 14 falhimos meio dia por causa das chuvas, passA-
mos á sirga a meia carga ; seguimos viagem á esquerda e
por bom rio, e pousámos.
Aos 16 seguimos viagem, e á esquerda tem varias ilaupa-
vas, passa-se á esquerda ; ès 9 buras chegámos a uma
immensidade de pedras por todo o rio, e muitas ilhas ; faz
muitas cachoeiras e correntezas ; entra-se polo braço
acostado á terra á esquerda, em todo o dia encontrámos
muitas pedras, correntezas e ilaupavas, cachoeiras, ilhas ;
sem fazer embaraço, porque deu bom caminho.
Aos 16 seguimos pelo mesmo lado, logo acima tem uma
cachoeira, na qual passa-se á direita pelo meio do rio, tem
um braço limpo sem cachoeira, passando a dita passa-se
para a esquerda, pw lodo o dia se v6 muitas difficuldades,
mas não é causa da embaraço.
Aos 17 seguimos pelo mesmo lado, cootinuuido o mesmo
numero de pedras ; do meío-dia para a tarde encontrei rio
bom.
Aos 18 seguimos pelo mesmo lado : pouco acima esld
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uma cacboeirA que H bom caminho, e logo tciíDa eslá um
grande estirão que faz grande resacada á esquerda : to~
ma-se pelo braço do eslirio, que do outro dá muita volta,
e do meio endireita.
Aos 19 seguimos pelo mesmo lado, bom rio: pouco
acima avistei dois morreles redondos i direita, ao pó um do
outro ; aoima d'estes morros está uma cachoeira não pe-
quena : pnssa-se á direita ao pé d'uma ilba, que Dão faz
cacboeira.mas só correnteza, passando á esquerda, passa-se
algumas ilaupavas pequenas sem fazer embaraços.
Aos 20 s^uímos peio mesmo lado; ao raeio-dia che-
gámos a uma cachoeira, que passámos A sirga, acostado
a umas lages, porém boa sirga ; muitas ilhas.
Aos 31 seguimos pelo mesmo lado ; ás 9 botas passámos
por três barras umas ao pá d'oatra5, a do meio tinha um
cerco feito ptio gentio para apanhar peixe, com covos.
Temos encontrado muitos vestígios dos ditos índios ^ptacoz,
que pensamos ser morada d'elles, porque quando des-
cemos já n'este lugar os encontrámos em três candas, e fu-
giram de nós sem nos quererem faiiar, deram grilos espan-
tosos, e puxaram pelos remos : achámos um alojamento
velho com capoeiras e esteio velho ; muitas ilaupavas pelo
rio sera fazer embaraço.
Aos 33 seguimos pelo mesmo lado, oto achámos cousa
que nos embarace.
Aos S^ chf^mos á barra do rio Jeraena, ondo falhámos
meio dia por causa do vento, e largura que faz na barra des-
tes dois rios, levantando muitas ondas. S^iiimos viagem
pelo rio Arinos pelo lado esquerdo ; chegámos de tarde
a cachoeira e pousámos.
Aos 24 descarregámos em cima das pedras do lado es-
querdo, e é muito curto o descarregador, e passam-se as
canâas da parte direita «icostado á terra; passámos a meia
Dictzedby Google
csrgá por eutie pedias: o rio esteado mais cheio pôde
passar a carga inteira, e depois seguimos pelo lado direiío :
por cÍoiad'esta esU uma pequena cachoeira; passa-se pelo
lado direito á vara, carregado, e logo acima está uma
itaopava muito baixa ; deve-se passar á esquerda na ilha
do meio, que nío lem impocilbo: acima estA outra que
tem duas ilhas por cima, passa-se pelo meio, e por cima
d'e)las passa-se & direita : logo acima estáo três, a Ao meio
faz grande rebojo e bastante correnteza ; passa-se á sirga
coiD corda na próe.
A.OS 25 seguimos pelo mesmo lado ; logo acima está uma
grande ilha, esóbe-se acostado aella.deixando-apelolado
direito: este rio vem do lado esquerdo e é abundante de
peixe : temos encontrado muitos signaes de gentios, ran-
chos e flechas rodando, e portos d'elies: defronte d'esta
barra, detrás de uma ilha, eslâo dois portos d'elles, em
um dos quaes se achavam três canoas : Azemos pouso.
Aos 26 seguimos por bom rio com algumas pedras sem
fazer embaraço algum : ao meio-dia chegámos a um porto
já deixado dos índios ; fomos por elle, e chegámos ao
alojamento, que mostrava ter sido muito grande pelos
muitos esteios que existiam ; eram casas grandes e muito
altas, muitas capoeiras, e estava retirado do río : em todo
o dia encontrámos muitos vestígios d'elles : tem varias
correntezas, mas o mesmo rio ensina, conforme as voltas
que dá, o melhor caminho, que para baixo do lado es-
querdo 6 melhor. Ã' tarde chegámos ao alojamento, onde
Manoel Gomes foi atacado pelogentio, os quaes se mudaram
dois dias de viagem para cima.
Aos 27 seguimos na mesma forma antecedente; ao meio dia
chegámos ao districto do gentio Apiacaz, e por não chegar
a ooite, e ser preciso chegar muito perto d'e)les, falhámos
meio-dia em uma ilha que está por baixo d'uma itaupava.
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— 161 —
Aos 28 s^uíiuós, e logo acima, oode esláo duas illiis por
baiso ^'uma itaupava, da esquerda para cima, prin npiara
os portos dos gentios : quem subir deve ir com grande cau-
tela ; As 9 horas poaco mais ou menos chegámos ao graode
alojamento d'elles, e avistámos uma canoa com (res Índios,
que sahiram da terra para o lai^ ; mandámos tocar a
bosina, e assim que nos viram remaram com força ; d'ahi
a pouco espaço acudiram tantos que cobriram aquellas
pedras e barrancos, e começou um d'ellos a dar horrendos
gritos; fallara, mas não percebíamos: marchámos para elles,
e elles embarcaram-se quatro, e vieram á canfta encontrar
comnosco, e togo por acenos mandando-nos que fossemos
para seu porto. Encontrámos com elles no meio do rio,
e eram os que quando rodámos linha-se-lbes dado umas
ferramentas e uma bosina de chifre, e se Ibes disse que
qusntio voltássemos baviamos tocar outra como aquella,
para que elles nos conhecessem, e viessem para se lhes dar
muitas ferramentas ; e por isso no encontro conhece-
ram-nos, e trouxeram a bosina que se lhes tinha dado
moslrando-a, e se lhes tornou a dar n'aquelle mesmo lugar,
e também muitos machados, facas e fouces, e ficaram muítA
contentes, abraçaram-nos, e embarcaram nas nossas canâas,
e deixando as suas amarra das emum páo, marcharam com-
nosco para o seu porto. Logo veiu uma caada com 18
índios a encoutrar comnosco, e ofTertando-nos suas pa-
nellas de bebidas de caxerí bebemos todos, para os nJo
descontentar; embicámos no porto d'elles sobre umas la-
ges, onde acudiram muitos a oncontrar-nos, tirando-nos da
canoa pelas mãos ; alli deu-se-Ihes muitas facas, facões,
machados, fouces, missangas, e mais cousas e roupas :
eram 500 almas mais ou menos ; sio h omens capazes de
pegar em suas Sechas, e d'estes eram mais de 350, e depois
d'isto um d'elles offertou-nos uma rede em sua casa : mos-
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- «a -
tranin-nos ts suas mulheres e filhos ; offertaram-nos seus
legumes que alli tiobam, carAs, tagi, mioduim, e d& tudo
se lhes aceitou um pouco, e demos missangas ás suas
mulheres e filhas pequenas. As suas casas são muito gran-
des, altas e compridas, bam feitas, cercadas de páos de pa-
cbivar; as portas são da casca de gatoba; tinham muita
mantimenlo, farinha de mandioca, milho, carás, tajaiz,
fegão raenduim, algodão, muitas redes do mesmo algodão,
bem feitas com seus lavores, muita fio já fiado, algumas
redes um lear, e todos estes mantimentos deram aos cama-
radas; deram muitos pennachos a todos os camaradas.
Só chegamos a uma casa ; não fomos as outras, e só
esta nos causou admiração ver que aquelles brutos, sem
terem ferros, tâm as suus casas tão bem feitas, e tanto
mautimeoto ; suas casas muito limpas a roda, um grande
terreiro carpido e limpo : as casas são de tacanissa co-
berta de palha de ubim: tem uma pra^a vazia limpa,
sem cousa alguma, com porias nas duas pontas, além
d'outras que tinha em roda: tinha de comprido trinta e
taolos lanhos : as vivendas d'elles são pelos lados, e tudo
bem dividido: tanto trem tinha para baixo como para
cima : os corpos dos que morrem são moquiados, e peo du-
rados pelos caibros da mesma casa pelas suas rddes; é gente
muito luzida, e entre elles ha alguns bem avançados em
idade, onde estava uma muilo velha que mostrava não ser
Jragra. Esta nsçâo tem a boca preta; alguns d'elles com a
barriga pintada, e as orelhas furadas com grossos passois
de Qechas. enfeitados com peonas mettidas pelo nariz, e
orelhas que também eram furadas, e com um pãozinho
atravessado no bra^^ : sâo bu^s muito agudos e cortezes ;
suas canoas são de casca do jatubã ; os remos de taquara
proasa partida.
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- líl-
Itífú falhjwos nwio-diB n'«stas prttieAs e amindes efua
elles.
Elies tinham o seu anonaieaio mettido pelo mato ao pA
do porto, e o despedirmo-DOs d'ellas abraçamol-os, e de-
pois nos puzemos ao largo ; vímos então aquella multidão
que alli se achava, e conhecemos o perigo em que estive-
mos meltidoa, entre aquelles bárbaros que cobriam todo o
bamnco,. e gnodes lages de pedra, que podiam tomar
conia das nossas canoas e do armamento ; porém foi Deus
servido que uada succedeu. Seguimos viagem já sobre a
tarde, e pouco acima Azemos alto para jantar; a este tempo
appareceram duas canoas cheias de gente, vinham- n'ellB$
38 com 23, que nos fez embarcar á pressa e seguir via ■
gem, e logo passámos por outra cheia d'elles ; e como nos
alcançavam parámos a esperar por elles, e vér o que
queriam : eram alguns que não estiveram juntos quando
repartimos as ferramentas, e vinham pedir algumas, e por
isso Ibes demos foices. Outra canoa d'eUes encontrou com
estes, os quaes nos vieram avisar qne subíssemos á es-
querda, porque n'aquella parte direita tinba uma aaçSo de
gentios, que costumavam a matar a porrete ; porém re-
ceando, que fosse n'elles alguma mangaçSo, do que real-
mente conhecemos que nos quizessem dar de noite, e por
isso DOS davam borda certa para subir, despedimos a cfles,
e sendo muito tarde marchámos parte da noite, e fizemos
pooso em uma Ilha para o lado direito, e nlo para o lado
que elles disseram, com sentinellas toda a noite, e nSo
bodve novidade alguma. N'esta paragem t«m sido boa a Aa-
vegiçio.
A SB seguimos riagem por eatre muitas ilbafe, pedns,
eorrmtezas, ele, e assim navegámos todo o dia, ela paft»
tomava todo o rio, porém por entre elta» dflva bom wmi-
nho, e fitemos pouso em oma Ubi onde fàz e ri* qwUo
TOMO XXII, p. 1. 20
Dictzedby Google
— 184 —
bocas, doas que d«s«Mi para baixo* duas que sobem para
cima. Sóbe-se á direita por um braço que fai muito re-
bojo, e o outro dío di passagem.
k 30 seguimos a outra paragem ; na mesma forma sóbe-
se direito por um braço pequeoo e manso, « logo se sabe
em rio manso e timpo de pedras, e no fim do estirão tor-
nam-se a ajuntar muitas pedras, e no meio d*eUas está uma
cacboeira que tora uma iiba de pedras e de matos ; bem
encostado á ilba do lado direito tem um vão entre as pedras,
que dá uma boa passagem, da qual é bom o rio para cima:
no fim do estirão está outra cacboeira com uma ilha para
baixo ; sóbo-se pelo braço da esquerda encostado á terra
onde está uma itaupava e uma ilba, e passa-se & esquerda,
e abi pousámos.
No 1* de Outubro seguimos viagem até o meio-dia ; pas-
sámos Tárías ítaupavas e correntezas, porém bom caminho.
Do meio-dia para a tarde marcbamos por rio limpo, e osdois
dias seguintes também seguimos viagem por bom rio; acima
está uma resacada, e um ribeirSo pelo mesmo lado, e de-
fronte d'este5 está um porto de gontio onde se acharam três
caudas varadas em terra ; julgámos serem de outra nação,
porque as canâas estavam feitas por outro modo; mais
acima está uma ilha grande no meio do rio.mais acima estão
duas ilhas a par, e por isso faz o rio três bocas : passámos
dois córregos á direita, e n'esld dia tem sido boro o rio, e
fizemos pouso por baixo de uma grande ilha.
Aos 3 passámos ama ilha pequena no maio do rio ;
mais acima passámos outra i esquerda, e alguns córregos
pequenos de ambos os lados; mats acima duas ilhas a par,
eá direita a mais pequena, e mais por oima,e por baixo do
mesmo lado dii^to, um ribeirio ; mais acima uma ilha
racMlada ao lado esquerdo ; mais acima um pequeno rí-
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. ]56 _
búro i esquerda, e o rio muito favorável, e pomAmos em
um estiráo áe um m<»TO yermelhoe dedMrrasaado.
Aos 4 seguimos viagem por bom rio, e possAmos por
qoBlro ribeiros de cada lado, e alé á toide foi o rio bom, e
fizemos pouso em uma resacada á direita.
Aos S seguimos por bom rio; passámos por dois ribeiros
um ao pé do ouiro; ao lado esquwdo defronte pouco acimi
está outro maior, bem corrente : ao lado dirúto mais acima
eeti outro ; ao esquerdo outro, e outro mais adma pelo di-
reito, onde estavam uns covos de gentios para apanhar
peixe ; e do lado esquerdo estava outro ; e o rio muito bom
onde pousámos, e observámos qae do ledo direito defronte
eslava um riacho.
Aos 6 falhámos por causa das chuvas, aos 7 l<^o aeime
achámos um ribeiro ã esquerda com covo de gentio para
cunhar peixe; acima do dito e á direita outro ; e depois
outro também do mesmo lado, cercado de covos, onde
estava muito fresco o trilho d'elles ; mais acima está uma
ilha grande por baixo da qual tem uma pequeua ilha ;
mais acima estão dois cwrr^os i direita, e mais acima um
dito á esquerda ; pousámos defronte ao outro grande, tam-
bém á esquerda .
Aos 8 seguimos viagem, e passámos dois ribeiros á es^
querda ; mais acima está uma ilha ^ue faz um braço á
esquerda ; acima um córrego á esquerda ; acima pousámos
ao pé de orna iltia de pedra, onde o rio é muito favorável.
Aos 9 passamos uma ilha ; mais acima passamos nm
ríbeirio á esquerda, outro á direita, e uma ilha, e outro
que faz nm pequeno braço á direita por cima de um san-
gradonro, e por baixo outra ilha comprida.
Aos 10 passámos um ribnrão á esquerda; uma ilha lam-
bem á esquerda; um braço da mesma defronte de um ri-
beiro, oulro dito á diceita; ao meio-itia passámos outro di-
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to i «MíDMPda» una ilha acostada 4 direita; e mau acima um
ríbeirio ã MqaanU, rnuito vasto, a laiwho de i^atio ; poa-
soi eon páos eortados, faots e machados de pedia; e o rio
DMiito faYOnrel. Nós ramos escrerendo os ribeiros, porque
poderemos eDcoDtrar algupaa ceusa de noTidade, que seja
[H«eiso notar desde a oidade para oá, para saber a aliara em
que vimos por esta paragem, ao qual Já se vé muilo casca-
lho paio JMtrramM do rio e p^os córregos.
Aos il seguimos e logo acima passámos uma ilha, e um
rio pequeno A esquerda, um ribeiro grand^i direita; pas-
sámos mais dois córregos grandes á esquerda : n^este dia
tawn flBcontrado muitos vastigioa de gentios. Ao meio-dia
passánios um córrego á direita e uma ilha; passámos ou-
ka da direita oom um pequeno braço í direita, encontran-
do algumas correntezas.
Aos 13 s^uimos e encontrámos acima um ribeiro á es>
qnerda, e outro acima A direita; mais acima uma cachoei-
ta," e S4^ba-M á esquerda : ao meio-dia passámos outro ri-
beiro A esquerda e algumas correntraas pequenas; ás 3
boras passámos o rio Sumidor, que vem. do lado direito, o
qual é muito corrente, e acima d'elle está uma ilha; mais
acima uma itaupava; sóbe-se pelo lado esquerdo, e depois
passámos outra ilha pequena e pousámos.
Aos 14 logo acima está uma itlia acostada á esquerda, e
om pequeno braço que entra para o centro, pelo qual se
siábe por causa de umas correntezas: acima está outra ilha
A direita ; e acima uma grande resacada ; sóbe-se pela es-
querda; mais acima está uma ilha grande, sóbe-se á esquw-
da por causa âo& baixos que tem; uma grande ilha que tem
duas pequenas por cima; maisaàma está um córrego pe-
-queno á ^uerda; acima está uma pequena ilha, e os cam-
bos qurànados de uaia parte e outra pelo geolio; ás 4 ho-
ras pÃasáBMa pelo arraial velho, e acima um com^ pe-
D,:„l,;cdtv Google
— IIT —
queno á direita, e noflm do estirão tres ilhas jaalas, duas
grandes a par, e uma pequena do meio por cima das duas;
n^esta dia lemos passado bastantes conentezas, porim sem
faier eslorre algum, e fizemos pouso per cima doestas ilhas.
Aos 15 passámos uma ilha e una c<»t^o á «squerda,
e depois dois córregos juntos, e duas ilbas que passámos
ao meio-dia ; cbagásaos a um ríbeirAo que defroate da
barra tem uma ilha pequena; mais acioxa está oulc», e mais
acima mais duas ilhas e algumas itaupavas : D'este dia tem
sido o rio favorável, o fizemos pouso acíma de uma cor-
renteza comprida.
Aos 16 seguimos viagem, passámos um ribeiro grande á
esquerda, muitas correntezas, baixios e pedregulhos, e
mais duas ilhas, e algumas correntezas pequenas. .
Aos 17 seguimos viagem, e passamos dois ribeiros á di-
reita, dois grandes á esquerda; passámos varias correntezas
e pedregulhos, sem empecilho algum.
Aos 18 seguimos viagem por bom rÍo; passámos por dois
córregos á direita.
Aos 19 seguimos viagem por bom rio, e ao meio-dia
chegámos á barra do Hio-Preto ; entrando por elle chegá-
mos no dia 20 ao porto aonde embarcámos quando des-
cAmos.
Aos 23 descarregámos.
Aos 33 marchámos para o arraial do DUmantioo.
Aos 24 pelas 7 horas da manbã entrámos pelo dito
arraial.
Todos os senhores qne quizerem frequentar esta nave-
gaçSo devem partir da villa de Santarém em priacipios de
Maio, em razão de passar as cachoeiras e bailios da entrada
com o rio ainda cheio, o passarão com suavidade, e para
cima acharão o rio baíio, que é muito melhor. Este é o
meu parecer.
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— 1S8 —
RESUMO ANALTnCO
DOS LOG&RZS HAIS NOTÁVEIS NOMEADOS NO DIÁRIO SUMIA, E
CALCHLO DE APPXOXUIAÇIO DA DISTANOA QUE PENSAMOS TBK
DESDBO POETO DE NOSSO EMBARQUE ATfi A CIDADE DO PARÁ
Do porto do Rio-Preto, onde dos embarcámos, até a foz
do mesmo no Arinos consideramos ter cinco teguss.
Da barra do Bio Preto no Arinos, até a confluência do
rio Samidonro consideramos ter vinte e cinco léguas. Os
lagares mais notáveis que existem n'este espaço são : o rio
de S. José na margem oriental, e o porto do Arraial Velho
das ant^as minas de Santa Isabel no occídental.
Da foz do Sumidouro alé a do Jeruena consideramos ter
setenta léguas. São os lugares mais notáveis doeste inter-
vallo: os rios de S. Cosmee DamiSo, de S. Wcncesláo. de
S. Miguel e de S. Francisco, na margem oriental ; e os rios
dos Pariciz, Sararé e Alegre, na Occidental; as cachoeiras
das Muitas Ilhas, Três Irmãs, Escaramuça Grande, Recife
Pequeao e Recife Grande ; as ilhas de S. Sebastião e da
Madeira ; a serra dos índios Àpiacax, e o terreno onde elles
habitam.
Da confluência do rio Jeruena ao Salto Augusto consi-
deramos ler quarenta léguas. Sfto mais notáveis n'este es-
paço os rios Três Irmãos, de SanfAana, S. Joaquim e de
S. João, na margem oriental ; os canaes das Lages Grandes,
Lages Pequenas de S. LuLz,dos Morrinhos, de S. Germano,
da Bocaina, de S. João da Barra e de S. Carlos, e as ilbas
do Arcbipelago.
Do Salto Augusto ao de S. Simão de Gibraltar conside-
ramos ter quinze léguas. N^este iutervallo, em que o rio
Jeruena corre sempre por entre a Serra Morena, estão as
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— !«» —
grandes cachoeiras do Tucarízal. de Santa Edaviges das
Famas, das Ondas Grandes, de S. Lucas Evaogelistq, de
S. Gabriel, de S. Rafael, de Santa Iria, das Três Quedas de
Santa Úrsula da Misericórdia, de S. Florêncio e do Laby-
rintho.
Do Salto de S. Simão de Gibraltar, i barra do rio Tapa-
joz consideramos ter vinte léguas. SSo os lugares mais
DOtaTeis n'este espaço a cachoeira de Todos os Santos, os
rios de S. Tbomé e dos Almas no lado oriental, e de
S. Martinho no occidenlal.
Oa juncção do rio Tapajoz aos primeiros moradores da
capilama do Pare consideramos ter norenta e cinco léguas.
São mais notáveis n'este iolervallo os rios dos Bons Sígnaes,
Creporé, Jaguai e Tapacorá na mai^em oriental, e o Tracoá
ns Occidental.
As cachoeiras das Capoeiras, Cem Canaes, das Mangabei-
ras, da Montanha, dos Feixos, do Pacoval, das Freicheíras
do Maranhão e do Tracoá. E' também digno de nolar*se
n'este espaço que, sendo n*elle o rio assaz corpulento, sejam
as ditas cachoeiras, além de muito compridas, de canaes
muito baixos, que incommodarão hastantemente a quem
subir na eslaçio das seccas com candas carregadas.
Dos ditos primeiros moradores i villa de Santarém contam
elles sessenta e cinco léguas. N'este espaço estão o lugar de
Aveiro e a villa de Alter do Chão, no lado oriental ; o lugar
da Cori, Villa Nova de Santa Ouz, villa de Pinhel, Villa
Boim e Vitia Franca, no occidental.
Da villa de Santarém á cidade do Pari contam os nacio-
naes cento e cincoenta léguas. Os lugares mais notáveis
n'Qste espaço já acima ficam indicados.
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— IflO —
TOTAL DA NATSÁAÇlo.
Eate espaço de 465 lagoas andácnos em 114 diaa, que
(■□tos vão de 14 de Setembro de 1813 em que nos embar-
cámos a 5 de Janeiro de 1813 em que chegámos á cidade
do Paxá, a saber :
Dias de viagem 83 .
Dias de falha 33
Confere . . . . 114
Dictizedby Google
— Ml —
DOCUMENTOS
Sobre a oolonla do S»ox*amonto
'Copi«dos cio Arehivo Publico)
Cópia u. iO.— Ulm. eEx. Sr. — 1. Foram presentes a
Sua Magestade oa oflicios de V. Ex. com dala de 12 e 13 de
Dezembro do anoo próximo precedente de 1773, e (odos os
mais papeis que os acompanharam. D'elles consta acbar-s^
o governador de Buenos-Ayres é testa de todas as forças,
que pôde ajuntar ; ler já passado o Rio da Praia, para a parte
da Colónia do Sacramento; dÍrÍgÍn<to-se em plena marcha
para Hoalevidéo, e de lá para o Rio-Grande de S. Pedro ; e
com a resolução, segundo todas as apparenciaa, de nos atacar
naquelles importantíssimos dominiosd'esla corda; depois d«
lerem os officiaes castelhanos cournettido nos mesmos do>
miníos, e de continuarem a comtnetler n'elles as mais into-
lerafeís hostilidades ; respondendo, além d'Í8to, com a maior
altivez e arrogância, aos repelidos, incessantes e ao mesmo
lempo inúteis proleslos, que lhes temos feito ; os quaes, em
lugar de conterem aquella soberba nação, só lhes tèm ser-
vido de assumpto para os insultos e ultrajes, com que nos
lém tratado e continuem a tratar.
2.~V. Ex. representa a consternação em que se acha,
em taes circamstancias ; vendo os armazéns d'e5sa capitania
desprovidos ; as tropas d^essa guarnição faltas de genle;o
governador de S. Paulo sem dar execução ás ordens de Sua
Hagestade, relativas aos soccorros que o mesmo senhor lhe
mandou ter promplos para passar ao Rio-Grande. E sendo
emfim muito para receiar que, determinando-se os caste-
lhanos a atacarem á cara descoberta o dito Rio-Grande, com
o seu generala testa, se lenha disposto na Europa alguma
esquadra para atacar ao mesmo tempo essa capital.
TOMO XXXI, P. I. 31
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— ieft~
3.— Nos mesmos oScios refin-e V. Ex. que, A vista de tio
evideole risco e conhecido aperto, tomara a resolução de
mandar pdr promplo o resto do regimenlo, de que j6 havia
quatro companhias em S. Paulo ; que da mesma sorte
mandara augmentar de quarenta homens, cada uma das
duas companhias de cavatlaria da guarda do vice-rei'
ficando ambas de cem homens ; e que dérs o commanda-
roenio d'eslo esquadrão ao seu ajudante de ordens Gaspar
José de Mattos, conferindo-lhe a graduação de sai^ento-mór
por commissão, durante o serviço a que era destinado.
4. — Que além d^islo tinha V. Ex. luiindado formar um
corpo de olGciaes, officiaes inferiores, e soldados Tolunta-
rios, que se oferecessem dos regimentos d'es3a guarnição ;
e que nomeara ao teneulc-coronel Sebastião José da Veiga
Cabral para passar com o referido 50ccurro ao Bío-Grande ;
conferindo-lhe V. Kx. a graduação de coronel, lambem por
commissão, doraote o mencionado serviço.
5. —Que, achando-se V. Ex. sem meios para as despesas
d'estcs preparos e expedição d'elles, que nlío admiltem de-
mora, estava na resolução, não havendo outro remédio, de
se valer do rendimento do subsidio voluntário.
6. — Propõe V. Ex. utlimamenle : que, sendo esta occa-
síàode tanto risco, e de tanta importância, e devendo con-
fiar-se a um oflicial de distinclo merecimento, e de conhe-
cida experiência, lhe lembrava mandar a dia o tenente-
general João Henrique de Bobm ; nào se determinando,
porém, fsxèl-o sem ordem d'el-rei nosso senhor.
7. — Isto é em substancia tudo o que contém os ofEcíos
de V. Ex., a que seja preciso dar prompla resposta : dei-
xando as outras particularidades, qoe n'elles se encontram,
para occasião mais oppurtuna ; e que inste menos brevidado
que a presente.
8.— Quanto ao receio, em que V. Ex. se acha, de poder
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ser «lacado por uma esquadra casteLhsaa, que se mande
da Europa a essa capital, devo dizer a V. Ex. que, ainda
que seja um principio inlubilavel, o uma máxima demoas-
Iralivamente cerla, que oeobuma sorle de inimigos se deve
desprezar, e que alé com os mesmos que parecem meuos
formidáveis, e menos perigosos, é não só prudente, mas
indispensavelinente necessário lomar as possíveis cautelas e
prevenções ; não é com tudo menos certo, nem menos in-
dubitável, que no conceito de todas as nações da Europa, 6
a castelhana a que pôde causar menos, ou nenhum cui-
dado ; e que eutre Iodas as ditas nações é sõ a portugueza,
ou para melbor dizer uma parle dos indivíduos d'ella, a
quem a dita nacâo castelhana pôde causar susto ; por não
se saber distinguir alé agora entre nós as vãs apparencias,
as oHtentações vaidosas, os termos pomposos, e as hipér-
boles do real e effeclivo poder d'aquella nação.
9. — N'esta inlellígencia é preciso que V. Ex. considere,
que uma esquadra armada na Europa com sulGcientes forças
para atacarem essa capital, é objecto, que nem a cõrle de
Hadrid pôde, nem jamais se ha de atrever a emprebender
por sí só. E u'esta certeza (enaquanto d'esla cArte não tiver
T. Ex. avisos em contrario) sirva-lhe de regra, para poder
fazer mais livremente as suas disposições, o que ji lhe referi
de ordem de Sua Mageslade nQ § 5* da carta que lhe
dirigi com data de 20 de Novembro de 1772, concebida nos
termos seguintes :
10.— « N'esta intelligencia, e á vista da desconfiança que
« V. Ex. refere de ser atacada no dito Bio-Graode, o que
« unicamente lhe resta a fazer é preparar-se para a defensa :
« lendo a certeza de que achando-se esta cõrle em perfeita
« iolelligencía com a de Londres, e não lendo cousa alguma
« que receiar da de Versalhes, a única nação que presen-
« temeste o pôde ioquielar é a castelhana ; e esta (bem
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- 164 —
« considerada a sua silaação e circumstancias) em nenhoma
« outra parle, que nos àé cuidado, senão no Rio-Granrie
4 de S. Pedro e seus districlos. »
11. — Também V. Ex. deve ter por principio indobitawi,
que o motivo porque a mesma nação nos (em sido tão in-
commo<)8, tão pesada, e tão fatal n'aqDelles dominios porlu-
guezes, não é por conta das suas forças, nem do seu poder,
mas por causa da nossa frouxidão, da nossa pusillanímídade,
e do servil abatimento com que sempre sofTremos as suas
arrogâncias e os seus insultos; e igualmente por nâo (ermos
tomado com aniicipação as medidas necessárias, próprias
e elBcazes para lhes resistir.
12.— Fundado n'esteâ princípios, logo que chegou a cs(a
cftrte o carta de V. Ex. com data de 5 de Haio de i772, que
começa petas palavras— O governador e capitão general — ,
na qual V. Ex . referia o receio em que ficava de ser atacado,
e as disposições militares que linha feito: houve Sua Ma-
gestade por bem approval-as todas, accrescenlando a ellasas
mais, que constam da sobredita carta de 20 de Novembro.
13. — Presentemente approva o mesmo senhor as que
constam dos §§ 3° e j*, acima referidos ; e igualmente <\m
V. Ex. se sirva do subsídio para as despezas de todos estes
serviços.
14 —Ao governador e capitão general da capitania de
S. Puuio, e ao brigadeiro José Custodio de Sá e Faria, houve
Sua Magestade por bem que eu escrevesse as duas cartas de
oHicío, de que ajunto aqui as cópias, para que V. Ei. fique
entendendo quaes são as ordens ulteriores, que o mesmo
senhor mandou dirigir áquella capitania, com as quaes ces-
sariam as duvidas e contestações, que alli se lèm suscitado,
relativas aos soccorros com que ella deve assistir a Viamão e
Bio-Grande.
15.— .4' vista d'eslas disposições militares conslaráõ as
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forças d'8<iuetles donainios, perlenceDies ao pratmo pau •
de am regimgnto de dragôos, que no seu estado completo
moota em quatrocentos cavsUos ; de quatro companhias de
iropa ligeira auxiliar, de cíncoenla homens cada uma, duas
de pé e duas de cavallo, Tazendo as quatro dozentos benaenat
e de qualrocentos homens de infantaria, com exercicio de
arlilheria : montando estas forças pertencentes ao próprio
paiz de ViamSo e Rio-Grandede S. Pedro, segundo as re-
lações de V. Ex-, em mí) homens de carallaría e qui-
nhentos de infamaria. Por todos mil e quinhentos homens.
16. — Os soccorros com que aquelles dominios porli^ue-
zes devem ser auxiliados segundo as mesmas relações, e as
ordens ulteriores, que se expedem » S. Paulo, consislírSo :
em um regimento de ínfonlaiia do guarnição d'easa capital,
de que já se acham qunlro companhias em S. Paulo e três no
Rio-Grande. Montando o dito regimento completo em sete-
centos e treze homens ; em duas companhias de cavallsria
da guarda de V. Et. augmentadas de quarenta homens,
montando ambas em cem homens ; em nma companhia de
arlilheria do Rio de Janeiro e Ires de infantaria de Sanl»-
Gatharina, tnontando as quatro em quatrocentos homeoa ;
em sele companhias da praça de Santoa.decincoenta homens
cada uma, e montando Iodas em trezenloe e ciocoenla ; em
duas divisões de paulistas, aventurei ros e caçadores, metade
de pé e metade de cavallo, montando ambas em mil homens ;
e lodos 05 sobreditos soccorros em mil novecentos e setenta
e Ires homens de pé e seiscentos de cavallaria, os quaes
juntos á Iropa nacional de Viamão e Rio-Grande fazem dois
mil quatrocentos e sessenta e ires homens d? pé, o mit e seis -
centos de cavallo; e ambos quatro mil e sessenta e Ires
combatentes.
17. — Para que estas íirças sejam formidáveis, oponham
em perfeita tranqnillidadeo s^urança, nSo ló a parte aeri-
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dMMÍdi Amenea PortugMflM. ma» aiMcapilale Iwtft o Bw-
sil, épreoísodar-lhfla um chefe ; eeste ordena Sua Magmlads
q«e''Be3a e teneste general João Henrique de Bobs, o
qiul deve pasMr logo a Viamáo para examioar e reconhecer
l«dos squelles distrútot; e depoia de ver e observar D'etles os
logaree, peslos e paasagenB mais importantes; eacolber um
sitio vanlajoao e forte, eoi que possa unir as sobreditas for-
ças; formando d'ellaa um pi' de eiercilo, e eosinando-as a
se formarem em batalha, e a todos oe outros movimentos e
manobras da gaerra : dirigindo d'alli oa postos avançados e
todo o mais serviço militar, que se deve praticaf n'aqiKltes
diatrietos ; observando os movimentos dos castelhanos ; e
vendo, se com a presençA das nossas tropas se abstém de
commetler as hostilidades, que até agora t£m praticado.
18. — No caso de as continuarem ou de íazerum disposi-
Ções, por onde se veja que persistem na resolução de nos
atacar ; e depob de exbauridos todos os meios suaves de
novos e reiwtidos protestos ; e depois de desenganada o dito
general, de que elles nfio produzem algum effttilo : em tal
G«so, não havendo outro recufio mais que o da força, e con-
sistindo n'elU a natural defensa de um iryusfo aggressor,
prooorarA o mesuio general de prevenir o seu ioimigo, ala-
Gando<o por tode a parte onde o encontrar, e bzendo as pos-
síveis diligencias pefo desbaratar e destruir.
19.— De sorte que,aiileB de se recorrer ao extremo reme*
dio das armas, é indispensavelmente necessário buscar
aqnetles meios suaves que a prudenria e a moderação ins-
pira , pata que os castelhanos desistam dos seus insuportáveis
procedimentos e injustas pretenções ; mas se equella so-
berba, vaidosa, e de nenhuma sorte reductavel nagão persis-
tir D'ellas ao ponto de nos vermos na forçosa necessidade
de tirar a espada, é preciso que ella Dão «olte á bainha, em-
quBlo boNver cuteíbanos nos dislríotos d^equella fronteira.
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— MT -
E M • Pranéfloda abugotr a joitiça da DOMa oauu. com
um golpe deósifo, poâeiemos levar aa Douaa ariMs vieto-
rnus até & mai^m MptenlrioosL do Rio da Prata e Gelooia
do Sacramento.
20.— Para acoupaobar o sobredito general são iadispea-
savelmeDte necessários pelo ateoos dois engeobeiros, e um
delles deve ser o brigadeiro FunUs, que tem grande conhe-
ciaoeDlo do trabalho de reduclos, de relrancbameolos, e de
outras obras, com que em rasa canapaDha se fortiScam a«
tropas 1108 seus acampaioenlos, ou dos portos e passos im-
portantes, que ó preciso guardar e defender.
21 . — Alóm d'eate serviço, é preciso que o dilo brigadeiro,
loge que cbegar áquelles districtos, passe i fortaleza do
oorte do Rio-Grande, e tire uma planta d'olls, com todea a^
eiplicações da sua forço e do estado era que se acha ; indi-
cando ne mesma as obras de que poderi precisar, com um
orçamento da sua importância.
22.— Que ao mesmo tempo faça outra planta de uma nova
fortificação accommodada á capacidade do terreno, e i defesa
do porto, coro o orçamento do seu custo : e logo que as ditas
plantas estiverem concluidas, V. Ex. as remetterá a esta se-
cretaria d'Eslado, para serem prosenles a Sua Magestade.
23.— Em ncnbum caso deve V. Ex. permiltir, nem lole-
rnr que os castelhanos nos fechem a entrada d'aquelle porlo,
nem que visitem n'elle as embarcações porluguezas. ou em-
baracem a sua livre navegação ; mondando V. Ex. guarne-
c£l-u com um sulGcienle numero de peças de arlilheria de
grosso calibre, para proteger as ditas embarcações, e repellír
a força com a força ; usando olém d'islo de represálias e de
lodos os mais expedientes, que alli se praticarem contra elles.
Deus guarde a V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda,
22 de Abril de ITJU.—Martiuho de Mello ; Castro.Si.
Marquez do Lavradio.
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Cóf)ia,fertent>ea9offkio aãman.ÉO.—VwMa presMiesa
Sm Hageslsde as relações de V.S. com datas de 8 e A de De-
MoAro de 1772 em respostas das cartas que Ibe dirigi com
data do 1* de Outubro de 177t- E igualmente viu o mesmo
seobor as oalras relações de V. S. com dala de U de Abril
de 1778; e o papel intitulado Notas, em resposta da carta,
qae também lhe escrevi com data da 20 de Novembro de
1772. E reservando para ootra occasião dicer a V. S. o juixo
que aqui se fez sobre os extensíssimos, dispendiosos e impra*
ticaveis serviços de que (ratam as ditas relações, lhe vou
tâo somente participar as positivas ordens de Sua Magestade
que V. S. achará no papel junio assignado da minha letra.
Deos GuardeaV. S. — Palscio de Nossa Senhora da Ajuda,
era 21 de Abril de 177á — Maninho de Me)lo e Castro. —
Sr. D. Luiz António de Sousa Bothelho Mourão.
Cóina, perfencri ao mesmo officio n. 10- — 1. — Em pri-
meiro lugar reprova Sua Magestade o projecto de se intentar
a defensa de Viamão, e do Bio-Grande do S. Pedro, por
meio de uma poderosa diversão feita aos castelhanos pelo
sertão de Igualemy: e n'este inlelligencia prohibe o mesmo
senhor a V. S. de mandar áquelle sertão tropas regulares,
nem outras fbrçss que não sejam as que vão determinadas na
carta, que acabo de escrever ao brigadeiro José Gostodio de
Sá e Faria, de qne abaixo se fará men^Jo.
2.— Em segundo logar defende Sua Magestade a V. S. de
mandar executar cousa alguma, das que se acham compre-
hendidas e disposlns no papel intitulado — Plano — e nos
que vem juntos a elle, um intitulado — hitrotlvcção Prévia —
assignado por V. S , outro marcado com a letra € assignado
pelo dito brigadeiro José Custodio de H e Faria : lendo
V. S. entendido que a nenhum d<is estebelec-imentos, ou
serviços projectados nos ditos papeis, se deve dor principio,
nem fozer para elles alguma disposição ; ainda que pareça
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ulil, MD pMcederem ordens expressas e positivas do mesmo
seiriíor.
3. — Em terceiro tugar : ordena Sua Mageslade que V. S.
oão proaiga nas expedições, e descobrimentos dos sertões
do Ivay e Tibagy, sem maadar provdvelmeote a esta secre-
taria d'E8tado relações exactas da despexa que faz cada uma
das ditas expedições, e o numero de gente que se occupa
em cada uma d'eUas. E sem que V. S. mande tirar as mais
•uetase rigorosas ioformações do comportamento dos des-
cobridores com os índios; e se n''estas entradas se \éta obser-
vado religiosamente as leis e ordens de Sua Mageslade rela-
tivas ao systema de bumanidade, brandura e mansidão,
coffl que os mesmos Índios devem ser tratados. Remeltendo
V. S. ígoolmeute as ditas informações a esta secretaria d'Es-
lado, para o mesmo senhor resolver sobre ellas o que fAr
servido ; sem que V. &. disponha, ou adiante mais cousa a
respeito dos ditos descobrimentes, emquanto não receber as
reaes ordens para os proteguír.
i. — Em quarto lugar: que V. S. não promova, nem dis-
ponhi, nem intente por sgura outro algum serviço n'e8sa
capitania, que não seja : primeiro, o da conservação do
domínio, e posse, em que nos achamos no dislriclo e sertão
de Igualem; ; segando, o dos soccorros para Viamão e Bio-
Grande de S. Pedro, regulaado-se em um e outro serviço na
forma seguinte :
5. — Quanto i conservação do dislriclo, e sertão do Igua-
íeiay : que V. S. mande vir á sna presença o brigadeiro José
Custodio de Si e Faria, e lhe estranhe no real nome de Sua
Hageslade o seu reprovado comportamento, em se dilatar até
o presente n'e6sa capital contra as expressas e positivas
ordens do mesmo senhor : f«zendo-o V. S. partir immedia-
lamente paia o lugar do seu destino, o que Q''elle execute o
que se lhe determina na earta que acabo de lhe escrever,
TONO XXXI, P. I 22
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— no —
de que junto sqoi a cópia ; e igaalmenie o q«e referi s T. S.
nos parBgraphos accusados aa mosma carta : fazendo o d»to
Jobé Custodio relações exactas de todas as soas obsnvafOes
e disposições, no referido sítio ; a« quaes V. S. mandará a
esta secretaria d^Eslado, nos preprioa originaea, para seren
presentes a Sna Hagestode, e para o mesmo se^r resolver
sobre ellas o que f&r mais conforme ao seu real serviço.
6. — Quanto aos soccorros para VíamSo, e Bio-Grande de
S. Pedro; pareceram a el-reí nosso senhor muito justas aa
reflexões de V. S. sobre os inconveaienles de se mandarem
marchar dois, ou três r^mentos de a uxilíares par» fora
d'essa capitania, visto serem os ditos regimentos na maior
parte formados das príncipaes cabeças das familias, e de
homens casados e estabelecidos : sendo certo que esta qua-
iidade de tropa só é boa e útil para se e mpregar no próprio
paiz, guarnecendo os postos e lugares d'elte, onde nSo só
defendem os mesmos postos e lugares, mas também aa suas
casas e familias, que é o maior estimulo, para se compor-
tarem como devem: e n'esta oortsideroçSo ordena Sua Hages-
tadeqaeos referidos corpos sejam unicamente destinados a
este serviço.
7. — Para os soccorros, que hâo de paasar a Tiamão e
Rio-Graode de S. PedrO, éa mesiao senhor servido; Que
V. S. mande recrutar, completar e juotar as sete compa-
nhias de infantaria da praça de Santos ; suppríade eon aoxt-
liarM 09 postos que se acharem guarnecidos com destaca-
mentos da dita infantaria.
8. — Qne estas companhias assiro juntas e completas vio
(ornar o seu quartel no mesrai> sitio em que se achar o corpo
de tropa da guarnição do Kio de Janeiro ; e que depoú de
se TOsUrem e armarem, com os oniformese armamento, que
até agora dío tinham, e que já se remelloram «essa capi-
tania com este mesmo âm. sqam as refwidas companhias
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- irt —
ezerciUdas « diaeiplioadas {«los offidMs do Duncúnadcf
corpo ds goaraição do Bio de Janeiro ; e que eete e aquellas
se maadem prover de todo o necessário, e se ponham promp-
las para paasareui a Viamão ou ao Bio-Grande, logo que
forem requeridas pelo coaomaadanUi eu chefe d'aquQlIes
districtos.
9.— Além da sobredila iropa regular, sendo presenles a
el-rei nosso senhor as relações que V. S. reraetleu a esta
secretaria d'Eslado com data de 9 de Dezeoabro de 1772,
do numero de habilaafes dessa capitania; e vendo-se n'ellas
que a classe dos homens livres monta eu trinta e seis mil
e seiscentos e oitenta e seis ; e que a dos escravos monta em
vinte e um mil novecentos noventa e dois, fazendo ambas
o Dumero de ciacoenta e oilo mil seiscentos setenta e oito
homens, sem contar mulheres livres e escravas. Entendendo.
Soa Mageslade que, sem algum inconveniente nem prejuízo
da cullura ou das Tanailiasase podem tirar da primeira classe
mil homens de' armas, forlet e robustos, metade de pé e me-
tade de cavallo, que seja o maior numero d'elles que fór
possível-
10. — Estes mil homens se dividirão em dois corpos
iguaesíumque se deveimmediatamentepdrprompto, armado,
e provido de todo o necessário, para lambem marchara,
Viamão ou ao Bio-Grande de S. Pedro, logo que íòr reque-
rido pelo commandante em chefe d'aquelles districtos ; outro
que deve estar alistado de sorte que se possa ajuntar no pre-
ciso (ermo de oilo dias, o mais tarde, tomando-se de antemão
as providencias necessárias para que lambem este corpo
marche logo que fâr requerido na forma ecima indioada.
11.— K indispensavelmente necessário, que para os re-
feridos dois corpos escolha Y. S. entre os paulistas alguns
mogos mais desembaraçados, das familias mais dislinctas, e
de cMwbecida fidelidade, dando a cada umocommanda-
D,:„l,;ccttvG00gIC
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mento de cento e ciocoenta ou duzentos boroens ; qoe-elles
escolham, por esta vez somente, os seus officiaes, e que se
encarreguem igualmente da da tropa, qne quízerem ou po-
derem levantar ; suppríndo V. S. com recrutas a gente que
lhes fàUn para o referido numero.
12. — Os ditos mil homens de pé e de cavallo devem ser
annados na fórmn que elles mesmos quízerem, segundo o
seu uso e costume, deitando-ihes igualmeate livre a forma e
melhodo particular qoe tém de fazer a guerra de surprezas,
de emboscadas e incursões no paiz inimigo ; assegurando-
Ihes V. S-, no real nome de Sua Magestade, que tudo quanto
pilharem no dito paiz inimigo será seu ; que ainda as armas
lhes serâo compradas pelo seu justo raior; e que pelos tro>
phéos que lambem tomarem se lhes darSo compensações
proporcionadas i qualidade d^elles; além dos prémios com
que serão remuneradas as emprezas difficeis e a intrepidez dos
que mais se distinguirem n^ellas. *
13.— Este corpo, porém, pars se tirar d'elle toda a van-
tagem do seu mesmo methodo e uso de combater, precisa ter
alguma luz das principaes manobras com que as tropas ir-
regulares se fazem redutaveis aos inimigos, assim em dia de
acção» como na pequena guerra ; e lendo o marquez de La-
vradio exercitado as duas companhias da sua guarda a esta
qualidade de serviço, e acbando-se no Rio de Janeiro o tc-
nente-general JoSo Henrique de Bohm. que conhece per-
feilamenle. assim pela sciencia como pela pratica de muitos
annos de viva guerra, todo o partido que se pôde lirar de
semelhante Iropa, deve V. S., sem alguma perda de tempo,
ajustar com o dito marquez o modo de a disciplinar na forma
acima indicada, ou mandando elle alguns olGciaes a esse
capitania, para o referido eiteito ; ou fazendo V. S. passar
ao Rio de Janeiro, com o mesmo fim, alguns paulistas, que
liver destinado para commandantes, ou por outro qualquer
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arranjamcato qtw parecer fiais prompto, brera «oppor-
tuno.
14. — Os dois corpos de iolaDlaría do Bio de JaDeiro e da
praça de Santos, e a prímeira divisio dos quinhentos pau-
listas, que hão de estar promptos a marchar ao primeiro
sfiso, se devem juntar nos lugares que parecerem melhor
situados, e quedftm mais facilidade á tropa para chegar com
3 possível brevidade ao campo ou aos postos que lhes forem
destinados.
!&.— O porto de Santos parece o lugar mais próprio para
se jantarem os dois corpos de infonlaria acima indicados;
não só porque n'etlo se podetn embarcar com Ioda a facili-
dade e segurança, mas porque com a mesma podem levar
a orUlhería, munições do guerra e bagagem, e transportada
a Santa-Catharina ou villa Ha Laguna, que dista de Víamão
dez dias de marcha unicamente, sendo alam d'islo lodo o
caminho entre Laguna o Viamão excellente, e de praias
limpas, como refere o brigadeiro José Custodio.
16.— A vitia das Lages, que dista vinte léguas de Santa
Catharina, e quarenta de Viamão. como refere o engenheiro
Montanha, também parece iadispulavelmente a mais própria
para alli se juntar a primeira divisão dos paulistas : sendo
certo que estas expedições, feitas ao mesmo tempo por mar
e terra, são mais breves e mais commodas, principalmente
havendo arlilheria a transportar, e podendo o commandanie
em cbefe de Viamão e Rio-Grande fazel-s conduzir da refe-
rida villa da Laguna, por bois e cavallos, de que abundam
aqueltes dislrictos, r dar ao mesmo tempo as necessárias
providencias para a marcha da tropa aquartelada nas
Lages.
17.— Descobrindo-se, porém, outros lugares mais hem
situados que os referidos, e que correspondam melhor ao
ãm que se procura, esles se devem preferir; comtanto, po-
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rto, que «ia saowlkaala oMleria não luja roais duvidis,
neoa questões, e se assente de uma vez no que fôr mais útil
e vantajoso ao real serviço.
18.— Para a escolha do mellMr sitio em que as tn^s se
junlMB, BÃo deve servir de embaraço o reprovado e mal en-
leadido rsoeio do ciúme, que a proximidade d'ellas poderá
causar aos oastelbauos, porque nem Sua Hageatade leta
que dar aatisEações do que manda praticar nos seus domiaios,
nem ba outro remédio senão o da força, que se possa oppAr
ás violências, depredações e hostilidades que os dilos caste-
IbmoB estio praticando no Bio -Grande, depois dt exbanri*
dea da aoasa parte todos os meios suaves e pacificoa, que
até agora se lhes lém epplicado, de repetidos, inoessaotes e
multiplicados protestos, que não teta servido de outra cousa
senão do aos provocarem, e ultrajarem cada vez mais com as
suas iaaultoiítas respoMas. acompanhadas de repetidas e ma-
nifestas hosliiidadeB, que visivelmente se dirigem a nos lan-
çar fora d'aqueUes importanlissimoí domiaios da coroa de
Portugal.
19. — Estas eão emtia) as ordens que el-rei nosso se-
nhor é servido que V. S. execute, sem duvida, réplica ou
contestação qualquer que ella seja, e sem a menor perda de
tempo: avisando V. S. ao marquez do Lavradio, vice-rei
do Brasil, de tudo o que obrar, para elle combinar as dis-
posições feitas n'essa capitania, com o serviço e operações
militares que deve mandar praticar em Viamão e Rio-Grande -
de S. Pedro.
20.— Ultimamenlo devo prevenir a V. S., para seu go-
verno, que no plano de defensa d'aquelles domínios portu-
guezcs, approvado e mandado executar por Sua Magestade,
entram como porte a mais essencial os soccorros de tropas
do caçadores e de homens do atmas que de presente se em-
pregam, o do futuro Sti hão de empregar d'essa capitania, a
DictizedbyGoOJ^IC
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qual ba de fornecer a gente ; e a real bEenda iMíaltr^Ih*
com os meios, na Mraia que em outra oceasião Ibe puéct-
parei mais cireamstanciadameote. E D'esta diligencia date
V. S. ter entendido, para que se acabem de uma vez as du-
vidas e contestações que até agora se tém agitado em gravia-
stmo prejuízo do real serviço, e com maoifesla tranigressã»
das reaes ordens.
Si .—Em primeiro lugar, que Sua Hagastade esUma muito
mais a perda de uma só légua de terreno na parte meridio-
nal da America Portugueza, que cincoenta léguas de sertão
descobertas no interior d'ells.
23. — Em segundo lugar, que, ainda que os ditos descobri-
mentos do sertão fossem de um inestimável valor, a todo o
tempo se podiam e pitdem proseguir ; e que a parte meridio-
nal da America Portugueza uma vez perdida nunca mais se
poderá recuperar.
23 — Gm terceiro e ultimo lugar, que n'e^ certeza não
deve V. S., sem expressas ordens de Sua Usgestade, divertir
por agora os rendimentos e foculdsdes d'essa capilaaia, oem
empregar os seus habitantes em outro algum serviço, que
não seja por uma parte o da conservação do Yguatemy,
na forma que se acha disposto do § 5* acima referido :
e por outra parte no da defensa, preservação e aegurança
de ViamSo e Rio-Grande de S. Pedro, pelos meios e modos
que ficam acima indicados, desde o § 7 até o IS inclosíva-
mente ; e pelos que depois d'elles se irSocoamiuiiicando a
V. S., segundo a ezigencifl dos casos e á proporão que as
pircumstanciss o pedirem.
Deua guarde a V. S.— Palácio de Nos» Senhora d' Aju-
da, em 21 de Abril de 177A. — Jfar(i«Jií> de Mello e Ceitro.
Sr. D. Luiz António de Sonsa Botelho Mouião.
C(J}wi, jifi-leiíee •> offião achno n. /0.— Para José Custodie
de Sé e Faria, em 2t de Abril de 1772.— Em caelt do 1*
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de Oatobro de 1771 parliúpei a Tm.: Que el-rei oosso
senhor eraserfido, queVm> passasse ácapiunia de S. Paulo,
onde o goTernador e capitão-general D. Luiz Aulonio de
Sousa Moaráo Ibe commuaicsría as ordens de Sua Hoges-
lade, para que Vm. as executasse, sem alguma perda de
tempo, ^mmediatameole depois da sua chegada áquella ca-
pitania.
Não ignora Vm., que as ordens, que o referido gover-
nador lhe participou, como detia participar, nas diíTerentos
conferencias que com elle teve, consistiram e consistem : em
que logo que Vm. chegasse á cidade de S. Paulo, sem se
. dilatar n'ella mais, que o brevíssimo tempo que lhe fossein-
dispensavelmenle necessário, para ajustar com o mesmo go-
vernador os meios mais commodos e promptos de se concluir
a fortificação do pequeno forte chamado dos Praseres, no
caso de parecer útil a continuação d'esla obra, partisse Vm.
immedialamente depois psra o sitio de Ygualemy, e, tomando
commandamente de todo aquelle dislricto, o defendesse até
a ultima extremidade, se n'elle fosse atacado: pondo-se
Vm. psra este effeíto A testa de um corpo de paulistas ser-
tanejos e homens de armas escolhidos, dirigiodo-os com a
sua experieocís, e animando-osoom o seu exemplo, a se op-
p6rem com firmeza e resoluçSo a todas as incursões, que os
castelhanos intentassem fazer por aquella pnrte, rebatendo-os
por meio de emboscadas, de ataques e defensas nos passos
estreitos, e passagens de rios ; de incursões no paiz ini-
migo, e por todos os outros modos e artiflcios, com que se
costuma fazer vantajosamente uma guerra de posto e de chi-
cana, para s qual (em um paiz de sertão, como o de que se
trata) são os paulistas os mais fortes, os mais destros, os mais
infatigáveis e os únicos e melhores combatentes, priocipal-
menle sendo bem conduzidos e bem commandados ; e para
que além do referido serviço executasse Vm. tudo o mais
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qoa lhe kA determinado nos ^ 16. 26, 27, 28, 29, SI , 82,
33 e 34 da carta dir^da ao goTarnador e capilio-geaeral de
S. Paulo, com data do 1* de Outubro de 1771, debaiio do
n, S*.
Não só pelas sobreditas cortas e paragraphos lhe foram a
Vm. intimadas as positivas ordens de Sua Uagestade, para
logo passar ao sitio do Yguelem; immedialaoieDle depois (ja
sua chegada a S. Paulo, mas estas mesmas ordens lhe foram
muito circumslanciadamente repetidas na outra carta ins-
truclÍTa com data de 20 de Novembro de 1772, dirigida ao
sobredito governador, e que eite tnmbem participou, como
devia participar, a Vm.
Carta na qual depois de se Iralar desde o §1* olé o §7*
da serra do Haracajú, e do qae Vm. ollí devia praticar,
continua na oilavb regra do § 8*, e depois d'e)ta nos §§ 9,
11, 12 e 13 na maneira seguinte:
« E n'esla intcltigencia ordena Sua Magestade, que V. S.
depois de ter conferido com José Cuatodio de Sá e Faria na
fúrmfí qiie já lhe foi determinado, o faça partir jwrn o Ygtta-
ifint), acompanhado de um snflícienle corpo auxiliar de
paulistas, que oile mesmo escolher; e que em elli chegando,
faça na serra do Msracajú os exames que ficam acima indi-
cados. »
« Que examine igualmente o estado em que se acba a
praça dos Prazeres, assim pelo que respeita á sua fortifica-
ção, como ao sitio em que está construída ; que utilidade
podeoQos tirar da dilo praça no mencionado siiio. e se será
equivalente á despeza quo já temos feito e que ainda fsre-
mos, assim com a sua construcção, como com b tropa, arti-
Ibéria, munições e petrechos de guerrj, com que a havemos
de guarnecer. E se esta fortaleza nos pdde facilitar a com-
municação com o Paragcay (pelos rios YpBDemin;, Ypane-
guassú ou outro qualquer que desflgue no dito Paraguay. »
TOMO XXXI, P. I. 23
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« Serú miiis ulil. em lugar ds meaoioDada pnçt Mbra a
rio Ygaatemy, de dos reconceotrar-aM mais para a parle do
Paraná, e fortiScaroM» a niargem esquerda deste rio, eua
parte livre de doenças, cobríado assim inelbor os sertões do
Uty e Tibagy. »
« Estas « outras semelhanles observações são iadispeii-
savelmente necessárias, anles que entremos no empenho de
fortificar um sitio distante mais de duzentas l^uas da capi-
tania deS. Paulo, de difficit occesso e de grande despesa,
sem sabermos a utilidade que d'elle nos pôde resultar. »
« Os exploradores que V. S. mandou Aquellas paragens
Dão tiabam nem podiam ter o conbeciutento necessário para
faierem os sobreditos exames ; e por este motivo é que José
Custodio foi mandado a ellas. »
«Logo que o mesico José Custodio tiver concluído as
suas relações sobre cada um dos objectos acima indicados, as
deve V. S. sem alguma perda de tempo remelier a esta se-
cretaria d'Eslado ; e sem adiantar nem fazer cousa alguma
sobre a serra, ou passo do Maracajá [excepto no caso de
um ataque na forma acima referida), esperar as determina-
Çõcs de Sua Magestade a respeito doeste importante e deli-
cado artigo. »
Estas são as ordens que em 1771 e em 1772 seremellé-
ram a Vm. e ao governador e capitáo-general da capitania de
S. Paulo, relativas á prompta e instantânea partida de Vm.
para o sítio de Yguatemj'; e quando Sua Uagestade esperava
a exactíssima observância das ditas ordens, e as relações do
que Vm. tivesse executado no referido sítio, em virtude
d'eUas, appareceram a'eáta cdrte successivos avisos d'essa
capitania, dos quaes consta que Vm. não só não tem execu-
tado até o presente cousa alguma do que Ibe foi incumbida,
mas que, lendo cb^do i cidade de S. Paulo em 12 de Ju-
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- *7ft —
Ibode 1772, ainda » achava na masma cidade em os fias
de Dezembro da 1773-
Este iaesperado e reprohensivel comportamento, e os sog-
geridos e affeclados e temerários pretextos, com qae até o
prosenle se lem ílludido as positivas ordens d'el- rei nosso
senhor, lhe manda Sua Magestade estranhar muito severa-
mente: devendo Vm. ler entendido que, ainda que en
lugar dos ditos pretextos assistissem a Vm. as mais solidas
razões, nenhuma o poderia escusar da indispensável obri-
gação de partir immed latamente para o sitio que Sua Hages-
tade lhe destinou, e de requerer de lá o que tivesse de
representar.
N'esta inlelIígeDcia é o mesmo senhor servido, que ímme*
diatamente depois da chegada d'esta carta a esM capitania,
parta Vm. sem a menor perda de tempo para o referido
sítio de Yguatemy. levando na sua companhia os dois alfe-
res com que sabiu do Rio de Janeiro, para o ajudarem, e
alguns olGciaes ou pessoas que abi se acham, e que tdm
príncipios da geographia, como se vè das cartas lopographi-
cas que o governador e capilão-general tem remettido a esta
cArte.
Que igualmente leve um pequeno corpo de paulistas ser-
tanejos escolhidos por Vm., e de nenhuma sorte tropa
regolar, que Soa Hagestade tem destinado a outro servido,
excepto alguns artilheiros (jue sirvam para ensinar aos ditos
pbutistas o uso e pratica da artilheria-
Que com este pequeno corpo emfim junto aos destacamen-
tos que por differenies vezes se tém mandado áquella fron-
teira, e com cento e tantos homens de armas, que ultima-
roenle passaram a ella commandados pelo capitão Jos4 Gomes
de Goovéa, paulista desembaraçado e inlelligente, como
refere o governador e capitão-general , execute Vm. as
ordens de Sua Hagestade na forma que acima lhe vio
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— 180 —
b-anscríptas, sena accrescenUr, dimíauir ou nlterar cousa
alguma d'el1ns; emquaalo o mesmo senhor á visla das rela-
ções e mappas que Vm. deve remetter, na conformidade
dos mesmas ordeus, não determinar o que lhe parecer mais
coDieDÍenle ao seu real serviço.
Escuso de <líier a Vm. que um dos objeclos mais im-
portanie, e que mais pôde contribuir fiara a defensa, e se-
gurança dos domínios de Sua Mageslade, que Vm. vai
commandar, é o de procurar espias seguras no {míz inimigo,
e que os parochos, curas e frades castelhanos, sempre forim
os mais aptos, e os mais promplos para o exercício doeste
ministério, logo quo sentem algumn conveniência. E n'esta
intelligencia deve Vm. fazer as possíveis diligencias por
conseguir esta grande vantagem ; ua certeza de que se lhe
abonará qualquer despeza, que Ihefór preciso fazer com ella.
Deus guarde a Vm. — Palácio de Nossa Senhora d'Ajuda,
em 21 de \bril de 1774. — Martinho de Mello e Castro.
COPIA . — Carta régia, qu» contém o pltno poder e ampla
faculdade para o Illm. e Exm Sr. marquez do Lavradio
repellir e propulsar no seu próprio nome Ioda» as vÍo-
Ifficias do goiemador de Buenos-Àyret, e executar tudo
o mait fjue lhe vai ordtnado pelas instrucções expedidas
r- astignadas pelo Illm. eExm. Sr. marquei de Pombal.
Duas cartas de instrucções ifue contém o espirito da so-
bredita carta régia, estabelecendo lodo o syslema da exe-
cução d'ella, e da defesa e restauração dos dominios do
sul ; e approvando tudo o que até agora se ttm determi-
nado.
Cópia n. tS — Honrado marque/ do Lavradio, vice-rei e
capiíao-general do mar e terra do Flslado do Brasil.— Amigo.
Eu el-rei vos envio muito saudar como aquelle que prezo.
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- 181 -
Teodo esla minha carta por priacipal assumpto a cunãrmatâo
dai seis ioslrucçOes, que com ella serão, e que no mesmo dia
do hoje VG3 mandiíi etpedir pelo marquez de Pombal, do mau
conselho <l'Cstado; piraquu. nlo obslaDle quaesquer luis,
regimentos, alvarás, proviiões, ou ordoos em contrario, sqam
por v6j tio eiactamenle compridas, citmo se fossem pela minha
pmpría mSo assignadas, en'ella3escr>plas as mais exuberantes
dausulas ilerogatorias du todas as sobreditas disposições. E
nio permitlindo já a iiiAxorave) e incorrigivel obslinaçèo do
despotismo, com (]\i'i o ca pila' «general de Buenos^Ayros, per
si s seus oSiciíes militares, lem ncuumulado pela sua particu-
lar e pessoal 8ulorid.ide altentados á atlenlados, insultos á
insoltos, e usurpações á asurpaçães, dentro dos meus incontes-
iBTeis (lominiiis e territórios d'elles, de cuja consenaçèo, pro-
teeçio o defesa vos lenho encarregado ; que ao mesmo tempo
no qual elles, gpaeral hespsnhol e seus officiaes, oEfuadem
com táo desmedida e insólita liberdade, se acba a defesa na-
tural com que 03 deveis repelltr ; limitada e reetricta a pouco
mais que protestos, e ouiros actos verbaes, que as ultimas ins-
IrucçOes dadas pelos sobreditos em trinta do Outubro do aono
próximo precedente ao capítío D. António Gomes , gover-
nador dos jiovoE do Uruguay, fizeram claramente vér que niu
slo já de efleito algum : me pareceu autorisar-Tos, como por
ell.i vos BUtoriso, com todo o pleno poder e com todas as
amplas faculdades necessárias, para que i mesma imitaçáu do
que se tem praticado com o vice-rei da Indis Oiienlal a res-
peito dos régulos confinsnles, hajais de obrar e fazer executar
debaixo do vosso próprio nome tudo o que julgareis que ó con-
veniente para repeliires a força contra os insultos com que os
referidos general de Boenos-Ayres e seus officíaes têm rom-
pido a paz e usurpado os meus domínios do sul ; itó que, na
conformidade dos artigos vinte e ume vinte e três do tratado
da paz, celebrado em Pjrix a dez de Fevereiro de mil setecvntos
Dictzedby Google
— 182 —
■ e Ires; «Mn execuçiò do decreto firnudo em nova de
Junho do mesmo inno por eUrei calbolico meu bom irmSo e
cunhado , sejam os meus dilos doraiaios repostos no mesmo
esUdo em que se achavam antes das hostilidades que n'elles
cummetlaram (u haspanbóes com a occasiAn da ultima guerra,
qie osssoa pelo sobredito tratado o consequente decreto que
a elle se seguiu. E nSo cabendo, nem na credulidade, que da
religífto da carte de Madrid pudessem sahir ordens que des-
sem motivos aos bárbaros insultos e aleivosas usurpações dos
sobreditos general de Buenos-Ayreseseus officiaes ; nem no
decoro do meu caracler r^o, que no meu real nome se con-
tenda com uns meros particulares, quaes sèo todos os sobredi-
tos ; ao mesmo tempo em que o preito e homenagem que
jurasleis nas minhas reaes mios, e a indispensável necbssidade
na natural defesa, sáo títulos bastantes para legitimareâ todos
oa factos concernentes á conservação dos teirtlorios, e á paz
publica dos vassallos d'elles, que oonRei ao vosso governo a
prolecçfto. Farei expedir, debaixo do vosso mesmo nome,
todas as ordens que necessárias forem para os ditos efteitos em
todas as ocoasiões em que (orem precisas : confiando esta
somente ao governador àn S. Paulo, ao tenenle-goneral Joíio
Henrique de Buhm, e aos márechaes de campo, com a ordem
de a conservarem no mesmo inviolável segredo com que a de-
veis gaardar DO vosso gabinete.
Escripta do palácio de Nossa Senhora d' Ajuda, em nove de
Julho de mil setecentos setenta e quatro. — REI. — Para o
honrwlo marquei do Lavradio.
Cópia n. 19. — Bonrado marqucz do Lavradio, vice-rei e
ca|HtÍo-general de mar e terra do Estado do Brasil. — Amigo.
Eu el-rei vos envio muito saudar como aquelte qud prezo.
Para consolidar o plano militar que mandei juntar d» vossas '
instrnccões debaixo do numero 1°, fiz expedir por uma parle
a» capitão de mar o guerra Guilherme Mack Duel a provisão
Dictzedby Google
cajá oApia ír< n'e9U carta inctasa, qae contém a oomminio
que lhe oonferi de commBndante e chefe da esquatlra, qae
vai descrípta na quarta parle do sobredito plano, E fiz expe-
dir pela outra parle as DomeaçÕes dos novos cepities-teneati»
e officiaei declarados nos decretos cujas cópias vos serAo tam*
bem coio esta remeltidis ; para lerem nhi, como ordeno
que lenham, ioda a soa devida exeeuçXo , que lhes farei
dar, como se os sobreditos nomeados apresentassem as paten-
tes por mim assignadas, qae agora nfio achei conveniente que
elles extrabissem, mas sim que alé seganda ordem minha
ficassem no segredo deste gabinete os sobreditos decretos, de
qoe ellas deviam omsnar. O referid» chefe de esquadra len
aqui mostrado eoostanlemente ser muito babil, muito zeloso do
meu real serTiiGO, muito próprio para crear escellentes offieiaes
de marinha. Tem bastantes experieDcia; adquiridas nas ulti-
mas guerras de Inglaterra cora Hespanha e França.
Aoor«sce conheça- .bem os préstimos e os merecimantos de
todos e cada ura doa officiaes da marinha, .que podem ser
mais idóneos para d'elles se conKarem os primeiros, segundos
e terceiros postos das náos e fragatas da sobredita esqua-
dra. Sobre esta certeza confiando ao mesmo ebefe de esquadra
todos os objectos do armamento d'ella ; conferindo com elle
secrelissimamenle as nomeações d'aqueUes dos referidos offi'
ctaes que se devem destinar para todas, e cada uma das
níos e fragatas da sobredita esquadra ; obrando coro o dito
chefe d'ella (com o mesmo iopeoetravel segredo) da uniforme
accordo ; e fazendo ahi publicar os sobreditos decretos, e pro-
moções n'elles conteúdas. Logo que receberdes esta passareis
t nomear opportuna monte os capitães de mar e gotirre, capi-
ties-leaentes e olliciaes que forem destinados para cada oéo,
ou fragata : nomeações que devereis fazer em portarias vossas,
que principiem dizendo :
« Que, porquanto ea em carta régia da data d'eata vos coo-
Dictzedby Google
— 184 —
o»di (oomoafledtifioieotocoDcedo) htdas u ficuldades necesu-
rias para que, tíé segunda ordem rainha, cessando as commis-
s6es que Leiaretn d'eglA c6rta os capíties de mar e guerra que
ultimamente !iahiramd'«ste porto, logo que a esse chegassem, e
formando dis respecli?aB nim o fragatas por elles commanda-
das e guarnecidas uma esqnndra naval, de que fosse com-
mandante geral e chefe Guilherme MacL Duel, encarregueis
de governar e guarnecer lodos, it cada um dos navios d'e)ld
os cspláes de mar e guerra, capitâtís-lenentes e officiaes que
achásseis mais próprios ao tempo em que ella se formar :
haveis por serviço meu nomear para capitão de mareguerra
da náoN. a N,, para segundo cspilfio de mar e guerra a N. N:
para capities-lenentes a N. N. ; para tenentes a N. N. : para
sargentos de mar o guerra a N. N. ; ele. Ordenando so sobre'
dito chefe de esquadra Guilherme Msck Duel, que por taos
reconheço os ofiRcíaes que Curem por vós nomeados na sobre-
dita fóraiB. E continuando era fazer as referidas nomeações dos
postos que succeder vagarem até cessarem as necessidades da
guerra, que n'essa parte nos lâm declarado os castelhanos com
os factos, ao mesmo tempo em que Apregoam pazes com os seus
escriplos. O que tudo assim observareis, e fareis exerular nflo
obstante quaesqaer leis, regimentos, alvarás, resoluções ou
ordens, que sejam em contrario. *
« Escripla no palácio de Nossa Senhora d' Ajuda em nove
de Julho de mil setecentos e setenta e quatro. — REI — Para o
honrado raarquez do Lavradio, n
Cópia n. 20.— lllm. e Exm. Sr.— 1. Depois dos últimos
despachos, que pelo expediente do Sr. Martinho de Mello
e Cflstro se dirigiram a V. V.x., a do que a elles nccres-
centei na minha carta familiar do dia próximo seguinte 3â
de Abril d'6ste presente anno, tem occorrido uma notável
mudança no estado das cousas.
2.— Por informações hnvid.is do Portodo Ferrol soube-
Dictzedby Google
— 185 —
mos que n'eile se armava a expedição de navios e tropas,
qae V. Ex, verá pela Primeira Parte do papel inUtulado —
Plano m^lar da guerra defensiva, com que devemos re-
ptUir a alevoosa invasão que os castelhanos vão fazer em
toda a parte do sul do Brasil por elles já aleivosammío oo-
eupada.
3. — A noticia que o governador de Buenos-Ayres tinha
doeste armamente , se vè agora que por uma parte foi a que
o animou a ajuntar todas as forças, com que ullimamente
atacoo 03 rios Pardo e de S. Pedro, pnra prevenir vanglo-
riosamente com os seus imaginados progressos a dila expe-
dição, contando sobre a desigualdade das nossas forças
n'aqueUas fronteiras. E se v6 pela outra parle, que tam-
bém foi o aleivoso motivo com que depois se retirou tão
cortezmente a ganhar o tempo necessário, para chegar a
dita eipedição, e para vir oulra vez atacar-nos com força»
superiores.
4. Sendo-me participada a informação do referido ar-
mamento do Ferrol por Roberto Watpole, enviado extraor-
dinário e plenipotenciário de S. M. Britaonica n'esta cfirte,
antes de tudo, tratei logojmmediatamenie de o instruir,
pelo que pertencia a desmascarar as iniquidades hespa-
nholas, com os dois papeis que já foram presentes a V. Ex.,
um d' elles intilolado — Desmomíroíion du Pays apparte-
nant à ta couroriTte de Portugal, qui fait le bornage mé-
riiiawxl du Brésil par le cote du, sud; et des engagemenís
que garantissent k dit bornage à la même couronne.—
Outro intitulado — Deducção, em qite se demonstram os no-
tórios objectos das perniciosas transgressões do lUlimo
tratado, com que a corte de Madrid se acha levantada com
o Rio da Prata e com toda a parte do sul do Estado do
Brasil.
5. Assim âz comprehender cabalmente ao dito ministro
TOMO XXXI, P. I. 34
;dby Google
— 186 —
brltaaioo o clarissímo direito de Sua Magesiade em toda a
parte meridioDal do Brasil ató coaduar com o Rio da Prata.
£ passei siiccessiYameate a commaaicar-lbe, e ccoferir
com elle o Compendio, que acompanliará ests, debaixo do
N. II, a do titulo — Préois d«a iraultes commiaet par Us
etpagnolí dam le md du Bréail, et demiènment por lot
faits contemu dam ks deux letlres, que Pon vient de réce-
voir de Mr. le marguia de Lavradio daítéeí du 22" et 28"*
Fevrier de ceile annie de 1774 par une fragate de guerre
et par un vaiíseau marchani, arrivét ky* dece móis de
Juin du Rio de Janeiro.
6. — Sobre todas estas prévias noções e demonstrações,
dirigi ao mesmo ministro britannicono dia de sabbado 18
de Junho a significante carta de officio que vai compillada
debaixo do n. III. A qual elle fez logo passar á sua corte
com os três papeis que a acompanharam pelo paquet-bool
que partiu no dia de domingo próximo seguinte, que se
contaram 19 do referido mez.
7.— Se pôde haver certeza nos juízos que se formam a
respeito dos negócios d'Eslado (depois de haverem mos-
trado tantas experiências que nos maiores d'elles padecem
grandes embaraços os mais consideráveis interesses públi-
cos, pelos incomprebensiveís encoutros de pequenas utili-
dades particulares), muito podemos esperar da cArte de
Londres em efTeito do referido offlcio.
8.— Primeiramente : porque nenhum ministro do gabt>
uete britânico poderá vér formar uma marinha franceza,
ou castelhana, da quai hajam de sabir expedições, como
a de qae agora se trata, sem a elU se oppõr até a destruir
com a desmedida supwioridade das forças navaes da GrS-
Bretanha, a menos que se não queira expor olé saltar a
cabeça fora dos hombros sobre um cadafalso.
9.— Em segundo lugar; porque ho pouco vimos no anno
Dictzedby Google
- 187 —
proxÍDKi preeedenia : por uma parte, que, logo qae França
preparou no porto de Toulon uma esquadra para sahir
d*elle ao mar mediterrâneo, fazendo Inglateira immedia-
•lamenle atmar um dobrado numero de náos de linha e
de fragatas de guerra, obrigou a mesma França a desarmar
logo por força as suas com uma publica retraclaçáo e in-
decência : e vimos pela outra parte succeder o mesmo
identicamente a Castella, a respeito da sua ruidosa expe-
dição marítima preparada com o declarado objecto de ir
sustentar o arrogante e soberbo atlentado, que tinha com-
metlido contra uns poucos e desarmados ingleses nas Ilhas
SfalTÍnas,
10.— Em terceiro e ultimo lugar: porque os referidos
estimulos, que picam na parle mais seosive) á altivez de uma
nação dominante, como 6 a britanniça, que ha tantos annos
senhoréa os mares, se uniram os outros motivos de inte-
resse e de cubica, que lhe demonstrei no papel acima in-
dicado, e inlitulado — Depleção, em que se demonstram os
notórios objectos das perniciosas truTisgressões do ulivtno
tratado, com que a c6rte tle Madrid se acha levantada com
o Rio da Prata, e com toda a parte do sul do Estado, do
Brasil.
li. — Motivos, digo, tão fortes e pungentes, que consis-
tem na data demonstração de que, se Hespanba uma vez
chiasse a fechar-nos o Rio da Prata, e a usurpar e pos-
suir toda a costa e sertões meridionaes do Brasil , nem os
inglezes poderiam mais navegar para o mar do sul, nem
poderiam conservar as grandes utilidades que lhes resultam
do commercío, que por este reino fazem com o mesmo
Brasil ; utilidades que se estendem a lodo o poderosíssimo
corpo dos negociantes e mercadores da bolsa de Londres ;
os quaes em tal caso amotinariam todos os povos de Ingla-
terra a pedir justiça contra o ministério, que pelos seua
D,:„l,;cdtv Google
- 188 —
particulares ialerestes deixasse arruinar aquellas suas g^aa-
des utilidades publicas, e communs a todos os ditos oego-
ciautei e mercadores, e a cada um d'elles do seu particular.
. 13. — Sobre todos os ditos Ires fundamentos se estabele-
ceu prudentemente uma provável esperança, de que a cdrte
de Loodres ba de constituir a de Madrid entre duas extre-
midades taes, como seião : uma suspender, e fazer des-
apparelhar os navios da sobredita expedição, que arma no
FeiTol ; outra obstinar-se a mesma corte de Madrid com
o espirito de inflexibilidade e altivez que n^ella domina ;
e com a enganosa vaidade com que a lisongeam ; fazendo-
Ihe crer que as suas forças navaes se acbam já formidáveis
A mesma Inglaterra ; para insistir em fazer sabir ao mar
uma grande armada castelhana, chamando-lhe Invencível,
como a que el-rei D. Filippe II mandou perecer com a
mesma denominação nas costas de Inglaterra.
13. — No primeiro dos ditos dois casos teremos o que nos
basta para destruirmos os nossos pérfidos inimigos. Por-
que, sendo os navios do Ferrol fechados pelos ingtezes
n'aqueUe porto, e não podendo por isso mandar ao Rio
da Prata mais do que alguns furtivos destacamentos, ó
cousa evidente que com as forças e meios que el-reí meu
senhor mandou estabelecer na segunda parte do dilo papel
marcado com o n. I , e intitulado — Plano militar da
guerra defensiva, ete. , haverá muito com que arruinar as
forças e medrosas tropas castelhanas, que estão usurpando
esses domínios de Sua Magestade, e com que as proseguir
e rechassar até serem obrigadas a passar o Bio da Prata
para a parte do sul.
li. — No segundo dos referidos casos podemos esperar,
que d'eUes se nos sigam as maiores vantagens ; de vermos
inteiramente derrotada e destruída a marinha castelhana;
de vermos toda a vangloriosa arrogância d'aquella nação
DictzedbyGaOgle
precipitada no desaleoto e ao abatimento, a que a costu-
mam reduzir quaesqner adversidades ; de restaurarmos
d'essas partes o que é nosso mais desassombradamente ao
favor de uma tão vigorosa diversão ; e de nos acharmos no
fim da guerra, senhores da margem septentrional do Rio
da Praia, e fortificados aa coloaia Monte-Video e Maldo-
nado, com boas guarnições de tropas e navios nas referi-
das praças eporlos d^ellas ; de sorte que em muitos annos
não passe pelo pensamealo aos governadores de Buenos-
Ajrres virem inquietar-nos com impotentes jalbos e desoo-
medidas ameaças.
Guerra, digo, a qual no caso de passar do Brasil a Por-
togai Dão nos Irará cousa alguma de novo, que dos cause
cuidados, porque nos não acbará no estado, em que no
anno de 1762 nos víti a cArte de Madrid para nos atacar
Ião confiadamente, quando entendeu que nos achava in-
defesos.
15. — Havendo comtudo ponderado a consummada e in-
comparável prudência de Sua Magestade sobre tudo o que
deixo eiposlo: por uma parte, que o evento de ambos os
casos acima referidos depende do ponto essencial o único,
de tomar ou não tomar a corte de Londres prompta e op-
portunamente as justas resoluções que d'ella se esperam;
ou para conter a sobredita expedição castelhana, ou para
des(ruil-a, se ella se obstinar: por outra parte que não
permittirja a mesma prudência, que se deixasse entregue
á dependência de futuros contingentes um negocio, que
envolve em si, com o decoro, com a alta reputação e com
a gloria do augusto nome do dito senhor, o mais impor-
tante e ponderoso interesse que hoje tem a sua real
coroa. Tomou Sua Magoslade a resolução de se precaver
para todo e qualquer acontecimento que o tempo futuro ibe
venha apresentar.
;dby Google
— 190 —
16. — Isloé: servindo-se das suas próprias forças, que
sempre erJo cartas e seguras ; reduzindo-se a esperars s6-
menle dos seus Seis e valorosos vassailos. que dentro nos
limites dos suas reaes ordens façam das mesmas forças
todo aquelle bom uso, que as circumstancias do tempo e
as conjuncturas d^elle puderem permiltir-lhes ; pondo toda
a sus r^ia confiança na prudência, actividade, zelo e
acerto com que V. Ex. conduziu até agora o mesmo gra-
víssimo negocio ; tendo por certo que V. Ex. o proseguirá
alé Ibe pdr o fim mais glorioso para as armas da sua dita
Magestade, roais interessante para a sua coroa, o mais utit
para todos os vassallos d'eUa : e mandando com estes
objectos participar 8 V. Ex. secretíssimamente as iostmc-
ç6es sc^iutes :
PRIMEIRA IHSmUCÇXO
17.— Considerou el-reimeu senbor, que, sendo o di-
nheiro destinado ao pagamento e sustentação das tropas a
base fundamental de toda a guerra : o sendo sempre entre
duas potencias beiiigeraotes a vencedora aquella, que pôde
sustentar a campanha por mais tempo, assistida dos meios
necessários para manter e pagar o seu exercito ; era preciso
que a subsistência do que devemos oppõr aos nossos ini-
migos fizesse o primeiro objecto da real allenção de Snu
Magestade. E mandou expedir á junta da fazenda d'essa
capital do Rio de Janeiro as secretíssimas ordens, que
acompanharam esta: para se remelter aos cofres do seu
eierrito do Rio-Grande de S. Pedro e do Rio Pardo, e para
d^elle se appiicarem ás despezas do mesmo exercito, a
saber:
Os taes, ou quaes rendimentos da provedoria da fazenda
de S. Paulo, sem excepção alguma.
Dictzedby Google
— »1 —
IteiQ, as rendas da administriçÃo d'essa junta da fazenda
do Rio da Jaaeiro, com tudo o que por ella se arrecada,
sem oatra excepção que não seja a dos quintos das Hinas-
Geraes e de Goyaz, que t£m applicações iadispeassieis
n^esta cdrte.
Item, o subsidio voluntário, que se costuma remetter
para a reedificação da cidade de Lisboa, como já tinba
aTÍsodo a y. Ez.
Item, o outro subsidio lilterario ultimamente estabele-
cido ; em ludo o que exceder o pagamento dos mestres,
que estiverem actualmente ensinando, e os rendimentos
dos bens confiscados.
Item, os productos das rendas reaes de Angola, que da
cidade de S. Paulo da Assumpção se costumam remetter a
essa do Rio de Janeiro, e as da Bahia e Pernambuco.
Item, as importâncias dos soldos e munições dos dois
regimentos, que. hão de ser transportados da Bahia ; indo
agora ordenado ajunta da fazenda d'aqueUa cidade, que
faça passar a essa em quartéis adiantados os sobreditos
vencimentos, que n'ella hão de cessar pelo transporte dos
ditos regimenlos.
Item, duzentos mil cruzados com pouca dilferença, que
ua mesma cidade da Babia sabemos que estão recolbidos
nos cofres da fazenda real.
Item, oalros duzentos mil cruzados com que Sua Mages-
tade manda lambem agora que a mesma junta da Bahia
soccorra anoualmeute essa dtf Rio de Janeiro, emquanto
durarem as hostilidades dos castelhanos, e se não retirar o
exercito com que o dito senhor os m&nda rechassar.
18.— Rendimentos e subsídios, os quaes considerou Sua
Hageslade que serão competentes para se manter o refe-
rido exercito, não só na guerra defensiva que agora se
Dictzedby Google
— 1» —
apresenta, mes também no caso em que esta venha a serof-
fensiva nas suas consequências.
19.~Pois que : por uma parle se não (az nos países, que
hlo âe ser o Iheatro da referida guerra, despeza alguma com
as forragens ds cavallaria, que na Europa são de Ião dispen-
diosa importância ; o pela oulra parte devemos contender
eom tropas eastelbanas Ifto deslítuidas de meios para se
sustentarem na campanha, que n'este gabinete se viu em
cartas escriptasácdr te de Madrid pelo seo general i>. Jo-
teph Andonaigui : Que em Buenot'Ayrea a Corrimtes não
havia dinheiro aigum com que se pagassem t veslwem as
ir&pas : que ifío provinha de irem todas as rendas reaes do
Peru 6 do Chile nos cofres da fazenda de el-rei catholico
em via recta dos portot d'aquelles duis dominios remetlidas
a Cadix : que por isso as Iropoi porluguezas commandadas
por Gomes Freire de Andrada se achavam brilhantes, e as
d'eUe (Andonaigui) descalças e despidas : e que d'aqiii vinha
a $eguir'se a facilidade com que desertavam, fugindo das
injurias do tempo edo grande pejo, a que se viam sem rems-
dio expostas.
20. — E' muito verosimil que agora succederá o mesmo;
assim porque aquella nação em nada se costuma adiantar,
para emendar em uma vez o que errou na outra ; e não só
porque se acha habituada ao natural desmazelo com que
procura todos os tins a que a dirige uma insaciável cubica,
sem a prudência de applicar a elles os competentes meios .
mas também porque é (ai e tão devassa a cubiçosa preva-
ricação dos seus ol&ciaes da fazenda e guerra, que quaes-
quer sommas que se lhes remctterem para os pagamentos
e munições das tropas serão por elles absorvidas ; de sorte
que pouco ou nada chegue aos soldados ; como bem o fez
aqui na guerra do anno de 1762 a enormíssima deserção
das tropas castelhanas com aquellasiu juriusas causas.
D,:„l,;cdtv Google
SEGUnDA INSTRUCÇXO
21. — Ainda que Sua Hagestade conhece, que na honra e
fidelidade dos seus officiaes de guerra e fazenda se não po-
deriam nunca receíar as sobreditas prevaricações castelha-
nas; lembrando-se comtudo de que as confusfies e desor-
dens, com que os sessenta annos de sujeição em que esti-
vemos ao governo hespanbol infeccionaram todas as repap*
tições da fazenda real, e de que nem ainda no continente
d*este reino se puderam inteiramente extirpar até agora ;
vendo as grandes utilidades que ás suas rendas reaes e ás suas
tropas se lâm seguido quotidianamente dos novos methodos,
estabelecidos pelo mesmo senhor, assim para a arreca-
dação da sua fazenda, como para o pagamento dos soldos,
fardamentos, fornecimentos de munições e forragens do sen
exercito d'este reino ; querendo que o que se vai formar no
Rio-Gradde de S. Pedro e campanhas a elle adjacentes,
gozando dos mesmos beneficios ; constitua na regularidade
do methodo, que se pratica n'este reino, uma força intrín-
seca que per si somente seja capaz de destruir o referido
desmazelo hespanbol, e as prevaricações que elle traz com-
sigo ; o tomando por exemplo o mesmo que se está aqui
praticando aos ditos respeitos : manda estabelecer n^aquella
parte uma junta de fazenda, para administrar e regalar, na
mesma forma que se está aqui observando, os pagamentos
dos soldos, os fornecimentos e tudo o mais pertencente á
gCODomia do referido exercito, com subordinação somente a
essa jimla da real fazenda do Bio de Janeiro, a que V. Ex.
preside.
22. — Para escrivão e principal director d'eUa passa da
Bahia a essa cidade ohabil, zeloso e experimentado Sebas-
tião Francisco Beltamio, mandado agora por tresanooscom
os pretextos de ir fundar a junta da fazenda da capitania de
TOMO XXII, P. I 25
;dby Google
S. Paulo; e derazerussârn^ellaosdistadtiosqueresaltaniD
das discórdias eotre D. Luiz Anlooio de Sousa eoprovedor
José HoDOrio de Valtadsres. Com o mesmo pretexto irão
d^aqui os dois ou três escripturaríos babeis, que se hão de
apresentar a T. Ex. com esta commissão ; para a de estabe-
lecerem a regularidade do pagamento das tropas (debaixo
da direcção da referida juota de 3. Paulo) : v3o mais dois
Gomm issarios dos que assistem aos thesoureiros geraes d*este
exercito; também mandados com o disfarce de que vão esta-
belecer o raetbodo doeste reiao em todas as tropas d'esst> Es-
tado, DBS quaes até agora não havia podido ser estabelecido
pelas respectivas provedorias da fazeoda real.
23.— Á aníão de todas as referidas juntas de fazetida
d*esse Estado em cansa commum com essa do Rio de Ja-
neiro, da outra união dos referidos ofiSciaes de fazenda e de
economia, constituirão, pois, na segunda delias, uma corpo-
ração acreditada com os meios necessários, para que oscom-
niandantes do exercito do Rio de S. Pedro possam ordenar
desassombradamente as operações das suas tropas, sem
serem distrabidos pelos cuidados na subsistência d'ellas. .
TERCEIRA INSTRUCÇiLO
24.— Rendo os génios, ouescriptos communs dos inimi-
gos e dos nacionaes aquelles, que devem fazer os primei-
ros objectos da atteoção de um adfertido general, para
sobre o conbecimento d'elles por uma parte estabelecer o
provável juizo do que pede temer ou esperar ; e pela outra
parte dirigir as suas operações milílarescom toda a s^u-
rança, que pôde caber na variedade das contingências da
guerra : bem verá V. Ex., logo que fizer esta combinação, a
vantajosa differença que está da parte das armas de el-rei
meu senhor.
Dictzedby Google
SS. — Potaijae peto outro papel, qae também acompa-
ufaaré esta cartay marcado com o n. IV, e ÍDlitulado— Com-
pendio histórico do» faeíoi político* e Mçõe$ militarea, com
que os cattdhanos manifestaram o seu caracUrnas negocia-
ções e nas guerras com Portugal ri^estes uUimos tempos, ou
iesdéoannodeílSOaté o fim áoproKÍmo passado dê 1773;
e pelo que ji deixo acima ponderado nos g § 19 e 30 doesta
carto, verá lambem V. Ei. com igual clareza : quanto aos
eastelhanos, que dbo ha inimigos que sejam, oem maísarro-
gaotos, ferozes e cruéis, nem menos formidáveis; porque em
se Ibos desconcertando a imaginação escaldada, que sempre
os iaflamma, fazendo-lbes representar quo serAo invenciveis,
logo d'eUa mesma se precipitam no mais vil e abatido desa-
lento. E quanto aos porluguezes : queem nenbum exercito
bouTO, nem officiaes, nem soldados, que fossem mais aman-
tes do seu rei, mais 6eís i sua pátria, mais soffredores de
Irabalbos e mais constantes nos seus successos felizes e
adversos ; do que elles se tem manifestado em todas as bis-
torias, e do que os manifestaram ainda ultimamente os factos
que se contém no dito papei junto com o titulo de— Compen-
dio acima indicado. Nem houve outra alguma nai^o cujos
exércitos vencessem com poucos combatentes tantos inimi-
gos, muitas vezes superiores em numero.
36, — Nãebastaráõ, porém, nem todas as referidas com-
binações, nem as reflexões sobre ellas feitas, para quo a
mesma incomparável prudência e exuberanlissima provi-
dencia de Sua Magestade : ponderando sabiamente por uma
parte a regra que dícta, que nenhuns inimigos, por pequenos
que sejam, se devem desprezar ; e precavendo pela outra
parte o caso de que,alcaDçando os castelhanos qualquer van-
tagem por algum d'aquelles inopinados BCcidentes, que ne-
nhum discurso humano pôde prever ainda demais perto;
se fariam muito mais insolentes, mais cruéis o mais insap-
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portáveis ; depois de haver o mesmo seohor feít o as maú
sérias raOexões a estes dois respeitos: mandou que todas as
suas tropas d'esse continente do Brasil fizessem outra causa
commum de forças mililaies com essa capital, e com o dito
exercito do Rio-Grande de S. Pedro ; assim como havia de-
terminado a outra igual uoíSo de meios pecuniários acima
referida.
27.— ConsequentemCQte manda agorao dito senhortrans-
portaro regimento de infentaria paga, que seacba nailha Ter-
ceira.e os dois r^mentos igualmente pagos da guarnição da
Bahiaa essa cidade do Rio de Janeiro: paraque.sem sedimi-
ouiro DUmero dos seis regimentos da actual guarnição d*elia,
haja V. Ex. de fazer passar immediatamente para o referido
exercito do Rio-Grande de S. Pedro, os outros três regi-
mentos de Bragança, Moura eEstremoz, na forma indicada
na terceira parte do referido Plano que vai marcado com o
D. I. : E manda passar com os ditos regimentos o tenente-
general Joio Henrique de Bohra para commandar o referido
exercito; eobrigadeiro JacquesFunk para commandante da
arlilheiiae director das operações,que com ellasehouverem
de fazer, graduaado-o com a patente de marechal de campo.
38. — Exercito, digo, o qual sendo formado com o numero
de sete mil trezentos eooventa e cinco combatentes na con-
formidade do dito Plano n, I, constituirá uma força Dão s6
igual á com que os castelhanos podem vir atacsr-nos, mas
também o maior corpo regular que até agora viram esses
paizes, que hão de ser os theatros da guerra.
29. — Pois que havendo sido o mais numeroso exercito
de tropas pagas e disciplinadas, que D'elles appareceu,
aquelle com que o general Gomes Freire de Andrada pas-
sou ao dito Rio-Grande de S. Pedro no anuo de 1752, não
excedendo aquelle corpo regular de mil e duzentos homens;
não havendo sido em cousa alguma auxiliado pelogeneral
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— 197 -
caslelhano Andonaigui ; mas aates havendo sempre esto
fugido de entrar nos combates, e metlido o dito general
portuguez em lugares pantanosos e máos passos, d'onde nio
podesse facilmente sahir ; e havendo achado os índios não
só possuídos por um frenético fanatismo contra os portu-
gueses, mas também providos de muitas armas, e entrin-
cheirados nsa passagens dos rios e alturas dos montes por
engenheiros europãos ; ainda assim, apezar de tudo o re-
ferido, e sem embargo de achar os referidos índios tantas
vezes superiores em numero; atacando-os nas suas mesmas
trincheiras, foram por elle inteiramente derrotados na ba-
talha que lhes deu em 10 de Fevereiro de 1756, deixando
no campo, d^onde fugiram, mil e duzentos mortos. Succes-
sivamento passou a occupar, e metter debaiio da obediên-
cia das armas das duas cordas todas as missões do Uruguay,
que antos se jactavam de que seriam sempre inaccessiveís
e sempre incoaquislaveis.
30. — Os factos públicos e notórios que vão substancia-
dos no sobredito compendio n. IV, e ultimamente os ou-
tros factos da acção do bom capitão Raphael Pinto Ban-
deira no dia 3 de Janeiro próximo passado junto do Rio
Piqmri; e da consequente meticulosa carta que o general
castelhano í). João Joseph de Vertiz e Salzedo escreveu
logodepois no dia dezeseis do dito mez de Janeiro ao digno
coronel governador José Marcellino de Figueiredo: são factos
que estabelecem o mais provável juízo, do que podemos
ter e esperar.
31. — Pois que por uma parte fazem claramente ver, que
o exercito ordenado no referido Plano mUiiar marcado com
o D. 1 não nos deixará muito que receíar das fastosas os-
tentações das forças castelhanas : e fazem ver pela outra
parte com a mesma clareza que, sustentando-se o nosso
exercito nas vantajosas posições que vão apontadas na
Dictzedby Google
— fl8 —
qnuH iwlruc$lo; 08 iHtaraes «ffeilos d» Indo o referido
tvtÊo : que on os castelhanos hão de fazM retrogradar o
seo exercito, abandonaodo-noa as suas chamadas oouqaislas
desde o Rio-Grande de S, Pedro até o rio de Chuy e forte de
S. Nigael; fionheoendo que se os batermos era tio grande
distancia do Rio da Prata e Buenos-A^res, ficarão inteirar
mente perdidas todas as suas tropas, o as suas missões do
{Jrilguny ioteiramente sacrificadas debaixo da aajeição do
exercito portuguez «encedor ; quando aliás esto aoaso exer-
cito sempre teria em qualquer accidonte funesto para se
retirar (com a retaguarda nos seus próprios paizes, dos
quaes se fosse todos os dias reforçado com tropas que bai-
xassem de S. Paulo), pelo lado oriental o estreito terrílorío
que jax desde o Rio de S. Pedro até Viamão t defendido oa
exinmidade oriental com o mar, na õatra extremidade
Occidental com a LagAa dos Patos ; e peU oalra parta do
occidenie com as moDtsohas que jazem entre os rios Jacuhy
e Rio Pardo ; e entre este segundo dos ditos rios e o outro
rio Tibiqaary.
33.— Porém para miis consolidar e sustentar com o
maior vigor o referido exercito; e os projectos d'elle era todas
as suas operações defensivas e olTensivas, que se apresen-
tarem nas diversas circumslaDcias dos casos oc«onreDtes ;
vai d'aqui prevenido o novo governador e capitio-general
de S. Paulo Martim Lopes Lobo de Saldanha, na mesma
conformidade d'eslas instrucções, levando as ordens se-
guintes :
Primeira. De conferir com V. Ex. h)go que cbegar a essa
cidade sobre tudo o referido.
Segunda. De emendar o que errou o seu antecessor.
Terceira. De ter por certo que qualquer das duas poten-
cias couHnantes, que fôr senhora das costas do mar, o ha
de ser por necessária consequência de todos os sertões.
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QoArta. D« valerem por isso cineoeuta legtus d« sertio
muito menos do que ama só légua nas referidas cosias.
Quinta. De que, Ic^ que houvermos lançado os caste-
Ibaoos fora das costas, e lhes houvermos assim impedido
lodos os soccòrros para animarem os setlões, virão estes
eonsequeulemente a cahir nas nossas mios, e os indios
d'elles (animados contra a tyrannia do governo hespanhol,
com as honras, liberdades e conveniências com que Sua
Magestade os manda alliclar), virAo a ser outros tantos vas-
sallos do dito senhor.
Sexta. De ler o mesmo governador de accordo com V. Ex.
por um principio demonslrativamenle cerlo, que, nÍo
podendo o pequeno contiaenle de Portugal fornecer o ex-
iraordÍDario numero de tropas regulares, que se fazem pre-
ósas para a defesa e manutençSo das mil e duzentas le-
goas que se contam na extensão das costas do Brasil eni-
Ire os dons grandes rios das Amazonas e da Prata ; é in-
dispensavelmente necessário que os auxiliares, ordenan-
ças, caçadoros e aventureiros do Brasil defendam o Bra-
sil: sendo este claro conhecimento um forçoso estimulo
para os generaes doesse Estado procurar efficassissimamente
animar, unir e ler sempre contentas e promptos aqnelles
corpos irregulares; os quaes fazem, e farão sempre melhor
serviço do que as tropas pagas, em um paiz tfio montuoso.
pantanoso e fechado de impenetráveis bosques, de cujos
veios e veredas, só os respectivos habitantes e práticos
,naturaes tém as uleis noticias, de que se podem tirar as
maiores vantagens.
Selima. De principiar a dar forma e consistência aos
referidos corpos irregulares, desde o mesmo dia e hora
em qoe chegar a S. Paulo.
Oitava. De estabelecer entre a capital do seu governo
ou entre o lugar d'eUe, em que se achar) e o tenenle-gene-
;dby Google
— aoo —
ral João Henrique de Bohrn uma regalar e successiva
correspondência pola via-de Viamão, ou por aquelle cami-
nho que se acbar mais breve e seguro, conforme o indi-
carem as diversas circumstancias dos tempos e conjectu-
ras d'elles.
Nona. De fazer baixar aquetlas porções dos sobreditos cor-
pos irregulares que Ibe indicar o tenente-general, ou ain-
da (no caso de ser precisamente necessário] de baisar o
mesmo governador pessoalmente com todos elles em soc-
corro ao nosso eiercilo, para os certos e determinados
lugares que o mesmo tenente-general Ibe apontar.
Decima. De ficar is ordens do mesmo tenente-general,
desde que se fizer a jancção do referido corpo auxiliar ao
dito exercito principal no sobredito caso de haver urgência
Ião instante, que o obrigue a sahir da sua capital; como no
anno de 1713 baixou o governador das Mlnas-Geraes An-
tónio d'Albuquerque Coelho de Carvalho £om todos os
brancos e negros armados d'aquellas comarcas contra a
invasão que os francezes haviam feito no Rio de Janeiro.
Undécima. K de estabelecerem e frequentarem (assim o
dito tenente-general João Henrique de Bohm, como elle
Martim Lopes Lobo de Saldanha) com V. Ex. outra regular,
e successiva correspondência, pela qual o vão opportuna-
mente informando sempre de tudo o que occorrer, para
executarem as ordens que V. Ei. lhes mandar nos casos
occorrentes, que assim o permitiam sem prejuízo do servi-
ço de Sua Magestade.
QUARTA INSTRUCÇZO
33. — E' na arte da guerra um principio certo, e um
conhecido axioma, que entre dnas potencias belligeranlea,
aquella que primeiro põe o seu exercito prompto na cam-
Dictzedby Google
ponha é a que com elle faz, antes de $er impedida pelo seu
inimigo, ospossiveis progressos, e a que põe da maparl^
a forta/na da guerra.
34. — No espirito doeste sábio diclame, diclado pela razão,
e confirmado por muitas experiências ; para que nos Irans,
portes dos dois generaes, dos ofíiciaes da junta da fazenda
dos sobreditos regimentos, se consiga a maior brevidade
que couber no possível, empregará V. Ex. n'elles a fragata
de quarenta peças Nossa Senhora de Nasareth, cujo hábil e
experimentado capitão de mar e guerra será o portador
d'esla; o galeão, que ahi chegará quasi ao mesmo tempo,
e que, devendo ser logo por V. Ex, mandado armarem guer-
ra n'esse porto, foi já ao Rio da Praia com trinta e oito pe-
ças montadas; a náo de sessenta e quatro peças Nossa Se-
nhora d" Ajuda, que sabirá d'aqui dentro em poucos dias
debaixo do pretexto de transportar o governador de S. Pau-
lo, e os navios e embarcações mercantes, que transpor-
tarem a essa capital os dois regimentos da Bahia; os quar
tro navios da companhia geral de Pernambuco, que tam-
bém chegarão a essa cidade com o outro regimento da de An-
gra, ou da Ilha Terceira, fretando e embargando V. Ex, {se
necessário fôr) lodos os mais navios o embarcações mer-
cantes, que a brevidade dos sobreditos transportes preci-
sar nos casos occorrentes, além dos que deixo acima
indicados-
35. — Logo que o dito exercito de Sua Mageslade se achar
formado, fornecido, e prompto a marchar e combater, re-
gulará o tenente-general João Henrique de Bohm as ope-
rações do mesmo exercito na maneira seguinte:
36. — Antes de tudo procurará o dito general guarnecer
e segurar todos os passos dos rios e das montanhas por on-
de os castelhanos podem vir, ou atacar os nossos actuaes
estabelecimentos, ou soccorrer a sua fortaleza da margem
TOHO XXXI, P. 1- .36
Dictzedby Google
meridional da barra do Rio-Granik i«, S. PedrOf com a
qual DOS Mm pretendido (ectutr a entrada da mesma bana;
fezendo-a a s«u faror própria e exclusiva: para oecorrer
aos sobreditos passos d'aqueUes rios e d'aquellas moata-
obas, quando a necessidade o pedir; isto é, quando lentia
certa iurormação de que o general castelhano o vem atacai
com forgas superiores, e souber os caminhos por onde elle
dirigir as suas marchas, afim de lhe sahii ao encontro
com toda a vantagem possível.
37. — Em segundo lugar. Depois de se haver acautela-
do e segurado o mesmo general na sobredita forma, apre-
sentando-se diante da referida fortaleza do lado meridional
do lUo-Grande de S. Pedro; e levando em tropas, em trem
e artithería, e em morteiros e bombas o que lhe fdr neces-
sário para a eipugnar, mandará copiar e entregar por um
boletim ao arrogante governador bespanhol d'aquella for-
taleza a carta de notificação, e o compendio substancial,
cujas minutas irão n'estas instmcções inclusas debaixo
dos ns. V. e VI.
38. — No caso em que o governador castelhano ceda logo
á dita notificação, por ver, que não é só verbal, como as
que se lhe fizeram até agora, mas sím armada com forças
capazes de abaterem lodo o seu orgulho: nio se fari re-
presália na guarnição militar que n^ella estiver, mas sim nas
embarcações castelhanas que se acharem no porto, e n'e]le
devem ser antes de tudo embargadas pela força da nossa
arlilhería : remeltendo-se os officiaes e soldados castelha-
nos para as suas terras, e as embarcações a esse porto do
Rio de Janeiro: para assim qos compensarmos dos nossos
soldados e embarcações que o referido commandante nos
hostilisou, matou e aprezou com a força d^aquella usurpada
fortaleza.
39. -^No outro caso, em que o dito commandante hespa*
Dictzedby Google
— «» —
hol aspara o ataque, sa Ibe dare fazer oom o mais TÍforoto
fego de artilberia e bombas, que coubec no possífel, afim
de que seja rendida antei que possa receber pela via do mir
algum QOcturao soccorro, que esoape á vigilância da bateria
qae se dera levantar sobre o dito porto, afim de que a
entrada d'ella Ibe. fiqoe impedida quanto a possibilidade o
poder perroiltir.
40. — Caso, digo, DO qual reodendo-se em tempo babíl
a dita fortaleza por capitulação, em que o commaadaute
haspanhol com a sua guaroiç&o fiquem prisiaoeiros, e as
embarea^õeg armadas em guerra se (ornem por perdidas,
ae pralíoará a remessa d'eUes e d'ella3 para o Rio de Ja-
neiro na mesma forma acima declarada: porém no outro
CBSO, de esperar o mesmo governador hespanhol, qaea dita
fortaleza seja tomada por assalto, se praticará a respeito
das pessoas o que as leis da guerra estabelecem; e a res-
peito dos despojos o que vai agora ordenado pela carta ré-
pa, em que Sua Magestade os manda dividir pelos seus
<^ciaes e soldados com boa e justa proporção.
M. — Em twceiro lugar. Ordena Sua Magestade, que,
desde qoe a sobredita fortaleza for uma vez evaeuada, e
restituída ao seu real dominio, a que é perteaceote, se
hajam de suspeuder até ao Israpo abaixo declarado fodas
e quaesquer outras oparaçães de guerra ou de conquista:
havendo considerado o mesmo senhor para ordenar «sta
suspenslo motivos tão grandes como são os seguintes:
i2. — Primeiro motivo: Porque assim se mostrará, quan-
do formar queixas contra nós a cérte de Madrid, que
s6 tratamos de defender o nosso da iníqua e insul-
tanta vizinhança dos seus officiaas, sem intenção alguma
de íwtiw fitar conquistas.
43. — Segundo motivo: Porque emqoanto a soberba do
capitão-genwal de Bueaos-Àyres se preparar para a vingin-
D,:„l,;cdtv Google
— ao4 — .
ça d'aqueUa eipugnação, e marchar para vir atacar-nos,
teremos dós todo o tem[>o aecessario para bem fortificar, e .
guarnecer os passos que o advertido e valoroso coronel Jo-
sé Marcelliao de Figueiredo acautelou com grande e uUl
proTÍdeocia ; na forma por elle referida pela carta que di~
rigiu a V. Ex. desde o Rio Pardo, em 30 de Dezembro do '
aQDO próximo pretérito, nos § § 2° e 3°, cujo teor é o se-
guinte:
Parugrapho ^^"Tenho acautelado compartídasde auxi-
liares, e alguns pagos, os difficullosos passos de Camor-
cttam, que sâo cinco, e tenbo guarnecido os principaes e
fortiâcado-os; como são parte ulterior d' este rio o de Guay-
ba, o de Piquiri, o de Iruy, o de Tabalinguay e doeste lado
o de Joúh/m/, com duas peças d'artilheriB; e o de Butuca-
ray, com outras duas; os de S. Lowenço, Fiuna, Faiuían-
go, Romão, Pederneiras, etc. , oom menos gente de )»vaUa -
ria e dragões/'
Paragrapho 3* : u ESte do Rio Pardo com artilheiia do
seis e Ires, que mandei vir de Tacttry, e com um morteiro
de seis pollegadas, que fiz montar em forma de obuz, que
é como nos pôde servir. ■
44. — Terceiro motivo : Porque d'esta sorte conseguire.
mos duas vantagens tão grandes, como são : uma, ba de vir
o dito general hespanhol de tio longe cohi as suas tropas
enfraquecidas pelas marchas atacar a peito descoberto as
nossas, que ha de achar nos seus quartéis frescas, descan-
sadas e absolutas senhoras, não só dos passos fortificados
e guarnecidos que o dito coronel José Marcelliao de Piguei'
redo indicou nos dois paragraphos acima copiados, e nos
mais que se achar, que serio dilQceis de forçar ; mas tam-
bém dos gados, cavalgaduras e mantimentos de Iodas as
campanhas adjacentes.
i5.-~ Quarto motivo: Porque se proseguissemos na
Dictzedby Google
— 30» —
coDqnista de tudo o que vai desde o Rio-Grande de
S. Ptáro até Chuy : por uma parte nos iríamos pondo cada
dia mais distantes d^aquelles postos onde é eerlo que
deremos cooseivir unidas todas as nossas forças : por
outra parte dos avizinharíamos e iríamos metter debaixo
do peso de todas as tropas, que os castelhanos tém no Rio
da Prata ; e pela outra parte nos exporíamos a ser cortados
e balidos longe da nossa casa, sem possibilidade partt aos
retirarmos.
i6. — Em terceiro lugar: Chegando a veríficar-«e dois
casos laes como serfio : primeiro, o que acabo de figurar
acima, isto é, de vir o general castelhano a atacar o nosso
exercito com todas as forças que tem no Rio da Prata uni-
das em um corpo : segundo, o de ser o tal exercito castelhano
batido pelo nosso, como é de esperar quo ha de sMceder,
abalroando a mSo omnipotente do Senhor Supremo dos
exércitos a justíssima causa da nossa defesa natural:
cbegaado, digo, a veríficar-se um e outro dos referidos
dois casos : manda Sua Magestade prevenir e ordenar a
V. Ex. que, desde que ambos os mesmos casos juntos
forem verificados, se mude inteiramente o plano do seu*
exereito entáo victoriaso, passando a ser activa e offensiva
a guerra, que até a verificação e uniio dos sobreditos dois
casos deve ser meramente passiva e defensiva, na forma
acima declarada.
47. — Isto é ; Que, ficando ambos os lados da entrada
da barra do Rio-Grande de S. Pedro fortificados com boas
plataformas de terra e fachina, onde nSo houver as de
pedra e cal, com bastante e grossa artilheria ; e com uma
forte guarnição de infanleria, de aventureiros e de arti-
lheiros, para defenderem as ditas fortalezas ; e de cavaltaría
para impedir qaaesquer desembarques, que pela costa do
mar procoiem fazer os caatelbanos, ficando assim segura o
ídbyGoogk
— M6 —
rdagiurda do nosso exercito : prosiga esU sempre unido e
setn perder a fórms os passos dos inimigos derrotados até
os dissipar e destruir inteira e absolutameate ; assim em
tropas, oamo em bagagens, munições de guerra e boca ;
sem lhes admittir capitulação uu trégua alguma, que não
seja a de se renderem prisioneiros de guerra com a entrega'
das armas e tudo o mais que acabo de referir acima : ou
isto suflceda em choques particulares, ou em acQões gsraes
com todo o eorpo junto em forma de batalha.
4S. — Para os casos em que Deus Nosso Senhor nos
ajude de sorte que assim venba a succeder ; manda Sda
Magestade prevenir a V. Ex. :
Primo : Que- todos os officiaes e soldados castelhanos,
que o seu exercito fizer prisioneiros, devem ser imme-
diataoNote remettidos ao Rio-Grande de S. Pedro, e d'elle
transportados a essa cidade para serem reclusos no preúdio
da Ilha das Cobras, na mesma forma acima declarada \ com
uma indispensável e absoluta reclusão, de sorte que a nin-
guém possam fallar ; e com a raçáo diária, que se costuma
dar a cada soldado para o seu sustento ; lomando-se coutas
dts despezas, que com elles fizer a fazeuda real, para
serem pagas ao tempo em que os ditos prisioneiros hou-
verem de ser restiluidos.
Secundo : Que aos índios naturaes das missOes e terri-
tórios d'eUas, que se prisionarem nas acções com os sobre-
ditos- castelhanos, se lhes faça todo o bom tratamento ;
se lhes ddm gratuitos passapc^les para se recolherem ás
Guas (erras ; e se lhes segure que (logo qtte a guerra cauorj
ficarão nai auos casos em plena liberdade debaixo da pro~
íeccão de Sua Magwtade FideHsntna, para não panmUir,
nem <ju» eUes eom aa suat pestoas, cavalgadMras e gados
façam algtim lervifo, que lhes não eeja immediatttmmía
pago» ; nem qw iw sua$ fazenda» e ttkmtia» ihes a^am
Dictzedby Google
— 907 —
Ujiyrpadat, ou psloi catláhanee, ou pelo» portvguext» ;
obiervandose-lhes htdtí isto reUgioaamente : o que setta-
leade comtado logo qae, ou cessar a guerra, eomo acima
digo, que faz iadispeosaTOlaieDle necessário tirar aos ini-
migos toilos os beos e meios de offenderem, ou elles
índios se unirem declaradamente a nós contra os caste-
lhanos, seus craeis oppressores.
Tercio : Que os despojos dos castelhanos vencidos se
repartam pelos officiaes da marinha e soldados das tropas
regalares, das ligeiras e dos aTentureiros vencedores ; sem
diíTerenca alguma, com a proporção que vai estabelecida
na minata do baado, que o dito senhcff manda expedir para
esle effeilo, e V. Ex. receberá oom esta debaixo do n. 7.
QOINTA INSTRUCÇtO
49. — A conservação da ilha de Santa Cathariaa é da
summa importância, que V. Ex. conhece perfeitamente,
porque do tempo da paz nos defende a costa do sul dos
contrabandos, qoe sem ella seriam sempre inevitáveis;
e no tempo da guerra ; e por uma parte priva os inimigos
dos únicos portos que ha na mesma costa com o fundo
e espaço neccMarios para n'elles entrarem e conservarem
os dites inimigos, oom segurança, náos. que sejam de
força; pela outra parte nos dá a faculdade, não só para alli
(ermos ancoradas as náos de Sua Magestade, mas lambem
para introduzirmos tropas e munições de guerra, e de booa
D'aqQeUe continente do sul em casos taes, como este, que
agoTa se presente ; ocmtineate que não poderíamos conser*
var faòUnenle se uma vez lhe faltasse a referida ilha.
50. — D'aqni residta, que a defesa e manutenção d'ella,
constituindo um dos grandes objectos da attençio de el-ref
meu smhor nas eirournstaBÓas da preaenle ooqjnnetura :
D,:„l,;cdT;v Google
— soe —
manda Sun Mageslade orãensr aos ditos respeitos o sa-
goiote:
•SI. — Quer o mesmo senhor: Que a fortaleza principal
e fortes da referida ilha sejam armados com Ioda a arti-
Iheria, carretame, palamenta, pólvora, bala e petrechos
possíveis para fazerem uma vigorosa defesa nos casos de
surpresas ou de ataques.
53.— Quer: Que a guarnição paga da mesma ilha seja
logo reforçada com um dos seis regimentos d'es5a cidade,
de cujos officiaes V. Ex. fizer melhor conceito-, viado no
lugar d'elle o outro regimento, que manda transportar de
Pernambuco para essa cidade ; posto que contra ella não
ha appareaeia de que se animem os castelhanos a intentar
por agora alguma invasão.
53.— Quer: Que todas as milícias, os corpos irregu-
lares da mesma ilha sejam sem perda de tempo armados,
exercitados em atirarem ao alvo, e animados com o exem-
plo dos r^imeutos pagos a resistirem aos inimigos em
defesa das suas próprias casas e famílias.
54. — E quer: Que o brigadeiro António Furtado de
Mendonça (a quem manda a patente de marechal de campo),
baixando logo das Minas a essa capital, passe á referida
ilha, encarregado da guarda e defesa d'ella em observância .
da carta régia, que lhe vai expedida para exercitar a dita
commissão, até que venha (como esperamos brevemente
ha de vir) a cessar a necessidade, que faz tão prudentes,
como preciosos os acluaes esforços.
55. — E considerando ultimamente o dito senhor, que
assim a defesa da referida ilha, como as acções das suas
reaes tropas no continente do sul, se não poderiam bem
consolidar sem serem assistidas peta via das costas e do
mar por um competente numero de oáos e fragatas de guer-
ra : usando dos pretextos acima indioados e d' outros se-
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— 209 —
melbantes: mandou preparar e dirigir a esse porto do Rio
de JsDeiro ás ordens de V. Ex. a esquadra de três Qáos de
linha e quatro fragatas de guerra, que vão descriptas na
qaarta parte do sobredito plano, que leva o n. I, E man-
dou que, para a referida esquadra ficar logo ahi eipedila
e prompta, fosse feita a nomeaçio do comoiandaute d'ella
8 dos respectivos capitães de mar e guerra, e seus officiaes ;
e pela outra carta régia, que lambem acompaabarã esta,
■fim de que V. Ex. a faça publicar, e dar logo a sua devida
execução. Declarando o commandante o cbefe da dita es-
quadra ; e fazendo entregar as referidas náos e fragatas aos
capitães e officiaes, que lhes vão destinados na carta régia,
provisão e decretos, cujas cópias serão com esta debaixo
do D. VllI.
56. — A referida esquadra pareceu que seria bastante
por agora, em razão das vantagens que ella ha de ter
ii'es3es mares sobre quaesquer outras castelhanas, posto
qoe sejam superiores em numero; em razão de que a
nossa dita esquadra, e os navios d'ella, poderão sustanlar-
se no mar em lodo o (empo, lendo a seu favor os portos
i'9Bsa capital, os da Ilha de Santa-Catharinay e o do Jlto-
Grande de S. Pedro (depois de haver sido expugnado, como
esperamos), para n'elles acharem abrigo e as^lo em qual-
quer accidente; quando as suas esquadras, e oáos terão
por inimiga Ioda a costa do Brasil, que decorre desde essa
do Aio de Janeiro até o tormeoloso Rio da Prata, sem
acharem fora d'elle onde se possam recolher, o sem que
por isso possam evitar virem cahir nas nossas mãos debaixo
de um sequestro, nos oasos em que sejam u^nlemeote
GonstrangidoB pelas tormentas e próximos naufrágios a
irem refogiar-se aos nossos portos para salvar as vidas.
TOMO XXXI, p. I.
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SEXTA E ULTIMA IMSTRCCÇAO
ST. — E^cousa verosimil que o goveroadorde Buenos-
Aytes, vendo perdida a fortaleza do lado meridíoDalda
barra do fíio-Grande d» S. Pedro, que está chaoiando sua,
haja dfl ir desbravar-se contra a Colónia do Sacramento,
que é cerlamenle nossa. E para este caso se faz preciso,
que V. Ex. ; ou previna o governador actual d'aqueUa for-
taleza, acbando que é capaz de bem executar as suas
ordens, ou mande no seu lugar outro, que seja hábil, e
do qual possa confiar, que execute as instrucções seguintes.
58. — A primeira deve ser a de fazei o dito governador,
sobro a citação que o general castelhano lhe fizer para
render a praça, a resposta que vai minutada para este eSeito.
( N. IX. )
69. — A segunda deve ser a que se contém na outra
resposta, que lambem vai minutada, para o caso em que
o dito general castelhano insista em querer, que a referida
praça se haja de render ás suas geniaes, e costumadas
ameaças. ( X. )
60. — A terceira deve ser a de se defender o dílo
governador até a ultima extremidade de ver aberta uma
brecha tal, que já não seja possível, nem reparai^-se com.
corladuras, nem evitar-se por ella o assalto.
61. —Espera Sua Magestade, que V. Ex. ao mesmo
tempo ha de prevenir para aquelle caso três cousas tão
próprias d^elle, como são a s^uintes.
62. — A primeira é o grande cuidado em pagar, « ter
espias, que exactamente o informe de todos os movimentos
que os castelhanos fizerem contra a dita praça ; de sorte
que saiba quando elles a principiarem atacar á cara desco-
berta.
63. — A segunda cousa é, que l(^o que se verificar o
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— 2U —
dito insulto comoiettido contra aquella praça, mande
V. £x. por uma parte arrebanhar e fazer passar para as
nossas terras todas as cavalgaduras e gados das estancias
dos castelhanos, a qne sem perigo se poderem estender as
incursões das tropas ligeiras, e dos aventureiros e caça-
dores, etc. Pela outra parte mande invadir, e saquear
todas as suas aldéas que o poderem ser com segurança
das referidas tropas: por outra parte mande prisionari
e trazer em presença do general em reféns aos ministros,
officiaes e pessoas notáveis das ditas aldéas, para se envia-
rem immediatamente para a Ilha das Cobras : e pela outra
parte lhes faça inlimar ao mesmo general, que pelo direito
de represália se executarão a respeito d'eUes com justiça
lodos os rigores, que o general de fiuenos-Ayres houver
praticado com crueldade a respeito da guarnição, e habi-
tantes da Colónia : dando-se-lhes os meios de avisarem ao
dito general castelhano esta intimaçSo logo que lhes fdr '
feita.
64. — ' A terceira cousa é que, usando V. £x. das
certas, e prévias informações, que deve ter das forças
navaes, que os ditos castelhanos tiverem no Rio da Prata :
e vendo que ellas lhe permittem, que possa soccorrer
por mar a referida praça da Coionia, a mande auxiliar
com aquelle, ou aquelles dos navios da esquadra do
chefe Mack Duel, que forem competentes, e que sem teme-
ridade poderem expedir-se, de sorte que não corram pe-
rigo de perder'se.
Deus guarde a V. Ex. — Palácio de Nossa Senhora
d'Ajuda em 9 de Julho do 1714. — Marqties de Pombal. —
Senbor marquez do Lavradio.
RIO DE JANEIRO— TIP. DtPINHtIIIO& C.,Mk SBTB DS SBTUfBR0n.lS9
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Do.icdt, Google
r
REVISTA TRIMENSAL
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
GEOGRÁPmCO, £ ETHMOGRAPHICO DO BRASIL
i' TRIMESTRE DE 1868
PBRNAMBUCO
REVOLUÇlO DE 1817 ;
INTERROr.ATORIOS MAIS IMPORTANTES DOS RÉOS
(extrahidos do archivo pdbuco]
PERGUNTAS A LUIZ FRANCISCO DE PAULA
CAVALCANTI E ALBUQUERQUE
SEGUNDAS PEBCniíTAS
Adqo do nasciíqeato de Nosso Senhor Jesus Cbristo de
mil oito centos e dezoito, aos viate e dois dias do mez de
Outubro, nas casas da cadéa d'esta cidade da Bahia, oade
Teiu o Dr. Bernardo Tuíxeira Coutinho Alvares de Carva-
lho, desembargador do pa{0 e juiz da alçada, commigo es-
mvio abaixo nomeado, e o escrivão assistente o desem-
bargador José Caetano de Paiva Pereira, ahi elle ministro
mandou vir á sua presença o preso Luiz Francisco de Pau-
la Cavalcanti e Albuquerque, que posto em sua natural li-
berdade lhe fez as perguntas seguintes :
Perguntado seu nome, naturalidade, morada, estado,
idade e occupação.
Respondeu que se chamava Luiz Francisco de Paula
Cavalcanti e Albuquerque, natural da fireguezia de Sanio
TOHO XXXI. P. I. as
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- 214 -
Amaro de J^ihoalão, termo de Oliada.morador no seu enge-
nho de Souij André, termo do Recife, solteiro, de quarenta
e seis annos, coroutíl de milícias de Olinda e agricultor.
Perguntado se ratificava quanto havia respondido nas
perguntas que se lhe fizeram no Recife, ou se tinha que
accrescentar, diminuir ou declarar alguma cousa.
Repoudeu que ratificava tudo quanto havia respondido,
e somente declarava que elle não viu portaria ou carta de
nomeação de conselheiro, do deão Bernardo Luiz Ferreira
Portugal, ainda qge o viu algumas vezes nas sessões dos
conselheiros, e ouviu dizer que ers conselheiro. E tinha a
accrescenlar em sua defesa, como tinha dito, que quando
elle e seu irmão Francisco de Pauia tinham entrado no
Recife no dito dia sete de Março de manhã, para saberem
oque se linha passada e para que fím era aquelle harulho,
depois de conhecerem o que era, convencionaram entre
si de se sujeitarem ás circumstancias ; mas de' trabalha-
' rem de commum, para ou se escaparem, ou fazerem uma
contra revolução se a podessem fazer ; que elle responden-
te fez o que tem dito, e que seu irmão fez o que elle tam-
bém fez para o dito Bm; que, recolhendo-se elle respon-
dente do sobredito engenho de Merinos ao Recife no dia
dezesete de Maio á noite, no dia dezoito de manhã, vendo
que os rebeldes estavam em acto de resistência, e que
queriam ir com toda a sua força atacar o marechal no lu-
gar em que o encontrassem, os procurou e lhes exagerou
quanto pAde as forças do mesmo marechal, afim de que
elles tomassem antes o partido de fugirem, e o dito seu
irmão o ajudou a isto mesmo ; em consequência d'esta
conversa fizeram elles um conselho, em que votaram os
chefes de tropa, não obstante ser Dooiingos Theotonio o
único que então governava, e no conselho foi elle respon-
dente e seu irmão vencidos em votos ; porém elle e seu
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irmio oSo desistiram oCesta preleoç&o, e foram repetir a.
mescDa exageração ao padre Pedro de Sousa Tenório, e the
eDlregaram uma carta fingida como vioda do Cabo, em que
pozeram por escripto a mesma exageração ; este a foi mos-
trar a Domingos Theotouio Jorge, o qual persuadindo- se
eolão se resolveu e tomou a deliberação de se retirar ; e
declarou que esta operação somente foi feita por elle e seu
irmão, a que é verdade que ambos a communicaram a
José Carlos Mairíok, mas foi somente a elle, e depois ds a
terem executado, e lhe parece que foi no dia dezenove de
manhã ; o qual a epprovou e prometteu auxiliar quanto
podasse. Em consequência de ficar persuadido o dito Do-
mingos Theotonjo, deu ordem para todas as tropas se ajun-
tarem no dia 19 de Maio de manhã, parte na Soledade,
e parle no Campo doHospital,e juntar ellas; appareceu elle
e leu uma prodamaçãd, em que dizia que tinha tentado
capitular com o commandante do bloqueio; que este se
tinha negado a etla, e dito que as tropas haviam de ser
quinftdas, que por este motivo tinha resolvido relirar-se
com ellas para o norte, para ahi se fazer forte, e esperar
auxílios que esperava para depois defender-se melhor, e
deu ordem que de tarde pelas ires horas haviam de partir.
E em particular disse a alguns, como foi a elle respondente
e seu irmão, que ia destruir as fortalezas, encravar a ar-
tilberia, inutilisar tudo, e tudo destruir, para que não ser^ ^
visse aos reul^tas ; e que também queria arruinar o matar
varfas pessoas de quem desconGaTa. Vendo isto elle res-
pondente e o dito seu irmão, se lhe offereceram logo am-
bos, etie respondente para ficar com o commando das for-
talezas, promettendo-lhe executar os seus projectos (Veja
o juramento de José Peres Campello), e o dito seu irmão
y) ufforecou para ficar com o commando da villa do Recife
e Saa\o António, fazendo a mesma promessa, e elle aceitou
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— 216 —
estes offerecímenlos, e deu as ordens necessárias ; e assim
conseguiram Dão se executar os seus projectos como pre-
tenderam pelas suas promessas. E elle respondente logo
que recebeu a ordem de ficar com as fortalezas foi & do
Brum, que commandava seu sobrinho Francisco de Paula,
elbe commuoicou o seu segredo, e o põz de acoordo para
no outro dia de manhã se levantar as bandeiras reaes, e
foi também á do Buraco, que estava commandsda por Pe-
dro António, e sem lhe communicar o segredo lhe disse,
que não executasse quaesquer ordens que tivesse sem or-
dem sua especial, porque agora tinha o commando para
assim se executar, e o mesmo mandou diiter aos comman-
danles das outras fortalezas ; e se recolheu á fortaleza das
Cinco Pontas, tendo communicaJo isto que fez ao dito seu
irmão Francisco de Paula, para obrarem deaccordo, e não
o communicou a mais alguém por causa do segredo. De-
pois de estar na dila fortaleza das Cinco Pontas, e ter a
certoia de ter Domingos Theotonio com a tropa evacuado
o Recife, o que so effectuou ao anoitecer, mandou frechar
as portas da fortaleza para não sabir alguém, e mandou
abrir a prisão em que estava José Ignacio Boi^s e condu-
zil-o ao seu quarto ; ahi lhe communicou lodo o segredo,
e lhe disse que o aconselhasse no mais que queria fazer,
a saber, se havia soltar os presos logo, e se havia de le-
* vanlar bandeira real pela manhã ao toque de alvorada, e
elle respondeu que não soltasse preso algum 'para que nio
chegasse a noticia aos rebeldes, e que só fizesse de manhã
e já tarde depois dé poderem cnnjei;lurar dVlles estarem
mais longe, e que no mesmo levantasse também as ban-
deiras. Depoi? de terem assentado n^slo passado algum
tempo bateram á fortaleza, e dizendo-se-lhe que ora' José
Carlos Mairink, o mandou conduzir ao seu quarto, o es-
tando todos três, lhe communicou o que tinha tratado com
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- 217 -
José Iguacio Borges,e Ibe dissesse que lhe procurasse uma
tuDiieira, porque a não tiaba na fortaleza ; coacordaado
elle em tudo, sabíu e lhe mandou um bilhete escripto por
Gervásio Pires I''crreira para um seu capitão <Ie navio Ibo
mandar ama bandeira, o qual cam elTeito lb'a mandou
n'e5sa mesma noite; e no dia vinte pelas sete horas da
manhã, o mandou levantar e dizer ás^ulras fortalezas que
fizessem o mesmo, e também mandou soltar n^uquella for-
taleza e nas outras; c o dito José Ignaeio Borges, ficando
solto ás ditas horas, se ofTereceu para ir dar parte ao com-
mandanle do bloqueio, e foi ; c depois d^elle appareccu José
Carlos Mairink com uma carta já feita cm que dava parte ao
dilo commandante do bloqueio, e elle respondente mandou
apromptar um jangadeiro para a levar, como levou. Depois
d'isto veiu um official de parínha mandado por Rodrigo
Lobo, para verificaras notícias que lhe tinham dado ; viu
as outras fortalezas, c veiu ler á em que elle respondente
estava; e ahi determinou os commandantes que haviam ir
para os fortalezas, e depois fez os seus signaes, tendo-lbe
elle respondente communicado o que linha feito ; e man-
dou que nas Cinco Pontas licasse Gonçalo Marinho : na
tarde do mesmo dia veiu o commandante do bloqueio
depois dos ditos signaes, e tomou conta do governo. E que
sahindo ia fortaleza des Cinco Pontas o dito official do
marinha sabiu elle respondente com elle, de tarde foi espe-
rar o dito commandante Lobo, no dia 21 foi comprimen-
lal-o com a oQicialidade do seu regimento, e se reco-
lheu á casa em que morava no bairro de Santo António, que
l(^ largou, e foi o sitio que t3m na ilha, que é immedialo :
n^esse dia mandou odito commandante prender ao dito seu
irroio, e elle respondente esteve no seu sitio comroandando
nseu regimento vários dias; depois dos quaos soube, que n
dito commandante o mandara prender, o os executores o
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foram buscar no eugenbo de Santo André, distante quatro
léguas, sendo publico e notório que elle estava no dito
sitio, e que estava commandando, e despachando para o
seu regimento publicamenle. E vendo elle respondente que
se procedia assim, e julgando-se innocenle, Se escondeu
até cbegar novo governador ; e quando clIe chegou, tendo
noticia que elle se informava mais de quem era culpado,
no dia 23 de Julho se lhe foi apresentar, e o mandou reco-
lher á fortaleza das Cíuco Pofllas, como dito tem, onde
licou preso ; c que não somente fez o que tem dito a favor
de Sua Magestade, mas que também no mesmo tempo dos
rebeldes aconselhou a muitas pessoas que os não seguissem
não só no Recif», mas nos mais lugares, onde esteve, e
passou : que isto era o que tinha a allegv em sua defesa.
E sendo-lhe apresentadas as suas' assígaaturas, que
estão na carta folhas 64, e proclamação folhas 65 do
appenso P, e perguntado se as reconhecia como suas.
Respondeu que os reconhecia como suas próprias, e
eram aquellas carta e proclamação de que fallou nas suas
primeiras perguntas e respostas que então dea, que lhe
foram mandadas já escriptas pelo governo rebelde, e que
elle se viu obrigado a assignar como então disse.
£ por esta maneira houve elle ministro estas perguu-
tas por acabadas, e lhe deferiu juramento a^ Santos
Evangelhos, pelo que tocava á terceiro, e por elle recebido
disse que ratificava tudo quanto Unha dito pelo que tocava
á terceiras pessoas; e lidas a elle respondente estas pergun-
tas, pelas achar conformes ao que havia respondido assi-
goou com elle juiz da alçada, escrivão assistente, e eu João
Osório de Castro Sousa Falcão, escrivão da mesma Alçada
que o escrevi e assignei. — Luiz Francisco de Pátda
Cavalcanti- — José CaetaJio ilc Paiva Pereira. — Jaiw
Osório de Castro Sousa Falcão.
D,:„l,;cdtvG00gIC
— ai9 —
TEItCEtRiS PERGUNTAS
Aiino'do oasciroento de Nosso Senhor Jesus Christo
de dail oitocentos e dezoito, aos vinte e dois dias do mez
de Oalobro, nas casas da cadfta doesta cidade da Babn,
aonde veiu o dito desembargador do paço e juiz da al-
çada, commigo escrÍTão e escrivSo assistente abaixo assig-
oados, abi pelo dito ministro foi maadado vír á sua pre-
sença o mesmo réo acima referido Luiz Francisco de Taula
Cavalcanti, e lhe fez as perguntas seguintes :
Perguntado seu nome, naturalidade, morada, estado,
idade eoccupação.
Respondeu cbamar-se Luiz Francisco de Paula Cavalcanli
e Albuquerque, natural da freguezia de Santo Amaro de
Jaboatão, morador no seu engenbo de Santo André, sol-
teiro, de 51 annos incompletos, coronel de milícias e
agricullor.
Pei^nlado se ratiSeava todo quanto havia respondido
nas perguntas antecedentes, e se (inba que declarar, accres-
centar ou diminuir ajguma cousa, sendo-lhe lidas as ditas
perguntas.
Respondeu que ratificava tudo quanto havia respon-
dido, e que nada mais tinha a dizer.
Perguntado que, visto ter feito o plano sobredito de
fnpr, ou fazer contrarevolução, e mais o dito seu irmão,
dissesse quem eram esses homens contra quem queria
fazer essa contrarevotução.
Respondeu que era contra aquelles que se tinham apo-
derado do governo contra Sua Magestade, e vinham a ser
os membros do governo insurgente, que eram cinco bem
conhecidos, que pôde ser que alguns d^entre estes no seu
coraçfto fosse a favor de Sua Magestade, porém que elle
respondente só se regulava pelo seu exterior, e pelo qua
Dictzedby Google
— no -
saostravam ; e que lambem eram os commaodaQtes de
Iropa de linha, que lodos via anidos a elles, como eram
José de Barros Lima, Pedroso commandaDte do regimeolo
de ínfaolaria, e os cbefes dos batalhões de pardos e prelos,
e d'estes eram Joaquim Ramos de Almeida e Tbomaz
Ferreira Tilla-Nova, e dos pardos um Fu£o Dornelas, e
outro lhe dôo sabe o oome, e outros mais cujos uomes lhe
não lembrara, tanto da tropa como fora d'ella, que todos
via onidos, e não sabe o seu interior se alguns d'eUes
leriam outros sentimentos.
E instou que dissesse a verdade, porque constava dos
autos que os rebeldes no dia 6 de Março á noite es-
creveram varias cartas a todos os seus amigos, e que
duas d'eUas haviam de ser uma para elle respondente,
e oalra*para o dito seu irmfto, porque constava dos mes-
mos autos que ambos frequentavam os adjuntos noctur-
nos e diurnos que se fizeram para este levantammto em
casa de Domingos José Martins, em casa do Obogá, em
casa de Gervásio Pires Ferreira, em casa do padre João
Ribeiro e em casa do cirurgião Vicente Ferreira Peixoto ;
e até constava que jã de muitos annos ambos cuidavam de
revolução, porque já foram denunciados em 1801 e outro
seu irmão José Francisco de Paula, e que se então não
appareceu prova feila contra elles, que a falu de prova não
tirava a verdade, e que os indícios e a fama sempre íicou
contra elles entre o povo ; e que, tendo elles esta reputação
e fama, não podiam os outros rebeldes de os tratar por
seus sócios, e muito mais frequentando elles os seus
adjuntos como âca dito.
Respondeu que depois que chegou ao Recife com o
dito seu irmão, quando vieram vôr o que se passava*
soube e foi publico que elles tinham escripto na noite do
^ii 6 muitas cartas a muitas pesadas, porém elle res-
Dictzedby Google
— 291 —
poodeale não recebeu carta alguma, nem lhe c(Hi9la que
seu irmio a recebesse; que nunca foi aos subredítos ajun-
ttmenles, neco também aos ditos donos das cases em que
elles se faziam, nem com elles lioba relação de amizade,
e qae somente o dito padre JoSo Ribeiro ia algumas vezes
procurar a elle respondente á sua casa ; e que tanto os nÍo
rrequentava que tiavia nove mezes que não ia ao Recife
>(é que elles fizeram o levantameuto: que na sobredita
denuncia que dizem fizeram contra elle, na verdade a não
fizeram contra elle respondente, e sim contra os ditos seus
irmãos ; que era verdade fdra preso, mas foi por suspeita
em razão de viver com seu irmão Francisco de Paula;
qna apresentou as cartas que lhe pediram; que se seu
irmSo não apresentou alguma não sabe a razão-, e que
a denuncia se mostrou falsa, porque elle e seu irmão foram
soltos, e depois fizeram a elle respondente coronel do seu
regimento, sendo só capitão. -
Instou mais, que dissesse a verdade, porque quando
chegou e mais seu {{"mio ao sitio dos Afogados, e achou
um destacamento por parte dos rebeldes, como acima
disse; traziam um maior numero de gente comsigo,' e
tinham mandado avisar mais, como acima disse, e por isso
nio tinham que temer d'e3te corpo que acharam, e podiam
quando temer sem ir para o Recife por ahí haver maior
numero de gente, voltarem para se ajuntar a gente que
tinham avisado, e fazer uma diversão aos rebeldes, ou
)l-os atacar; porque n'e33e tempo elles ainda tinham pe-
queno partido, e havia, muita gente por parte de Sua
Jfagestade, que se lhe unisse e defendesse a sua causa.
coroo a experiência mostrou depois, e nunca deviam entrar
no Recife a engrossar suas forças como engrossaram.
Respondeu, que a gente que traziam comsigo eram de or*
deoanças, que afio (ínham armas suSlcientes, porque a
TONO SXXI. P. I, 29
Dictzedby Google
maior parte (l'elles traziam páos e chuços, e que a gente
que estava avizada era d'esta mesma qualidade, e que não
tiaha outras armas, e pelo oontrario os rebeldes estavam
senhores de todas as armas e munições que havia oa praça,
porque se tinham senhoreado d'e]las, e fora da praça oio
havia deposito algum, e por isso não podiam atacar cem
Tacer diversão. E com effeito entrou no Recife, e então soube
o caso como havia sido antecedentemente por lhe dizerem
e informarem, que antes da revolução se tinha formado
um grande partido e rixa entre brasileiros e européos; que
á testa do partido d'esles se pozeram Alexandre Thomaz,
Manoel Joaquim Barbosa de Castro, Luiz António Salasar
Moscoso. e outros que lhe não lembram, e á testa do
partido brasileiro o padre João Ribeiro, Domingos José
Martins, Domingos Theotonio e outros, e estes partidos
ohegaFara a dizer dichotes uns aos outros, e fazerem pape-
letas de parte a parte, e isto azedou com um papd que fez
o DeSo Bernardo Luiz Ferreira Portugal, defendendo a
liberdade d'uma escrava contra um europèo, em que lem-
brou factos antigos d'es(es contra aquelles, e chegou o caso
a tanto que houveram denuncias ao general, feitas pelos
europftos, os quaes metteram a'ostas denuncias o desem-
bai^ador José da Cruz Ferreira, e a consequência d'isto foi
fazer o governador um conselho dos officíaes generaes, e os
priocipaes do partido européo eram vogaes, e decidiram
qae se prendessem os que elles disseram ; José Roberto foi
incumbido de prender os paisanos; o Salassr os que eram
officiaes do seu remonto, e o dito Manoel Joaquim
Barbosa os do seu regimento de artílhería ; e para exesutar
íslo os mandou ir aos quarteís no mesmo dia ás' duas
horas, e ahi principiou por uma falia em que os descom-
puaha; mondou conduzirá fortaleza Domingos TbeotODÍo,
« sofaindo este deu a voz de preso a José de Barros Lima,
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com quem linha grandes intrigas por causa d'u[na prMe-
riçâo, e este pucboa da espada, e lhe deu unia estocada,
e outros lhe deram mais até que o mataram ; chegando »
oalicia d'ísto ao palácio, sahiu Alexandre Thomaz só, e.
partia só sem patrulha a acudir a desordem, chega aos
quartéis mandou armar alguns soldados de infantaria qne
Tm ; mas a esse tempo os que tinham feito a morte tinham
desddo para baixo, e mandado armar alguns soldados,
e a estes mandatam dar f(%o, e matar o dito Alexandre
Thomaz ; quando chegou a noticia a palácio o governador
fugiu com osofflciaes que tinha comsigo, levando comsigo
8 guarda ; aquellesque se viram perdidos (limidos) locaraoh
rebate, juntaram gente e engrossaram suas forças ; e tendo
notícia que José Roberto eslava no campo do Irario com
muitos auxiliares, Pedro da Silva Pedroso partiu para lico»
uma patrulha njo grande, e José Roberto o nAo ataca, o
commandante da guarda do erário com os poucos soldados
que tinha se pâz em armas, o Pedroso mandou preparai
para dar fogo, ocommandante da guarda fez o mesmo oem
os poucos soldados que tinha ; o Pedroso tendo medo
volta e se retira, e porque José Roberto não o per-
seguiu, foi ter ã cadéa, soltou os presos entre oi quaes
estava Domingos Josó Martins, repartiu-lhes srrmas nos
quartéis, e todos se armaram, e com a gente que foram
ajuntando fizeram a desordem d'aque]!e dia, no fira te
qual foram outra vez ao campo do Erário, onde estava
José Roberto, este lhe faz entrega e parte para o Bruia, e
riles se apoderaram de tudo, assim como também tomainm
a cidade de Olinda ; e depois s« s^fuiu tudo o maia da
revolução.
E doesta maneira houve elle ministro estas perguntas pw
findas, que Hdas ao respondente disse estarrai conformH;
de que damos fé, e assignou cora dte miniitro, esMivi»
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_ 32i —
assistente, e eu João Osório de Castro Sousa Faleãu,
escrivão ds alçada, que o escrevi e assignel ; e declaro que
os segunda regra d'esta pagiaa a palavra — perdidos — se
deve ter— timidos— porque assim o disse elle respondeale ;
e porque assim o declarou, assigoou com os sobreditos,
e eu João Osório de Castro Sousa Falcão, que o escrevi
e assignei. — Luix Francisco de Paula Cavalcanti. — Joté
Caetano de Paiva Pereira. — João Osório de Castro Sotua
Fakão.
QUARTAS PERGUNTAS
• Adbo do nascimento de Nosso Senbor Jesus Cbriski
de mil oitocentos e dezoito, aos vinte e três dias do mez
de Outubro, nas casas da cadéa d'esta cidade da Bahis,
■onde veiu o desembatgador do paço e juiz da alçada
o Dr. Bernardo Teixeira Coutinho Alvares de Carvalho,
oommtgo escrivão e escrivão assistente abaixo nssignados,
fthi mandou vir á sua presença a Luiz Francisco de Paula
Cavalcanti e Albuquerque, ao qual fez as pei^untas pela
fónna seguinte, em ratificação das antecedentes, e conti-
nuação de outras.
■ Perganlado se ratificava tudo quanto bavia respondido
nas perguntas antecedentes, que D'este acto lhe foram lidas,
ou se tioba que accrescentar, diminuir ou declarar alguma
eoosa.
Bespondeu que ratiitcava tudo quanto bavia respon-
dido, e nada mais tinha que declarar.
Instou mais que declarasse a verdade, porque constava
dos autos, e era publico e notório que a emulação, que fez
partidos enire europtos e brasileiros, não era privativa
ia Nroambucú, mas sim gerul ao Brasil, u quo eita mesma
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— iiS —
s«via d'um bem, que vinba a ser de trabalbarem todos
para querer distinguir-se no bem publico e comroam, e
de nenhum se entregarem á preguiça, e de apurarem todos
nas sctenoias e nas artes ; que também era publico e notó-
rio que 05 insolentes se serviram d'esta emulação para
eocobrirem os seus projectos, e responderem, quando
houvesse alguma denuncia, que os adjuntos que faziam era
por causa d'esta emulação e se defenderem dos européos,
eque assim o fizeram em Pernambuco, enganando d'esta
maneira o governador, para elle náo dar as providencias
necessárias a este respeito, como se vê da sua proclamação
e ordem do dia dos dias quatro e cinco de Marco ; o que
lambem se vA dos autos, que se trabalhava ao projecto da
revolução em- Pernambuco ha muitos aonos, nSo só por-
que a maior parfe dos rebeldes o dâclararem, e se gabavam
publicamente de que ella tinha sido o fruclo, uns de sete,
outros de nove, outros de quinze, outros de vinte aonos;
que Pbilippe Neri e seu irmão se foram estabelecer no
Rio-Grande a pretexto de negociar, aSm de lá formar par-
tidos e espalhar idéas revolucionarias ; Domingos Theotooio
foi ao Rio de Janeiro ao mesmo lim a pretexto de des-
pachos, e que de lá veiu estar na Bahia para o mesmo
projecto; que o irmão d'elle testemunha foi ao Aracaty com
o cíniTgiSo Serpa já fallecido, e de lá veiu pelo Rio-Grande
e Parahjbd, formando gente ao seu partido; que isto é
tão publico, que os mesmos rebeldes em seus conselhos,
a que elle mesmo respondente assistiu, e em suas procla-
mações o declararam ; e até mesmo quando Domingos
Theotonio se retirou para o uorte declarou que ia lá
buscar os auxilies que tinha, comodle mesmo respondente
disse acima ; que é verdade que o rompimento foi repen-
linOf mas foi porque as denuncias dadas ao general e.as
unlens d'osta o fez abreviar e sahír antes do dia [HV-
D,:„l,;cdtv Google
jMtado, que «ra o dia seis ile Abril, dis d« acelameçSo
de Soa MagQstade; qae tanto os rebeldes estavam s^uros
dos ditos Irabaihos qua tinham feito para formar partidos,
qae, quando mandaram o governador Caetano Pialo para o
Rio de Janeiro, mandanoi com pena de morte ao capitão
e mais olHcíalidode da embarcação, que fossem com ban-
deira parlamentaria e com ella entrassem na barra do Rio
de Janeiro; o quede certo nâo fariam seahi não enten-
dessem ter partido, porque d'outra maneira era ir metler
estes homens a pena de morte, que Ibe competia pela lei
por serem unidos aos rebeldes e sujeitar-se a perder a
embarcação, que pela mesma lei devia ser confiscada ; qnc
05 mesmos rebeldes no seu conselho, a que assistiu elle
respondeste e seu irmão, autorisaram a Domingos José
Martins, por um decreto feito perante todos, para ir fretar
uma embarcação pelo dinheiro que podesse ajustar, para
ir a Moçambique buscar e tnzer ao irmão d*^e respon-
dente José Franúsco de Poula ; que com effeito o dito
ajustou a embarcação e foi por oito contos de réis, dando
logo cinco á vista, e Ires na volla ; o que se não p6de con-
siderar que se fizesse sem ter ajustado com elle de vir
unir-se á rovoluçáo, e vir fazer a sua força por ser militar
muito faabil; que, supposto elle não veiu oa dita embar-
cação, foi por ter noticias por outra embarcação que do
Rio de Janeiro tinha chiado antes, e contado as forças
que por maré terra se tinham mandado eonln Tenambuco,
pelos quaes via não podia entrar n'aqaella embarcação
sem forças maiores que d3o tinha.
Respondeu que elle não sabe se em PernSrabuco e no
mais Brasil havia de antigo emulação entre europèos e
bnsileiros, porque vivia em sua casa e não costumava
frequentar as casas dos outros ; que 6 verdade que esta
emulação levada pelos seus devidos lermos pôde ser um
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- ái7 —
bem, mas que levada ao ponto de fazer rixas, como aeou-
leceu em Peroambaco, é um mal ; qae nio sabe se os
rebeldes se serviram d'elta para pretexto paia encobrir os
seus projectos ; mas qae tanto se podiam servir d'islo os
eorepdos como os brasileiros, e que lhe consta que os
européos faziam parte dos ajunlameotos, e que elUi
respondente nunca foi aos ajuntamentos dos brasileiros,
nem sabe qae os fizessem ; e ouvia dizer que os européos
se ajuntavam em casa de um Manoel Caetano, logista, que
não conhece ; e que elle não sabia se os rebeldes se ser-
viram d'este pretexto para enganar o g;ovemador;que é rer-
dadt) que este sabiu com a dita proclamação e ordem do
dia, em que racommendava que não houvessem partidos
entre brasileiros e européos, que fossem todos unidos e
amigos; porém com isto augmentou o mal, porque fez
saber ao povo o que elle gorava, e é certo que o povo,
dando-se-tbe idéas de que p6de alguma cousa, se enche
de soberba e se faz peior, o que aconteceu entio em fet-
narobuco ; porque disseram então a elle respondente que,
quando os soldados ouviram ler a dita ordem do dia e pro-
clamação, houve enhre elles um grande sussurro ; e disse
mais que é verdade que os rebeldes em seus conselhos,
e principalmente Domingos José Martins e Domingos
Theotonio, se gabavam e faziam publicar em suas pro-
clamações que eram do seu partido as mais capitanias do
Brasil e alguns reinos estrangeiros ; e o dilo Domingos
José Martins até disse tinha gasto mais de vinte contos de
r^s do seu dinheiro para esta revolução : porém elle res~
pondenle examinou que tudo isto era falso, e que elles
espalhavam estas notícias para unir o povo a elles, e o
fazerem cuidar que a revolução se sustentava : que não
sabe se Phílippe Neri e dilo seu irmão foram para o Rio
Grande fazer partido de revolução, antes presume qae não,
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porqoe eram mui rapazes enião, e aio tiobam meios Mm
instracçlo para isso ; e que seu pai os Eoandíra pira lá
para evitar-lbes algumas travessuras de rapazes que em
Pernambuco faziam, e os pdz debaixo da vigia e direcç&o
de seus correspoodeutes ; que seu irmão é verdade que
fdra fazer a dita viagem, mas foi em razão da queixa de
peito que lem, pelo assim determioarem os médicos em
janta, e levou comsigo o dito cirurgião Serpa, já defunto,
e para o curar nos incidentes que houvesse, e que de facto
melhorou no sertão, posto que quando chegou a Pernam-
buco a queixa voltou ao mesmo; e que na volta doAracaty
não Toiu pelo Rio-Grande, mas veiu pela Parahyba para
vér soa fílba casada com José Castor Barbosa Cordeiro ;
e tanlo não foi pare seduzir que nem este seduzia, porque
sempre foi realista e nSo entrou na revolução da Parabyba.
E que Domingos Tbeotonio, ouviu dizer, que fora ao Rio
de Janeiro a seus despachos, e que voltara por falia de
dinheiro para ohi se conservar mais tempo, o que viera
pela Bahia, por d'ahi ser a embarcação que acboa mais
prompta ; que nio sabe que oUes estivessem preparados
e para fazer revolução no dia seis de abril.nem soube n^a-
qnelle tempo; que nfto assistira á deliberação que os
rebeldes tomaram a respeito da ida de Caetano Pinto para
o Aio de Janeiro e navio que o levou, e só soube d'esta
ida no dia em que elle embarcou; igualmente não sabe das
ordens que deram ao mestre da embarcação e mais officiaes.
E disse que não assistiu á deliberação que os rebeldes to-
maram de mandar vir seu irmão José Francisco de Pauta ;
que somente soube d'ella depois de tomada ; que instou
contra ella, expondo os sentimento de seu irmão ; e decla-
rando lhes que elle não havia deixsro certo pelo duvidoso,
que estava bem e se não havia de arriscar a ficar mal ; e
que elles mesmos rebeldes não tinham a dar-lbe mais do
D,:„l,;cdtv Google
— a«9 —
quB ell« já tÍDba ; porém «iles, nfto obstante as repetidas
iostancias que lhes fez, insistiram no seu projecto de man-
dar B embarcação; mas que eile não sabe quem foi o
mestre, nem quem fez o ajuste, nem n^isso ioterreiui
Inslon que dissesse a verdade, porque os rebeldes,
quando elle vindo de sua caça para o Recife para exami-
nar o que se passava como dito tem, antes de chorem, e
saberem que tinha chiado, o nomearam governador da
fortaleça das Cinco Pontas, porque quando elle respon-
dente alli ch^ou já ahi estava um portador a espersl-o
com a dita nomeação, a qual elle respondente aceitou ahi
mesmo sem ter ido saber o que se passava, signal de que
j<t o sabia, e os reputava com autoridade capaz para o no-
mearem ; porque aliás se desculparia, e diria que lhes
queria ir fallar primeiro, para saber o partido que havia de
tomar, se pró ou contra.
hespondeu que os rebeldes já sabiam que elle respon-
dente vinha, porque quando chegou com seu irmão aos
Afogados mandou dois offlciaes dos que trazínm, a. saber
onde estava o governador e se Ibe podiam fallar, e por
onde podiam entrar para isso ; que estes trouxeram a res-
posta, que o general tinha entregue o governo aos rebeldes,
o que os que estavam á testa d'elle lhe mandavam dizer
que eUes mandavam que entrassem, que viessem sem
medo, mas que sem falta viessem ; e que vindo e cbegando
ás Cinco Pontas ahi encontrou uma patrulha de trinta a
quarenta homens, cujo commandante lhe intimou que
elles lhe mandavam que elle tomasse conta da fortaleza, e
que desculpando-se, dizendo que queria fallar-lhes pri-
meiro, mas que elle não admiltiu desculpa, e que por isso
aceitou ; mas depois de entrar na fortaleza a entregou aos
mesmos, dizendu-lbes que ia fallar aos ditos representantes
como foi, e que elles o não nomearam porque entre elle
TOMO xxxt, p. 1 30
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respondente e elles hoaVesse dguma correspondência aa-
tenor; e que pensa súmenle o nomearam por elle ser
pessoa de representação, para assim impor ao povo e fazer
crer que tinham pessoas de representaj^o no seu partido.
Instou mais que dissesse a verdade, que a imposição
ao povo de o fazer crer que tinham pessoas de represen-
tação a seu favor, elles não eram loucos, que o fizessem
com perigo seu próprio cnmo era n'este caso de entregar
a fortaleza a um homoiu que não conhecessem, e de cujos
sentimentos não estivessem certos ; porque podia a mesmo
fortaleza batél-os, fazer-lhe destruição, e formar partido
a seu favor, porque a gente que fosse realista, como era
muita, e a experiência mostrou, podia recolher-se á forta-
leza, e ahi fazer-se forte ; e que nem elle respondente se
pôde valer de querer dizer que na mesma fortaleza não
havia força, e que ella ora insignificante para os bater e
fazer resistência, porque se o fosse não Cariam caso d'ella,
nem lhe poriam commandanie escolhido por elles mesmos.
Respondeu que a fortaleza das Cinco Pontas, que entre-
garam a elle respondente, era para elles um ponto insigoi-
Ucaníe, de maneira que cuidaram em se apoderar das
outras anles d'esla; que elle respondente não viu esperan-
ças de fazer n'ella alguma cousa contra elles ; que n'ella
não viu munições de guerra, nem de boca j que a guar-r
niçâo que ahi achou, toda ora do partido d^elles, e também
nada podiam por falta de munições ; e que o povo mesmo
quando foi entrando era lodos gritarem a favor d'el)es,
sem dar a menor mostra de realista, sem que elle respon-
dente podesse saber os seus corações ; e que tanto elles
reputavam esta fortaleza insignificante, que somente a
armaram quando para ella passaram os presos que tinham
Qà fortaleza do Brum, o que fizeram vários dias depois de
lh'a entregarem.
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— 9$1 —
ioBlou mais que dissesse a vardade, quaodo entregou «
fortaleza é dita guaraição e sahiu não foi, como cODSla dos
autos, em direilurs aos rebeldes, e ioformar-se com elles,
mas entrou primeiro na casa do coU^io, residência dos
governadores, e ahi esteve muito tempo antes de ir faltar
com elles, o que mostra que elle nealium interesse tinha em
fallar-ihes, e tudo o que tem mostrado é dito arbitra-
riameote.
Respondeu que não entrara no dito collegio, nem o
susto com que entrou deu lugar a desvíar-se do caminho
mais perto de chegar aos rebeldes, porque pelo caminho
foi vendo, sempre veudo patrulhas armadas e tumulto de
que se receiou, e n^esse tempo não soube que estivesse
pessoa alguma no dito collegio, e somente depois que fallou
com os rebeldes no campo do Erário ouviu dizer que lá
estava Domingos Theotoiíio com sua guarda.
Instou mais que declarasse a verdade, porque não era
segundo ella o que acima disse; que entrara no serviço
dos rebeldes com animo de fazer contra-revolução ou de
fugir, porque quando aceitou o commando do mar teve
mna occasião opportuna de fugir e o tiúo fez , e quando
aceitou o commando das tropas para o sul, em Porto
de Pedras, teve boa occasião de se unir a este povo, e
augmentar as suas forças, e o não fez ; quando d'abi voltou
para o Cabo e ahi chegou, podia engrossar o partido que
ahi se formou contra os rebeldes, e ajudal-os; jii então
assim como em Porto de Pedras havia o grande apoio das
Alagdas, que está levantada contra os rebeldes, o que serviu
de apoio aos ditos povos e ao de Porto de Pedras, e já
estava no mar o bloqueio da Bahia, que serviu de apoio
aos ditos povos, e lhes dou soccorros que lhes foram pedir ;
o podia ir augmentar as fon.'as que em litinga bateram
muito seu irmão Francisco de Paula, o u lizeram fugir; que
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— as2 —
faria astrameoer os rebeldes, veado que seus geaenes pría-
eiptaTam a faltar, o que tem acontecido em todas as guerras
onde islo lem acouteeido ; e faria que o dito seu irmão
s^uisse o seu esemplo, e eTílaria b etTusão de sangue, que
os rebeldes com a sua resistência fizeram na Utiaga e na
Ipojuca, DO Páo do Albo e msis partes ; que podia ainda
em Santo Antão sjunlar-se 00 capitão-mõr, e engrossar as
suas forças; que se não pôde desculpar, que se guardava
para os fazer fugir do Recife, e evitar a eflusão do sangue,
como acima disse, porque no seu quartel dos Morenos,
quaado de lá sahiu, nto podia adivinhar a resolução que
elles haviam de tomar; que emqusnto mesmo ao que diz,
qne no Recife resolveu a fiarem, isso é arbitrariamente
dito, porque elle completou esta obra como diz no dia
19 de Maio de manhã, e os rebeldes já antes tanta vontade
de fugir tinham, e de nfto fazer morte e violência alguma
mais do que as passadas violências, que tinham já quei-
mado lodos os papeis de que constava a sua culpa, porque
na casa do governo e da secretaria nenhum appareceu, e
andaram buscando todas as ordens que tinham mandado
para as diflerentes estações e pessoas do Recife, de ma-
neira que até mandaram buscar as que tinham mandado
para o inspector de milícias José Peres Campello.
Respondeu que não pMe fugir para o mar porque os
rehddes antes de lhe entregarem embarcação alguma lha
mudaram o destino, nomeando outro para o mar, e no-
meando-o para ir por leira para o sul, ajuntar gente em
auxilio de José Mariano : que se não uniu aos de Porto
de Pedras porque não podir ir senão sé a sua pessoa, e
não podia levar gente alguma por estar debaixo do com-
itaando de José Mariano, e não confiava da fidelidade
d'essa gente, porque de toda desconfiava ; que não pede pas-
ssfrse para o povo que fez a contra-revolução em Seríohi
DictzedbyGoOglC-
0133 — .
(Serinham^ e depois foi a balalbs de Utinga, p^a mesma'
razão de dSo poder ir seoão só, como foi em Porto de
Pedras, e assentar que fazia maior serviço a Sua Magestade
em observar de perto o que faziam os rebeldes que n'elle
se fiavam, para melbor remover os seus intentos e desfazer
os seus projectos; e que por isso mesmo conseguiu o
mandarem-no para Santo AnUo, para onde se uAo fosse
■isso mandariam outro que fizesse estragos, e não fizesse
o que elle fez; que até de lá mandou dizer ao capitão-mór
do Páo do Alho que ficasse certo que a sua tropa o não
ofTeadia, e que até Ibe mandaria munições se elle as qui-
zesse. E que os rebeldes somente depois de se acabarem
dç resolver, de passarem as sobreditas ordens, é que cui-
daram em ajuntar e queimar esses papeis que queimaram,
e que antes não cuidaram adisse ; e que ouviu dizer que
quem os moveu a queimar os ditos papeis foi o padre
Miguel Joaquim de Almeida e Castro, que o fez não
obstante oppAr-se o padre Tenoria; e que, emquaato ao
elles lerem desistido de fazer mais, elles sabiram com a
tenção de os coDtiDuar, e elle respondente os evitou pela
forma que fica dito.
Instou mais que fallasse a verdade, porque pelo que
agora dii mesmo, elle podia passar-se pare o partido dos
realistas com a gente que levava comsigo ; porque diz —
que escreveu ao capitão-mór do Páo do Albo, dizeodo-lhe
que lhe mandaria munições se as quizesse — , e assim como
tinha gente fiel para levar estas, e as conduzir sem oppo-
sição dos outros que abi estavam, ou porque não po-
dessem oppdr-se-lhe, ou porque não soubessem que as iam
levar; também elle respondente podia safair com elles, ou
para Santo Antão, ou para Páo do Alho, e ir engrossar os
realistas e fazer tremer os rebeldes.
Respondeu que para mandar as ditas munições bastava
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pouca gente, qae é verdade que tinha por seus fieis os
necessários para isto, mas qae para o acompanharem eram
tão poucos, que era o mesmo qae ir só ; e que sempre as-
sentou que ficando fazia melhor serviço a Sua Magestade,
porque fazia-lbes despender, pedindo-as conlinuamente
as munições e mantimentos que os rebeldes tinham, e os
p6r em estado de não fazer cousa alguma ; no que tinha
toda a esperança, porque tinha no Recife pessoas que lhe
davam parte de todos os movimentos dos rebeldes.
E por esta maneira houve elle ministro estas perguntas
por acabadas, que lidas a elle respondente disse estarem
conformes ; e debaixo do juramento dos Santos Evangelhos
recebido disse ratificava tudo quanto havia dito a respeito
de terceiros, do que tudo damos fé, eassígoou elle respon-
dente com o juiz da alçada, escrivão assistente, o desem-
bargador José Caetano de Paiva Pereira ; e eu João Osório
de Castro Sousa Falcão, escrivão da mesma alçada, que
o escrevi e assignei.
E inston mais que fatiasse a verdade, do que fez Domingos
Theotonio na sobredita ida ao Rio de Janeiro c Bahia,
porque assistindo elle respondente ã muitas sessões e
conselhos dos rebeldes, egabando-se elles, cada um do que
tinha feito a favor da revolução, como fez Domingos José
Martins como fica acima dito, também Domingos Theoto-
nio, se havia de gabar dos seus trabalhos, e do que tinha
feilo, o que elle respondente por força havia de ouvir.
Respondeu que nas sessões e conselhos a que élle
respondente esteve, e votou, o dito Domingos Theotonio
somente disse que os povos do Rio de Janeiro e Bahia
estavam dispostos para a revolução, porém não especificou
pessoa alguma, nem também o que elle fez a esse respeito,
ti que não sabe se elle n'ouUa occasião o disse.
E por este modo houve elle ministro estas perguntas
Dictzedby Google
— astí —
por findas, que lidas por elle respondente, e aohsndo-as
conformes ao que havia respondido assignou com elte juiz
da alçada, dito escrivão assistente ; e eu João Osório de
Castro Sousa Falcão, que o escrevi e nssignei. — £u»
Francisco de Paula CavaicarUi. — Joté Caetano de Paiva
Pereira. — João Osório de Ca*tro Sousa Falcão.
RATIFlCAÇlO
Anno do nascimeuto de Nosso Senhor Jesus Cliristo
de mil oitocentos e dezoito, aos vinte e três dias do mez
de Outubro, nas casas da cadõa d'esta cidade da Bahia,
aonde veiu o Dr. Bernardo Teixeira Coutinho Alvares de
Carvalho, desembargador do paço e juiz da alçada, cotn-
migo escrivão abaixo assignado, e o escrivão assistente
também abaixo assignado aonde mandou vir á sua presença
a Luiz Praucisco de Paula Cavalcanti e Albuquerque, para
o Sm de ratiQcar as perguntas antecedentes, pela maneira
seguinte:
Perguntado se ratificava o que havia respondido nas
perguntas antecedentes, ou se tinha a accrescentar, dimi-
nuir, declarar alguma cousa, e se tinha mais que dizer em
seu favor.
Respondeu que ratificava tudo quanto havia respondido,
e nada mais linha que dizer e declarar.
E por esta maneira houve elle ministro esta ratificação
de perguntas por findas e acabadas, que lidas a elle res-
poadente disse estarem conformes, e assignou com elle
juiz da alçada, de que tudo damos fé, e o escrivão assis-
tente ; e eu João Osório de Castro Sousa Falcão, escrÍTâo
da alçada, que o escrevi e assignei. — Luix Francisco
de Paula Cavalcanti. — José Caetano de Paiva Pereira, —
João Osório de Castro Sousa Falcão.
Dictzedby Google
QUINTAl PKItGOMTAS
Addo do DMcimeDto de Nosso Senhor Jesus Chrislo
de mil oitoceotos e dezoito, aos vinte e sete diis do mez
de Outubro, nas cadèas doesta ddade da Bahia, aonde veiu
o Dr. Bernardo Teíieira Coutinho Alvares de Carvalho,
commigo escrivão abaixo assignsdo, e escrivão assistente
José Caetano de Paiva Pereira, ahi mandou vir á sua pre-
sença a Luiz Francisco de Paula Cavalcanti e Albuquerque,
e lhe fez as perguntas seguintes :
Perguntado se elle reconhecia a assignatura que d'elle
se acha no papel chamado — Preciso—, que se acha a fo-
lhas oitenta e seis verso do Appenso— F —
Respondeu que sabe que o dito papel foi feito por José
Luiz de Mendonça ; e que a letra com que está escripto o
nome d'elle respondente é em alguma cousa semelhante
i sua própria, porém realmente não é sua porque- a não.
fez, nem tal papel assigaou.
Pei^ntado se ratificava as perguntas antecedentes, ouse
tinha mais que accrescentar, dimiauir e declarar al-
guma cousa.
Respondeu que ratificava, e nada mais tinha a dizer.
£ por esta maneira houve elle ministro estas perguntas
por findas e acabadas, e lidas a elle respondente disse
estarem conformes, de que damos fé, e assígnou com elle
juiz da alçada, escrivão assistente; e eu João Osório de
Castro Sousa Falcão, escrivão da mesma alçada, que o
escrevi e ássignei.— /^is Francisco de Paula CávalcanU. —
José Caetano de Paiva Pereira. — João Osório de Castro
Sousa Falcão.
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— 237 —
PBRGDNTAS k J020 DO REGO DANTAS
Anão do oascimeQU) de Nosso Senhor Jesus Christo de
mil oítocealos e dezoito, aos doze dias do mez de Novem-
bro, na cadéa d'esta cidade da Bahia, aonde veiu o
Dr. Bernardo Teiseira Gouliaho Alvares de Carvalho, des-
embargador do paço e juiz da alçada, coininigo escrivão da
mesma abaixo assignado, e escrivão assistente o desembar-
gador José Caetano de Paiva Pereira, ahi mandou vir á
soa presença o preso João do Rego Dantas, ao qual, posto
em sua liberdade, lhe deferiu juramento aos Santos Evan-
^Ihos, pelo que tocasse a Areeiro, e por elle recebido,
lhe fez as pei^untas seguintes :
Perguntado seu nome, naturalidade, morada, estado,
idade e occupaçâo.
Respondeu chamar-se Joéo do Rego Dantas Monteiro,
natural e morador no Recife de Pernambuco, casado, de
quarenta e quatro annos, ajudante do refimenio de infan-
taria do Recife.
Perguntado quando e onde foi preso, e qual foi o
molívo da sua prbâo.
Respondeu que foi preso no dia trinta de Maio de mil
oitocentos e dezesele, no quartel general do Recife, e que
foi em consequência da revolução succedida em Per-
naníbaco.
Peiguntado que, visto ser preso em consequência da
revolução de Pernambuco, deve declarar que lugares teve
n'ella e que serviços lhe prestou.
Respondeu que elle serviu sempre no dito seu regimento
com estimação de seus superiores e até mesmo de seu
governador ; que em Aggslo de mil oitocentos e quinze
foi mandado ir em segundo official do destacamento
qae fçi para as Alagdas, e que, sendo ahi incumbido de
TOHO XXXI, P. I 31
zed^^^Ogle
varias dUigeucias de segredo pdo marechal José Bobeio e
governador, as execalou «om louvor dos mesmos ; em
Março de mil oitocentos e dezeseis veiu com licença psra
o Recife, e ahi veiu a ficar em consequência d'ums troca
qae fez com outro oQicial que quiz ir para as Alagoas s o
requereu ; que no dia seis de Março de mil oitocentoft
e dezesete o brigadeiro Salazar o mandou prender ao se-
gando ajudante do mesmo regimealo Manoel de Sousa
Teixeira, e o prendeu ã uma hora da tarde, segundo a
ordem qae lhe foi dada, e o levou á fortaleza d» Cinco
Pontas, e d'ahi deu parte ao mesmo brigadeiro, e na mes^
nu fortaleza ftOou também errando pela resposta; e logo
que sahia com a dita parte o official inferior tocou a re-
bate na igreja de S. José, que fica porto da fortaleza, a
d'ahi a pouco appareceu Domingos Theotonio conduzido
preso pelo capitáo António José Victoríano ; e logo 4epois
veiu o mesmo capitão buscal-o por ordem de José de Bar-
ros Lima, porém <« commandante uSo o lai^ou, dizendo
elle respondente ao dito Victoríano que o coromandania
tinha razão, porque elle mesmo o tinha trazido preso á
ordem do general, e por isso mvmo precisava de ordem
do general para o levar; e se foi embora. Depois d'Í3so.
pelas quatro horas da tarde poncc mais ou menos, appare-
ceu Manoel de Azevedo Nascimento, capitão do regimento
d*eUe respondente, e disse ao commandaDte da fortaleza
que lhe entregasse o capitão Domingos Theotonio por
ordem do general, e o commandante da fortaleza mandou
soltar 80 dito Domingos Theotonio, e lh'o entr^ou ; e
aqueHe Azevedo perguntou a elle respondente e ao outio
ajOdante dito Manoel de Sousa o que faziam alli ; e lhe
respondeu elle respondente que «stava esperando a res-
posta de um offioio que tinha mandado ao seu brigadeiro ;
e então o' dito Azevedo disse para o commandante : -~ Os
Dictzedby Google
— aâa —
sealiores tainbem bão de ircomntigo— ;ejQsteUie respon-
deu que alli não eram precisos, e os deixou ir, e foram;
e ^e respondente antes de sahir da fortaleza, e aales
mesmo de chegar o capitão Azevedo, quando sahiu o dito
Anlonio José Vicloriano, disse para o sobredito Qpmman-
danle que mandasse municiar a sua gente, e fechar o por-
tio da fortaleza, porque sem duvida aquillo era desordem
008 quartéis, o que fez o dito conunandanle. Indo elle
respondente com o dilo Azevedo na forma dita, chega-
ram aos quartéis ; abí estava José de Barros Lima, e mui-
ta gente, soldados e paisanos, dos quaes só Ibe lembra o
nome do padre João Ribeiro, que estava de batina, e os
quartéis guarnecidos de artilheria ; e quem abí dominava
era o dito José de Barros, o qual armou uma patrulha, e
a mandou aom elle respondente. Domingos Tfaeotonle e
dito Manoel de Sousa Teixeira, para o largo da cadèa,
onde acharam Domingos José Martins com muita tropa
em pelotões, estendida até perto do campo do Erário ;
e este pegou pelo braço de Domingos Theotonio, e o
ievou para a parte do CoUegio, e disse em voz alta,
que ouviu elle respondente : — Este é o homem
que ia ser sacrificado. — Depois d*isto perguntou
elle ..je^udente aos que estavam junto d^elle : — Que
é isto?' — Respouderam-lhe que não sabiam, mas que
Ibes parecia ser desordem de enropéos com brasileiros, e
qae o general tinha ido para o Recife. E porque elle
respondente tinha ouvido tiros de artilheria quaqdo sahia
das Cinco Pontas também perguntou que tiros foram; ao
que lhe responderam que suppunbam ser Antomo Henri-
qaes que tinha marchado para lá ; e estando ahi postado,
is seis horas pouco mais ou menos, correu uma voz, que
o marechal José Roberto, que ahi se disse estar no campo
do Erário, entregara este campo, e a gente que estava com
Dictzedby Google
— 2i0 —
elle se unirn á •^eDte de Hartins, e iogo immediatsmenie
viu elte respondente eDlrarem os pelotões ds vaogiurda
para deatro do campo ; porém, como esteve sempre oa
relagflarda, não viu o que se passou no campo, nem tam-
bém se Martins foi com os ditos pelotões, nem quem o
acompanhou ; o depois ouviu que José Roberto linha
sido mandado para.o Bnim sem lho dizerem quem o man-
•dou; depois que entrou a vanguarda entrou tanbem a
retaguarda, e então foi também elle respondente ; o depois
que cTu^u viu que Domingos Tbeotonio entrou a deta-
lhar a gente que entrou etn pelotões, e a guarnecer o mes-
mo- carapo com artitheda ; depois reparou e viu luz no
Erarip ; e a Ioda a gente gritando : — Viva o rei e viva
a patiia I — e se deu ordem pata ninguém sahir ; e toda a
noite se conservou n'aqueUe campo até o outro dia, que
o deixaram ir jantar, e assim Qcou servindo no seu posto
até o dia vinte e um de Março, em que sahiu uma promo>
çto feita, em que elte respondente sahia capitSo ; depois
d'isto no dia treze d'Ábril foi elle respondente nomeado
para levar om destacamento por mar ao Váo de Una para
entregar ao tenente-coronel António José Victoriano, que
depois soube linha fugido das Alagoas ; porém, chegando o
bloqueio mandado da Babi#, não pdde sahir, ape-
sar de ji estar embarcado; e por isso o mandaram conduzir
o dito destacamento por terra, chegou com elte a villa do
Cabo, e ahí, em lugar de seguir o caminho do centro, foi
pela praia, e chegou á barra de Serinhaem, onde mandou
embarcor a gante para passar para o outro lado ; aqui teve
noticia, que o capitflo-mór de Serinhaem tinha arvorado a
bandeira real e tinha marchado a encontral-o pelo centro,
por onda suppunha que elle respondente marchava; gostou
d'esla noticia, porém como não tinha pessoa de quem se
iinsse para se communicar com o capit^io-mór, com medo
D,:„i,;cdtv Google
— 241 —
deserporellesurprehendido.retrocecteucoino mesmo des-
aumento para o porto de Gallinhas, o qual destacamento
era de cem homens, com os quaes tinha sabido do Recife ;
chegando aqui escreveu uma carta ao dito capitão-mór de
Serinhaem, que lhe mandou por um pardo escravo que
disse ser do um fuão, que lhe parece ser iccioli de Seri-
nhãa (Serinhaem), o qual escravo tinha sahidocom elle res-
poudente e o destacamento do' Recife, mandado pelo
governo para ser um dos carregadeiros, na qual carta lhe
dava os parabéns de ter levantado a bandeira real, e lhe
dizia que não ia já reunir-se a elle pelo suppdr sem
forças para resistir ao exercito todo dos rebeldes,* que
estava em Una commandado por José Mariano, e de
Ipojuca para o norle tudo estará pelos rebeldes; mas que
elle respondente ia escrever ao goveroo provisório dando-
Ihe parte do estado em que se achava, de ter levantado
as bandeiras reaes Serinhãa [Serinhaem), e não pod6r
continuar sua marcha por não ter munições, pois que
oão tinha senão o cartuxame dos soldados e as armas
todas quebradas, para o mesmo governo lhe mandar o
soccorro necessário, afim de depois de o tos se lhe ir unír e
segurarem ambos a bandeira real ; e lambem lhe dizia,
que escrevia ao coronel Manoel José Pereira de Mesquita
para sondar o seu animo, e segando a sua resposta , se fosse
favorável, resolver os seus soldados e levantar elle mesmo
fc reaes bandeiras; pedindo-lhe a resposta com brevidade ;
e estando ahi três dias, e não tendo ainda resposta de Seri-
nhaem, e tendo a do dito coronel Mesquita em que lhe
dizia qee lhe agradecia o aviso que lhe |déra de ter Seri-
nhãa (Serinhaem) levantado as bandeiras reaes, que pas-
sava a fortificar as entradas da parte de Serinhãa, {Seri-
nhaem) para de lá não vir gente conUa a pátria, e que
por não estar comraandando o seu r^imenlo lhe não
Dictzedby Google
— 242 —
mandava já refori^ de gente para o ajudaj! ; mas que
dava parle ao coronel Igoacio para Ih^a mandar ; com
cuja resposta eUa respondente ficou desconBado d'elle ;
e também ahi recebeu resposta dos commaDdantes do
porto de Gallioliss e do 0\ des quaes um lhe dizia
que no outro dia viofaa com reforço, e outro que nio
podia vir por ter mandado a sua gente para Una, onde
estava José Marjano; e n'es&e tempo recebeu uma ordem do
governo para retroceder para o Cabo, e quando chegou esta
ordem cliegou também uma pouca de ordenança, que o
mesmo provisório havia mandado ; em virtude da qual
ordem marchou para o Cabo com a gente que tinha, e foi
ter ao engenho aonde achou o capitão-mór de Olinda,
Franciscp de Paula, com um corpo de tropa, que seria de
quinhentos homens, duzentos de linha, e o resto milícias
e udenan^as ; e ahi Geou elle respondente com a gente que
levava és ordens do dito capitão-mór, por estar nomeado
o commandante geral d'aquella força, o qual o mandou
vigiar sobre as ordenanças para o seu pagamento 6 forma-
tura. D'ahi passaram para o engenho Garap'ú, e doeste
depois de algun^ demora para o engenho da Utinga, e aqui
ou no dia trinta de Abril ou primeiro de Maio foram ataca-
dos pela uma hora da tarde ; mas elle respondente então
não soube quem foram os eommaudantes da gente que os
atacou, e o ataque durou até as cinco horas e meia da tarde,
pouco mais ou menos; e no outro dia de manhã reUraraifr
para o engenho de Garapú, e não sabe os mortos que
ficaram, nem armas, e só lhe lembra que fícaram alguns '
carros com chuços, clavinas e pólvora, que não {Mderam
levar comsigo para o engenho ; e estando n'este engenho'
chegou Domingos José Martíns no outro dia de manhâ,com
um corpo de gente, que andaria por trezentas pessoas ar-
madas, o cora artilberia, o so aquartelou com sua gente
Dictzedby Google
— 243 —
s«para^inente ; depois d'Í3lo mandou o dito capit3o-Diór a
eUe raspoodente para a fortaleza à» Nazareth, que fica na
poDla do Cabo, por Ibe terem dado parle que o coinman-
danle d'e8ta fortaleza , ínia Couto, tioba retirado a sua
goamição e palameata para a fortaleza do Gaibú, e ordenou
a elle rospondeate que eiaminasse este facto, e desse parte
e tomasse o commaododa dita fortaleza de Nazaretb; che-
eaado a esta fortaLesa, acbou que o dito commandante, a
dita guaniiçdo- e palamenta para o Gaibú, por ordeni que
tiréra do governo provisório, e por isso Ibe dío tirou o
commaDdo da fortaleza, e o tratou com attenção por co-
nhecer n'elle espirito de realista ; e conversando com o
mesmo sobiepAresta fortaleza em defesa a favor dos rea-
listas, acbaram que tioba só cinco peças com as carretas
podres, e que estavam n'am sítio muito baixo, e não havia
instrumeitfos para as conduzir para cima ; ahí se demorou
dez dias, no fim dos quaes recebeu ordem do governo dos
rebeldes, a quiMn tinha dado parte da soa situação e estado
da fortaleza, na qual ordem lhe mandava que se fosse unir
OQtra rez ao dito capitão-mór de Olinda ; porém nSo execu-
tou esta ordem e partiu pare o Recife, e foi dizer ao governo
que a nâo podéra executar por doente, e o mandaram para
o seu quartel. E depois d'isto, observando elle respondente
que os insu^entes qaeriam repartir as suas forças, man-
dando parte para Olinda e parte para as vizinhanças do
Recife, convocou vários sujeitos do Recife, enire estes a João
Duarte, João Botelho Netto.o cirargião Costa, e outros que
conhecia do vista, para que logo que oã rebeldes dividissem
as ditas forças, elles com a gente que podessem ajuntar,
e com elte respondente, irem tomar a fortaleza das Cinco
Pontas ; mas, marchando os rebeldes oa tarde do dia deze-
DOTO de Maio para Olinda com todas as foiças que ahí
tinham, lembron-se elle respondente ir a Olinda tirar a sua
Dictzedby Google
família que Unha D'esta cidade, e ti'essa noite entrou eia
Olinda j)aia esse fim, mas não a pAde tirar por causa da
muita chuva; de manhã, vendo que elles se retiravam para
o norte, e que deixavam na cidade algumas pe^as encra-
vadas, fez juizo de que elles iam fugidos, deixou-os ir, e
se ficou na mesma cidade, e ahi fez levantar logo n^essa
manhã a bandeira real, e acciamou a Sua Mageslade, c
se uniu ao capitão António de Santiago, que também a)U
flcou e levantou bandeira real, com a qual vinha, e com a
gente que se lhe uniu vieram em soccorro do Recife,
aonde já os realistas tinham salvado, e levantado bandeira
real, tudo na mesma manhã, que foi a de vinte de Maio ;
e se foi apresentar na fortaleza do Brum ao brigadeiro
Salazar, que a estava já commandando ; e depois ao mare-
chal José Roberto, que eslava govemuido.no Recife, que
o mandou para o seu quartel, e que alislajse a gente que
tinha vindo com elle respondente, o que fez até a tarde,
em que chegou o capitão Joio Tavares, que ficou de estado-
maior, e continuou o dito alistamento, e elle respondeole
ficou is ordens do dito marechal, até vir o Rodrigo Lobo,
a cujas ordeos ficou até ser pieso como dito tem. E decla-
rou que no terceiro ou quarto dia depois do dito dia seis
de Marçp escreveu uma carta a João Baptista dos Santos
Pinto Loiola, morador na villa das Alagéas, dizendo-the
que se fosse municiando com a^os amigos, que elle jul-
gasse capazes, juntando armas; pois que o levantamento
de Pernambuco não podia subsistir por muito tempo, e
que, bastava a fome além do mais para devorar aos
levantados ; que elle respondente jião podia ir já por causa
das moléstias de sua família, mas que logo que podasse
havia de ir, e que estivesse prevenido contra qualquer
ordem, proclamações e mais papeis do governo provisó-
rio, porque tudo era um engano para ter o povo a seu
D,:„l,;cdtv Google
_ S45 —
■ íaTOi, de cuja caris recebeu respo&la. Depois d'isto cha-
mou a elle respoodente Domingos Tbaotoaio, e lhe disse
escrevesse aos seus amigos das AlagAas e lhes dissesse
que a revolução nada tinha com os europAos, que estes
estivesseAi socegados, que se lhes não fazia mal ; em con-
sequência d'iato escreveu ao dito João Baptista ootra caila
DO erário diante do mesmo Domii^[os Tbeoloaio, segundo
a dita sua recommendação, poróm disse ao portador, ao
qual alli entregou a dita caria, que fosse por sua casa para
também lhe levar outra ; elle foi, e eniáo elle respondente
escreveu uma cartinha ao mesmo seu amigo, em que lhe
dizia que não fizesse o que elle dizia a'aquella caria,
mas sim o que já lhe tinha dito na primeira, e depois
Ifae mandou outra carta por ontro portador a reeom-
mendar-lbe o mesmo. E declarou mais que quando o
sobredito António José Victoriaoo foi para soltar o dito
Domingos Theotoaio iorge á fortaleza das Cinco Pontas, e
ocommaodante o não soltou, Domingos Theolooio cbamou
a elle respondente e lhe perguntou : — que era isso, que
queria o dito Anlonio José Víctoriano— ; lespondeu-lhe que
vinha buscal-o por ordem de José de Barros Lima, que se
etie fosse o Sr. Domii^s Theotoaio oSo queria ser solto
sem ordem do general, porque não tendo culpa nada tinha
que temer mais que algum incommodo de prisão ; que
d'Í8to seria talvez, o que depob se disse,— M]ue elle respon- ■
dente fâra A fortaleza para assassinar a elle e aos mais que
para lá fossem «, cujo boato o fez andar algum tempo as-
sustado, e que obrassem com elle algum despotismo, mas
não obraram ; por isso, e outras miudezas, se persuadiu
que os rebeldes sempre o tiveram em má fé. E muito mais
por nunca ter amizade com elles, isto é, com os que ligu-
rarom mais, e representarabi na revolução, que vôm a ser
os cinco governadores Domingos José Martins, padre João
TOMO XXXI, f, I. 32
Dictzedby Google
— ai6 —
Ribeiro, José Luiz de Mendoni;.», Manoel Corrêa de Araiijo,
e Domingos Tbeotonio Jorge, com José de Birros Lima,
seu genro José Mariano de Albuquerque, Pedro da Silva
Pedroso e António Henriques, e todos os mais que foram
premiados pelos rebeldes com empregos que Ibes deram.
E por esta maneira houve elle ministro estas perguntas
por findas, que lidas ao respondente disse estarem confor-
mes, de que damos fé, e assignou com elle juiz da alçada,
escrivão assistente, e eu João Osório de Castro Sousa
Faleáo, que o escrevi e assigoei. — João do Rego Dantat
Montâro. — 3o»é Cabano de Paiva Pereira. — João Osório
•*« Castro Souia Falcão.
SEGUNDAS PERflrKTAS
No aono do nascimento de Nosso Senhor Jesus Chrísta
de mil oitocentos e dezoito, aos quxilorze dias do mez de
Novembro, na cadéa d'esta cidade da Bahia, aonde veia o
Dr. Bernardo Teiteíra Coulinho Alvares de Carvalho,
desembai^ador do paço e juiz da alçada, commigo escrivio
da mesma abaiio nomeado, e escrivão assistente o desem-
bai^ador da supplicaçào Caetano de Pnrva Pereira, ahi
mandou vir i sua presença ao mesmo João do Rego Barros
{Dantas), e Ibe fez qs perguntas seguintes.
Perguntado se ratificava o que havia respondido nas
perguntas antecedentes n^este acto lidas, ou se tinha qnç
accrescentar ou declarar alguma cousa.
Respondeu que ratificava o que havia respondido, e
não lhe lembrava mais a dizer, e somente declarava que
os rebeldes desconHaram sempre do regimento d^elle res-
pondente, e o desarmaram até que fiiceram a promoção de
Dictizeriby Google
— 2i7 —
xitía e um de Matço, occupanda-o somente até aqui eta
algumas roodas do costume.
Instou qae declarasse a verdade, porque coostava dos
autos que tanto o regimento de artilhwia como o de
infanloria d'elie respondente foram os quo fizeram a força
dos iusui^Dtes no dia seis de Março; e que ambos elles
estarão corrompidos anteriormente, pelos ditos insnr-
geates, sendo o principal d'e$tes Domingos José Martins,
que por etles tinha repartido muito dinheiro, que tirava das
fazondas a elle comraeltidas, do que elle mesmo se gabou
publicamente depois do dia seis ; e isto se mostra evidente-
mente pelo que n'este dia aconteceu, porque assim que foi
solto da cadéa em que estava toda a tropa lhe ficou obede-
cendo, eelle o principal commandantena entrada e tomada
do campo do Erário, o que não podia acontecer sem a tropa
eslarcorrompidaantecedentemente.porque nunca aconteceu
qufttropaalguma, aínda que em pequeno corpo, obedecesse
e tomasse por seu superior e commandante um paisano,
que nunca foi militar,nem reputação jamais leve d'isso; que
nunca foi magistrado, nem teve em tempo algum autori-
dade alguma publica, peta qual estivessem acostumados a
re^ilal-o, e obedecer-lhe, porque nem ainda mesmo
como commercianie tinba respeito e reputação, poeque era
publico e notório que, largando de caixeiro, bavia princi-
piado a negociar em Londres por industria e engano, e que
logo ahi quebrara, conhecido o mesmo engano, que d^ahi
fora a Lisboa, e não podéra ganhar reputação ; de lá a esta
cidade da Bahia , onde commetlendo roubos fingindo letras
de outrem, e d'aqui fugira para Pernambuco, onde obtivera
dos seus amigos semelhantes commissões ; mas que por
nSo satisfazer a ellas estava ji quasi a quebrar.
Respondeu que a instancia é feita debaixo de prinoi-
pios, o é bom de suppdr o que n'ella se diz ; mas que elle
Dictzedby Google
— 2i8 —
iespoadeDte,apezaT de ser um offiúalde otdeas.como aju-
daole, nuQca pMe perceber essa corrupção nem d'elU
soabe nada: e que lhe parece que o seu regtmeato fAra
engauado, pelas vozes que se davam de— Viva el-rei, viva a
pátria — a^aquelle dia sets.porque depois que foi publico que
os iosurgeates tomaram o goveroo, ficaram desconleates ; e
qae por isso os rebeldes o occuparam só oas guardas, que
acima disse ; e que também ouviu dizer que se levantara
uma TÓz, que o regimento de iofantaria se queria levantar
contra o de artilheria, e qua para evitar isto o governo pro-
visório adiantara a promoção, para pAr o regimento debaixo
dos ordens do cbefe por eiles escolbido, Pedro da Silva
Pedroso, que da arlilberia para U mandaram.
Instou mais que a promoçSo não era bastante para ac-
commodar os soldados do regimento.porque a promoção só
utiUsava aos officiaes, e a utilidade dos oflSciaes uao podia
satisfazer aos soldados, que a não recebiam ; e vinba a ser
necessarÍo,que houvesse alguma outra cousa que lhes pres-
tasse utilidade, e esta nSo podia ser oatra que o dito
sobomo ; e que o nomear-lhe para coronel o dito Poderoso
{Pedroso) capitão de artilheria havia de desgostar aos
oQiciaes que pieteudessem ser coTnpeis,e a todos os outros,
que pela piomoçSo de um d'estes haviam de subir um posto;
e que assim o mandarem ao regimento por coronel ao
Poderoso, (Pedroso) em lugar de accomoiodaT o dito regi-
mento, o incendiaria mais, e mais depressa lhe faria
fazer o dito levantamento contra o regimento de artilhe-
ria, se fosse verdadeira a dita voz de que o pretendia fazer.
Respondeu que se mostrava não estar corrompido o
regimento de infanteria, pela mesma paga de soldos que
lhe deram, pois que a cada soldado de infanteria deram
cem réis, e a cada soldado dos batalhões de caçadores»
tirados das milícias, couto e vinte réis; e aos de artilheria
Dictzedby Google
— á49 —
a cento e quarenta r^s, e aos officiaes á proporção; o que
fizeram depois do dia seis; e que Poderoso (Pedroso) depois
que foi coronel fez sabir o dito tostão a seis víotens; e que
dle respondente com cousa alguoaa d'estas Geou satisfeito,
nem modou de animo de servir a sua magestade, porque o
lagar que Ihederara de capitão era o mesmo que elle respon-
dente esperava de Sua Mageslade por ser dos tenentes mais
antigos, e o esperara na primeira promoção; e o augmeato
de soldo também lhe não fazia differeoça, pelo que recebia
como ajudante, e ter maior descanso. £ que o dito Pedroso
os conteve por terem medo d'e)le, em razão d'elle ser par-
cial dos do governo provisório, e um dos princípaes insur-
gentes.
Instou que dissesse a verdade, que o que acima res-
pondeu, que quando foi levar á fortaleza das Cinco Pontas
o ajudante Manoel de Sousa Teixeira dera parte ao briga-
deiro Salazar, que Ib^o mandou prender,e que ficara ahi es-
perando pela resposta ;indica que elle respondente era tam-
bem da pareíalidade dos insui^entes.e ficara ahi, para sur-
prebender o commandante com os mais presos que viessem,
que todos eram iosui^entes,o com os officiaes que os trou-
xessem o elle conhecesse como taes ; porque com entregar
o preso que Irouie ao commandante tinha satisfeito a sua
commissão, e para dar parte d'isto podia ir para sua
casa ou para onde quizesse e de lá dar pfrte, e lã mesmo
esperar a resposta para vêr se lhe davam nova commts-
são, visto que aquella estava satisfeita.
Respondeu que, quando o brigadeiro lhe mandou pren-
der ao dito Manoel de Soosa Teiíeíra, lhe disse qae o
levasse is Cinco Pontas-, que havia de achar ordem para o
commandante o metter no segredo ; e checando lá não
acbou 8 dita ordera,o o commandante dizendo que tal ordem
não tinba, fot-lhe necessário dar parte ao brigadeiro.
Dictzedby Google
— 250 -
iDstou qae dissesse a verdade, porque era. publico e
notório que em Pernambaco se faziam ajuatamentos
antes do dia seis de M arco diurnos e nocturnos, e que
n'elles se tratava de concertai o revolu^-ão, como em era
casa de António Gonçalves da Cruz, o Cabogá, em casa do
ctrurgiSo Vicente Teixeira dos Guimarães Peixoto, de Do-
mingos José Martins, de núlippe Neii Ferreira, do padre
João Ribeiro, do padre Miguelinbo, de Gervásio Pires
Ferreira, do vigário de Santo António, e na do morgado do
Cabo Francisco Paes Barreto, e que a estes ajuntamentos
revolucionários os que depois figuraram na revolução,
os ofliciaes do regimenlo de iofanlaria e artilheria, e tam-
bém olle respondeole; que estes ajuntamentos os enco-
briam com o pretexto de jogo que ahi laziam fora das bo-
ras em que tratavam do dito concerto revolucionário, e
que se confiavam tonto na sua força,quajáse lhes não dftva
que se [aliasse em revolução, «orno de facto se fallava
publicamente ; e chegou isto a tanto que já se davam jan-
tares, em que se faziam saúdes dizendo : — Vivam os bra-
sileiros e morram os marinheiros t — Segundo o que foi a
voz, que no dia seis de Março logo sahiu, dizendo as pa-
trulhas — Morra tudo o que é marinheiro — , a qual voz so-
mente os insu^enles Qzeram accommodar pela meia noite
d'esse dia, poaco mais ou menos, depois que tomaram conta
da praça e a guarneceram, mandando José de Barros ir aos
quartéis varias pessoas que mandou chamar, e dizendo-
Ihes que estivessem descansados, que nada era contra os
marinheiros, e sahindo Domingos José Martins e Manoel
Corrêa d'Araujo com uma grande patrulha pelas ruas,
dizendo o mesmo : — que não tivessem susto, que tudo
eslava socegado. —
Respondeu, que nunca soube de taes ajuntamentos,
nem a oUes foi vez alguma, e também nlo soube que se
Dictzedby Google
- 254 —
fallasse em revolução antes do dia seis, nem que se d
jantares e se fizessem as ditas saúdes, porque elle respoo-
d«ite sempre jantou em sua casa, sem ir a jantar algum ;
assim eomo não soube do que íet José do Barros Lima, e
da patmlba de Martins e Manoel CorrAa, por elle respon-
deole não ter sabido do campo do Erário, como já disse.
Perguntado se reconhecia a assignatura do recibo que so
acha a folba? cento e dez do Appenso— D — , assim como
aqnella que se acha a folhas do Appeoso — F — folhas cento
e oito na carta escripta aos governadores provisórios, do
lagar de Maracaipe era vinte e um de Abril.
Respondeu, que reconhece como sua própria a assigna-
lura do recibo a folbas cenio e dez do Appenso — D — ; e
também a da carta aos governadores provisórios a folhas
cenlocoita do Appenso — F— ,aqnal lhes escreveu para os
enganar, e ató Ibe p6z na da^ o lugar de Maracaipe,
quando realmente a esi;(fiveu de porto de Gallinhas, e é
a mesma de que acima fallou, por Ibe ser preciso usar de
lodo.^ estes enganos, paro encobrir os seus sentimentos ; e
qu&nto ao recibo que passou na dita prínieira assigualura,
como elle estava empregado n'aquella occasião na reparti-
ção das rações de carne, em uma casinha proiima a oulra
que servia de armazém para as armas que se mandaram
recolher, e não baria ahi quem passasse recibo d';iqueUa
entrega audito Joáo Manoel, o passou elte respondente,
asúra como passou outros.
Instou que declarasse a verdade ; porque não é segundo
ella,qiiaiido acima respondeu.que passando 'a barra de Sorí-
Dhãa(5erÍnAaam) soubera ahique o cspitão-mõr de Serinhâa
{Serinhaem) tínba levantado abandeira real.e o tinha procu-
rado paraenconlral-o ; e que lhe não escrevera declaraudo-
Ifae que era do seu partido por não ter pessoa de quem se
confiasse ; porque já ahi tinha o mesmo mulato, por quem
Dictzedby Google
— ws -
.diz lhe escrevera de porlo de Galtinhas, pois diz que elle o
acompaobàra do Recife ; e que também não é segundo a
verdade o ter-lbe escripto de porto, de &allinlias, porque
dizendo que n^esta carta lhe dissera que ia escrever ao
governo provisório pedir-Uie forças, munições egente, e
com esla gente, chegando, havia levantar com elles as ban-
deiras reaes, cbegaado-lbe depois as ordenanças, qse tam-
bém disse o (^ovisorio lhe tuandára, não levantou a ban-
deira real como prometleu, antes pelo contrario eiecu-
tando as suas ordens foi eugmenlar as forças de Francisco
de Paula Cavalcanti, na villa do Gabo ; e esta sua marcha
também indica que não escreveu as cartas que diz escre-
vera ao amigo das Alagl^as ; porque nunca aproveitou a
occasião de se virar a favor de Sua Magestade, antes pelo
contrario executou as wdens dos provisórios, como está
dito, sem jamais fazer algum excesso em satisfaçSo das
promessas que diz fizera em umas e outras cartas.
Respondeu que o mulato linha ficado da parto do Recife,
e não tinha passado a barra, e só se pdde «servir d' elle
quando elle respondente tornou a passar a dita barra, e
veia para o sitio onde elle tinha ficado; e que não se levan-
tara por ellea bandeira quando lhe cbegdram as ordenanças
mandadas pelo governo provisório, porque estas eram ses -
senta homens armados do chuços, e muito poucas clavinas,
e dSo podiam fazer a força uecessaria para levantar as ban-
deiras ; estando por parte dos rebeldes todos os commsn-
danles em roda, cotno viu das respostas das cartas que etles
lhes mandaram ; e que' o destacamento que tinha comsigo,
que era a metade brancos e a metade pretos estavam em
desordem entre si, e jé tinham dado um tiro oa cabeça
a um soldado, e que por isso mais não podia levantar a
bandeira real; e que pela dita razão de estarem todos os
(.«mmandanles ditos por parte dos rebeldes continnoua
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— ãS3 —
eieeutar as ordens d'«lles ; e que o escrever ao dito seu
amigo das Alagoas é tão certo que tem as respostas d'elle>
que protesta ajuntar a seu tempo.
Instou mais que declarasse a verdade, porque o que
acima respondeu, que no dia dezeoove de Maio nSo acom-
paohou a Domingos Thcotonio ao seu exercito quando
marchou para Olinda, mas que n'essa noite fora buscar a
sua ramilia que ahi estava, e que nao a podendo trazer por
causa da chuva, marchando para o norte o mesmo Domin-
gos Theotonio com o seu exercito o não acompanhara,
antes assim que sahiram levantara a bandeira real, e feito
isto viera apresentar-se na fortaleza do Brum e no Recife,
Gomo fica respondido ; pois pdo contra consta dos assentos
que fdra até ao Paulista, e que d'ahi é que voltou para o
Recife.
Respondeu, que a verdade é a que tem dito ; e que é
fa)so que ello sahisse da cidade' senão para o Recife, na
Sónoa já respondida.
E por esta maneira houve elle ministro estas perguntas
por findas, as quaes sendo lidas ao respondente, disse
estarem conformes, de que dnmos fé, e assignou com elle
juiz da alhada, escrivão assistente, e eu JoSo Osório de
Castro Sousa Falcão escrivão da alçada que o escrevi e
assignei. — João do Rego Dantas Monteiro. — José Caetano
de Paiva Pereira. — João Osório de Castro Sousa Falcão.
PERGUNTAS K AGOSTINHO BEZERRA
Anão do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo
Oe mil oitocentos e dezoito, aos dezoito de Dezembro, n'esta
cadOa da Bahia, aonde veíu o Dr. Bernardo Teixeira
Coutinho Alvares de Carvalho, desembargador do paço
TOMO XIXI, p. 1 33
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c juiz Ja alçada, commigo escrivão abaixo assignado, e
«scrÍTão assistente o desenibartjaJor José Caetano do Paiva
Pereira, ahi mandou vir á sua presença an preso Agostinho
Bezerra, que, posto em liberdade, e deferíndo-llie jura-
mento aos Santos Evangelhos, pelo que tocasse h lurceiro.
por elle recebido, lhe fez as perguntas seguintes:
Perguntado seu nome, naturalidade, mirada, estado,
idade eoccupação.
Respondeu ihamar-se Agostinho Bezerra, crioulo, natu-
ral e morador no Recife, viuvo, de trinta annos, alfaiate,
tenente de Henriques.
Perguntado quando e onde foi preso, e qual foi ou
suppõe ser o motivo de sua prisão.
Respondeu que foi preso em sua casa om vinte de Maio
do 1817; c que ignara o motivo de sua prisão, mas que
suppôe seria por ser filho de Pernambuco, e achar-se ahi
quando se fez uma revolução.
Perguntado por que razão suppõe ser preso por ser na-
tural de Pernambuco e achar-se alli quando se fez a revo-
lução, visto que muita gente lá se achou, e era natural de
Pernambuco, e não foi presa.
Respondeu que não tem outro motivo de o suppfir, e que
os dois homens que o prenderam eram seus inira^s.
Perguntado se no tempo da revolucçío serviu só no
lugar de tenente, ouse passou a outro posto, e qual foi.
Respondeu que quando criaram o batalhão de caçado-
reso 6zeram capitão, o que foi passados quiuzedias mais ou
menos depois do dia da revolução.
Perguntado que serviço fez no tempo da revolução antes
de ser capitão, e depois de o ser.
Respondeu que antes de ser capitão não fez serviços da
patente,mas só de alguns recados que lhe mandavam fazer,
e porque se fazia escasso e não acudia a tempo ; e depois
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— 253 —
de capitão esleve aquartelado com todo o batalhão ds for-
taleza do BruiD, e ct'ella Dão sabiu para o serviço de fora,
poique só do batalhão sabiam rondas, queeramcoaanianda-
das por officiaes suballeroos.
Instado que declarasss a verdade, porque constava quo
elle fòra acompanhar a Domingos José Martins o a Francisco
de Paulo, qii- ■■' j estes foram para o sul mandados pelo
governo r<-btt.<l<;. para se opporem ás tropas realistas, que
vinham da Bahia, acompanhando primeiro a João do Rego
Dantas, na tropa que este levava em auxílio de José Ma-
riano.
Respondeu que foi nomeado para ir no destacamento
que levou eomsigo João do Rego Dantas, que levava ordem
para o entregar a António José Victoriano em Porto de Pe-
dras; que foi, mas não chegaram U, e só chegaram á
Barra de Serinhãa(5ertn/iaeffi},e d^ahi voltaram parao porto
de Gallinhas, por constar ao dito João do Rogo que o
capitão mór de SeTÍahãa(5ertn/ui«m) tinha levantado as ban-
deiras reaes, e ahi teve ordem o dito João do Rego do go-
verno provisório para ii com o destacamento para o En-
geahO'Velho, do capitão-mór do Cabo, aonde estava
Francisco' de Paula, capitão-mór de Olinda, e então foi elle
respondente também, e chegando tá entregou o dito desta-
camento ao dito capitão-mór, e ás ordens d'este íicou elle
respiiadente, o qual d'ahi o mandou ao Recife, com orden^
ouofficios para o governo, os qqaes foi entregai ; depoia
ficou na Soledade, sem Ibe consentirem ir á sua casa por
Ires dias, e depois o mandaram outra vez para o mesma
destacamento de que tinha vindo, e foi na companhia dfi
Domingos José Martins, que n'es5a occasião foi também
em diligencia para o sul, e se ajuntou so dito Francisco
de Paula, o elle respondente ao seu destacamento ; e sepa-
rando-se depois Domingos José Martins, ficou dle respon-
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dente com Francisco de Paula, que foi para a Ipojuca, e
elle respoodeote também, mas não assistia á batalha qae '
ahi houve, por estar na occasião d'ella doente na enferma-
ria, aonde foi avisado na noite que a ella'se seguiu para se
retirar, e se retirou, e veiu para o Recife, aonde esteve at^
ser preso, por doente, como estava quando foi.
Perguntado se emquanio durou a revolui;ão declamou
contra Sua Magestade como os rebeldes faziam publica-
mente, se insultava os presos de Estado quo oram realistas
e os que desconfiava serem realistas, e eram brancos, os
obrigava a pegar em luzes, quando a natureza o obrigava
a irácommúa.
Respondeu que nada fez do que se diz na pergunta.
Perguntado se antes da revolução sabia que ella se daria
de fazer, ou d^ella tivera noticia.
Respondeu que não sabia, nem d'olla tivera nolicia.
Instado que declarasse a verdade, porque constava que
elle no tempo da revolução di/.ía publicimenla que antes
da revolução já sabia d^ella por ter ido a um jantar que
deu António tionçalvcs da Cruz Cabogá na Instancia, aonde
se tinha tratado da revolução.
Respondeu que não foi ao dilo jantar, nem tal *djsso.
E por esta maneira bouve elle ministro estas perguntas
por findas, que lidas ao respondente disse estarem con-
formes, eassigooucom elle juiz da alçada, e escrivão assis-
tente, de que damos fé: e eu João Osório de Castro Sousa
Falcão, escrivão da mesma alçada, queoescrevi e assignei.
— Agostinho Beserra.—Josá Caetano de Paiva Pereira.
-~JoãQ Osório de Castro Sousa Falcão.
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SEGUNDAS PEKGUNTAS
Anuo do nasciflienlo de Nosso Senbor iesus Cbrísto de
mil oítocdQlos e dezeoove, aos sele dias do mez de Janeiro,
n'esta cadêa da cidade da Bahia, onde veíu o Dr. Beroardo
Teixeira Coutinho Alvares de Carvalho, desembargador do
paço e juiz da alçada, cominigo escrivão da mesma abaiio
assigoado, e escrivão assistente o desembargador José Cae-
lano de Paiva Pereira, ahi mandou vir ao preso Agostinho
Bezerra, e posto em liberdade lhe fez as pei^untas se-
guintes :
Pei^ualado se ratíticava o que havia respondido nas
perguntas, que sd Ibe fizeram, e agora lhe foram lidas, ou
SC tinha que acrescentar, diminuir, ou declarar alguma
cousa.
Respondeu, que ralilicava quanto havia respondido, o
accrescentava que no tempo que esteve aquartelado no
Brom metteu uma guarda de capitão no CoUegio em dia de
sabbado de Alleluiu, e n'essa noite foi rondado pelo major
do dia, o qual não achou a guarda completa porelle respoD-
ilente ter dado licença a alguns soldados para irem á sua
casa, e no outro dia o mandou chamar o governador das
armas Domingos Theotonio, o o reprehendeu, e mandou
para o dito aquartelamento do Bram, e não obedecendo,
mas indo para sua casa, no outro dia foi mandado prender
e remeller ao referido aquartelamento, e o tiveram na prisão
ires dias, pela falta de exacçâo no serviço dos rebeldes, e
peta falta de respeito que lhes tinha; e que no dia seis de
Março elle respondente fora para o campo do Erário quando
tocou i rebate para o defender em sferviço de Sua Magestade,
e ahi esteve, o antes â'isto mandou o dito José Roberto, até
esle entregar o campo e a tropa que ahi estava, e antes
d'isto mandou o dito José Kobcrlo a ellc respondente t.'
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_ 258 —
regituflDto dos Henriques postarem-se por detrás do erário,
com ordem de fazer desembarcar agente que passava em
caaÕBs do Uecife para a Boe-Vista, e ahi estiveram avesse
serviço até o marechal os mandar chamar para fazer a dila
entr^a, que foi quasi á noite; que feita a dita entrega elle
respondente ahi ficou até ás sete horas da manhã do dia
seguiale, que foi [>ara sua casa, sem licença, onde esteve até
que foi cbamado o seu regimento para ir a uma revista, á
qual foi,e lhe pareceu que foi feita no diaquatorze de Março,
mas não está bem lembrado se foi n'este dia ou oâo ; e na
dita revista mandaram que elle e outros ficassem no dito
campo do Erário para recados de seu serviço, para o qual
os tiraram do seu regimento, mandando-os ficar Q'este ser-
viço,DO que ficou com a patente de tenente que então tioba.
Perguntado por ordem de quem deram um tiro n'um
soldado que não quizéra obedecer ás ordens que elle Ibe
dera quando foi para o Engenho da Ipojuca, onde houve
uma batalha.
Respondeu que tal tiro não dera, nem mandara dar, nem
lhe mandaram dar.
Perguntado se recebeu dois mezes de soldos adiantados
quando foi para as ditas expedições do sul.
Uespondeu que não.
E por esta maneira houve elle ministro estas perguntas
por findas, que lidas ao respondente disse estarem con-
formes, e assignou com elle juiz da alçada, escrivão assis-
tente, de que ludo damos fé: e eu JoJo Osório de Castro
Sousa Falcão, escrivão da alçada, que o escrevi e assiguei.
— Agostinho Bezerra. — José Caetano de Paiva Pereira. —
João Osório de Cas^o Sousa Falcão.
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PERGUNTAS A BASÍLIO QDARE3HA TORREJO
Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cbrislo de
mil oitocentus e dezenove, aos nove dias do mez de Ja-
neiro, n'esta cadéa da Bahia, aonde veiu o Dr, Bernardo
Teixeira Coutinho Alvares de Carvalho, desembargador do
paço e juiz da alçada, cominígo escrivão abaixo nomeado, e
escrivão assistente o de^embai^ador José Caetano de l^aiva
Pereira, ahi mandou vir á sua presença ao preso Basilio
Quaresma Torreão, e posto em liberdade, deferindo-lhe
juramento pelo que tocasse a terceiro, lhe fez as perguntas
seguintes :
Perguntado seu nome, naturalidade, morada, estado,
idade e ocupação.
Respondeu chamar-so Basiiio Quaresma Torreão, natu-
ral e morador na cidade de Olinda, casado, de trinta annos,
tabellião do termo da dita cidade.
Perguntado quando e em que lugar foi preso, e qual foi
ou suppóe ser a causa da sua prisão.
Respondeu que cm doze ou Ireze de Julho de mil oito-
centos o dezesete se apresentou ao governador e capitão-
general de Pernambuco por uma petição, dizendo n^slla
que, tendo a seu pesar acompanhado aos insui^entes na
fuga que fizeram, teve a fortuna de escapar-se d^elles, e
tendo andado escondido pelos matos, temendo o tumulto,
se lhe ia apresentar, e elte o mandou para a cadêa, onde
se conservou até vir para esta cidade, e este foi o motivo
da sua prisão.
Perguntado em que serviu aos rebeldes, e que occupação
lhe deram .
Respondeu que no dia vinte e três de Abril do dito anno
recebeu uma ordem de Domingos Theolonio, em que o
chamava para tomar conta dos mantimentos da tropa com
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— 260 —
0 titulo de almoxarife, e linha na sua admíuislração a
farinha e carne ; quiz Qscusar-se disto, e para o conseguir
pediu a António Carlos, Ouvidor de Olinda, que ofHcissse
por elle afim de não sahír do officio de labellião que servis,
e também para cumprir as muitas cousas que elb Ouvidor
lhe havia encarregado ; e como nada conseguisse serviu a
dita occupação até que Domingos Theotonio se retirou com
a tropa para Olinda e Norle, e elle respondente o acompa-
nhou, a que foi obrigado por ir debaixo de suas vistas,
(Ponde não podia escapar.
Perguntado até onde o acompanhou.
Respondeu que até o Engenho do Paulista, distante de
Olinda três léguas pouco mais ou menos.
Perguntado se no tempo em que serviu de almoxarife
foi fora a alguma expedição que os rebeldes mandassem,
ou se serviu sempre no Recife.
Respondeu que serviu sempre no Recife no quartel da
Soledade, e não foi fora á expedição alguma.
Instado que dissesse a verdade, porque dos autos cons-
tava que elle fAra ás expedições do sul.
Respondeu que não foi, como tem dito.
1 Perguntado que serviços fez aos rebeldes para lhe darem
o dito lugar de almoxarife, que é um lugar de interesse
para quem o serve.
Respondeu que lhes não fez serviços alguns antes d'ísto
aos rebeldes, e que o nomearam por terem notícia da sua
probidade e da sua conducla,circumstaDCias que elles re-
queriam paia 'semelhantes empregos.
lostadi) que declarasse a verdade, porque constava que
elle respondenle no dia seis de Março, em que se fez o le-
vanlumenlo, servira aos rebeldes, e era um dos que iam na
patrulha que uintuu o ulferes Madeira no bairro da Boa-
vista, e que até fora um dos mais contrários a elle por ser
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— íflj —
sen derodor, para se ver livre d'ellfl ; o que se faz aioda
mais acreditarei, por ser depois premiado com o dito Ingar
de interesse.
Respondeu que no dia seis da Março aio servira aos
rebeldes, nem foi em patrulha alguma d'elles;por isso
não matou nem assistiu quando mataram 80 dito alferes
Hadeira ; que é verdade fdra a'esse dia sois de Março ao
bairro da Boa-Vista tomar uma querela, mas assim que
ouviu o barulho dos rebeldes fugiu d'elle, e se foi para a
casa de Thomaz António Maciel Monteiro, hoje juiz de fora
da Parahfba, e retiraado-se perto da noite para sua casa
por um portSo d'el]e, foi preso por uma patrulha dos re-
beldes, que eslava na Soledade, a qual o entr^ou a
Francisco António de Sá Barreto, commandante da escolta
da Boa-Vista, o qual ahi o deteve, e no outro dia o deixou
ir para a sua casa em Olinda ; e, supposto lhe (leram o lugar
de almoxarife, não foi por serviço algum que lhes tivesse
feito ; e que se lh'o dessem por premio o nflo demorariam
até o dia vinte e três de Abril.
Perguntado se era sua própria a letra do recibo e assi-
goatura quese acha a folhas setenta e setedo Appenso— D.
Respondeu que reronhece como sua própria a letra do
dito recibo e a^signatura.
Perguntado se antes do dito seis de Março da revoluç&o
linha alguma noticia d'ella, e das casas onde ella se concer-
tava, e se sabe quantas eram estas casas, e quaes eram.
Respondeu que nunca soubera da revolução, nem se
havia casas em que ella se concertasse, e só soube d'etla
no dia seis de Março e d'abi por diante.
instado que declarasse a verdade, porque constava que '
elle respondente era um dos que frequentava estas casas
em que se faziam os ditos adjuntos do concerto da revo-
lurão, a saber a de Domingos Jo<ié Martins, do padre João
TOMO TXXI. p. I. :i4
Dictzedby Google
Ribeiro, a de Anlooío Gonçalves dn Cruz Cabogá, s do
TÍgario de Santo António, a de Pbilippe Neri Ferreira, ade
GwTasio Pires Ferreira, e a do padre Miguelioho, a que
priDcipalmenle frequealava a de Pbilippe Neri e António
Goncslras da Cmz Cabogá .
Respondeu que nunca foi á casa de Pbilippe Neri Ferreira,
e que algumas rezes ia i casa de António Gonçalves da
Cruz Cabogá, por motivos de interesse por ter vai-ias acções
no cartório d^ella respondente, e ser um homem rico, que
lhe pagava bera, e qae não wa costumado ir ás ouUas casas
referidas, e que não lhe consta que em semelhantes casas
se fizessem semelhantes concertos de revolução.
E por esta maneíni houve elle ministro estas pe^untas
por findas, que lidas ao respondente disse estarem confor-
ntes, de que damos fé, e assignou com elle juiz da alçada e
escrivio assistente: e eu Joáo Osório de Castro Sousa Falcão,
escrivão da alçada, que o escrevi e assignei. — Basílio Oua-
raima Tomão. — José Caetano de Paiva Pereira.^ João
Osório de CatíroSotuaFalcào.
SEGUNDAS PERGUNTAS
Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cbristo de
mil oitocentos e dezeoove, aos onze dias do mez de Janeiro,
n'esta cadéa da Bahia, onde veiu o Dr. Bernardo Teixeira
Coutinho Alvares de Carvalho, desembargador do paço e
fuizda alçada, commigo escrivão da mesma abaixo asstgnado
e escrivão assistente o desembargador José Caetano de Paiva
Pereira, ahi mandou vir á sua presença ao preso Basilio
Quaresma Torreão, e posto em liberdade lhe fez as per-
guntas seguintes:
Pei^untado se raliticava o que havia lespondido nas
Dictzedby Google
— Í63 —
perguntas aotecedeotes e agora lidas, ou se lioba a accres-
ceolar, dímÍDuir ou declarar alguma cousa.
Respoadeu que ratificava o que havia respondido, e
sómeote declarava que, quando disse que no dia sete de
Março Prancbco António de Sá Barreto o deixara ir para
sua casa devia dizer mais que o dito Francisco António de
Sá Barreto ao lugar ds Boa-Vista o mandou com uma escolta
ao campo do Erário apresentsUo a Domingos Theotonio, e
a esta disse que elle respondente era tabetlião em Olinda
onde tinha a sua familia, e*lbe permittisse ir para sua casa;
elle, porém, o deteve n^aquelle campo atéá tarde.esó então
lhe permiltiu sabir para a dita sua casa e cidade, tendo-o
mandado armar ; e em todo o tempo que esteve no dito
campo do Erário esteve assim armado.
E por esla maneira houve elle ministro estas perguntas
por findas, que lidas ao respondente disse estarem confor-
mes, de que damos fé, e assignou coro elle juiz da alçada,
escrivão assistente: e eu João Osório de Castro Sousa Falcão>
escrivão da mesma alçada que o escrevi e assignet. — Baai-
Uo Quaresma Torreilo. — Joaé Caetano de Paiva Pereira. —
João Osório de Catlro Sotisa Falcão.
Dictzedby Google
D,i.,.db, Google
DOCUMENTOS
WNtO KiO-fiUNOS DSS. riSOII», S."CtlHtKIU
(EXTHAHIDOa DO ARCHIVU PDBUCO)
r.APITUL*(;AO DA COLÓNIA PO SACHANENTO
Alguns iirligos
1762
IlkD. a Exm. Senhor. — Dizem João da Cunha Neves,
Manoel Alves de Araújo e outros homeas de negocio n'esta
cidade, como lambem em nome dos de quem são consti-
tuidos assistentes na Colónia do Santíssimo SacramentOf
que, readendo-se esta ás armaa de Sua Hagestade Catholica,
conunandadas por I). Pedro de Cevallos, governador e
capítio-general da província de Buenos-Ãjres, se ajusta-
ram pelas capitulações firmadas, entra elle e o governador
da mesma Colónia, o brigadeiro Vicente da Silva da Fon-
seca, vários artigos concM-nentes á evacuação dos mora-
dores que se achavam n'eUa, com negócios de fazendas
ou sem elles; os quaes ditos artigos levam os suppltcantes
ao diante transcríptos com as r^úxões que successiva-
mente a elles se lhes ofFerecem, para a sua formal intelli-
gencia.
• Art. VIII. Que tante o governador, como os officiaes
e soldados de toda a guarnição, poderio embarcar livrc-
D,:„l,;cdtv Google
— á«ti —
mento todos os seus beus, moveis e escravos que liveiem,
ou veadei-os ; como lambem os de raízes, para o que se
nomearão louvados de uma e outra parte. — Concedido
y por lo que toca a esclavos, ; muebles qaé sean pró-
prios dei senor goberoailor, oficiales, y soldados, de
la guarnicion, y lambien por lo que mira a los bienes
raizes, que tuvíeren dentro de- la ptaza, si bailarem quien
se-los-compre eo el termino de quatro meses, a cuyo
eíecto los duenos podraa deiar sus poderes a quien les
pariciere. >
« Aht. X. Todos os moradores doesta pra^a tanto eccte-
siasticos como seculares, e pretos livres, gozarão a liber-
dade de se embarcarem com lodos os seus bens, moveis
' e armas que tiverem do seu uso, vendendo os que não po-
derem levar, como também os de raiz. — Concedido, pêro
uo se entenderan por armas de su uzo, tas que se hu-
bieren dado a los vecioos, y moradores de la plaza de
los almazenes delia, y por lo que toca a los bienes
muebles, y raizes, se estará a )o dicho en el artica-
lo 6. *
D'eslas convenções virtualmente se entende, que aos pro-
prietários dos mencionados bens lhes seria licilo dentro
d*aquelle peremptório lapso, que se lhes prefixou extrahi-
rem os importes dos referidos bens, nos effeilos que lhes
fossem permittidos; porque do coatrario se justificaria,
que nas dhas convenções havia uma fé Ião diametralmente
opposta ao mesmo que se concedia, como se reconhece
entre o sim e o não.
■ Art. XI. Qne todos os commerciantes que se acham
n'esta praça se poderão retirar com os effeitos mercantis
que tiverem de seu maneio, ou vendéi-os nomeando-se
para isso louvados de ambas as partes >, — Los mercadores
que quizieren relirar-se lo-podran traer libremenle, lle-
Dictzedby Google
— 867 —
vaodo lodos sus efeclos de comercio, y los que 'quíiie-
reo quedsr-se en los domiaíos de Su Mageslad prezea-
lanin un inventario exacto de los geooros que tubiereo,
para que el tribunal de la real fazieuda determine lo mas
conrenieale, sio peijuicio de los inleresados, ni de los
derechos dei rey.
Não se regulando o tempo em que esla emigrsgáo se
havia de fazer a respeito das pessoas que na alternativa de
se retirarem a outros domínios de el-rei nosso senbitr, ou
ficarem na dita praça, escolhessem o primeiro, é evidente,
que o espaço dos referidos quatro mezes, quese estabe-
leceu por prazo fixo e improrogavel, para a venda dos seus
bens, deve também ser o que sirva de teimo á referida reti-
rada, com o mais que d'ellB dependesse, maiormente
sendo o conteúdo nos citados arts. VIII, X e II um
proseguimento da mesma matéria.
■ Art. Xll. A oenhum dos referidos se poderj consen-
tir ficar na praça, porque devem ir dar coutas aos ioleres
sados •. — En esto se procedera coofortne lo diciar la
justicia.
Nem os supplicanles pretendem exigir outra cou^a que
esia mesma integridade de conducla, que se lhes promelte,
e que é própria dos sentimentos de honra, probidade e re-
ligiio de um cbefe.
a Art. XUI. Oue a lodos os moradores e bens que
houverem de ficar por náo podél-os vender, nem transpor-
tar nas embarcações referidas, lhes será permíltido que
venbam outras a buscal-os, ficando debaixo do mando de
pessoa que os governe, o serio tratados com offabilidade ».
— Los que quedarsen com bieoea, o sin ellos de ben
estar, como todos los demas moradores de la plaza, subor-
dinados alofficial, quemaadare en ella, y seran tratados
dei mtsmo modo que los espanoles.
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— 26« -
A* vista d'e9te soguro, ssria leiíiBriclkdtt eiecnTelreoeiai-se
da parle dos mercadores que inleriDameate Ikanm w
Colónia, e dos que se reliraram deiíaado n'eUa os seus
Imbs recommeodados a seus procuradores, alteração alguma
relativa aos seus particulares, ou íosiem considerados vas-
salios de Sua Mageslade Fidelissima, ou do Rei Calbolico ;
porque, assim como os hespanhóas nèo seriam confiscados
(salvo DOS crimes em que tem lugar esta pena ), da mesma
sorte deveriam ser tratados os portugueies por força da
capitulação que a favor d'elles se conferiu, ainda que os
íoberanos sa lizessem uma guerra mui viva, contanto quu
os mesmos capjtulaules não faltassem em observar a lei
que receberam.
t Art. XVI. Quese depoisdf partida d« todas as respec-
tivas embarcações, que se acham ateste porto vierem algu-
mas de qualquer parte do Brasil, oa fé de que a praça se
conserva na obediência de Sua Mageslade Fidelíssima,
■terão tratados com toda n hospitalidade, e se Ibes darã
liberdade para voltarem, como também de poderem embar-
car n'ellas as pessoas que se não poderem transportar nas
presentes ■.—Concedido por um mes, contado desde el dia
que se firmareo estas capitulaciones, a las embareacíoaes
portuguesas, que venieren desarmadas.
Pelo que*se võ claramente, que o que os contratantes
acordaram n'este artigo (oi restrictamente ã cerca d'aquel-
las embarcaç-õfls que ancorassem no molhe da sobredita
Colónia, não sabedores da sua conquista, com differentes
íins dos que estavam prevenidos no supra citado artigo ; e
de nenhuma sorte deveriam Gear depredadas as que nave-
gassem com o intento que rASuIla das mesmas capitula-
ç6es ; porquanto, sendo certo que na Amaríca está pro-
híbido o coramercio entre os vassailos dos soberanos que
possuem n'eMa domínios, assim da parte «epleratrional do.
Dictzedby Google
EqoMlor, cotDo d'e»la meridioD^l, não havia outro recurso
{ura se eatr^arem os supplicantas das summas em qu«
n liqnjdssgem os seus bens, do que o de mandaram ao
Rio da Praia wna embarcação que os houvesse de recebert
commutados nas espécies, de cuja eitracção se não offe-
recesse a difficuldade, que por um principio de policia deria
nascer sobre fazer-se a mesma extracgão em |irata, que
por ser género precioso se não permitte passar a outros
reinos, ainda que o enrio da dita embarcação não estivesse
expressado nas mesmas capitulações, por lhes valer aquetla
máxima inviolável : Quid dal jus ad finem, dal jut ad
media ; porém quandoesperavam, fundados oa fé das refe-
ridas capitulações, rocolher os seus ioleresses, despachan-
do doeste porto para esse efíulo, ao da sobredila Colónia,
com o passaporte de que juntam o teor por certidão, em
vinte e quatro de Janeiro do presenteanno, a Galera Nossa
Senhora da Gloria, de.que era capitão Francisco Barbosa
Vianoa, sem mais carga que a de mantimentos e aguada,
tendo chegado ao poiLo da mesma Colónia em Fevereiro,'
antes de se complelarem os ditos quatro mezes que se lhes
facultaram para a venda dos referidos bens, foi confiscada
1 mesma galera, e arestada a sua equipagem, proceden-
do-se contra lodos os respeitáveis princípios de justiça:
c porque na conformidade do tratado da paz ajustada em
Psríi, em dez de Fevereiro do presente anno, entre os
priacipesbelligeraotes, se restilue a esta corAa a sobredita
praça da Colónia do Santíssimo Sacramento, em cuja rein-
tegração se deve tratar do mais que é annexo e respectivo
aella.
fedem a V. Ex. lhes faça mercê [sendo servido) dar
as instrucçdes necessárias d pessoa que autorisar pama
eiecuçfto do referido tratado, a respeito da dita entrega,
■fim de que promova os offlcios a requerimentos mais
TOMO XXXI, P. 1 3S
Dictzedby Google
— 270 —
effectivos, acerca da restituição da mencionada galera, com
reparaçio dos prejuízos emergentes, que os suppUcantes
tfim experimentado desde a indevida occupação e retenção
tem experimentado desde
d'elb. — E. R "
nim. fl Eira. Senhor.— Dizem os homens de negocio
d'osta praça, que negociavam paro a da Colónia do Sacra-
mento, que eUes requereram, depois do óbito do Ilim. e
Exm. conde general d'eslas capitanias, ao governo que lhe
succedeu, lhes concedesse passaporte, para mandar a
galera Nossa Senhora daGloria, de que era capitão Fran-
ciso Barbosa Vianna, a transportar o producto dos effeitos,
ou os mesmos acbando-se ainda em ser, o nâo poderam
evacuar por falta de embarcações ao tempo que a rende-
ram as armas de Sua Magestadè Catholica, por terem a seu
favor 08 arts. VIII, X e XIII das capitulações estipula-
das enlre o governador da dita praça e o Sr. tenente-
general D. Pedro de Cevallos ; e como Ibes faz a bem um
traslado authentico do dito passaporte, n'estes termos o
nSo podem obter sem que V. £x. o ordene.
P. a V. Ex. lhes faça mercê ordenar se lhes passe na
forma requerida. — E. B. M.
P. não havendo inconveniente. Rio, dois de Novembro
de 1763.
F. 196 V. do livro 16, que serve n'esta secretaria Je
Estado do registro geral, se acha lançado o passaporte do
teor seguinte:— D. Frei António do Desterro, bispo do
Rio de Janeiro, do conselho de Sua Magestadè Fidelíssi-
ma; Jofto Alberto de Casteibranco, chanceller com o gover-
no da relação do mesmo; Jo$é Fernandes Pinto Alpoim,
brigadeiro dos reaes exércitos do ditu senhor, e lodos
com o governo das capitanias do Rio de Janeiro, e Minas-
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— 27i —
Geraes, ele. Porquaato requerenclo-nos os homens de
D^ocío â'esta praça, que commercíavam psra o da Coló-
nia do Sacramento, lhes concedêssemos passaporte para
poderem navegar para a mesma, a galera ISossa Senhora
da Gloria, de que é capitão Fraucisco Barbosa Tia una, e
Iransportaro producto dos effeítos, ou os mesmos achan-
dO'Se ainda em ser, e não poderam evacuar por falta de
embarcações ao tempo que a renderam ás armas de Sua
Hageslade Calholica, teado para o fazerem a seu favor os
arts. VIII, \ e XIII das capitulações estipuladas ealte
o governador da dita praça e o Sr. teneolfl-general D. Pe-
dro de Cevallos, Em conformidade das quaes concede-
mos o presente passaporte, para que possa- navegar
para a dita praça da Colónia a referida galera Nosaa Senho-
ra da Gloria, de que é capitão Francisco Barbosa Víanoa,
a transportar ludo quanto allegam e lhes foi concedido,
persuadindo-nos de que o dito Sr. tenente-general dos
reaes exércitos de Sua Magestade Calholica D. Pedro de
Cevallos fará cumprir de boa fé o estipulado nos citados
artigos, uj certeza de que a mesma se praticará igualmente
da nossa parte com os vassatlos de Castella, quando haja
necessidade de a requererem assim. Dado o'esla cidade
de S. Sebastião do Rio de Janeiro, aos vinte e três de Ja-
neiro de mil setecentos e sessenta e três. D. Frei António,
bispo do Uio de Jaoeiro, João Alberto de Caslelbranco,
José Fernandes Pinto Alpoim, munido com o sinete dos
ditos governadores, António da Rocha Machado. E não se
continha mais oo dito registro a que me reporto ; e para
constar o referido 6z passar a presente em virtude do despa-
cho retro do Illm. e Eim. Sr. conde vice-rei do Estado do
Brasil. Rio de Janeiro, atresdeKovembro de 1763.— Fran-
cisco de Almeida Figuew-edo.
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ACCORDO COH CBVILLOS SOBRE A LINHA DE IIHITB
DOS DOIS ACAMPAM B>irOS
Cópia. —Na carra que agora recebo do gQDJrnl D Pedro
de Cevallos me pedeoflicía) muDido dos meãs poderes,
com quemcuafirao estabelecimento de uma boa hariDonia
e cessão de hostilidades, visto estai, ' i^ p.izfs justas,
emquanto não chegam os preliminares co.n -is ordens doS'
soberanos, para o que da parte se deve o''' .'.execução
d'eUes ; e como toda a demora n'esle part.^^.^r causa um
grande prejuízo ao serviço de Sua Mageslade, e a expe-
riência me tem mostrado a grande actividade e zelo com
queVm. se porta em tudo o que diz respeito ao ser-
viço do mesmo senhor, e o grande conhecimento que tem
dos negócios e estado do paiz : ordeno a Vm. passe logo
á villa do Rio-Grande a praticar com o dito general sobre
a matéria, sendo os pontos príncipaes os que eu já por
carta com este tratava, como verá das cópias que remetto.
Espero da sua grande capacidade obre Vm. em tudo
com aquelle costumado acerto de que tem dado tantas pro-
vas para gosto meu, e credito da sua pessoa. Deus guarde.
Capellade Viamão, em 22 de Julho de 1763 — Ignudo
Eloy de IHadureira. — Sr. capitão António Pinto Carneiro.
OCCDKRE.^tCIAS NO RIO-CRANDE DEPOIS l)A TOMADA DA COLÓNIA
EH 1763
Senhor.— Pomos na presença de Vossa Magestade o que
ha occorrido-em o governo do Rio-tirande de S. Pedro, e
mais qoarleis da sua dependência, depois que os bespa-
nbóes se senhorearam da praça Piova Colónia do Santíssimo
Sacramento.
Entrada esta praça pelo general D. Pedro Cevatlos, con-
tinuou este nos progressos da guerra.e os dirigiu à povoação
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— m -
do Rio-Graade de S. Pedrp,e, goiqo era natural que t)'este
eslabelecimeoto descarregasse o golpe, se haviam com
aolecedeacia prevenido os meios de defensa.para a qual se
adiantou o coronel de dragões Tboiuaz Laiz Osório com a
maior parle de seu regimento^ as companhias de paisanos,
e outras de infaalsria, que ao todo passavam de mil ho-
mens, a um lugsr pouco avançado da raia, chamado Cas-
liJbos Pequenos, onde principiou depois de declarada a
guerra a levantar uma fortaleza, para d^ella embaraçar a
entrada do inimigo n'Bquelle estabelecimento.
Em 16 de Janeiro do presente anno.reconbecendo nós a
qualidade do paiz por ser uma campanha aberta e desti-
tuída de sitios a propósito para f&zer com vantagem op-
po&ição ao inimigo, dirigimos ao dito coronel e ao governa-
dor do Rio^Graode Ignacío Eloy de Madureira as instrucvóes
do que deviam obrar, que em summa eram, que o dito go-
vernador passasse com antecedência a arlilheria, muni-
ções e víveres ao lado do norte do dito Río-Grande, e que
a'elle montasse as peças que pudesse, e se cobrisse com
uma trincheira para d'ella disputar ao inimigo o passo
d'aqueUe largo rio e o Tizesse de sorte que dado o caso' de
entrar este a'aquella villa, não achasse cousa alguma de
que se pudesse utilisar, nem do que pertencia ã fazanda de
Vossa Magestade, nem á dos seus vassallos. Ao curouel de
dragões, que, prevendo que a força com que o ioímigo
o vinba atacar era muito desproporcionada á com que se
achava, se não seguiria utilidade alguma ao serviço de
Vossa Magestade sacrificar-se e a toda a tropa do seu com-
mando deiíando-a morta ou prisioneira, antes seria útil,
lazer uma retirada com bonra, salvando tudo o que pu-
desse até se vil incorporar com o governador no lado do
norte, o qual se devia defender com maior vigor, pois
cobria os caminhas que vão a Viamão, Itio-Pardo, ilha d»
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— 274 —
Saata Calharioa, e o que atravessando a serra vai para
Minas : a um e outro se apoatavam os meios para opera-
rem a tempo próprio.
Com data de 20 de Abril recebemos aviso dogovernador
do Rio-Graade de que com efTeilo os inimigos estavam á
vista da sobredita fortaleza de Caslilhos Pequenos, e que o
dito coronel lhe participava, visto o estado em que se
achava, não teria outro remédio que sujeitar-se ás leis da
guerra, o que fez no segundo dia em que os bespauboes
acamparam á vista da fortaleza,sem que estes perdessem um
tiro de fuzil, enlregando-se prisioneiro com peito de sete-
centas pessoas, e lodos os oflíiciaes que o acompanharam.
Nem este coronel, nem o governador do Rio-Grande,
deram a executo ás ordens que lhes havíamos remettido,
do que procedeu (logo que na dita villa souberam da en-
trega da fortaleza) ser tal a confusão no governo e povo,
que com maior desordem abandonando os seus haveres,
uns passavam ao lado do norte, e outros a embarcai-se em
duas embarcações que estavam D'aquelle porto, que nave-
garam carregadas de gente ao d'esta cidade.
Ao mesmo' tempo entraram na villa duzentos e tantos
dragões que se retiraram da fortaleza, fazendo ainda maio-
res hostilidades do que poderia fazer o inimigo.
E, devendo o governador ainda a este tempo conser-
var-se na guarda do norte para d'ella impedir a passagem
ao inimigo, ajuntando n'aquelle lugar o povo, deiíou ao
desamparo posto tão importante e marchou a Viamão, de
donde nos deu conta do succedido : sem embargo de tudo
sempre continuámos com os soccorros, sendo o ultimo de
seis embarcações cobertas pelo corsário de guerra inglez
que aqui se achava ; três ani:.idas também em guerra, e
Ires de transporte, nas quaes embarcámos trezentos solda-
dos em fíujo numero so incluíam noventa granadeiros, c
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— 2T5 ,-
30 mesmo tempo remellAmos dÍDheiro, munições e vive-
res, com as ordens que se deviam seguir para a conlioua-
ção da guerra.
E como t\o dilo governador Ignacio Eloy a tropa e pai-
sanos haviam perdido já o respeito, por causa de não dar
a tempo a execução ás instrucções que lhe havíamos diri-
gido, e que 3 grande moléstia que actualmente padece o
impossibilitava a dar os promptos expedientes de que care-
cia uma guerra, resolvamos que elle se retirasse á ilha de
Santa Catharina, a cuidar da sua saúde, e mandámos
tomar o governo do que ainda estava por nÕs ao tenentc-
coronel de dragões Francisco Barreto Pereira Pinlo, quo
se achava commandando o quartel do Rio-Pardo.
Este teneote-coronel na duração da guerra teve dua?
occasíões de victoria, a primeira mandando atacar nos
campos das aldèas do Uruguay ura reducto que comman-
dava um capitão d'infanlaría hespanhol com bastantes
soldados e Índios, e não só os desalojou, como lhes ganhou
a Tronteiro, munições e viveres, uma grande porção de
gado e cavallos, e trouxe prisioneiros alguns officíaes, e
um padre da companhia que falleceu de uma ferida que
recebeu no choque: a segunda a de mandar surprehender
umaaldfia das do mesmo rio Uruguay, da qual se condu-
ziram sete centos e tantos índios, bastante eado e cavaKos,
e mais cousas que n'ella havia, e outro padre da compa-
obía prisioneiro, que se acha no mosteiro de S. Bento
d'esta cidade.
Com a ch^da das noticias da paz resolvemos mandar
protestar ao general hespanhol suspendesse por esta razão
as hostilidades da guerra; epondo-se por obra esta diligencia
chegou aviso do dito general com a certeza de que as sus-
pendia por ter ordons da sua cArte para o mesmo lim ; e
com elTeito pararam de uma e outra parte ; como ainda não
Dictzedby Google
- 276 —
recebamos as ultimas ordens de Vossa Hagestade para a con-
clasSo do estipulado no tratado de paz preseotemente con-
cluido,a3 esperamos para sabermos como devemos obrar.
Peta secretaria d'Estado damos esta mesma conta a Tossa
Magestade, que circurnstanciamos com documentos e um
mappa de todo o paiz para maior inlelligencia dos succes-
sos, e das ordens que distribuimos ao governador e com-
mandan(esd'aquelle continente.
A muito alta e poderosa pessoa de Vossa Magesladegoar-
de Deus os ânuos que seus vassallos lhe pedimos. Rio de
Janeiro 30 de Julbo de 1763.
N. B. — Sem assignatura mas parece ser oflicio dirigido
ao governo de Lisboa, pela administração que succedeu ao
conde de Bobadetlo.
CÓPIA DEL VANDO QUB HAMDÕ PUBUCAR D. JOSEPB NIETO IM-
PEDIENDO EL TltiTO, COHUNICACION, Y NEGOCIO COK LOS
PORTUGUESES.
O. Joseph Nielo, tenienle de infanteria de los reáles
ejercilos de Su Magestad, y comandante dcl real campo
de San Carlos y sus repartimienlos, etc. Habieado se en-
tregado de ofden dei Rey la plaza de la Colónia de) Sacra-
mento', manda Su Magnslad que se lepongan guardiãs
capases de impedir e) comercio ilícito coo que esta mis-
ma plaza se ha sustenido lanios aAos con perjuicío casi
irreparable de los inlereses de nuestra monarquia : E para
que esto se ejecule con efecto que Su Magestad desea,
se haze sabem toda la tropa, así dependienles, ya cuales
quiera oiros vassallos ao E)-Rey ; por el preso;ile vando
que desde esta misma ora se defiende, õ prohibe Ia co-
municacíoa por palabra, 6 porescríplo, oon todos los ha-
bitantes, y residentes de la dicba plaza, sin que persoaa
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alguoa (ie esta jurisdicion pueda pasar de nuostras cenli-
nelas ni penetrar por elas algun individuo de la expres-
sada CuloDÍa, saibo en el caso de que algua desertor, ò
delinquente venga buscando el asíIo de nuestra baadera.
Sobre todo se encarga que ninguno se atreva a introducir
gaaado, trigo, carne, ní otra alguna espécie de bastimen-
los. d viveres coo que la plaza ò algiin particular de ellos
pueda ser socorrido. Y en una palabra no pudera intro-
ducirse cosa alguna de cualquiera naturaleza que ela sèa,
sin que el conlraventor deje de incorrir inmediatameate
en Ia pena impue^tta por el vandn dei ano de 1737, por
el cual se areglará irreniisibteaiente el mas severo castigo
para el que abandonarse su honor y estimacion, sin cum-
plir con su obligscion, y se entregue a cometer los exce-
sos que con tanto perjuicio de nuestros intereses se ha
experimentado en otras ocasiones ; debiendo prevenir
como prevengo, y la experiência hard ver que, en un
punto de tan notable entídad nó tendré el menor disiniulo,
en este género de delinquentes. Y como nó es íacíl, que
los particulares lo sean sin el penníso, i) condescendên-
cia de los oficiales, se encarga a estos elmayor cuidado y
vigilância sobretudo lo dícho, e especialmente sobre nu
permitir por motivo ni pretexto algtino, que ningun sol-
dado que de nuestr»s centinelas pase-, porque, de una per-
micion tan perjudicial será responsaWe y castigado seve-
ramente el soldado, A persona que en esto faltase a su
deber : quedando unicamente en mi la faculdad de po-
der permitirlo con arreglamíenlo á ex particular, y instru-
cion dei Exm. Senor geberoaSor, y capitan general. ¥ para
que DÍnguDO alegue ignorância, mande publicar el presente
vaodo en et campo de Santo António en 39 de Decienibre
de f763 anos.
TOMO XXXI, P. 1.
DictzedbyGoOglC
— 278 —
COPIA noBAxmt
Ordenando qiie os Uespankóes sejam iroíatíos como amp-
;/oí ((íidír ao caiitf)o NEUTRAL, e proliHindo o t7-aío e rotn-
v)ercio cmn os mesmos al^m do dUo campo.
PF.nR»l JOSÍ SOARES tiE HCtEIREllO SARMFNTO, COBOKEI.
liE INFANTARIA E GOVERNADOR DA PRAÇA DA COLOKIA DO
SACRAMEMO POR SPA MAfiP.STVDE VIDEUSSIMA. QUE DEliS
iIllARDE, ETC.
llaven-lo-se-niie Teito entrega d'esla praça da Colonin do
Sacramento, pelo governadoí' e capitão-general das pro-
vinrias do Rio da Pralii, D. Pedro de Cevaltos, por cédula
lie Sua Mageíttade Catbolica, que para o referido elTeito da
•inlrega llie foi apresentada pelos fundamentos sólidos e
Jirine estabelecimento do tratado definitivo de paz, que se
■celebrou na cdrte de Paris a dez de Fevereiro de 17Q3
pelos plenipotenciários de ?i\ia Mageslade Fidelíssima e
Sua Magestade Calholica, protestando no artigo primeiro
do dito tratado conservar uma paz cbrístã, universal e
perpetua, tanto por mar como por terra, e uma amizade
'«incera e constante, entre Suas Magestades e os vassallos
das suas cordas, e outras razões fortissimas com que esta-
belecem e confirmam a dita paz : Ordeno a todos os meus
súbditos, tanto militares como paisanos, que sem embargo
dn bando que por Ordem de Sua Magestade Catbolica
mandou publicar o tonentf-coronel D. José Neto e Botellio,
cnramandante do campo real de S. Carlos, a vinte e nove
de Dezembro de 1763, com' a permiss&o do governador e
capitão-general fí. Pedro de Cevallos, em que debaixo de
rigorosas penas se probibe totalmente o trato com os
vassallos de Suo Magestaile Pidelissima, tanto de palavra
como por escripto, como declara o mesmo bando : que em
Dictzedby Google
— 279 —
teda a occasião qu« tiverem de eomaiunicar com os hes-
paohoes os tratem como amigos, conservando oom olles,
reciprocamente a amizade que elles ofTerecein, entrando
por algum iDCidente ao campo a que chamam neutral, ou
ainda para cá das guardas pwtuguezas, com permissão
minha; porém ptobibo a toda a pessoa de qualquer quali-
dade que seja, o passar do campo chamado neutral a pe-
netrar as guardas hespanbolas, ainda que seja com com-
seotimento das mesmas guardas, ou do commandante do
campo, sem por mim ser maadadn, ou com permissão
minha, só viado tempo em que seja franca e amigável a
commuDÍcação pelos commaodantes agora probibida,
que só assim se dá cumprimento á boa correspondência
que Suas Magestades estabelecem ao ultimo tratado de
paz ; e outrosim prohibo a toda a pessoa de qualquer
qualidade que seja, se atrevam a iutroduzir nos domioíos
deUespanha, pelos portos scccos ou molhados, qualquer
género de fazenda de commercio, pela probibiçào que
para esse effeito se estabelecesse no capitulo sétimo
do tratado de Uirech, o qual se confirma pelo ultimo tra-
tado da paz; como também probibo a toda a pessoa de
qualquer qualidade que seja o usar do armas defesas,
como facas, pistolas e oulras; e o que delinquir na mais
minima parte d'esle bando será irremimissivelmente castiga-
do com as penas dalei, que Sua Magoslade Fidelíssima man-
dou promulgar contra os delinquentes doeste género. E para
quQ nenhuma pessoa possa allegar ignorância, mandei á
som de caixas publicar este bando pelas partes mais publi-
cas doesta praça, e se afiSxará na porta do corpo da guarda
principal. Colónia do Sacramenlo, a seis de Abril de 1764.
— Jo$i Pereira deSoiua, secretario do goverao, o escreveu.
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ItfVMJlO DA novUKU DO MO-GRANDE DE S. PEDRO PELOS
USTBUUJfOS EH 1?63
Illm. e Exm. Sr. — Achaodo-se esta província do Rio-
Grande de S. Pedro na ultima ruína, pela invasfio que
D'ella fizeram os castelhanos em 18 de Abril de 1763, com
a maior parte dos seus moradores dispersos pelo Rio
de Janeiro, liba de Santa Catbariiia e Laguna, e bavendo
fallecido o governador d'eUa, o coronel Ignacio Etoy de
Madureira, e tudo na maior confusão o desordem, me or-
denou o lUm. e Ex. Sr. conde de Cunha, antecessor
de V. Ex., a viesse governar, e para o dito efTeilo sahi do
Rio de Janeiro, d'onde era coronel d^um dos regimentos
de infantaria, em 7 de Março de 1768.
Nas instrucções que então me deu o dito senhor ponde-
rava que entre as importantes dependências, que n aquelte
(empo se moviam no Estado do Brasil, eram as de maior
difficnldade as do Rio-Grande, e que estas só as fiava da
minha conducta, ordenando-mu que fosse a primeira base
do meu governo a diligencia que devia fazer, por fazer feli-
zes e abundantes estes afllictos povos, que tantas misérias
haviam padecido por causa da guerra, e pelos descuidos de
quem os havia governado ; e como para dar conta a V. Ex.
do estado em que presentemente ludo se acba é preciso
repetir as ordens que o mesmo senhor me deu, e o que
tenho obrado a este respeito, o farei com a brevidade
possível .
Achavam-se n'es(a provinda ao tempo da guerra seiscen-
tas famílias de Índios vindos das missões hespanholas, nas
quaes ha mais de (res mil almas, e, como V. Ex. ignora o
modo com que aqui entraram, o exporei.
Quando o nosso exercito, auxiliando o d'el-rei catholico,
marchou a pAr em obediência os sete povos SBblevados
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— 381 -
da margem oriental do rio Urugoay, para o tim da demar-
cação de limites, e da eotrega do terreno que occupavam os
memiOB pOTOS, o qual devia aiigmeolar o domínio d'et-rei
nosso senhor por este lado, diurnos aos mesmos povqe
com felieidadd, sem embaixo das opposições dos mesmos
índios, e n'estas aldèas tomámos quartéis, a tempo que já
elles, arrependidos da sua repugnância, nos principiaram
a tratar, e TÍeram no eoabecimento de que não éramos tão
máos como lhes faziam crer as grandes politicas dos par
dres jesaitas,que sefuadaTamem os separar de toda a com-
muDÍcação não só dos portugueses, mas alé dos próprios
hespaobóes, para que em nenhum tempo os índios en-
trassem no conhedmento da sociedade que tém entre si
as Dações polidas, por não virem a sabir da escravidfio em
que baviam sempre conservado esla miserável gente, que
toda concorria para as suas grandes conveniências, sem ja-
mais poderem passar do seu primitivo estado ; pois a con-
Unuaçfio dos bddos, os seus grandes trabalhos e lavouras,
fabricas e crias de auimaes, jamais para elles podia augmen'
tar riqueza alguma a cada família ; pois lhes não consen-
tiam nem ainda aquellas cousas indispensáveis a qualquer
pobre e miserável, porque as suas casas se Dão distinguiam
das senzalas dos nossos escravos.
Cada bmilia occupava uma só casa, sem outro algum
inovei que uma rede a cada pessoa para dormirem ; umas
poucas de paoellas de barro para cozerem a carne, sem
msis tempero, e a cozinha, ou fogueira, para o fazerem no
meio da mesma casa, que (ambem lhes servia de luz, e
indecentemente se accommodavam n^ella os maridos, as
mulheres, os filhos e fílbas, uns á vista dos outros, sem
f!n(rar n'eUes aquelle pudor Uo natural em quem tinha
conbecímeulo a reUgião catholica, e ainda sendo dirigidos
por sacerdotes ; em ama palavra, todo o systema d'estes
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padns era o de os cooseivar sempre pobres, abatidos, e
que de sorte alguma podess^n vir a passar em neaham
tempo do estado de índios a vasseltos do seHSobwaoo;
porque n'esse caso o deixariam de ser dos mesmos padres,
e perderiam o graude império que possuiam em trinta e
uma aldAas na província do Para^uay.
Experimentando os Índios a docilidade com que os tra-
támos em quanto durou aquelle quartel, e atais que tudo
por se aproveitarem da oecasião, que a forbme lhes ofe-
recia, de sahirem da escravidão em que se achavam ao
tempo em que marchávamos dos ditos povos para o Rio-
Pardo, nos acompanhou um grande numero de familias ;
e advertindo o Illm. e Exm. Sr. conde de Bobadella que
o general espanhol lhe poderia fazer alguma carga, incul-
cando que eUe lhe desinquietava os índios para os traiM'
para o nosso domínio, escreveu repelidas cartas áquelle
general, para que procurasse evitar esta desordem, nas
quaes o dito senhor lhe asseverava Qão haver coacorrido
para tal ; e que mandasse pór guardas suas nos passos para
a embaraçar, o que o dito general fez, mas sem fructo ;
porque pela outra parle a tropa lhe dava todo o auxílio
para passarem s^uros, por comprebender que o nosso ge-
neral assim o queria, e ouvia sem displicência as noticias
de irem passando sem embaraço, e com efTeilo chegou
ao Rio-Pardo um grande numero de famílias.
N^este quartel sabendo o mesmo general hespanhol a
quantidade dos que se^havíam transportado á nossa parte,
escreveu repetidas cartas ao Sr. conde de Bobadella, para
■que lhe restituísse os*iadios ; sempre o dito senhor se mos-
trou desinteressado n^esta parte, e empenhado em que volr
lassem os índios para as suos aldèas ; (porém isto porque
sabia muito bem que nada os faria mover ) rospondeu-lhe
por varias vezes, que mandasse ofliciaes seus a reduzil-os,
D,:„l,;cdtv Google
._ 2*1 -
e até penoittia que viessem pa<Iresa esta mesma diligencia;
porém só colheram por fruelo das grandes (sic) que
fizenm algumas desattenções dos mesmos Índios; até que
ultimamente, para de toda a sorte mostrar o Sr. conde que
os Dão queria, prop6z ao general hespanhol se convinha
elle que mandasse fazer fogo petas tropas aos índios, que
fugidos d'aquellas alddas quizessem entrar no nosso paiz,
com o que se fizeram as inslandas mais moderadas, desde
aquelle tempo ; porém aunea o general hespanhol se es-
quecea do grande numero de índios que passou á nossa
parte, e para resarcír aquelia falta procurou no tempo da
guerra, que as famitias do Río-Grande passassem ao domí-
nio hespanhol, fazendo-lbes vários partidos, o que tem
conseguido de um grande numero d^etlas.
Sei que de tudo deu conta o dito Sr. conde a Sua Ma-
gestade e que lhe foi approvado tudo, pois lhe devi a honra
de me communicar alguns d^aquelles particulares, pela ter
de ficar por seu substituto, e com todos os seus poderes
nas dependências da demarcação, quando se retirou para
o Rio de Janeiro, e que Sua Magestade estimou haver tira-
do da escraTidâoa tantos miseráveis, e quo elles eiperi-
■oentassem os efTeitos da sua real piedade e benevolência ;
porque sem embargo da despeza que já com elles se fazia,
pois o Sr, cond(3 mandava cobrir a muitos que chegavam
quasi nús, sustentando-os com farinha e carne, se esten-
deu a muito mais areal grandeza d'«l-rei nosso senhor,
maudando-lhes uma grande porção de géneros para se ves-
tirem, que segundo o nosso orçamento haviam de importar
em mais de setenta mil cruzados.
. Retirando-se o Sr. cende para o Rio de Janeiro ficaram
os Índios QO quartel do Rio-Pardo sem se arrumarem, nem
estabelecerem em forma; porém logo que houve a certexa
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(la guerra, os mandou retirar o mesmo senhor para o inle-
rior da província pelos não expAr.
Passaram «lom effeilo para os campos de Víasaio, d*oade
se acham sem formalidade continuando a fazenda real em
despender com alies a carne precisa para seu sustento ;
pois sem esta seria impossivel á sua subsistência.
Tem gasto a real fazenda na compra das reies com que
tbes assiste mnítos mil crusados ; lém-se despovoado de ga-
dos as estancias dos moradores, que vivera na maior deca-
deocia, por se lhes não pagarem, cujo mal se multiplica com
a continuação indispensável do sustento com que se soccor-
rem. Dirainurai-se os dizimes, porque se debilitam as es-
tancias ; os reaes direitos nos registros por d'onde passam
os animaes para Minas rebaixam em grande parte, por não
terem que comprar os negociantes que baixam a serra ; e
finalmente com a infelicidade da perda do Rio-Grande, cu-
minba esta provincia á sua lotai ruina, sendo os ditos Ín-
dios uma das principaes causas para não tornar a Dorecer.
Muitas e reppetidas vezes representei ao Htm. e Exm. Ar.
condo de Cunha todas estascircumslancias, pedindo-lhe me
desse o melbodo para a arrumação dos mesmos índios, e
depois de me ouvir em papel que fiz sobre a mesma maté-
ria me respondeu, ha mais de um anno, que breveiaente
me mandíiria as ordens a este respeito, pois as tinha de
Sua Mogestade, porém até o presente n&o chegaram ; sendo
este particular de tanta consequência e de tanta pondera-
ção, pois, dese não tomarsobreelle umaprompta e decisiva
deliberação, se s^uira o arruinar-se inteiramente a pro-
vinda, que já não pôde soffrer o peio que lhe fazem os
ditos Índios, e dentro em breve tempo veremos despovoa-
das de gados as grandes fazendas que d'elles havia, pois
se gastam com os mesmos índios por anno sete mil rezes,
não entrando n'cste numero as que se despendem com iis
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— 288 —
tropns, qii« '"''fls tPm ra^flci dn c^rne, e já p"S^pf|i de -pí-
annos que .>u papani as rezes que se loiuim acis niura-
dores, as quaes importam em grande somma de cabedal ; e
é esta dependência mui digna da atteoçáo de V. Ex. pelas
coDsequenúas qun envolvr*.
Propuz ao mesmo Sr. conde de Cunha que estes indios
se oecupavam em vários trabalhos do real serviço, o que
tdra feito em obras de fortificação qae tenho erigido para
defensa d 'esta província, e em tudo o mais que se ofTerece,
e que seria bom arbitrar-lhes algum jornal para ajuda de seu
vestuarío e das suas famílias ; ordenou-me apontasse eu o
quanto se lhes devia dar, o que fiz ; porém resultou tornar
a ordenar-me o mesmo senhor se lhes não desse nada, c
mandasse eu dizer os géneros que precisavam para so ves-
tir, o que executei em dezoito de Julho do anno próximo
passado, porém não tive resposta, do que se tem seguido
estarem todos nús por se lhe haverem consumido os ves-
tuários que Sua Magestsda lhes mandou.
Foi o Sr. conde de Cunhn servido ordenar-me arramaste
eu as famílias que das ilhas havia Sua Magestade man-
dado conduzir a este continente para o povoarem, as quaes
se achavam dispersas sem lhes haverem cumprido as pro-
messas que !-;i.i Magestade lhes fez, quando os mandou
sahir das suas terras, e que para eu os arrumar em povoa-
ções tirasse das fazendas cpie se tivessem dado de sesma-
ria as porções de terreno preciso para lhas inteirar as suas
datas.
Logo que cheguei a este governo procurei dar cumpri-
mento a esta importante ordem, seguindo em tudo as de
Sua Magestade que se acham n'esta provedoria a respeito
das mesmas famílias, e com effeilo fundei a primeira po-
voação junto do passodorio Tebiquary, em situaçSo que
achei própria para a^ utilidades e lavouras dos mesmos
TOSCO XIXI. P. [ 37
D,:„l,;cdtv Google
povoadores, e lb'a fiz corei lodi a regularidade, em ruoR,
casas e praça, e querendo dar principio á igreja só pude con-
seguir o tirar us madeiras para ella do mato, porém não
tive meios para metter mftos á obra: pedi ao Sr. conde de
Canha me mandasse as ferragens precisas, pregos, e os
paVameDios para a dita igreja, e sá me mandou a imagem
do Senhor S. José, cuja vocação Ibf puz em memoria do
nome de nosso augusto suberano, e me avisou que os pa-
rameatos se Scavam fazendo, os quaes não hão chegado,
uem o mais, havendo passado muito móis de dois annos.
Idéei outra povoação no porto dos Casaes ; porém, como
oão ha meios, tudo se acha parado : esta baria erigido em
nome do Seohor Santo AntonÍo,e ainda se podem fazer mais,
porque ha familias para ellas e situações mui próprias era
que se estabeleçam; o que será mui útil ao real serviço, e
serio mui importante que nVUos se estabelecessem villas,
porque, como esta província é fronteira com os hespanbóes,
quanto mais povoada estiver, haverá mais meios para a
defender; espero que V. Ex. me diga se hei de continuar
com estas importantes obras, que todas podem ser feitas
com muita moderação nos custos.
Conserva Sua Hagestade n'esta provincia perlo de qua-
renta léguas de terreno com o nome de estancias, do mes-
mo senhor, os quaes achei na maior decadência; e que-
rendo dar-lhe alguma forma o não pude conseguir por se
achara cria de gado e cavallos tudo alçado (como aqui
dizem ), que é o mesmo que bravosj de sorte que para se
apanharem alguns potros ou rezes é com immenso tra-
balho e despeza, ao que deram causa os descuidos de quem
manejou antecedentemente estas fazendas, e sem umagran-
de despeza se nSo poderão pôr em ordem ; haverá n'(Ala
dez ou doze mil potros, porém sem utilidade, pois se não
podem apanhar por estorem indomesticos : o gado jé ha
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mui pouco, purque liacÍDGOaaDosqueâetixU'alie(l'ellapara
sustento da guaraição do Dorte, em que tfim exostido mais
de seiscentas praças de ração, e este tem sido preciso apa-
nhal-« a laço.
1'ropuz ao mesmo Sr. conde de Cunha que sgria mais
utU a Sua Magestade o repartir estes terrenos com os seus
vassallos. o que faria povoarem-se eslas quarenta léguas, e
orescero rendimento dos dízimos a um subido ponto, pois
são as melhores terras que ha na província, para lavouras
e para criações ; e as datas de terreno que se repartissom
aos inesmos vassallos podiam ser com a condição de darem
era cada um aono a Sua Magestade tantos cavatlos mansos,
e tantas rezes, em attenção i se lhe repartirei^ os bravos
que n'ella existem, cada um á proporção dos que se lhes
dessem com as egoas.
D'esta sorte teria Sua Magestade sem despeza os cavallos
precisos para a tropa, e a carne para as rações que se lhes
dá, o augmento nos dízimos, a província povoada e rica, e
cresceriam os direitos dos anímaes nos registros pdr d'onde
passam para Minas, que não são de tão pouca consideração
que nio pague cada besta muar dez mil e tanto réis, e cada
potro mais de nove mit réis, quando a ellas chegam, pois
em todos os registros pagara, e ístoseria muito mais conve-
niente do que o é o manejarem-se as ditas estancias por
conta da fezenda real, pois nem todos us governadores e
provedores teriam o zelo que se precisa, nem o génio para
d^ellas tirarem utilidade, e as administrarem como devem,
pois faltando este, só servem de despeza com as muitas pes-
soas de serviço que necessitam, sobre o que V. Ex. me
determinara o que devo^obrar.
No correio passado puz na presença de V. Ex, o miserá-
vel estado a que se acba.reduzída a tropa que existe n^esle
continente, pelo grandu alrHSu que tem experimentado nos
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pagamentos, e das relações que remetti a V. Ex. sa vem no
oonbecimeato dequal elle será, pois vivem na maior cons-
temagão; a mesma falta experimentam no fardamento, e a
maior parle não Cp servido [lor estarem nús: seguro a V. Ex.
que estairopa não merece tanto descuido, porque é muito
obediente, e sem embargo das faltas que experimenta serve
com gosto, oàt> sú no que toca ao serviço militar, mas em
todas as obras de fortiltcações e quartéis que tenbo feito, em
que se tem occupado, sem que com elles se tenha despen-
dido cousa alguma, pois oSr. conde de Cunba sempre appro-
viva as representações que eu lhe fazia para as ditas im-
portantes obras, ordoaaado-me as fizesse executar logo,
para o quene mandaria dinheiro, que nunca chegou, e se
nAo foese a tropa e indios, e o modo com que n'isto me
lenho havido, nunca se concluiria nada.
No pMso do rio Tobíquary liz um grande forte de lerra
batida capaz de vinte peças de arlilheria, em o campaoiento
de S. Caetano de Barrancas, outro capaz de dezeseis peças,
' de terra e faxina, e presentemente dois na margem do norte
do iUo-Grande, cujas obras foram feitas pelos soldados e
Índios, sem despeza alguma com trabalhadores; o que lam-
bem tem feito arruinar mais depressa o fardamento da tiopii .
Espero da piedade de V. Ex. se compadeça d'ella, pois o
Não só a fazenda real dâveátrop<i, peões e marinheiros,
o que tenho representado a V. Ex., e aos moradores o gado
e cavallos que se Ibes tãm tirado ha cinco annos ; mas é
grande a importância que se deve aos mestres dos olBcios
que se tõm empregado uo reaF serviço, t^mo ferreiros, car-
pinteiros dú trem, selleiros, armeiços, e conducções dos gé-
neros e farinha de guerra, que tudo é conduzido por terra
da Laguna para este Viamão nas caretas dos moradores, o
que tudo faz uma importante somma.
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Mo tempo do {{overnu do Sr. conde de Bobadella, além
das grandes porçõBs de diaheiro que se remeltiam d'es8a
capital para as despezas d'esla provincia, se passavam
d^aqui letras de muitas para a provedoria do Rio de Janeiro,
por d'onde se pagavam ; porém, desde que entrou no
governo u Sr. conde de Cunha, não só se não pagou o
grande numero d^ellas que se haviam remettído do tempo
da guerra, o paravam, ou em seu poder, ou na provedoria,
procedendo algumas de dinheiro que os moradores em-
prestaram para pagamento das tropas de que estão por
embolsar ; mas tive ordem expressa do mesmo senhor para
não passar letra alguma sobre aquella provedoria, o que
não só atrasou os pagamentos aos acredores, mas emba-
raçou o poderetD satisfazer com as mesmas letras aos seus
correspondentes, o que tudo originou o grande empenho
em que presentemente se acha a fazenda real d'esta
provincia, vivendo os moradores d'ella consternados por
se lhes tirarem os seus bens, sem esperança de se lhes
satisfazerem ; e são tantas, tão juslas e tão repeUdas as
supptioas que me fazem, que já não acho palavras com que
os consolar ; e se não fora a docilidade e modo com que
os tratamt jã a maior parle teria despovoado a (erra, como
elles.mesmos asseveram.
Sirva este exemplo de Hgurar a V. líx. o estado doestes
miseráveis. Vai um d'estfls moradores com duas carretas
á villa da Lítguna a conduzir farinhas para a tropa ; paga
quatro homens que vão com ellas, que cada uma leva ao
menos quatro juntas de bois, e outros tantos para mudarem;
paga a outro hoiaem que cuida em os pastorear, quando
descansam : morrem d'e3tes bois alguns, já nos passos dos
rios, já nos mãos camiobos que transitam, chegam a
Viamão, descarregam, e dÍo se lhes paga o frete por não
haver com que : como ó possivel que este pobre homem
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— 290 —
volte oulra vez a conduzir mai!>, não teudo com que pagar
a gente que levou, nem com que comprar os bois que lhe
faltam? Pois isto succede a todos os cooductores, a quem
se lhes devem muitas viagens ; e se não fora os carinhos
que lhes faço, seria impossível transportar o que é preciso,
ainda que usasse da força.
Ha muitos fazeodeiros o quem se deve cinco, e seis mil
cruzados de gados que se lhes tèm lomado : precisa este
alguma fazenda para remediar a sua casa, não acha quem
lhe d6 alguma sobre esta divida, nem com grande rehate,
pois os negociantes conhecem que se não pagam aqui,
nem se passam letras para se pagarem n'essa cidade.
Parece-me que o que tenho exposto é bastante para
V. Ex. comprehender o estado a que se acha reduzida esta
província, que, a não experimentar esta falta, poderia ser
uma das mais florescentes do Estado ; pois só em trigos
poderia soccorrer a todo ; e no cotnmercio de couros,
mulas e potros dar uma grande conveniência á real fazenda,
e alé cresceriam em muita parte os direitos da alfandega
do Rio de Janeiro com o consumo das fazendas que aqui
se poderiam gastar.
Logo que chegaram as ordens de Sua Magestade para se
regularem as tropas auxiliares, assim de cavallaria como
de infanteria, me mandou o Sr. conde de Cunha remettesse
eu as listas que formasse, o que fiz, eaté o presente me não
respondeu cousa alguma a este respeito.
Aqui se podem formar dois regimentos, um de cavallaria,
e outro de infantaria, muito bons e muito úteis; o de
cavallaria, poucos poderão haver como elle, pois tenho
escolhido os melhores cavalleírose de boa idade, e formado
nove companhias de sesseuln homens cada uma, inclusos
os officiaes, que nomeei interinamente dos mais capazes,
<; lodos andam fardados ; e, como talvez se nèo achem as
Dictzedby Google
- 291 —
relações que remetlí na secretaria, espero que V. Ei. me
diga se devo mandar outras, com as pessoas mais capazes
para oíBciaes, pois é mui conveniente que estes regimentos
se estabeleçam e regulem, e se lhes ponbam sargento»,
mores e ajudantes pagos, para os doutrinarem, na forma
das reaes onlens.
Se V. Ex. se servir de me dar as providencias, e as
ordens do que devo obrar, poderá fazer um grande e útil
serviço a el-rei nosso senhor, pois o conhecimento que
teobu do paiz ha dezesete annos, e o zelo com que sirvo
a Sua Magestade, concorrerão para o bom successo de
fazer feliz esta província.
Deus gaarde a V. Ex. muitos anãos. Capella de Viamão,
10 de Janeiro de 1768. — Illm. e Exm. Sr. conde
de Azambuja, vice-rei e capitão-general do Estado do
Brasil, — José Cialodio de Sd e Faria.
1. Illm. e Exm. Sr. — Pelo que tenho avisado a V. Ex.
desde o §1° até o §11 da carlaflscriptanodÍKdeboje,a que
esta serve de continuação, verá V. Ex. quaes foram os justís-
simos motivos com que Sua Magestade foi obrigado a pre-
caver-se em lempo opportuno contra as sinistras inten-
ções e cubiçosos projectos, com que alguns negociantes e
ministros de Inglaterra, e a cubica de França e Hespanha,
se armaram para nada menos do gue para fazerem invasões
e conquistas no Rio de Janeiro, e mais portos da sua
capitania.
2. Agora devo participar a V. Ex. quaes têm sido as
forças com que o mesmo senhor se acautelon: ou pari
evitar as ditas invasões fazendo ver aos nossos até agora
figurados inimigos que níio lhes seriam tno fáceis, como
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— SM —
elles cuidaYam ; ou para nos casos dCeUas resistirmos aos
seus iníquos e cubiçosos attentados.
3. A guarnição da praça do Rio de Janeiro consistiu até
o mez de Julho do anuo de 1766 em dois regimentos
de infaolaría e um de artilberia, os quaes todos consti-
tuiam um corpo de quasi dois mil homens, em grande
parte destacados na Colónia do Sacramento, no Rio-Grande
de S. Pedro e na itha.de Santa Catbarina.
4. Attendendo, porém. Sua Magestade a que os referidos
destaca^ientos enrraqueciam muito a guarnição da capital,
ordenou pela carta régia de 23 de Março de 1767 (que
vai compilada debaixo do n. I do catalogo junto a esta)
que se accrescentassem mais três companhias a cada um
d'aquelles três regimentos ; mandando ao mesmo tempo
transportar para eltes os ofiiciaes das tropas d'este reino
que constam da relaçjo que foi junta & mesma carta.
5. f oucos mezes depois com a carta iostructiva de 30
de Junho do mesmo anno (cuja cópia vai também compi-
lada debaixo do n. II do mesmo catalogo), mandou o
mesmo senhor transportar ao Rio de Janeiro os três bons
r^mentos d» António Carlos Portado de Mendonça, de
José Raymundo Chicborro da Gama Lobo e de Francisco
de Lima da Silva : mandou pelas outras cartas régias da
mesma data (que vão compiladas debaixo dos ns. Ill e IV
do mesmo catalogo) o tenente-general João Henrique Bohm,
para commandanle de todas as tropas*de infantaria, ca-
cavallaria e artilberia de todo o Estado do Brasil : mandou
[pela outra corta compilada debaiix) do n. V) o brigadeiro
Jacques Funck por inspector geral das fortificações e arti-
lberia do mesmo estado: mandou pela outra carta do
mesmo dia 22 de Junho (compilada debaixo do n. VI} Jorge
Luiz Teixeira para ajudante das ordens do dito tenente-
general : e Elias Schieplinjr e Francism João Rocio para
Dictzedby Google
_ i»8 —
•jQdaDtes das oídeosdo dito brigadeiro Fubck: nuadon
pelas sobreditas três carUs, expedidas em 22 da Junho ao
conde da Cunha e ao dito teaenle-geaeral luão Henrique
de Bohm, que todas as tropas de infanlaiia, artilheria e
cavallaria do Rio de Janeiro e Brasil fossem reguladas como
as d' este reino, som differença alguma: mandou remetler
para este effeito (debaixo da relação da data de 20 do dito
mez de Junho, agora compilada debaixo do n. Vil) os
exemplares de tod«s as leis, alrarás e decretos, que se
haviam promu^ado para a dÍMÍplina das tropas d'este
reino : mandou estabelecer uma atila para Ds estudos da
engenharia e artilheria no Rio de Janeiro; remetteado
logo para os estudos d'ella quarenta jogos das obras de
Bdidoro, e manjando artiScesdos officios de espingar-
deiro « coronheiro para os regimentos.
6. Para os recrutas dos ditos regimentos ordeaon Sua
Magestade por duas cartas de 22 de Julho do anno de 1766
(que agora vão compiladas debaixo dos us. H- e X) as
providencias para se evitarem os vadios, e se obviar aos
excessos com que o bispo do Rio de Janeiro ia inconside-
radamente ordenando osmanceboft capazes de seAium
nas tropas.
7. Por carias de 23 de Março de 1766 e de 13 de Juabo
de 1767 foram mandados da liba de ê. Miguel para os ra-
^ gimenlús do Rio de Janeiro quatrocentos recrutas. £ agora
sa tem repetido as ordens necessartae para se transportarem
mais duzentos dos ditos recrutas das ilhas dos Açores,
onde ha génle sobeja e Sem occapacão.
8. Antes de sahir d'est6 ponto das tropas devo partici-
par a V. Ex. que, tendo avisado o sobredito general João
Henrique de Bohm em caita de 2S de Março do anno
próximo passa'3o que uos r^mentos do Rio de Janeiro
TMIO XXXI, f. I 38
DictizedbyGoOJ^Ic
— a»4 —
havia falia de tamboras, se devem estes logo completar
com negros e mulatos, oio se achando outros.
9. Também devo participar a Y. Ex. ao mesmo respeito
que o dito general João Henrique de Bohm representou
mais a Sue Mageslade, que os destacamentos que se Tazem
de mais de seis centos homens das tropas do Rio-de Janeiro
para as praças do sul, são summamentc prejudiciaes á dis-
ciplina dosséis regimentos da guarnição do Rio de Janeiro;
devendo estes estar sempre disciplinado^ e promptos para
qualquer succçsso; c que o mesoao senhor, reconhecendo a
ruina que padecem os ditos regimentos com as referrãos
corpos, que d'dles se destacam, tem mandado levantar um
novo regimento pago para o seu quartel na ilha de Santa
Catharína, e' mandar d'elle destacameoVis para o Rio de
S. Pedro e para a Colónia ; de sorte que cesse a necessi-
dade de sahirem d'aquallacapítal as tropas da sus guarnição.
10. Porém, conhecendo Sua Hagestadie comas suas cia-
rissimas luzes que, além das forças que constituem as re-
feridas tropas, se fazia necessário accrescentar itdas as mais
forças que a poEsibilidado podesse permittlr, pata o maior
respeito e s^urança da capital do Rio do Janeiro e do seu
território ; • vendo com igual clareza a grande utilidade da
queji'es9e continente são as tropas de naluraes do paiz,
porque, defendendo as suas próprias casas e fazendas, sa-
bem, e podem fazer nos matos aguerra, em que são de muito
menos préstimo os corpos regulares : ordenou ao conde de
Cunha, que alistando<1odos os moradores da ditacepitania,
que se achassem no eatado de servirem nos terços e auxi-
liares, sem excepção de nftbres, plebéos, brtvicos, mesti-
ços, pretos, ingénuos, ou libertos, formássemos terçosdos
mesmos auxiliares de Infantaria e ravallaria, que coubes-
sem np numero e proporçào ilos homens que achasse em
cada um dos respectivos dislrictos.
Dictzedby Google
— 385 —
Jl. Ao mesmo tempo concedeu Sua Mageslade ao referido
conde a jurisdíeção necessária para crear e lhe propdr os
úfficiaes competentes e próprios para disciplinarem, e terem
sempre em boa ordem os sobreditos terços, isto é, para cada
um d'elles : am mestre de campo, das pessoas mais priuci-
paes dos differentes districlos, um sai^enlo-mór, um aju-
dante do nusgero, e um ajudante supra : tirados todos dos
regimentos pagos. E houve mais por bem o mesmo senhor
deterfflÍDar,(pie os serviços que fizerem os officiaes dos ditos
terços auxiliares, desde o posto de alferes até o de Mestre de
Campo, sejam attéadidos e gratificados com as mesmas
mercês com que são deferidos og outros officiaes dos regi-
mentos pagos. '
12. Pela resposta que o mesmo cOQde fez em i de Fere-
reiro de 1767 sóbrias dita» orctens, e pela ^rta cboro-
graphica (cujas cópias também vão juntas, e accusadas ftp
dito terceiro cataliso debaixo dos ns. XI e XII ) , verá
V. Ex. : primeiro, os distrícttts e íreguezias do sertão da
mesma eapitania.que foram separados para n'elles se levan-
tarem os seis terços de infantaria auxiliar, que d^elles coDs-
iam: segundo, quedos moradores ila cidade se podiam formar
mais dois terços de infantaria : terceiro, que no recôncavo ,
se podiam formar outros dois terços de cavallaria, fioand»
todos muito namaroeos : quarto, que João Barbosa e Sá fti
nomeado mestre de campo do terço de Jaracapaguá ^ie):
qninlo.que Miguel Antunes Pereira foi*nomeado mestre de ,
campo do quinto terço: sexto, e que se tratava de alistar os
outros, e Ibes nomear mestre de campo.
13. Pela outra resposta que o mesmo conde fez em qua-
tro de Março do mesmo anno, sobre as referidas ordens,
( também compilada debaixo do n. XIII do mesmo ca-
talc^o), e pelas relaçdes das despezas, assim dos ditos
terços, como das rendas da camará da capitania do Río de
DictizedbyGoOJ^IC
- 2H — .
Janeíre, ^e a- dU- vieram jaDtos;taTe Sua Hagestade a
mais completa informação, qtwsBtea nSo havia aqai, das
cireamstanoías da mesioa capitaaia, peto que tocava d for-
matara 4os tefwidos terços.
14 Sobre esta mais especial informag&e approvou o mes-
mo seohor pela outra carta de dezanove de Junho do mes-
mo anuo de 1767 (que vai também compilada debaixo
do D. IIT do mesmo catalogo) tudo o que o conde da Cu-
nha havia pK^tosto, modiScando as suas reaes ordens an^
tecedenles, assrm para ^ue os soldos dos sai^nios-mó-
rese ajudantes do3 referidos terços auxiliares fossemos
mesmos que ató alli venciam, como para que fosseai pagos
pela reaft fazenda emquanto as camarás o nio podessem
(aaei pelos meios etn^dos que foram indicados na refe-
rida carta. -. . > . ' .
J5,. Em consequência de tudo o referido, formou com
^eíto o conde da Cunha na dita capitania «ete terços de
infantaria, e uãi de cavaUari% auxiliares ; os quaes avisou
o tetkente-gaoeral Jofto Henrique do Bohm, em catla de
vinte e doí« de Fevereiro de 4767, que já então faziam ser-
viço muito útil. Também' deixou projectados outros três
terço» dos moradores da cidade do Rio Janeiro, dos quaes
fiua |f ageslade havia lesolulo que elle conde vice-rei fosse
- igestre de campo de um, e vestisseo uniforme ã'eUe dos
dlia»de exercício, para dar o bom exemplo que o príncipe
D. Jheodo^io deu ás milícias d'esta corte no tempo da aeolo-
niação, com tanta vantagem do real serviço : que o dito t&-
nefcte-general fosse mestre de campo de outro, cujo posto
o dito jj havia aceitado ; e que o mestre de campo do ter-
ceiro fosse Pedro Dias Paes Leme, por ser pessoa de grande
autoridade na capitania do Rio de Janeiro, que faria
emulação ás outras pessoas distinctae d'ella para aspirarem
aos referidos postos, e animarem a reputado, do serviço
Dictzedby Google
— 3W —
dos sobreditos terços auxiliures em beneficio da «egurança
da mesma capitania .
16. O qae deixo acima referido conlém consobstancial-
nente o qae até agora passou a respeito dos sobreditos ter-
ços auxiliares. E tudo isto manda Sua Magestade participar a
V. Ex. para ratificar e Ibe fazer coraiDuns as sobreditas
ordens, expedidas ao coadeda Cunba; e paraqoeV. Ex.
em- observância d'ellas não só prosiga o estabelecimento
4los referidos terços sutítiares, mas também os reduza &
perfeição e boa ordem, que o mesmo senhor espera do
lelo, intelligeDcia, préstimo e actividade com que V. Y\.
se emprega no >eal sflrviço.
17. Ainda accrosce a este respeito participar a V. Ex. que
necessitando os referidos terços auxiliares de armamen-
tos, se deve dar afiles providencia na maneira seguinte.
18. V. Ex. sabe que nos terços auxiliares p ordenanças
são os sbldados os que compram, e devem conservar por
sua conta as armas. N'esta certeza, cada soldado que rece-
ber arsaanento, deve entregar por elle qaatro mil e oito
centos réis no cofre que Sua Magestade manda estabelecer
para este «ffnto na casa da janta da fazenda real, com livro
e conta separada, o qual no fim de cada anno se devere-
metter coi^ o dinheiro que entrar no mesmo cofre, ao erário
Kgto, para por elle se continuarem as remessas das referi-
das armss. '
19. Csta as dos três regimentos da guarnição antiga do
Rio de Janeiro (a que Sua Magestade manda agora remel-
ter armamentos novos, para ficarem n'elles iguaes com os
que foram d'e6te reino] se podem logo armar Ires dos refe-
ridos terços auxiliares de espingardas e cartucbeiras, des-
terrando-se d^elles comtudo as varetas de pão, o subsli-
luindo-se no lugar d'etlas as de ferro, que também se man-
dam remelter para este effeito.
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20. Se as armas qaa largam os referidos Ires regimeoLos
da guarnição antiga forem de adarme ou calibie diverso, e
se houver mais acmas do mesmo calibre d^etlas oas mãos
dos auxiliares, pede a boa economia que para se n&o per-
der um tão grande numero de espingardas, faça V. Ef.
combinai os calibres <l'aqueUBS de que houver maior nu-
mero ; de sorte que todas fiquem uniformes, e me remetta
uma d'ellas, que sirva de padrão, pelo qual hajam de lhe
ser remeltidas em separados cunhetes, as quantidades dd
pelouro que forem destinadas para os regimentos pagos
e para os ditos terços auiiliares, oom as suas marcas de
fogo em cima, pelo meio das quaes se evite Ioda a preju-
dicial confusão, no caso ao mesmo pelouro, conbecendo-so
l(^ á vista dos mesmos cunheles os que pertencem ás
tropas regulares e os que vão destinados aos auxiliares,
21. Debaixo da mesma economia, ou distincçSo, me
remetterá V. Ex. a relação das ouh'as armas que forem
sendo necessárias para os mais dos referidos terços ; de
sorte que d>quí se não possam remetler algumas que
não sejam uniformes com as que lá houver ; porque d'outro
modo iriam fazer mais confusão do que serviço. -
22. Finalmente pelo que pertence és jurisdicções, ou
a evitar os embaraços que dos conflíetos d'etlas costumam
resultar, com desprazer de Sua Magestade e prejuízo do
seu real serviço, posto que o mesmo senhor está certo em
que a prudência de V. Ex. saberia muito beoi obviar a tão
desagradáveis questões ; comtudo, não costumando ser a
mesma prudência commum a todas as pessoas, de que se
compõem as differentes repartições d'um governo tão grande,
como o de que V. Ex. está encarregado : manda o mesmo
senhor participar a V. Ex. sobre esta delicada matéria
23. Quanto ao território. São subordinodos Ás ordeus
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■ie V. El., não sóos portD9'e tertas compiebeodidos denlro
nos limites da capitania do Rio de Janeiro até onde ella
CDafina com as capitanias -geraes da Vahia, da? Minas
e de S. Paulo ; mas lambem Sua Magestade tem subordinado
ás ordens de V. Ex. os governadores e conunandaates
da ilba de Santa Catharina, do Río-Grande de S. Pedro
6 da Colónia do Sacramento, para V. Ex. lhes determinar
o que devem fazer jia guerra e na paz, assin a respeito
dos nossos mãos vizinhos (de que fallarei a V. Ex. em
carta separada), como dos outros estrangeiros. -
24. Ouanto ás pessoas. Pelos §§ 10, 11,' 12, Vi, ii,
15, 16 e 17 da c^rta escripta ao conde dá Cunha em 20
de Junho de 1767, que no catalogo do n. 1° é lambem s
primeira, que vai indicada debaixo do § II d'e)le, foram de-
terminadas a^ incumbências e encargo do tenénte-general
JoAo Henrique de Bobm, e do brigadeiro Jacques Funclc:
concluindo a esto respeito o § 18 da mesma carta nss
palavras seguintes :
a Sua Nagostade manda ultimamente.(íeclirar (peto que
pertence & jnrisdicções) que V. Éx. deve ter nas tropas
d'essa capHanía toda a jurisdjcção que teve e conserva
ainda ojis d'este reino o marecbal-general conde reinante
deS(^aumbourgJ.ipe; que o (eneate-general João Henrique
de Bohm devo ter toda a jurisdicção que teve o general
de Infantaria D. João de Lancastro. E que elle mesmo
forme e exercite, com a brigada que leva, o regimento
de artilheria. m
Deus guarde a V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da Ajud^,
a 14"de Abril de 1769. — Conde de Oeyras.— Sr. marquez
do Lavradio. i- *
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lllm. e Exin. Sr.<^ l*gta cardi primeira das que teaho
dirigido a V. is., aa mesma data d'esta, e pelo catalog*
o. n, que a ella foi jaolo, instrui a \. Ex. cora todas bs
ordens que esta cArte expediu alé 9 fireseate para pre-
servar os portos do Brasil do pestilencial contagio dos
contrabandos, que a elles porfiam en levar os navios,
de guerra e marcanles, das nações estrangeiras. E agora
participarei a V. Ex. a% providencias <yie se têm dado para
evitar que os mesmos contrabandos aejam feitos pelos
nossos navios mercadores e traficaates porluguezes.
Tudo isto V. Ex. acbará indicado no catalogo que
acompanha ests carta, e colligid» nas leis e crdens que
a elles vão juntas, pelo que portence ao felicissimo reinado
de Sua Magestade; o 'pelo que toca as leis e ordens,
que antes <felle havia .sobre esta mateiÍ8,f,ao caso em
que se oSo achem registradas sa relação • ouvidoria do
Rio de Janeiro, com o -aviso de V. Ex. Ih'as remetterei
para fazer com ellas complet» o referido catalogo.
Deus guardp a V. Ex. Palácio de Nos3b Senhora d^. Ajuda,
á 14 de Ibril de 1769.— Conde de Oeyras.— Sr. tutrquez
do Lavradio.
lllm. e Emx. Sr. — t Reservo para esta quarta carta
as instrucçòes pertencentes aos meios e modos* com qne
Sua Magestade tem ordenado que os capitães-genflt-aesdo
Ríq de Janeiro e S. Pa^lo ^ devem condnzir em causa
commum a respeito dos nossos infestos vizinhos caste-
lhanos, que hoje são s^unda vez infestos como successo-
res dos jesuítas, depois que os expulsaram; pòr^ifie a
imporlaDcia e delicadeza doeste negocio requerem por sua
natureza que elTe seja tratado com separaç&o de todos os
outros que podes^m confundir as verdadeiras e e$pecifí-
cas idéas que d'elle devo dar a V. Ex.
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3. R' certo qufl o tempo daacctemai^ao do Senhor rei D.
João o IV. se achavam os vassallos d'esta coroa db posse de
Iodas as costas e sertões que jazem ao sul do Rio de Ja-
neiro, desde as capitaoias do mesmo Rio e S. Paulo até á
taargem septeotrionat do Rio da Prata, onde no governo
do Senhor rei D. Pedro lE se erigiu a nora Colónia debaixo
da invocação do Santissimo Sacramento, da qual fomos
desalojados pelos castelhanos aa éra de 1705, e manda-
dos restituir no de 171& pelos arts. V e VI do tratado de
Ulrecbt.
3. E* certo que os castelhanos, com a má fé que sempre
praticaram comoosco inspirados pelos jesuítas, que os
tinham debaixo da sua sujeição, em lugar de nos restituí-
rem com a dita praça da Colónia todo o seu território
que antes possuíamos, nos ficaram usurpando o mesmo
território, nos ficaram reduzindo ao descripto de um tiro de
canhão da referida praça, e nos ficaram fazendo as outras
avanças, com que depois edificaram no nosso domínio da
dita mai^m septentrional do Rio da Prata as duas praças
àe Montevideo e- de Maldonado, nas quaes se eMo sus-
tentando nulla e violentamente, apesar das garantias do dito
tratado de Utrechl.
4. E' certo que ao mesmo tempo foram os referidos cas-
telhanos [ou os jesuítas, que eram 03 que enlSo obravam
no effeito ena realidade), avançando colónias de índios
e estancias por todo interior do sertão da capitania de
S. Paulo, com o claro projecto de se avançarem até ás
nossas Minas-Geraes, e de nos acharmos com elles de
portas a dentro quando menos talvez o esperássemos.
5. E^ certo que assim correram as cousas até o tempo
do mal entendido e peior executado Tratado de Limites
das conquistas, assignado em Madrid em dez de Fevereiro
de 17&0, que foi annullado pelo outro tratado do anno
TOMO XXXI. P. I. 39
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de 1761, a até o rompimento da ultima e aleivosa guerra
do mez de Março do anno seguinte de 1762, tarmínada pelo
outro tratado de paz de dea de Ferereiro do outro anão
segiiÍDle de 1763.
6. E* certo que os mesmos castelhanos e jesuítas seus
sócios (ou sobre elles dominantes), liogindo ignorarem
que a dila paz se achara concluída, foram invadir o Rio-
Grandede 5. Pedro e o seu território, que perfidamente
occuparam e estão occnpando até o dia de hoje.
7. Sendo, pois, este o estado das cousas pertencentes
aos portos e sertões do sul das capitauias do Rio de Ja-
neiro e S. Paulo, até a dila mai^em seplentrional do Rio
da Prata ; sendo para nós boje os castelhanos, o mesmo
que antes foram os jesuítas, dos quaes até o tempo da ex-
pulsão, receberam as ordens, e depois d'ena estão prati-
cando comnosco a doutrina : o sendo estes X)s grandes e
sérios objectos com que dero instruir a V. Ex. pelo que
toca aos mesmos vizinhos castelhanos: passo a participar-
Ihe para lhe servirem de regras as ultimas ordens de Sua
Magestadb, que depois do referidcT tratado de dei de Feve-
reiro de 1763 se tim expedido ao governo do Rio de Ja-
neiro sobre esta matéria.
8. Todas V. Gx. achará indioadas no catalogoque acom-
panha esta quarta carta. E, se nSo couber no tempo eitra-
hirem-se dos registros as cópias das cartas que n^elle se
accusam, pelo primeiro navio de guerra qu» partir para
essas partes as remelterei a V. Ex. indefectivelmente,
porque sem uma cabal noção d'ellas não poderá V. Ex.
formar d'este gravíssimo negocio o claro juizoquelheé
necessário, para conduzir os importantíssimos interesses
que esta corda tem na resistência aos castelhanos, e na
expugnação d*elles ( quanto possível for) dos portos e ser
Iõe!! meridinnnes. nn dn snl do Estado do Brasil.
D,:„i,;cdtv Google
Deus guAfde a V. Ex. Palácio de Nossa Seahora da Ajuda
90) Ude Abri) de 1769.— Conde de Oeyras. — Sr. Mar-
quez do Lavradio.
Illm. ti Kim. Senhor. — A^s certas uolicias que icce-
l>êmo5 do porto do Fcrrol depois dos ullímos despachos
que dirigimos » V. Ex. nas datas de 31 e 32 de Abril
ptoximo precedente, deram justo motivo ás vigorosas provi-
dencias de que vou anticipar a V. Ei. uma prévia idéa
pela cópia do plano militar, que irá n'esta incluso, paia
què V. El. n3o perca tempo algum em prevenir os nossos
ínijnigos quanto a possibilidade o puder pennittir.
E aOm de que desde logo possa Y. Ex. âcar coro as
mãos livres para obrar; lhe participo n^csta carta noticias
tão agradáveis, covo são as seguintes :
. 4.' Que el-rei meu senhor tem mandado sustentar
o referido plano, e applicar ás despesas do sul todos os
rendimentos das duas provedorias do S. Paulo e Rio de
Janeiro, sem excepção alguma que Dão seja a dos quintos
das Minas-Geraes e de Goyaz; todos os produetos dos
subsi(íios voluntários e lllierario, que d'essa capital se
deveriam remetter a este erário; todos os outros produetos,
que das rendas reáes de Angola se costumam remetter ao
Rio de 'Janeiro, Babia e Pernambuco; toda a importância '
dos soldos e munições dos dois regimentos que se vão
transportar da mesma tfahía; duzentos mil cruzados que
com elles se devem logo remetter, e outros duzentos mil
cruzados SDnuaes, com que a mesma cidade ficará contri-
buindo a essa capital emquanto existirem as urgências da
defesa do sul.
■2.' Que, além das munições dú guerra que leva o
gaioãu portador d'esla, receberá V. Ex. muitas outras por
D,:„l,;cdtv Google
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todas as outras náos e fragatas de guerra, que ficam
promptas para sahirem d'e$le porlo debaiio de diversos
pretextos apparentes.
3." Que no dia de amanhã sabbado, que se hão de
coutar 16 do corrente, sabirão d'este porlo os cinco navios
da companhia de Pernambuco, que vão receber ao porlo
da cidade de Angra, e transportar d'ella a estSa do Rio de
Janeiro, o remonto de infantaria de que é coronel An-
tónio Freire de Andrade.
4.* Que na s^pinda-feira 18 do mesmo mez, que corre,
sabirá a fragata de guerra Nossa Senhora de Nazareth,
levando as destinações publicas de Irnnsportàr d'aqui a
Pernambuco o novo governador d'aquella capitania J«^é
César de Menezes, e o actual governador d'ella Manoel
da Cunha de Menezes ao seu novo governo da Bahia; e
levando uraa ordem occutta, e do prego, que só ha de ser
aberta n^aquella cidade, para d'alla passara essa, en'ella
fícar ^8 ordens de V, Ex.
5." Que ao mesmo novo governador Manoel da Cunha
de Menezes vai ama promoção feila nos dois regiu^entos
da Bahia, em que se achão nomeados por S. Magestade o&
coronéis, tenentes-coroneis, sargentos-móres' e capitães
mais distinctos; e vai orjjem positiva o apertada para que,
fretando e embargando lodos quantos navios alti apparecerem
faça immediatamenie transportar a essa cidade os ditos
legimentos.
6.* Que com o intervalto ite Ires ou quatro dias sahiiá
d^aqui a náo de guerra Nossa Senhora da Ajuda debaixo da
espécie de transportar o novo governador de S. Paulo
Martim Lopes Lobo de Saldanha, o qual vai daqui instruído
para conferir com V. Ex. antes de passar ao seu governo ;
de obrar n'elle de accordo com V. Ei., o de seguir em-
quaato a guarra durar as ordens do tenenlft-general João
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— SOS —
Henriqae de Bohm, comoiBadanle era chefe do exercito do
901.
1.' Qwe com outro semelhante intervallo partirá a aáo
Santo ADtonio, debaixo do motivo de transportar o novo
governador das ilbas dos Açores Diniz Gregório de Mello do
Castro, levando também uma occulta ordem, para que logo
que largar o dito governador no porto de Angra vá deman-
dar esse ^0 Rio de /aneiro, e D'elle fique da mesma sorte
ás ordens de V. Ex.
8." Que a náo Nossa Senhora de Belémi e as fragatas
Nossa Senhora da Graça, e Princeza do Brasil, ficam pre-
paradas e promplas a sahir doeste porto debaixo do pre-
texto de gttar4a-G0stas, o de outros apparenles motivos,
levando as mesmas occullas ordens de fazerem toda s
possivel força de \ela para irem demandar esse porto, e
ficarem n^elle da mesma sorte ás ordens de V. Ex.
9." Que um dos bem disciplinados regimentos da guar-
nição de Pernambuco passe a engrossar e fortificar a da
tlba de Santa Catharina.
10. Que o brigadeiro António Carlos Furtado de Men-
donça, a quem vai a patente de marechal de campo, haja
de passar á dita ilha por commandanle general dMIa em-
quanto durar a guerra, sendo alliviado do governo das
Hinas-Geraes, cujos ares achou contrários á sua saúde;
sendo n'elle substituído por D. Luiz António de Sousa;
e sendo por V. Ex. auxiliado com todos os possiveis
succorros para sustentar a defesa d^aquella importantíssima
ilha.
11. Que pelas sobreditas náos e fragatas irí V. Ex.
recebendo um bastante numero Je artilheiros, bombeiros
e mineiros, formados nas escolas dos regimentos de arli-
Iheria doeste reino; os quaes ( com ,o dissimulado Hm de
servirem n^esse eiército) mandou S. Magestade que agora
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íossem Dometdos para as guarni^es das sobreditas iiáos o
fragatas em lugar das conapanhiss de infantaria que Q'elias
seembarcavam demodoordíoario.
12. Que V. El. receb«rá lambem o abarracameolo
necessário para três mil homens de tropas regulares, com
duas barracas mais distiactas para general e marechal de
campo.
Sobre a certeza de todos os referidos soccorro^, e de que
receberá osmais que necessariosforem: ordena poisS.HageS'
tade que V. Ei. logo que receber esta carta faça transportar
ao Rio Pardo, Viamão e RIo-Grande deS. Pedro o teoeute-
coronel João Henrique de Bohm, o brigadeiro Jacques
Punck, que vai nomeado marechal de campo, e os três
regimentos de Bragança, MiKira e Estremoz; mm toda a
artilheria v. munições de guerra que forem competentes,
e com as brigadas que í/ir formando dos bons artilheiros
das escolas d'este reino que vSo embarcados com este
destino, como acima digo .
. Com grande brevidade receberá V. £x. pela dita íragata
Nossa Senhora de Nazareth as mais amplas, mais espeni-
licas e mais círcuroslancíadas inslrucções,*para constituírem
o sjslema da guerra que ahi se vai principiar e das
operações d^ella. Porém S. Magestade quer que V. Ex., sem
esperar aquellas novas ordens, mande o dito tenente-generat
instruído para formar, logo qjue chegar aos referidos lugares
do seu destino; o exercito que deve commandar, deter-
minando as divisões dVlle, e o mais necessário como se
achasse proiirao a combater com o inimigo; convocando e
fazendo marcbar Iodas as tropas ligeiras de paulistas, aven-
tureiros, e caçadores, guarnecendo os portos dos rios e
passagens dos montes por onde os castelhanos, Rados nos
soccorros que vâo receber, podem vir atacar-nos, para que
os possamo"! rechaçar cnm vantagem. E dispondo tudo o
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- :WT —
mais que o tempo e as conjuncluras dVlle lhe forem
indiciodo.
Nd meu particular me congratulo com V. Ex. peia grande
confiança, que na sua pessoa tem posto el^rei meu senhor;
tpmando no contentamento cl'este honroso conceito Ioda o
parte e todo o interesse que toca A minha fiel amizade
em tudo o que pertence a V. Es.
Deus guarde a V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da
Ajuda, em 15 de Julho de 177(. — Marques dePombal.-—
Snr. Marques de Lavradio.
l. lUm. e Gxm. Sr. — Em continuação das amplas
instrucções e ordens d'el-rei meu senhor, que dirigi
a V. Ex. nas ultimas cartas que lhe encaminhei na data
de 9 de Julho, pelo capitão de mar e guerra Guilherme
Hac-Doul, commandante da fragata /Vossa Senliora de
Naiareih, c na de 8 de Agosto pela náo IVossa Senhora
da Ajuda, que foi commandada pelo capitão de mar e
guerra José dos Santos Ferreira, vou participar a V. Ex.
o mais que tem accrescido depois das referidas datas : para
que V. Ex. possa ficar em mais ctara intelligencia, assim
do que deve precaver a respeito dos nossos pérfidos vizi-
nhos- confinantes, como do que pôde ainda esperar em
socoorros, para repellir as suas. violências e reivindicar os
direitos da corda d^el-rei meu senhor.
ã. Tudo isto achará V. Ex. resumido no papel que ajun-
tarei a esta carta com o titulo de Orçamento das forçast
terrestres e navaes, etc., o qual contém um verídico ex-
tracto do que a corte de Madrid tem até agora mandado
para o Rio da Prata em navios e tropas ; e uma justa com-
hinaçSo das forças de cada uma das referidas duas espécies,
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com que V. Ei. se acha, e achará armado para propuistfr
os ralhos e insultos castelhanos.
3. Também V. Ei. receberá com esta uma exacta cópia
da excellente e aulhentica caria chorographica que o ma-
rechal D. Miguel Angelo Blasco calculou e dalÍDeou, pi-
sando e vendo por si mesmo todo o território do sul
do Brasil, que está aclualtoeDle sendo o Iheatro da guerra.
i. Além do referido manda Sua Magestade accrescãotar
ao que tenho escriplo a V. Ex. as três cousas seguintes :
5. A primeira d'eUas é que a conquista da importante
ilha de Santa Catharina tem feito um dos priocipaes objectos
das expedições da cArte de Madrid: para que V. Ei. haja
de dobrar as cautelas e as forças necessárias para a con-
servação da referida ilha ; fazendo executar tudo o que a
este respeito Ibe preveni na minha dila instruoção de 9 de
Julho próximo precedente desde o § 49 até o § 56 inclu-
sivamente.
6. Entre tudo é preciso que lenha o primeiro lugar o
ponto de passar á referida ilha immediatamenle o marechal
de campo António Carlos Furtado de Mendonça, encarregado
da boa defesa d'ella : para o que se manda baixar logo
das Minas, e encarregando V. Ex. interinamente aquelle
governo a qualquer oflicial graduado e digno de confiança
entre os d'essa capital, emquanlo não chegar o novo gover-
nador das referidas Minas ; pois que, supposto que os
castelhanos presentemente não tenham tropas bastantes
para ao mesmo tempo se manterem no continente coDtra o
nosso exercito, e passarem além d'is5o a sitiar a referida
ilha, não haverá a respeito d'ella precaução que não seja
útil e necessária.
7. A segunda cousa consiste em Tecommendar el-rei
meu senhor novamente a V. Ex. a cuidadosíssima execução
das reaes ordens conteúdas na minha ultima carta de oito
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de Agosto próximo precedente; principaloieute desde o
§ 14 d'ella em diante ; fazendo multiplicar quanto possível
fõr o numero dos corpos e companhbs fraocas de aven-
tureiros, caçadores. e serlanistas de S. Paulo e Santos;
fazendo recrescer e augnienlar cada dia mafs n'dlles o
espirito marcial, a ambição do gloria, e a animosidade e
desprezo contra 05 caslelhanos; e fazendo promptamente
remunerar e gralificar os que se distinguirem na confor-
midade das ordons que tenho participado a V, Es. sobre
esta matéria.
8. A terceira cousa é que, tendo os ueistolhanos grande
falta de marinheiros, e por isso grande dilSculdade em
armarem as suas náos de força, todos aquelles que forem
tomados ficarão reclusos na ilha das Cobras, até o lim da
guerra; tomando-se relação das despezas que com elles s«
fizerem, para serem pagas ao tempo da paz. Como Vm.
presenciou n'este reino que Sua Magestade não quiz nunca
desertores caslellianos no seu exercito ; fará observar o
mesmo d'essa parte, não sú a respeito dos ditos desertores,
mas tambum dos prisioneiros de guerra.
0. Pelo que pertence ao oslado das cousas doestas parles,
vou participara V. Ex., para secretíssimo conhecimento,
que nem el-rei meu senhor tem permítiído que o seu
embaixador na cõrle de Madrid desse ireiia o menor signal
de queixa das insolências, que o governador de Buenos-
Ayres tem commellido contra essus domínios; nem a
mesma corto tem achado a propósito lazer d'ellas a esta
reparação alguma.
10. Sua Magestade, porém, por uma parte procurando
mostrar com os factos que não ouviu com inditrereoça as
informações dus roíeridus altentados, e pela outra parte
embaraçar a referida corte com uma diversão, que a
não deixe livre, para mandar ao Rio da Prata Iodas as
TONO XXXI, P. I. 40 <
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— 31» —
tropas que ella desejaria, loceiandu-sc <le que lhe pos-
sam ser necnssarias dentro no seu mesmo c^ontínentc de
Castella, mandou completar todos os regimentos do seu
exercito; mandou n'ellps promover aos postos todos os óífi-
cÍMS de mamr prtstimo, e reformar os menos hábeis : man-
dou fornecer de copiosas munições de guerra todas as suas
praças; mandou encher armazéns de munições de boca, c
lúrrngens, para cincoentamil homens por tempo de umanno;
mandou dar balanço ao seu arsenal dns tropas chamado aqui
da Tenenda, cora o effeito rle achar os seus amplíssimos ar-
mazéns cheios de . rtilheria, pólvora, balas, bombas e toda
a sorte de petrechos de guerra : e mandou finalmente que
tudo isto se fosse (como vaí) executando com a maior sizu-
deza, e dissimulit^ão, de sorte que pareça providencia, e
niio reseotimenlo, sem comtudo se dispensar a actividade,
com que nos temos empregado e vamos empregando nas
sobreditas prevenções, e sem que o reparo de causarmos
ciúmes aos nossos máos vizinhos nos sirva de embaraço.
Deus guarde a V. Ex. Palácio deNoísa Si-nhora da Ajuda,
em 18 de Setembro do t77i. — Marquez de Pombal. — Sr.
marquez do Lavriídio. — Está tonfonne. — Thnmaz Pinio
da Silra. '
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— :Hi -
OrfaHleiUv ditíi forçus lerrentrss « naoaes, fue oerusiniil-
niente se pôde julgar que os castelhanot tenham^o Rio
da Praia e sul do Brasil,, depois que chegar a Bue-
t\os-Ayrea a vllima expedição que partiu de Cadix no
mez de Agosto d'este presente anno de 1774, e combina-
ção d'eUas com as forças de Sua Magestade n'aquellas
fronteiras
KOKgAS TERRBSTRKS CASlELHAPiAS
— l'e)a primeira parte du plaoo militar, que foi junto
debaiio do n. 1, a segunda carln instructiva què em
uove de Julho doeste presente amio de 1774 expedi ao
inarquez do Lavradio foi calculada sobre as ultimas infor-
mações, alé áquelle tempo recebidas, for uma parte que
-o corpo dos seis mil homens com que ogovernador do Pa-
ragiiay veiu surprehender as nassas fronteiras fora na maior
parle composto de cinco mil e duzentos homens de tropas
do paiz chamadas correnlinas, que para nada prestam, e
dos Índios das missões que ajuntou ás referidas tropas de
Corrientes, e são ainda peíores do que ellas, como clara-
mente fez ver a facilidade conr que o nosso bom e valo-
roso capitão de tropas ligeiras Raphael Pinto Banda^ra
com o seu destacamento de cento e vinte homens bateue
fez prisioneiro no dia três do Janeiro doeste presente anno
II capitão castelhano D. António Gomes á testa de seiscentos
combatentes compostos das referidas tropas pagas de Cor-
rientes e dos sobreditos Índios com ellas incorporados,
tomando-lbes todas as armas, munições de guerra e equi-
pagens: e foi calculado por outra parle que os nerros ou
forças substanciaes d^aquelie a pparatoso e pérfido exercito,
ctiDsistiram dos oitocentos homens de tropas européas,
que o referido general castelhano tirou das guarnições de
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Buenos-iyres, Montevideo, Maldonado e bloqueio da Coló-
nia, deaando-as inteiramente desamparadas de todas as
ditas guaraições.
Depois de haver despachado a referida, carta instructiva
chegaram a esta o^te as informações : primo de que a ex-
pedição que se esUva preparando no Ferrol fflra eontra-
raaodada; secundo de que o transporte das tropas desti-
nadas ao Rio da Prata se devia fazer do porto de Cadix-,
terlío, qued'cllee de outros das suas \iEÍDhan!;as ha-
viam com effeilo sabido no mez de Agosto próximo prece-
dente, em Ires charruas, e Ires navios mercantes armados,
mil e quatro centos homens do regimento de Galiza, e qui-
nhentos desertores, sommando tudo mil e novecentos
homens, ,
A' vista do que, vem presentemente a consistir no sul
do Brasil todas as forças dos referidos castelhanos:
Primo pelo que pertence ás tropas européas, em um
corpo de dois mil e setecentos homens, quando chegar
esta ultima expedi(jo ao Bio da Prata, oorpn do qual irão
os soldados europêos desertando todos os dias em cardu-
mes para as Minas do Chiti o Potosi, como é conhecido
vicio das tropas castelhanas.
Secundo no outro corpo de cinco mit e duzentos homeng
irregulares e inertes, composto no rar>nor numero dos
vadios e mandriões chamados soldados correntinos,, o na
maior parte de Índios bisonhos, que, sendo pouco mais do
que vuUos e animaes de carga, aborrecem os caslelhanos
com ódio tão entranhavel, como constou da relação do
marechal Blasco, que foi junta aos seus sobre-ditos des-
pachos.
Corpo, digo, o qual claramente se v6, por uma parte, que
não excederei o referido numero, porque já mostroU a
experiência do anno [uoxituu preccdenlc que d'olle não
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puderam passar lodos os esforços do general U. João José
de Vertiz. quando procurou ajunlar toda quanta gente s
possibilidade d'aquelles paizes podia permitlir-lbe, para
completar 05 seis mil homens (incluídos os oitocentos ou-
Topéos) COO] que nos veiu atacar, sendo certo que se tivesse
mais gente capai de pegar em armas a não deixaria íicaT
atrás em uma conjunctura em que procurou mettec-nos
medo com aapparatosa ostentação, que fez das suas forças:
ecorpoemfím que pela outra parte se vé que é pouco, ou
iKida formidável.
FORÇAS TERRESTRES POHTUUltZA!^
Pelo que pertence ás tropas disciplinadas européas:
consistindo as dos nossos inimigos nos dois mil e setecentos
homens acima indicados, consistindo as de Sua Mageslade,
na conformidade da terceira parte do reforião pbno militar
n. 1, em quatro mil cento e oitenta e quatro infantes, e em
mil duzentos e dez cavallos, que constituem um corpo de
cinco mil trezentos e noventa e quatro homens de tropas
regulares ; já se vê que a força das tropas regulares de
Portugal excede a das tropas regulares de Caslella em dois
mil seis centos noventa e quatro combatentes.
Pelo que pertence ás outras tropas irregulares : eonsis-
tiodo as dos mpsmos inimigos nos cinco mil e duzentos
homens, compostos no menor numero dos apparentes sol-
dados correníinos, mandriões e inertes, e na maior parte
nos miseráveis índios de collecção acima referidos : e con-
sistindo as forças com que devemos combalêl-os nos dois
mil homens de boas tropas ligeiras (isto é, mil de pé e
outros mil de cavallo) e nas muitas companhias de aven-
tureiros, de caçadores e de sertanistas das capitanias de
S. Paulo e de Santos, (jtnj so (èm jovnntad') c pódcm
DictizedbyGoOJ^IO
- 3(4 —
levanlar ; u saudu todos elleg por aí mesinoa vatoroais-
simos, e filhos e netos de pais e avós dotados d'aquelles
heróicos espíritos, que lhes ganharam a faDia de serem
n^essas parles o terror, não só dos índios castelhanos e
inertes, mas até dos mesmos astutos e animosos' jesuítas:
Umbem se concluiu quaato a esta tropa ligeira, por um pru-
dente calculo, que todas as vantagens estão da nossa parle,
principalmente achaudo-nos com dois mil seis centos
noventa e quatro homens de superioridade nas tropas ra-
gulares.
Está conforme. — Thoma: Pinto da Silva.
koh^:as navaes castelhanas
A(é a recepção da carta do Kio de Janeiro, f|ue trouxe-
ram as datas de 22 e 28 do Fevereiro doeste presente anno,
constou por cilas que os castelhanos susientdram os insul-
tos, que no Rio da Prata nos faziam as suas embarcações
pequenas, com três fragatas de guerra, que conservavam
no sobredito rio, sem resistência alguma. Consideran-
do-se, pois, que. vendo os mesmos castelhanos que não
tinham contradictor no sobredito rio, não quereriam fazer a
grande despeza de conservarem n'elle nãos de maior lota-
ção : e arbítrando-$e por isso a cada uma das três fragatas
trintapeças de 6 atélâ de calibre, virAo todas três asommar
noventa peças.
Pelos últimos avisos recebidos do Cadix nas datas de
lã de Julho ede lo de Agosto próximos passados cons-
tou terem sabido d'aquelle porto as nãos e fragatas se-
guintes:
A náo chamada o Attulo de setenta pegas ; a outra cha-
mada 5. Domingos, da mesma lotação; duas fragatas dt
({ucva que, segundo as informações, são do loto de qua-
Dictzedby Google
— 315 —
renla poças caila uma ; Ues tiivios mcrcanlos de irnns-
porle armados em guerra, que podiam levar vinte peças
cada um ; duas charruas hollandezas de cai^a ; summa tudo:
duasnáosde linha, cinco fragatas; três navios mercantes
armados, e trezentas e setenta peças de arlílherta.
FORÇAS SAVAES PORTWCIIEZAS
Logo que se ajustarem no Rio de Janeiro as expedi(;ões
que SI3 acham ordenadas poc Sua Magestade.
Náo capílànea Santo António, de 6i peças que agura
pnrte com os despachos, que acompanham esta náo Nossa
Senhora d' Ajuda, de 6i peças, que partiu em.. .de Agosto
próximo precedente:
Note-se. — Que estas nãos de sessenta e quatro peças
sâo muito mais forles do que as castelhanas do solenla
e oitentti.
Fragata i^osaa Senhora de Belém, de 50 pi.-ças, que se
acha para partir d^entro em poucos dias.
fragata iSosta Senhora rf« .faiarelh, dç 40 pe^MS, que já
partiu em '23 de Julho.
Fragata /Vossa Senhora da Crnca, de iO ppças, que partird
com grande brevidade.
tialeão .Vossa Senhora da (iloria, de 28 peças, que laiti-
beni partiu já im me^ de Julho próximo procedente.
Somma ludo : duas náos de linha, uma de cinroenia
peças, duas fragatas de quarenta, outra do vinfe e oito,
e dl^entas e oitenta e seis peças lU- arlilheria ; em
cujo numero vém por ora a laltsr, oitonta e quatro {«ras
para igualarmos o numero dns trezentas c setenta que
lerão os nosso* inimigos, quando chegar a sua expediçíin
dl- Cadix.
frovine-sti, porém, a (í.-Ii! nrsiieito, que dolwivode lodua
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— SIB —
ili-isimularàn iln cominerciu f. iiavegaçãu mercantil, se ficam
dcpediodo slém dos acíoia referidos, alguns navios auit-
[iares, dos quaes serão os primeiros a sabir os seguintes:
A companhia da pesca das baleias e o contrato do sal
mandarão sahír logo um navio novo allimamente cons-
truido na Bahia, que toonla trinta poças, e que, partindo
d'aqui cora carga do referido género, leva artilberia e tudo
o mais necessário para ser armado em guerra, logo que
chefjar ao porto do Hio de Janeiro, meitendo-se n'elle os
soldados e artilheiros que necessários forem.
A outra companhia do Pará fica expedindo, debaixo da
mesma dissimulação do seu commercio, outros dois navios
de quinhentas toneladas para cima, para serem também
armados em guerra, e guarnecidos cora soldados e arti-
lheiros, logo que chegarem ao mesmo porto. Cada um dM-
les pôde montar vinte e quatro peças; um dVlles úcará
prompto em oito e o outro dentro em vinte dias.
A outra companhia de Pernambuco e Parahjba, manda
logo partir a fragata de quarenta peças chamada Barriga
me ãóe, e fará partir logo que chegue outro grande e bom
«avio novo, que mandou construir no Recife, eespera-se
que por instantes entrará ir^esta barra e montará trinta
peças. Sommando todos estes soccorros auxiliares : navios
cinco ; peças de artilheria, cento e quarenta e oito ; com
as quíies licaremts excedendo em sessenta e quatro aos
nossos inimigos.
fMn coiiiforraff. — Thotuaz Piíilo tiu Silra.
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— 317 —
lllm. e Esm. Sr. — Sua Magestade foi servido des-
tinar António Carlos Furtado de Mendonça para o eom-
inandameutu oiililãr de todas as praças, portos, guar-
nições e mnis forç&s da ilba de Santa Catharina, debaixo
das ordens immediatas de V. Ex. E Doesta conformidade
ordenou o mesmo senhor que por esta secretaria d'Es-
tado se escrevesse ao referido António Carlos Furtado ie
MendonçB e á camar» de Villa-Rica as duas cartas, que
lhe vão dirigidas, as quaes lhes remellorá V. Ex. por um
expresso, logo que lhe forem entregues.
Das cópias das mesmas cartas, que junto a esta, como
partes d'e[la, vort V. ^x. o que Sua Magestade determina,
assim a respeito d,as etlicazes medidas que devem tomar,
para preservar de insultos aquelle impoctantissimo estabe-
lecimento, como para i]ue V. Ex. nomeie logo urq officiol
militar, que inldriaamenle vá governar a capitania de Minas-
Ceraes, durante a ausência do actual governador d'e[la, ou
emqoanto Sua Magestade não mandar o contrario.
Deus guarde a V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda,
em 19 de Setembro de 1774. — Martinho de Mello e
€aslro.-~ St. marquez do Lavradio.— Está conforme. —
Tho^nas Pinto da Silva.
Para Autonio Carlos Furtado de Mendonça. — A pre-
servação e segurança da ilha de Santa Catharina sendo
presentemente vm dos objectos mais imporl^ntes aO'real
sarviço, e tendo Sua Magestade umcr inteira confiança
na prudência, firmeza e valor de V. S., lhe ordena (jue logo
que receber esta passe iinmediatamente ao Rio de Janeiro ;
e, de||ois de ter conferido e assentado com o marquez do
Lavradio, vice-rei e capilão-general de mar e terra do
Estado do Brasil, sobre os meios mais efScazes e prom-
ptos de soccorrer poderosamente a referida ilha, se em-
barque sem alguma perda de tempo, para ser conduzido
TOMO XXXIP. I M
ídbyGoOJ^Ic
— M» —
a eUa ; e logn que aUi dhegar tome V. S- o conuncnda-
mehto DiiKIer das pn^s, portos, gooirições e mttte forças
damesna íHia, d^aixo das ordens Ío ^to viee-rei ; em-
pregando T. S. lodo a seu eelo e BCtifidade pan a pdr ao
melhor e^do 4e defensa, de sorle que possa resistir a
Iode e (fBQl^iHH' otaqae qiie se lhe intente f'a2er por mar,
Ou TpOT lerra, ou por aoÃas as partes ao mesmo tampo ;
e conservando para o cargo do governador Francisco de
Sousa de Menezes toda a economia da mesma ilha e
tropas d'etla debaixo das ordens de V. S., emquanto Sua
Magestade dSo mandar o contrario.
Para substitair o governo das Minas-Geraes, durante a
ausência ãe V. S., tem eUrei nosso atnhor or^nado ao
marquez do Lavradio que nomeie interinamente um officiat
digno d'BqdeI)a incumbência, o (fual jurará homenagem
nts tnõQs do mesmo TÍce-rei, havendo Sua Mageslade por
suspensa, alé segunda orderii, a qoe V. S. deu do referido
goterno.
O mesmo senhor espera quetfesta importante com-
missão, a que o destina, ajuntará V. S. mais «ma distincla
prova ás muitas que fem dado do sen préstimo, do seu
zedo e 4a sua ftdelidade.
Dens guarde a V. S. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda,
em 19 de Setembro de 1774. — Martinho de Mello e
Castra.— Este conforme.— TAoma« Pinto «ia Silva,
Para o juiz, vereadores e procurador da íamara de Villè-
ftica. Sendo indispensaTelteenie necessário que Anlonío
Cnrlos Furtado de Mendonça, marechal de campo dos exw-
citos de Sua Majestade, e governador e capilão-general das
MÍna»*Geraes passe ae Rio de Janeiro, para nm importante
negocio do rMl servtço,'lhe ha o mesmo senhor^or sus-
pensa, ató segunda ordem, a homenagem que deu ao
referido gorerno ; e tem ordenado ao vicenwi e capítão-
Dictzedby Google
ganeral 4a nuf e (ena 4o: (stada do Brasil d» nqmoai;
ÍBdwÍBaBaeo(e um Qffidal, quo o substitua B'aquella em-
pngf^, yreslaado honeiugeQ^ (felle Da$ m2o& do mesmo
TÚje-rei^: Oi qua Soa Hagastade 9),and& ptiticigar á cqraaca
de Vilta-Rica, para que «ssigi o fique enteodendo, e c^e o
observa- e bça observai, pelo iju? lhe urlaufi^ eaquaiup
dorar a auseaeia do ditOigoTernadoc, 0U( Soa Mageslade não
aomear outro em seu lugar.
Deus guarde a Vm. FaUqio de Noasa Seahora da Ajuda,
em 19 de Setembro de 17744^- jVaritn/u> de Mello e
CoslTO.— Está coofo^pi». — Th^naz Pinto da Silvtk.
liloi. e Exm. Senhor.— Pelo navio Árgyle, qu» chegou'
ao poeto d'esta coitai a dea. de Outubro eom oenlft
e dez éias de viagem, recebi a levei á resl pteseuç*
d'el-rei dosso seobor as relações de V. Es., todas esficiptas
Domezdfl Junho do presente anno; e scdire o que V. Ex.
reéere relattivo ás pacificas disposiçõ^ que mostram oa
castAaoos, depois d> precriçttadft retirada dp geaerf^l
Verliz, discorre V. Ek. com muito acerto ob desconfiança
com que fica, de não ser sincero aem «ermanotate o soocgo
actual d'aqDelles mal inteuoibnados vizinhos; porque aão
só em BueD0S-A;froa e nas fronteiras do KiorGraade estão
fazendo as disposi^es militaies, que V. Ex. refere; ma»
da Europa lhes foram os socctfrros • de too§a e bíos do
guerra, ds que T. Ex. já se achará instruído ; e o sHilida
coDunum basta para perceber oÍMÍssÍmaiiaaMto que istoi
não é paia as Mcem-eai onesiâMÍe no Rio daBrata, Oaa
paia as ajamtanm ás forcas que o general Vartiz /Hi Htea
tei4 pnpaiadBB, « pars darem sebre dós ra^ntiMBeoM,
quando menos o esperamos.
Nvstss' circumstycias pareceu á tf.VagwtadMnuito pre-
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pitada, e noilo iiregullr, a lesolução do goverBador do
Rio-Grande, era maadff de sua propTÍa autoridade, e sem
esperar as expressas e positivas ordens de V. Ex., retirar
parte das tr^paí-cfue V. £x. fez marchar para aquelle con*
lioenle.
N'eUe ba dois perniciorissimos abusos, que emquaato
se oãe deMerrarem, pem atli pôde haver soc^o, nem
seguiaaça.
O põoitíro é a fatal inacçSo, ou mais propriamente
pusiUailBidede, com que oanca achamos razões suffientes,
nem molÍTús bastaales, para atacáramos os castelhanos,
ou em saturftl defensa das validas hostilidades, que
commettnn contra dós, ouemjustatatisfaçãodas insuppor-
(STeis injurias que continoamenle nos fazem, ou quando
não querem dar ouvid(>5 ás protestações com que lhes
■eqaeremos a reparação dos damoos, que repetida, o
sucoesaivamenle nos causam.
Tomam-Qos em lempo da mais profunda paz os nossos
navios, e não os qufiiem restituir, como praticaram no Rio
da Prata em 1T72. PaWimd^alliaoRio-GruidedeS. Pedro
e no anno precedente de 1773, tomam^nos mais dois
navios, e também não os tém querido restituir até hoje,
antes nos seguram por terftos claros e positivos, que o
mesmo farão a todos os que entrarem no dito Rio-Grande.
Protestitmos e pedimos reparação d'estas hostilidades,
e o que só conseguimos eão os insultos, com que nos res-
^ndam : conUnuamos a protestar e a pedir reparação dos
Bossos gravames; e aquella nação nfto cessa de repetir os
meamos insultos; até que, depois de muitos clamores da
nossa pvte, e de muitas injurias da sua, nos acommodamoa
com ^as, ficando além d^isto sem navios nem navegação,
como actualmente nos está mccedeodo.
O segundo abusti perniciosíssimo é ejiie, formando os
Dictzedby Google
— 321 —
dUos castelhanos um novo díteiío, até agora descoDbecido
eotre as gentes, de nos atacarem, quando bem Ibes parece,
e quando melhor conta lhes faz, a nós nos nãi> lembra
outra alguma cousa mais, que cuidarmos qnando muito no
modo pacifico e soUredor de reparar os seus golpes, a se
o conseguimos ficamos mui satisfeitos e contentes, deixan-
do-os retirar com lodo o socego e quietação, como ultima-
mente acopteceu.
Forma o governador de Buenos-Ayres D. João José do
Vertiz e Salcedo o projecto de dos alacar, e sem outra
razão, ou motivo mais qiie o da certeza da nosaa paciência
servil, entra a preparar-se, junta as suas tropas, e põe-se
em plena marcha contra os domínios portuguezes.
Manda V. Ex. com vigilante anticipação soccorrer os
mesmos domínios, .dando todas as prudentes e bem r^u-
tadas providencias, que em caso semelhante se faziam
precisas.
Chega o governador castelhano á fronteira do Rio-Pardo
c imniedíalamente nos í»i poi escripto a mais formal, a
mais decisiva e a mais insultante declaração de guerra.
Summando os commandanles portuguezes de evacuarem
todos aquellesdistrictos, com commiuiição de os obrigar por
meio das armas; e 8om efleito dá princiftio ás suas opera-
ções militares pelo ataque da» nossas guardas avançadas.
Chega-lhe porém a noticia díT inteira dflettuição da om
corpo, que por outro ladutinha mandado avançar sobrei
nossa fronteira, e do despojo que elle nos deixou ei^e as
mãos no qual se acharam as mesmas instruc^ões.e ordens
militares, com que o dito corpo devia dirigir contra n6s
as suas operações.
Deaanimft-se o general castelhano com esta inesperada
perda, entra comoé natural, com o seu exemplo um terror
pânico na soa tropa, c não cuida em outra cousa mais que
Dictzedby Google
DO modi> de se salw a si, e a «Ut por iD«i& de ufia
proDBj^ta reliiada.
Sobe d'elU conf aoticipação o coamandrata porUiguaz,
c reeebe no mesa» tempo a noticia da efaegada do coronel
Sebastião XavierdaVeig^oom o soceono do Riode Janeiro,
e devendo ^wovaitar^e d'este precioso momeMo, sahindo
imisedietanraDte coa toda a sua tropa a picar, est^raçar,
e dilatar a retirada dos castelhanos, cmquaBto e fomman-
danle do soccorro eom marchai dobradas se lhe unia> para
ambos atacarem TigorosaineDtQ o inimiga» e faserem as
possíveis diligencias e esforços, p«lo desbaratar e destroir)
em lugar d'esla determinaçio, qne todas as apparenaias
mostravam qoe seria feliz; o que faz é ãcar nwi socado
no sen campo, deixar dispAr ao general castelhano a sua
marcha com toda a quietação ; despedirero-se nutoanwnte
com grandes eivilidades, e voltar o eommandanle portugws
ao Rio-Grande, e o general castelhano a Buenosi-Ayres,
com o fim de roGrutar, como este racrutaudoas suas fropas,
e esperar pelas que já lhe hão de ter diagado da Europa,
para nos vir atacar segonda vaz, com forças superiores, em
agradefiimento das stteações que tivemos com etie na
OGcasião da sua retirada das margens do Kio-Pardo.
Não era certaoMMe p brigadeiro José Mafroellino capãE
de se conter em uma occasíão semelhante, nem a sua acti-
vidade e fervdr deixaria de lhe mostrar que memeiUos
tats, como o qua aJbima fica refwído, sáo tão raros, como
precieaos na guerra,eque logo que se apresentam gfi detém
aproveitar, ainda arriscando o tndo p^o tudo; e não
obstante quaesqaer ordens geraes, por mais reslrícla» qa»
sejam, porque n'ellas nSo se podendo prever, nem aaan-
tqlar, iodos os acasos- da mesma gaetra, sempre os da
natureza do que se trata ficam livras ao ai^trio, vigitaDcía
e tl^cemtmento dos commandantBs : mas é uma incompre-
DictizedbyGoOJ^IC
faansitel AttaUAsde, <que [Hedoraina na America Meridional
Portiigaeea, a qtial -conatoatemente nos tem mostrarão em
todas as oecssiões aconteflidas desde b principio tf'e9te
século que, por mais hostilidades, e usurpações que os
castelhanos nos tenham feito, e façam, nunca até agora nos
atMvdooi aJhes pedk cazío d'ellaB com as armas im mão :
« aasapfe ^e dos atacaram, o mais a que nos atrerémos,
foi a<uma defensa soffiped6re e passiva.
'EHeasetemcoostituídossenhores árbitros de nos fazerem
a guerra quando bem lhes pareça, e de a fazerem cessar
quando ellaihes não cvnvera ; sem que em algum mso se
veja da nossa parte outra alguma acção mais que a de
rspararmosos seus golpes, ede nos accommodarmos satis-
feitos, quando deixam de os dar.
■Entre todas as nações do mondo ba um direito das gentes,
por onde todas se governam; as máximas, porém, dos
castelhanos na America Mwiittonal, a qae nos temos sujei-
4ado oom grande Abatimento e descrédito nosso, nSo sSo
fuodadaa no diceilo, ftias do aresso de todas as gentes :
e emquaato as -ditas máximas ou abusos se nSo mudarem,
de sorte que d« céos, qae até agora lemos sido, nos
façamos autores; nem V. Ex. espere soc^, nem segurança
n'aquella pafte do mundo.
Para que isto se possa fazer com os meios proporcio-
^do9 de o sustentar, tem el-rei nosso senhor mandado
assistii* a V. Ex. com os soccorros, que já tora recebido,
I ainda ítá recebendo, dos quaes espera Sua Magestade
que T. Ex. se servirá com tanta opportunidade e acerto,
que d'elles resultem os úteis, e desejados fins a que são
dirigidos.
Deus guarde a V. 1!t, Palácio de Nossa Senhora da Ajuda,
Dictzedby Google
em 30 de .Novembro de 1774.— Miirtinho d» MtUo e
Castro. — Sr. marquez do Lavradio. — Está conforme. —
Thomaz Pinto da Silva.
Illro. e Ex. Sr. — Poiem presentes a el-rei nosso senhor
«s cartas em que V. Es. represeata a neoesEÍdadede passar
em pessoa ao Rio-Grande de S. Pedro, e assim esta deter-
minação de V. Ex'., como a efficacia com que a persuade,
foram muito agradáveis a Soa Magestade, vendo D'eUa a
mais concludente prova, depois di}s mailas que V. Ex. já
tem dadb do seu zelo pelo real serviço.
As delicadas circumstancias, porém, em que se acbam
esses domínios da corfia de Portugal, a incessante vigilân-
cia, com que V. Ex. deve promover a ordem, a disciplina
e s regularidade nas forças de mar e terra, que el-rel
nosso senhor tem mandado passar ao Itío de Jdneiro, e os
soccorros e providencias com que deve assistir aos go-
vernos e districtos, que Ibe são subordinados, muito pai^
ticularmenle á ilha de Santa Catbarina, e ao nusmo Rio-
Grande de S, Pedro : todos estes importantísshnos objec-
tos entende Sua Magestade que fazAn tão íodíspensaveA-
mmte necessária a presença de V. Ex. n'essB capital, como
seria prejudicial ao seu real serviço se d'ella se apartasse
por um só momento.
Deusguardea V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda,
em 21 de Novembro de 1774. — Martrnho de Mello eCastro.
Sr. marquez do T.avradÍo. — Está conforme. — ThofnazJHnít
da Silva.
Dictzedby Google
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DlcD.eEx.âr.— SaaMAg03tadeTÍuacarta,ein qaeV. Ex.
Uala doe artigos do anil e da cosonítha, como também
das buas disposições em qne se acham os povos do Rio-
Grande, para augmentarem as suas lavouras e fazendaa de
gados, e fabricarem queijos e maotoÍKas, em tal quaoti'
tlade. que se possam eitrahir para diffarentes partes da
America, e aÍDda de Portugal.
Estes objectos são da maior importaocia, e para os pro<
mnver e animar lenha V. E\, por certo que d'esta cArte
se Ibe dará todo o auxílio e providencias, que se fizerem '
precisas.
Quanto ao anil, de que V. Ei. enviou dezenove arrobas e
dezoito arraieis, é certo que a sua qualidade é boa ; mas
ainda não vem perfeitamente fabricado; porque traz bastante
terra, e lhe lançam muita cat, que não deiía de Ibe fazer
prejuizo, deserte que para poder servir nas tinturarias man-
dei fazer um engenho, em que todo elle se purifics, e com
este beneficio fica tão bom, como o de Guatiroara ; roas a
despeza que faz, e o que perde no dito baneSoio, não deisa
de ser um objecto iroportente, e tal que a nenburo particular
fará conta a compra do dito género, emquantn as fabricas
d'elle se não aperfeiçoarem no Rio de Janeiro, ao ponto
que possa no mercado concoiTer coro o de Castella, em pre-
ço e qualidade.
Os fabricantes, que desejam a liberdade de o vender a
quem lhes parecer, não sabem o que querem : entendem
que o seu género é Ifio singular, que lhes comprarão per
mais alto preço, que o que presentemente recebem da real
fazenda; e n'isto se enganam grosseiríssima mente; porque,
como O dito género vem ainda com as imperfeições que
acima ficam referidas, e os particulares nem tém, nem
podem ter aquelles engenhos de o purificar, a consequên-
cia será que, ou ha de ficar iavcndavel, ou se comprara por
TOMO XXU, P. I. M
Dictzedby Google
preços (ào ínfimos, que oâo faça coDla alguma aos fabri-
caoles; elhes acontecerá o mesmo qae aconteceu com este
próprio género aos do Pará, Haranbãot: Cabo-Verde. onda
o anil cresce por toda a parte, ainda sem cultura.
Ha annos que no Pará se começou a fabricar este géne-
ro, tendo os habitantes a liberdade de o vender, ou trans-
portar por sua conta, como melhor lhes parecesse: vieram
as primeiras porções á praça de Lisboa, e continuaram de*
pois a vir outras; mas, trazendo as imperfeições que são
inefilaveis nos principios dos estabelecimentos, resultou
d'aqui que não houve qaem olhasse para o aail do Pará.
Mandou-se uma porçáo dVlle ás fabricas de Covítiã, e
os tintureiros d'ellas o reprovaram, como incapaz de al-
gum serviço: o mesmo successo teve o anil do Maranhão
e Cabo-Verde ; de sorte que, depois de se estabelecerem
fabricas do dito género n^aquelias capitanias e ilhas, se
abandonaram toda»; e o mesmo acoDloccría presentemente
ao do Rio de Janeiro.se não se tivesse tomado a prevenção
de o purificar antes de o mandar ás tinturarias.
A' vista d'estas considerações, e dVstes exemplos, se
entendeu aqui que, emquanto n'essa capital se não aper-
feiçoavam as fabricas, de sorte que o género n'cllas fabri-
oado se sasteutasse pela sua bondade, o meio mais próprio
de evitar os referidos inconvenientes, e de promover ao
mesmo tempo a cultura e fabrico do anil; era o d'elle ficar
por uma parte um preço certo, que fizesse conveniência aos
cultivadores e fabricantes: este foi o que se estabeleceu,
em consequência das informações de V. Ex. sobre este
ponto : e de segurar por outra parle aos mesmos as vendas
de todas as quantidades que tivessem ; porque com a cer-
teza do lucro, e com a s<^urança da venda, é certo que os
ditos cultivadores e fabricantes tinham e tém a maior
vantagem que se pôde procurarem qualquer ramo de com-
D,:„t.;cdtv Google
— 337 *
mercio ; priocipalnieiite quaado se trata de estabelecimen-
tos, em que as perdas sempre são certas, e os ganhos muito
duvidosos.
O mesmo que se acba estabelecido a respeito do aail
do Rio de Janeiro se tem mandado estabelecer no Pará,
Maranhão e ilhas do Cabo- Verde, por se entender que esle
é o uDÍco meio de tirar aquellas fabricas da total ruína a
que estão reduzidas.
Se os fabricantes e cultivadores do referido género, porém,
se não quizerem persuadir da sinceridade dVtas razões, e
insistirem pela liberdade das veudas d'elle, V. Ex. me avi-
sará pela primeira occasião, para que fazendo -o presente a
eUrei nosso senhor, determine Sua Magestade se se ba de
permittir esta liberdade, avizando-se ao mesmo tempo i
junta da fazenda, para que so abstenha das compras que
tem ordem de o fazer. Pique V. Ex. porém na certeza, que
se isto acontecer assim dentro de brevíssimo tempo ficará o
anil do Rio de Janeiro reduzido ao nada, em que alé
agora esteve.
Com a coionilha ha de acontecer o mesmo : sobre este
género ainda não ha cousa alguma determinada, nem peb
que respeita ao preço, netn á segurança das vendas: os
que fabricarem o dito género lém por consequência toda
a liberdade de o venderem a quem quizerem, e como
o quizerem: V. £x. observará, porém, que emquanto se
achar assim nãoé possível que prospere, porque, como
é um género que começa a se conUecer entre nós, e a se
preparar, paia tintas, não pode deixar de vir com muitos
defeitos á praça de Lisboa, onde não poderá ter cuncurren-
cia alguma com a coxonilfaa de Castella; e n'este caso todo
oquesetransporlar do Brasil, ou ba de ficar inveodavel,
ou se algum droguisla o comprar ha de ser por preços tão
iitlimo!) que nãu fa^-u conio iilguma ao lavrador e fabricante.
Dictzedby Google
— 318 —
£' preoifo qae V. Ex. capacite bem aos interessados- dos
n-fendus geoeros, que a fazeinla real não quvr negociar «n
8DÍ1, nem em c^iiuailba ; mns quer tão sómenle animar o$
ditos es(abele^m>!n[ns, pelos meios e modos que a razão
e.a ezperíeaeia lAm mostrado serem mais uleis e vantajosos
aos interessados a'eHes .
Pelo que respHÍla á lavoura e criação de gados do Rio-
Grande de S. Pedro, a providencia de se pagar prumpta-
meoteem moeda provincial tudo o que aqueltes povos for-
necem á real fazenda ti o melhor arbilrJo para os SDÍmar
ao trabalho ; e como. presentemente ha de haver maior
consumo, também ha de crescer com a mesma proporção
o dinheiro, e augmeníar-se o gjro, de que resultará aos
ditos povos terem mais faculdades para animarem o seu
oommeccio interior e externo.
Os queijos e manteigas, que V. Ex. teve a bondade de
me remetter, chegaram muito bons, qão obstante a prolon-
gada viagem que trouxeram ; e n'esles dois artigos pouco
ha que ensinar aos que os fabricam; porque para o uso.
commumdos poros de Portugal nâo vAm certamente de
Irlanda e de Uollanda queijos e manteigas melhores, que os
quoV. Ex.me romelteti.
Quanto ao sal, seria preciso que V, Ex. me desse sobre
este artigo mais algumas noções, isto é, que me informasse
dos preços por qunahi se vende; seaquelles districtos estão
bem fornecidos d'este género, e que quanlid:ide pouco
mais ou menos poderão ser necessários por anno ; em-
quanto porém, estas informações não chegam, logo mandar
rei chamar Ignacio Pedro Quintella, para que modere os
preços, e avisarei a V. Ex. do que com el)e ajustar sobre
nsla matéria.
Com grande goGto vi chegarem pelo ultimo uavio, que
entrou n^este porto vindo d'essa capital, perto do quatro
Dictzedby Google
— 3» —
mil arrobas de arroz. Este ^eaero (cmbem é tmporlantis-
simo, e dere eutrar ena o Dumero doa que V. Ex. tem pro-
movido e procurado adiantar com tanto acerto ezelo do
real servi«;o, como em benefício da palría em que nasceu..
DeusRuarde a V. Bi. ralacío de Nussa Senhora da Ajuda
em 21 da Novembro de de 1774. — Murtinho do Mello eCat-
Kv. — Sr. marques do Lavradio.— Está conforme. — Tfio-
max Pinto da Silva.
fllra. e Exm. Sr. — Depois dos differentes avisos e or-
dens, que d'esta c6rte se tèm dir^í^o a V. Ex. desde asque
levaram as datas jle 21 e 22 de Abril do anuo próximo pre-
cedente de 1771» até as ultimas com data de 34 de Janeiro
do presente aano, que foram péla Dáo Nossa Senhora de
fiaUm; accresoe actualmente o mais que vou referir a
V. Ex.
Em Cadix e nos mais portos dos domínios de Castella'
se está preparando um formidável armamento, composto
de nãos e fragitlas de guerra, do brulotes de fogo e de
grande quantidade de navios de transporte; uns destina-
dos a levarem tropas e outros artiiberia e toda a sorte de
petrechts e munições de guerra.
O objecto publico d'este grande armamento é o da
guerra, que el-rei de Marrocos, instigado p^la regência de
Argel, declarou á cArte de Madrid, passando immedíata-
mente a sitiar um dos presiiHos castelhanos na costa de
Africa, defronte doqual seacba em pessoa o dito rei com
seus nibos, commandando um campo que dizem que passa
de sessenta mil mouros.
E^ muito verosímil que as ditas forças castelbanas se
destinem prlnoipalmente a fasar lerai^ar o referido sitio, e
a presorrar de insultos semelhantes os outros presídios
Dictzedby Google
— 3M —
que aqueUa Da(io leni nos domiiiios de Marrocos; mas
também 6 muito provável que, aproveitando-se a cdrie dé
Madrid doesta occasião, tenha meditado contra nós nm dos
eipedieoles seguintes :
Primeiro : o de confundir com o publico armamento
que prepara contra os mouros o particular e occullo, que
pôde ser que ãestine contra os domínios portuguezes ; de
sorte que quando virmos sahir dos portos de Castella uma
.expedição dirigida á costa de Africa vejamos inesperada-
mente outra, demandando o sul do Brasil.
Segundo : que, ainda que a dita cdrte, nSo achando coa-
veniente ou nâo podendo, como é mais natural, dividir as
suas forças, destine presentemeole todas ^s que tem contra
os mouros : é certo que este serviço não pôde ser de tanta
duração que occupe os castelhanos por muito tempo, e
n'esle caso também é muito verosimil que os mesmos cas-
telhanos se lembrem de empregar contra nós as mesmas
forças ou parte d'ellas, logo que as desembaraçarem da
costa de Africa ; de sorte que, ou de um, ou de outro modo,
bem podemos esperar, á visla da situação em que nos acha-
mos com a cArte de Madrid, e das muitas e muito con-
cluilentes provas que temos da sua inveterada duplicidade,
que a tempestade que presentemente ameaça os dominios
de Marrocos venha, mais cedo ou mais tarde, a se fazer
sentir nos dominios merídionaes da America portuguesa.
Para acautelarmos as perniciosas consequências que se
podem seguir do que acima fica referido, o único meio
que a razSo e a experiência mostra, e sempre tem mostrado
ser o mais util e efficaz é o de prevenirmos os nossos
inimigos, e de oppormos á natural indolência, com que
sempre dispõem e executam os seus planos, a actividade
dil^ncia e resolução com que os devemos desconcertar.
N'es(a idéa ordennn Sua Magestade que, sem alguma perda
Dictzedby Google
— 331 —
lie Lempo. se eipedisse a V. Ex. edla eoibarcaç&o de avi&u,
para que, informado do que actualmente acontece na Eu-
ropa, cuidassem em fazer os possíveis esforços para adian-
tar e executar os serviços que lhe foram determinados dos
despachos da secretaria de Estado dos negócios do reino,
de que foi portador o capitão de mar e guerra Boberto
Mak Dual.
Com o mesmo fim ordena igualmente Sua Magestade,
que V. Ex. escreva aos dois governadores e capitSes-gene-
rses, das Minas-geraes e de S. Paulo, para que executem
sem alguma perda de tempo tudo o que Ibes fui determi-
nado nas instrucções com que purtiram d'esta corte, dando
repetidas partes a V. Ex. de tudo o que tiverem feito e
forem obrando.
Queda mesma sorte escreva aos governadores ecapi-
tAes-geoeraes da Babia e de Pernamburo, para que ímmc-
dialameate lhe remetiam as recrutas necessárias para se
compielarem os regimentos d'aqueilas capitanias desitaca-
dos D'essa capital; e os marinheiros e gente de mar, que
devem terpromptos á disposição de V. Ex., cumo também
as provisões de boca que por V. Ex. lhes forem pedidas ;
tudo na conformidade das ordens que Sua Magestade tem
mandado expedir áquelles governos.
Que V. Ex. não perca um só momento de vista o arma-
mento da esquadra que o mesmo senhor mandou estabe-
lecer n'esse porlo ; assim para defensa d'elle, como para
todo o mais serviço a que fôr preciso destínal-o ; e que a
importantíssima ilha de Santa Catharina faça um dos prin-
cipaes objectos do seu cuidado e vigilância.
Que, emquanto V. Ex. applicar todo o seu zelo e activi-
dade a estes grandes objectos, escreva ao general Bohm
fazendo-lhe conhecer a indispensável necessidade em que
B05 achamos de prevenir os nossos inveterados inimigos,
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occupaodo ÍDUnediatameDle a marseio maridional do.Rki-
Grande 4e S. Pedro ; 6 Isoçando-oS' fora não sá (]'aqueUe
itnporUiiitissimo sitio, mas de todos os postos avanrados
que estivereiu nas circu[i»taDci«s d'elle; furiificaado com
facbiaa e reductos os que lhe parer«reiii mais defensaveib
e melhor situados, e [«'ocurando, pelos bmíos e modos que
lhe pare':erem mais convenientes, fazer passar para o nosso
campo e domínios as boiadas, rezes e Iodas as provisões
que se acharem nas terras occupadas pelos castelhanos.
Que, sendo muito conforme á vaidadee altivez d'aqu^a
soberba nação que com a primeira noticia dos nossos mo-
vimentos, acuda com força que tiver para se oppõr a elles,
sem esperar as que ainda lhe podem ir da Europa na forma
acima indir^da.
N^estQ caso, ou em outro qualquer, em que os mesmos
castelhanos se possam encontrar, deve o dito general ter
tomado snticlpadamente todas as su;)s medidas para os
atacar, efazer os possíveis esfurços pelos destruir; lendo a
certeza de que lhe será Ião fácil tirar grandes vantagens
das forças que elles têm presentemente no Rio da Prata,
como lhe será custoso v difícil defender-se d'ellas, logo
que se lhes ajuntarem as que ainda Ibes podem ir da Eur-
ropa.
E se a Providencia Divina abençoar as nassas araqas,
como o devemos esperar da justiça da nossa causa, um
golpe de mão e decisivo, bastará para desconcertarmos
todos os projectos que a cArle de Madrid lenha formado
contra nós.
Devo lembrar a V. Ex. os grandes inconvenientes,
que podem resultar ao serviço de Sua Mageslade de se
achar esta cArte ba tantos mezes sem noticias d'essa capir*
tania ; sendo 03 últimos despachos de V. £x. que. aqui
se receberam os que trouxeram ae datas do mez da Julho
Dictzedby Google
— M8 -
do anno proitmo precedente ãe ITYi, e que nas criâcas
circamstancias em quo se acham esses domínios é pre-
ciso que V. Ex., servindo-se aão só dos navios mercantes
da pr&Qa da Lisboa, mas das coivetas que ahí fazem o com-
meroio de porto a porto, informe a Sua Magestade, com a
possível frequência e detalbe, de tudo o que se ' passar
D^essa capital e nos mais districtos do' sua depeadencia.
Deus guarde a T. Et. Salvaterra de Magos, em 6 de
Abril de 1775. — JfurttnAo de Xlrlln e Castm.—^r. mar-
quez do Lavradio.
lUm. e Bxm, Sr. — 1. Teuho recebido e teito presen-
tes a el-rei meu senhor as cartas de V. Rx., que trouxe-
ram as datas seguintes :
9. Uma de 6 de I)<'zembro proiimo precedente, em que
rieram inclusas as i.i.trucções, com que V. Ei. expediu
para as fronteiras dn ^nl o general João Henrique de Bohm :
sei» na data de 10: dua? na de 13: uma na de 16: uma
na de 23 : e outra na de 27 do referido mez.
3. E aproveitando a occasíSo d'um navio, queeslá pró-
ximo a partir para a Bahia, responderei agora a V. Ex.
sobre os pontos conteúdos nas referidas cartas, que fazem
mais precisos objectos das resoluç5es do dito senhor,
c das fH-evencdes de V. Ex.
4. Antes de tudo ratifico a V. Ei. as ultimas ordens de
Suã Magestade, quo pelo Sr. Martinho de Mello e Castro,
e por mim, lhe foram expedidas nos dias rinco e seis
de Abril próximo precedente, remettendo-lhe as segundas
vias d'ell3S, para assim precaver qualquer possível acci-
denle, o accrescentando o mais que p.isso a referir-lhe.
■a. Depois d'squelia data soubemos cum certeza : que o
armamento do Ferrol e dp Cadix se descobriu que era geral
TOMO xxxi, p. I. 43
Dictzedby Google
— 334 ~
em todos os portos do cootíaeDte de Hespanhs ; qua con-
stiluia uma forçji muito mais considerável, do que aquellas
que até agora couberam nas faculdades e providencias da
c6rte de Madrid; que esta tem meditado a conquista da
ilha de Santa Catharioa, e de todo o sul do Brasil ; que
com este intento hão do apparocer os castelhanos n'essas
costas com um estrepitoso apparato de forças, e dos ralhos
e ameaças que são do seu costume-, c que a isto os têm
animado a frialdade e inacção, em que até agora viram os
inglezes, nossos sempre tardios alliados.
6. Requerendo, pois, esles supervenientes factos que a
mudança d'eiles faça outra respectiva e necessária alte-
ração DO nosso antecedente plano estabelecido em dilTe-
, rentes circuinslanciss : manda Sua Mageslade ordenar a
V. Ex. em conformidade d'ellas o seguinte :
7. Emquanto a união dos inglezes comnosco se não ma-
nifestar, como não pôde deixar de vir a succeder, quer
o dito senhor que V. Ex. se reduza aos termos das refe«
ridas duas inslrucções, que por esta ratifico em tudo e
por tudo : conservando-se V. Ex. na manutenção do porto
e ilha de Santa Catharina, e das entradas e fronteiras da
foz do Rio-Grande de S. Pedro e do RÍo-Pardo ; preoccu-
pando as tropas de Sua Mageslade postos inaccessivois e
desfiladeiros custosos ; fortiQcaado-se D'elles com redu-
ctos e obras de fnchina ; disputando-os aos inimigos :
retiraado-se d'uns a outros dos ditos postos nos casos.em
que forem a isso forçados por forças superiores á sua resis-
tência; embaraç-ando e detendo assim os progressos aos
mesmos inimigos, até que as deserções e as faKas de man-
timentos e forragens os façam reb-ogradar ; fazendo-os com
os mesmos âns inquietar nas suas marchas pelas tropas
ligeiras, e partidos de paulistas e sertanejos, que lhes
aprezom os comhois de maniimenlos, e lh(>!: destriinm
Dictzedby Google
— i;a6 —
e osterilisem as terras, a que se dirigirem, aiitei» de che-
garem a ellas; atacando e destruindo as suas partidas
avançadas, e destacamentos que acharem separados do
corpo dú seu exercito, quando virem que o podem fazer
com toda a provável segurança ; e praticando emfim lodos
os estratagemas d'uma guerra, que só tem por objecto
dilatar os inimigos até que em marchas, em contra-marchas
e em pequenos choques sejam arruinados ; como bem pra-
ticou o marechal Bathiani em Bohemia na guerra que
se Bcceadeu depois da morte do imperador Carlos VI ; en-
ganando, c entretendo, com quatorze mil homens somente
(ao favor das montanhas d'aquelle reino], todos os grandes
exércitos de França, Prússia, Saxonia e Baviera, sem nunca
poderem atacal-o, nem medir-se com elle.
8. Sendo que o nosso caso é muito diverso d'aquelle
era que esteve o dito general, porque elle contendia com
poucos contra muitos de forças incomparavelmente supe-
riores, quando nós contrariamente nos achamos com todas
as forças, que Sua Magestade mandou egora reduzir para
o seu cabal conhecimento no resumo especifico, que acom-
panhará esta carta; e quando não cabe na credulidade
prudente, que os castelhanos possam transportar forças
de terra que igualem as nossas a esse continente : consí-
derando-se por uma parte, que todo o grande transporte
de tropas de Inglaterra, que sitiou e rendeu a ilha de
Martinica, e a prat^a de Havana com o seu morro (chamada
ÍDV(HiGÍvel), se reduziu o dez mil homens ; e consido-
raodo-se, pela outra parte, queos ceslelhanos, além de não
terem um tão grande numero de navios mercantes, que
possam fazer o numero dos cento e sessenta transportes
que então partiram da Gram-Bretanha, costumam supprir
estos faltas com ostentações fantásticas para incutir medo
a quem os não coiiheno. Dicl», porém, Ioda a po)tti<'a que.
DictizedbyGoOJ^IC
— 388 —
eii|i{u*Bto otUi podermos obrar oireosívanaente coDtra aUes
com aassUteDcit dos nossos alliad"-, (tos cootenhUDOs
cm susleatar vigoiosissimameote o ^je possiáimos ; e era
os mortificai ti reprimir a alies de sorte, que quan<lo
vierem a ter o deseagaiio de que dos não podem coa-
quislar se achem destruídos.
9. Â referida idáa de manuleação o conseivaçío se nâo
pôde, oem deve estepder í pmça de Colooia. Aote» pelo
coDlrario, conhecendo Sua Hsgestade, que é cbimerií^a e
impossiyel a idéa de coaservarmos forças navaes no fiío
da Prata, e mantermos a dita praça de Colooia it'aquelU
distancia, quando n't)lle e no território d'eU« Ifim boje o»
áiUfs castelhanos o centro d« união de Iodas as suas foiças ;
e quando pelo coatcario se acha alli a maioi debilidade das
nossas foiças do Brasil ; quer o dito senhor que V. £x.
com estas justas causas faça logo executar o que lhe tou
agora a referir.
' 10. Por ama paite mandará V. Ex. r«tirar immediala-
mente quaesquer náos ou fragatas que se achem no sobie-
dito rio, antes de serom D'elle soiprendldas e apreadas
pela fastosa expedição cestelhana, que, ou tem partido, ou
está para partir de Cadix : e pela outra parte faça V. Gx. tran-
sportar a essa cidade o regimenii ili çii.iiaiçto â'aqueUa
praça; tomando pata isso 9 pretexto <> que se vai disci-
plinar, e recrutar ao Rio de Janeiro, c.onie se espera sllí
a toda hora outro regimento mus cotipieto e bem disci-
plinado ; e fazendo-se transpirar, e crur ao mesmo tempo,
que com o motivo do referido transporte é que sabem do
Rio da Prata as cmbarcarões de guerra portugudzas que
n'elle estiverem.
11. Pata isto se praticur melhor escreverá V. Ex. ao
governador da referida praça uma carta, ou ordem osten-
siva, que elie faça registrar na secretaria do seu governo :
Dictzedby Google
tomando V. £x. ii'ella os pretextes que acabo da indicar
acima; e ordeaaado-lhe que comos motivos â'enes faça
logft iraBsporlar o dito r^imento a essa capital oas embar-
cações de guerra, ou commercio, que allt achar mais piom-
ptas; e que^ eroquBDto uão chegar outro regimento mais
complalo e bem disciplinado, que irá logo substituir o
referido, mande fazer as guardas ordinárias pelos auxi-
liares e ordenanças da sua jurisdiccâo, que seiio os que
bastem; porque, s^nndo as ultimas noticias qne recebeu-
da teciproca e estreita amizade, que se está cultivando enlre
as Magestades Fidelíssima e Catbolica, espera que bce-
vemenfe chegarão as ordens para cessarem n'essas parles
Iodas as dissençóes entre os dois respectivos governos
confinantes.
12. 0'esta sorte salvaremos as ditas embarcações de
guerra e o dito regimento com dissimulação decorosa :
fazendo crer aos castelhanos, que o nosso fim é reformar
a guarnição da referida praça, sem termos pMcebido que
eUes esperam as sobreditas forças superiores á nossa resis'
teacia pva a atacarem.
13. Ao mesmo tempo deve V, Ex. fazer passar ao 'dito
governador outra secretissima carta, na qual lhe signifique
em substancia : qw no caso de ser atacado (como natural-
mente o será desde que os castelhanos virem desamparada
a r^erída praça da tropa regular) deve mostrar~}hes que se
quer defender ; e deve praticar aquella povca defesa que
a tua posiibilidade lhe puder permittir ; que, porém, logo
que lhe propuzerera qualquer capitulação^ a deve aeeitta-, e
render a mesma praça, cedendo á maior força, e protes-
tando pela violeneia, que se lhe faz, no mesmo tempo em
que o ultimo tratado de dez de Fevereiro de mil setecentos
tetsenta e tre$ seacha em seu vigor ; e em que sabe de certo
que eutre as duas eártts se eslão praticwndo os ofjicios da
Digitzedby Google
estreita amixade, que /itzem luUwràl ot apertadoí oincttla»
(lo $eu próximo parentesco ; qae precavendo este caso, e o
de lhe não permittir quaiqwr invasão, ou obstinação dos
castelhanoi, que elle retire os papeia do governo, em que se
contiverem as minutai e registros das correspondências do
mesmo governo com o do Rio de Janeiro, e com esta cárie,
os deve recolher logo immediatamente ao seu gaiinete com
a maior dissimulação; e os deve n'elle faser qtieitnar com
a maior catttcla, para não virem a cahir nas mãos dos
ditos casttíhinas ; e que finalmente, logo que receber esla
carta secrelitsima, a queime lambem immediatamente;
conservando só no sua lembrdnça o conteúdo n'eUa para
execulal-o; porque o registro <fella, que fica na secretaria
do governo do Rio de Janeiro, lhe servirá em todo o tempo,
e em todo o caso, de titulo para a sua píínaria justificação ;
fazendo ver qmentregovi a referida praça por ordem, tem a
menor somara de negligencia sua.
li Em uma das suas ditas cartas de dez de Dezembro,
cujo principio é — pelas reaes ordens de el-rei meu senhor — ,
se viu o motivo com que António Carlos Furtado de Men-
doaça ficava nas Minas impedido para passar á importante
ilha de Santa Catbariaa ; e este impedimento nos teria
dado grande cuidado se não houvesse já cessado por uma
parte com a chegada da náo Nossa Senhora da Ajuda, que
levou as ordens de dezenove de Setembro do aono pró-
ximo passado, para se levantar a homenagem ao dito Antó-
nio Carlos Furtado ; o pela outra parte, com a chegada de
D. António de floronha o de MarUra Lopes Lobo de Sal-
danha, com os despachos e instrucções expedidas na data
de vinte e quatro de Janeiro doeste presente anuo, que já
terio sido notórias a V. Ex.
15. Vm conhet;obem,queabondadeehonra do actual go-
vernador da illia de Santa Calharina nffo basta para que clle
D,:„l,;cdtv Google
— S39 —
i^m alguns (alentos militares possa reger aquelle governo em
uma conjunclura tão critica. E n^esta consideração é Sua
Magestade servido que elle se recolha a essa capital, hon-
rado com a patente de coronel, |)ara ter o exercJoio que
pelo dito senhor lhe iòr determinado; e que V. Ex. no-
meie para o dito governo aquelle official que lhe parecer
mais próprio da occasião, levando o referido posto de co-
ronel, ao qual se lhe passará aqui logo a patente sobre a
nomeação em que V. Ex. exprima que o proveu por or-
dem especial, que para isto tevo do dito senhor. Se elle
puder levar comsigo mais alguns officiaes, nada será dema-
siado em uma semelhante occasião, em que se sabe que os
castelhanos t£na a referida ilha por primeiro objecto da sua
expedição, para nos cortar a correspondência, entre essa
capital e ottio-Grande de S. Pedro, e territórios a elle
adjacentes.
16. Esta consideração faz necessário reforçarmos a en-
trada do porto d'aquella ilha ea praça d^ella quanto pos-
sível fõr. Enfesta certeza deve a mesma ilha ser logo soc-
corrida oom mais um regimento aos da guamiçáo d^essa
cidade, o qual sejn também promplamente subsiituido pelo
que vier da praça da Colónia, porque este será logo ahi dis-
ciplinado por V. Ex., cuidandoemlhe mandarunir as re-
crutas que o façam completo ; e tendo por certo que para os
outros regimentos iremos d^aqui continuando em lhe man-
dar das ilhas toda quanta gente couber na possibilidade
dos navios de commercio, porque levam d'aqui particu-
lares ordens para irem tocar áquelles portos.
17. As duzentas e sessenta e uma recrutas que faltam no
regimento do Porto, transportado de Angra, so acham já
proroptas a partir, esperando que alli cheguem os navios
de commercio que devem transportal-as.
18. Para completar os outros tre« regimflntoí da Europa
Dictzedby Google
— 340 —
deslacados do Rio de Jane iro, além das mil e duaenlas ro-
crutas que já têm ido das ilhas da Madeira e Açôies,
irá V. Ex. também recebendo outras recrutas na sobredila
fórma.
19. O regiraeato da ilha de Santa Calharina, se entende
aqui aflbar-sc completo, visto que V. Ex. nAo avisou qoe .
houvesse falta n'elle ; e os trezentos e tantos bomeos, que
faltam no da Colónia, se entende lambem que serão logo
recrutados, visto que no Rio de Janeiro e Minas-Geraes,
que dão recrutas para estes dois regímealos, ha supera-
bundante numero de gente para os recrutar.
30. Quanto aos dois regimentos da Babia que foram
incompletos, já V. Ex. avisou qae o governo interino dV
quells capitania lhe tinha mandado successivns expediçSes
de gente para os completar ; e ao governador Manoel da
Cunha de Menezes se ordena que continue em expedir ro*
crutas de melhor qualidade do que havia mandado o ouvi-
dor geral.
21. Pelo que pertence aos trezentos e tantos homens
que faltavam no regimento de Pernambuco, também sou-
hemos logo que o governador José Cezar de Menezes
tínba já remetlido cento o noventa e tantos recrutas, e que
nota a chegada do fardamento que d^aqui se lhe remelteu
mandaria logo as que tinha promplas para fazer completas
as praças do dito regimento.
22. Os outros cento e trinta e dois homens que faltavam
na tropu do Rio-Grande de S. I'edro tem Sua Hagestade
por certo que estarão já suppridos, constituindo um ou-
inero tão insignificante a respeito dos territórios d'aqiielle
continente.
-2Z, Em arlilheria, pólvora e munições de guerra se
viu agora que ahi não faltavam os competentes provimwi-
(ns; e que !:6 pelo que pertenre it ribairn Hi9 náns<^qiie
Dictzedby Google
- 341 -
Mum fflgúmas escotas e cabos, qne se it56 li^o imnaeilta-
(amenle remelteado por navios de commercio que parti-
rem para a Babía e Rio de Jaoeiro ; por ell6s se accrescen-
(arão mais as remessas d'aquelles foraecimentos naraes.
24. Além dás mil eduzeotas espingardas, que vão des-
tinadas á tropa liiteira de S. Paulo, receberá V. Ex. breve-
mente mais duas mil, para o serviço das tropas regulares
quQ as necessitarem : e com ellas irão lambem mais
álguós próvihienlos de pólvora e das outras ' munições de
guerra que as coraraodidades dos transportes nos forem
permittindo.
' 25. Sobre o rererido se considerou agora que pelas ins-
trucçõese ordens de vinte e quatro de Janeiro próximo
passado, que foram peia náo Nossa Senhora de Belém, di-
rigidas'a V. Ex., ao governador de S. Paulo Martím Lopes
Lobo de Saldanba, e ao governador des Minas D. António
dê Nomnlia, para entre todas estas três capitanias se esta-
belecer uma causa commum e união de forças, flcou essa
dapital e a riba de Sanla Catbarína e Riõ-Grande de S. Pe-
dro armados de dm poder próprio e natural, que não será
fácil que com expedições mandadas da Europa se possa
irconibater alão remotas distanciasse ós correnlinos do
Rio da Praia e os Índios das missões são laése tão insi-
gnificantes como ahi se sabe, ecomo pelas ultimas expe-
riências das suas invasões do anno próximo precedente se
tem. manifestado!
26. Sempre comtudo manda Sua Magestadeaccrescenlar
dinda a esta carta as três reUexões seguintes.
■ il. Primeira rellexào. Os castelhanos conbecem per-
feitamente que, não tendo um porto na costa que jnz desde
ocabodeSanfa Maria, até o Rio-Grande' de S.Pedro, e
vendo que pebs marcfias do continente, chegaram a nós
tarde e muito enfraquecidos. I6m feito a conquista da ilha
TOMO XXXI, P. I. 44
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de Saoia Calbarioa o seu primeiro objecio, paxá D'eUa-se
estabelecerem, e d^elU íazerem 8S expedições das suas tro-
pas : em cuja certeza, maoda o mesmo senhor avisar a
V, Ex., que auDca poderá acautelar demasiadameote a
defesa da referida ilha, para V. Ex. p6r a'ella todo o
maior esforço, não só de tropas r^ulares, de arlilheria e
de bons artilheiros, e boas officiaes que a governem, mas
também armando todos os paisanos da mesma ilha, quanto
possÍTel fôr, e fazendo-os exercitar em atirar ao alvo, e em
obrarem unidos.
28. Segunda reflexão. Devendo os ditos castelhanos
principiar as suas operações pelos ataques da referida ilha
e do Río-Grande de S. Pedro; devendo empregar n'elles
todas as suas forças, e não podendo sorvir-se pela via de
terra, das que tiverem no Rio da Prata sem penosas e dila-
tadas marchas, que nos dê muito tempo para sermos d'ellas
informados, e para nos prevenirmos dentro no continente,
deva V. El. fazer unir na referida ilha de Santa Calhariny,
e no referido Rio-Grande de S. Pedro, todas as forças do
exercito do dito senhor, para resistirem ao primeiro Ímpeto
dos ditos castelhanos; porque, se na resistência d'elles lhes
quebrarmos as forças, ficarão logo desanima-los para mais
nio fdZMem cousa que boa seja, como se viu no auno de
1762 succeder n'este reino.
29. Terceira reflexão. Lembrando-se o dito senhor do
terror pânico que os exércitos de França conceberam na
guerra da Bohemia ios Panduros, que na realidade náo
eram outra cousa mais do que uns bussares vestidos ex-
traordinariamente, e de modo que pareciam barbarose sel-
vagens; lembrando-se o mesmo senhor do medo que na
ultima guerra do anuo de 1762 ^ifraro aos bespanhóes
os paisanos das nossas províncias de Trãs-os-Montes e da
Beira ; e constando-lhe que aos mesmos bespanhóes euro-
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— 343 -
p£os causam outro grande terror pânico os d^os, de
sorte qae na occaiiiSo em que fugiram de Villa-Real, da-
nm por motivo da sua fugida que vinha contra elle» mar-
cbaado um grande numero de negros : manda transportar
de Pernambuco vm batathJo de 600 homens do regimento
dos pretos, chamado de Henrique Dias, e outro dos par-
dos d'aquelle paiz, para servirem, ou na dita ilha de Santa
Catharina, ou no dilo Hio-Grando duS. Pedro, onde V. Es.
achar qne podem ser mais úteis ; fatendo-os fornecer de
munições de boca e dtí guerra emquanto alli (orem preci-
sos, e concedendo- Ibes para entre si repartirem todas as
[ffesas que fizerem sobre os inimigos.
30. E Sua Magestade manda prevenir a V. Ex. quo os
referidos [uvtos e pardos são descendentes de dois herúes
tão grandes como foram, o preto Henrique Dias e o pardo
I>. Aalonio Filippe Camarão, os quaes á testa da genle de
saas respectivas cdres, que uuiram em corpos, lançaram
os hollandezes (quando foram mais bellicosos) fora de Per-
nambuco; restituindo aquelte importante Estado ao domi-
nio do senhor rei D. João IV. Sua Magestade por esta me-
moria estima tanto aquelles vassatlos pretos e pardos, que
no anno prosimo passado despachou com o habito de
S. Tbiago o mestre de campo de um dos segundoa d^elles :
manda tratar o^esla cArte os oíBciaes d'elles como os das ou-
tras tropas sem diCTerença alguma ; roandando-os V. Ex. ahi
tratar da mesma sorte; não permittindo que osdespresem,
obrarão maravilhas contra os castelhanos.
Deus guarde a V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da
Ajuda, em 9 de Maio de 1775. — Marquez de Pontal.
—Sr. marquez do Lavradio.
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Resumo das forças que se acham ho Rio de Janeiro, e nos
districtos de sua dependência, soecorros e outras provi-
dencias, com que Sila Magestade tem mandado assistir
d dita capitania .
IPjKAISTARIA
Uois regimeatos da guarolção do Rio de Janeiro, cada
ura de praças 821.
Um regimeoto de artilhem da mesma guarnição de 752
em que entram três aggregados.
N. B. — Das relações do marquez do Lavradio, TÍce-reÍ e
Mpílão-general do Estado do Brasil, e do msppa feito no
Rio de Janeiro em Dezembro, de 1774 consta que estes
três corpos se acham completos.
Três regimentos da Europa destacados no Rio de Jaoeiro
cada um de praças 821.
■ N. B. — Para se recrutarem estes três regímeutos, foram
de Lisboa e da ilha da Madeira homens S51, dos quaes
ficaram no Rio de Janeiro perto de 400.
Mais da ilha da Madeira e das ilhas dos Açores, 800.
Um regimento do Porto que se achava destacado na itha
Terceira, 821.
N. B. — Faltavam a este regimento 261 recrutas, as quaes
se acham promplas na dita ilha, e um pequeno resto das
precedentes, que só esperam embarcação que as transpwle
ao Rio de Janeiro.
Dois regimentos, um de Santa Calharína, outro da Co-
lónia, 1642.
IV. B. — O regimento de Santa Catharina deve estar com-
pleto, visto não fallar n'elle o marquez vice-rei : o da Co-
íonia, faltam-lhc 300 c Mntos homens : um c outro, porém.
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- 3i5 —
devendo recru(ar-se das capitanias do Rio de Janeiro, e de
Minas-Geraes, Q^ellas h« superabuadante numero de
geole para oscoEQpletar.
Dois regiiQpntos da Bahia, 1642.
N. B.— Os ditos dois regimentos lambem foram incom-
plelos; mas da Bahia, onde ba muitos milhares de habitan-
tes, se mandava successivamenle gente para completar os
ditos corpos ; e presentemente se escreve ao governador
d'aquella capitania, para que remetta as melhores recrutas.
Um regimento de Pernambuco, 8ãl.
N. B. — Este regimento lambem foi incompleto, faltando-
lhe trezentos e tantos homens; mas o governador de Per-
nambuco já tinha remettido 190 e lautas recrutas ; e por
não mandar as que faltavam descalças equasi nuas espe-
rava o fardamento, que já se lhe remetleu, para mandar as
que faltavam para completar o dito regimento.
Cinco companhias de artilbería da Europa de 60 homens
cada uma, não contando os officiaes.
Quatro companhias de artilbería, e qoatro de infantaria
ligeira, tudo do Rio-Grande de S. Pediv, a 60 homens cada
uma.
Infantaria earlilheria, 10,56!>.
Duas companhias da guarda do vice-rei, de 50 homens
cada uma.
Um regimento do iiOO dragões.
Um regimento de cavallaría auxiliar, 500.
Toda a cavallaria, 1,100.
?(. B.— O marquez do Lavradio diz que a tropa 4o Rio-
Grande, tbe faltam 132 homens; esta falta, porém, é tão
insignificanlc que não pude deitar de estar remediada: do
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— 3Mi —
que se s^ne, que logo qnO chegarem as recnitas que se
aebam prontptas na ilfaa Terceira, e as que se irão remel»
tendo da Bahia e Pernambuco, lemomarquez vice^rei, de
tropas efrectivas de infsDlaria e cavallaría, 11,66S ho-
mens.
Além das tropas acima indicadas, se mandou formar em
8. Paulo um regimento de infantaria sobre o pé dos de Por-
tugal, composto de 821 homens.
Uma legião de tropa ligeira, composta de sertanejos o
r-açadores, contendo:
Infantaria, 1,200 homens.
CaTaJlaria, 400.
Infantariae tropa ligeira, 3,431. .
A náo Santo António, de 64 peças.
A náo Ajuda, de 64 peças.
A náo Belém, de 50 peças,
A fragata Graça, de 40 peças.
.V fragata Nasareth, de 40 peças.
A fragata Assumpção, de 30 peças.
O navio Princeza do Brasil, de 32 peças.
O navio Príncipe do Brasil, de 28 peças.
O galeão iVossa Senhora da Gloria, de 26 peças.
O navio da ilha de Fernando, de 24 peças.
Soramn 398 peças
As nãos e fragatas de guerra levarão todas as suas equi-
pagens, pólvora e todos os mais provimentos necessário^
de boca e de guerra, segundo as suns diíTeronles lotações.
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— :H7. —
CÓPU DE um PAttAGRAPHOS DE UHA CARTA IM ll.LM. E ElM.
SR. MARQDEZ DE POMBAL DE 31 DE JULHO DE 1776, DIHIGIDA
AO ILLH. E EXH. SR. MARQUEZ VICE-REI, QVE COhTEH AS
ORDENS SEGUINTES PaRA EU EXECUTAH.
Orduno V. Ex. ao general ioâo Henriques de Bobm que
á testa das Iropas sigaiGque ao brigadeiro José Raymiindo
Cbícborro da tiama Lobo, ao coronel Sebastião Xavier
da Veiga Cabral, e aos sargenlos-móres ManorI Soares
Coimbra e José Manoel Carneiro, que a Sua Magestade
foram presentes o amor do real serviço e a valorosa con-
stância e presença de espirito com que se dislíiiguiram
nas acções <l'aquelle feliz dia ; o que Sua Magestade em
sigoal da satisfação que d'elles tem faz ao primeiro merc^
do posto de marccbat de campo dos seus eiercílos, ao
segando do posto de brigadeiro, e ao terceiro e quarto de
lenentes-coroneis.
Postos dos quaes principiarão todos a exercitar e a
vencer da mesma hora em que forem declarados por taes
á testa das Iropas na sobredita forma, o que se entenderá
conservando os mesmos marecbal de campo e brigadeiro
os seus respectivos r^imentos, a que tém dado uma tão
louvável disciplina.
Respectivamente louvará V. Ex. os outros officiaes que
se houverem H islinguido, cujos Domes não constaraDi aqui
até agora, para o mesmo senhor os attender segundo o me-
recimentu que tiverem lido. k valorosa obediência e prom-
ptissima resignação com que osai^ento-már Rapliael Pinto
Bandeira {oÍ atacar com quatrocentos cavallos sem outra
forragem que capim, e sem iofantaria ou artilheria alguma
de bater uma fortaleza de cinco baluartes, guarneciât com
duzentos e ciocoenta bomens, e provida com mantimento
d« guerra e boca, para se defender, e constante espírito de
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- ÍW ^
Çrmea» com que se su^tentOM diaDte^Mlapot.Yinle e sete
dias, faltandu-Ihe todo o mantim^Dto, de sorte iju,e .diegou a
set reduzido a extrema necessidade de se sustentar a si e aos
seus subalternos com raizes e hervas do campo, emquaoto se
lhe D&o rendou a dita fortaleza, e não fez sahir d'ella no dia
26 de Março o governador e guarnição hespanhoU. Foram
bctos que não poderam deiíar de accrescenlar muitos qui-
lates na consideração de Sua Magostade ao grande con-
ceito que já tinha dos distinctos raerecímentos do mesmo
digno offioial ; e, querendo o mesmo senhor dqr-lhe alguns
signaes sensiveis da sua real benevolência, ha, por bem
croal-o coronel de uma legião ligeira, privativa e eiclu-
sivamente composta de aventureiros do Rio-^randa de
S. Pedro, Viamão, Rio-Pardo, e dos outros territórios que
jazem ao :iul até o Rio da Prate, e a occideute até d'onde
chegarem os fieis do nosso continente.
No mesmo tempo houve Sua Magestade outrosim por
bem fazer mercê ao dito Raphaol Pinto Bandeira do habito
da ordem de Chrísto com duzentos mil réis de (eoça, não
obstante o posto de sargento-mór que occupa, e sem exem-
plo, porque também o não tem, o que elle obrou no serviço
de Sua Magestade, atacando a fortaleza de Santa Tecla nas
circumstancias acima referidas. — Conforme, Bohm.
Ulm. e Ex. Sr. — Sua Magestade é sorvida que, man-
dando V. Ex. vir á sua presença o coronel de mar Roberto
Mack Douall, lhe intime que a mesma senhora o ha por
escuso do commaodamento da esquadra, de que era chefe,
e que como simples particular, e sem commandameoto
algum, se possa embarcar no porto d'ess3 cidade, em qual-
quer embarcação de guerra ou mercante, que bem lhe pa-
recer, para ser transportado n'e)la.
A niesma senhora ordena igualmente, que, mandando
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— 849 —
V. Ex. ítzei uoiaoollecçio e rCBnmo de todis as ordens
s iostmoções. assim dirigidas d'«sta cdrte^ como dadas por
V. Ex. ao sotmdito coronal de mar, para os difieientes
serriços de que foi encarregado, parlicalarmente para a '
defensa do porto de Santa Catheriba; e juntando-Ibe os
documentos por onde se mostre a execução que eUe deu is
ditas ordens e iostrucções, ou a desobedieocia e ano*-
ganoia oom que as ílludiu, se forme de tudo um corpo do
delicto, e se proceda immediatamente a um sumniario de
testemunhas, pelo qual authenticamente conste do com-
portamento do sobredito officíal : cujo summario remet-
teri T. Ex. a esta secretaria d'Eslado no. mesmo tempo
em que o referido coronel sabir d'esse porto.
Da mesma sorte ordena Sua Magsstade que sem perda
de tempo mande V. Ex. processar e sentenciar o gover-
nador que foi da ilha de Santa Catharíoa, António Carios
Furtado, e os mais ofiiciaes que com elle se achavam
na infelÍE entrega da mesma ilha ; e que a sentença seja
immediatamente remettida por esta secretaria d'Estado á
real presença da rainha nossa senhora, para Soa Magestade
determinar a respeito d'el)a o que fôr servida.
Deus guarde a V. Ex. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda,
em 22 de Dezembro de 1777. — Martinho de JfeUo e
Castro. — Sr. raarquez do Lavradio.
TOMO xm, *■ 1-
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DA RUAÇlO DA CONQUISTA OE COLÓNIA, PELO DR. V. PEDRO PE-
REIRA FERNAROBS DE MESQUITA, ESCRIPTA EK BOENOS-AYKES
SH 1778.
Conquistada a ilha de Sanla Calharioa pelo general
D. Pedro Cevallos sem que lhe custasse maior desvelo que o
appafecer avista d'olla com a sua armada, deixando ficar
n'aquelle porto alguns navios, e a guarDÍ(;âo que julgou
necessária para a conservar, sabiu com o resto da armada
a demandar a barra do Rio-Grande, para proseguir por
aquella parte a conquista; mas, como encontrasse grandes
temporaes n'aquella costa tomou o rumo do Kio da Prata,
e fundeou em Montevideo, onde fez desembarcar e refres-
car por algum tempo a sua tropa ; e depois de fazer as pre-
parações necessárias foi dar vista da Colónia em 22 de Maio
de 1777 com &8 embarcações, fundeando na costa do sul,
.fora de tiro de canbâo da praça, e alli foi o desembarque da
tropa, arlilheria e munições, formando o seu campo junto
á mesma praia, constando as suas forças de oito mil ho-
mens pouco mais ou menos, entru as tropas que trazia da
Europa e as que se haviam levantado do paiz.
Achava-se por governador da Colónia o corone] Francisco
José da Rocha, homem de grande inlelligencia da milicia,
e certamente digno de melhor sorte. Muito antes que che-
gasse a armada, e logo que leve o aviso da capital que ella
se preparava na Europa para passar a estas partes, cuidou
em põr a praça em termos de defesa, não perdoando a dili-
gencia nem trabalho algum. De Buenos^Ayres era avisado
das preparações que se faziam n'aquellas partes e da certeza
da vinda da armada hespanhola; de tudo fez avisos para a
capital, para assim ser soccorrido, pois considerava- se ine-
vitável a perdição da praça, nâo só por se acharcom pouca
guarniçiio, mas muito principalmente pelas faltas que havia
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- 35Í —
muito tempo eiperimentado de mantimentos, e lerem-nos
os castelhanos fechado todos os portos por onde nos podia
ealraralguma cousa, por nos tiaveiem cercado também por
mar. Porém foi tal a infelicidade, que assim os avisos que
expedia ds Colónia, como os navios que se mandavam 48
capital com soccorro de mantimentos, todos foram aprisio-
nados, e entre os avisos que o governador fazia apanhou
Cevailos um, em que o governador avisava á capital que o
mantimento que havia na praça escassamente chegaria a
municionar a tropa até o dia 20 de Maio; e com esta certeza
sahiu Cevailos de Montevideo no dia 18, bem persuadido
que, exhaustos os mantimentos, nâoseria possível que a pra-
ça Ihepodesse resistir, ainda que as suas defesas fossem
grandes e a guarnição mais numerosa, quanto mais cons-
tando esta somente de soldados pagos e cento e (antos pai-
sanos.
Toda esta tropa eslava mais bem eiercitada, e com ani-
mo e disposição para a defesa : porém, como a falta de sus-
tento cada dia se augmeutava, determinou o governador
render a praça, antes que os seus defensores e habitadores
perecessem é forno, anies que o inimigo rompesse o fogo,
julgando que maior serviço faria ao rei em salvar os bens
e as vidas d'aqueUes vassallos, que em outra occasião o po-
diam servircom utilidade, do quesacrificartudo som espe-
rança de vencimento, e ser irremediável o render-se
quando o não fosse ás forças do inimigo, ao inexorável golpe
de fome, e talvez poderia assim tirar do inimigo algumas
condições mais vantajosas.
Convocou duas vezes a conselho os oflicines da t!uar-
nição : propôz-lhes o esrado da praça, e a impossibilidade
de ser soccorcida, e quasi todos foram do seu parecer.
Mandou fazer uma exacta averiguação dos viveres, e apenas
se achou que havia nos armazéns reaes com que muni-
Dictzedby Google
— 352 —
donai a Iropa cioco dias, e nas casas do povo, q^ tpdas
foiam miudameale registradas, se não achou cousa alguma ;
porque havia muito tempo que todos comiam do d^el-rei,
por baver mais de oito mezes que não viuham embar-
cações de commercio a quem se comprasse alguina cousa :
mas, sem embargo d'esta falta e do pouco fructo que espe-
tavam, todos se ofTorefíiam a perder as vidas na deíesa»
sem que em alguns se desse a conhecer a mais leve sombra
de fraqoezs.
N^esta extremidade se resolveu o governador a mandar
pedir capitulação a Cevallos, para o que lhe mandou recado
por um oQicíal, que logo levou por escripto a Arligas ;
porém aquelle general, esquecido das leis da guerra e poli-
tica militar observada entre todas as nagões civilisadas,
deteve o official quasí lodo um dia no seu campo-, e adian-
tando entretanto os seus aproches, na certeia de que da
praça lhe não haviam de embaraçar o trabalho emquanio lá
estivesse o official tratando capitulações ; e depois de ser
noite o mandou com resposta — que depois que tivesse
plantado todos os seus ataques, e antes qae rompesse o
fogo, manifestaria as ordens do seu soberano ; mas que, se
da praça lhe fizessem fogo, se veria precisado a repellir a
força com as que tinha.
Com esta cavilosa resposta foí adiantando as suas obras,
e, pretendendo em uma noite surprehender es guardas avan-
çadas, lançou duascolumaas cada uma de seiscentos ho-
mens, para as atacar pela retaguarda ; e sendo sentidos se
tonou alarma; da praça se deu uma descarga de arlilheria que
os fez retirar, sem cons^uir mais que abandonarem as nos-
sas guardas os postos avançados, retirando-se sem perda.
Suspendeu-se o fogo pelas razões JÁ expressadas para ver
se assim se proseguiam condições favoráveis: entretanto
1<ri)scguiu Tovallns os sous ataques. v,^l«iido-sc scroprr
D,:„l,;cdtv Google
— 3S3 —
pan os adiantar da occasião eto que sabiam oa officiaes da
pra$a ao campo com os recados, até que finalmente os
acabou, mandando viate e duas pe(as de bater, quatro
morteiros e seis pe^as para balas rasas.
Depois de lodo concluído mandou á praça um manifesto,
em qu(! declarava, que por ordem do seu soberano vinha a
castigar os iosnltos commettidos pelos portuguezes no Riu-
Grande, invadíado e acommettendo aquetie contineníe de-
baixo da boa pas; pedindo oo mesmo tempo se Ibe entre-
gasse a praga á discriçfto ; pois, segundo o estado dMla,
Dão estava nos termos de admíttir capitulação.
Reclamou o governador novamente para ver se conseguia
alguma vantagem, mas inutilmente, pelo que lhe mandou
fazer entrega da praça, promettendo Cevatlos usar da vi-
ctoria com toda a moderação, e que, da mesma forma qiie
fizera em Santa Catharína, daria transporte aos officiaes
para a capital, e que o povo lograria em posse pacifica
os seus béns; o que ao depois muito mal cumpriu.
No dia 3 de Junho se formou toda a guarnição desar-
mada no meio da praça com íis suas mochillas ás costas;
foram sahindo pela porta da campanha regando o caminho
com lagrimas, por entre duas alas que formou a Iropa
bespanhola, desde a porta até á praia, e alli os foram em-
barcando para bordo de alguns navios, que tinham prom-
ptos para isso, e os conduziram a Buenos-Ayres, cujo
destino ao depois esperamos.
Logo que sahiu a guarnição entrou na praça u rogimeiílo
do Zamora, que guaraoceu as muralhas, e ao outro dia
entraram mais alguns regimentos, com o general Cevallos,
que entre vivas e acclamaçfies dos seus foi conduzido á
igreja matriz, aonde méndou por um frade seu capellão
cantar missa e Te-Dtum, que ao depois ile acabado lhe
lançou a ihave du Sarrario nu p<?si'i>i;o, o se foi apnsoiiliir
DictizedbyGoOJ^IC
— 354 —
nas casas de residência do governador, que havia já
desoccupado.
Depois que Cevallos se viu senhor da praça mandou
desmontar toda a artilbería das muralhas, e embarcal-a,
com todas as munições que acbou, para Buenos-Ayres e
Montevideo, e entrou na diligencia de pór a praça por
terra, segundo o parecer que já no anno de 1762 lhe davam'
os jesuítas, para flssim evitar que voltasse outra vez aos
dominios de Portugal. Para este effeito mandou abrir innu-
moraveis fornilhos por deatro e por fora das muralhas,
occultando no entretanto o desígnio de demolir os edifícios
ftmquanto não expedia os oHiciacs portuguezes, para que
não levassem esta noticia á nossa capital. Em 25 de Junho
sahirain os oiticiaes com as suas famílias e alguns parti-
culares, que á força de dinheiro o alcançaram, em quatro
embarcações, que lhes signatou, e no seguinte dia mandou
Axareditaes, queseapromptassemlodososportuguezessenn
excepção de pessoa para se transportarem aBuenos-Ayres.
Esta noticia nos consternou summaraeDte por conhecer
o fím d'este transporte, e entraram alguns a fazer suas
representações, enfre todos com maior excesso os cléri-
gos portuguezes que na praça havia, os quaes esperaram
a Cevallos quando sabia do ouvir missa na capella da
Conceição, estando rodeado de todos os seus oíTiciacs, e
lançando-se-lhe aos pés lhe disseram que, por S. Kx,
lhes nuo permittir licença nem haver navios sullicientes,
deixaram de ir com os ofnciaes, e por haver segurado pu-
blicamente que todo o povo ficaria logrando os seus bens ;
e que agora se lhes ordenava passagem a Buenos-Ayres, per-
dendo os seus patrimónios, e tudo o que possuíam, e que se
veriam obrigados a mendigar o sustento, servindo de carga
aos mesmos povos para onde os mandasse, por serem pes-
■ soas inúteis para o trabalho, o que lhe podiam lhos déssc
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— 355 —
umDaviopara os lançar em lerra de portuguezes com as
suas familias, pagando elles o freta que lhes determioasse.
Respondeu-lbes Cevallos que lhe parecia muito justa a sua
represeatacSo, que lhes empeuhava a sua palavra, de os
mandar levar ao Rio de Janeiro. Ordenou logo ao seu ma-
jor general que fosse dar ordem ao navio, que os havia de
conduzir; e se viram obrigados os clérigos depois de quatro
dias a tomar a fallar a Cevallos, o qual no mesmo lugar
em que lhes havia feito a promessa, eá vista dos seus mes-
mos officiaes de maior graduação que o tinham presencia-
do, se retirou dizendo: que lhes não dava embarcação, que
se passassem a Buenos-Ayres e que de lá os mandaria para
o Rio de Janeiro.
Esta falta de palavra, esta acção tão infame e indigna de
um homem caracterisado, causou tal pejo aos innumeraveis
olliciaes que o cercavam, que todos puzeram os olhos no
chão, não se atrevendo a levaiilal-os de vergonha.
Foram-se embarcando todos os portuguezes com o que
poderam levar; e querendo muitos fretar embarcações para
serem transporlados á sua custa, prevendo que no trans-
porte haviam ser roubados (como succedeu), poucos pode-
ram alcançar esse indulto, e por uma infame politica muito
própria do seu génio fez este general um saque aos portu-
guezes, mais enorme do que faria seguindo os eslylos da
guerra : pois, mandandonss embarcar alropelladamenle,
deixaram a maior parte dos seus moveis, e os que leva-
vam para os navios, eram logo roubados injustamente pelos
marinheiros; e o que d'elles escapava servia de presa a outros
no desembarque em Buenos-Ayres. E, queisando-se alli
alguns de tal deshumanidade ao sargenlo-mór da praçâ, e
apanhando-se dois marinheiros com o roubo nas mãos, o
castigo que lhes deu foi maudal-os para a armada, sem
fazer restituir os furtos. E, sendo este sarjíento-mórtiiln por
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bomem bom, só nioslroua sua bondade na cMBpaix&oque
leve com os seus. A este roubo dos particulares se segnirsni
.os das justiças, notificando a iodos os prisioneiros para
irem apresentar os escravos perante os officiaes reaes,
que são os ministros do erário real, para lhes imporem os
direitos. Estando por lei estabelecido pagarem-se 20 pesos
de cada escravo que se vende, inventaram uma nova lei,
para«itorquir direitos do? escravos dos pobres prisioneiros
que não intentavam vendél-os.
Estavam Doeste tribunal, além dos ministros e escrivães,
dois médicos para examinarem o escravo que se apresen-
tava, e dois avaliadores, um d'elles avaliava o que o escravo
poderia valer na Colónia [sem que elle nunca lá os tivesse
comprado nem lá pisasse), o outro avaliava o preço que por
elle dariam em Boenos-Ayres ; e a dífFerença do preço da
Colónia, ao que valia em Buenos-A;res, era o dono do es-
cravo obrigado a pagar, que não custaria o escravo talvez
outro tanto entre nós, e pagava de mais as custas a todos
aquelles indivíduos, que não eram pequenas, que era o
mesmo que pagar o padecente a corda ao algoz. E assim
se viam obrigados a desfazer-se dos seus escravos pelo
primeiro dinheiro que lhes oHereciam, para pagarem estes
iniquQS direitos.
Arrecadados os direitos, mandou o tenente-rei governa-
dor interino, avisar aos prisioneiros para serem extermina-
dos e levados a diflerentes paragens na fronteira dos Índios
bárbaros, intentando formar com as famílias portuguesas
algumas víUas, que servissem de barreira ás suas povoa-
ções, e em que se podesse levar a barbaridade dos indios,
que com continuas erupções desbastavam e abriam os luga-
res de campanha, não perdoando a vida a hespanhol algum.
Com a execução d'este projecto, tiveram o tenente-rei
e outros muitos de Buenos-Ayres a occasião de metter a
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- 357 —
-juÃD QO mngue doH perluguc7.es que àind
tinhAm logrado : aquolles pobres que abida i
cousa que largar, que seriam gídcoou seis fan
rairi o degredo, dando ao tenente-rei duzE
zeolos pesos, couforme se ajustavam com sus
em dinheiro, outros entr^ando-lhe as joía
suas mulheres.
Na Praça Nova de S. PiicoMio se ajuotari
para a conducção, assignalando-se uma pan
com seus trastes ; e aqui entraram também
campo 3 fazer o seu negocio ; porque, como
se ^o podiam accommoâar com os'seus trasl
que lhes davam, alugavam outras & sua cus
teiros em toda a «iagem foram roubando i
Assistiu o teaentd>-rei na dita pra<;a para e
relAs; e porque parece que estava famínt(
satisfeito com o que lhe deram os que lictrai
os -que iam ainda levavam alguma cousa,
d'um extraordÍDarío rigor.
Entre outras cousas que alli succederan
mente uma, por onde se virá no conhecími
nias que usou. Entre as mulheres portug
se achavam para se eiicarretarem, estava ue
uai soldado, chamado Manoel Alves, com
h&iigas nos braços, ^uu eslava expirando
twente-tei, e, mosltando-se o estado em q
lho, pcdÍU'Uie coo mais lagrimas quepalavi
cesse d^elle, concedeado-lhe que flcasse para
Oii em outra conducta, emquanto lhe moi
o seu filho, que segundo se via não durarie
mas elle, q;tais insensível que uom pedra,
QOino um touro, e com desentoados gritos
que atirasse com o fáho fora, e se embaroi
TOMO XXXI. P. 1.
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E porque o frio era eiressivo eipiroa o meniao, e
metteram a mâi na carreta mais morta que viva, e a fizeram
sahir sem lhe dar tempo, nem ainda para chorar e dar-lbe
os últimos ósculos. Uma viuva, qu» no mesmo sitio lhe
suppHcou a dispensasse do desterro, por ter uma filha
e uma sobrinha donzellas sem homem algum que lhes ser-
visse de abrigo, respondeu em altas, vozes na mesma praça :
— que fosse para onde era mandada, que tâo viuva seria lá
como em Buenos-Ayres ; que se Jesus Christo Tosse por
tnguez nio escaparia a ser desterrado.
Estava a praça coberta de innumeravel povo hespanhol
priocJpalmente de mulheres, que se enterneceram for-
temente com este espectáculo, e uma honrada senhora, cha-
mada D. Nicolaia Caberá, execrando altamente tal cruel-
dade, tomou o menino morto, e o levdu para sua casa,
mandaodo-lhe íazer ura .magnifico enterro na igreja dos
relígiosc^das Mercês, junto a cujo convento assiste.
NSo escaparam do desterro os mesmos velhos e doentes,
e, quando a moléstia era tal que se não podiam arrastar
(nio por compaixão, mas talvez por pouparem o trabalho
de 09 carregarem ás costas para os metterem nas carretas),
ficava o marido doente, porém sempre ia a mulher, como
succedeu a Manoel Tavares, mestre que foi da ribeira, que
por se «cher entrevado, e mais morto que vivo, ficou do
hospital ^s frades bettemilas, e sue mulher Custodia de
tal foi encarretada para a paragem chamada Varaõeiro.
Estas cousas quasi se fazem incríveis que fossem execu-
tadas por uma naçSo cathoHca, e que parece nada tem de
Mrbara : porém eu alcanço que o fartam por duos razões:
uma g^ral, e outra particular. A. primeira, porque aqui
todos os castelhanos julgam aos portuguazes cono animaes
de outra espécie, e a segunda porque o lenente-rei jul-
gava 9ue d'esta forma podia faier mulhor o seu negocio, e
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— 359 —
assim haveria mais alguns, que lhe dariam as camisas para
evadir o desterro, e de caminho faria obsequio ao seu
general, accommodando-se-lbe ao génio.
Os sacerdotes prisioneiros correram a mesma fortuna, í
excepção d'um que se resgatou a dinheiro : os mais foram
tratados sem differença do mais vil negro. Foram final-
meale es prisioneiros levados ou arrastados : uns para a
villa da Lujan, onde pozeram trinta e tantas famílias, e
outros para Areco, Arreifes, Verdadeiro Pergaminho, etc.,
sem que a nenhum assistissem com casa ou sustento, antes
pelo contrario tudo se vendk pelo maior preço, sendo
para portugueses : e d' esta fónna pretenclia D. Pedro
Cevatlos povoar as fronteiras com vassallos alheios,, sem
despeza do seu soberano, e mandando ordem aos com-
mandantes d'aquellas paragens que lhes repartissem terras
para edificarem e plantarem ; e, aho obstante ameaçal-os
que se não cuidassem em estahelooer seriam lançados a
outras terras mais distantes, todos a uma voz respondiam,
que eram prisioneiros e vassallos de Portugal, e que
nenhum queria estabelecimento em terras de Hespanha,
nem jurar vassallagem.
No lugar do Pet^aminho julgou o commaodante que
altí estava, que os portuguezes que lhe entregavam eram
para seus escravos, e os pdz a trabalhar e a fazer adobes
para ranchos, que determinava vender-lhes ao depois, per-
sHadido (assim como todos' os castelhanos se persuadem
com-o exemplo succedido na guerra de 1762) que nenhuma
família portugueza se restituiria a dominios de Portugal,
tanto por seacharem exaustos, como porque nunca Portugal
pediria s sua restituição, e ainda que a pedisse faria
Cevailos o que quizesse, comprovando elles isto com tantos
exemplos, quantos apezar nosso temos aqui experimentado.
Passados alguns tempos depois que os portuguezes foram
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disiríbuíctos por estes logaras, como aio lioham meios com
quo n-olles podessem subsistir, entraram muitos a passar-se
para fiueaos-Ayres, uqs com líceaça dada ou comprada
aos commaodantes, outros furtivamente ; e, sendo avisado
d'isao o lenentfl-rey, passou ordem para serem presos todos
os que fossem achados na cidade, e leral-os aos lugares
dos seus destinos. E por desejar favorecer a um sai^ooto
de milícias, chamado Bernardo Cienfuegos, lhe encarregou
esta diligencia, dizendo-lhe queria dar uma casaca. 8ahiu
este fiel executor, e foi lançando mão das bolças dos que
pôde agarrar, e recolheu á prisão da Rancharia perto de
vinte que ser nSo poderam remir. Entre eltes foi Fraacisco
Mathado Coelho, a quem o alcaide de Lujan tinha dado
licença por escrípto para tratar sua mulher, que se acbsfa
enferma e em dias de parir, para a cidade, e apresentando
a licença ao tenente-rai lhe respondei}: — que fosse parir
aos infernos, e marchasse logo para o lugar que lhe fdra
destinado.
Na Rancharia entraram logo a sahir alguns, i)ue deram os
seus reales^ e os mais foram éncarretados; mas quando as
carretas chegaram á Recoleta, que está pouco mais de um
quarto de légua, já iam vazias, porque foram os pobres
dando a roupa que tinham sobre si aes conductores, che-
gando alguns a dar até q própria camisa por não tornarem
para as desdoxas do campo.
Os soldados prisioneiros dê Santa Catharina, e os qae
foram apanhados nas embarcações, foram levados a Men-
donça, e os da Colónia á cidade de Córdova, e uns e outros
passaram innumeraveis trabalhos, iniserias eroubos pelos
caminhos, e depois que chegaram, porque nunca se lhes
assistiu eom cousa alguma.
Os de Córdova estiveram aquartelados algum tempo ao
collegio que roidosjosuilas, aonde porcaridade lhe assistia o
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-^ 361 —
governador com ração de carne, mas depois thes suspen-
deu e os lançaram fora ; a yendo-se na rua sem lerem de
qoe se valer, se entoaram a alugar para o trabalho con-
forme o préstimo de cada um, para lhes darem de comer ;
vendendo os mais d'elles os trastes que sobre si tinham,
eipoodo-sea morrer de frio por não perecerem á fome.
Estas e outras deshumanidades com que tratam os porlu-
guezes, as julgam os castelhanos por cousa muito licita e
necessária, porque, comojé disse, somos reputados por
eUe9, mais vis e infames que os jadèos ; e qualquer cousa
que lhes faz um portuguez a reputam eomo um sacri-
légio; pois, chegando aquia notioii que us seus prisionei-
ros no Rio de Jaaeiro eram mal tratados, clamavam con-
tra o nosso ex-TÍce-rei, dizendo que, nem entreos bárba-
ros experimentavam o que se dizia lhes fazia n'aquelte ci'
dade, vindo-se tudo a reduzir em mandal-os trabalhar
nas fortificações para ganharem que comer, e tél-os reclu-
sos para não darem exercício áquellaa más artes que todos
professam, qnaes são os roubos e a borracharia, e ae
péssimas consequências que d*elles se seguem, e que pede
a boa politica que se evitem.
Mas é tal a preocupação 'd'esta gente, que nunca discor-
rem com acerto em matéria de portuguezes, por se eonsí-
derarem sempre de outra espécie muito superior; e devendo
Irstar-Qos melhor com estas noticias para que oo Rio de
Janeiro Szessem o mestno com os seus, obraram o con-
trario, tratando-nos com incrível desprezo, e lançando-nos
em tosto, não os beneãcios, mas outros muitos males que
ddxaram de nos fazer; de sorte que não podiaiuos appa-
recerem publico por não dos apedrejarem.
Cevallos usou comnosco ie outro despique mais hon*
roíso, por^m o mais infame eiqjurioso p^ra elle, e foi:
Desde antes da guerra de 1762 até o pteseole, por hos-
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tilísar os portugiiezes, entrou o dar liberdade t todos os
escravos que fugiam da Colónia : como isto era um roubo
maoifesto que os loesmos castelhanos não podiam descul-
par, entraram alguns aqui a persuadir aos portugnezes, que
requeressem a Cevaltos lhes mandasse restituir; princi-
palmente depois que apparaceu o tratado preliminar da
paz, celebrado pelas duas cartes em Outubro de 1777;
oom effeito, entre as muitas petições que se lhe lizattm a
esse respeito, despachou três ou quatro, que os comman-
dantes e justiças dos lugares em que se achassem os escra-
TOS dessem lado o auxilio necessário para sens senhores
os apprehenderem, servindo aquelle decreto de bastante
despacho.
Em virtude d'esles despachos, passaram alguns a Mon-
tevideo e ao arraial de S. Carlos a buscar os seus escra-
vos, pois se achavam por alli mais de trezentos; mas o com-
mandantedoarrayal não quiz cumprir os despachos, dando
conta sobre isso, e tornaram a voltar com a despeza e sem
(ruclo ; n'esta cidade, com ordem dos alcaides a quem se
apresentaram os despachos, foram presos cinco escravos ;
e chegando ao mesmo tempo os capitães dos navios que
haviam ido ao Rio de Janeiro, levar os officiaes portugue-
ses de Santa Catharina, fabulando o que lhes pareceu do
máo tratamento que davam alli aos seus prisioneiros ; desa-
fogou Cevallos a sua paixão em mandar soltar os escravos,
e prender a Jactntho de Almeida, que tinha apanhado dois
dos seus, e indo-Ihe sua moi pedir que n soltasse, pois não
tmba culpa em executar o despacho que S. Ex. lhe linha
dado, o qual lhe o apresentou, raspondeu-lhe que os por-
tugnezes eram uns velhacos e uma canalho, que os escra-
vos eram livres, que elle não Unha dado aquelle nem outro
algum despacho semelhante; e mandou pelo seu Qfiicial de
ordens que Ibe colhesse os outros despachos, que tinham o
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— ;)G3 —
padre Joaquim de Almeida e José da Costa Lima, ainda
que sempre escaparam atguus, o se conservam para ma-
moria. Se entre nós se vísse que um homflm, ainda de baixa
condição, negava a sua fírma, se julgaria sem davida por
um infame ; pois esta acção que acabo de referir, foi exe-
cutada pelo Exm. Sr. D. Pedro CoTalIos, vice-rei e capi-
tão-general da província do Rio da Prata, professo nas or-
dens de S. Género e S. Thiago, cavalleiro da chave dou-
rada, gentit-homem com entrada, e general dos eiercilos
de Sua Magestade Catholcia, etc.,etc., finalmente o homem
de mais alta esphera que pieou n^estas índias.
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D,i.,.db, Google
BIOGRAPHIA
DOS BRASILEIROS ILLUSTRER, POR ARMAS, LETRAS, VIRTUDES,
HBNRlQllE DlAí'
Consagremos um nicho em nosso Panlhéon ao guer- .
reiro illusirc que por seus gloriosos feitos bera mereceu da
pátria ; e que o'uma épocn em que as dilTerenças das
cores e das castas sorvia de empecilho ao galardão ; foi
ineslro de campo, fidalgo e cavalleíro da aniiquissima
ordem de Nosso Senhor Jesus Christo.
Era Henrique Diiís natural da província de Pernanhuco,
filho de pais arritanos, e mui provavelmente escravos.
Desconhecemos, purém, os preliminares de sua vida, nem
chegou ao nosso conhecimento o modo por que obtivera a
liberdade. Sua assignatura, que vimos n'u(na preciosa col-
lecc&o de autographos, e as cartas que lhe são aHrihuidas.
provam-oos que aprendera a ler e a escrever em sua pue.
rlcia, sem que comtudo se podesse aperfeiçoar em taes
matérias.
Semelhante a esses actores que &òsã mostram em scena
quando indispensável se torna sua presença, de súbito
deixando-^ quando menos brilhante se faz o seu papel,
assim Henrique Dius apparece na hora aziaga em que a
fortuna lusitana succumbia aos reiteratios golpes do po-
derio batavo, e não se retira do scenario emquanlo n3o
fluctua novamente sobre as restaurada^ torres de Olinda
o pendão de Aljubfirrola.
TOBO XXXI, i: I. 47
DictizedbyGoOJ^Ic
— 366 —
Cbegára aéradel6:)3, e para o seu occaso caminhava o
m«z de Maio, quaado alguns prelos, capit aneados por nm
ÍDlelligeole crioulo, dirigiram-se ao forte real do Bom-
Jesus, e com instaocia pediram para fa liar coro Mathias de
Albuquerque, que abi commandava. A' braços com as
difSculdades da sua posiçio, e vendo uma a uma submer-
girem-se uo pélago da realidade as ultimas esperanças*
acolheu o general com açodamento a generosa offerla que
de suas vidas viabam fazer-lbe os que sob a negra epi-
derme sentiam pungir-lhes patrióticos brios. Confirmando
Henrique Dias no posto de cjpilão em que petos seus
fora acciamado, recommendou-lho Albuquerque que eu.
corporasse o maior numero de soldados desuacôrque
isentos estivessem do capliveiro.
Que, dando tal passo, só a imperiosas circumslancias
cederão general portu<;ucz, deprelieade-SQ das seguintes
palavras de seu irmão, ornais veridií^o caronista d^essa
guerra : >< Bem sj provi o apuro em que nus línba posto
a continuação do que contestávamos, pel;i acção que um
prelo chamado Henrique Dias praticou n'e5ta occasião ;
e foi parecQr-lhe que necessitávamos da sua pessoa, pois
velu ofierecel-a ao general, e esto acnitou para servir
com alguns da sua cAr era tudo o que lhe determi-
nasse. » (1)
Por mais de uma vc^z devera reeentir-se o negro cau-
dilho do desprezo que resumbra das ciudas palavras do
donatário da capitania; ao revés, porém. de Calabar, soube
esquecel-o, abncgando-se em prol da palria.
Não tardou qua por seu denodo se assignalasae, sendo
um (los escolhidos para prestar o auxilio quo ao tenente-
(1) Hemoriat Diárias da Gvara entre o Srasil e a Bollanda, por
Daaile Coelho de Albuquerque, [Wg. 5». ' ■*
DictzedbyGoOglC
— MT —
Gorúnel Bíoud, eslacionado em ^n&rasaú, prateodia pre^
taro geoeral Segiamundo. O rosaltado d'essa refrega,
em que ãozeDtos brasileiros se bateram contra mil boi-
landezes, Dão devia ser duvidoso : poado em relevo a co*
ragem de muitos cabos, em cujo numero expressa mençSo
releva fazer do oosso beróe, a qoem gravemente feriram
dois mosqaelacos.
A crescente reputarão de Henrique Dias acabou de fir-
mar-se n'essa memorovel acção de Porto-Calvo (2), pele-
jada aos 17 e 16 de Fevereiro de 1637 : e contestes sSo
os ebrooistas em tríbutar-lbe os maiores encómios, coa-
(essaodo que aos seus oitenta soldados e aos índios de Ca-
marão deveu-sc a salvação do exercito, votado aínevitave)
exlerminio. N'essa[amos:i jornada grangeou o crioulo per-
nambucano gloria igual á do romano Uucio Scoevola ; por-
quanto, havendo-lbe um tiro de mosquete ferido a mSo
esquerda, e poado-lbe os cirurgiões um apparelbo que ue-
cessítava de longo repouso, preferiu a amputação do bra^o,
Gomtanto que podesse voWer ao combate; proferindo
Ji'essa occssião heróicas palavras, que não citamos por dti-
vidar dasoaauthenticidade (3).
A fama de tão heróica façanha transpõz-o Atlântico, e o
governo de Madrid quiz riicompensal-oconf^rindo-Uieo
habito de Christo, e dando-lbe o fdro de fidalgo, que n'es-
sas eras parecia mais estimado do que boje. A. estas graças
addicionou mais tarde outras de que foi portador o conde
da Torre, D. Fernando de.MascariMihas, de cujas mãos r»-
cabiiu Henrique Dias a patente de cabo e governadpr dos
(2) N'este Icmpo tlianiada villa do Dodi Surcesso.
[3) Cada chronista refere por modo diverso eslas celebres palavras ;
Avideole prova de que nfiu são de propria lavia. Combinam, poi«m,
'o(ta> (10 sculidu qiK' rcutie-iic oeste peneumenLu: —que llie baslava
i^ma màu |)ari seivir ao seu lei c a sua palii ?
Dictzedby Google
homens pardos e crioalos.com o soldo mensal de qoareDta
crmados.
Com a readlção de Porto-Calvo, effectuada com as mais
bonrosas condições pelo bravo Giberton, termíooa-se o
primeiro acto do grande drama pernambucano.
Mallogradaa resistência que pretendia oppftr aNassau,
reliron-se o conde de Bagnuolo, qual Fábio Canclator,
buscando além do rio de S. Francisco seguro abrigo onde
melhor podesse refocillar o exercito.
Entre os capitães que lhe acompanharam coatava-s«
Henriqae Dias, cortesão do inlorlunio ; e nas duas pro-
vanças por que leve de passar no acampamento da Torre de
Garcia d' Ávila, não raro apreciou as grandes prendas que
arreiavam a alma do governador dos prftos.
Habilmente aproveitando daforçadainacçãoa que se vira
condemnado, amcstnm sens soldados oo manejo das ar-
mas; ioiciou'OS na táctica earopôa, SQbmettendo-se ao
mesAo (empo ao jugo dadísclplina, talismanda victoria.
Gnrtos foram seus lazeres. Haurido, ambicionando por
capitai do Brasil hollandez a cidade do Salvador, acom-
mette-a com grande pujuoça; e Telles da Silva, receiando-
se da sorte de DTogoiJe Mendonça, despe-se do néscio or-
gulho com qne recebera Bagnnola, e cbama-o em sen au-
xilio cora 08 bravos guerreiros, confiando-lbe o bastão do
mando, ^'essa critica conjunciara revelon-se Henrique
Dias rival de si mesmo ; obrou prodígios de valor concor-
rendo poderosamente para o desbarato dos hollandezes,
que escarmentados regressaram ao Recife.
Desde o aono de 1638, em que se passaram os successos
que acabo de esboçar, ate ao de 1645, vemos sumírem-se
d(t scenario os herões pernambucanos -, e o silencio da his-
toria, que, como dizia Voltaire, é a felicidede dos povos,
faz-nosquasiqneperdero vestígio dos seus passos. Quando,
Dictzedby Google
— 369 —
porém, o arcbanjo da liberdade embocou a tráa da honra
no moDte das Tabocas ; qaaDdo as espadas- brasileiras se
baptizaram no Jordão da gloria ; Vidal, Vieira e Cardoso se
lembraram do seu aniigo companheiro, e das brenhas de
Sei^ipe foi Henriquo Dias chamado para sentar-se no
ágape da iadependeacia. Pouco havia que do rei de Portugal
recebôra o habito de Chrislo, e anhelava por suspendel-o
ao peilo ; mas tanto n'elle pôde o amor da pttiria, que
jurou adiar esse jubilo para quando o solo brasileiro cal-
casse o pé do derradeiro hollaudez (^,
Já n'oulro lugar (5) admirámos a finura com que o go-
vernador geral do Brasil íllndiu o supremo conselho do
Recife, obrigado como se via pela apparente paz que ealão
subsistia entre Portugal e a Hollanda ; em vista, porém, de
um documento que temos presente (6), essa admiração
(ú; Vide Fr. J. de S. Theresa. hl. deile GucrR dei Brasile. Pari*
ll,liv.íl,pag.65
(5) Vide biograpliia de Aadré Vidalde Ne greiros impressa Ba Revisla
Popular n. 75.
(6) Julgamos aprazerão leilor copiando integralmente este curioso
docnmenlo.que deparamos na preciosa collecçHo ora existente no arcbivo
(Io Instituto Histórico e Ceographlra Brasileiro :
« Traslado de iim assento que se tomou em presença do governador
d'esle Estado do Brasil sobre a caria que escreveu o lenenie de mestre
de campo general André Vidal de Negreiros, em que dã conta de ler
fugido Henrique Dias.
B Em os trinta e um dias do mez de Março de mil seiscentos e
quarenta e cinco n'esl3 cidade do Salvador, Bahia de Todos os Santos,
nos paços de Sua Magestade, mandou o Sr. governador e capilão-geral
(1'este Estado António Telles da Silva cliRmar h sua presença os mes-
tres de campo João de \raujo e Francisco nebcllo, c os lenentes de
mestre de campo general Pedro Corria da Gama do Sousa, Domingos
Delgado e Raspar de Sousa Uchfta, e o provedor-mór da fazenda de
Sua Magestade, Sebastião Parni de Ilrilo, e o Dr. António da Silva e
Sousa, ouvidor geral, prov?dor-ia')r dos defuntos e ausentes, eprocu-
DictizedbyGoOJ^Ic
sobe do poDlo e leTa^aos a confessar que as soas arUiaa-
□bas «aleram mais à causa da restaaraçao do qaa a re-
messa de om exercito.
rador da fazenda c corua dVsle Estado, e uodo todos assim juntos lhes
mandou lur uma carta que bavia rec«bÍão do tcneiile de mestre de
campo general André Vidal de Ne^reiroB que está na rroateira do
Rio Real, «n que diz que em vinle e cioco d 'este mei de Março, pelas
doas horas depois da meía-noite, tugiu Henrique Dias d'Bqnella estan-
ca cotn toda a gente.e que vai a trilha d'ella na volta de Pernambuco >
e qtie, como tinha a astrada provida com os seus soldados, não foi
sflotido nem o soube seqio depois de claro dia, e que antes de fugfr
se qaeiíára do Sr. governador por lhe não dar licença para vir ver suas
filhas e multo, que estavam morreiMlo, e que nunca[]he deram oada da
fazenda real mais que servirem-se d'elle como se lòra captivo, e que
a Beuana antecedente o quizéram mandar preso por estas e outras li-
berdades que dizia; mas que nnoca lhe pareceu que Uzease uma cousa
tio mal feita, mas que como negro que era merecia um grande cas*
tigo para exemplo dos mais ; que logo mandara o Camarâo trás elle
com seus indtoe para qie o tragam preso e a bom recado, ainda que
custara algumas mortes de uma e outra parle : que considerassem os
ditos ministros o que lhe parecia se devia fazer no caso e lhe dessem
seus {lareceres. E vistas dita carta e considerado o caso votaram cada
um o que lhe .pareceu, e concordaram que o tenente de mestre de
campo general André Vidal tinha feito o que ii'aquella flagrante se
podia fazer, e que, posto que ocasoera feio e merecedor de gi^ cas*
tigo se o prendessem, por ora se não podia mandar mais gente em
seu seguimento, porque, se Unha animo damnado em se passar aos
hollandezes, játlnba tempo de estar do rio de S. Francisco para Per-
nambuco de vinte e cinco d'e8teaté agora que cá chegou o aviso, e
em tomar lá estaria mais ktnge ; que se o ptenderem entiio se tratará
do castigo que mersce, e quando o nSo prendam e de certo se saiba
que foi para os hollandezes que vai levanudo, ou se passou a Per-
nambuco a roubar e fazer outros maleficios, será bom avisar aos mes'
mos hollandezes que vai levantado e fugido, para que se o poderem
prender o castigarem como l;il.
n b u Sr. governador se confoimou com u metiiiio jHifce r e icsolvcu
r|uc assim fi liiesse, e nianjuu d'isso fazer <:t,le assento, que as-
BiSnou e os diloi ministros, Ecu Gunçalu l'into de Freitas escrivão da
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— S7Í —
Sfa por certo muito hábil a politica qoe fazia rocahir
sobre o fidelissimo Henrique Dias a pecha de desertor,
mandando em seu encalço esse mesmo Camarão, seircol-
la^o nas proezas do arraial do Bom-Jesu3 e na porfiada pe-
leja de Porto-Calvo! E nole-se que era Vidal de Negreiros, o
protogOQista da insurreição, que denunciava o goremador
dos pretos, e que ingenuamente confessava não esperar
d'eUe acto de (ão feia traição I
Quem não vâ que era tudo isto uma farça combinada
entre D. João IV e Telles da Silva para adormecerem os
Estados tieraes das Províncias Unidas, perante as quaes
não cessava Fraucísco de Sousa C outinho de protestar a
fidelidade de seu amo á tregoa entre os dois povos con-
certada ? I
Sorpreudido pi}|a súbita invasão dos caudilhos Camarão
eDias.qneixava-se o supremo conselho do Recife ao go.
vero ador geral da Bahia da flagrante violação dos traltdos,
e pedia -lhe que os fízesse retirar aos seus domínios, pu-
niodo-os severamMte pela sua rebeldia (7).
bzenda de Sua Mageslade o escrevi. — António Tdlei da Stlca.— JoOo
de Araújo. — Francisco Rebello.—Viiie Corrêa da Gama.— António de
Frnlat da Stíva. — JoOo Rodrigues de Sousa- — Donitngoi Legado
Atiuias.--Gaspar dt Sousa Vehóa.—Stbaêiião Pami de Brito. —António
da Sibia e Sousa.— O qaal assento eu Gtnt^lu Piato de Freitas .escrívSc
(Ia bzenda d'el-rei nssso senhor d'este Estado do Brasil, Bz trasladar
do próprio que fica eoi meu poder no caderno dos assentos das juntas
e conselhos a qoe me reportÃ.com que os te traslado concertei.e o sub.
creti e assigoei na Bahia em primeiro de Abril de 16ã5. — Gotiçalo
Pinto dt FreiUa. *
0) Eis como se expressavam os deleKados do goverro liollandez:
n Com quinta pontualidade ns paíes confirmadas entre o serenís-
simo r«i de Portugal D. Jo9o IV e os mui poderosos senhores, os Es-
tadoe^raefi das proviflcías^ unidas, que os moradores d'cslas capita-
tím con^tiram em tudo e em cada um dos artigos d'ellas, consta
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Não fraqoeoQ T«lle3 (]ãí>ilT.i ao peso dos argum entos ;
(^pôz o sí^bisma á evidencia, allegou sua completa igno-
pelas Carias e embaixadores da buacori-espODdeDCíaa V. Ei. enviados,
e o devem tcstesmunhar (olIos os que da Bailia e outras parles vie-
ram a eslas capitanias, pelo raeuos alo se scbarã quem mostre sombra
de alguma (alia. O mesmo sempre se esperou de Sua Magestade e de
V. El. e Dunca se pôde receiar que da sua parle se permittisse que
seus vassailos fizessem, ou intentassem cousa que fosse coDlra coo-
tratos tão íormaes como aquelles que, ainda que alguns porluguezes
vassailos dos ilitos mui poderosos senhores, quebrando sua fídelídadc
jurada, inienlaritni uma ooajurai,'ão publica e tomaram armas contra
este Estado,, tanto que veiu & sua noticia que o Camarão e Henrique
Dias com seus iiiiiios e negros, em companhia de outros pDrtugueies>
chegaram da Bahia a estas capitanias de paocada, sem licença e sem
a pedir, contra o direito publico e gerul ; e ajuntando suas tropas e
armas com as dos levantados movem e fazem uma guerra, mais como
deshutaanos, ladríies e piratas, que como os soldados usam na Europa;
n3o podemos presumir que esta gente devera por oídem, ou permissão
de Sm Mageslade, ou de V. Ex., conda seus federados laes actos in-
lenlaram ; e graças a Deus não nos lalta ordem, nem forças bastantes,
com obrigar a estes amotinados, qne se qSo saiun da sua devida obe-
diência e obrigação, e para fazer despezas os de fora com total ruina
sua ; comtudo, para que lodo o mundo saiba quanio foi e ainda é o
nosso desejo de viver com Ioda a paz e quietação com Sua Uagestade e
seus vassailos ; assim como nossos superiores nos eBcommendam, c
para tirar as suspeitas que os reis príncipes e potentados por s
chagada d'esta gente poderSo presumir, e qiie constasse a des-
culpa de Sua Magestade e de V. Zx., e se provasse que não tem
dado origem a esta conjuração, nem a sustenta, «ovj^os em
nome dos Estados Geracs, Sua Alteza o jirincipe de Orange, e os ou-
tros senhores da oulhorgdda companhia das Índias occidentaes com
mandado e ordem plenária a declarar a V. Ex. todos os artigos alle-
gados, epedir aV. El. seja servido que logo cora a chegada d*estes
nossos deputados, por públicos edílaes, ou outras d«n o nslra^s cons.
Irangenles, mandt ao dilo Camarão, Henrique Dias e outra qualquer
cibega que estivei' n'eslas capilanias se recolham logo com Iodas suas
tropas e gente de guerra, e sejam castigados cOm todo o rigor, e não
obedecendo sejam elles todos e cada um d'elles derlarados por ioiff-
Dictzedby Google
— -òTò —
i-aíicia tias U'aiaas urdidas pelos pernambucanus ; mostrou-
se reseatido que de menos leal o suspeitassem c refe-
riudo-Sd á deserção de Henrique Dias touou au so Jime
da duplicidade I (8)
No seu longo officio a el-rei D. João IV, datado da Bahia
aos 19 de Julho de 16&5, expõz miudameale os factos que
apahamos de narrar ; e sem rebuço confessou que maadàra
Soares Moreuoe Vidal de Negreiros auxiliaros sublevados de
Pernambuco, desculpaudo-se, porém, como voto da maio-
ria da juota que adrede cóavocára (9). Assim era preciso;
gos de Sua Magestade, porquanto nSo achamos oulra via por oude os
muito poderosos aeuhores Sua Alteza e os outros Beobores d'ests il-
iDsIre companhia se dC a satisl^ação que esperamos de V. Ex. De
V.' El., muito alTeiçoados amigos. — Henric Mamei. ~ Airianvaii
BaUtstrade.— Pieler Dansen Ban. — Recife, a sele de Julbo de 1645
aonos. Por ordem dos mui nobres senhores dosuprenH) o secreto
conselho. — D. van Walbeeco. (Docoraentos coUigidos nos archivos
húllaudezes pelo Sr. Dr. J. C. da Silva, tomo Vlll.)
(8) Eis o trecho da carta a que alludimos :
a eu quiz mostrar na rtpcliçíio d'eElas particularidades que esta
salisfãção que privadamente dou a W. 85. de meu oatural afTecto e
obrigação d' este lugar.e para que VV. SS. lenham verdadeira noticiada
absencia de Henrique Dias, elle se passou uma noite do porto do
Itio Real. d'onde estava a parte de W. ss., e mandou-se em
seu alcance ao capitào-mór dos índios D. António Philippe Cams-
T&o, veodoeu que tardavam ambos,havendo sido imaginaçSo de todos
iria dar oa povoaçíko e mocambo dos Palmares do rio de S. Francisco,
mandei em seu seguimento, por nio parecer que alteraria< o socego da
paz com mctter na campanha tropas de infantaria, dois religiosos da
companhia de Jesus a reduzil-os, e nenhum lhes quiz obedecer, ou
por estarem temerosos do castigo, ou já infeccionados do intento do^
moradores d'essa capitania [segundo aflora collijo),e d'elleg nSo tive
mais noticias que as que VV. SS, se serviram mandar-me.* (Doe. Iiol-
landezlomo VIU.)
(9) . ■ . ■ E considerando -«s eu [as razões allegados), vendo-me ven.
eido nos votos, eque pareceria que obedecendo ao exaclo cimiprí-
lOHO x&Xl, P- 1 48
DictizedbyGoOJ^Ic
á
— 374 —
não sabendo ainda de quo aaimo estaria a cõrle de Lisboa,
campria-lbedeiíar uma avenida por onde jiodesse sahir.
convencido de que nuUase faz a responsabilidade dividida.
Que bem avisado andara, mostrou-lhe o ulterior resulta-
do; e conhecido o seu tacto diplomático foi conservado na
Babia por lodo o tempo que sua preson(;a ahi fei-se ne-
Insistindo sobre este tópico, levamos em mente provar
que a insurreição de 13 de Junlio de 164^ não tivera o
cunho de espontaneidade ebwlamento que se lhe tem que-
rido attribuir; e mais que tudo arredar de sobre o heróico
Tullo de Henrique Dias a nódoa de traição, que uma má
intelligencia dos documentos possa nm dia arremessar-lhe.
Urgido pelas circumstancias, escondeu por um instante
asgarras do leão debaixo da pelle da raposa, e, imitando
A^eâíláo, leve sempre horror da ac(9o de Pausanias.
Uas prosigamos em nossa interrompida narrativa.
Acudindo ao brado da honra, deixou Henrique Dias as
mento das capilulaçOes faltava á obrigarão de ampnrar os vassallosdp.
Vossa Magestade.maiormente quando o inlento uno era fazer bostílidade
alguma aos ht^ndezes senão livrar aos nossos por meio puramente
defensivo da oppressão publica em que ftcavam, e recoucílial-os com os
bollandeies, preaentindo lambem que se enxergavam algumas de-
monstrações de que se eu duvidasse de mandar esle soccorro se oc-
casionaTia n'eBla praça ouUv movimenlo peior do que o presente, por
ser a maior parte doi soldados d'esle eiercHo e moradores d'esla ci-
dade naturaei de Pernambuco, e retirados de todas aquellas capitanias,
me pareceu tomar por resolução evitar o excesso qne se receiava com
mandar remediar o euccedido; que supposto que se pudera reprimir
por meio, levepor mais acertado o de condescender com a supplica
dos dilos portugueie» e accordo geral de lodo o conselho, e enviar o
dito soccorro; pois que com etie stdivertia mais suavemente qualquer
desordem e apaziguava todo o tumulto n'aquella. ■ t[>oc. hoUandei,
loco cíl.)
Dictzedby Google
— 375 —
ribas do Rio Real, e vadeando o. de S. Francisco foi rea-
nir-s&aos valentes campeões da cansa nacional. De qnanto
auiilio lhe f6ra elle e do quanto se receiavam os hollan-
dezes das suas correrias, coUíge-se dos documentos que
temos k vista, e em um dos qaaes confessa o conselheiro
Balthasar Vao de Voorde aos Estados-Geraes a absoluta
inferioridade dos seus compatriotas n'am género de guerra
por elles desconhecido (10) .
Depois da' gloriosa acção do monte das Trocas anhela-
vamos independentes por se encontrarem comos hollande-
zes, e razerem-lhes novamente sentir, de quSo fina tempera
eram soas espadas, equãocerteiros os seus mosquetes. A l6
de Agosto do mesmo memorável anno de 1645 travon-se fe-
rida peleja no engenho denominado Casa-Forte, entre as
tropas ao mando do major Blaar e as commandadas por
J. Fernandes Vieira. Já algures (11} commemoràmosabi-
zarria com que abi se comportara um nosso iltustre com-
patriota, cabendo-nos aqui nSo menos satisfação em men-
cionar o valor com que o mestre de campo Henrique Dias
acommettêra o inimigo, fazendo pender para o nosso lado
a victoríB, que incerta parecia. Não se aoimam a negar os
tiO) I — & lacUca dos insQi^nlea consiste em enviar aqui e acolá
alguns destacamentos de tropas, espalhando falsos boatos, pertur-
iKfndo u socego publico c fatigando sem cessar nossas tropas com con-
tínuas marchase coatramarchas,princípalnientenas estações pluviosas,
NSo ousando esperar-nos em campo raso, e sendo-nos impossível man-
dar partidas paia reconhecer sua poslçfio e forçal-os a deiíar-nos o
campo livre com o justo lemor de cahinnoB em alguma emboscada
sendo esmagados pelo umoero, o que sobremodo - animal^»>ia,
estando como estão bem armados ; ao passo que o nosso exercito acba-
se enfraquecido tendo perdido muita genie, e d3o podendo sabir a
campo,v(ir-nos-ltemos na dura necessidade de detxál-o franco ao iní-
mígo,recolhendo-nos a nossas praças fortes.» (Doe. boHaodez, tomo III.)
til) Vide Biographia de A. Vidal de Negreiros.
D,:„l,;cdtvG00J^lc
— 3T6 —
próprios encomiastas do feliz madeirense que sem o de-
nodo do cbefe preto diverso seria o osílo do combate.
Em Pernambuco não descansavam as armas ; mal se
bavia terminado uma empresa, que era logo outra execu-
tada.
Com o propósito de buscar abastecimentos para o exer-
cito, haviam Vidal e Vieira abalado do novo arraiaT do
Bom Jesus para Nazareth, commettendo o mando ao mes-
tre de campo Martim Soares Moreno. Informado oinimigo,
fez sablr do Recife um troço de artilheria e de gastadores
com armas e aprestos necessários para erguerem um redu-
cto ealre as nossas fortalezas dos Afifados e Cinco Pontas,
Esqneciam-se, porém, que abi estanciava Henrique Dias,
que, apenas sciente das intenções dos hotlandezes, dividiu
a sua gente em três partidas para que por varias partes
investissem sobre os terços bollandezes- « O não saber o
flamengo (diz um cbronÍsta)a que parte havia de fazer
rosto com o desatino da vizinhança e do repente, fez a
industria t9o bem sortida que brevemente viu descompos-
tos os soldados com balas e os gastadores com o estrondo :
de sorte que uns e outros ameaçaram a deixar o campo,
que de todo lhes fez largar a segunda carga, fugindo da
terceira parao abrigo das suas fortalezas, as quaes despe-
diram de si am chuveiro de batas, de que os nossos se
livraram com virar as costas ao perigo, satisfeitos de con-
seguirem o intento e de levarem comsigo a maior parte
dos instromentos que o inimigo trouxera para a fabri-
ca. * (13)
Planejada perigosa empresa, certo era de achar-se ii'ella
envolto o nome de Henrique Dias : assim, quando em No-
vembro de 1647 julgou-se conveniente atacar os hollande-
(13) Castrioto Liístíano, livro [\ íj \1\.
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— 377 —
zes^Qsaa forte posição do Rio-Graade do Norle, foi elle
para atii mandado com o seu regimento', engrossado com
algumas companhias dos Índios de Camarão; dando no
coneco dú aano seguinte principio ás suas operações por
metter a sacco e passar a fio de espada ludo quanto Ibe
oppuaba resistência. No sitio denominado tiuarairas, onde
o iaimigo se havia entrincheirado, favorecido pela óptima
posição topograptiica, ostentou coragem e perícia dignas
da iitvoja dos mais esforçados capitães de qne resa a bísto-
ria. Instigados pelo seu nobre exemplo, !^rojaram-se os
scddados ás aguas do lago que moldurava a fortaleza, e
mergulhados até á cintura escalaram-n'a á pooia de baio-
neta. Absorto o commandante hollandez diante de tanto
desapego ás vid^, buscou salvar a sua e a de cinco com-
panheiros, entregando-se n'um frágil balei a merco das
vagas, e tomando por piloto o destino.
Emquanto ao sal do equador Ião rijamente se batiam
as duas parcialidades, guardavam as respectivas metró-
poles quasi que completa abstenção, perdidas no intrinca-
do tabyrintho da politica eurapéa. Arcando com o colossal
poder da Hespantia, lemia-se Vortugai de distrahir suas
forças-, 6, constando-lhe que no congresso de Muuster se
procuravam congraçar as rrovincias-Unidas com sua an-
tiga oppressora, receíava que juntas quizesscm desaggra-
var-se das offensas que d'elle tivessem. Parece que infun-
dados. nSo eram seus temores, e que, sem a guerra que de
aubito surgiu entre a Uollanda e a Inglaterra, felizmente
coajurada pela prudência do celebre João Wtt, mas que
alquebrado deixou o poderio batavo, iriam as armadas
hollandezas pedir em Lisboa a explicação dos enigmas
diplomáticos que em Haya propunham os TristSes de Men-
donça, Franciscos CoiUnhos e Luizes da Cunha. Houve
mesmo um momento em que nos conselhos de D. JoSo IV
Dictzedby Google
— 378 —
despoDtoQ o pensamento de fazer-se coinp)eU cessão das
proTÍDcias brasileiras em troca da allíança com a poderosa
raioba de Zuyderzée, que aos successores dos Gam», Ca-
braes e Albuqoerqnes arrebalàra o sceptro dos mares (iS).
E quem sabe qual seria o nosso destino sem o esforçado
animo dos chefes pernambucanos f \
Em continuas escaramuças gastava-se o tempo e pro-
longaya-se ama situação por sua natureza iniolerarel: de
ambos os lados almejava-se por um golpe decisivo. Conhe-
cia o mestre dat^ampo general Francisco Barreto de Mene-
zes, que de novo chegara para tomar o commando do
exercito pernambucano, a necessidade de obrar alguma
façanha que alentasse o animo dos seus, lançando o terror
sobre o dos contrários.
Para esse ãm assentou em occupar a espécie de íslhmo
que fica entre o Recife, os montes Guararapes e os alaga-
dos do mar, cortando d'este modo ao inimigo a commu-
Dicação com o interior do paiz. Com facilidade logrou o sen
intento, achando-se desprevenidos os hollandezes-. Tor-
nados, porém, a si do primeiro sossobro, recobraram estes
o forte da Barreia, confiado a Bartholomeu Soares da Ca-
nha, e na manhã do dia 19 de Abril do anno de 1648
marcharam, em numero de quatro mil e tantos homens,
ao mando do valente generaLSegismundo Van Scbop, em
(13) Vejamos como d'esta resolu(jio dá coala um illuifrado liisto-
ridor :
« ... e de sorte cresi?ia em el-ref e seus ministros o embaraçb, qaf
por vezes esteve resoluto largar -se Pemambucoat» tiollaDdezes.poirfe-
raDdo-se qa» nSo podia Portugal sustentar a gaerrs contift dois ídídií-
gos Ião poderosos como os castellianos e hollandezes, e com esta am-
missão pas<< ou áHotlanda o ladre António Vieira. Porém océo, olhando
como sua para esta causa, deu mais favorável sentença para este
reino. » (Conde de Ericein. Porltujat Restaurado, tomo 11, parte I.,
livro .\, pag. 313.)
D,:„l,;cdtvG00J^IC
direcciõ ao cabo âe Santo Agostinho, oode eaQeravam
eacoDlrar o exercito iadependenle.
Coutieceado a marcha qae tomaria • inimigo, aguardou-o
Barreto nos das^adeiros dos Guararapes, onde esperava,
como oatr'ora Leouídas nas Thermopylas, sofrear o orgu-
lho dos audazes invasores. Coube ao capitão António Dias
Cardoso a gloria de altronlar o primeiro impeto do ioimi-
go, que, cheio de confiança, arrojou-se no meio dos regi-
mentos brasileiros. Em Ires columoas havia Barreto divi-
dido o seu exercito, forte de ires mi) e tantos homens, con-
flando a da direita a Vidal de Negreiros, lendo por auxiliar
Camarão; a da esquerda a Vieira, a quem Henrique Dias '
servia de segundo; e reservando para si a do centro, ser-
vindo-lbe Cardoso dé inimediato. A pouca cavallaría ora
capitaneada por António da Silva.
SenRores do terreao, onde com toda a aniicipaçSo se
haviam forUãcado, resistiram os brasileiros ás repetidas
cargas dos terços bollandezes, que quiçá Geariam victorío-
sos, sem a repugnância que mostraram alguns soldados en
combater por falta de pagamento de seus soldos, chegando
mesmo a largarem vergonhosamente as armas ! (14).
Feia nossa parle tivemos lambem que lamentar^alguma
desordem no começo da acção, proveniente do afan com
que os negros e indios lançaram-se sobre os despojos dos
inimigos mortos-, devendo-se a esta circumstancia a perda
da arlilbería, que bem funesta nos poderia ser.
Ot)ríga-nos o amor da verdade a não omitlir eata parti-
(líi) o coroDel van der Brande, comOMnicando aos Eslados-Geraes
os pormeoores d'es(a batalha, serve-se d'estas lexluaes expressítes :
■ Em geral os ofDciaes se bateram maravilbosamente, porém os
soldados coraporlaram-se como uma matilha do cães tímidos ; o que
de tal modo caosternou-me que o3o posso eocoutral-os sem desviar o
rosto com vergonha. . . » (IKrc, hollandez, tomo IV.;
D,:,,i,;cdtv Google
cubriíiade, na qual po<lerá alguém enxergar alguma cen-
sura ao nosso hi?ròe- Releva, porém, que nos lembremos
que conimandava elFe tropas irregulares, costumadas âs
depredações da guerra sui generis que âotão se fazia em
Pernambuco, e que carecia da força moral, que só dá a
disciplina, para conter seus subordinados. Mas ningoem
lhe contestará qoe n'essa celebre jornada praticou rasgos
de raro valor, e que pelo exemplo, mais do que por pala-
vras, conseguiu levar ao combate os soldados, que sò de
saquear curavam.
Apezar das graves perdas experimeoladas no dia 19 de
Abril (13) e confessadas pelo próprio Segismundo, não foi
bastante decisivo o eiito d'esta batalba; por quanto fica-
ram os holiandezes senhores do campo, ainda que tivessem
d'elle retirar-se durante a noite.
Nenbum peso damos ao calculo dos nossos chronislas,
que contam por milbares o numero dos mortos e feridos
do exercito contrario, antepondo-lhes de boamenteaasser-
rlto dos documentos oITiciaes remettidos ao governo h<ri-
landez, que orçam cm 5,150 onumcro dos morloseSãSos
feridos. Quanto ks nossas perdas, nenhum dado temos para
estimal-«8.
Bastante cortados do ferro pernambucano, sabíram com-
tudo os holiandezes a campo nos dias 21 de Maio e 18 de
Agosto d'esse mesmo anno, sendo sempre recebidos pelos
nossos com seu proverbial valor, e assignalando-se sem-
pre n'ess%s recontros Henrique Dias, desejoso de lavar a
vergonha passageira dos seus no sangue dos contrários.
O dia, porém, em que o valente cabo dos pretos devera
sobre todos assigaalar-se estava bem prosimo; e a aurora
(15) Preferimos esta data : posto que oas partJcipaçQea hollandeias
figure sempre a de 20 de Abril. Encostamos -nos ao UDanime dizer dos
nossrts dirnnistas, rorrnhorado pHn le!;l<>miinho in^iii.speilo de Nptsrher.
Dictzedby Google
- :181 —
de 19 dri Fevereiro de 1C49 saudou-o n'ii3sas i
moDtanbas dos Guararapes. pela Providencia fadadas para
iheatro do denodo brasileiro.
Por ama operação inversa da do aaoo anterior, eram
agora os hollandezes comntandados pelo coronel Van der
Briocke, qae, entrincheirados n' essas monlanbas, então
quasi ioaccessiveis, desafiaram a brarara dos nossos.
Como dois albletas que se contemplam antes de descer
á arena, receiavam ambos os eiercitos empenhar a luta;
e muitas horas se passaram antes que o primeiro tiro fosse
disparado: tomando finalmente por cobardia a prudência
de Barreto, desceu Brincke das alturas, o empenhoo a
batalha em campo raso. Ferida a peleja, ordenou o gew.-
ral portu<!uez aos mestres de campo Vieira e Henrique
Dias que atacassem o boqueirão fortificado e defendido
por sete batalhões. Pôde considerar-se este como o ponto
calmioante de toda a batalha, e será por certo escolhido
por algum Horácio Vernet brasileiro que quizer immorta-
Usar a l«la escolhendo seus assumptos nos nossos glorio-
sos fastos.
Peraambucanos, portuguezes e flamengos bateram-se
com igual encarniçamento: mas avictoria, por multo tem-
po suspensa, bandeou-se para a causa que sombreava o
estandarte da justiça. Completa foi a derrota do axercilo
tde Briacfce, que ingenuamente confessa que, se os nossos
lhe fossem ao encalço, total seria a sua mina (16).
|16) « Aconsternaçtíoc o p.inicoilos nossos [diz elle) [onm Ulo gran-
des,que,se o inimigo, em vez de enlrcgar-se ao saque, preferisse con-
tinuar a perseguir-nos, é am provável, se nlo indubitável mente certo,
qne o restante dos nossos ler-se-iam deixado matar sem oi^r a me-
nor resistência ; porque tugiam snm olhar para traz. (Doe. Iiollandez,
tomo IV.}
TOMO KXXI, r. 1. 49
Dictzedby Google
— ;ia2 —
Cremos piameole, como n'oulrn lugar já dissemois (17).
que à esta assigiMladã viciaria devemaso haver D. JcãoIV
sabido do seu systeota de iiresolução, abandoDando de
ama vez para sempre a política de Jano . Convíoba aitender
isorl0 de Peroambaco, qae qaiçà a si meano sniregoe
por si nesmo decidiria do sâD fularo. Dorou aindaa guerra
cinco anãos, mas visível era o cansaço de ambos os par-
tidos: as guerrilbas, nas qoacs sempre vantajosamente
figurava o nosso beróe, debilitavam as Torças bollandezas,
qae em pr(^ressivo decrescimento caminbavam, porque
a mercadores e não a estadistas estavam confíados seus
destinos: anormal era cada vez mais a situação, e os pró-
prios bollandezes, cônscios de não poderem submetter petas
armas a nossa pátria, anbelavam por acbar meio de com
bonra e vantagem retlrarem-se.
Proporcionou-lhes este ensejo a cbegada da primeira
frota da companhia de commercío do Brasil, commandada
por Pedro Jacqnes de MagalbSes, que, cedendo docemente
ás instancias dos chefes pernambucanos, resolveu ser es-
pectador armado dos seus últimos e gloriosos feitos.
Com a capitatação de Taborda desce o panno sobro o
palco histórico ; desapparecem os protogonistas, que, en-
trando na vida privada, depõem sobre o berço de seus
fílhos os lauréis adquiridos no campo de balatba.
Ninguém mais falia em Henrique Dias: níngnem sabe
como se deslisou a honrada velhice do Srcevola brasileiro,
G' de crer que a consumisse reclamando o pagamento de
atrazados soldos, pedindo indemnisações que nunca che-
(17) Vide o Sronl BoUanáez, Kstudo Hislorieo, lido no Insttlnlo p
puhlif^adfl no lomn \M1I da snn nmiieta.
Dictzedby Google
— 383 —
garam, o deixando ú sua mulber e filhts por udíco legado
a herança de seu nome (18).
Esse nome era oulT'ora aos pósteros traosmilUdo no
de am regimento de homens prelos, que com vantagem
ao paiz serTÍam : incomniodou, porém, isso aos reforma-
dores, que com sacrílego arrojo apagaram mais esse brasão
da nossa Ião moderna e já Ião brilhante historia.
./. C. Fernandes Pinheiro.
(18) HorrwiaS de Junho de 1663 na cidade do Recife, sendo sepul-
tado a custa do Estado do conveolo ilo Sanio António, onde nio testa
noticia, nem signal d'cssa sepultura (Vide Bv>g. dot Poetas Pern. por
.V. J. de Mello . luuoll.pag. Igi.
D,:„l,;cdtv Google
o TENBNTS-OWIEAL BENTO MANOEL RIBBIBO I)}
Vou teolar avocar á memoria dos presentes, daodo-o á
posler idade, o nome de um paolisla. que soou sempre dis-
tíDClo Da guerra do sul, batalhada desde 1816 até l8í!7,
em que termiuou em virtude da conveução preliiuiD ar de
37 do agosto de 18ãS, pactuada enlre o Brasil e asProvio-
cías Unidas do Rio da Prata ; nome tarjado de louros e de
que a pátria se recordará sempre com ufania; uomeqau
também é memorável por vários feitos seus no lidar d'essa
nwolu^ão, que manift'Sli)U-si' na provinda de S- Pedro em
1835, e sem intermitteiicia dunn por dez aunos, marean>
do i>-r:ilKiiin U--m\-i- « liisir> .da li-nldade hereditária dos
- :;i K s<'s ; . eslL^ iiuui. p riuiice á classe militar e á
SU.1 g ona.
Procuro desfarle consagrar, ao menos, uoivoíodere-
mioiscaucia á um amigo e companheiro d'armas,qao desde
' oseu tyrocinio militar, em 1816, ató 1S27 cultivamos rela-
ções amigáveis com a camaradagem da classe, e que, sepa-
randu-nus em 183i , porque o serviço publico levou-me a
diversas proviacias, entrevi mo- nos em 1836, nos dias em
que o general dispanha-se a combater os revolucionários
na tllii do Fanfa, onde foram derrotados.
A bi(^raphia quevou esboçar é de um homem, que o
que foi no mundo o deveu uuicamente à sua espada.
Oleneote-general Bcnlo Manoel Ribeiro nasceu na villa
de Sorocaba, bojo cidade, procedente de ura ramo collate-
ral da família do coronel Bento Manoel de AlmeidaTaes,
(1) Exli-iliimos do ^rcUvo LíUerarw.llevísU Mensal dai^vincude
S. Paulo, a seguinte biographia, devida á laltoriosa peaoa do nosso
saiiduso i'oiiGueiu u Sr. Mucliadu d'01iveiru. *
(Nula da ltedai;ãi>, ;
DictizedbyGoOJ^IC
qne tere aposento n*aquella TíUa, e são seus desceodeoles
os que allí tám esse sobreDome.
Logo qae complotoo os seus prioiãiros estudos e acbou-
ae em idade de viajar, acompaobou para o sul a seu irmão
maisvelbo, ucapilãoGabriel Ríbeiru de Almeida (2), que
também serviu-llie de mbslre na apreodizagem da guerra,
cm qne se adestrara na recuperação das Missões Oríeataes
do Uniguay.
Desapercebida passou a sua vida do Hio-Graude alé á
idade em que teve praça oo r^imeolo de milícias da fron-
teira do Rio-Pardo, conbecido ao depois com o d. 33 de
â* linha ; e com esle regimento, e já no posto de tenente,
marcbou a eocorporar-se á divisão do exercito do sal ao
mando do general Curado, que pouco antes tomara posi-
ção na fronteira do Rio-Pardo, ameaçada por grandes for-
ças de' José Arligas, já invadida a de Missães e posto cm
sitio o povo de S. Borja.
i^o começar essa memorável campanha o tenente Hibeiro
leve por três vezes occasiSo de mostrar praticamente quão
proveitosas lhe foram as líçdes que sobre a guerra, e espe-
cialmente sobre a estratégia, recebera de seu irmfio o ca-
pitSo Gabriel de Almeida.
O primeiro rompimento na fronteira do Rio-Pardo,
feito pelos bandos de Artigaij, foi pela coxitba de Santa
(2J Gabriel Hibeiro de Almeida, nu posto de tenenic tle uiilidas e á
' b«Dte de pouca mais de duzentos Uomcns, dirigiu em pessoa a recoa-
quisla dos sele povos das Missdes Orientaes na província de s, Pedro,
lomando-oa com valor e sapgue-ftio a muís de dois mil paraguaios,
comnuDdados pelo coronel Espindula. Foi a Lisboa como portador
dos seus seiviços bem recommeodados pelo governador d'aiiuella pro-
vncia, e leve em recott^iua o posto de capitão de milícias e o habito
de Gbrislo.
(V. fíevislado brstHiií') llistoríi:') •: Oeo<jrti]íhiiv Brasileiív, vol. \.
m- 3-)
D,:„l,;cdtvG00J^le
— ;(8G —
Anaa, e no intuilo de aucar a divisão do general Corado,
que bavia pouco occupára u campo do Ibirapaiian-Chico ;
e para affrontar aquellas forças destacoa o general algnns
esquadrões da divisão, conleodo o numero de mais do tre-
zentas praças, havendo entre esta força e a do inimigo, du-
plamente maior, um recontro, em' que foi este complela-
mente derrotado.
Em seguida, e para obstar que a coliimna do coronel
Abreu, retirando-se de Missões depois que o seu território
foi tomado ao poder do inimigo, se reunisse ã divisão do
general Curado, o inimigo distrahíu de si a força de oito-
centos bomens, entregando-a ao mando de Verdum, que
tomou posição em Ibiraocay comu o ponto mais adequado
para interceptar aquella juncf^So. Contra semelhante len-
latíva expediu-se da divisão uma columnade quatrocentos
c oitenta pra^^s combinada das três armas, que marchou
contra o inimigo, o o desbaratou no seu próprio campo.
Com a retirada da columoa que derrotara o inimigo u^
lbiraocay,tiCom;i certeza dequeseapproxímavaaocampo
da divisão a do commando do coronel Abreu, retirando-se
de Missões, apresenlou-se ensejo favorável para tomar a
ulTeosiva cunlra o inimigo, acommetlendo o mais forte
dos seus alojamentos, sem enfraquecer numeriuameulc a
divisão, u que anlcs se não dera. Ur};anisada, pois, uma
culumua de setecentos u sessenta praças, dada ao com-
maudo do brigadeiro Oliveira Alvares, marchou contra o
inimigo, furlti de mil o quinhentos hoiQuns de cavatlaria,
dando-lhe combate no campo de Carumbé, eahi o derrotou
inteiramente, poodo-o em debandadacom perda de seis-
centos mortos.
N'estes trus coinbates, de que sahiram victoriosas as
tropas brasileiras, o nomu do tenente Bento Manoel Ribeiro
v(3-sc honrosamente iissignalatto com distinc^ãu nas parli-
DictzedbyGoOglC
— 387 —
cípa$5es feitas ão geaeral commandantc da díTisão pelos
chefes qae os dirigiram (3). Serviram-lbe como de Dobre
tfrociDio na carreira de gloria, qae percorrea n'essa e nas
sabseqnentes campaobas havidas no sai.
Abandaoada a fronteira brasileira pelo inimigo, relirou'
se esta para o território de Montevideo, e abrigado pelas
matas do Arapeby renoin alli todas as snas forças, arras-
tando para engrosSal-as os homens d'aqnella praça e do
interior que podiam pegar em armas.
O general Corado, qoe n3o tinba por completas as três
derrotas do inimigo qoe invadira a fronteira brasileira,
vendo-a ainda ameaçada com a coacentraçào das forças
contrarias em Arapeby, fez a divisão transpor a iinba coa-
Gnante, estabelecendo oseu campo janto ao arroio Catalan.
D'abi destacou oi coronel José de Abreu com uma colnmna
de s^isceDtas praças com o Gm de reconhecer a posição
do inimigo, e investíl-o logo que visse que as suas forças
nSo comportassem a necessidade de marchar para alli a
divisão.
Artigas, sabendo que a divido brasileira marchara da
saa fronteira, procurou evitar o seu encontro abrindo de si
o maior troço das suas forças, que as entregou ao caudilho
LaTorre, ordenando-lhe qne atodo n transe se arrojasse
á divisão, certo de qne, em mão logro, ia-seotriumphoda
sua causa.
A 4 de Janeiro de 1817 foi o campo da divisão investido
de todos os lados por La Torreai leslade Ires mil e quatro-
centos homens ; mas a bravura das tropas brasileiras,
apezar de serem inferiores em numero ás forças inimigas,
e oaoxilio, qne não era esperado, da columna de Abreu, a
qual, concluído o desbarato de Artigas em seu alojamento
(3) Hfristn do /»<(íÍH/n : vol. 7. [WR. 322.
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- »w -
de Arap^y, Toi mui presla em volver aocaropod» dhísSo,
Teacendo com a saa infantaria doze tegoas em oito horas, ~
deram ao paiz om dia de gloria, e ao inimigo a ahima li-
ção de qoe nãose podia medir com as tropas brasileiras,
a despeito da soperioridade numérica das soas forcas.
Ma batalha de Calalan deu o tenente Ril)eiro mais provas
e mai significativas do sen valor e disceroimenlo militsr, e
de qoe om fatoro de victorias o aguardava. Cam o seu
corpo, que formava a linha esquerda da divisão, por oode
começou o iaimigo a sua mais impetuosa investida, foi este
levado de rojo, desaffjrontaodo o flanco esquerdo do campo
quisi compromettido. Sen nome acha-se distincto na or-
dem do dia ao eiercíto, como o fora nas acções preceden-
tes, sendo ao mesmo tempo elevadaao posto de capitão (4).
Evacuado, como ficadito, o território brasileiro, e livre
a fronteira da acção infensa das hostes inimigas, qoe cor-
reram a abrigar-se na margem esquerda do Urugoay, para
alli marchou a divisão do general Cerado, não dando por
lerminada a lata em que se empenhou sem que visse com-
pletamante aniquilado o inimigo.
Dnrante esse movimento soube o general qae na povoa-:
ção de Belém, á mai^em esquerda do Urugoay, postár^-se
alguma força inimiga por ordem de Art^as, para swir de
nocleo ao recrutamento, que fazia-se no lado direito do.
Urnguay.
Não convinha deixar essa força em tal posição, que
ameaçava a fronteira pela liahado Quaraby, e para a(acal-a
fo) mandado o capitão Ribeiro com uma partida de noventa
praças, que, acommettendo o inimigo em 15 de Setembro
de 1817,0 derrotou, cabindo prisioneire ú coronel Verdim
e trezentos homens do seu commando.
(d) ReKÍsta do hiMIuto vol. 7 pag. 339.
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i pdr Arligas em 1818 os Bbefes eolre-riaoos
Aguiar, Baatírefle Aedo a partilharem a soa cansa, tomando
por prindpal empreza o defender-se a cooqoista do Estado
Oriental, iavadldo pelo interior pela divisio do general
Ôirado, e occapada a praça de Hooterldéo peia divisão la-
sitana ; deram-se aquelles chefes à ronoiSo de homens que
podiam serTir para lai fim, concealrando estes na margem
direita do Umgnay, e em ponto qae,. transpondo o rio,
Itadessem investir á divisão já oocnpando a sna margem es-
querda. Constou isto ao general Corado, qae, aDticipando-se
á passagem do ioimigo, que já dispunha da Torça de oito-
ceatos homens,expedia o capitão Ribeirocomquatrocantos
praoas do iofantaria transportadas pela esquadrilha doUm-
gDay, o qoal fazendo o seu desembarqne em ponto corres-
pondente aocampo do inimigo, atacoo^o e o derrotou, ca-
híndo prisioneiros os dois cabecilhas Ramires e Aedo, e
mids trezentos e trinta homens das snas forças, tomando-
Ihe qnatro peças de arUlhería,annamento,nma canhoneira,
treze biales e grande porção de munições de guerra.
Com o intuito de evitar a sua ultima mina tentou Arti-
gas dar o extremo golpe de mSo sobre a divisão do género
Curado, qne tao fatal lhe houvera sido ; e com este fim
pôde chamar a si Frncto Rivera. eheffe de grande nomeada
no Estado Oriental, e, entregaado-lbe as forças que lhe
restavas, o impelliu a ir affroatar a divisão, já occupando
a aaai^em esquerda dO Uroguay em S. José.
Advertido o general Corado da nova tentativa do inimigo,
deu o commando de seiscentos praças a Ribeiro, qne tinha
subido ao posto de tenente-coronel, fazendo-ibe sentir a
necessidade de nm recontro com Rivera.
Era a primara vez que iam acbar-se em frente um do
outro estes dois chefes contrários, valentes, experimenta-
dos na gueira do paiz, e amestrados nos ardis e evolnç^
TOMO XXXI, P. I. so
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Mtniegicas ; e, eomqoaato assim, o brasileiro sobrepajoo
o oriental, approximaQdo-se aqtuUe desapercebidamenle
ao campo loimigo assentado no Arroio Grande, e sarpre-
heodeodo-o com impetaosidade a ponto de cabir em der-
rota com perda de mnítos mortos e prisioneiros.
D'este combale, o ultimo dos que foram dados pela âi-
lísSo do general Corado, boave dois resultados, qae
se podem ctassíãcar em bom e máo : aqaelle esteve no com-
pleto aniquilamento das hostes de José irtigas, qae de^
pois do oitimo combate procaroa am effi^io no Paraguay,
onde só aebOQ prisão e bárbaro ostracismo -, e o oatro nn
eog^amento de Fructo Rirera para o serviço do exercito
brasileiro, onde recebeu díslincções e premios.que de oada
serviram para nullifíear sua iodole versátil e traiçoeira,
como mais abaixo se verá.
Postas as cansas da guerra do snl D'e8te estado, esteve
em repouso desde I8i9 até 1825 o prestante serviço mili-
tar de Bento Manoel Ribeiro, que fdra elevado ao posto de
corooel de 2.' linha, e pouco depois transferido D'esse
posto para o estado-maior do exercito, como compensação
do seu mérito e distinctos serviços que presl&ra na guerra.
Houvera em 1825 a revolta da Cisplalina, oulr'ora Es-
tado Oriental do Uraguay, e. então encorporada ao Brar
sil só a effeito da espontânea deliberação e poderosa von-
tade do general Fructo Rivera.
U brado da revolta e o movimento da maior parle das
tropas que guaroeciaaa a província de S. Pedro e marcha-
vam paraalli tendo á sua frente o commaodante das armas
o general barlo do Serro-Largo ; esse grito de leva bro-
queis contra um paíz arrancado ao bárbaro poderio de Ar-
tigas por tropas brasileiras, e por expressa vontade sua
eocorporado ao Brasil, soou no retiro em que se achava o
coronel Ribeiro, e a elle acQdia ligeiro como lhe soia.
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— 3M —
Já bavia eolrado no território de Monlevidéo a divisão
expedicionária commandada pelo general barão do Serro*
Lai^, qaando a esle apresentua-se o eoronel Ribeiro para
servir sob soas ordens ; mas, como ao barão recommen-
dasse o commandante em chefe do exercito do sul, vis-
conde da Laguna, qae oão convinha abandonar a lioba do '
Rio-Negrõ, onde estava a divisão, pois qne por ahí podiam
os sablevados ter fáceis soccorros do interior, e da mai^em
direita do Umgaay, não pAde o coronel Bibeiro cooter-se
com o animo em que se achava de prestar serviços à rei-
vindicação da Cisplatina, seu antigo tbeatro de victorias, e
com este intoito dirigiii-se i praça de Honlevidéo,apres«i-
taodo-se alli ao commandante em chefe do exercito, qae,
teodo em lembrança os seus antigos feitos d'arma8, o rece-
bera com muito aprazimeoto, dando-lbe logo o commando
de nma brigada de cavallaria forte de mil praças, que
devia ser reforçada com oatra de igual força, qae mar-
chara da fronteira do Rio^írande ao mando do coronel
Bento Gonçalves da Silva.
Poi tal o reiardjmealo da brigada commandada pelo co-
ronel Bento Gunçalves, e tal o açodamento do coronel Bi-
beiro em ir medir-se com o inimigo, que rompeu este da
fhçi sem mais esperar aqoella brigada, marchando na
direcção de Darasao, onde estavam reunidas as forças ini-
migas em' numero de dois mil « quinhentos homens tob o
commando de Lavallega, com o fim de pôr sitio á praça de
Montevideo.
N'esle coraeoos Fracto Rivera abandonou com disfarce
o serviço do Brasil, arrastando comsigo atraiçoadamente o
regimeotQ da União que commandava, forte de mil praças,
cajá mór parle era de soldados brasileiros e de rebaixados
da. divisAo lusitana, uníDdo-se ao caudilho da sublevado,
que, emquanto alo reconheceu a sua lealdade n'aqaell&
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- J»8 —
passo, e com bastante expnieDcia dos seas ardis e vdnln-
lidade, o reteve em Cerros.
■ iDseieate o coronet Ribeiro da defecção de Fnicto, afouto
marchava ao íDÍmigo, e sôfrego de aeooimeUAl-o, altft*
raodo as ordeos que linha de. emqoanto se lhe nSo rea-
Qíssea brigada do coronel Bento OonçalTes, tiraitasse suas
operações no reconhecimento das forças contrarias e da
soa posição fixa. Em 13 de Ontuhro de tSSB achoo-ae em
frente do inimigo, qae simaloa uma petpiena força em
Unha dos quatro mil homens qne tinha, a maior parle <do8
quaes estava esooberta, nas matas do arroio Saraody. Não
trepidOQ o coronel Ribeiro em investir à Unha qoe tinba
à vjslá. e só depois do primeiro recontro, com o appareci-
mentodas forças encobertas reconheoea a grande soperiO'
dade numérica do inimigo \ mas já não era tempo de r»-
4»are nem isso era consentâneo com os seos brios; só
entSo foi-lbe patente a defecção de Fmcto Rivera, qne se
bandeara para o inimigo com os rotl homens que comraaii-
dava, pagando assim antigos e valiosos favores qne Ibe
lat^neára o governo do Brasil, e a implícita confiança qoe
lhe depositou o visconde da Lagana,aquem trouxe sempre
illudido.
D'es8e acto de precIpitaçSodo coronel Ribeiro, que pôde
ser cobonesiado com o não conhecimento das forças in-
teiras do inimigo, e, quando não, por um hnpalsóde valor,
qoe lhe era peculiar vendo anta si hostes inimigas, e âes
aquellas que por vezes debelUra, segaio^e o destroco da
sua brigada, qae quasí toda cahiu pnsíoo^ra por ver-se
envolvida com a linha inimiga, retirando-se o coronel com
poaGosdosseus à4ivisão do barão do Serro-Lai^, qne
retrocedia da linha do Rio-Negro, visto como a revolta da
Cisplatina tinha attingido amplas prt^orçSes no iitorior.
A espada sempre vencedora de Beato Manoel Ribeiro
D,:„l,;cdtv Google
D,i.,.db, Google
- 384 —
HõOTe encoDtro com essa colamoa e com elU traTou
combftte a 1* brigada ligeira, seodo aqoella derrotada
e repellida para além da frooteira ; e o commaodaale da
1* brigada, qoe ajanlOD esta Tictoria a oatras qoe tanto
o distibgairam na goerra, retrogradou Ic^o do Ibi-
cuby paracoltocar-seemap|)roxima(3oao exercito, apres-
sando soas marcbas por lhe constar qai ia este cmpenbar-
se em acção como inimigo; mas, comqaanto accelerasse
a saa retirada, e ainda mais oavindo de moito longe a
canhonada da batalha de 30 de FeTereíro do passo do Ro-
sário sò na noite de 21 é que pôde chegar ao arroio Ca-
eeqay, dístaote oito léguas d'aqaelle passo, e abi Tez alto
por saber qne o exercito para alli se retirava.
A a de Perereiro rennia-se ao exercito a 1* brigada
ligeira, e iodo aqueile acampar-se na margem direita
doJacahy, deixoaasaa «avallaría emS. Sepé, de oode
marchou para a fronteira do Rio-Grande.
Pôde dizer-se qne a batalha de 30 de Fevereiro de 1827
pAz termo á guerra do sul, suscitada pela questão da se-
paração da Cisplalina ; termo subsequentemente pactuado
entre o Brasil e as proviocias unidas do Rio da Prata pela
convenção de 27 de Agosto d'aquelle anno. D'aqaella epo-
cba em diante os exercilos belllgerantes osteotaram-se em
movimentos estratégicos para a fronteira do Rio-Grande,
sem qne se approximassem às raias confinantes entre f»
dois territórios.
O exercito brasileiro decampou do Jacuby, indo pos-
tar-se DO rincão do Leiva d'aqnella fronteira, e o argen-
tino, largando o campo do rio Jy, que occopava retiran-
do-se da batalha do passo do Rosário, tomou posição nos
campos do Serro-Lai^o. Sosteram-se as hoslilidades en-
tre 09 dois exércitos por armistício que precedeu á con-
venção de 27 de Agosto, e o brasileiro foi desmembrado
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— 3K —
em corpos, qae mandiaraai para os sens respectivos ^nar^
teis.
Do movimento revolacioiíario qae doroo na proTiocia
de S, Pedro dez anãos ( de 1835 a 184& ], e qae algqns o
alcoobaram de rebetliSo sõ por lhe fazer injariat indevída-
mei^te, porque apenas foi n'elte envolTída ama íticçso
da popDliicSo daproriDcia, estando esta longe de alterar
as formulas goveraament^es adoptadas ; e esse moTímento
foi posto em perpetuo esquecimento pela alia maniScen-
cia do imperante. D'etle, em que só ÍDlervieram, por
èonra dos rio-grandenses, alguns grupos da classe prole-
tária, d'es8a força brutal operante qoe irreflectidamente
accede a transbordamentos, trarei para esta bíngrapbia os
trechos que possam dar luz á narrativa dos feitos du coro-
nel Ribeiro n'esse movimento, e pelo teor da prat'ca pre-
cedentemente seguida na exposição dos combates da guerra
do sul, em que Ribeiro teve parte-
Eatre os motivos com que se procurou cobonestar esse
movimento foi o dadestituiçãodo coronel Ribeiro docom-
mando da fronteira do Rio-Pardo, s& fundada em falsas
aprebençMs {ã) ; e com quanto fosse estraobavel ao com*
mandante essa caprichosa destíluicSo, não a apreciou, toda-
via, como emergência que actuasse em seu animo cava-
Iheiroso para fazer cansa commnm com o movimento, em-
bora considerado fosse como nm distincto e brioso velerano
do exercito; filando um passado tão cheio de honra e vic-
torias. Foram os seus amigos que puzeram em relevo esse
aclo imprudente da presidência da provinda quando ao
próprio dAnittido lhe fora indilTerente ; n3o antorisando
para que se pense o contrario o haver Ribero adherído á
(S) ViicotHle de S. Leopoldo. •Aiman da procinew de S. Peàro:
letra E, pag. 367.
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nvotafi» em sw cioeco, j^oriu a isw o pafigio, bem
como a OQtros maihw, oi desouDdoa do goveroo (6).
E' ama rerdale aatbeatieuU por hebot que o govoao
da proTiaeia «n ?ex de amsaltar soa consdeocia joBta e
recoDhecidamenie benigiu, era para « gonrucão da pro-
viaeia actuado por orna forca irueÍTelr eatraola e iirea-
poosavel. por om aaimo pojaote para Tiodidis, qae por
mais de nma vez arredio o bom senso e brio proverbial
áa$ rio-graodeoses, loTando-os por fim ao rompimento
de 1836.
O coroDel Ribeiro* pronanciando-se pela reTolaçSo,
reoDia-se a Bento GooçalTes, qoe a tinba promoTído e a
expandira por algoas (Ustrletos do interior ; e estere cos
este algans dias sem tomar a menor parte na gerência do
Borimento, e nem aatorisar para os seos actos com o hon-
roso conceito pnblico qae gozara.
Este concurso doroo pouco porque, sobstttaida a pre^
deocia da proTincia pelo Dr. A. Ribeiro, e negando-se a
este o tomar posse na capital, assumiu-a na cidade do Rlo-
Grande» Semelhante infundado procedimento, e actos pra-
ticados peh» pevolacionaríos, nns f íotentos e outros em
TÍngança de anUgas derrotas no campo da politica, Íi(cati-<^
ram do animo do coronel Ribeiro desconfianças, que o
tempo oonverteQ em verdade ; e este, deiíando a cansa da
revolução, offerecea seos serviços ao novo presidente, qu»
08 aceitou de bom grado; e dando-lbe o commando das ar-
mas da provincia o incombin da rraniSo de forças para
auxilio da capital, qoe se achara em silio posto pele» r^
volucionarios e ella mesma em poder d'estes.
A presença do coronel Ribeiro nos arredores da capital,
i frente da guarda nacional, qne pAde alli reunir, animou
(6) (An «itada, letra E, pag. 361.
D,:„l,;cdtvG00J^IC
— 197 —
a livípa qu>Vri;si<1ia nà ciiladè a lomai
sitiantes, poodu em captura e depori
nsoilos cidadãos por sapposta cOQBiven
múvimeBto. Para esta reacção, havida
1836, concorreu a approximaçao & es
coronet Ribeiro.
Parece que tião é inopportuno poc
qne a revoluçãoda proviacia de S. Pei
ria, se a principio a comprimissem coi
da proviacia não envolvidos oo movim
se ioflueocias perniciosas e Torças ef
concurso mais se exacerbaram os auini
em quem rumorejavam cada dia recrím'
cavam, e ainda sujeitos ao predomíni
çõesde rivalidade politica. Assim, esp
revolução por dez aonos.
K parte sensata e mais prestigiosa dii
vincia por sua posição e abastança não
mento, e ainda que foi ella sempre resF
cias da luta a despeito da reprovação q
com zelo lamaria a si a ostensiva repr
si ou por seus adhereutes, se lhe depc
que implicilamenle se Ibe negou, cb
balâl-a Torças mercenárias eforastein
se a Dão considerassem como embaída
lucionarío. Ella apparecería em cam|i
puudoDorde brasileiro, por certo rept
veadilhSes forasteiros, e de míseraveíi
a baila cbatinagc, que formavam qua
fileiras dos qoe debellavam a revoluçã
Em tod^ as povoações da proviaci
numero d'e$scs homens, que, uBiodo \
(lisassisameoto de se lhes dar armas
lOltO XIM. P. 1.
Dictzedby Google
ousados prenleciam-se d'esse infeliz ens(>jo pan osteoU-
rem aDímadversões e iosaltaosa arrogância rom vis apodos
e eoDTÍcios ronira os filhos do paiz ; para, com ignóbil
«sceodencia sobre a aatorídade poblíca, pondo-a em coac-
çio, disporem a sen bel-prazer do maodo goTernalíro.
Procedimentos d'esta ordem havidos á mioha vista, e sabi-
bos por mim oa capital e na cidade do Rio-Grande, aoto-
risam o meodito.
Aa forças dissidentes qne sitiavam a capital, para se
d3o acharem entre dois fogos, pois que o coronel Riheiro
marchava sobre eUas,e a tropa da reacção preparava-se para
a offensiva, retiraram-se apressadamente prncaraodo apoio
DO rio Cahy, qne em segnida o Iranspnzeram lomaodo
posiçio entre este rio e o Taquary.
No encalço d'es8as forcas foi o coronel Ribeiro «om a
tropa da capital e gnarda nacional que pAde reunir, oqae
presentido por ellas e depois de pequenos recontros sem
êxito, procuraram o abrigo da ilha do Fanfa no rio Jacuh;,
DO intuito de transporem o rio para a sua margem direita
e dirigirem-se para o interior.
O coronel Ribeiro cliamou para alli a esquadrilha de
Greenfell, afim de interceptar aos revolucionários a passa-
gem do rio, e coro a certeza d'essa medida acommetteu-os
dearraocada, não encontrando-lbes resistência; e todos se
entregaram á discrição com o seu commandante o coronel
Bento Gonçalves, que foi conservado preso abordo da es-
quadrilha, e d'alli transferido para as prisões da Bahia.
Na capital desembarcaram o italiano Zambioari e um
medico francez, que serviram com os revolucionários, o
que sabido peta intima gentalha portugueza, seriam victí-
mas do seu apedrejamento, se oão lhes sahisse ao encontro
o próprio presideote da província. *
Conforme as ordens dadas ao coronel Itibeíro, os dissi-
Dictzedby Google
— J99 —
dentes qae depuzeram as urmas aa ilba do Fanfa foram
laicos á vonUde, depois de juramentados de abandona-
rem a cansa qoe até alU seguiam. O official, porém, que
presidiu a esse acto, recobrando insultos que lhe era usual,
infringindo cobardemente as ordens que recebera do co-
ronel Ribeiro e do commandanle da esquadrilha, aalguns
nHo dispensou da prisfio, e não poupava injurias e chas-
cos de ribeirinho aos officiaes que alli compareciam.
Pela derrota dos revolucionários na ilha du Fanfa foi Ri-
beiro promovido a brigadeiro e reintegrado no commando
das armas da província ; e para melhor exercél-o partiu
para o interior a robustecer a opinião favorável ao governo,
qne até aquella derrota vacillava, e a dissuadir os dissiden-
tes de novas tentativas no sentido da revolução, exempli-
ficando o seu dito com a derrota do Fanfa e a prisão de
Bento Gonçalves.
EnlSo ;ipresentou-ae situação azada para chamar á ordem
e ao regimen constitucional os desavindos por sobre os
quaes lavrava o desanimo pelos desbaratos experimentados
e pela privação do seu c^efe, e o remordímenlo peta de-
cadência da opulenta província de S. Pedro posta porelles.
O regenlo Feijó não desapercebeu-se il'ella, e com essa
intenção começou por nomear para presidira província de
S. Pedro a Feliciano Nunes Pires, homem de reconhecida
moderação, bastanle illuslrado e bem conhecido tia pro-
víncia, onde residia desde sua infância, e por ella eleito
deputado ao corpo legislativo, e pelo governo onlenou-se
ao general Ribeiro, que se dirigisse para o interior da
proTÍncia, sendo ahi o sen primeiro empenho conciliar os
ânimos chamando a uma cuncurdía geral e segura os rios-
grandenses divorciados por opiniões politicas.
RccummeudaçÕ>;s por esse teor foram feitas aos presi-
Dictzedby Google
— w» —
deatesdas proviocias que coDfinaincoma deS. Pedro (7),
sabeodo-se que para ellas correram muitos dos que se
baviam envolvido na lata rerolncioDaría : mas, hnríados
foram todos os esforços do governo para que essa tala ti-
vesse termo, e mallogradoo afan em que n'esse seatido li-
dava o general Ribeiro.
O goveroo tÍDba em Treole ama obstinada e facciosa op-
posiçSo, que se encastcltàra do senado, opposição que
tinba por base uma política tacanha, p, toda pessoa, e a
que d9o pAdo resistir o regeate dando sua demissão, a
despeito de ter por si a consciência publica, abroqaelado
de om civismo puro de vicíos políticos, e praticando abne-
gações que Denbum dos seus adversários podiu imitar ;
e o general Ribeiro foi compellido a affrontar o brutal tra-
tamento do presidente da província que substituíra ao
Dr. Araújo Ribeiro, qae pedira sua demissão.
O primeiro acto do dovo presidente, o brigadeiro An-
tero José Ferreira de Brilo, homem de mais pbilaucia do
que discernimento, de mais inepci^ do que illustração,
desmentindo na pratica o inslinclo administrativo que in-
culcava; o inicio da sua presidência foi obrigar a qae o
seu prudente e circumspeuto antecessor se recolhesse preso
ácArte, pondo-oobsedlado alé i sua retirada da capital.
A isso seguiu-se o dirigir re claoiaçOes a vários presidentes
de províncias exigindo a cxlr.idiçno pant a de S. Pedro,
d'aqaclles aquém alcunhava com o csiigma de criminosos,
(7) PreBJdindn A provincia de Santa Calharína, live recommenda-
ç5es do digno ministro da juBlica, o Sr. Monlezuma, hoje visconde de
Jequitinhonha, para que fossem aceitos, e alli conservados emquanlo
se mantivessem na ordem c não comprouKtlessem a seguram^a pu-
blica, os indivíduos egressos do poder dos revolucionários ; pois que
eram bmsileiros desilludidos que deviam eiiconlrai- favuravcl iu:olhi-
mento da parte dos deiensores da Icsalidadv.
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— 401 —
que deviam ser atirados d como bestas ferozes e tiwíofflH-
veis {6), \MT havertíni esUdn ao serri^o dos rebeldes, &
qoe para fu^irtíra a perseguires e a iosullos ignomÍDiosos,
ratírardm-se daproriociiiilepois de serem índollados, pro-
curando D'oQlra8 um asylo á segurança pessoal, o esqueci-
mento da vida politica que baviam renunciado.
Requintou porém a insensatez do pr<.'sideQle no facto
àtí, demiitindoo general Ribeiro do commando das armas,
que seoccupava com lealdade no interior da província a
apaziguar os aaimos dos que se irrítitram pelo não cum-
primento do indulto concedido aos dissidentes depois da
batalhado Fanfa, ordenar-lhe que quanto antes se apre-
senlasse na capital; o sem esperar o cumprimento d'esta
ordem rompeu d'alli seguido de numerosa força armada,
com o Qm de ir ao euconlro do general e Irazel-o preso
comsígo-
O general foi com alguma antecedência avisado da es-
tulta intcnsão do presidente.e acercando-se de algumas for-
ça& dos revolucionários que vagavam no interior, dispAz-si:
a esperar o presidente nu passo de Tapevi, e n'esse lugar o
atacou em 23 de Uarçode 1837, afugeoton as furi-^as que o
escoltavam, e o reteve preso em seu poder por quasi Ires
mezes, trazendo-oapós si nas marclias que fazia.
Com semelhante desassisaJa provocado ao tempo quo
Ribeiro com dediração c esmero empregava-sp nn com-
pleta pacificação da provinct», aconselhando ans dissiden-
tes, de novo irritados pelo feroz procedimento das forçiis
do governo assestadas pelo presidente, qoe abandonassem
uma causa que não podia prcvalcnT cumo contraria ao
pensamento da grande mai^irín d:i província, foi o general
(81 l>ropri<is|>flluvras do jircãjilfni'- iriin<<i iirufluniN^Su Hirígidii ás
Iropasilo govcmo.
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cuiiipellido a adoptar uuira vez essa causa, e prestar-4be
seus serviços.
Obrigado assim Hibeiro a sabir a rampo á frente defor-
mas que espontaneaiDvnle se lhe rouDiram, (ui o seu pri-
meiro r«itod'aroias itiTeslir a 8 de Abril d'aquelle anuo a
TÍilade Caçapava, guarnecida cum um balalbão e dois es-
quadrões de linha, desbaratando essa furça, que cahiu em
sen poder, mandando-a livremente para a tapilal.
O coronel Bento tionçalvcs evadira-se da prisão da
Bahia, e, apitarecendo na provincia de S. Pedro, reassu-
mira a sua autoridade, pondo-seá frente da revolnçã», e
das furças pastadas nus subúrbios da capital, que empre-
hendiam ligeiramentu ataques pareiaes, o mais (orle dos
quaes foi o da villa do norte, que defundeu-se heroicuraeole,
pondo em derrota e retirada as (orças coulrarias.
O general Ribeiru,duiioÍs da tomada deCaçapava,deu-se
a percorrer o interior da província, persuToraudo ua idèa
de chamará concordiíi os dissidentes d'aili ; persuadindo-
os com a intimativa imponente quu lhe inspiravam seus
feitos d'armas a disisiirem da lula, com a qual sacrificava-
se o bom-estar da pruvincia. Com este propósito encami-
iibou-se á fazenda de um amigo seu. que podia cuadjuvul-o
em sua missão conciliadora ; o como fosse avisado qae
estava alli a cbugar com um troço de homens armados o
mareclial fíebastião Barreio, commandante das armas da
província, andando na diligencia de reunir as forças gover-
nativas, Hibeiro teve de retírar-se logo da fazenda, pois
que linba só por compaohia seu lilho, Dr. Sebastião Ri-
beiro.
Existia entre o general Ribeiro e o marechal Barreto
rivalidade que chamarei histórica, começada desde o tempo
em que aquelle principiou a colher os louros da vicloria
na guerra do sul, o que ralava ao uulro, mascarando-a
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— 463 —
sempre com appareDledissiiBnlação. Rivalidade, quít tam-
bém era Tívaz, e sempre eocoberta por Barreio, e com a
mesma origem, enire estee o general harão do Serro>
Largo (9).
Aquella rivalidade só foi reconhecida pelo general Bi-
beiro, quando soobe que a sua deslituição du commando
da fronteira do Rio-Pardo, (Ara promovida instantemente
pelo seu rancoroso adversário, que estava eni muita inti-
midade com o presidente da província, e foi esse injusto
rebaixamento uma das causas rdlegadas que prepondenram
para a revolução na província.
Chegando o marechal Barreio áquella fazenda, soube
que Ribeiro retirára-se d'alli Ãsua approximação. Imme-
dialameote fez partir uma escolta em seu seguimento, or-
denando-lbequelhe fizesse fogo. A escolta atírou-o, como
o visse cahirconvenceu-se que o tinha assassinado, en'essa
persuasão ficou o commaodante das armas
Ribeiro, ferido por duas balas , rctirou-se para a mais
proiima fazenda de um amigo seu, que preveniu a sua se-
gurança chamando para alli for^-as que o puzessem a salvo
de nova aggressão do seu cobarde e Irairoeiro adversário.
Em presença de tão feroz attentado, impossivel se lor>
DOO essa missão conciliadora do general Ribeiro; dando
de m9oaella, elogo que sentin-se em estado de resistir
ãs fadigas do campo, tratou de chamar a si as forças revo-
lucionarias, que prestes ncudíiam sabendo do ialentado
assassinato do general. A' testa d'essas forças, dirigiu-se
este para a cidade do Rio-Fardo, por lhe constar que alli
se faria juucção de todas as tropaíi do governo, destinadas
ahostilisar no interior dj provincia as forças contrarias,
como insistia o commandanto das armas.
(9) Hevtsta do lattiMo Butorieo e Gfogrúpbieo BrasUeirv, ' vol. 33,
psg. 541.
DictizedbyGoOJ^Ic
- t04 —
Com ofleito, o novo presidenUi da província, marechal
Elísiario, déra-se iaconsidoradamenle a esse plano ; e or-
gaDJaando d'essas Iropas anna divisão, deu ao commaDdo
do marechal Barreto.
Esta dÍTÍsSo, com a Torça de mil e duzentas praças, divi-
dida em daas brigadas, ama, ao mando do brigadeiro (Lal-
deroD, c outra, ao do coronel Lisboa, marchou por terra
para o Rio-Pardo, e olli acbou-se em 20 de Abri) de 1838,
encantoada nos subúrbios da cidade, e parecendo bem es-
paldada pelo rincão d'el-rei, e pelo rio que lhe corre nas
abas, persuadindo-se o commandante da divisão, que
ficava nssim guardado de qualquer acommetlimenlo que
se lhe fizesse ; sem se recordar que o forte das manobras
do general Ribeiro em frente do inimigo era a sorpresa,
sem ler conSan^a nas tropas que commandava, disciplina-
das e dispostas a lodo o transe, para fazel-assahir do re-
canto da cidade, e collocal-as em presença dos revolucio-
nários, que apenas continham metads das tropas do
governo.
O rio foi vadeado ii'uma noite pelos revolucionários, sem
que conir.) isso se premunisse o commandanle da divisão,
e oem de tal desse fé; e na antemanhã de 30 de Abril,
atravessado o rincão, cahiram sobre a descuidada divisão,
que foi derrotada e posta em fuga para o interior da ci-
dade com niio pequena perda de fnorlos, entre estes o co-
ronel Lisboa, que portou-se com bravura, sendo apprehen-
dido bastante armamento, munições de guerra e numerosa
cavalhada.
Elloctnado este golpe de mão, marchou o general Ri-
beiro em direção ao rio Cahy para impedir que se unissem
á divisão de Darrelo os reforços que partiam da capital ; e
sabendo que no passo do Contrato d'esse rio acbavam-se
duas canhoneiras relidas á espera do presidente riisiario. e
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— 466 —
alguns officiaes que se retiravam do Rio-Pardo. depois da
derrota da divisão, foram ellas tomadas sem resisteacia, e
postas em poder dos revolucionários. Ena seguida partiu o
general para o interior da provinda, visto que o coronel
Bento (lonçalves reapparecdra á frente dos revolucionários,
qóe haviam assentado campo nas immediações da capital,'
O reapparecimeDtodo Bento Gonçalves à testa da revolu-
cSodo Rio-Grande, tronxe-lhe princípios políticos, que
não eram consentâneos com as convicções dos seus habitan-
tes, e nem roramaceitos.no começo do movimento. O regi-
men puramente democrático, em vez do monarcbico constj-
tacional que se achava lirmado no BrasiUfoi aquelle propa-,
lado por Bento Gonçalves, oa fosse por magoado de trai-
ções e padecimentos que soffréra, cahindo nos ferros do
poder, depois da batalha do Fanfa, oa por promessas feitas
aos que coadjuvaram a sua evasão das prisões da Bahia.
E' certo que a nova propaganda politica não podia dei-
xar de ser bem acolhida pelos qni; estavam em Immediata
connexão com a origem de onde partira. Não podiam des-
prezal-a os qne sempre com aroia em punho, caminhando
pertinazmente na senda de perigosos comprometttmenlos,
e sentindo-se como pervertidos por ama idéa falsa; e
assim, entregaram-se irreflectidamente a ella, e deram-se
a soslental-a. Mas, é lambem certo, que esta innovação
no systema politico adoptado tão conscienciosamenle pela
província e n'ella robastecido, incaiida por meio das armas,
sã podia ser aceita por esses desavinhos, que, não como
boment perdidos, como os chamou ama voz no senado,
mas levados por insinuações erróneas, tomaram o falso
pelo verdadeiro. Seria como o foi, repudiada pela maio-
ria sizuda e illustrada dos rio-grandenses.
O general Ribeiro que a repelliu ímplicitameole, eaos
poncos se foi e8CO'ando da sua acção militante, embora só
TOMO XXXI. p. I. 52
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abraçada pelos seetanos da revolução qae estavam em
campo, retiroD-se do rio Cahy, depois áa apresadas as duas
caoboDeiras.jii seguiu para o interior, deuegaudo-se a rei-
terados ctiamamentos que Ibe Gzéra o chele da revoloção,
e dispersando em Alegrete mil e duzentos bomeos de for-
ças que o acompanhavam, tendo antes repellido a segui-
dos tiroteios qoe em Jnlho de 1840, alli Ibe fizera o coro-
nel Loureiro com oito centos bomens que commandava,
emililavaa favor do governo.
NSo entendendo Bento Gonçalves que, com a retirada de
Ribeiro e dispersão das forças que commandava, unificava
isso renuncia à causa da revolnção;' e tanto mais porque
affrontára elle os acommetUmenlos que em Alegrete Ibe
fizera o coronel Loureiro, lembrou-se de nomeal-o com-
mandante geral da fronteira da província.
Nem por isso o general Ribeiro desistiu de suas convíc-
CSes. e retirando-se para o território de Montevideo, d'alli
solicitou amnistia ao poder moderador, qoe prompta-
mente lh'a concedeu, e seguindo para a corte a render ho-
menagem ao imperador, e a manifestar seu agradecimento
por aquelle acto da munificência imperial, ordenon-lbe
o governo que regressasse para a provinda e entrasse no
serviço do exercito.
Assim o praticou o general Ribeiro, e dando-se-lbe na
província o commando do uma forte columna das tropas
do governo, em 26 de Maio de 1843 pAz em debandada junto
ao arroio Poncheverde as mais numerosas forças dos revo-
lucionários, e de modo que d'ahi avante desistiram estes
da offensiva na luta travada entre si e as tropas do governo,
conservando todavia as armas em mão, até á amnistia
geral.
Como em remuneração d'este ultimo feito d'armas de
Bento Manoel Ribeiro, foi este promovido a marechal de
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— 407 —
campo, e por achar-se em idade muílo avançada, e alque-
brado de tamanho em soa vida militar, reformou-se em
teneote-geaeral, em cujo posto dnron pouco, terminando
soa existência no retiro <la sua fazenda.em Jaráo, e no seio
de sua familia.
A. sea nome accompaobaráõ sempre, pela proTíacia de
S. Pedro, recordações de gratidão, e pela de S. Paolo, soa
pátria, as de ufania e protfaças.
Porei aqoi remate a este trabalho, em que tive por
anico lim invocar reminiscências por sobre esse velho
guerreiro, que só deiíou traços do seu valor em combater
n' esses campos, onde se levantara agora distinctos gene-
raes, que á Treate dos briosos e valentes pelejadores río-
grandenses saberão manter as tradições gloriosas dos que
os precederam, empeahando-se em sustentar illesa a bonra
da pátria.
S. Paulo, 31 de Jolho de 1865.
J. J. Machado d'Oliveira. ■
FIM 00 TOHU XXM, PARTE I.
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Do.icdt, Google
índice
DAS MATÉRIAS CONTIDAS NO TOMO XXXI
PARTE PRIMEIRA
PRIMEIRO TRIMESTBE
MEMORIA sobre O melhoramento da proviocía de 5. l>aulo, ap-
plicavel em grande parte ás províDcias do Brasil, por António
Rodríguea Velloso de Oliveira.
ADVERTENCM 5
mnoDOcçÃo , 7
PARTE PH IH EIRA
Capiluto l~DescripfÍo da capltaoia de íi. Paulo 8
Capitulo II — circumslancias próprias da parie marilima. 9
Capitulo Elf— Das propriedades que adornam a outra parte
neutral 10
Capítulo IV— Dos meios próprios e regras gerses para o
aproveitamento da parte maritfma ià
Capitulo V — D'oulros objectos de semelhante e grande
importância 20
Capitulo VI —Dos olIJciosque deve prestar'© governo. . . 28
Opilulo V[|— Observação primeira, sobre o corte de ma-
deiras 30
i^pilulo Vll[ — Observação segunda : a cerca dtis ancora-
douros mais notáveis e de algumas pro-
priedades particulares de cada um dos
concelhos d'eala cosia, e entradas dos prin-
cipaes rios do limite seplentrional atã o
austral 31
Capitulo IX — Observação terceira e ultima; sobre as|ies-
carías e lugares em que mais convóm es-
tabelece rem-se 38
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PAflTB SBGUHOA
Capitulo I — Do que se deve presentemente fazer nas
terras ceutraes da capitania de S. Paulo. . 39
Capitulo ll~Da cultura arbórea e cercal A7
Capitulo Itl— Das musas que tem retardado o progresso
da agricultura em s. Paulo 54
Capitulo IV— Das providencias necessárias para a defesa
da capitania, tanto por mar como por terra. ^ 63
Capitulo V— Das tabricas e manufacturas em geral 66
Capitulo VI -Das forjas e ferrarias. 68
Capitulo VU— Das fabricas próprias dos lavradores 70
Capitulo VIII Do commercio geral da capitania 71
Capitulo IV— Da povoação e como se pdde ella introduzir
de fora e baver do próprio paJE 7tt
Capitulo X— Dos meins necessários para a execução dos
planos propostos .' 91
Capitulo XI— Como se deve regulara distribuir a povoaçfio
no Brasil 100
Capitulo XII— Da administra(;ào publica. t03
VbERTUíiV de coramunicaç.ío commerc tal entre o dislricto de
Cuyabá, e a cidade do Pará, por meio da navegação dos rios
Arinos e Tapajós, emprehendida era Setembro de 181.2 e rca-
lísada em 1613, pelo regresso das pessoas que n'es$a diligen-
cia mandou o governador e capitão-general da capitania de
Mato-flrosso (copiado do Archivo publico.)
DURiO da viagem que por ordem do Illm. e Eim. Sr. Joào
Carlos Augusto d'<)eynbausen Crevemburg, governador o
capjtão^eneral da capitania de Mato^Grosso, nomeado
para a do Pará , fizeram os capitães Miguel JoSo de
Castro e Thomé de Franga, pelo rio Arínos, no anno de
1812 107
Resumo analjtico dos lugares roais notáveis nomeados
no Diano supra e calculo de approximação da dis-
tancia que pensamos ter, desde o porto de nosso em-
l)arque, até a cidade do Para 158
lX)CUMEiNTOS sobre a Colónia do Sacramento ( copiados do Ar-
cliivo Publico) 161
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CÓPIA . Carla regia que contém o pleno poder e ampla fa-
culdade para o Illm. e Eim. Sr. marquei; do I,avradio
repellir e propulsar do seu próprio nome todas a^ violên-
cias do governador de Buenos-Ayres, e eiecutar tudo o
mais qne llie vai ordenado pelas iastrucções expedidas e
assignadas peio Illm. e Exm. Sr. marquez de Pombal.
Duas cartas de insIríLcçòes que contém o espirito da so-
bredita caria regia, estabelecendo todo o systema
da execução (i'ella, u da defesa e restauração dns do-
mínios do sul : e approvando tudo o que até agora
se tem determinado 180
.SEGUNDO TRIMESTRE
PERNAMBUCO. RevoluçíodelSlT. [ n te rrogatori os mais impor-
tantes dos réos (Eitrahidos ito Archivo Publico).
Perguntas a Luiz Francisco de Paula Cavalcanti c Albu-
querque 213
PerguDlas a João do Rego Dantas 237
Perguntas a Agostinho Bezerra 253
' PergQolaa a Basílio Quaresma Torreão 2S9
DOCUMENTOS sobre O Bio-firande de S. Pedro, Santa Catharina
eGotoDia doSacramcDto, etc. (Extrahidos do Archivo Publico)
Capitulação daColonia do Sacramento — Alguns artigos,1762. 365
Accordo com Cevallos sobre a lioba de limile dos dois
acampamentos 373
Occurrencias no Rio-Crande depois da tomada da Colónia
em 1763 272
Copia dei vando que mando publicar U. .loseph Nieto impe-
diendo el trato, comunícacion, y negocio coo los portu-
gueses 27G
Copia do bando ordenando que os heapanhées sejam tratados
, comoamigos vindo ao campo neutral, e probibindo o tracto
o coDunercio com os mesmos alem do dito campo 378
.Invasão da província do Rio-Grande de S. Pedro pelos cas-
telhanos em 1763 280
Orçamenlo das forças terrestres e navaes, que verosímil-'
mente se pude julgar que os castelhanos lenham no Rio
da Prata e sul do Rrasil, depois que ebpgar a Ruenos-
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\jttt a ultima expediçito qae partiu da CadiK no aez d«
Agoeto d'eele presente inno de 177ú, e combinaçSo
d'«llag com as forças de 5aa Hageslade ii'aquellas fron-
teiras 3H
Resumo dag forças que se acham do Kio do Saneíro, e tios
districlos de saa dependência, soccorros e outras provi-
dencias, com que Soa Majestade tem mandado assistir á
diU capitania 3hli
Cópia de uns paragraplios de uma carta do lltm. e Eim. Sr.
marquez de Pombal de 31 de Jultio de (776, Sirigida ao
tllin. e Eim. Sr. marquez vice-rei, que coatím as ordens
seguintes para eu executar 347
Da relação da conquista de Colónia, pelo Dr. P, Pedro Pe-
reira Fernandes de Mesquita :escripta em Buenos-Ayres
em 1778. 3511
BIOGTiAPIKA dos brasileiros illuslres, por armas, leiras, vir-
tudes, ele.
Henrique Dias, pelo cónego Dr. J.C. Fernandes Pinheiro. . 365
O lenente-general Bento Manoel Ribeiro, pelo brigadeiro
losíf Joaquim Machado de Oliveira 38ã
TYP. BK PII«HF.!RO & C, «l'A SETF, I>F. SETEMBRO N. 15!
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REVISTA TRIMENSAL
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REVISTA TRIHENSAL
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
Geognphieo e Elhnographieo do Brasil
FUNDADO NO RIO DE JANEIBO
DEBAl^Ul DA lUMEDlATA FR0T£C(;Ã0 D£ 3. U. 1.
O Sr. D. Pedrt II
TOHO XXXI
Hoc fácil, tit longot durent bene geila pir annoi
Et pouint terá potteritúte /rui.
R,io DB jane:ixu>
B. L. ClarHier — IJTrelr» cáUmr
69 Rua do Ouvidor 69
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REVISTA TRIMENSAL
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
GEOGRAPHICO. E ETHNOGBAPHIGO DO BRASIL
3° TRIMESTRE DE 1868
A ACADEMIA BRASÍLICA DOS ESQUECIDOS
ESTUDO HISTÓRICO B LITTBRABIO
Lido no Instituto Histórico e Geogiapliico Brasileiro
PILO toao BFPScnvo
CONBOO DOOTOB J. C. FBRNANDES PINHEIRO
I Em BHaio d« 81 ds Haio de IBtTi
« ODtra academia a havia piecedido, da qual dos
guardou memoria escríplor coevo ( Koeba Pilla ):
erigiu-se ti'esBa mesma capital [ a cidade da Bahia )
peK» annos de 17SA, favorecida pelo více-rel Vasco
Fernandes César de Menezes, doulissima sociodade
mm o Ululo de Academia Bratitiea do» Esquecidos,
e doa seus eiercicíoB, que tinham lugar no próprio
palácio do governo, surdiram inleressantea proauc-
ções ; por fatalidade forasi pkkdiiias ihhepara-
VELHENTE por nSo se haverem deixado cápias no
incêndio da ndo Santo Rosa, em a qual, a coIlecçSo
era remellida para Lisboa, aPun de Imprímir-se. •>
[ Buenvolvimento do programma hítht-
TÍCO o o IBSTITDTO H1STO:.ICO e geogra-
PHICO BRASILEIRO, e' o represes ta DTE
DAS IDÉAS D*[ L LUSTRA ÇÃ O, QDE EK DIFFE-
RESTES EPOCHAS SE UAniFESTARAV EH
nosso cOfiTiNEnTE ■ pelo Visconde de
S. Leopoldo, Impretto tta revista tri-
HEHSAL DO IHSTITDTO (Orno i, ». 3. )
Um coDJuncto de circumslancias a que alguém deiiomi-
oaria acaso e que eu abstenho-me de qualiScar permittiu
quQ os trabalhos á^Acadmiia BrasHka dos Esquecidos, que
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— 6 —
o venerando primeiro presidente do nosso iDstiluto con-
sidorava irreparavelmenu perdidos, viessem parar ás mtos
do mais humilde dos seus secretários. Considerando como
uma espécie de legado d'honra o proseguir na tarefa ini-
ciada por meu saudoso tio, peço vénia para eolretAr a vossa
attenção com o resullado do minucioso estudo que úz dos
Ires grossos volumes in-folio, dos quaes os escríptos dos
académicos bahienses dormiam o somno do esquecimento.
l'arte integrante da familia portugueza, acompanhava o
Brasil todas as oscillações politicas, sociaes e litterarias, que
se operavam na metrópole ; assim pois, parece-me acer-
tado ir buscar além do Atlântico a extremidade do fio ele-
clríco que na sede da colónia luso-amerícana vibrava as
fibras da inlelleclualidade.
l
Notam os historiadores que, uma como epidemia mo-
ral acommettéra as leiras no fira do século XVI e começo
do XVII: d'essa epidemia foram principalmente victimas,
dois povos da raça latina, que n'essa épocha caminha-
vam á frente da civilisação européa, em que pese a seus
detractores. Mariní oa Itália 6 Gongora na Hespanha eram
dois astros que arrastaram em sua orbita crescido numero
de satellites. Imperava o máo gosto, que só por aatiphrase
pâde ser chamado cuUismo.
Levado por sua eothusiastica admiração pelo dictador
napolitano, não duvidou Lope de Vega dizer que Tasso
não fora mait do que a aurora do sol de Marini.
X Desde meiado do século XV (diz o Sr. Tiknor), e
quando o conheciíoento dos grandes mestres d'aDtiguidade
se generalisou entre os homens estudiosos dos povos occi-
dentaes, (rabalhou-se por formar e cultivar oas priDCipaos
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— 7 —
noffias da Europa um estylo digno de laes modelos. Alguns
d'e9ses esforços foram dirigidos com acerto e sagacidade,
como o prova a serie d^illmtres poetas e prosadores da
cbristaadade, que chegaram a competir com os antigos
modelos; oalros ao contrario, afeíados pelo pedantismo e
falso bom gosto, foram condemnados a perpetuo olvido ;
porém a epocha em que mais disparates se escreveram, e
em que a falia absoluta e discrição chegou ao cumulo, foi
pelo fim do século XVI e principio do Wll, período em
que domioaram em França os intitulados plêiades, na
Inglaterra os euphoutas, e na Itália os marinistas.
■ Difãcil é determinar com exactidão até que ponto o
máo gosto que reinava n'esses paízes inlluiu nas tendên-
cias d'igual espécie que se manifestaram na Hespaoha : é
provável, porém, que a litleratura predilecta em Londres e
Paris fosse pouco conhecida em Madrid porém cão suc-
cedia o mesmo a respeito da Itália : quanto n'ella se escre-
via passava ím mediatamente á Hespanha, principalmente
DOS reinados de Philippe II e III (1 j. >
A influencia de Marini, que no dizer d'um moderno es-
criptor [2) foi talvez dijpois d'Ariosto o mais natural dos
poetas italianos, fez-se sentir igualmente em França, onde
acolhido pelo grande rei Henrique IV, achou na sociedade
de Menage, Benresade, Vaugelas, Voilure e Balzac fer-
vorosos admiradores.
Sobre a primordial causa ilo máo gosto que infeccionou
a lilteratura dos povos neo-latinos travou-se séria pole-
mica entre italianos e hespanhóes. No seu Risorgimento
d'Ilaliane 5lwíi,accusouBettineUiaos oscriploras castelha-
nos, principalmente a T.ope de Vega e Calderon de la Barca,
(!) Hutoria d€ la liUrafura espanola, Iraducida ai caslellano rwr
D, Pagcual UajaDgos e D. tlenrique Vedía, lomo III.
[2J Perieos. Wsloíre de (a tidérature italiennc, Paiis, i8$6.
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— 8 -
dluTerem corronapido o seatimeoio do puro e tio balo qoe
existia na Itália : e Tinboschi na sua Sloria de la Littora-
tura Italiana, publicada eatre os aaaos de 177S e 1783,
seguiu a mesma opinião, cheg&ado a attribmr ao influxo do
clima hespanhol a origeoa do máo gosto que corrompera
a litterstura latina, desde a chegada a Roma dosSeoecas,
tucanos, Marciaes e outros, até os tempos contemporâ-
neos, lançando ás costas dos hespanhóes os desatinos de
Marinio sua escola.
Ao libello italiano oppuzeram contrariedade alguns je-
suítas bespanhóes foragidos, em consequência da sentença
contra elles fulminada por Carlos III. D'entre as obras de
sua lavra avantaja-se oSaggio Síorico Apologético dela Litte-
ralura Spagnuola devido á erudila penna de D. Francisco
Xavier Lampillas, na qual, examinando uma por uma as
asserções de Tiraboscbi, reclama para a sua pátria a prio-
ridade no cultivo da intelligencia, e tomando a defesa do
theatro hespanbol, violentamente aggredido por Bettinelli,
esforça-se por demonstrar o fastígio a que o souberam ele-
var os génios de Vega, Calderon, Cervantes e Tirso de
Molino.
u O resultado de semelhante contenda ( pensam os Srs.
Gayangos e Vedia ) prova que, tanto na Hespanba como
na Kalia, reinou muito máo gosto titterariO} e que este máo
gosto pAde de certo modo augmentar-se, pelas relações e
sympathias existentes n'esse tempo, entre ambos os povos;
porém que a nenbum d'elles pôde fazer-se exclusivamente
responsável pela sua origem e propagação (3). >
Se intimas e continuas eram as relações entre a Itália e
a Hespauha, ainda mais continuas e intimas eram as rela-
(3) Historia de la LUeraíura Bspanola ât Ticlinoi, tradacii^ y ano-
laáa por Gayaogos c Vedia, tomo IV.
DictizedbyGoOJ^IC
_ 9 —
ções entro a Hes|>anha o Portugal. A identidade de origem,
a semelhança de linguagem e o£ entrelaçamentos das res-
pectivas familias reinantes contribuiam poderosamente
para esse amalgama, que fez dizer ao illnstre Garrett çue
até bem tarde fl liUeralura das Bespanhas fora quasi toda
vma (4). Obedecendo ás leis da gravitação, eram a lín-
gua o litteratura portuguezas sacriBcadas ao slemento hes-
panbol, que como mais pujante o atlrahia e Tascinava. Se o
provençal foi por muito tempo consíderadu como a língua
poética p^r eicellencía, pareceu lambem o castultiano gozar
cl'idenlíca prf-ogalíva desde o século XV até os fins do XVII.
Crescido numero d'escrip(pre$ portuguezes trocaram o
pátrio idioma pelo de seus conterrâneos: Jorge de Monle-
miír compfiz em castelhono a sua Diana ; Sá de Miranda,
Gil Vicente e o próprio Camões ambicionaram os louros
d'ambas as litteraturas, ao passo que não nos consta que
nm só aulbor bespanbol d'alguma nomeada renunciasse a
sua lingua para servir-se da portugueica. Verdade 6 que o
marquez de Saolillaoa na sua celebre carta endereçada ao
condestavel de Portugal, Titbo de D. Pedro, duque de Coim-
bra, diz que até o meiado do século XV (malesquier ded-
dores e trovadores d'eslas partes, agora caateUanos, anda-
Itices ò de ta Estremadura todas sus obras componian en
lingua gallega, ò portuguesa (5) ; mas, sobre ser singular
rísnma essa asserção, accresce o acbar-se ellahoje contes-
tada por pessoa mui competente e aulorísada. Nas suas
Memorias lobre a poesia e poetas hesparífiôes (6} o doutis-
simo Âarmienlo assim se exprime : Yo como interesado en
esta conclusione, por ser gallega, quisiera tener presentes los
{/t) iDiroducção ao Romanceiro, tomo 11.
(5) Vide a CulUcção de poesias castelhanas anteriora ao tecuio AT
publicadas por D. Tbomaz ADtonio Sanches, tomo I.
(6] Impressas em Madiid no nono de 1775, Iihdo IV pag. 196.
TOMO XXXI, 1". II 2
D,:Hizcdtv Google
— 10 —
fundamentos que tuve el marques de Santillana, pêro «n
nij\gun autor de los que ho visto xe kalla palita que pueáe
eervir íTo/j/uno luz . •
O século XVI juslamenle appellidado <Ios Medíeis, gra{;as
á generosa protecruo prestailn ds letras, sciencins e artes
porLourençoMagniQco, Leão \ e ClemeateVII, vira nascer
ou prosperar Macbiavelli, Ariosto, os dois Tassos, Bembo
e Sannazaro, brilhantes lampadários, cujos reOexos, trans-
pondo os Alpes e os Pjrenôos, foram modificar o gosto
do Ronsard e Marot, e fizeram de Boscan e Garcilaso devo*
lados e adeptos da escola italiana.
Persuado-me que, para fructuosamente estudar as li(le-
raturas dos mais occidentaes da Europa, releva tomar a Itá-
lia por centro das nossas investigações. Alguém disse qae a *
Allemanba ura o laboratório do eogenbo humano : sC-lo-ha
talvez hoje, mas por certo que o não éra na epocba a que
me oslou referindo.
Penatrára em França a lilteralura italiana, não só em
víriudo da vizinhança, mas ainda em razão das continuas
guorras de Carlos VIII e Francisco I, s^uidas d'n!líanças,
matrimónios com duas princezas da illustre casa dos Me-
díeis. Foz amesmalilleratura triumphal entrada na Hes-
panhi na comitiva do grande capitSo Gonçalo de CordoTa»
e no séquito ainda mais esplendido do augusto neto de
Fernando e Haximiliano. Portugal, porém, nunca se achou
em contacto com a Itália; assim, pois, póde-se dizer que &
sua litteratura é terciária, para servir-me d'uma expressão
consagrada pelos geólogos. O raio do sol dos Medíeis
não illuminava os horizontes portuguezes senão perpas-
sando pelas veigas de Caslella : Sá do Miranda era mais
discípulo de Boscan e Garcilaso, do que de Sannazaro e
Guarini; e Gil Viconto, cuja originalidade tanto preconi-
DictizedbyGoOJ^IC
sam os seus illoãlrados editores ( 7 ), segue pasdo a passo
João dei Eaeina, que por sua vez se havia inspirado nas
comedias de Bebieoa e Arioslo.
Longe de mim a intenção de desbotar os lauréis que
ornam as nobres frontes dos patriarchas da nossa Ullera-.
tura ; mas n^um trabalho como e3te,peraule o auditório que
me faz a sabida honra d'ouvir ; entendo que, cumprc-me
ddoptar por norma de conducta o conselho de Sá de Mi-
randa :
« Fallaí cm tudo verdades
< A quem em tudo as deveis. ><
Se nas ribeiras do Arno achava-so o diapasão que regu-
lava a escala da litteratura, é lá que devemos ir procurar
o gosto pelas palestras e academias; gosto que tanto se
propagou o'essa éra. Sabido é que que foi em 15&0 que
um limitado grupo de mancebos, reunidos em casa do llo-
rentino Mazzualí, concebeu e realizou o ponsamoato de
constituir uma academia do letras. Por uma cicentrici-
dade inexplicável adoptaram o titulo de Huinidos, adonian-
do-se com os mais esdrúxulos pseudónimos. Cosme do
{7j Os Srs. Biirrelo Feio u .MoDleiro loinai-am a peito susten-
tar a inleira uríginaiidade de Gil Viceole, e confesso que consegui-
ram convencer~rae de lai modo que no meu Curso Elemeníar dt Litíe-
ratara íiaeional, publicado em Pariz cm 1862, segui sem reserva a
wia opinião. Hoje, porém, am consequência d'ulteriorcs estudos,
capacitei-me que oe distinctos pliilologos portuguezes foram u>sto
pODto por demuís ijilluenciadus peia antipatliia ou antagonismo, quo
infelizmente ainda suircxisle entre as suas nações co-irmas da pijnin-
sula ibérica.
DictizedbyGoOJ^IC
— 12 —
Medíeis, que recenlements sequestrara as pátrias liberda-
des em proveito »eu, receiou-se d'esse pacifico e inoffon-
siro cODgresso de rãs, eicorpiões, carpas, etc. ( 8 ), e apres-
sou-se em dar-lhes sumptuosa hospedagem no seu pró-
prio palácio.
Caracter indócil, espirito inquieto, n<ío tardou Grazziai,
mais conhecido peloappellido académico de Lasca, em se-
parar-se dos seus confrades, e constituir cora alguns pou-
cos amigos o núcleo d'um novo cenáculo, que, para não
ceder em extravagância ao seu emulo, passou a intitu!ar-se
ácadímiode/ioCruíco (do farelo), tomando por emblema
uma peneira, na qual se lia a seguinte dii isa: 11 pift bel fior
ne coglie (d'ella sabe a mais bella farinhii ; alludindo ao es-
crupuloso exame quo tencionavam fazer do vocabulário
italiano, ou antes toscano.
Como a torrente que despenhando-se da montanha abga
a planície, centenares d'academias cndn qual da mais gro-
tesca denominação, inundou a Itália. Os Immoneis, os
Gelados, os Solitários, os Surdos, os Insensatos, os Ocio-
sos, etc., etc., celebravam suas sessões com todas as appa-
roncias do seriedade ; o sobre os mais ridiculos themas es-
creviam maciças e pedantescas disserlaf:Ões.
Transmiltiu-se logo o gosto por ossas rouniúos litterarias
aos paizes influenciados pela Itália : om l^rança a mnrqueza
da Rambouillct abre sous salões aos homens de letras, e
o poderoso ministro de Luiz XUI, imitando o exemplo <lo
Cosme de Medicis, expodo cartas patentes e rodòa do pri-
vilégios a modesta convivência (i'alguns eruditos dados
ao estudo do pátrio idioma.
' K propósito de palácio Rambouillut, podo ; justiça quo
(8) Ealcs, c outros ninda mais ridiciil').=, fliam os iionic:! .idoplados
Iielos acitdemkiis hniHiiios.
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— 13 —
não se confunda as duas divursas pbases da sua existência.
Na primeira quando o seu accesso era ambicionado como
ura titulo de saber e virtude, quando no dizer de Bay\e
era elle um verdadeiro templo da Itonra, exerceu o pode-
roso e esclarecido patrocínio das letras, e contribuiu muito
para o aperfeiçoamento da obra de Malberbe. ■ Se favore-
ceu cscriptores medíocres {pondera Pellossier), também
saudou os mais bellos génios da França, Corneitle e Bosr
suei: e admirou e fez admirar a obra prima de Descartes,
esse ditcarso sobre o melhado, considerado como o pri-
meiro modelo da prosa philosophica. (9) > Não poderam,
porém, escapar os saráos da marqueza de Kambouíllet da
dura lei da decadência e degeneração a que parecem vo-
tadas todas as creações humanas. O amor da novidade des-
virtuou com o lapso do tempo tão úteis reuniões : importava
fornecer cada noite novo alimento á indefessa actividade
dos espíritos : foi então que chegou a epocha dos rondòs,
fonelos, madrigaes, acrósticos, anofframmas, etc,, etc. =
foi enlão que Balzac e Voilure disputaram gravemente si
so dev6ra dizer muscadin, ou murcadin. \ essa se-
gunda phaso dos saráos do palácio RambouílLet foi que
Molièro tão espirituosamente fuslÍi;ou nas suas Precieuses
Bedicules.
Sáfaro mosirou-se sempre o solo hespanbol para a tenra
planta académica. A politica suspeitosa dos seus reis, a
minaci! vigilância do tenebroso tribunal da inquisição,
aconselhava aos homens de letras o isolamento como me-
dida de prudência. Quando, porém, o espirito francoz fran-
queou os Pyrenôos com Philippa V viu-se logo surgir a
AcadeTnia líespanhola, gizada pela Francesa, e como osta
(9) La Laiujitc Frniiçiiisc '/-'uís sm -inijinc jasqut u ms joars ■
Paru, 1866.
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- 14 ^
incambida da grandiosa fabrica do dioGÍooario da Ungua
vernácula.
Fraco restigío das academias italianas descobre-se na
dos Noclumot, de que foi alma o famoso dramatuiigo Guillen
de Caslio ; oa dos Desconfiados, que por muito» bodos
floresceu em Barcellona ; e na do Bom Goslo, estabeleãda
pela condessa de Lomus, pallido e froxo reflexo das orudi-
tas coDÍeroDcias do palácio Rambouillet.
m
Karamente vcoios a iadepeudencia politica das uações
eorresponder á sua emaocipatão lideraria : assim Portu-
gal despedaçando tão heroicamente os grilhões que lhe
roxeavam os pulsos continuou a reconhecer por mais
d^um século a hegemonia intellectual da sua antiga me-
trópole.
• O veneno de Ijongora e Marini (diz o Sr. Rebello da
Silva) ÍDSÍnuava-se por todos os poros, e corrompia até as
compleições mais robustas. Usavam d^aquellas excrescên-
cias no es^lo, como os signaes, os donaires o riçados
altos se trajavam nosatavios cortezios, desfigurando a pby-
siODomia e as mais esbeltas proporções.
« O que nSo linha tesaibos d'artificio. uma tinta violeta
e afogueada, desprezava-se como inferior á fama do es-
criptor ; e por isso n'aquelte século propenso ás agudezas e
argucias de tbeses e argumentos nebulosos, intrincados e
e sopbislas, ninguém se eximiu inteiramente do con-
tagio {10}. .
Postos de parle os modelos das liUeraturas grega c latina,
(10) Memoria sobre u Arvadia l'oitugticza,iBipressi no lomo rdos
Annaet da» Seiemias e Letras.
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— 19 —
esquecidos ou desprezados os exemplares dos seus felizes
imitadores do renascimento, considerava-se como requinte
do bom gosto 03 metros ocos e empolados como as bexigas
assopradas e os cascavéis do palhaço de Ceroantet, para apro-
priar-me das felizes expressões do já citado Sr. Uebello
da Silva.
Parodiando as memoráveis palavras de S. Remigio ao
guerreira Clóvis, queimavam nossos avós tudo o que haviam
adorado, e adoravam tudo o que haviam queimado. A Ulyi-
aéa de Gabriel Pereira do Castro e o Affonso de Quevedo
Castello Branco lhes pareciam infinitamente superiores á
■monumental epopéa de Luiz de CamõeS, não faltando ató
quem antepuzesse as soporíferas rimas de Soror Violante
do Céo ás maviosas éclogas c ingénuos villancetes do
saudoso Bernardim Ribeiro.
Semelhante aos lichens que cobrem os rochedos, ou
se enroscam nos anaosos troncos das arvores, numerosas
academias pullularam no charco do seiscentismo lusitano.
Referiodo-se a essa vegetação parasílica escrevia o inspirado
autor da D. Branca e Frei Luiz de Sousa : n Tudo o mais
é corrompido pelo máo gosto dos cultos, que, arregimen-
tados em uma infinidade d^academias dos nomes mais
extravagantes e incriveís. conseguem tirar toda a cdr á
litteratura portugueza de lodos os géneros e fazer da
língua uma algaravia afTecEada e ridícula. vS de toda a
expressão, assoprada em phrases Ião descommunaes, em
conceitos (áo dcos que nenhum sentido se lhes achn,
si algum tiveram os que tâo absurdas cousas escro-
veram (11). •
Kem parecerá demasiada a severidade do íltustre emulo
[llj Garrett— lotroducção ao RomnnWiv, tomo ti.
Dictzedby Google
— le-
de Hanznni e Saavedra (12) a quem se recordar quo essas
academias ■ renascendo umas das oulras, esgotaram o ridí-
culo com zelo deplorável na preferencia dos assumptos,
e apuravam-DO atém d'isto na tu^idez dos vocábulos e no
empolado das imagens (13). »
Deixando á margem crescido numero d'associaçòes d'essc
quilate que desde a restauração de 1640 se formaram em
Lisboa e varias outras cidades e villas de Portugal, apenas
farei menção das que mais caracleristicás me pareceram.
Uma.das mais vivazes foi por certo a dos Generosos,
hospedada pelo Irincbanlc-múr D. Lfiiz da Cunha e lendo
por secretario o conde de Villa-Maior. Grandes gabos gran-
geou ella dos contemporâneos, gabos que não foram con-
firmados pela ingrata posteridade.
O condo da Kriceira (D. Francisco Xavier de Henozes),
um dos mais conspícuos varões que n'essa cpocha hon-
ravam as letras portuguezas, franqueou a sua livraria a uma
reunião de doutos que ontretinham-se na solução d'a!guns
problemas scientíficos e litterarios. Estas conferencias, que
tomaram o nome de Discretas, foram frequentadas pela flOr
da nobreza, nascendo mui provavelmente cm seu grémio o
pensamento gerador do Vocabulário, que mais tarde levou .
avante a infatigável erudição do D. Itaphaot Bluteau.
A Academia dos Singulares, fundada por Pedro Duarte
Ferrão, inquisidor-mór, levou as lampas ds suas concur-
rentes, c parece ter sido ella que servira de norma á
Brasílica dos Esqiiecidos, que forma o assumpto d'esle
mesquinho trabalho. Haviam os Singulares tomado por
(13) Angel de Saavedra, duque de Rívas, introdiiclor do romaniisroo
na tlespaDlia, assim como Manxoni e Victor Itngo o hnviíim sido nn
llalia e cniFran;a.
(13] O Sr nelwIlD da Silva loco cilalo.
Dictzedby Google
empreu uma pyramide, na qual TiaUi-se ínscrjptos âa base
ao Tertice os nomes d^Homero, Aristóteles, Vii^lio, Qtidio;
Camões, Garsilaso, Gongora e Lope de Vega, com A se^uJDte
modestíssima leira : Solaque non possunt hae monumento
mori. Aberta a sessno com um discurso do presidente,
segaia-se a leitura de poesias, nas quaes os sócios mimo-
seavam-no com paradoxaes encómios, passando-se depois
ao que hoje qualifícariamos d'ordem do dia.
Na mui luminosa Hemoria do Sr. Behello da Silva, por
mim tantas vezes citada, e que de tanto me serviu para
a traça d'esle Estudo, lém-se alguns dos themas qna maio'
res applausos mereceram da doutíssima assembléa. Ora em
o d'uma dama que trazendo ao peito um Cupido, lhe esta-
lou etleaos raios do sol; ora era o d'oulra (Jama que, tendo
bons olhos nenktun deníe conservava.
Os Instantâneos, os Solitários, os lUustrados, os Oc-
cxêUos, os Humildes elgnoranUa, os Insignes, os (^sequio-
so», e os Anonymos, verdadeira prolis velucrutn d'Ovidio,
nasciam e morriam n'aquella doce pax que, segundo o chis-
toso Diniz, reinava na igreja dElvas.
Atravessemos agora o Atlântico e vamos assistir ás confe-'
rencias d'Ãeadtmia Brasílica dos Esquecidos.
(V
Vasco Fernsodes César de Menezes (depois coode de
Sabugosa), que governava o Brasil na cataria de vice-rei,
cedendo a esse poderoso influxo, a essa espécie de corrente
eléctrica que, á espaços, atravessa os séculos, planejou a
fundação d'uma academia, vasada no molde das dos Gene-
rosos e Singulares, que pareciam haver altingido ao ideal
da perfectibilidade.
O eloquente historiador A' America Porhtguesa, e um
TOMO XIXI, P. II ' 8
Dictzedby Google
— le-
dos príncipaes luzeiros d' essa aiuidemia, dando coota da
sua fuodaçio assim s'eipressA: « A nossa Portugueza
America (e príacipalmeate a proriocia da Bahia), qae na
producção dViigenhosos filhos pôde compelir cora Itália e
Grécia, nSo se achava com academias iotroduzidas em todas
as republicas bem ordenadas para apartarem a idade juvenil
do ócio contrario das virtudes e origem de todos os ví-
cios, e apurarem a subtileza dos engenhos. Não permiltíu
o vic«-rei que faltasse no Brasil esla pedra de toque ao
inestimável ouro dos seus talentos de mais quilates do que
os das minas. Erigiu uma doutíssima academia, que se faz
em palácio na sua presença. Deram-lhe f<^rma as pessoas
de maior graduação e entendimento que se achavam na
Bahia lomando-o por seu protector. Tém presidido D'eU3
eruditíssimos sujeitos. Houve graves e discretos assum-
ptos, aos quaes se fizeram elegantes e agudissimos versos;
e vai continuando dos seus progressos, esperando que com
tão grande protecção se dém ao prelo os seus escríptos em
premio das suas fadigas (14). ■
Indino-me a crer que será agradável ao Instituto ouvir
a leitura do auto de oascímeato da primeira associação
iitleraria que, com caracter semi-oSicíal, existiu na nossa
terra D'uma quadra geralmente considerada como da mais
crassa ignorância : •
, ■ O Exm. Sr. Tasco Fern'andes César de Menezes, in-
comparável vice-rei do Estado do Brasil, qua no seu
inclylo nome traz vinculada com a profissio d'illustrar
as armas a propensão d'honrar as letras, para dar a
conhecer os talentos qne n'esta província florescem, e por
falta d'exercicío litterario estavam como desconhecidos,
(IZi) Isto escrevia Rocha Pitta em 173Z|, anDoem que finalisou a sua
flistoría da America Pwtugiitza, impres^i em I.Isboa era 1730,
Dictzedby Google
detormíaou inslituir uma academio, a cujo fim fez chamar
por cartas circularas as pessoas seguintes : o reverendo
padre Gonçalo Soares da França; o desembargador Caetano
de Brito e Figueiredo, chanceller d'este Estado; o desem-
bargador Luiz de Siqueira da (íaina, ouvidor-geral do eivei ;
u doutor Ignacio Barbosa Machado, juíz de fora d'esta
cidade ; u coronel Sebastião da Rocha Pitta ; o capitão João
de Brito Lima; e José da Cunha Cardoso; aos quaes na
tarde de sete de Março de mil seleeeolos e vinte e quatro
communicou a vontade com que se achava d'engir e' esta-
belecer a academia, cuja resolução abraçaram uniformes
03 sete convocados, como filha de tão excollente e generoso
espirito ; e com o seu beneplácito escolheram por empreza
o sol com esta tetra: — sol orieru in oceiduo — , assea-
taudo entre si com louvável modéstia intítularem-se—
Oi Estptecidot.
• Tomaram por matéria geral dos seus estudos a historia
brasílica, dividida em quatro parles: a natural, que cotre
por conta do já mencionado chanceller; a militar, que
se encarregou ao dito juiz de fora ; a ecciesiastíca, cujo em-
prego se deu ao reverendo' Gonçalo Soares da França; e a
politica, cuja incumbência cahia em sorte ao ouvidor-geral
do eivei.
f Qos sete académicos pirncípaes, o primeiro se denomi-
nou com o titulo d'Obsequioso, o chanceller tomou o co-
gnome de Niibiloso, o ouvidor do cível il'Occupado, o juiz
de tora de Laborioso, o coronel de Vago, o capitão d'/n/«-
ííz e o ultimo du Venturoso. A este nomeou o Ex. Sr. vice-
rei e protector d'academia por secretario, para orar na
primeira conferencia, que se determinou fosse na tarde
■le vinte e três d^Abríl dia oitavo depois da páscoa do anno
já referido.
t Xssenlou-se que as expedições académicas se Szes-
DictzedbyGoOgk
— 20 —
sem em palácio, reitanodo-se de quinze em qnioze dias,
e allaroaado-se os quatro mestres de dois em dois
em reciproca successão, dando-se priacipio a cada um
d^aquelles actos com uma oraç&o ou discurso, f^ue leri o
presidente uomeado por seu antecessor, com beneptacito
do eicelleatissimo fundador d'academia ficando a cada
am dos presidentes a eleição livre da matéria, acção, ques-
tão ou probl«ma sobre que quizerem discorrer.
« Picou por estatuto que, em obsequio dos engenhos
poeUcos, se dariam pars todas as conferencias dois argu-
mentos ou assumptos, um beroico, outro lyrico; e as poe-
sias a eiles feitas lerá o secretario o dito José da Cunba
Cardoso ( depois de recitadas as prosas do presidente e
mestres), admittindo-se também poemas anonymos.
■ Não parecjBU bem se dessem especiaes assumptos
poéticos para a confereucia do primeiro dia; porque toda
ella se reputou por breve para os merecidos encómios do
nosso augustissimo protector, e da sempre heróica e feli-
cissjma creação da nova academia, em cujo nome se or-
denou ao secretario chamasse e convidasse a muitos, par-
ticularmente a pessoas de distineçào, o que elle observou
por cartas; escrevendo também um papel, que os curiosos
podiam tomar como cartel de desafio para certames littera-
rios. •
tnteiradosdo programma d^acaderaia, justo é que eiami-
nemos o modo por que deu ella execução a esse programma,
suggerido pelo vice-rei, antes Augusto do que Mecenas,
d'esse novo século áureo que nas plagas de Cabral devera
SDi^ir.
No códice que diligentemente manuseei nenhuma allu-
sSo se faz a essas prelecções históricas, que os meitret eram
obrigados a recitar em seguida da oração presidencial, ou
ficaram cm especlaljva como muitas vezes acontece, ou pela
Dictzedby Google
- 21 —
sufl importflncia e volume rormariam separada collec^âo,
que nâo logramos a ventura de conhecer.
, Conforme se bavia assentado, não passou B primeira
conferencia d'um laus-psrenneem honra dovice-rei. Coabe
primeiro a palavra ao secretario, que n'um discurso de ge-
Dero apparatoso snblimou-se ás grimpas do gongorismo.
Como specimen da sua facúndia, citarei o seguinte paro-
grapho relativo i fundação d^academia:
« No dia sétimo de Março, que mysieriosa e nào casunl-
meote foi em terça-foira, em congresso feito por ordem
superior, do primeiro movei d'este céo académico, so nos
participou a noticia de táo alto pensamento, e, como se o
pfopÔF fAra convencer, menos )empo levou a obedíenúa
que a proposta com que logo os Protogenes e Appelles
doeste vistoso quadro delinearam a perigraphe da pintura,
reservando o dia de hoje para a ostentação da primeira
scena. Não sei se reparais nas circumstancias. O erector
d^Academia, sol de todas as luzes, a empreza dos académi-
cos sol, a letra da empreza Sol oriensin occidtio, o dia de
hoje domiogo consagrado ao sol, e o dia setímo de Março,
dia muitas vezes solar ; pois entre outras testemunhas do
seu luzimento é dedicado ao mesmo Apollo, como eram
lodos os dias sétimos de cada mez; mas é principal-
mente o dia do príncipe dos theologos, acciamado oo
mundo por verdadeiro sol das escolas, santo Thomaz de
Aquino. >
O sol, como muito bem disse Verney (IS), era o maior
se Dão o único insi)irador dos marinistas e gongorislas, e
poF isso que rica mina nâo encontraram elles na empreza
tomada pelos académicos eaq^iecidos^
Í151 L. A Vprncy Verdadeiro neíhodo d't>íitdar. Carta Xir, parle
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Já vinaos os concertos e trocadilhos que ministrou ello
ao douto secretario ; vejamos «gora como nm 'dos pri-
meiros engenhos poéticos d' esse tempo (António Cardoso da
Fonseca) esgrimia em torno do aslro rei no s^uinte soneto:
« Diz boje a vossos pes um prulendcnie
■ que por ler nit Babia o nascinieiito
n vem lá il'ondc habila o esqueciíoenlo
■ buscar a luz que jaz cá do Occfdenle
* Porque, vós como sol, que d'OrieDte
■ ao occaso passastes a dar-tbe augmento
a dos rajos que produz voeso talento
■ nm novo sol geraes no contiDenle.
• E pon]ue ao Museu vim Bupplicanle
■ tomar o mesnoo sol por sua emjtt^za
» p«de a voeaa eicellencia aqui Teioanle
H lhe admiiu a esle Museu sua nideu
■ pois ee Pbebo llie dá força d'Attuite
■ as luzes llie dará voasa grandeza (16). ■>
Também foi a musa latina chamada a esse torneio; c
ontre as numeroitas producções que ahi se leram apreciei
pela sua concisão e simplicidade o seguinte eplgraminii,
devido a um religioso franciscano, occulto no rebuço do
anonymo :
« Tu pugnat, fortis, doclua, lucuadue elberos;
« Sed sal erat solum dicere Coraar ades. b
Escolhido para presidir a segunda conferencia celebrada
aos sete de Maio, recitou Rocha Pitta umas das mais bellss
(16) Ct>n».TVci a orthograpbia do original para mostrar a regra que.
preconisada pelo Sr. A. F. de Gastilbo, que manda escrevei com letras
minúsculas o come^ dos versos que não rorcm precedidos de poato
(jnal ; ji tia roubecida e executada pelos poetas do século passado, qie
haviam-na lom;ido dos hespinbóes-
D,:„i,;cdtv Google
ora{õ6s de quantas encontrei aa colleocão de que me tentio
servido. E' geralmente conhecido
■ o som alio e nMímado
■ O eslyto grim^toquo e eorrenU (17). »
com que sabia exprimir-se o dosío illustrado compatriota.
' Pagando tributo ao máo gosto conttímporaneo, sabia, como
o. exímio padre A. Vieira, sobreelevar-se-lbe na pujança de
seabelto e mui cultivado talento.
Penso não andar muito errado considerando como dus.
mais felizes trados deloquencia o seguinte quadro, que da
utilidade da religião esboçou o académico Vago :
( E' a religiio a maior prerogaliva dos mortaes, a mais
firme columna djs monaruhias. Os gunlíos, posto que er-
raram tanto no emprego da verdadeira íé, se empenharam
de forma no culto da cuja idolatria, que nenhuma cousa an-
tepunham á adoração de suas deidades : os tbesouros que
Enéas'salvou da abrazada Troya foram os deoses penates
que levou é Itália : IHuma a deo^a Egeria fez protectora do
reino de Roma ; Lycurgo debaixo do patrocínio de Apollo
deu leis aos lacedemonios, Caronda a Carthago no amparo
de Saturno ; Minos e Creta no auxílio de Júpiter ; Solou
a Athenas no favor de Minerva ; e ao Egyplo Thismegisto
na sombra de Mercúrio : os cônsules e senadores romanos
nào entravam na conferencia dos negócios sem primeiro
invocarem os ídolos.
« Os gregos attribuiam as suas fortunas á grande reli-
gião de Alexandre; como os carthaginezes as suas desgra.
ças á pouca fé de Aonibal : este tão perjuro que faltava
quasi sempre aos juramentos que fazia petos seus deoses,
e aquelle tão pio que até ao Deus que tinha pOr estranho
(17} Camões— Lwiaia*— Canto 1, verso U.
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rendia ailorações, como o mostrou tomando o reino Aè
imléa, pois vendo diante da m com as vestes ponlificaes
^o pontífice iaddose lhe prostrou por torra, e mostrando-
Ibea prophecia de Daniel em que se Lbe promettia o domí-
DÍo do mundo, os livrou dos tributos e santilicou a Deus oo
templo. Entre os mesmos gentios até aquelles que negaram
a immorlat idade d'alma, disseram que era a religião uma
mentira. necessária e utíl ao bom governo das republicas e
a conservação dos impérios, i
Tomado para assumpto lírico d'essa conferencia o alam-
bicado problema — Quem mostrou amar mais fielmente
Ctyàe ao sol, ou Endymião a lua ? — Entraram em liça,
arfaiados de ponto em branco, os cavalleíros de Apollo, que
n'um chorrílbo de banalidades deixaram submergido o
amoroso lemma. Encontre, porém, remissão no tribunal do
bom senso a silva de José d'Oliveira Serpa, onde se encon-
tra esta jocosa pintura d'um namorado da lua :
•I Já la vejo um rapaz ao eco ollianilu
•I Um pastoril cajado descansando,
■ Será lindo poeta
■ Quando a lua coolempU em viala rerla
» E lerá por empreza
« Deacrever-lhe a iuconataucia e a ligeireza,
n Mas si mira e remira tSo pasmado
1 fierd poela aluado ;
■ I>orque ouvi dizer sempre' ao vulgo louco
■ Que de poela a doudo vai mui pouco. ••
João de Brito Lima, capitão do terço auiiliar de orde-
nanças e que o Sr. Vamhagen (18) nas apresenta como
grande magnata dos outeiros bahienses^ tomou a fortuna
para tbema da oração com que se abriu a terceira confe-
rencia. Menos florido do que o sou antecessor, é todavia
(18) Florilégio da Pouia Bnuiitíra, lomo I.
tvCqoj^lc
sentooekMO, eoneeto • Samte o seu estjlo : do que piàa
servir de prova o segointe passo à» supra meBCÍODada
onçBO :
« fíQl*<se a fortuna mulhar, com aias, udh roda em
uaia mio e oa outra um vaso cheio de riquezas, eega de
ambos os olbos.ou com elles lapados.Pois como cega distrí-
bae os prémios com os indignos que devia dar ao6 bene-
merilos,mostrando nas azas ligeireza com que apenas a vám
quando desapparece, se a nio tém pelos cabellos como a
occasião. A roda Ibe serve de bieroglypbo dos que sobe ao
maior auge para despenhar no mais profundo abysmo. Fi-
nalmente vária como mulber,e inconstante como a mesma
fortuna. Outros a pintaram de outras sortes que omitto re-
feril-BS, por não fazer ao caso. E' tão poderosa esta falsa
deidade que não ha monarcbia, reino, província, cidade,
monarchas, reis, príncipes, grandes e pequenos, e até a
mesma formosura, que não estejam debaixo do seu impé-
rio; ao mesmo tempo abatendo uns e exaltando outros. ■
Dado o signal arrojaram-se na estacada esforçados pala-
dinos, que no appellido do pre»dente descobriram fértil
manancial para as suas enredadas trovas, ou ínsulsos tro-
cadilhos.
Pant exemplo d' estes últimos copiarei um ^igramma de
Loizde Camello Noronha, que passava por grande sabedor
da língua de VirgUio e Horácio :
■ Néscio si ferrnin, si fraclus. Lima vocaris,
■ Nam Dt femim penetras, Inclus ut iode sapís;
■ SI sapú n( fructos cítm síb penetrabilem ferrum,
« Et saptB et peoetras, tu sapis atque sapis. >
O assumpto lyrico d*essa conferencia foi o seguinte : —
Uma dama quesmdo formosa nãofallavapor-não mottrar
a falta çue linha de dentes. — Mui apropriado era esse
TOMO XXXI, P. II l
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motte para dispertar os engeniios curiosos dos acidemícos
e uma alluvião de sonetos, decima3,romaaces,silTas, laby-
rÍDtbos, etc, e(c, ianuadou o valle da Tempe batiienae. En-
tre as poesias ahí recitadas achamos bastante espirituso o
seguinte soneto de Rocha Pitta :
u Pondero a emudecida fonnoiura
o de Filis Bem temer que impertiuenle
o possa no meu soneto metter dente
■ pois carece de toda n denladura '
u Si por cobrir a falta eala esculplura
« tto muda está que nao parece gente
u eslalua de jardim serA somente
u si de panno de raz nSo íòr ngiira.
« o senhor secretario quer que a crea
■ bella sem dentes, eu lh'o nio concedu
•1 desdentada é peor do que ser lia ;
H e em silencio sá pôde causar medo
u ser relógio de sol para uma atdía
• para um povo eslafermo do segredo. •>
Como perfeito cavalleiro que era, tomou António 'le Oli-
veira ê defesa da dama desdentada, e dedicou-lhe a seguinte
decima :
« Nao me solTre o coração
» Que deiíe assim ultrajar
« E desdentada chamar
a A quem toda é perfeição
n Senhores, vi de quesISo:
II rio câo ha estrellas? — E' cerlo,
<• Reluzem tendo o sol pertoT
■ Nio ; pois si Nise lem posto
1 Céo na boca e céo no rosto
<i Yei^lhes as eslrellas é incerta. »
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Na corrente pelágica dos versos sobrenadavam as oraçSes
presideociaes, que semelhantes aos heliotropos, voltavam
seoEcalícis para o sol cesáreo, Replectas naquasi totalidade
de lagares communse guindadas allusões, são para nós
destituídas de minimo interesse. Forma porém, felícissíma
excepção o discurso recitado pelo padre-mestre Raphael
Machado, reitor do collegio dos jesuítas da Bahia, n'aber-
tura da sétima conferencia. Havendo tomado por thema
o pensamento de SalomSo : Nihil suh sole novum ; deu
tractos A sua copiosa erudicção, para concilial-o com a no-
vidade dos descobrimentos dos porli^uezes; e n'esse cer-
tame, rendido o devido preito ao dominante gongorísmo,
mostrou-se por vezes digno emulo de Rocha Pítia e Brito
Lima. Após brevíssimo exórdio, afTrontou a proposição
D'esles termos ;
* A maior dífficuldade com que encontra a gloria portu-
gueza, ponto fíxo do meu discurso, é a sentença de Salomão,
qne logo no principio me deu de repente como sol nos
mesmos olhos, e me quiz cegar o entendimento, com a
enchente e actividade de tantas luzes. Mas ainda que em
mim a defesa da causa porlugueza seja própria □'esta occa-
sião, oão Ucarei c^o mas sim irado e intlammado do calor
portuguez ; usarei dos mesmos raios que a peleja e retorqui-
rei contra Salomão, como granada flamante, o mesmo sol.
Argumento assim : Quando Salomão olhou desde a altura
do sol para o baixo e superficie da terra, podia também
lançar os olhos como perfeito mathematico, desde o sol para
o mais alto dos orbes celestes, e veria que n'este dilata-
díssimo thealro tinham apparecido como figuras de singu-
lar ostentação novas estrellas, muito depois da creação das
primeiras, e se Salomão, por escusar tubos ópticos, qui-
zesse cançar os olhos para perto do mesmo sol, veria qua
aeslrellaVcnus.sem detrimento da sua formosura, com
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DOvidade uoloría de lodo o muedOf madoa apudtta,
forma e compasM do »eu pasteiD, do sqdo da oitaçio do
maado 2318. Logo, se acima do mesmo sol podam acon-
tecer novidades, porqae oão aconlecerão estas debaiio
do mesmo sol? Logo, podia a oaçfto portagoeu obttt
acções BOTas e mníto lazidas debaito do sol, e Uo luiidas
como a loz do mesmo sol. ■
Acabamos de ver o argalo escolástico tirar do seu tbema
as Bais forcadas coodnsões: apreciemos agora as finissi-
maa e delicadas tintas do seu pincel, no quadro que dese-
nha do Brasil :
t Mas alegrando o discurso, não me contentando com o
descobrimento passado eu tudo nOTO, digo oontra Salomio
qoe ainda ha de vir oatro mais novo : o meu Jano assim o
descobre : já promette diamantes, rubis, esmeraldas, para
qne não se perdendo os thesonros antigos, se vejam os novos
reduzidos a compendio. Então se descobrirá a felicidade
do paraiso terrestre, qne a doutíssima peiuia do padre Simio
de Vasconcellos, antigamente hdtítador das paredes am
que moro, em tratado particular, proveu que eslava oo
nosso Brasil, e por desgraça não viu a luz do prelo (19).
Oh ! se então se descobriram os fructos d'aquella ditosa
arvore, dos quaes achou o grande padre Vieira confusas
noticias no Grão-Fará, rei das aguas, que umas nafões re-
novavam as forças e aft^eotava a velhice 1 Tal é esta pa-
raiso e de tantas felicidades, que em todo o rigor hão de
perpetuar e dar novo descobrimento aos portoguezas. Mas
quando considero no nosso Brasil o paraiso, coosolo-me
que tem cherubim, que com a espada de fogo de sua jos-
(19) r iBexpUcaiel aemelhaDle equivocaçSo do padre Machado,
per^ianlo u Hfotietat Curíatcu e Necusícrias dm Cmtau do Branf,'
do pftdre s. de Vasconcellos, já tiavtim sido inpresaat etn Usbn do
anno de 16G8, na offlcina de JoSo da Gosta.
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— 2t —
úçA, èotaitftu e rectidM o detottcte e o gaarda por im^
perio do seu supremo monarcha. A ninguém virátiponsa-
mento de pelejdr contra a espada de íogo doeste cherubim :
s^uros estão, pois, os muros de nosso paraiso. ■
Haviam quiçá reconhecido os academicot esquecidos a
importância do grotetco que tanta consideração mereceu a
Victor Hugo, chegando a dizer d'elle: • que depois do subli-
me é a mais abundante fonte que a natnteía possa offerecer
á arte > (20) ; por isso é que vemos tomarem para assum-
ptos lyiicos os mais burlescos themas. Assim n'essa mesma
conferencia em que tão doutamenle orara o padre-mestre
Machado discorreram os alumnos das miiMs sobre o se-
guinte motte : — Uma moça que, nwRendo na 6001 umat
pérolas, e revolvendo-as, quebrou álgunt âenlB$. — Dentre
a turba dos glosadores sahiu-se António Ayres de Penha-
fiel com a s^uinte chistosa decíOB :
■ N'unia concha cryBtaUiaa
• d'ODde aijo&es bebe a-rarora
• ÍDlrodaz pérolas Flora
■ travessa como memaí :
■ porém como as destiiw
■ a terem jazigo igual
■ revolvendo-se mnl mal
« a cODcha tanto perrertem
1 qae logo em coral convertem
• o que era aijofre e crfstal.
Couberam, porém, incontestavelmente ao padre Barreto,
TÍgario da freguezia de S. Pedro, as honras d''esse torneio
poético; e, apezar de ser um tanto tongo, penso que aio de-
saprazerá aolnstitutoa leitira do seguinte romtncejoco-se-
rio composto cm toantes, que ua opinião d'algun!i críticos
(30) Vi<le o prefacio ao drama CrentwtU.
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ntodoraos pareça bastante conTinhavel á índole da poesia
portogueza {ii).
« Vi de romance esta vez
a e queira a musa ajadar-ine
■ que tratar com raparigas
n iãoi cousa para padres.
« Direi com moila cautela
k as prendas e habilidades
o d'eíta moça, mas de longe
■ que é sol e pôde abrazar-me.
« A senhora dona Nize
a moçoila de lindo lalhe
• d'et[as que agora tropeção
« por donaire em mil donaires
o um flo de ricas pérolas
V lhe deu por prenda um amante
■ qae as sabe a moça pescar
" inda sem metter-se aos mares.
■ Turbou-se um pouco a menina
■ faltou-lhe toda a coragem
« temendo que d'enfiadaB
« as pérolas desmaiassem.
fl Uetteu-as logo na boca
a eu cuidei que era piedade
■ porém dizem que foi traça
o de dar ás pérolas mate;
■ porqne os dentes da menina
• mais claros que o Uno jaspe
■ envei^nhando o marBm
■ só com a prata liga hzem.
(21) Vide o prologo dos Roímmca Hiitoricos pelo Sr. consellieiro
Miguel Maria Lisboa, reimpresso em Bruiellas em 1866.
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— 3Í —
« Vendo-se lá entre deates
■ acaram nuiUo á voDUde :
■ porque mcILiJas nas conchas
« da melhor pérola madre.
■ S6 nSo poderam os dentea
€ com ellãs bem masUgar-ae
■ que então reina mate a inveja
« si a« prendas eSo semelbanles.
> Que sSo maia claios 09 dentes
■ com grande força combatem
« quizeram julgar de cAres
• e licaTam sendo parles
■ Pezem-se os dentes pedaços
<c de cólera; ha lai desastre
■ que pennítta a natureza
■ cortar o vidro diamantes I
■ Mandou Nize a bom partido
Q para acabar-se o debate
■ que as pérolas substituam
* aonde os dentes faltarem.
■ Tenho (eito doze coplas
a que a lei pennitte aos romances
H n&o se acabam os conceitos
■ fallar muito é contra a arte. n
Receio converter o Instituto em outeiro, por isso ponho
aqui tenno ás citações, deixnodo no olvido o avultado pio-
duclo da fecunda musa babiense, revelada nas dezoito con-
ferencias celebradas pela Academia Bra»Hica dos Esquecido$.
D'iima cota lançada á mai^m da 18' conferencia por letra
do secretario consta que no dia 4 de Fevereiro de 1725
finalisára o primeiro anno, e pela natureza das producções
lidas n'essa mesma conferencia deduz-se que certo desali-
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— 3í —
obo te inoculara dos escriptos, ainda dos mais esforçados
paladinos, quiçá pelo cansaço resultante do p«renn« trovar.
Cremos qoe nunca mais se reatou o inteirompido fio de
tão doutas palestras.
Em presença das peças do proceaso qaa fielmeote trouxe
ao conheômeDlo do Instituto persnade-me poder lavrat o
seguinte laodo :
Descendente em linha recta das academias italianas,
hespanholas e portuguezas, foi a Acaámaia Braeilica dos
EtqttKidoa a legitima represoatante do espirito fútil e da
incontinência iropologica que tanto prejudicarun é suas
aroengas. Os homens, porém, que consagraram seus laze-
res ao cultivo da intellígencia, posto que mal encaminhada,
n'uma epocha em que tão poucas aspirações eram deixadas
és leiras, devem ser considerados beaemeritos da patiia, e
sua saudosa memoria religiosamente guardada na urna do
respeito e Yeneraçio dos pósteros.
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o DIA 9 DE JANEIRO DE 1822
Hemoiia lida no Instituto Histórico Geograpliico Brastleiío
DR. UOREIRA DE AZEVEDO
Aclarar os factos, apreseotar estendidameote os aconte-
cimentos, illuminal-os com reflexões, averiguar a^ noti-
cias, fazer indagações aturadas, profundas, afastar as
davidas, romper as nuvens, as trevas que envolvendo os
factos, desfiguram-os e alteram-os, desvanecer os precon-
ceitos, pesaras tradições aproveitando o que n'eltas houver
de racional e consentâneo, apagar das crenças populares o
que fõr falso e embusteadú : eis a missão do bistoriadiír
que, allumiado pela luz da verdade, deve imparcial e des-
prevenido fotbear os monumentos históricos, visitar os
templos, os mosteiros, os edifícios, os túmulos, viver nos
archivos e cartórios, viajar, ser paleographo, antiquário,
viajante, bihlíographo, tudo, como diz Alexandre Hercu-
lano, o douto historiador portuguez.
E na nossa historia muito ha que delucidar, mistérios
a lomper, sellos a quebrar, que guardam factos ainda otlo
convenientemente conhecidos, ou turvados com noticias
erróneas.
Em verdade, porém, somos os primeiros a reconheceras
djfficuldades n^esse caminhar de incertezas, duvidas ees-
curídades ; e se nos oão alentasse esse sentimento que faz
vibrar as cordas sonoras da harpa do menestrel, agitar o
pincel magico do pintor, inspirar ao musico harmonias di-
vinas, mover o escopro d» esculptor, brandir a espada do
guerreiro, exaltar o animo do sábio, o coração do philoso-
TOHO XXXI, P. U 5
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— 3* —
pbo: S0 não Tosse esse entbasiasmo que nos viví&ca no
meio da descrença e scepticismo quenos rodeia, se não fosse
o unor pátrio, certamente aSo seriamos quem oasaria
levantar nVste palácio, eom a fronte saareuta, a ponta do
véo que esconde a noticia exacta de um facto hodierno,
abrindo o discurso com palavras descoradas e despidas de
atavios e esmaltes da eloquência.
O titulo estampado no principio doestas paginas declara
que vamos tratar de um acontecimento que necessita de
um só lustro para estar afastado de nós meio século.
Abicou a este porto ás 3 horas da tarde do día 9 de
Dezembro de 1821, o brigue de guerra infante D. Se~
bastião, e não no dia 10 o brigue Infante D. Miguel, como
diz o nosso tllpstrado consócio o conselheiro Pereira da
Silva, e as notícias que trouxe da metrópole alertaram os
espiritos 6 alvoraçaram os ânimos. Diziam os decretos 124
e 125 das cõrles portuguezas que o Brasil devia ser reta-
lhado, privado de chefe no poder eieculivo, sendo o prín-
cipe D. Pedro chamado á Europa para viajar afim de apri-
morar a sua educação, e, abolidos os tribunaes, devia passa'
o governo do Rio de Janeiro a uma junta, sendo-lbe
entregue a administração em 10 de Fevereiro de 1822.
Destruíam estes decretos as instituiçóes civis creadas
pelo rei, apeavam o Brasil da sua categoria politica, rou-
bavam-lho as prerogativas de que gozara, e entregavam- no
& mercê de aventureiros ou a lutas e guerras civis. Offen-
didos julgaram os brasileiros os seus brios, receiaram-se os
purtuguezes da sorte do Estado americano, e magóou-se e
resentiu-se o príncipe por tírarem-lhe da mão o bastão
da governança, demíttirem-no do titulo e categoria con-
feridos por seu pai, e afaslarem-no do paiz que regia & oito
mezes, para ir estudar nas nações da Europa a arte-da go-
vernação.
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Tratava Portagal da recolooisaçSo do Brasil ; isto é, a
terra de Santa Cruz devia voltar aos tempos de Tbomé de
Sousa.
Era um meDoscabo, uma íajuria ; o paiz aonde encOD'
tráram asylo seguro por alguns annos o rei, os priucipes e
fidalgos portuguezes era agora privado de tudo, sem liber-
dades politicas, sem consideração social, e seus súbditos
psra obterem justiça teriam de percorrer duas mil léguas,
affrontarem mares encapellados antes de chegarem ás por-
tas dos tribonaes de Lisboa.
Feriam os decretos das cortes aos portnguezes e brasi-
Iriros ; como ficariam os primeiros sem lerem o apoio do
príncipe, que nascfira na mesma terra que elles, como o
acompanhariam ; retirando-se o príncipe ficava o Brasil
sem um centro de unidade, com um governo sem força nem
prestigio, e inteiramente dependente de Portugal : e po-
diam sujeitar-se os brasileiros a essa d^radação politica?
Assim pensavam os brasileiros, aos quaes unindo-se mui-
tos dos portuguezes.começaram a conspirar, aformarctubse
lojas maçónicas : tigou-se o capitão-mór José Joaquim da
Rocha com seu irmão o tenente-coronel graduado do bata-
lhão de caçadores e com outros brasileiros, e fizeram elle
e os seus continuas reuniões, conciliábulos, nos quaes
trataram de sobrestara partida do príncipe. Tomou-sea
usa do letrado Rocha, á rua d*Ajuda 137 esquina do becco
do Propósito, o centro das reuniões politicas, frequentadas,
entre outros, pelo coronel Francisco Maria Gordilho, de-
pois marquez de Jacarepaguá, Luiz Pereira da Nóbrega,
Pedro Dias Paes Leme, depois marquez de Quexeramobim,
B o franciscano, frei Francisco de Sampaio.
Escreveram os patriotas a alguns dos membros dos
governos de S. Paulo e Minas, concilando-os a represen-
lirem ao príncipe sobre a necessidade que tinha o Brasil
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de sua presença, até que as cAries portugnezas, aUegan-
do-se os inconvenientes dos decretos expedidos, appro-
Tassem medidas salutares. Eacarregaram ao coronel Gor-
dilbo de saber do príncipe se, vindo representações dos
governos de S. Paulo e Minas, e havendo representações
do povo e tropa do Rio de Janeiro, resolveria a sua ficada
no Brasil.
Participando Nobr^a ao Dr. Josó Mariano de Azeredo
Coutinho o sou projecto e de outros de obstara sabida
do príncipe, approvou Azeredo Coutinho tSo patriótica idéa,
e pedia ser apresentado ao letrado Rocha para combina-
rem no modo de fazer a representação do povoe tropa:
de feito, reunidos na cella de frei Sampaio o letrado Bocha,
seu iimão, Luiz Pereira da Nóbrega, Paes Leme, Azeredo
Coutinho e frei Anlooio da Arrábida, coafessor do príncipe
6 depois bispo de Anemuria, discutiram as bases da repre-
sentação, de cuja redacção incumbiu-se frei Sampaio. Peita
e approvada, liraram-se d'ella cópias para serem remettidas
ás estações publicas, aos corpos do exercito e armada, afim
de serem assignadas pelos respectivos empregados e praças.
Enviaram os patriotas a S. Paulo com ofiicíos e cartas
endereçadas a Martim Francisco e a José Bonifácio, mem-
bros d^aquelle governo, e para informal-os dos n^ocios
do Rio, a Fedro Dias, que, dando-lbe azas o patriotismo,
transpõz em poucos dias a distancia que nos separa d^a-
quella província do sul ; e a Minas o tenente Paulo Barbosa
da Silva depois mordomo da casa imperial, ao qual disse
o prÍDcipe quo, se fosse feliz n'essa missão, ficaria seu
am^o ; também asseverara a Gordilho que, se as represen-
tações lhe fossem dirigidas convenientemente, assumiria a
responsabilidade de desobedecer ás c6rtes; e apezar de
haver-lhe dito Paes Leme o fim que levava-M> a S. Paulo
não estorvara D. Pedro sua viagem.
Dictzedby Google
- 37 —
Moço, na idade eca que o espirito mais se reseale das
offensas e maia altanado se mostra, vendo-se amado e fes-
tejado pelos brasileiros, e desrespeitado e insultado pelos
decretos portuguezes, desejava D. Pedro desobedecer ás
ordens das cortes e permanecer no Brasil; e assim não
só favorecia os planos dos que trabalhavam para elle não
desamparar o paiz americano, senio nas cartas escriptas a
seu pai começou a insinuar os obstáculos e dífficutdades
em cumprir aquelles decretos. Na carta dirigida em 14- de
Dezembro de 1821 dizia o príncipe :
t Faz-se mui preciso para desencargo mea seja pre-
sente ao soberano congresso esta carta, e Vossa Mageslade
lhe faça saber da minha parte que me será sensível sobre-
maneira se fõr obrigado pelo povo a não dar o exacto cum-
primento a tão soberanas ordens, mas que esteja o congresso
certo que hei de fazer com razões, os mais fortes argumen-
tos, diligenciando o exacto cumprimento quanto nas minhas
forças couber. »
Na carta de (5 do mesmo mez escreveu:
■ Tomo o protestar ás cArtes e á Vossa Magestade que
só a força será capaz de me fazer faltar ao meu dever. »
Na carta do dia 30 acrescentou :
• Tudo está do mesmo modo que expuz nas duas cartas
anteriores á esta á Vossa Magestade ; o dilTerença que ha é
que d'ante$ a opinião não era geral, boje é e está mui
arraigada.
Na do dia 2 de Janeiro de 18-22 declarou ;
t Farei todas as diligencias por bem para haver socego,
e para ver se posso cumprir os decretos 124 e 125, o que
me parece impossível, porque a opinião é Ioda contra por
toda a parte. »
Partira, como dissemos, o tenente Paulo Barbosa para
Minas, eem oito dias chegara a Ouro-Prelo. A primeira
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pessoa com qaem se flDlendfira do lagar deDominado Borda
do Ompo fAra o padre Haaoel Rodrigues da Cosia, qae
como preso da ioconfideDcia estivera em 1791 no cárcere
da fortaleza de S. José, na ilha das Cobras ; promettíra-Ihe
esse sacerdote esforçar-se por obler da camará de Baii>a-
cena uma represeDiação pedindo a ficada do priacipe o
que cons^iiiu : d'alli dirígira-se Paulo Barbosa para Queluz
onde abrira-se com o padre António Ribeiro de Andrade,
letrado da villa, que influiu sobre a camará para repre-
sentar DO mesmo sentido ao priacipe r^nte : encontrara
em Ouro-Preto opposição dos membros do governo que
quizeram prendél-o e remettél-o á Bahta ; mas chegando ao
lugar o tenente António Carlos Ribeiro de Andrada, emis-
sário do governo de S. Paulo ao de Minas, aplainaram-se
as difficuldades do negocio e houve representação ao prín-
cipe : ajudado em Marianna pelo coronel Fortunato obtivera
Paulo Barbosa representação da camará do distrícto, assim
como das de Sdbará e Caeté, e regressando para S. João
d'Et-Rei favorec6ra-o em sua missão o coronel Isidoro,
appellidado o bispo, -e alcançara representação do lugar ao
príncipe regente. Além d'e3ses manifestos das municipa-
lidades enviara o dedicado cidadão, encarregado de Ião
afanosa tarefa, muitas representações de coronéis e capi-
tães-móres de ordenanças ( 1 ).
Não descansavam os brasileiros no Rio de Janeiro, o
patriotismo augmenlava-thes o ardor e a actividade, e os
não detinham nem os perigos nem as fadigas.
Incumbiram-se lunocencio da Rocha Maciel, que ainda
(1) Falleceu Paulo Barbosa da Silva, com 74 sonos de idade, em 38
de Janeiro de 1868, e sepullou-se no cemitério de S. FiaDCisco de
Psuta. Era natural de Hinas, brigadeiro reformado, mordomo da
casa imperial, e tinha diversas condecorasses nacioaaes e eslrto-
geiras.
DictizedbyGoOJ^IC
TÍve, filho do capilão-mór Rochs. e António i
Vascoocellos DnuDmond de agenciar assígnaturas para a
representação qne pelo seaado da camará devía ser levada
ao prÍQcipe, e afim de apressar esse trabalho anDuociou o
capilão-mór que estava pateole dia e noite em sua casa a
representação para aquelles que quizessem assignal-a.
Apezar de dÍo oppftr-se abertamente a essas assignaturas,
começou a tropa porlugueza a manifestar descontenta-
mento, a observar cautelosamente os patriotas; viram-se
grupos de soldados portuguezes do batalhão 11 e de arti-
Iberia nas vizinhanças da casa do capitâo-mór, do que
lendo noticia o brigadeiro Vidigal, commandante da poli-
cia, enviou patrulhas do seu corpo para segurança do do-
micilio d^aquelle cidadão.
No dia 1 de Janeiro, e não no dia 31 como diz o afamado
historiador Varnhagen, recebeu o priocipe a representação
do governo de S. Paulo datada em 2i de Dezembro e assi-
gnada em primeiro lugar por João Carios Augusto de Oey-
Dhausen, depois marquez de Aracaty. Escreveu o príncipe
00 dia seguinte a seu pai n'estes termos :
« Meu pai e meu senhor. Hontem pelas 8 horas da
noite chegou de S. Paulo um próprio com ordem de me
entregar em mão própria o oOicio que ora remetto incluso,
para que Vossa Mageslade coubeça e faça conhecer ao so-
berano congresso quaes são as firmes tenções dos paulistas
e por ellas conhecer quaes são as geraes do Brasil. ■
Reunindo o princípe D. Pedro o ministério afim de cod-
suttal-o se devia ou nãoannuir ao pedido dos fluminen-
ses para ficar no Brasil, votaram os ministros unani-
memente que, em obediência ás ordens do soberano
congresso e do rei, devia o príncipe ir para Portugal ; mas,
levantada a sessão,conta-se que o desembargador Francisco
José Vieira, successor de Pedro Álvares Diniz no cargo de
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— w —
raÍDÍstro do reino, pedira ao prioclpe para ouvil-o em par-
licular e disséra-nhe : « Senhor. V. k. Realjá ouviu meu
TOlo como ministro, agora quero daMbe a minha opinião
como simples particular ; não yi, fique que é o que con-
vém a todos. >
Appareceu no dia 8 o seguinte annuncio publicado pelo
letrado Rocha :
« Como consta que a generalidade dos habitantes d' esta
cdrie, levados do verdadeiro espirito de liberalidade, do
amor á inclyta nação porlugueza, do mais ardente desejo
do solido bem, perpetuidade e iadivisibilidade do império
portuguez, e do cordeal ailecto, respeito á real casa reinante,
desejam assignar a representação que pelo Illm. senado
da camará se dirige ao heróico e augusto príncipe real e
regente do reino do Brasil, para que, interpretando justa e
' racioualroeote as ordens que sobre este objecto ao mesmo
real senhorforam ultimamente iransmitlidas, não deixe este
reino, como único e indispensável meio de cons^uir os
importantíssimos fins da união reciproca que foi procla-
mada, faz-se-lhes saber que quem quizer assignar a sobre-
dita representação se dirija i rua da Ajuda n. 137, no dia
de hoje, 8 do corrente, impreterivelmente, onde a lerá,
eacbando-a digna assignará, sendo d'esses sentimentos. >
Atlendeu o povo ao chamameDlo do patriota; mais de oilo
mil assignaturas cobriram a representação que tinha de ser
dirigida ao príncipe real.
Em uns apontamentos colhidos pelo nosso distincto
mestre, amigo e douto consócio o Sr Dr. Silva, os quaes
foram-nos cedidos graciosamente e serviram-nos para en-
sartar os factos d'este discurso, lemos o seguinte :
I Parece que o dia O de Janeiro foi o escolhido para
dir^Írem-S6 as representações ao príncipe por lerem che-
gado os decretos das cdrles em 9 de Dezembro. »
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— 41 —
Vem corroborar essa idéa e conveneer-DOS de qoe ft&~
TÍamente se determÍDára aquelle dia o que lemos na carta
escripla no dia 2 pelo príncipe ao rei, e é o seguinte :
« Ouço dizer que as representações d'esta província são
feitas no dia 9 do corrente, i
De feito ás 10 horas da manhS d'e3se dia enviou o sfloado
da camará o seu procurador ao principe pedindo-lbeuma
audiência, e marcando o principe regente a hora do meio-
dia sahiu ás 11 horas o senado do consistório da igreja
do Rosário, onde se reunia, e acompanhado dos homens
boos, que tinham andado na governança da terra e'de
muitos cidadãos, caminhou processionalmente para o paço
da cidade, e entrando e sendo apresentado ao príncipe díri-
giu-lhe o presidente do senado, José Ctemenle Pereira,
uma falia, finda a qual entregou-lbe as representações do
povo, do corpo de negociantes e dos officiaes de ourives.
Obtendo a palavra o coronel de eslado-maior ás cmlma
do governo do Rio-Grande do Sul, Manoel Carneiro da
Silva e Fontoura, que pedira permissão ao senado para
incorporar-se a elle, declarou serem iguaes aos dos flumi-
minenses os sentimentos dos rio-grandenses; no mesmo
acto apresentou João Pedro Carvalho de Moraes uma carta
das camarás de Santo António de Sá e Magé, nas quaea
estavam exarados os mesmos votos.
Tendo resposta favorável do principe, anounciou-a José
Clemente ao povo de uma das janellas do palácio, e
apparecendo D. Pedro em outra janella foi fervorosamente
saudado ; logo que serenou o alvoroço popular exclamou
o principe :
• Agora só tenho a recommendar-vos uniío e Iran-
quillidade (2) >.
(2) Serviram estas duas palavras para denominar uma loja maçónica
ctmbecida também com o nome de Nove de Janeiro.
TOSIO XXXI, P. IJ 6
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Repetiram-se as acclamações ao erguer o presidenle do
senado vivas á religião, & cOQStilniçflo, ás cArtes, á el-rei
constitucional, ao príncipe conslitacioaal e á união de
Portugal com o Brasil.
Findo o acto recolheu-se o senado aos paços do concelho,
recebendo em seu trajecto continuas saudações e frequen-
tes congratulações.
Ra noite d'e8se dia appareceu nos lugares públicos
o segointe edital.
■ O senado da camará julga do seu dever aonunciar ao
povo d'esla cidade que hoje ao meío-dia pôz na presença
de 8. A. Real o príncipe regente do Brasil ss representações
que lhe dirigiu ; e que o mesmo senhor se dignou annuír a
^as dando a resposta seguinte :
t Convencido de que a presença de minha pessoano
ff Brasil míeressa ao bem de toda a nação portagueia,
« 9 conhecendo que a vontade de algumas provindas o re-
« quer, demorarei a minha sahida até qtte as cortes e mea
a augusto pai e senhor deliierem a este respeUo com per feito
■ conhecimento das ctí^cumstancias que tém occorrido. b
- I E para que seja completa a gloria d'e9te dia recom-
menda o mesmo senado a todo este povo que descanse de
hoje em diante na sua vigilância, e que deixe ao governo
a disposiçAo das providencias necessárias, porque, não po-
dendo resultar de uma condacta contraria senSo anarchia
6 desordem, virá a cahir nos mesmos males que pelo passo
que acaba de dar deseja evitar.
■ Rio de Janeiro, em vereação de 9 de Janeiro de 1823.—
José Martins Rocha. ■
No dia se^inte publicou a camará outro edital n^estes
termos:
« O senado da camará, tendo publicado hontem com no-
tável alteração de palavras a resposta que S. A. Real o
D,:i,i,;..jt, Google
príncipe regenie do Brasílse dignou daráiepresentaçâoque
o pOTO doesta cidade lhe dirigíu.declara queas palarras origi-
naes de qae o mesmo senhor se serriu foram a sseguiotes ;
a Como épara bem de todos e felicidade geral da nação,
« estou prompto ; diga ao povo que fico. »
■ O mesmo senado espera que o respeitável publico lhe
desculpe aquella alleraçâo, protestando que não foi volun-
tária, mas unicamente nascida do transporte de alegria que
se apoderou de lodos os que estavam no salão das audiên-
cias, sendo láo desculpável aquella falta, que todas as pes-
soas que acompanharam o mesmo senado não tiveram du-
vida em declarar que a expressão do edital que se acaba de
publicar f6ra a própria de S. A. Real com alguma pequena
differença.
Rio de Janeiro, 10 de Janeiro de 1822. —O juiz de
fora, presidente, Jo$é Clemente Pereira. *
Vém estampadas estas peças officiaes nos annexos is
cartas do príncipe D. Pedro ao rei, seu pai, na coUecção
dos documentos publicados por ordem das cortes em 1823,
que acompanharam a participação dirigida ao governo pelo
commandante da força expedicionária, existente no Rio
de Janeiro ; o Diário do Rio transcreveu o primeiro edital
na folha de quinta-feira 10 do Janeiro e o segundo na do
dia seguinte, e ambos vieram a lume n^esse dia no periódico
Etpelho.
Está, pois, authenticado qne houve duas respostas ás re-
presentações do dia 9 ; mas qual a razão da aífix&ção do
segundo edital : que motivaria as duas edições diametral-
mente oppostas das palavras do príncipe : que aconteci-
mentos se originaram da s^unda resposta, em que O.Pedro
decididamente e soro condição alguma aononciou a sua
vontade em ficar no Brasil !
Eis o que vai occupar-nos no seguinte capitulo .
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— 44 -
U
£' de admirar qao, tendo ido o senado da camará fazer
ama petição ao priacipe, estando lodos anciosos por ouvir
as palavras d'es(e, as quaes tinham de decidir os negócios
públicos e a situação do paiz, reinando silencio na sala do
palácio, atteotos e desejosos todos de adivinhar pelos mo-
vimentos dos lábios do príncipe real qual a sentença que ia
pronunciar, não fossem perfeitamente percebidas e nSo
ficassem gravadas na memoria de todos as expressões do
regente do Brasil. Tratava-se de negocio de alta magni-
tude, ia decidir-se a sorte do Brasil, lavrar-se a sua sen-
tença ; ou devia continuar como reino, com direitos ignaes
e irmãos aos de Portugal, ou retrogradar, e ficar mísera
colónia ; era uma questão de nacionalidade, de honra, de
autonomia politica a que estava pendente dos lábios do
príncipe, cujas palavras ou haviam de dictar a condemoação
ou a salvação, a liberdade ou a escravidão do paiz ame-
ricano. Toldados estavam os negócios públicos, obumbra-
vam o horizonte politico nuvens catiginosas e esperava-se
um flatt cujo vocábulo devia ser pronunciado pelo príncipe.
Como, pois, comprehender que foram mal ouvidas e mal
interpretadas as expressões de D. Pedro, como crer que,
tratando-se da conservação ou postergação de direitos e
r^alias dos brasileiros, se confundissem as palavras que
tinham de aclarar estes fados ; póde-se acreditar em ler-se
confundido a primeira resposta, dúbia, condicional, com a
segunda, plena e absoluta, a resolução contemporisante e
temporária, enunciada na primeira resposta, com a decisão
franca e explicita da segunda I Podia, é certo, haver equi-
voco em uma ou outra palavra ; mas a diversidade das
expressões e do sentido entre a primeira e a segunda res-
posta faz crer o haver sido esta lavrada depois.
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_ 4o —
Os documentos coevos v£m em auxilio nosso.
Diz o periódico Malagueta, escripto por Luiz Augusto
May, no seu numero i :
t Posto que, como Uca dilo, nenhum dos periódicos se
propuzesse ao relatório dos acontecimentos do dia 9, acon-
teceu que o Diário do dis. 10 oppareceu com a interessante
resposta quo o serenissimo Sr. príncipe regente se dignou
dar ao senado da camará ; esta resposta, apezar de se oão
acliar na Gazela Ministerial do mesmo dia 10, mereceu o
cunbo de oQjcial por isso que etla se achava rercrendada
pelo escrivão da camará ; mas qual foi o espanto de todos
quando no Diário do seguinte dia (11) se onnuncia a res-
posta de S. A. Real Iranscripta em palavras dilTerentes da
do dia precedente, e que para ter o cunho de maior ortho-
doxia viaha referendada pelo juiz de fora, presidente!
Antes que appareça novo aonuncío em que os vereadores
e o procurador nos transmitiam esta resposta em 3* e 4*
forma com respectivas assignaturas, peço desde já licença
para intervir.
a Não será esta a primeira vez em occasião de alto cor
tejo e concursos diplomáticos e municipaes, em que tenham
havido equivocações na transmissão de discursos e res-
postas ; mas é inquestionavelmente a primeira vez em que
achando-se as três potencias da alma suspensas, para o
fim de receber impressões de palavras do mais vivo inte-
resse, anciosamenie esperadas por seis ou mais {^soas
de ama respeitável municipalidade, palavras que, pronun-
ciadas, reinando um morno silencio, deveriam ficar logo
consignadas no protocolo da memoria do todos, appareça
uma contradicçãoque forma um celebre eontrastecom a asser-
f^ão que acabo de fazer acima, sobre a digna atlitude que
o acto tomou, desde a sabida da casa do senado, até o mo-
mento da falia de Sua Alteza. >
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— 46 —
Na participação que Jorge de Arílez dirigiu is cortes
lè-se:
c S. A. Real ouviu com agrado a soticitacSo do senado
da camará, que, na mesma aoíle de 9, publicou por um
edital, queS. A. Real demoraria sua sabida, alé que as car-
tes e seu augusto pai e senhor deliberassem com perfeito
conhecimento das circumstaocias occorrídas.
« Ainda que parece dilfícíl de comprehender como um
grande numero de geatc,reunido ao mesmo tempo em uma
só sala, guardando todos um respeitoso silencio, não per-
cebesse a resposta de S. A. R., a qual o senado fez pu-
blica peto edital d^aquelle dia, viu-se no seguinte outro
edital que declara não ler sido squella a resposta ; e que,
dtcididamente e sem condição alguma, S. A. Real annuncia
sua vontade em Qcar. >
No officio que o mesmo Avilez enviou em 18 de Janeiro
ao ministro da guerra, Manoel Martins Pamplona, l£-se :
■ Espalharam por toda a parle esta doutrina, que (ornou
tal vigor que obrigou a camará a dirigir a S- A. Real um re-
querimento precursor da independência intentada, para
que ricasseaqui;SuaAttezBannuiu, significando que ficaria
até dar parte ás cOrtes geraes e a seu augusto pai, nosso
amado rei. Esta resposta uao pareceu suSiciente aos inte-
resses, epedíu-se se declarasse por um edital a absoluta
resolução de licar. •
Houve pois dualidade de resposta ás representações diri-
gidas ao príncipe ; mas como explicar a segunda resposta,
o apparecimento do segundo edital t
E' do crer que,comprehendendo o principoque a primeira
resposta collocava-o em uma posição pouco conveniente e
duvidosa, não só em relação ao congresso, coroo aos bra-
sileiros, mandasse publicar a resolução clara e resoluta
contida no segundo edital. De feito, ficando lemporaria-
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— i7 —
meote, desobedecia ás cdrtu:^ e não conlenlava aos brasi-
leiros ; ou aconselhado pelos patriolas, que fizeram-lbe ver
que a primeiía resposta aão preenchia ás necessidades pu-
blicas, á situação do paiz, nem salisrazía á espectativa po-
pular ; que,se o príncipe não devia deixar o Brasil n'aquelle
momento por não convir á nação portugueza, peior seria
DO futuro, mais perigoso e difflcil (ornar-se-ia seu re-
gresso; que nada se devia esperar das cdrtes, que haviam
já manifestado a sua reprovação, por haver o príncipe
ficado no Brasil como r^enle, excluindo-o da dotação, e
pesando essas razões no animo de D. Pedro, levassem>no
a dictar as palavras do segundo editai, que para maisautheu-
ticidade e cuabo oíBcial veiu referendado pelo juiz de fora,
presidente do senado, José Clemente Pereira ; foi o único
que apporeceu na Gazeta Ministerial, o único que veiu
consignado no termo da vereação da camará, e o único que
o principe referiu na carta em que relatou esse aconteci-
mento a seu pai. '
Que a primeira resposta não satisfazia á situação politica,
aos votos populares, prova-so pelas representações apre-
sentadas ao príncipe, das quaes, se algumas pediam ao
regente do Brasil para ficar até ulterior decisão do con-
gresso, declaravam outras que decididamente devia D. Pe-
dro permanecer do Brasil.
Disse o representante da província do Rio-Grande do
Sul, no dia 9, ao priacipe real:
I N9o podemos de nenhum modo, nem por considera-
ção alguma, consentirno decretado regresso de S. A. Real.
Na falia endereçada pelos pernambucanos ao príncipe^
e impressa mais tarde por ordem d'este, lé-se:
c Sim, augusto senhor ; á no Brasil que V. A. Real deve
fixar a sua residência, D'esla parle da monarchia é que Vossa
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- 48 -
Alteza pôde sustentar iUesos os sagrados direiíos da corda,
em que um dia ha do succeder. ■
Dissera em 1 de Janairo, o clero de S. Paulo, pela bocca
do seu prelado :
■ Não se aparte Vossa Alteza do reino do Brasil, todos os
brasileiros amam, estimam e reverenciam a Vossa Alteza e
sobre todos os honrados panlislas, todos elles, eu e o meu
clero estamos promptos a dar a vida por V. A. Real e pela
real família. •
Produziu a primeira resposta má impressão, desagradou
ao povo; corrobora este asserto o que escreveu Jorge de
Avillez ás cdrtes, e é o s^uinte :
« E com effeito a opinião publica mostrou-se immedia-
tamente com vehemencia que o desejo dos que subscre-
veram o memorial era de que, absolutamente e sem sujei-
tar-se, nem ás cortes nem ao monarcha, fícasse. Foi este
o maior Uiumpbo que conseguiram e que os armou pars
ulteriores passos.
Causou a segunda resposta vivo contentamento e expan -
siva alegria aos brasileiros, que desde então idolatraram a
D. Pedro, que, havendo desobedecido formalmente ás or-
dens do coDgresso, formara con) elles um tratado de alIiaDça,
coroo diz o nosso conterrâneo amigo e illustrado consócio,
o Dr. Joaquim Manoel de Macedo. A cidade iUuminou-se
três noites coosecutivas, o iheatro de S. João, hoje de
S. Pedro de Alcântara, abriu suas portas, e aos espectá-
culos assistiu o principe real saudado frequentemente pe-
los vivas e applausos do povo, e pelos hymnos dos poetas.
Mas essas mesmas palavras, que encheram de jubilo os
corações de um povo inteiro, exaltaram os ânimos dos sol-
dados portuguezes.
Costumada a exercer a mais decidida influencia nos negó-
cios públicos, 8 intervir directamente na marcha goTerna-
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^ 49 —
liva e a exigir medidas de maior alcaoce e importância,
havendo obtido pelo seu prouuaciamento que o rei jurasse
em 26 de Fevereiro de 1831, a constituição que se estava
fazendo em Portugal, e o príncipe D. Pedro prestasse jura-
mento, em 5 de Junho do mesmo anno, ás bases da consti-
tuição porti^ueza, irritou-se a (ropa de Portugal por ver
que, sem consultal-a, sem haver obtido pelo menos o seu
tácito consentimento, (omára o povo a deliberação de reter
o principe no Brasil, acquiescendo D. Pedro á vontade de
seussubdilos, snnuindo a seus votos (3).
Exasperada por não haver exercido influencia na reso-
lução do principe, e comprehendendo seu alcance politico,
Iralou a divisio portugueza de intervir, e julgou ser tempo
ainda de sopitar a vontade do povoe do filho do rei.
Declarando no dia 11 Jorge de Avilez Juzarte de Sousa
Tavares, general da divisão auxiliadora, que estava demit-
tido do commando, revoltaram-se os soldados dos bata-
lhões II e 15 e os de artilheria \ enfurecidos percorreram
de noite as ruas, quebraram as vidraças e apagaram as lu-
minárias.
Constava a divisão auxiliadora do batalhão 11, aquarte-
ado no largo de Moura, do batalhão 15, no quartel de Bra-
gança, do de caçadores 3, em S. Chrislovão, e do 4° de
artilhoría, na cavalharíça do paço.
Exaltados os ânimos, mostraram-se os offlciaes portugue-
zes desabridos em suas palavras e acçdes. Estando o briga-
deiro Francisco Joaquim Carreti na porta d' uma pharmacia
d rua Direita, disseram-lhe os que rodeavam-no que o
príncipe não iria mais para Portugal.
■ Ha de ir, exclamou o brigadeiro, ainda qi\e lhe sirva
(3i V. Compilidor d. à de 27 de Janeiro de lS33i
TOMO XXXI, P. II
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de prancha a folha d'esta espada. • E pegou da espada pen-
deale do cinturão.
Encontra Qdo-se no sagoSo do Iheatro na noite de II os
tenentes-coroneis Josd Joaquim de Lima e José Marja do
batalhSo li de Portugal, disse este :
a Vocâs fotam nossos escravos, sáo e hão de contÍDuar a
sèl-o e Tou dar & prova. >
O tenente-corooel Lima retirando se retorquiu :
c Veremos isso. >
Referiu-nos o Dr. Joaquim Cândido Soares de Heirelles,
actual cirui^ão-mór da armada, este facto, que vimos rela-
tado em uma carta escripta pelo referido cirurgião-mór
em 30 de Outuhro de 1857, a qual vem impressa na
memoria intitulada Exposição Histórica da Maponaria no
Brasil pelo cirui^iâo-mór Manoel Joaquim de Menezes.
O Dr. Soares de Meírelles era n^aquella época cirurgião
do 1* batalhão de caçadores do paiz, mas por haver falta
do cirurgião na divisão portugueza estava alistado no
batalhão 11.
Eis como descreve elle na supracitada carta a altercação
enire Lima e José Maria :
■ Eu chegava ao Iheatro quando isto se passava ; o com-
mandante do 11, vondo-me, disse-me que o acompanhasse.
Entrámos em casa do coronel João de Sousa, com quem
fallou em particular, e partimos para o quartel. Abi estando,
chegaram o mesmo general João de Sousa, os generaes
Carreti, Jorge de Àvilez, Raposo e outros oíHciaes superiores.
Pôz-se logo o batalhão em armas. Depois de alguns mi-
nutos de conferencia partiu o ajudante a galope para
S. Cbristovão para fazer pdr em armas o batalhão 3 de
caçadores de Portugal, e outro ollicial para o quartel de
Bragança e artilheria n. i, para que esta e o n. IS também
se puzessem em armas.
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■ Como ú commaDdanle uo furor em que estava não
leQecliu que eu era brasileiro e não compartilharia os seus
desvios e dos seus, disse-me : t. Como seus patrícios dSo
a querem ser livres, bavemos de Ibes dar o Uberdade á
« força, e o principe desobediente (foi outro o termo de que
< se serviu) agora mesmo ha de ser preso, pois vamo^
I cercar o theatro e o havemos de levar pelas orelhas para
bordo. »
a 'Como eu estava á paisana, pedUlhe licença para ir
á casa fardar-me. Parti immediataraenle para o thealro,
e fui lor ao camarote do major do dia, que era José
Joaquim de Almeida, major do meu corpo. Tomaado-o
de parte conlei-lbe o que havia ; elle couduziu-me ao
camarim do principe, e fél-o chamar para lhe communicar
negocio grave.
a O principe sabiu incontinente e eu lhe referi o que
havia: não voltando mais ao camarim, partiu immediata-
mente para S. Cbristovão. >
Divulgada repentinamente a noticia da violência que os
oQiciaes portugueses queriam empregar contra o principe
regente, irado correu o povo para as ruas e praças, o tratou
de tomar armas de defesa ; formaram os ofliciaes brasi-
leiros uma guarda de honra para acompanhar o príncipe
até á quinta da Boa-Vista.
De caracter enei^ico e destemido, se nâo aterrava facil-
mente o príncipe real D. Pedro ; resoluto a resistir contra
a divisão portugueza, mandou armar os militares da segunda
linha e a guarnição da cidade, mas julgou conveniente
enviar para a fazenda de Santa Cruz a sua família ', e essa
viagem precipitada, feita em dias calmosos, aggravou os
padecimentos do príncipe herdeiro, que contava pouco mais
de dez mezes de idade.
Tocou-se a rebato, cidadãos de todas as classes apresen-
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— 52 —
taraoi-íc armados ou correram aos quartéis do caulpo
de Saot^Anoa para tomarem o mosquete e a palrooa ; offi-
ciaes reformados, sacerdotes, empregados públicos, d^o-
ciarílcs empunharam armas e alistaram-se como simplos
soldados.
Apezar de se achar atacado da gota, tomou o marechal
Joaquim de Oliveira Alvares o commaado da força, o
mandou vir da Praia Vermelha a bateria da arlilhería mon-
tada, que foi conduzida por animaes da cavalhariça do
principe.
Arrombando um portão que dava para á praia de Santa
Luzia, sahiram do arsenal de marinha alguns soldados e
operários, e foram reunir-se ao povo e tropa que cc^u-
lavam o campo de SaoCAnna.
Os raios brilhantes da lua, transformando a noite em dia,
favoreciam os planos dos fluminenses, mostravam-lbes os
caminhos, guiavam-os em suas excursões, e alentavam-
lhes na alma o amor da pátria.
Occupando o morro do Castcllo e assestando uma pe^a
contra a casa do capitão-mór Rocha, tomou a divisão por-
tugueza, ao amanhecer do dia 1 3, uma atlitude hostil e
ameaçadora; oa cidade acbava-se o povo armado, e pela
effervescencia e movimento guerreiro podia prognostica r-se
grave confliclo. Mas, receiando-se da resíslencia que os
numinenses podiam aprcsentar-lhe, crendo nas noticias
exageradas de meios de defesa artificiosamente espalhadas,
vendo que, apezar de Qcar em armas, se não movera do
quartel o Iialalbão de caçadores 3, e que não podia con-
servar muito lempo a posição occupada, resolveu Àvílez,
intimado [>elú principe, capitular, conservando seus sol-
dados as armas, c ri^tirut-se para a Praia-tirande, na oulra
banda da bahia, onde julgava poder perm3n'icor alé chegar
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- 33 —
a expediç&o esperada de Portugal, sendo então mais facils
a resisteacia e mais seguro o resultado da lata.
Era uma capitulação phaDtastica, e para pioval-o abra-
mos de Dovo a carta, já por dós cilada, do Dr. Neirelles.
Escreve elle:
t No dia seguinte appareci em o o. 11 ; tíuham capitu-
lado as tropas portuguezas, e iam para a outra banda.
t Felizmente o commandante estava como na véspera,
por isso disse-me que a capitulação era phanlastica, e que
a primeira companhia de caçadores 3 que cfaegasse á Praia-
Grande iria occupar Santa-Cruz, que elles se fariam fortes,
resisliriam ao príncipe até chegar a divisão auxiliadora ; e
como me ordenasse que fosse arranjar as ambulâncias,
sahi e fui a Ioda pressa ao campo de Sant^Anna. Ahi
chiando dirigi-me ao mea commandante, que eslava com
os marechaes Lído de Moraes, Geneli e outros, e lhes disse
o que havia. O marechal Lino disse que sem tomarem o
Pico não podiam tomar Santa-Cruz, que cincoeota homens
fariam face a mil ; e não deram importância ao que eu lhes
dizia : t Pois, senhores, lhes tomei eu, no Pico ha um cabo
e cinco soldados. • E fui paia o general Curado, que estava
á testa das forças patrióticas ; mal me ouviu, balendo-me
no hombro, disse : « Tem razão, meu menino. » E mandou
immediatamenle um tenente com 60 homens occupar o
Pico e reforçar Santa-Cruz.
c Não se linha passado uma hora que chegara ao Pico a
força mandada, quando a companhia de caçadores chegava
lambem. Reconhecendo a força, retirou-se (i).
(&] Falleceu o Dr. Joaquim CBodldo Soares de~,MeireIles em 13 de
Julbo de 1868 e sepiiltou-se no cemitério de S. Francisco de Paula.
Era mediro da imperial camará, membro honorário da academia de
medicíoa, oflicial do Cruzeiro, commeDdador da Rosa, cavalleiro
de Aviz, conselheiro, clturgiSo-mór da armada, e liotia a medalh"
Dictzedby Google
— 54 —
Descrevendo o embarque da divisão portugueza diz o
erudito historiador Vambagen :
( Antes que as ditas tropas portuguezfts passassem á
outra banda alravessaram formadas algumas ruas da cidade,
fazendo compassadamente com a marcha um tal niido
grave com os sapatos dos soldados cravejados de laxas, que
o povo se lembrou de denominal-os pés de chumbo, alcu-
nha que depois se estendeu a todos os fdhos de Portugal,
que, vendo n'ella aiTronta, d'Í5So julgaram vingar-se cha-
mando aos Qlhos do paíz pés de cabra, alcunha que en-
volvia em si um verdadeiro insulto, que talvez conlribuiu
muito, senão a encarniçar a luta contra os européos, pelo
menos a arraigar ódios que felizmente já quasi desappa-
receram com vantagem dos dois paizes. >
Transferida em embarcações de transporl» a divisão
portugueza, excepto o batalhão de caçadores que estivera
em S. Christovão, não descansou o príncipe; mandou
reunir tropa e milícias no campo do Barreto para cortar
á divisão a communicação do interior do paiz; coUocou
em frente aos quartéis da Armação, occupados pelos sol-
dados portuguezes, alguns navios de guerra ; escreveu aos
governos de S. Paulo e Minas pedindo-lhes reforço de
tropa ; fez uma representação ao povo e outra aos soldados
de Avilez, que lambem publicou um manifesto justilicando
o seu procedimento ; ordenou que os soldados da divisão
que requeressem baixa a tivessem, e d'esse indulto aprovei-
taram-se muitos, pelo que, representou Avilez ao príncipe,
que não o altendeu, e que, talvez para manifestar mais
claramente sua adbesuo aos brasileiros, chamou ao minis-
comniomorativa do rendimento de Uruguajana. Occupou dislincto
lugar cuti-c os médicos do paiz, e aJDda mesmo nos leropos das lutat
ardentes dus parijdos sout)e ganliíir e conservar amigis dedicados
calrc seus adversários políticos.
D,:„l,;cdtv Google
— 55 —
terio a Caetano Pinto de Miranda Monten^ro, Joaquim
de Oliveira Alvares e a José Bonifácio de Andrada e Silva,
illustre brasileiro, que, coUocado ao lado do regente do
Brasil, BCODselhou-o e guiou-o tornando-o heróe da Uber-
dade, creador de um povo.
No dia 26 recebeu D. Pedro a deputação enviada pelo
povo, clero e governo de S. Paulo pedindo-lbe para per-
manecer no Brasil, e em presença do príncipe disse José
Bonifácio :
« Digoe-se V. A. Real, acolhendo benigno as supplicas
de seus ãeis paulistas, declarar francamente á face do
universo que não lhe é licito obedecer aos decretos últimos
para a felicidade não só do reino do Brasil, mas de todo
o reino unido. «
No discurso recitado em 15 de Fevereiro pela deputação
de Minas perante o regente do Brasil lê-se.... « até que as
cortes, moderando a acceleração de suas decisões, provi-
denciem legalmente, como é de esperar, o que íòi justo e de
razão, menos sobre o regresso de V. A. Real, que jamais
deixará de ser o centro commum da união e do poder
eiecutivo n'esle reino. »
Provam estas palavras e as proferidas por José Bonifácio
que a idéa geral e fíxa era que o príncipe não devia aban-
donar mais o Brasil.
Lembraram as representações de S. Paulo e Minas a
conveniência da convocação de uma junta de procuradores
geraes ou representantes legalmente nomeados pelos elei-
tores de parocbia juntos em cada comarca.
Razfies linha o príncipe D. Pedro para acbar-se mo-
lestado contra a divisão portugucza; tomando uma atli-
tude revolucionaria, perturbando o socego publico, obrÍ-
gára-o, em 5 de Junho de 1821, a alterar a férma do
governo legalmente eleito pelo rei ; o que levou-o a chamar
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— 5fi -
a essa tropa de ínsubordiíMcta em carta dirigida a sen paj
em 9 de Junho, na qual pediu-lhe a fizesse render qaaato
antes; acquiescendo í voalade dos brasfleiros para ficar
DO Brasil, oppuzéra-se a divisão, irmira-se, desrespeiUra-o
e ameaçára-o, assim como ao povo, e além d*isso magoara
profundamente o seu coraçSo a morte do príncipe, seu
filho, em 4 de Fevereiro, victima incruenta d'esse mo-
tim militar. Relatou a el-rei esse acontecimento D'estas
palavras :
• Meu pai e meu senhor. — Tomo a penna para dar a
Vossa Magestade a mais triste nodcia do successo que tem
dilacerado o meu corafão. O príncipe D. João Carlos, meu
filho muito amado, ji não existe.
« Uma violenta constipaçSo cortou o fio de seu; dias.
Este infortúnio 6 o frocto da insubordinação e dos crimes
da drvisão portugueza. O príncipe \i estava incommodado
quando esta soldadesca rebelde tomou as armas contra os
cidadãos pacificos d' esta cidade ; a prudência exigiu que
eu fizesse partir immediatamente a príoceza e as crianças
para a fazenda de Santa-Cruz, afim de as pAr ao abrigo
dos successos funestos de que esta capital podia vir a ser
o thealro. Esta viagem violenta, sem as comraodidades
ner^ssarias, o tempo que era mui húmido, depois de
grande calor do dia, tado emfim se reuniu para alterar a
saúde de meu caro filho, e seguiu-se-lhe a morle.
« A divisão auxiliadora, pois, foi a que assassinou o meu
filho e neto de Tossa Magestade. Em consequência, é contra
ella que levanto minha voz. Ella é responsável na presença
de Deus e ante Vossa Magestade d'este successo, que tanto
me tem afflicto, e que igualmente afiligirá o coração de
Vossa Magestade. >
Não cabendo-lhe mais no peito os impulsos do seu
rancor, e^otada a paciência para supportar mais tempo o
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desrespeito e pertÍDacii da divisão portDgaeu, passou-»
o príacipe D. Pedro para bordo da Tragata União, e em 9
de Fevereiro iotimou a divisão para embarcar do dia
seguinte, e, se o Dão fizesse, lhe não daria quartel e tra-
tal-a-bia como iaimiga. Quizeram os officiaes portuguezes
procrastinar, vieram a bordo apresentar os inconveai^utes
de tão próxima partida; mas, ouviado-os, respoadeu-llies
o príncipe roal :
fl Já o ordenei e se o não fizerem amanbã comeQO a
fazer-lbes fogo. »
De feito dormiu a bordo, e deu ordens para entrarem os
navios DO dia seguinte em linha de combate.
Conhecia Avilez o caracter enérgico e decidido do prinui-
pe, que um dia havia de ser o seu rei, e por isso nâo reluclou
mais, executou no dia 10 a ordem do regente do Brasil,
e em 15 fez-se de vela elle e 1,046 praças acantonadas em
cinco galeras, seguindo nas aguas d'essa esquadrilha as
correias lÀheral e Marta da Gloria até certa distancia da
costa.
Causou viva salisraçSo a partida dos soldados de Avilez ;
rígozijaram-se o príncipe e o povo ; os cidadãos, qiie muitos
dias conservava m-se de guarda nos edifícios públicos, per-
correram as ruas com os mosqueies enramados e ao som
de instrumentos de musica ; o anjo da paz adejou soas azas
brancas sobre a cidade, annunciando ao povo tranquilli-
dade e seguranf^.
Procedera mal Jorge de Avilez desobedecendo ao princi'-
pc, que, por sua conducla, só linha que responder ás cortes
e ao rei seu pai ; qualquer deliberação que tomasse, era
dVIe a responsabilidade; não tendo autorisação para dSo
cumprir as ordens do Slho do rei, transformaram -se os
soldados portugueses em rebeldes, offenderam ao governo
TOKO irxxi, p. II 8
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-se-
ixal do paiz e abusaram da força, arrogando a si dinilos
que nto tinham.
Eotretaoto, em vez de censura, reodeu o congresso lou-
Tores á conducta de Avilez; mas díversamenle procedeu
com Francisco HaximiliaDo de Sousa, vice-al mirante ds
eipedição anciosameote esperada por aquelle general paTi
apoial-o em suas pretenções.
Composta da náo D.João VI, íragati Carolina, charraas
Orestea, Conde de Peniche, Princesa Real, e dois transpor-
tes com 1,190 praças de desembarque sob o commando
do coronel António Joaquim Rosado, chegou essa ex-
pedição ao Rio de Janeiro, e por ordem do princíperegeote
fundeou fora da barra em O de Março : a& noite d'esse dia
vieram á lerra os commandantes, e assigoaram um prO'
teslo sujeitando-se ás dotermioaçõesdo principe; nodia
seguinte ancoraram os navios junto ás baterias da fortaleza
do Santa-Cruz, e providos de vitualhas sarparam no dia
36 para Portugal, excepto a fragata Caroíma , cuja olEda-
lidade abraçara a causa do regente do Brasil. Chegando a
Lisboa, foi o vice-almirante Francisco Maiimiliano escuso
do serviço em conselho de guerra, mas o conselho do al-
mirantado o absolveu.
Escrevemos estas paginas para demonstrar que houve
duas respostas ás representações dirigidas ao priocipo em
9 de Janeiro de 1822; a primeira resposta foi contempo-
tisante, palliativa, indecisa, e não satisfez ás necessidades
publicas, á especlaliva popular, o que levou o príncipe a
mandar publicar a segunda resposta, franca.decidi da e reso-
luta; foi uma decisão final, e, pronunciando-a, operou
D.Pedro uma revolução, passou o Rubicon, Uavou a lula
com Portugal, e aplainou, sem o pensar, o caminho quo
devia conduzil-o ás margens do Ypiranga; apressou a li-
bertação do Brasil, salvou-o da anarchia, das lutas civis.
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^ 59 —
plantou Da America a monarchia, toroou-se o centro dos
partidos políticos, o chefe dos brasileiros, o supremo ma-
gistrado da nação ; se nio cortou logo os grílbões que pren-
diam a terra americana ao reino européo, íez com que esses
grilhões Dão roxeassem os pulsos, nem tolhessem mais os
movimentos dos filhos do novo mundo ; começou a ser
brasileiro, como disse elle, respondendo dois annos de-
pois a uma reprosentação do senado da camará, e a ser con-
siderado o primeiro defensor da terra de Sauta-Cruz, e por
isso ainda não tremulava em nossos baluartes o estandarte
auri-verde, e jã o povo ofterecia ao herdeiro do throDO
portuguez o titulo de defensor perpetuo do Brasil, indicado
pelo brigadeiro Domingos Alves Branco Moniz Barreio.
Mas procedeu mal D. Pedro desobedecendo aos de-
cretos das cortes portuguezas ?
Certamente não : offendidos os seus brios pelos decre-
tos das cortes, insultado nas discussões do congresso por
alguns deputados roais exaltados, tendo recebido, como se
propalou n^aquella época, insinuações de el-rei para não
altender ás ordens das côrles, e reconhecendo que, a sua
partida traria a independência inevitável do Brasil,resolveu
ficar para conservar unidos os Estados, dos quaes um dia
havia de ser o soberano : não desejava que se separasse
dos reinos de Portugal e Ali^arves o do Brasil, descoberto
por portuguezes e colonisado e civilisado porelles;lhe
não convinha deixar escapar do seu scoptro este vasto do-
mínio ; > porém conhecia, coroo diz o uislíocto autor da
Historia da Fundação do Império Brasileiro, mais atilado
que muitos portuguezes qua se apregoavam de enteodidos
e experimentados pela lição do mundo, e provectos de
idade, que se não podia perpetuar o continente americano,
sob a dinastia de Bragança, sem que se lhe concedesse
uma tal autonomia ou independência admÍDistrativa, com
D,:„l,;cdtv Google
_ 60 —
um governo próprio no seu seio, e com institaii;deB livres
e adequadas aos interesses dos moradores e is oecessi-
dides do paiz, bem que regido em nome do soberano de
imbos os reinos. Previa que as tentativas de recolonisa{io
tenderiam a uma emancípaçáo completa, a que se obstaria
sómenie com providencias prudentes e moderadas, e fa-
culdades de reger-se no seu tanto, como nação í parte e
ligada apenas por conveulencías o laços de politica geral.
Foi, portanto, para bem dã tudos os seus súbditos da
America e Europa, de toda a naçSo portugueza, que D. Pe-
dro ficou no Brasil ; ainda so n&o tratava da índependeucía
do reino americano ; dissera José Boniracio no discurso
proQuociado perante o príncipe em 26 do Janeiro :
■ Mas nós declaramos perante os homens operante Deus,
com solemne juramento, que não queremos nem deseja-
mos separar-005 de nossos caros irmãos de Portugal, que-
remos ser irmãos, e irmãos inteiros, e nfto seus escravos. »
Gollocado, porém, D. Pedro i frente dos brasileiros no
caminho da liberdade, teve de acompanhar os aconteci
mentos ; não pAde retrogradar, a causa do Brasil tornou-se
também sua : prestigioso pelo seu nascimqnto e direitos de
rei, tornou-se immediatamente o chefe, o centro dos mo-
vimentos políticos do Brasil, facilitou as pretanções e rea-
lisou os desejos dos brasileiros : sem «lie, o Brasil tiber-
tar-se-hia talvez mais tarde, porém a indopendencia, era vez
deumtriumpho rápido, seria umi guerra longu, e depois
da victoris não seguir-se-bia a paz, mas as commoçôes da
arbitrariedade, ou as violências da democracia.
£', pois, duplicadamente memorável o dia 9 de Janeiro,
é a aurora da nossa independência, como disse ]o visconde
de Cajrú, é o marco da nossa liberdade, o dia; da iniciação
do nosso regimen governativo, odiadaliberdade, da ordem?
DictizedbyGoOJ^IC
— 61 —
do governo destinado ao Brasil ; o —fico,— foi o jlat pro-
naociado na America.
Assim como Guilherme Tell nSo comprimeotando o
barrete de Gesler libertou a Suissa, e os habitantes de Bos>
toD alijaado ao mar o chá dos navios ingleies iniciarara a
guerra que deu iadependencia á terra de Washington e Fran
klia, assim o príncipe real D. Pedro pronunciando — fico
—libertou o Brasil.
1867.
DictizedbyGoOJ^Ic
ESBOÇO BIOGRAPHICO
DO
GENERAL JOSÉ DE ABREU,
BAnXO DO SERRO I^AROO
JOSG' UARIA DA SILVA PAIIANHOS JÚNIOR r
I
Nuaímenlo de José de Abreu. — Assenta praça no regimento de
dragOei. — E' promovido a cspilio, peloB serviços prestados nas
campanhas de 1811 e 1812. — E' elevado a teDente-coronel, e
recebe o cominando militar da fronleira do Quarahim.
Um dos talentos mais brilbantes que adornaram as le-
tras e o jornalismo de Do;sa terra, o Dr. Justiaiano José da
Rocba, escrevendo a vida do illustre marquez de Bae-
pendf ( 1 ), enunciou um conceito que nâo pôde ser con-
testado aro sua generalidade, quando accusou de ingrato e
esquecedor o povo brasileiro.
Com effeito, é uma (riste realidade ! nem o passado, nem
o futuro do paiz altrahe entre nós a alleoção publica, que
descuidosa se deixa absorver na contemplação dos succes-
O Este trabalho foi eecripto quando seu autor cursava ainda as
aulas da faculdade de diíeiíodeS. Paulo. A isso, e á rapidez com que
fbi traçado, deve-se s(diretudo o desalinho da phrase e outras fal-
tas, que sem duvida o leitor desculpará. Se esta memoria pdde aspi-
rar a algum merecimento, 6 unicamente ao de occupar-se de alguns
pontos da nossa historia, sobre os quaes nada se tem escrípto até
hoje.
O AUTOK.
(1) Biogrc^ia it Maaott JaàníKo liogiuira da Gama, ntarqaex dt
Baependy, Rio de Janeiro, 18!>i, 1 vol.
Dictizedby Google
SOS e dos homens do preaeale. Paia os aconlecimentos éo
passado. — d'es5e passado ainda Ião receole, mas tio rerlíl
6m grandes exemplos e lições proveitosas, — só ha esqueci-
menlo e iodifferença da parte de quasi todos, e até escar-
Deo e ridículo da parte de muitos.
NuDca pertençamos ao numero do s indiiTerentes, ou d'es-
ses espíritos fortes ; e é por isso que tentamos hoje esbo-
çar rapidamente a biographia de um brasileiro illustie,
quu consagrou sua vida inteira ao serviço da terra que o
viu nascer, dando no decurso d*eila as mais raras provas de
amor e dedicação á pátria.
O general José de Abreu é, nn verJado, um dos vultos
mais eminentes e distioclos da nossa historia. Não foi elle,
digamol-o já, um d'esses entes felizes que se cobrem do
honras o de grandeicas, só por que sabem captar as boas
graças dos poderosos da terra.
Abraçando, ofphãode protecções, a carreira hoarosadas
armas, illustrou seu nome, enriqueceu os fastos militares
de sua pátria, e conquistou, unicamente por sou mereci-
mento, as honras e as dignidades quo lhe couberam em
partilha.
Duas vezes livrou elle a província de S. Pedro do Ilio-
Graado do Sul da invasão estrangeira ; dezonovo vezes
bateu-se nos campos de batalha, cobrindo sua fronte de
louros immarcesciveís. Assim como nunca se deixou
allucínar pelos encantos da fortuna, manifestando sempre
uma modéstia que raríssimas vezes se pôde encontrar em tão
subido grão ; assim também não se deixou abater, nas ho-
ras do infortúnio, pelas injustiças e ingratidões do que foi
TÍclima.
Sobre os primeiros aonos de sua vida muito poaco nos
foi possível saber. Descendia de uma família de açurístss,
que se eslaboIecAra no Povo Novo, lugarejo situado entre
Dictizedby Google
Rio-GraDd« « Pelotas, onde viu elle a luz do dia qo utâmo
irinteDÍo do século passado.
Recebidos os primeiros rudimeotos da educação, alís-
loa-seno regimento de dragões (2), babÍluaDdo-se assim
desde a mais teora idade ás prífacões da TÍda míliur.
N^sse lamento servia Abreu até ao posto de capitão, fa-
zendo Rom elle a campanha de 1801, e as de 1811 e 1812,
nas quaes começou logo a tomar-se conhecido pelo seu
zelo e aclÍTÍdade. pela sua iotelligencía e admirável bom
senso, que suppriam completamente a falta de uma edu-
cação esmerada, aliás muit( pouco commum, mesmo hoje,
entre os que se dedicam á carreira das armas,
N'eslas ultimas campanhas, sendo tenente da 7' com-
panhia do referido corpo, esteve a principio cm Uissões,
na columna do enláo coronel JoSo de Deos Menna Bar-
reto (3), o foi depois destacado com o coronel Thomaz da
Costa ( V) para a fronteira do Quarabim, ameaçada por Ar-
ligas, d'oDde em seguida marchou para a foz do Santo
ÁDtoDio, aguardando ahi a chegada do exercito pacificador
ás mai^eos do Urugaay (8).
(2) Segundo as inrormaçSea que, por inlermedio de um amiga,
obliveiDOs do Eim. Sr. general J. J. Machado de Oliveira, esse re-
gimeolo leve poiíeríonmnte a denomiiUQSo de 5* de ca^allaría.
(3] DepoiE marechal de exercito, viKonde de S. Gabriel, fallecido
em 18&9.
[à) Thomaz da CoeU Correia Rabelto e Silva, depois generoL
(5) Em 1811 tínhamos oi (ronteira do Qoarahim uma força mui
diminuía, mas que arrojava-K a fazer incnrsSes' no lerrllorío ini-
migo. Poietu fcirça (duzentos homens) que se apoderou de Pi;-
sBDdU, depois de uma luta encarniçada, em que da guatnicão ape-.
nas escaparam oito homens, perecendo todos os ouIroB, inclusite o
chefe inimigo, que era um capilSo Bento, Dlho de l>ort<)-Alegre.
Marchando Artigai para o Salto crm ca liabilanles ds c-impanha,
em numero de qiiatcrie mil, foi contido ahi pelo najor HaLtel
DictzedbyGoOglC
A campanha de 1812 termicou, como se sabe, pelo trígie
armistirjo que celebrara em Bueaos-Ayres o commis-
sarío portuguez Radmaker, e, conhecido elle, as nossas
forças, após pequena demora, se puseram em marcha, re-
colhendo-se & fronteira. No dia 13 de Outubro, o general
em chefe despediu-se, nas ponlas de Gunã-pirú do bravo
exercito que commanddra, promettendo aos seus compa-
nheiros d'armas levará noticia do soberano os nomes dos
que mais se haviam assígnalodo; o entre estes não olvidou o
do tenente Abreu, de sorte que na primeira promoção foi
elle elevado ao posto de capitão com antiguidade de 11 de
Junho de 1811.
Poucos annos depois, em 1814. era o mesmo Abreu
nomeado commandanto dos esquadrões de mílicias de
Entre-Ríos, dando-se-lhe ao mesmo tempo a patente de
tenente-coronele ocommando militar do districto de Entre-
Rios, que comprebendia a linha de fronteiras do Quarabim
até SanfAnna do Livramento.
Aproveitados assim os seus serviços, e coUocado em
posição mais elevada, pôde elle nas campanhas seguintes
as3ÍgnaIar-se por uma serie de feitos notáveis, que basta-
riam para firmar a gloria do seu nome, e para inscrevAI-o
em caracteres de ouro em muitas das paginas mais bri-
lhantes da nossa historia.
Em i81C é que começou a tornar-se interessante a vida
do illustre barão do Serro-Lai^o. Acompanbemol-o aqui
dos Santos Pedroso. Atacado iraiçoeiramente junto ao Arapeby-Cblco
por forças cJDco vezes maiores (lambem conimaodadaapor umrio-
grandease, o teneotc-corooel Manoel IHoto Carneiro }, pOdeHedroso
repellír os coDlraríos e retirar-se para a serra do Jaráo, d'oiir1e vol-
tou depois, a medir-se com o iaimigo. Foi em consequência d'esses
BDCce.ssos que o conde do Bio-Pardo destacou paraoQaaratiimaco-
loffioa do coronel Costa, da qual Abreu fazia paite.
TOMO XXXI, P. II 9
Dictizedby Google
— 66 —
DOS seus diu de gloria, para seguil-o depois em seus dias
de infortuoio, quando, viclima da iogralidão, veado esque-
cidos seus serTiços, empunhava a sua espada, sempre ven-
cedora, para ir morrer como um simples soldado em de-
fesa da honra nacioaal ultrajada.
[I
Rápida visla d'olbos sobre o estado da Banda Oriental em 181G, e
sobre as causas da iuterveocão armada do governo de D. iiAo VI.—
Cb^ida dos valuntarios reaes— lustrucções do capiíao-general do
Rio-Orande.— Começo das hoslilídades, encoDiros entre as lorças
inimigas e as de José de Abreu, nu dlElriclo de Entre-Rioa.— U ge-
neral Curado toma conta do eiercilo da direita.— Plano de Artigas,
suas forças invadem as Missões Oríenlaes e sitiam ^. Borja — José
de Abreu é rnvíiido para levantar o silic de S, Borja.-- .Sua marcha
ao longo do Urugua;.— Combales du fasso do Japejú e do Ibicuh;,
em que é repellido Sotél. — Abreu atravessa esle rio em procura
do coronel Andrés Arligas. — Combate de S. Borja e restaurando
das MissSea Orleolaes.
A campanha de 1812 terminou sem que tivéssemos
obtido as vantagens que o governo línba o direito de esperar.
A Banda Oriental continuou a ser preza da mais desen-
freada anarchia e da mais estúpida das tyrannias. José
Artigas, caudilho que adquirira já uma grande celebridade,
Dão tanto pelos seus sentimentos patrióticos, como por sua
ambição descomoiunal, e pela crueldade de que tantas
provas soube dar, maotinha-se em luta com o directório
de BuBDOs-Ayres, a despeito dos auxílios prestados por esto
para a expulsão dos bespanbóes da cidade de Montevideo, e
dos esforços de alguns homens distinctos do Rio da Prata (6).
(6) Talvez se diga que somos demasiadamente rígorosos tallando
doesse chefe, e, pois, julgamos conveniente transcrever para aqui am
Irecbo da ■ Avio-Biographia dei BrigaUer Gmeral Rimdeau », que
caracierísa Arligas em poncaa palavras • pretendia para a sua
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Sua iofloencía eslendia^se mesmo além do Uniguay, sobre
Corrientes, Entre-Rios, Santa Fé e Cúrdova.
A anarchia, quereÍDara então n'esses paízes,a ningnam
devia assombrar, pois era a consequência da transição
violenta por que passaram, trocando repentinamente as
instituíçíles monarcbicas e o regim«n colonial por um go-
verno puramente democrático (7).
O director supremo das Províncias Unidas, Posadas,
e seu successor Alvear adoptaram para com o caudilho
Oriental uma politica enérgica : mas uma revolução apeou
este ultimo do poder [15 de Abril de 1815), e a adminis-
tração, que Ibe succedeu, procurou seguir uma Hnba de
proceder opposta, tentando, mas debalde, estabelecer re-
lações amigáveis com esse chefe.
Foi então que á c6rte do Rio de Janeiro chegou emi-
grado o ex-mínislro de Buenos-Ayres Nicolas Herrers,
amigo do director decahido, e proscriplo como este (8).
provjDCia (diz Rondeau) a emaDCipafâo absoluta de qualquer onlro
poder, que nSo fosse o seu, porque s6 clle se reputava o arbitro de
seus destinos, d
Pude vér-se igualmeote n» « Memoria »obre ta projectada retirada
dd ejercito de»tirtada ai siiio de Montevideo, ctc. n , escripla pelo
general Nicolas Vedia, a manpíra como '6 julgado o mesmo caudilho.
(7) Não DOS veoliaro com o exemplo dos Estados-Uaidos. E' um
povo eicepclonal, que por íodole e caracter muito dilTere dos povo>
de origem laiiua.
(R) Quem estudar a bístoría dos paízes banhados pelo Praia tia de
lembrar-se muiiae vezes d'eslas palavras de Edgar Quinetem referencia
ã Itália; ■ La ressource de cliaque parti vaincu esl d'ouvrír les portes
du pays i une armée étran):ère. Considerez rit.ilic ã quelqve époqne
que ce soit, il est un pcrsonnage, que tous reD<'oiilrez dans ebaque
événemenl, etquiest fartisan infaligable de cettebistoire: je veui
parler de remigrí. Toujourt prèt ã livrer cette patrie, qu'il a^
pu gouveroer, il solbcite reaoemi, il presse, il cooduit rinvation.
• (ReDofuium* if/(atw— Paris— 1857,— 1 vol]
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— 6« —
Com o latoDh) a t sagacidade quo, taolo o dístioguiam,
conseguiu elle, auxiliado por Alvear, fasec renascer na
cdrto de D. João Tl os pianos de conquista que, havia
muito, eram ahi alimentados (9).
Os seus manejos, as apprebensões o receios que a
influencia de Ailigas despertava ao animo do gabinete
de S. Gbristovão pela segurança e iraa^uillídade das froo-
leiras meridianas do Brasil ; as queixas constantes e repe-
tidas dos habitantes do Rio-Grande, que pediam garantias
para suas vidas e propriedades ; tudo isso decidiu o deu
causa á intervenção de 1816 e á occupação militar da
Banda Oriental, que só teve lugar depois de desatten-
didas pelo goverao de Madrid as justas reclamações de
D. JoSo VI (10).
O governo guardou o mais inviolável segredo sobre a
resolução que adoptara, de expulsar o inquieto e perigoso
vizinho ; e limitou-se a communicar & Urã-Brelanba, e A
Hespanha, que ia transferir para o Brasil uma divisão de
Toluotarios, escolhidos d'entre as tropas que haviam feilo
(9) Vejam-se as ■ Memorias e Re^exões tobre o Rio da Praia por um
o/)lctal ^nurnnAa bratUefra ■> ; trabalho de alto merecimenio histórico,
iofeliimeole iolerrompido, que se deve á pcnna do fallecido almiranle
Jacintho Roque de Sena Pereira, o Sr. conselbeiro Pereira da Silva,
qae em soa receole c pneciosa « Húíona da Fundação do Império w,
se occupB eileosameDle dos negócios do Rio da l'rala, nio nos Talla da
íDflaeDcia que teve Derrera sobre a invasio de 1816. e sobre os nlte-
riorei acontecimentos.
(10) O govenw do Rio de Janeiro pediu no de Madrid (antes de
mover as snas tropas) providencias para a expulsão do audacioso
candilbo, e, comquanio o gabinete tiespanliol se mostrasso a principio
inclinado a satisfazer essa exigência, rondou posteriormente de re»-
iQção, enfiando para Nova Granada a expediç3o que tinba a principio
destinado ao Rio da Praia.
TandMiD ii'essa reclamarão não falia o Sr. conselheiro l>ereira
da 5ilva na obra já citada.
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a guerra peoinsular. £ssa divisão, commaDdada polu ge-
neral Carlos Frederico Lecór, mais tarde visconde da
Laguna, parliu eíTecli vãmente de Lisboa e desembarcou nu
Uio de Janeiro, seguindo depois para Santa Catharina,
d'onde marchou por lerra para o Rio-Grande.
O governo já havia transmitlido ao capitão-goueral do
Rio-Grande, marquez de Alegrete, as convenientes instruc-
ções para a defesa das fronteiras, recommendando-the que
batesse e dispersasse todas as partidas contrarias, que se
approximassem do nosso território ; e o marquez déra-se
pressa em cumprir as ordens terminantes que recebera,
mobilisando, além da força de Unha de que dispunha, to-
dos os regimentos milicianos : mas a chegada dos o volun-
tários reaes » á corte e os movimentos do tropas no Rio-
Grande levantaram suspeilas no animo de José Artigas,
que bem depressa foi informado miudamente das intenções
do governo de D. João VI, por cartas enviadas do Rio de
Janeiro.
O audaz caudilho não se atomorisou com isso, e em seu
louco orgulho chegou até a regeitar os auxilies que deBue-
nos-Ayres lhe offereceu o director Puyrredon, Qoiz resis-
tir só por si, e preparou-se para a luta, concentrando em
PurificacioQ, á margem do Uruguay, o grosso de suas for-
ças,
O illustre general Curado (1 1) havia sido incumbido pelo
marquez de Alegrete da defesa das fronteiras do Quara-
him e do Uruguay; e, comquanto se apressasse em reunir
as forças cujo commando lhe fora commeltidu, e em mar-
char para o seu posto de honra, achou já o inimigo de
(tt) Joaquim Xavier Curado, depois conde de í>. João das Duas-
Barras.
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sobre-aTÍ50, perfeitamente promplo para romper as hostili-
dades.
As partidas d'este ji haviam por mais de uma vez trans-
posto o Quaiahim e peDetrado em dosso território, onde
os pequenos recootros e choques de cavallaria sacce-
diam-se uns aos outros ; mas o intrépido tenente-coronel
Abreu, que, como dissemos, commandava o dislriclo mili-
tar chamado de Eutre-Rios, soube sempre repellir os des-
tacamentos inimigos, derrolando-os, e arrojando-os para
longe da fronteira.
A altitude enérgica, que em tão crítícas circumstancías
assumiu esse bravo militar, mereceu do dislincto paulista
Diogo Arouche de Moraes Lara menção especial, na sua
interessante Aútorm dtis ean^anhas de 1816 e 1817, em
termos de justo e merecido louvor ( 12).
N'es5AS circumstaocias apresentou-se o general Curado
DB fronteira, o tomou posições no Ibirapuitan -Chico, desta-
cando logo para as missões orienlaes o general Chagas
Santos o aguardando entretanto os movimentos do inimigo
para manobrar convenientemente.
Artigas, depois de ler feito partir Otoi^ez e Rívera para
as bandas do Jigunrào e do Chuj, avançou de Purificacion
com Ires mil homens ( 13). foi postar-se na quebrada das
Trea Cruzes, situada nas proximidades do Serro de Luna-
rejo.
Com essas forças concebeu elle o arrojado plano de io-
(13) Vide íReniitaio Instítulo Hiêtfirico, lomoVIl.pags. 13íi eS73.
•• .. ..^'es1as guerrílhas e panfdas principiou a fazer-se assigoalado o
teDcnte-coronel José de Abreu, emio commandaDle dos esquadrítes
« do mencionado lerrítorio de Entre-Rios. •
(13) Vtde a Memoria de los tucceao* de armas, qve tttvienm htgar
en la guerra de la independência ; de los oriaUaiu» con U» etpanote»
e jmiugiuies, etc., ele, eacrípta por um Drienlal coniemponneo^
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?adir o Rio-Gcande, emquanlo lUvera e Otorguez hostUi-
savain as forças de Lecór e as que guarneciam a linba do
Jaguarão.
OrdeDOu que o coroAel Andrés Arligas íavadisse as mis-
sões orieclaes, e que o coronel Berdun transpuzesse o Uru-
guay em Beléro.seguisse pela sua margem direita e o atraves-
sasse de aovo,collocando-se enire u Quarabim e o Ibícuhy.
EiTertuada a conquista das Missões, o primeiro d'esses che-
fus devia avanfar pelo coração do Rio-Grande, apoiado por
uma rolumna ao mando de Pantaleon Sotél, emquanto o
grosso do exercito inimigo atacava a divisão de Curado.
O plano não podía ser melhor concebido. Ameaçadas pelo
flanco e pela retaguarda, us nossas forças leriam de recuar
precipitadamente para não ver a sua retirada cortada, e
para cobrir o interior da província. A vigilância dos novos
chefes, porém, descobriu logo as intenções do inimigo, e
preparou-lhe o mais prompto e solemne castigo,
O general Thomaz da Costa (14), que commandava uma
divisão avançada das forças de Curado, percebendo os
passos do inimigo, destacou logo para as Missões o bravo
tenente- coronel José de Abreu, e com os restos de sua co-
lumna retirou-se até ao acampamento de Curado, condu-
zindo o£ habitantes da fronteira, e todos os moveis que
puderam estes carregar comsigo.
Abreu havia sido incumbido por elle de obstar é passa-
gem de Sotél no Uruguay, esuajuncçãocom AndrésArtigas,
correndo em seguida sobre S. Borja, ameaçada por uma
divisão de mil e quinhentos homens ao mando d'este ultimo
chefe.
Para empreza (3o arriscada foram-lbe dados apenns seis-
centos e cincoenta e três homens das três armas, Q duas
(lú) Thomaz da Costa Corria Rabello a Silva.
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peças de viilhería ( 16 ); mas o bravo rio-grandense não
olhava 80 Dumero, senão ao cumprimento do dever, e partiu
alegre e orgulhoso para desempenhar a sus honrosa missão.
Seguiu, pois, sem demora, mst^eando o Uruguay, c
forçando quanto era possível as marctiiís.
Soube entio que Sotél eslava atravessando esse rio no
passo de Japejú, e voando ao seu encontro, descobriu-o
no dia 31 de Setembro, atacou-o por surpresa, eariojou-o
á outra raargi^ni, apprebervlcndu mil e quinhentas rezes,
muitos cavallos, armamento e alguns prisioneiros.
A mortandade do inimigo ibi grande, porque, ao lançs-
rem-se seus soldados ao rio, Abreu fez trabalhar sobre elles
a artilheria, causando-lhes com isso um grande damoo.
Sotél, porém, não -era homem de desanimar. Com o
auxilio de algumas barcas canhoneiras tentou eITectuar a
passagem da sua Íotça junto á foz do Ibicuby, no passo de
Santa Maria. O previdente Abreu havia já destacado uma
força de cavailaria para dar-lhe noticia dos movimentos do
inimigo, e logo que foi informado das intenções d'esie,
deixou a guarda das baçagens conBada ao esquadrão do
Bio-Pardo, e correu para o Ibicuby.
Sotél com as canhoneiras protegia a passagem de suas
(ropas para a mai^em direita do Ibicuby. Vendo isso, fez
Abreu abrir uma picada no mato, e conduziu por ella a
artilheria e a infantaria aló á borda d'agua, onde, acoberta
(tS) Essa Torça eslava assim dividida: cavailaria, um esquadrio
de dragões, um de milícias do Itío-Pardo, um da IrgíSo de 5. Paulo,
um de milícia; de Entre-Riof, um de laDcciros guaraDjs, com qui-
nhentas e treze praças; infantaria, uma companhia da legião de
S. Paulo, cento e dezesele praças : arlilkeria da legião de S. Paulo,
viote e Ires praças, c duas peças. Tola!, seiscenlos c cincoenla e três
homens e duas bocas de foiço. O'ejão-se as a Memorias da Campanha
de i8t6 por Diogo Laraa, impressas no volume 7° da Revitta do
ImUiufo Hiitorico.)
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— 7:( —
'edu, rompeu um fogo vivíssimo subre os con-
-rresponderam com balas e melrolhas (16).
^^» '■efo «nigucnbo, reerulmrcou suas forcas,
\ tieiilo o Ibicuhy; mas sofTreu cinda
* 'O terrível de mosquelaria, dirigido
■f. ^W 'eneule -coronel fizera com ante-
^^ik •>ii adversário, de algumas
^, ^ In a coluiun:! de Si)iél.
"% ^ pólo; fugindo 'lo
t|k * íi-d operar su;i juiiC(;.'iO
'-1.^ ' ti/.?.ia em .iperlulo silii» o
\ , ■.} ijeneral Cli:>gas Suiilos oppu-
L-iíergica resislenciu.
>, tCíupo a perdiír. O que Abreu devia
...'Utostúo supremos era avani;íircom a máxima
, 'jssivel para esse iiontn. Foi o que o distiiicto e
cabo de guerra eiecutou, sem que o embarai^assem
obstáculos naluraes que teve do superar n'esse irajerlo.
Nos dias 25 e 26 atravessou o Ibicuby, operação diflicil
em consequência de ler engrossailu o rio e ila falto absoluta
de canoas r -le material apropriado para effoctual-a,
O eiilhu.siasmo que sabia inspirar a srus subordinados,
orgulhosos de um lai rhefe, fez com que eslus puzessi'tn em
pratica osfon;os quasi sobrebumauos para vencer as dis-
tancias e as difliculdades.
No dia 27 eram balidos pela sua columna, em Ituparay,
duzentos homens enviados porSotél niuilos dias antes para
levantar gado. O inimigo deixou no campo trinta e oito
cadáveres ( 17}.
(Ilij Diogo Lara b Memoriai. »
(17) ^■e,'■^e encomro perdeu unte e quatro mortos; e em duas guet-
TOMO XXXI, P. 11. *0
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o dia 3 de Oulubro Uaba sido destÍDsdo pelo coronel
Afidrés Artigas para dar dovo e decisivo assatlo a S. Boija.
Esse chefe silíaTa ahi o general Chagas Santos desde 21 de
Selembro, e dos repetidos ataques que dera, prbcipalmente
no dia 28, havia já perdido duzentos booaens. Aguardava o
reforço de Paataleon Sutél para investir a povoação, e este
dcsJe o dia ãcouieçára a operar a sua passagem, tratendo,
úém de infantaria, seis bocas do fogo.
Abreu não podia chegar mais a propósito. Tão veloz foi
a sua roarcli:>. <■ roíii tanta habilidade e prudência se houve
durante ella, que o inimigo nSo suspeitou a sua approxima-
ção.
Favorecido por um denso nevoeiro, apresenlou-se nas
circumvizinhanças do povoado, tendo feito antes os seus
sol(iado5 trocarem as vestos de viagem pelas fardas de
grande parada, animando-os com palavras cheias de ardor
e enthusiasmo.
Grande foi o alvoroço dos inimigos quando seus pos-
tos avançados deram noticia da chegada dos nossos.
Abreu, avançando sempre, tratou de ganbsr uma posição
conveniente, mas antes que o pudesse fazer sahíram-lhe ao
encontro oitocentos liumens do cavallaria. Dispdzentãoa
sua coluinna em ordem de batalha, e destacou forças de
cavalliri,» para que flanqueassem o inimigo. Este retrogra-
dou.siisleniíiodu com os nossos Qanqueadores um vivo fogo
o foi follíjcar-se Rnlre dois pomares.
Abreu ordenou á infantaria que occupasse os pomares.
Ksta avançou a passo de carga, protegida por um esquadrão
ligeirn, que lhe cobria a frente, e, ao approximar-se do
primiiro pomar, a infantaria inimiga, que D'esle estava
emboscada, sottou-Ihe uma descarga á queima-roupa. Os
rilhas, que tiveram lugar no mesmo dia, quatorze mortos e om
prisioDeiro.
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DOSMa soldados, lem se perturbarem, investiram, e depois
de tuna luta terrirel e desesperada apossaram-se de ambas
as posições, deixando estendidos lodosos queas defendiam,
com eicepção de poucos, que a muito custo puderam ser
salvos da morte pelos nossos ofDciaes.
.N'es5a occasião chegava o intrépido José de Abreu com o
ro6to da columna em auxilio da nossa infantaria. Achando-a,
porém, senhora dos pomares, e voado o inimigo em
retirada para reunir-so ao grosso de suas forças, proparou-
se para atacai -o, e, apoiando se nas posições que acabavam
de ser tomadas, ordenou á artilharia que o metralhasse.
A linha inimiga conservava-se ímmovel, respondcndo-
noscom a sua artilharia e infantaria.
O esquadrão de S. Paulo avançou euláo a palope solun
o inimigo, carregou ura corpo d'este, que com umu pc;.!
fazia sobre os nossos vivíssimo fogo, arrojou-o fora ile
combate e apoderou-se do canhão.
Esla carga, executada com ardor e felíridadc, rausou
alguma confusão na linha inimiga, e,apruveitaodo-scd'esla
vantagem e do enlhusiasmo de seus soldados, Abreu invés-
tio-a com todas as suas forças, cortou-a pelo centro, e des-
baratou-a inteiramente, taaçando-a em completa desordem
uma parte para o passo de S. Borja, e outra para os lados
dfl Botuhy.
Toda a artilharia, as bagagens, a secretaria militar, muito
armamento e dois mil cavallos foram os tropliéos d'e5sa
esplendida vtcloria, que, póde-se dizer, decidiu da sorttj da
campanha, aniquilando inteiramente o plano de operíições
que traçara Artigas.No campo Qcaram cerca de quatrocentos
inimigos mortos e trinta prisioneiros (18). O inimigo foi perse-
(18) o ilJDStrado br. cooselbeiro Pereira da bilvt na sna « Bisloria
t/a Fundação rfo Império do trnsit n, loino IV, pag, 23, diz que Alircu
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D,i.,.db, Google
— 77 —
nome do intrépido José de Abreu, que era o terror dos
soldados de Artig.is. O modo brilhante, por qiie eserulou a
arriscada missão de que fura encarregado, mereceu mui-
tos louvores e elogios, não só de seus superiores e de seus
companheiros de armas, como do governo e da imprensa
daepocha.
O illuslre chronisla d^essa campanha, Diogo Lara, que
tantas vezes temos citado, assim se exprime no seu inleres-
iianle iriíbnlho acerca das operações do nosso heróe na
margem esquerda do Uruguay :
( Do que fica dito se conhece que o tenente-coronel
Abreu concluiu a total restauração da província de Missões
dentro de nove dias consecutivos ao de suo passagem do
Ibicuby, oppondo a mais de dois mil inimigos a pequena
força de seiscentos e cinnoenta e três bumens, tão feliz-
mente, que a pi;rda total das suas tropas, nas arções que
teve.f II insigiiiiicante á vista da que causou aos ínsurgentes,
aosquaes matou seguramente mil homens [20], tomando-
lhes immenso armamento, cavalios, ele. ; serviço este que
pela sua importância constilue este ofTicíal benemérito e
credor de lodos os louvores e contemplação do seu so-
berano, assim como do reconhecimento e gratidão da ca~
pilania do Itio- Grande, que deve aos honrados e valente'
esforços de Ulo bravo ollicial uma granrie parte do terríto
rio e propriedades, salvos por elle e pelas suas tropas. >
A essas palavras, escríptas por penna tão competente e
imparcial, juntaremos alguns trechos da carta dirigida pelo
bravo general Curado ao vencedor deS. Borja.
,30) lEa gera duvida alguma eiagerafSo u'edse iit
do inimigo pôde ser calculada em selecealOB mortos, r
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I QU&RTEL-GENBRtL «H ISHUNIUM-CHIOO.
« Sr. leDeate-corooel José de Abrau.
( Recebo com satisração a parle oflkial que V. S. m«
dirigiu do passo de S. Borja. goiq data de 8 do eorreote,
sobre o ataque e derreia dos ÍDimigos.que preleadiam inva-
dir a fronteira de Missões.
< Louvo a V. S. o acerto com que dirigiu a «ua mar-
cha, vencendo osobstacutos da estação ; louvo o sábio dis-
ceruimeoto cou que V. S. dbpAz o ataque; touvo a sabe-
doria com que dirigiu as operações e o combate; louvo,
ãnalmenle, a prudente conducta com que V. S. soube
adquirir o conceito e estima da tropa de seu commaDdo.
n Estimo sobremaneira que V. S. desse msis esta prova
para radicar o seu abalisado merecimento, etc. ■
José de Abreu tinha, cora efTeito, motivos para eusober-
becer-se, se aâo fosse tão bravo quanto modesto. Elle,
porém, recebia essas e outras demonslraçôes de apreço,
sem que ellas pudessem operar em seu animo a tnoDor
mudança, nem dar origem ao meuor arranco de amor pró-
prio.
Em Março do anno seguiule teve elle a satisfação de ler
o aviso de 2 de Fevereiro dirigido peto conde da Barca a
Curado, em que esse ministro, em nome do rei, ordenava
ao general que fizesse constar ao leneote-coronel José de
Abreu que Sua Magestade ficara satisfeito dos seus servi-
ços e do valor que manifestou no combate deS. Borja.
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Ill
F«:(M que se seguiram ao combate de S. Borja. — O iuimigo resolve
alacar-nos com Iodas as suas forcas. — Move-se o nosso exercito.—
Abreu i incumbido do comraando da vanguarda. — O eiercilo ini-
migo, ao mando de La Torre, marcha ao encoolro do8 nossos. —
Resolve o nosso general atacar o quartel-general de Artigas. —
Abreu 6 incumbido d'esta missão. — Ataque do Arapehy ( 3 de Ja-
neiro de 1817J e derrota de Artigas. — Volta Abreu com a noti-
cia de que La Torre n'egse dia devia atacar-uos. — Batalha de
CaUlan (íj de Janeiro ). — Parte que n'ella teve Abreu.
A noticia do combale de S. Borja e da derrota de Aadrés
Artigas decidiu o general Curado a fazer atacar a divisão
do coronel Berdun, e logo depois o grosso das forças ini-
migas.
Assim as víclorías de Abieu nos Missões prepararam
doas outras, não menos brilhantes, e férteis em resultados.
A primeira foi devida ao intrépido general João de Deos
Menna Barreto [visconde de S. Gabriel). que,a 19 de Ou
labro, derrotou junto ao Ibiraocahy ao mesmo Berdun; a
segunda, ganhou-a oito dias depois, junto a Carumbé, o
illustre general Joaquim de Oliveira Alvares (21).
Abreu não pôde tomar parte »'esses combates, com-
quaoto recebesse ordem de iranspdr o Ibicuhy, e mano-
brar de accordo com Menna Barreto : o inimigo atacara a
este antes da sua chegada. Novos louros, porém, deviam
muito breve juntar-ge aos que já havia elle colhido.
Expulso o inimigo do nosso território, preparaTam-se nos-
sas tropas para atacar as forças que elle concentrava o reu-
(31) Em Ibiraocah; perdeu o ioimigo duzentos e trinta e oito mor-
tos e vinte e quatro prlBioneiíos: em Carumbé uns seiscentos ho-
mena, dois estandartes, muitos prisioneiros, armamento e sete cai*
lai de guerra. Nói liTemoa apenas vinte e seis mortos, e quarenta e
quatro térídoa.
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oia no Arapeby, quando, a 15 de Novembro, o marquoz de
Alegrete, capitiio-genftral do Rio-Grande, assumiu o com-
mando do nosso pequeno exercito da diraita, que mal con-
tava em su.is Aleiras dois mil e quinhentos combatenles ;
poucos, mas todos bravos e aguerridos, cbeíos de força
moral e de enibusiasmo.
Sempre audoz e temerário, sem esperar que os nossos
o fossem atacar, Artigas destacou La Torre com a maior
parto de seus soldados, para surpreben der e dar batalba ao
exercito brasileiro.
EstejAenlào manobrava e movin-seom busca do inimigo.
O marquez de Alegrete, que, como o general Curado,
possuis a grande qualidade de conhecer os homens, saben-
do tirar de suas babitita^ões o maior partido possível,
incumbiu do serviço da vanguarda o bravo tenente-coronel
Abrou, confiando-the o commando de dnis esquadrões de
milícias de Enlre-Rios, dois esquadrões de giierrílbas,
sessenta infames e duas peças, tirados estes ultimes da
legião de S. Paulo.
Com essa força, coltocada sempre a um quarto de légua
da testa da nnssn cobiinna, jíuardava Abreu o nosso campo
e vigiava a campimba peta frente e (lanros.
La Torre, diudido pelos movimenlos dos nossos, avançou
atéaolbirapiiitan, e só abi sabendo du verdadeira parigcm
em que eslavamos, conlramarchou para alacar-nos pela reta-
guarda.
Nosso exercito avançou duas léguas, e foi tomar posições
no Catatau, galho do Quarahim, procurando attrahir La
Torre, e approximar-se do acampamento de Arligas no
Arapehy,
A posição em que se collocava o nosso general, entre
La-Torre, pela retaguarda, e Artigas, pela frente, era sem
duvida muito arriscado, mas elle soube tirar partido dVlla
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para dar ao mesmo tempo sobro ambos dois golpes fortes e
decisivos.
Como La-Torre a marchas forgadas se avisinhava dos
nossos, era mister que o ataque do acampameoto do Ara-
peby fosse coodozído com celeridade e pcomptídlo, para
que oo dia da batalha estÍTesse de novo reunido todo o
nosso exercito.
O escolhido para essa empresa delicada a importante foi
o bravo Abrea. Chamando-o á sua presença, o marquez
fez-Ihe ver lodo o perigo da commissâo que lhe confiava,
declarando-lhe mesmo que, se fossemos infelizes, a derrota
seria inevitável, quando nos víssemos a braços com as
forças de La-Torre.
Abreu Iranquilisou o general, e assegurou-lhe que estará
prompto para cumprir suas ordens.
Nas instrucfões que lhe deu, o capitSo-general ordenou-
Iho terminaotemeate que destruisse o quartel -general
inimigo, e que estivesse de volta no dia seguinte. Na
noite de 2 de Janeiro de 1817 pAz-se José de Abreu
em movimento com seis-centos homens o duas peças; e ás
sete da manhã s^uiote avistava as avançadas de Artigas.
A forte posição em que se apresentava, não fez vacillar
um momento o hábil tenente-coronel ( 22 ), que a foi logo
atacar com o seu valor costumado e resolute intrepidez,
lendo D^um momento distribuído suas tropas, adaptando-
as á natureza do terreno em que IÍDham)de operar.
O inimigo acbava-se acampado em terreno escabroso,
para o qual se peneirava por um desfdadeiro. Além d'este
estendia-se uma planície, que era separada de outra, que
(aaijtfomei Lara.
TOHO sxsi, P. II 11
DictizedbyGoOJ^IC
D,i.,.db, Google
— 83 —
peravain com anciedade pelo resultado do ataque d6 Arapehy,
apresentava-se o próprio Abrou, coberto de poeira, na
barraca do marquezde Alegrete, a&nunciaDdo-lbeavicloriaf
que acabava de alcaDçar, e a noticia de que La-Tone reca~
bâra ordem de atacar-aos a 3.
Estas Dovas espalbaram-se logo de boca em boca, e os
nossos soldados, cheios de entbusiasmo e cooteDlamento,
começaram a preparar-se para a batalba que estava ím-
No dia seguinte {4 de Janeiro) pela madrugada, o ídí-
migo com 3,400 homens atacava o nosso exercito. Ao pri-
meiro tiro lodo elle estava em armas.
A luta esteve por muito tempo indecisa, combatendo
ambos os lados com igual valor e tenacidade.
Em nossa esquerda o bravo visconde de S. Gabriel sus-
tentava com Hrmeza e coragem a sua posição, em quanto
a nossa direita se debatia contra uma massa imponente
de soldados inimigos, que se arremessavam impetuosa-
mente sobre suas baionetas. O marquez de Al^retfi e o
general Curado [conde de S. João das Duas Barras) ani-
mavam nesse ponto os nossos soldados, que faziam pro-
dígios de valor; mas o arrojo e ardimento com que o
inimigo accommettia, e voltava sempre á cai^a, já os in-
quietava, quando repentinamente se apresentou no campo
de batalha o intrépido Abreu, fazendo com que a victoria
desde logo se pronunciasse pelos nossos.
Achando-se a uma légua do grosso do exercito, ouvindo
os tiros que annunciavara-lbe o ataque do inimigo, fez
immediatamente montar os seus cavalleiros, e atirou-se
inopinadamente no meio da refrega, executando uma bri-
lhante carga de flanco sobre a esquerda inimiga. Animados
com esse soccorro, os bravos da direita laoçaram-se i
baioneta sobre o inimigo, soltando vivas enthusiasticos ao
Dictzedby Google
- 8i —
heróico lenente-corooel Abreu, e o dosso trinmpho foi
desde eatSo completo.
O iaimigo fugiu em debandada, deixando do campo
uns 900 morlos, 390 prisioneiros. 1 bandeira, 7 caixas
de guerra, seis mil cavallos, seiscentos bois, muilo arma-
mento e munições, e todas as bagagens. Essa britbante
victoría custou-aos 73 mortos, e 146 feridos.
Os servidos que prestara o distinclo rio-grandense- não
foram esquecidos pelo governo do ftio de Janeiro, que os
recompensou, promovendo-o por decreto de 24 de Junho
a coronel de linba, e dando-lbe o commsndo do regimento
de milícias denominado de < Voluntários Reaes de Entre-
Rios >, creado recentemente pela ordem do dia de 23
de Março. No anno seguinte entrava Abreu para o qua-
dro de nossos officiaes-generaes, recebendo a patente de
brigadeiro.
IV
Gampaotia de 1819a 1S90. — Artigasiovadeoffio-Grande. — Abreu
eTBcnK Alegrete, e retira-se diante do iaimigo. — Combate do Ibi-
rapuilaii-Chico {líi de Setembro). — Reune-se ao general Correada
Camará, e colloca-se com este do passo do Rosário. — Sãq atacados
a 17 por La Torre, que é repeilido. — Marcham em observaçSo do
ioimigo.— Combate do Ibicuhy-Guassú (37 de Dezembro].— ArtfgaS
marcbaem direcção ás vertentes do Taquarembó, e é seguido por
Abreu e Camará.— Volta para atacal-os.— Estes retiram-se, e reu-
uem-se ao conde da Figueira. — Marcha o nosso eiercilo em procura
do inimigo.- Batalha de Taquarembú [20 de Janeiro). — Parle qae
n'ella teve Abreu.— E' destacado para limpar a campanha até ao Uni-
gtiaf.— E' recompensado com o poeto de marechal de campo gra-
duado.
Vencedor em Catalan, o nosso exercito avançou ao longo
do Uruguay, alcançando sempre novas victorias e novos
louros. O general Curada, que, com a retirada do marquaz
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de Al^irete, assumira (25) pela segunda vez o commando íem
chefe, depois de ter batido em vários recontros as colutn-
nas inimigas, vendo-se em inacção e sem cavallos, dis-
pdz-se a vollar á fronteira para tomar quartéis de inverno ;
mas o visconde da Laguna conseguiu dissuadil-o do seu
intento (26), fazendo com que occupasse o Rincon de Haédo
na margem direita do Rio-Negro.
De guarda á nossa fronteira ficou o general Abreu, com
uma força que não cbegava a quinhentos homens, tendo o
seu qnartel-general em Alegrete.
Artigas não quiz perder a opporlunidade que se lhe offe-
recia de invadir o Rio-Grande, que elle via iateirameute
aberto e indefeso.
Reuniu todas as forças de que podia dispor, e á frente
de três mil homens atravessou o Quarahim, dirigindo
suas marchas para o valle de Santa Maria [27],
Os escriplores nacionaes, que se occupam da invasão
de 1819, 6 dos successos que precederam a famosa batalha
de Taquarembó, guiaram-se todos pela descripção que o
Correio BrasUienae publicou em Londres, descripção in-
completa e inexacta, que não esclarece convenienlemeate
os factos o que os adultera por vezes.
Graças a alguns documentos que pudemos obter, expore-
mos succinta mas fielmente esses acontecimentos, em que
(35) o marqaez de Xlagrete deixou o exercito, re(iraodo-se para
Porto -Alegre, em 30 Dezembro de 181 7.
(26) Vejam-se asJíemonos eRfíIficfles sobreoRíoda Prata,etc. O
visconde daLagaoii, além dos officioa que expediu a Curado, incumbiu
Senoa Pereira de preparar oaQimod'essegeneral, e de convencél-o da
aliUdade de minter-se no ftiaooD. O geaeral Curado ao fim de três
dias cedeu, aio sem repiigiuDoiB, ás suggeatSes do viscoode da La-
go ua.
k frooleira do Rlo-Graude Scoo assim alierla e desprotegida 1
(27) Tres mil tiomeQa,segUDdo as partes olBciaea do próprio inEmigo.
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figura com tanto esplendor o grande nome de José de
Abreu.
Apenas teve noticia dos mo?imeDlos de Artigas, e
certi6cou-se do verdadeiro numero de suas tropas, tratou
o general Abreu do expedir próprios ao conde da Figueira,
cominunicando^lhe os planos e as intenções do inimigo.
Era loucura tentar resistir coro o punhado de soldados
que commandava.
Abreu comprehendeu-o logo ; evacuou Alegrete, e reti-
fou-se sobre o passo do Rosário no Santa Maria, levando
adiante de si as famílias e fazendeiros d'es5as paragens,
que fugiam á approximação dos invasores.
Entretanto Artigas, empenhado cm destruir a pequena
columna brasileira, havia destacado a 10 de Dezembro o
seu immediato, La Torre, com uma forte divisfio de cavalla-
ria, ordeoando-lhe que forçasse as marchas o obrigasse
Abreu a aceitar combate.
Este, que continuava a sua retirada acossado de perto
por La Torre, vendo ameaçados os habitantes que protegia,
e que procuravam precipitadamente ganhar a margem di-
reita do Saute Maria, entendeu que devia bater-se, para
retardar a marcha dos contrários, e dar tempo a que esses
infelizes escapassem ao canibalismo das hordas de Anigas.
< Já se fazia difficil um encontro (diz Aniceto Gomes
emcartaescripta a Ramirez com data de 16 do ditomez
de Dezembro), porém afortunadamente Abreu, soberbo
com os passados iriumphos, retrogradou. »
Ao romper do dia 14 as avançadas inimigas avistaram
as da pequena columoa brasileira ; e tal era o terror que o
seudistincto chefe infundia entre os coo(rario5,queLa Torre,
apezar da superioridade immensa do numero, nio ousou
atacal-o, e preferiu, para fazél-o, aguardar a chiada de
Artigas.
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Abreu apoíoa-se em um serro escabroso aac vizinhan-
ças do Ibirapuit&D-ChÍco com os seus quatrocentos e qua-
tro soldados; e o exercito inimigo formou- se-lbe em frente,
forte de três mil homens, collocando em uma lomba a
sua infantaria e artilharia.
Ao meio-dia começaram a escopeteor-se os. postos avan-
çados, e pouco depois romperam os inimigos contra os
nossos um fc^o nutrido de artilharia e fusilaría, atiran-
do-se á carga a grande massa de cavallarJa, que se formada
Qos flancos e na retaguarda da sua linha.
A resistência dos nossos foi enérgica, mas o capitão Da-
niel Beresford, abandonando a infantaría.que commandava,
e fugiado vergonhosamente, fez com que o inimigo alcan-
çasse, mais depressa do que pudera, uma vtctoria fácil,
certa e sem gloria.
A cobardia d'esse oSicial causou a morte de oitenta dos
nossos soldados, que foram envolvidos e degolados. Abreu
com acavallaria põz-se logo em retirada para o passo do
Rosario,repellindo o inimigo e salvando com o seu saugue-
frio e bravura a columna que commandava.
A quarta parte de seus soldados, porém, ficou estendida
no campo da batalha, morrendo como heróes n'aquelle
combate desigual, em que cada um de nossos bravos teve de
bater-se com sele inimigos.
Tal foi o combate do Ibirapuitón-Chico, que os escripto-
res, que conhecemos, erradamente {28) dão como pelejado
no passo do Rosário.
Essa pequena vantagem encheu de contentamento e or-
gulho aos chefes inimigos.
Em caria escripla por Arligas a Ramirez (29), e intercep-
(28) Os Srs. Varoliagen e Pereira da Silva dSo escaparam d'e88e
engano.
(29) Escriptanodialà.momenlwdepoiadoconíbate.
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Uda DO Uraguaj' pela flolilha de Senoa Pereira, aoauaGia-
Ta-Uu essa chefe que eslava em território brasileiro, e que
muito breve asseotaria o seu quartel-geueral em Porlo-
Ál^re, rogaodo-lhe ao mesmo tempo qoe Ibe maadasse
reforços, porque queria carregar grandes tropas de gado
para enriquecer a seus amigos e compatriotas.
O modo como sempre se exprimiam os nossos coutrarios,
quando fallavam do bODemerilo general Abreu, pôde dar
uma idéa do respeito e da admiração que tributavam elles a
tio illustre cabo de guerra.
Basta que citemos aqui as palavras do mencionado
Ramirez, dirigidas a 8 de Janeiro do anoo seguinte ao
cabildo, quando communicou a noticia do combate do
Ibirapuitan-Chico, e a carta que Aniceto Gomez, dois dias
depois d'aqueUe recontro, escreveu a este general, da qual
já citámos um trecho.
■ O general Artigas ( escrevia Ramirez), A frente de três
mil decididos orientaes, acabou com o divisão do dislincto
porluguez Abreu. »
Gomez começava a sua caria do s^uinta modo: ■ Gloria
i pátria, e honra aos livres t
« Triumpharam nossas arma? em GuirapuilaD-Chico (30)
no dia li do corrente contra o famoso Abreu (31). >
Recebendo os despachos, em que Abreu dava conta da
ínvasfio do Artigas, e pedia soccorros para resistir-lbe
efficazmenlo,o conde da Figueira ordenou ao lenente-general
Marques de Sousa que fizesse marchar o então brigadeiro
Corrda da Gamara, para communicar-se com Abreu, devendo
(30) GormpcSo de IbirapulUa-Chico. Em vei de Ibiraocahy, Artigas
diiia também Gniraocaby.
(31) tlinoiítro equivoco do Correio Bratâienie, repetido portodos
08 nottot escrlptorea, foi dizer que o combate tivera lugar a 13 e nSo
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os dois, de accordo, conter os invasores do Sauta-Maria, e
evitar que o transpuzessem.
Pelo dia IS, isto é, no dia seguinte ao do combale, o
general Gamara reunia-se a Abreu na estancia de Joaquim
Rodrigues, além do passo do Rosário. D'ahi voltaram juntos
os dois generaes, e fizeram-se fortes n'aquelle ponto, sendo
a 17 atacados por La-Torre, que foi rechaçado depois de
um combate que durou desde as dez horas da manhã até á
noite.
N^este ataque pôde o general Abreu certíficar-se de que a
cavallaria és ordens de La Torre, que fazia a vanguarda do
inimigo, compunha-se apenas de oilocenlos homens.
Ignorando, porém, qual o plano d^elles, fez ver ao
general Gamara que deviam seguir-lhes a trilha para observar
seus movimentos ; prudente alvitre, a que Gamara accedeu
prom piamente.
EfTecli vãmente no dia 18 sabiram os dois generaes do
passo do Rosário, e, marchando sobre as pegadas do exer-
cito orÍBOlal, souberam a 26 que estavam a legua e meia do
acampamento dVste.
Collocaram-so cnlão na margem direita do Ibicuhy-
Guassú, pouco acima da sila cunfluencia com o Ibicuhy-
Merim, ficando assim entre aquelle rio e opassodeS.Borja
no Santa-Maria.
Abi veiu o inimígoalacal-os no dia 27, com duasfortes
columnas, que tentaram passar o rio em dois lugares, onde
este dava váo. O general Gamara poslou-se no passo da
direita, e o general Abreu do da esquerda.
Aluía foi renhida. Os nossos, ardentes de enlhusiasmo,
trocaram em breve a defesa pelo ataque, e cahiram sobre o
inimigo jé abalado eroto.
Emquanto Gamara perseguia os fugitivos até ao próprio
acampamento de Artigas, onde a artilharia inimiga obri-
TOMO XIXI, P. II _ 12
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goiíro a deler-sfl, o valeote Abreu apoderava-se de um bos-
que, em que grande numero de inimífos se haviam refu-
giado para melhor reustir.
Muito armamento, sessenta mortos, dezesete prisioneiros,
cavallos sellados, ele, cahiram em nosso poder.
Abreu e Camará voltaram de novo ás nove horas da noite
para a margem direita do IbÍcuhy<Guassú (32), manobrando
no dia seguinte á vista do inimigo, e pela sua esquerda,
sem que este os iacooimodasse.
A rtigas procurou então attrahir os nossos, para balêl-os
antes da juncçjto com o conde da Figueira: marchou em
direcção a Saat'Anna do Livramento, e d'abi voltou rapida-
mente sobre eíles, que o seguiam de perto.
Mas Abreu e Gamara, que, com as forças de que dispu-
nham, não podiam bater-se em campo aberto, reliraram-se,
afim de evitar uma derrota certa, e chamar o inimigo para
o passo de S. Borja, ponto sobre o qual marchava o conda
da Figueira. >
No dia 10 de Janeiro verificou-seajuncção dos nossos
três generaes, ficando assim burlado o plano do audacioso
caudilho.
Vendo isso, Artigas dirigiu-se de novo para as oasceutes
do Taquarembó, já abandonando o território brasileiro;
porém o conde da Figueira, a marchas forçadas, alcançou
o exercito oriental no dia 20 de Janeiro.
Apenas avistou o inimigo, tomou o capitfto^euerat todas
as disposições para o ataque. Abreu com a sua divisão
devia atravessar um pântano, e atacar peta frente ; Camaia
devia transpAr o Taquarembó, e atacar pelo flanco.
Formado em linha de batalha, rompeu o inimigo o fogo
(32) k nspeilo do lugar d'este combate erram osnossosescríptores,
quando dlo a entender que foi ainda o passo do Rosário.
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com quatro pegas de artilharia, que nenhum mal nos
fizeram.
■ A' minha voz de avançar, diz o conde em sua parte
official, o brigadeiro Abreu eiecutou o seu movimento com
lauta impetuosidade, apezar do vivo fogo de artilharia e
fusilaria do inimigo, que desde logo o obrigou a perdei a
sua primeira posição, e a retirar-se para outra mais forte,
defendida pelo rio, que se achava então muito cheio. ■
Nossos soldados, sem se deterem, atravessaram, eanvja-
ram-se sobre os contrários ; mas a brilhante carga,com que
Abreu inaugurou o combate, a serenidade e valor com que
se arremessou sciíre as hostes inimigas, fizeram com que
estas desfalleceesem.
A resistência foi miserável ; o inimigo quasi não con-
baleu, e na maior desordem e confusão deitou a fugir,
fustigado e perseguido pelos nossos, deixando no campo o
general Pantaleon Sotél, quarenta officiaes superiores e
subalternos, setecentos e noventa e cinco inferiores e sol-
dados mortos, feridos quinze inferiores e soldados, prisio-
neiros vinte e umoQiciaese quatmceotos e sessenta e nova
inferiores e suldaitus; ao todo m/i tresentos e c^co ho-
mens.
Tomámos quatro peças, todas as munições, uma ban-
deira, quatro caixas de guerra, muito armamento, gado e
cavallos.
Esta victoria, que acabou com o poder e dominio de
Artigas, e para a qual tanto concorreu o mtrepido Abreu,
valeu ao nosso heróe a graduação de marechal de campo
em Março do mesmo anão.
Quatro dias depois da batalha s^aiu o illustre rio-gran-
dense com a sua divisão até ao Uruguay, para perseguir o
inimigo e desassombrar a campanha.
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Depois da proclaniaçSodi iDlopeodeacía, é nomeado goveroador das
armas do Rio-Graade do Sul. — Acliva a remessa de reforços para
o silio de MODlevidéo, e marcha até Mercedes com uma divisio au-
liliar. — Volia para o Rio-Graade depois da capIlulaçSo dos porlu-
guezes.— E'-ltae conferido o poslo elTecllvo de marechal de campo.
Após a batalha de Taquarembó, pacificada a Banda Orien-
tal, que passou a fszer parte do reÍDO-unido de Portugal,
Brasil e Algarves, o general Abreu conservou-se na fronteira
da proviucia do Rjo-Grande, commandando as forças que
aguardavam.
O grilo de independência soltado no Ypiranga pelo in<
ct^ fundador do Império foi achal-n n'aquella posição.
Dotado de sentimenlos patrióticos, e cheio de amor pelo
seu paiz natal, Abreu saudou com onthusiasmo a aurora da
liberdade que despontava, e applaudiu a nova ordem de
cousas estabelecida pelo primeiro Imperador.
O governo provisório, que se estabeleceu no Rio-Grande
()o Si.i, nomL'Oii-0, em fins de 18'2i, governador das armas
da proviucia, nomeaçiio que foi coaQrmada pelo governo
geral ; d Abreu, aceitando esse cargo, quiz logo depor aos
pés do Sr. D. Pedro I, que personificava a idéa da liber-
dade e da independência do Brasil, os seus protestos de
fidelidade e dedicação.
Para congratulal-o e testemunbar-lhc os sontímentos de
que elle general e os seus commandados se achavam pos-
suídos, mandou em commíssão, a 12 de Dezembco,o major
J. da Silva Brandão.
Mas nem assim lívrou-se das catumnias e intrigas dos
homens que em Moatevidéo se oppunham á adopção do
novo regimen.
Em um periodieo sustentado por esles, ia Aurora, fez-
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se correr a noticia cie que o bravo rio-grandense havia
proclamado a coostituiçao das cAttes de Lisboa.
O illuslro veterano, com essa franqueza rude do soldado,
entendeu que devia proteslar contra o quo elle qualificava
de horrorosa calumnia.
« Adheri, disso elle em seu manifesto, adberi afincada-
menle á sagrada causa do Império do Brasil, e por ella
protesto dedicar, como já o jurei, os meus derradeiros
alentos. •
Como governador das acmas do Rio-Grande, cabia-lhe a
missão de prover á sua defesa, de reforçar as tropas brasi-
leiras que ao mando do visconde da Laguna sitiavam as
portuguezas em Montevideo.
Abreu requisitou logo do governo o armamento necessário
para occorrer a qualquer eventualidade, e fez reunir todas
as forcas disponíveis da província, eipedindo ordem ao
general Sebastião Barreio, para que se reunisse ao general
Marques, e juntos marchassem a incorporar-se esforças
sitiadas.
Com o intento de activar a reunião de gente, partiu a 7
de Janeiro para o Rio-Pardo,e a ãii assentou o seu quarlet-
gcneral em S. Gabriel, levando comsigo armamento, a
mais trem de guerra, de que careciam os corpos que já
estavam na fronteira, e os- que deviam reunir-se.
Depois dos reforços que enviou ao visconde, organisou
ainda una columna de mile cem homens, com a qual se
postou no Queguay, e avançou em Junho até Mercedes,
sobre o Rio-Negro, regressando ao mez seguinte á sua
primitiva posição.
Essa cotumna devia avançar até Montevideo, se as
circumstancias exigissem allí a sua presença. Os aconteci-
mentos, porém, não realisáram esta previsão.
O sitio de Montevideo, poslo que sustentado com vigor,
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nio ÍDcommodava eatreianlo aos portuguenes do ganeral
D. Álvaro da Costi,que mantioham lirr^ suas coamunica-
ções poi agua.
Cddo, porém, víram-se elles, os sitiados, privados doesse
rocurso, porque uma força naval eaviada do Rio, ás ordens
do chefe de divisão Pedro António Nunes (33),deiTotou, em
dias de Outubro, nas proximidades de Honlevídéu, a es-
quadra portuguesa. D. Álvaro pouco depois capitulou, e as
nossas forças entraram na capital da Cisplatina.
Abreu com a sua columna de observação recolheu-se á
província do Rio-Grande, sendo elogiado pelos relevantes
serviços que acabava de prestar, e recebendo em seguida o
poslo effectivo de marechal de campo com a insígnia do
Cruseiro.
(33) A nossa divbSo DBvalcompuDha-ae : da coverUIt6eral, de 2A
bocas de togo (commandaDte o capiíao-leneole Gavião); brigue CaeiqM,
de 18 (comoiandaiite capilSo-leneoie Aolunio Joaquim do Couto);brfeDe
Gvarany, de 16 (commandante 1° leoente Joaquim Guilherme); escuna
Leopoldina, de 13 (commandauLe 1° lenenle Fiaucisco Bibianode
Castro); e escuna Sete de Março, de i rodisio [commaudaQte 3* teneole
Francisco de Paula Osório)- A divisão porlugueza compunha-se das cor
velas Conde dos Arcos, de 26 peças, e General Lecór, de 16, brigue
Ligurt, de 16, e escuna Maria Theresa. D'esBa victoria naval n 3o fez
roençaooSr. couselheiro Pereira da Silva na sua recente HUtoria da
(miUiçOo do império.
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VI
QnettSo da Cisplatina. — Revolaçlo do 18S5 p<'otegida peid govetuo
argeolÍDo. — Delecção do coronel Julian Laguna e do brigaddro
Rivera. — Ovjwonde da Laguna pede reforçoa ao governo geral, e
d proviDciadoRio-Graade dosai. ~ Abreupre para noia divisão, e
invade a Cisplatina. — Começa a desiniellígeacia do general Sebas.
tilo Barreio coro Abreu,— EsUdo da Cisplatina, quando Abreu pòz-se
em marcha. — Demora-se este junto ao arroio Pregitelo á espera
du forçai dos coronéis Jardim eMeona Barreio. — Alaqne de Mer-
cedes pelo general Rivera (33 de Agosto;, que é rechaçado.— Alireu
move-se para cobrir esse ponto, e atacar Rivera. — Tentativas inú-
teis parachamarltivera a uma acção geral.
De volta ao Rio-Grancln, o general Abreu coiiIÍduou a
exercer o cargo de governador das armas, desenvolvendo
abi todo o zelo e actividade de que é capaz um fuocciona-
rio brioso e dedicado á causa publica.
Não tardou, porém, que os acontecimentos viessem cha-
mal-ode novo aos labores e privações da campanha.
O governo brasileiro persistia na idéa da íncorporaçXo
da CisplaUna. Longe do theatro dos acontecimentos, e illu-
dtdo pelas falsas asseverações do visconde da Laguna, acre-
ditava que a idéa da união era com fervor esposada pelos
orientaes, e dava um valor immenso a actos que, sendo
feitos na presença das baionetas estrangeiras, náo podiam
deforma alguma ter o caracter de manifestações espontâ-
neas e livres do voto popular (34).
0U) tiio qDeremofl dizer que essa idéa nlo tivesse enei^icos apoio*
gistas e sioceros defensorea na Banda Oriental. Póde-se dizer até qne
os espíritos mais cultos e a parte mais sensata da população, escaraien-
lados pelos tristes resultados das discórdias civis, defendiam-na com
fervor. Mas os habitantes da campanha, osgaucbos e os caudilhos I
NSo se devia contar comesse elemento, tão poderoso n'aquel)es paizesi
e tao adverso aos brasileiros 7 Klo se devia contar com o espírito in-
quieto e turbulento d'essa parto da população, habituada á anarcbia,
e antipathica á pez e á ordem 1
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Entretanto era crença de muitos homens importantes do
Brasil que, estando este nos primeiros períodos de sua
regeneração politica, não devia herdar de Portugal a louca
ambição dedomiaio sobre um território estranho, e muito
menos sacrÍiic:iros seus recursos na dÍ(BcÍl cmpreza de
procurar no sul limites naturaes.
Foi assim que a constituinte, n'esse ponio bem inspi-
rada, nSo quiz incluir desde logo a Ctsplatina entre as
províncias do Imperio,e reservou a questSo para um exame
especial.
De seu lado o governo argentino julgava-se com direito
ao território da Banda Oriental, sem lembrar-se de que
esta se havia desligado das outras províncias do Rio da
Prata, mantendo livre a sua autonomia debaixo do governo
de Arligas.
D. Valentim Gomez foi enviado em 1823 ao Rio de Ja-
neiro, para fazer valer essas prelenções, e a 6 de Fevereiro
do anno seguinte o nosso ministro de estrangeiros, L. J. de
Carvalho o Mello, declarou, em resposta ao memorandum
por elle apresentado, que o governo imperial estava di^ci-
dido a manter a incorporação da província disputada.
Essa fatal resolução arrastou-nos a uma guerra impo-
pular, que, após duros e immensos sacrifícios, terminou
pelo famoso tratado preliminar de paz de S8 de Agosto
de 1828, preparado e urdido pelos manejos» seducçóeso
ameaças de Lord Ponsomby (3'i).
<3G) Do seguinte ollicio do duque de Palmella ao conde <Io Porto
Santo vC-se a alternativa que otTereceu a Inglaterra ao Braail, e as
ameata« d'eese governo, que lao escandalosamente contrariou -nos
durante todo o decurso da guerra : <• Soube por uma conndencia
do barão de llabafana, de cuja veracidade por varias provas me con-
venci, que Mr. fanning Itie declar.'lra francanaente o desejo que tinha
de induzir o gabinete do Rio de Janeira a mandar evacuar peias suas
tropas n Panda Oríenlal, oo seja para entregal-a ao governo de Buenos
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Quanio não leria ganho o Brasil, seT pondo de parle vel-
leidades pueris, tivesse erigido desde logo a Baada Orien-
tal em estado livre e soberano, garantindo a sua inde-
pendência contra as infundadas protenções do governo de
Buenos-Ayres I Essa pulitica de vistas mais largas e pre-
venetes, inspirada pelo sentimento nacional, ter-nos-hia
assegurado o apoio da Grã-Bretanha, que foi o verdadeiro
motor 6 alma da guerra, que contra nós sustentou a repu-
blica das Províncias Unidas do Rio da Prata (36).
Ayres, mediante uma iadeinnisa0o pec uniaria, ou seja erigindo em
HonievidéoumgovernoíDdependeDte, debaino da protecção da Gt^-
Bielanlia. Para dar maLs força a essa declaraçJio eiplicila, chegou
Mr. Canmng a accresceiítar que a Inglaterra duo podia ser muito tempo
indiflerente espectadora de uma semeliianle luta, nem permanecer
neutral ; e que eslava resolvida a abraçar o partido do Buenos-Ayres,
se dentro de seis mezes uão estivesse concluída a paz, ele, ele. »
{Correspondtncia do duqaede Palmtlla, publicada por J. J. dos Rtise
Vascowellos, tomo 2% pag, 2590
(36) Quando cm 18C2 se inaugurou na curte a estatua do au-
gusto fundador do Império, a imprensa politica abriu uma animada dis-
cussão sobre o reinado d'esse Príncipe, a quem o Brasil deve a sua in-
tegridade e a sua preciosa constituição. Entre as accusaçCes que I lie
eram feitas, nvullava a da guerra do llio da Prata ;e (cousa admirável IJ
trinta e sele annos depois d'essc acontecimento era essa accusacao
formulada com mais paixSo ainda do que o nzeramos periódicos exal-
tados da época !
Censurava-se o Senlior D. Pedro f por se deixar dominar da ambi-
ção de conquisla i o entrelanlo tim de seus acctisadores, chefe de uma
escola politica importante em nosso paiz, e por con^^cguinte poUtico ati-
lado e sagaz, lamenlava em 1861 a falta de um conde de Cavour, que
pudesse realizar a conquista dos ducados úo Rio da Praia I
J& se vi, pois, que, se ainda recentemente liavia brasileiros da impor-
tância d'aquelle a quem nos referimos, que sonhavam com a incorpora-
ção dos ducados, r.So é muito para admirar que em 1825 houvesse
quem pensasse, nlto em conquistar ducados, mas em ronservar um que
rOHo XXXI, P. II i3
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Uma revoloção pfeTÍsta por todos, qae não eram myo-
pes, arrebentou afinal oaCispIstioa, favorecida is escan-
caras pelo governo de Bnenos-ÀTres.
A 19 de Abril de 1828 o general Ju&n António Lavalleja
desembarcou do Arsenal Grande com trinta e dois compa-
nheiros apenas ; e, plantando no território Oriental o pa-
vilhão tricolor de Artigas, reuniram -se logo em tftrao d'eUe
unsdusentos patriotas (37).
Com taes elementos leriam os trinta e três companheiros
pago bem caro o seu amora pátria, e estaria desde logo
suffocada a revolução, se o coronel Julião Laguna, depois
de ter representado uma farça ridícula {38],Dão se bandeasse
para os insurgentes;sendo poucodepois,B 27 d'esse mesmo
mez, imitado o seu exemplo pelo brigadeiro Fructaoso
Rivera.
A dereccão d^esses dois chefes encorajou os indepen-
dentes, e fez com que um sem-numero de voluntários cor-
ressem de todos os pontos da campanha a engrossar o
pequeno exercito de Lavalleja.
Estes acontecimentos induziram o visconde da Laguna
a solicitar a remessa immediala de reforços, tanto ao go-
verno geral, como ao commandante das armas da provin-
cia vizinha.
ji eslava em nosso poder. Oa erros do passado devem servir-nos de lifio
para o preseole, mas DUnca devem dar lugar a JDcoherendaa d'eB8a
ordem.
(37) Carta do geDeral MaDoeIJorge Rodrigues [barSo de Taqaarj) ao
cônsul brasileiro em Boenos-Ayres.
(38) Nas Memorias de Garibaldi, publicadas pelo Sr. Alexandre Du<
masfpai), vemadescrÍpçSod'esseraclo. A' parle o qne ha ahi de ro-
maolico, é exacta a noticia que etie ài da loteressaole aceita que re-
prese nlou Laguna.
D,:„l,;cdtvG00J^IC\
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NSo se conservou surdo a tal reclamo o general Abreu.
Reuniu as forças de que podia dispor, e invadiu a Gispla-
tina com uma divisão composta de duas brigadas de caval-
laria, dirigindo suas marchas sobre Mercedes, povoação
situada i ma^m esquerda do rio Negro, e occupada por
uma pequena guarnição brasileira.
Debaixo de suas ordens vinha o então br^deiro Se-
bastião Barreto Pereira Pinto, que, acbando-se acampado
nas proximidades de Montevidão ao romper a revolução,
havia atravessado toda a campanha oríenlal alé á fronteira,
com o âm de proteger a retirada das famílias brasileiras
alli residentes.
Tendo chegado aquelle general á freoteira, precisamente
quando Abreu dava os primeiros passos para orgsnisar a
divisão com que devia penetrar na Cisplatina, entendeu
este que seria conveniente que se lhe incorporasse, e n'este
sentido olficíou ao visconde da Laguna, que acquiesceu
proroplamente a tão justa suggestão.
Entretanto foi isso desgraçadamente o signal de uma
desÍQtelligencia mesquinha entre Barreto e Abreu, porque
áquelle repugnava militar debaixo das ordens do homem
em quem via um rival feliz e glorioso. Esta desintelligen-
cia, a despeito da generosidade e cavalheirismo com
que se houve o illustre general Abreu, affectando ignorar
os manejos do seu competidor, produziu consequências
mui funestas, e em grande parte concoireu para o máo
êxito da batalha de Ituzaingd. Mas não antecipemos os
foctos.
Quando o general Abreu entrou na Cisplalina, já a revo-
lução tinha ganho terreno, graças ao contemporisador vis-
conde da Laguna, que, depois de haver commetlidoo
gravíssimo erro de destacar contra os independentes, sol-
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dados ligados a elles pelos laços da nacionalidade, e alé
mesmo da amizade, havia adoptado por systema a inércia,
que foi sempre a sua estratégia, e que lhe valeu o iroaico
appellido de Fabius Cuuctator.
LaTalleja dominava toda a campanha alé ao Rio-Negro,
e possuis três raíl e quinhentos homens (39) perfeitamente
armados, pois o governo de Buenos-Ayres fazia-Ihe pelo
Uruguay constaotes remessas de munições e armamento,
apezar da llotilba que tiohamos n^esse rio, ao mando do
então capitão-tenente Jacintho Roque de Senna Pereira,
queuãoera sufficienle para interceptar inteiramente acom-
municação entre as duas margens (40).
Depois de uma marcha laboriosa, feita no rigor do in-
verno, chegou a divisão auxiliadora do general Abreu á
margem esquerda do Rio-Negro, vadeando-o nos dias 6 e
6 de Julho. Compunha-se ella de uns mil e duzentos ho-
mens, desprovidos de tudo, o fatigados por uma marcha
terrivelmente penosa, em razão dos obstáculos naturaes
que tiveram de vencer. Os mais pequenos arroios tinham-
sc convertido em lorrenles caudalosas, que obrigavam o
general a caminhar muitas léguas, para procurar as suas
nascentes, desponta ndo-as, .como se diz no sul.
Forçoso lhe foi dar então descanso aos seus soldados,
cujos cavallos estavam em misero estado, e pedir alguns
auxilies ao coronel Norberto Fontes, commandanle de
Mercedes, que acudiulhe promptamente com a^uns manti-
mentos e com um cirurgião.
(39) Veja-se a Mensagem de Lavalitja, apresentada ao Congresso da
Florida a 18 de Juntio de 1825.
(AO] Todavia, o commandaDle da flolilha desenvolveu sempre a
maior actividade, e seus navios por vezes conseguiram appreliender
a nchítes carregados de armas.
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— 101 —
o general inimigo Frucluoso RÍTera achava-se com luil
cavalleiros |í1)do seu campo de Motles.proximo de Durazno,
e ao saber da approximação da columua imperial, adiantou-
se com seiscentos homens escolhidos para observar-lbe os
movimentos,
Abreu conservava-se em immobilidade no Rio Negro a
alguma distancia <lo arroio Pregueio, esperando, para roaao'
brar, a chegada de cavalhadas e de quatrocentos homens,
que haviam partido do Quarahim e de Sant^Ànoa ás ordens
dos coronéis Jeronymo Gomes Jardim o José Luiz Nenna
Barreto.
A' vista d'isso, concebeu o chefe inimigo o plano de apo-
derar-se de Mercedes antes que a ella chegasse a divisão
auxiliar.
Deixou emboscados em frente do acampamento d'eEla
cem homens, e no dia 22 de Agosto atacou o povoado (42).
O ataque comegou ás onze e meia horas da noite, e foi
dirigido com muito impele sobre os postos mais vulneráveis.
Um alferes oriental de nome Navarro, que fazia parle da
guarnição, e que desertara Q'esse dia, pAde indicar a Rivera
os ponlos mais fracos, e conseguiu, atraiçoando-os vil-
mente, apanhar quatro officiaes e cinco soldados, que se
achavam doentes em uma das casas da povoação, chegados
poucos dias antes da divisão de Abreu.
(úl) MensagtmdeLavatí^a, já citada.
(43) Já antes, em Maio, pretendíra Rivera apoãerar-ged'eBBe ponto,
ÍDUmando ao commaadanie brasileiro, que se rendesse, e dizendo que
tinliai sua disposição dois mil homens. A resposu que leve foiesla;
K Homeos n3o iotimidam a homens. NAo é a primeira vez que V. Ei.
se p5e ã frente de igual numero sem intimidar as armas brasileíraB,
acostumadas por sua subordioagão, disciplina e fidelidade a vencer as
muIlidOflS. ■
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— loa —
Protegida petos fogos da canhoneira D. SAasHão (43), a
heróica guarni{2o repelliu com bravura o ataque, voltando
s^unda vez á cai^a o inioiigo, e sendo rechaçado de novo
com grande perda.
Foi essa uma noite aziaga para os contrários, porque,
além da perda que solTrerara nos dois ataques, tiveram o
desgosto de ver batida e dispersa por um piquete nosso,
duas vezes menor que ella, a força que deixaram de observa-
ção em frente ao acampamento do general Abreu.
No dia s^uinle, pelas oito horas da manbS, pdz-se a
nossa divisSo em movimento para cobrir Mercedes, e attra-
bir o inimigo a uma acção geral; foram, porém, inúteis
todos os esforços que emproou para conseguir este ultimo
resultado.
Às partidas inimigas, atacadas pelos nossos piquetes,
dispersavam-se em vez de concentrar-se, ficando os nossos
vencedores em todos os choques, que tiveram lugar nos
dias 23, 37, e 28 até 2 de Setembro.
Vil
Abreu destaca contra REvera o coronel Bento Manoel. — Combate de
Arbotito (à de Setembro), e marcha de Benlo UaDoel para Monte-
video.— Lavalleja levanta o sitio da Colónia, e concentra suas forças
no interior.— PostcSo dos betllgerantea. —Plano de operafãfea coa>-
municado pelo vÍMxiade da Laguna a Abrea. — Combates do Hin-
con e do Sarand;. — Abreu nio concorreo para esses revezes ;
accQsaçQes infundadas que lhe foram feilas.— Betira-se para Belãn,
e ahi reune-se a Bento Hanoel. — Segne para o Rincon de Haia-
Perros.
Perdidas as esperanças de obrigar Rivera a aceitar com-
bale, tomou Abreu posíçOes pTto de Mercedes, aguardando
as columnas de Jardim e Menna Barreto, diante das quaes
(43) CommandaDte, o 1° teneote Cfptiano Josã E^res.
DictizedbyGoOJ^IC
fugia o coroDfll Julian Laguna, que com duzentos homens
logr^a, pouco antes, sorprender e aprisionar em Paysandú
am pequeno destacamento nosso.
Lavalleja sitiava entáo a praça da colónia do Sacramento,
cajá guarnição, dirigida pelo intrépido Manoel Joige Rodri-
gues (mais conhecido pelo titulo, que depois recebeu, de
barão de Taqoary ), se mantinha firme em seu posto, reba-
tendo sempre os ataques dos independentes.
Para impedir que esse chefe, reunindo-sea Rivera, viesse
com todo o exercito republicano ao seu encontro, resolveu
o general Abreu baler a columna d'este ultimo.
Para isso tez vir do Rincoo de Ilaédo (lambem chamado
de tas Gallinas] a cavalhada fresca que ahi linha, e destacou
oitiftentos homens escolhidos d^entre todos os corpos de
sua divisão, confiando sua direcção ao celebre Bento Ma-
noel Ribeiro, então coronel.
Achava-se acampado no dia 3 de Setembro na foz do
Coquimbo quando Abreu levantou o acampamento, o mano-
brou com todas as suas tropas, para illudir a guarda
avançada que, sob as ordens de Felippe Caballero, deixara
o general inimigo em nossa frente. Graças a esse movi-
mento, conduzido com a habilidade e pericia com que
sempre se havia o distincto vencedor de S. Borja, pÃde
Bento Manoel sahir durante a noite sem ser percebido.
No dia 3 Rivera acampou nas nascentes do Viscocho,
e n'essa noite transportou-se para junto do arroio d'Aguila,
donde se descobre a coxilba de Arbolíto.
Ahl encontrou-o Bento Manoel no dia seguinte, depois
de ter com três esquadrões batido ao amanhecer a força de
Caballero, que, descobrindo pelos rastos dos cavallos,
mas já tarde, a partida da columna imperial, correra a
reunir-se ao grosso das forças inimigas.
Ao avistar os nossos soldados, formou o general Rivera a
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— 104 —
sua pequeaa divisão, e adíantou-se com todo o valor ao
eaconlro d'elle3.
Os atiradores dos dois lados tiroiearam-se por algum
lempo, 6 afinal a linha iuimiga, dando uma descarga,
acommetteu a nossa com fúria, carregando-a de espada
em punho.
Recebida, porém, com firmeza essa carga pelos -nossos
bravos, Toram os contrarias repellidos, batidos e acutílados,
por espaço de quatro teguas, deixando no campo sessenta
e quatro mortos e quatorze prisioneiros (44).
Esta victoria (45), e a marcha de Bento Manoel com nove-
centos homens para Montevideo (46), onde íoi recebido om
triumpho, obrigou Lavalleja a daiiar de observação om
frente á Colónia apenas duzentos homens, e a retiriÉ-se
para o acampamento geral de suas tropas perto da Flo-
rida (47).
À superioridade numérica das nossqs forças (48), e o
euthusiasmo que entre ellas reinava, depois dos revezes
(tiU) Entre os raorlos acliar am-se um major (IttaDciila) e mais dois
ofGciaes ; eatre os prisioDeiros um capitSo (Tavares] e outro ofliciaL
(A5) Nas parles oQiciaes esse combate é conhecido pelos uomes de
combale de Arbolilo, das FodUs de S. Salvador, Aguiia e Coquimbo.
Na biograpbia do marechal de exercito BenLo MaDoel Ribeiro, ullJma-
meote publicada na Revista do Instituto, duo se faz men^o d'e3[3 vi-
ctoria, uma das mais brilhaotes alcançadas por esse valeole cabo de .
guerra.
(ã6) A sua columua, primiti vamenie composta de oitocentos Uomeos,
foi depois do combate reforçada por ordem de Abreu.
(Ú7] A nairaçSo d'efises factos ó feita avista de documentos oíD-
claes (lanto do nosso lado como do conUario) , & vista de informações
que obtivemos, c de um ou ouiro trabalho parcial que examinámos.
(48) Dizemos superioridade numérica, porque contamos lambem
com as guarnições de Montevideo e da Colónia, c com as forças do
ltio-r>rande cm marcha.
DictizedbyGoOJ^IC
solfridos pelos iadopendenles em frente de Mercedes e da
Colónia, e no combate de Arbolíto, tornaram cerlaa próxima
submissão da Cisplatina com o aniquilamento completo
da revolução.
£', com efTeito, fora do duvida quo os patriotas oríealaes
teriam dentro em breve visto morrer a idéa grandiosa que
03 fizera empunhar as armas, se a Providencia, que sempre
ampara as causas justas, não reunisse contra nós uma serie
de circumstancias tão imprevistas, quanto funestas ás armas
imperiaes.
A rivalidade mesquinha de alguns chefes, o egoismo e a
ambição de outros prepararam as derrotas que se se-
guiram, e que coroaram tão infelizmente a campanha
de 1825, aliás inaugurada debaixo de tão bons nuspicios,
graças á attítudo que tomara o bravo general Abreu, apresen-
tando-se no campo da luta com a sua pequena mas valente
divisão, e ( o que muitas vezes vale mais que um exercito ]
com o prestigio do seu nome glorioso.
Lavalleja comprehendeu perfeitamente as circumstancias
críticas em que se achava, quando procurou concentrar em
um sóponto,no cenlroda campanha, todas assoas tropas.
As praças da Colónia e de Montevideo estavam em nosso
poder; na linha do Rio Negro achava-se o general Abreu
com um punhado de soldados, que deviam em breve sor
reforçados; a fronteira do Rio-Grande era guardada pelo
general Bento CorrSa da Camará ; no Prata e no Uruguay
dominava a esquadra do vico-almírante Rodrigo Lobo.
Assim, Lavalleja achava-se cercado, e correndo o risco
de ser esmagado pelos nossos soldados.
Então o visconde da Laguna communicou ao general
Abreu um plano de operações oífensivas que delineara, e
que, se houvesse sido fielmente executado, seria coroado
do mais brilhante e prompto successo,
TOMO XXXI, p. II **
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Dois revaiea, poróm, iasigntficanles como feitos de
umas, mas ootaTeis pelas consequeocias que acarretaram.
vieram mudar ioteirameote a face dos negócios, e (oroar
impossívei a execução doesse planoircvezes, póde^se dizál-o,
devidos ambos, menos ao esforço e ao poder do inimigo,
do que á imprudência dos nossos chefes.
O primeiro teve lugar no Rincon de Haédo. a 2i de
Selenibro; o segundo, junio ao arroio Sarandy, a 12 de
Outubro.
No Rincon foram batidos os coronéis Jeronymo Gomes
Jardim e José Luiz Henoa Barreto pelo general Rivera,
cuja chegada aguardava havia muilo o general Abreu; e
foram batidos, porque, em vez de marcharem unidos, leva-
dos de uma mal entendida rivalidade, apressavam acunlosa-
mente as marchas, com o fim de chegar um primeiro que
o oulro ao ponto de seu destino (49).
O inimigo apaobou-os de sorpresa, e destroçou-os cada
(AS} EmquBDto Lsvalleja coDceDtrava nas proximidades da Florida
o Beu ezerdlo, para poder tentar um golpe, que lhe desse uma victo-
ría parcial, s o tirasse da posição difficil em que se acliava, ordenou a
Rivera que com quatrocealoe bomeos se apoderasse da cavallaria que
tinhamos no Rídcod. Abreu tú tinha em Mercedes pouco mais de tre-
zentas praças, porque, como já dissemos, novecentos ás ordens de
Bento Manoel baviam seguido para Montevideo a pedido do vise onde
daLagana.
Rivera cnmpria facilmente a sua missão. Penetrou do Rincon, per-
BCigviu a pequena guarda que ahi tinliamos, e que, nio podendo resi»-
tir, fugiu, lendo apenas um morto e dois feridos, sendo salva peta
esquadrilha de Senoa Pereira, cujos logos obrigaram o inimigo a
deler-se.
Occupado em arrebatar cavalhada, havia o general inimigo deixado
um official intrépido e iotelligente, Sorvando Gomes, com parte das
■uas tropas na entrada do Riocon. Para esse ponto dirigiram-se os
coronéis Gomes Jardim e Henna Barreto (José Luiz} com pouco mais
de duzentos homens cada um. Pelas 9 horas do dia Sâ Servando Gomes
avistou o primeiro d'esses chefes, que vinha quasi em debandada com
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— 107 —
um por sua Tez, desimindointeiruiiOTieos quatrooento»
homens que elles conunandavam.
O segundo d'e88es chefes pagou com a morte gloriosa o
seu faial erro (50).
PreeDchida com tanla felicidade a sua missão, voltou
Rivera, com a cavalhada que tomara, para o acampamento
de Lavalleja, e achou esle chefe preparando-so para atacar
Bento Manoel, que com uma brigada sahira da praça dâ
MonteTidéo.
Este, recebendo ordem de reconhecer o campo inimigo,
partiu com mil e cem homens, e incorporou-se no dia
ofl cavallos faUgadissiroos. Vencer «m iemelhanlM condfçSea era
Urefa facil. Servando aguardou o ensejo mais ta»oraTCl, e carregot
com Tioleocú sobre essa força, da qual apenas uns quarenta iiomens
consegoiram íormar-se, sendo esmagados pelo numero. Os outros, en-
volvidos e perseguidos pelo inimigo, catiiram sobre o regimento n. 35
de segunda lintia (Goaranys), de que era coramandanle Henna Barreto,
e que nSo pOde igualmente guardar a formatura pelo csítsaco âtm et"
vallos. Esta cotnmna, como a primeira, disperson-ss logo, podeado
o inimigo, sem grande iraljalho, deatruil-a completamente, pers*-
gutndo-a até graode distancia. Ainda assim, muitos houve que, envol-
vidos pelos contrários, resistiram com admirável denodo, sabendo
vender caro soas vidas. Entre estes achou-se o joven Menoa Barreto,
qne, apezar de ouvir os repetidos gritos do inimigo, iulimando-lhe
qne se rendesse, combateu, como um verdadeiro ttwúe, monendo
aSnal com mais de dez honrosos ferimentos, e couquistando a admi-
rado de seus próprios adversários. (Veja-se o opúsculo do Sr. E. de
Senna Pereira — O Libtíío arget^m e a verdade hitíoríea ~- Rio,
1857, t vol. ; e a Biogrt^Ma do coronel José ImIx Slenna Barrtla, pu-
blicada em avulso no amw de 1825, em Montevideo.)
(50) Morreu aos vinte e sele annos esse joven coronel, queseasst-
gnalavajá por uma longa serie de feitos illustres. Era Hlho do marechq
de exercito Ji^o de Deos, visconde de S. Gabriel (fallecido em 18ú0].
e irmSo do vencedor de Paysandii, o marechal de campo José Propicio,
barlo de S. Gabriel, foUecido on 1 S«5 .
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— 108 —
10 de Setembro, nas oasceoles do ¥i, ao coronel Bento
Gonçalves, que comnuodava quatrocentos caTalleiros (51).
Achando-se assim com mil e quinhentos homens, julgou
Bento Maooel, em seu orgulho, que por si só poderia dar
cabo da revolução, e, desprezando as instrucções que
recebera, atreveu-se a atacar o inimigo com a sua pequeoa
columna, fatigada e enfraquecida por continuas marcha^
forçadas.
No dia 12 de Outubro, aoniversario do primeiro Impera-
dor, avistou elle o exercito republJcaDO, postado junto ao
Sarandy, que despeja suas aguas em um dos tributários do
rio ¥í, o arroio de Castro.
Lavalleja, que de ha muito espreitava os seus movimentos,
esperava-o impassível e corto da victoria.
Aos nossos mil e quinhentos homens oppunha elle dois
mil e quinhentos das ires armas, perfeitamente disciplina*
dos, cheios de enthusiasmo pela causa que defendiam, e em
melhores condições que os nossos, porque á superioridade
numérica accrescia o estarem em descanso, e conhecerem
perfeitamante o terreno em que combatiam.
Como se isso niobastasse, foi tal a alluciaaçSo que se
apoderou de Bento Manoel, que deu começo ao combate
unicamente com mil e tantos homens, sem esperar os
quatrocentos de Bento Gonçalves, que vinham um pouco
retardados (52).
(61) Bento Manoel se tiavia oITerecido para alacar o inimigo em Beu
próprio campo. O tenente-general Maggessi, bário de ViUa-Bella,
reclamou para si, como mais graduado, o commando das forcas que
se houvessem de destacar contra o inimigo. Sem dar uma decisSo
delinilíva, ordenou o visconde que Bento Manoel fosse reconliecer o
campo inimigo, devendo antes faier juncção com Bento Gonçalves, a
quem otDciou n'esse sentido.
(53) Armitage, Uto inexacto quando refere lactog d'e8ta guerra, dú.
DictizedbyGoOJ^Ic
— 109 —
PÒde-M dizer que o signal da nossa derrota foi dado aos
primeiros tiros pela defecção da íníaotariaguarany, tornan-
do-se impossível, depois d'tilla, um combale regular.
Como bem observa o risconde de S. Leopoldo, t foi
antes ume dispersão do que am combate. > Beato Gonçalves,
cora o seu regimento ilieso, dirigia-se para a fronteira do
Jaguaráo, sem ser iacommodado pelo inimigo; Benio
Manoel, com os destroços de sua columna, depois de
pelejar heroicamente, retirou-se para adeSaofAnna, perse-
guido até a^uma distancia pelo inimigo; o regimento de
dragões retrogradou para Montevideo, e o coronel Alencas-
Iro teve de depAr as armas com as forças que com-
mandara.
Taes foram os tão fallados combates do Rincon e de
Saraody, em que os orientaes venceram sem desar para
nós e sem grande gloria para elles.
Esses dois revezes foram, como se v6, exclusivamente
devidos ao procedimento de Jardim, de Menaa Barreto e
de Bento Manoel. Sem a mesquinha rivalidade d^aquelles.
e a imprudente ambição d'este, não teria a causa da revolu>
çáo alcançado taes vantagens, que, insignificantes como
feitos militares, puzeram entretanto o inimigo de posse de
toda a campanha oriental, fortaleceram o espirito de
resistência, e decidiram ogoverno deBuenos-Ayresa in>
tervir francamente na luta.
Não nos levem a mal esta divagação. Julgamos dever
cem os docamentos olllciaes do ioimigo, que pelejaram n'esBe comtute
dois mil e duzenlos brasileiros. O visconde de S. Leopoldo e o general
Abreu e Lima (que o copia Q'ess6 como em muilos ouiros poaloi] dSo o
algarismo exacto. Sá se baliram mil brasileiros, porque os quatroceolot
soldados de Bento GoDjalvesnao chegaram a entrar em fogo. OSr. A. D.
Pascual, na sua recente obra—Apunies para la historia de la Repvbli^
Oriental, engaua-se com Armilage, dizendo que tinhamos dois mil e
duzentos bomeos.
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— 110 —
eipdr os factos e fallar D'e8ses dois combates, porque sobre
o genaial Abreu se fez então recabir toda a responsabili-
dade d'eUfiS.
Ainda em 1827, na sessfio da camará dos deputados de
18 de Maio, o illustre general Cunha Mattos, Miando da
guerra, assim se exprimiu a respeito da campanha de 1835:
« A guerra, Sr. presidente, tem sido de tal modo diri-
gida, que estamos vendo arruinado o Brasil ! Permitta-se-
me que o diga com bastante sentimento do meu coração :
os erros são antigos, e os erros lèm continuado até hoje.
■ O erro fatal do bário do Serro-Largo, general valente,
que dezenove vezes se bateu no campo da honra, arrastou
a desgraça do Brasil, e trouxe as derrotas do Rincon e de
Sarandy. Em vez do Rincon das GalHnhss, elle occupou
SanfAnna ! Qual foi o resultado d'isso ? Um corpo de quasi
seiscentos cavallos, sob as ordens de chefes intrigados,
marrhava em desordem, quando o inimigo, aproveilando-
se da confusão, cabe-Ihes em cima com duzentos cavallos,
eleva tudo á espadai... t (53)
A simples exposição dos factos e a leitura d'essa parte
do discurso do general Cunha Mattos bastam para a cabal
defesa do illustre barSo do Serro-Largo.
O general Cunha Mattos accusava-o por ler occupado
SanfAnna, quando elle, como já vimos, occupou Mercedes
nas vizinhanças do Rincon ! D*esta natureza eram as accusa-
ções que faziam a Abreu.
Reduzido á inacção em Mercedes, o general Abreu foi
mero espectador de todos esses successos. Da sua divisão
(E>3] o deputado pelo Rio-fíraode Xavier Ferreira, respondendo a
Cunba Matlos, negou a respoosabilidaie de Abreu pelo revez do
flincoD, mas não soube dizer, quanto á censura principal, que este
general occupou precisameDíe o ponlo que o primeiro orador inculcava
como o melhor.
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- Ill —
destacara com Bealo HsDoel, á requisição do visconde da
Laguna, aoTaoealos homens. Estes foram balidos em
Saraody, e os qualrocealos quo esperava da fronteira,
antes de se lhe incorporarem, foram batidos no Bincon.
A incorporado d'estes últimos devía elerar a força sob
seu immediato cominando a setecentas praças, com as
quaes tinha elle de defendor.por determinação do visconde^
a margem do Uruguay, de accordo com a flotilha da Senna
Pereira.
Has esses dois revezes reduziram-no a uns treseotos
homens, e Q'essas circumslancias, privado da cavalhada de
refresco, via-se ameaçado pelo inimigo victorioso, que sem
dilBculdade esmagal-o-hia, se por mais lempo permanecesse
em território já todo em poder das armas republicanas.
Decidiu-se eutão a evacuar a Banda Oriental, retrogra-
dando para a fronteira do Rio-Graode.
Até ao Salto fez-se Abreu transportar pela esquadrilha
do Uruguay, duplameote mortificado pela desgraça das
nossas armas, e pelo procedimento que para com elle
tinha o general Barreto.
Do Salto dirigiu-se com os restos de sua divisão para a
fronteira do Arapeby (54], occupando Belém, em cujas
proximidades reuníu-se lhe Bento Manoel com os fugitivos
da cotumua destroçada em Sarandy; e d'ahi seguiu depois
para o Rincon de Mata-Perros, situado entre o Arapehy-
Chíco e o Sarandy-Pires.
(SA) Eia por esse lado a linlia divisória entie o Hio-Graode e a
Banda Oriental, pela convençilo celebrada com Montevideo a 3D de
Janeiro de 1619.
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— il2 —
VIU
Abreo deixa do niocon de Catalan Benlo Maaoel, e Gia seu quartel*
general em S. Gabriel. — Recebe a noticia de lhe ler sido conferido
o tltQlo <le barto do Seiro-Largo.— l>rovidenciaa para defeza da Tron-
teira do [Uo-Graode. — Combale de Taquar; (1 7 de Dezembro}, e
lorpreaa do torte de Santa Tbeiesa (31 de Deieinbro). — Vencem os
inimigoa do barão do Serro-Largo, que é exonerado do commando
das amua do nio-fírande. — Sua despedida.— Eitado em que deixou
a província.— Erroa doseu successor. — Combates durante o anno
de 1836. —Viagem do senhor D. Pedro 1 ao Rio-Grande.
A fronteira do Rio-GraDde, depois dos successos que
acabamos de narrar, ficou ameaçada de incursões pelas
panidas inÍDiigas, senhoras de toda a campanha oriental.
Incumbido, como commendanle das armas, da defesa
d^aquella província, deiíou Abreu no Rincon de Catalan
uma brigada de cavallarie e dirigiu-se para S.Gabriel, onde
fixou seu quarlel-general.
Eram mui diminutos os recursos de que então dispúnha-
mos para defendera extensa linha de nossas fronteiras merí-
dionaes, pois só tinbamos na provincía do Bio-Grande oito
rf^lmentos de cavallaría de segunda linha (SS), algumas
companhias de guerrilhas, o esquadrão de lanceiros do
Uruguay, e uma parlida do terceiro r^imento de cavallaria
do exercito.
Toda a foifa de primeira linha, que em tempos ordinários
(66) Eram esses regimentos : o 30 (de Porto-Alegre), 31 (Rio-
Gran(Ie),S3 (lUo-Pardol, 33 [Alegrete, cbamado antes regimento de
Entre-Rioi], ih 0. Borja, antes regimento de guaranjs das HiasSes),
39 {antes regimento de Serro-Largo), AO (antes regimento de Sunarejo].
Em Ioda a província só havia um batalb3o de infantaria de 3* lioba,
com a numeração de 46,
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— 113 —
fazia abi gDarDÍção (56). achava-se em Montevideo, ou aa
Colónia.
Ainda assim, com essa insignificante força, o velho ge-
neral guarneceu a fronteira, distribuindo cooTcnientemente
os corpos pelos pontos mais vulneráveis e importantes.
O seu primeiro cuidado foi elevar aquelles corpos, então
extraordinariamente reduzidos em pessoal, ao seu estado
completo : e emquanto se occupava n'i5so, pondo em acção
ioda ã influencia de que gozava entre os rio-grandenses,
aguardava elle a chegada das tropas que haviam desembar-
cado em Santa Catharina, para emprebender a segunda
campanba,eprocurar o inimigo em soas próprias posições.
Não pâde entretanto levar a eíleito esse seu desejo. As
intrigas de seus inimigos e rivaes cons^uiram fazer des-
vairar o governo.
Abreu havia recebido, por decreto de 12 de Outubro, o
titulo de barão do Serro-Lai^, em attenção aos seus
serviços passados, e aos que acabava de prestar; mas pouco
depois, sabendo o governo das derrotas do Rincon e de
Sarandy, deixou-se levar pelos manejos da intriga, e res-
ponsabilisou o seu brioso general por desastres nos quaes,
como já mostrámos, não tcvo elle a mínima parte.
Foi exonerado do commando das armas, assim como o
visconde da Laguna do cargo de capilão-general da Cispls-
tioa, sendo substituído aquelle pelo brigadeiro Massena
Rosado (57), e este pelo tenente-general barão de Villa-Bella
(Maggessi)(58).
(56) A torta dei* linha, que esla"íonava no IVio-C>rande, e que st;
achava eolSo n'esBas duas praças, constava doa seguintes corpos :regi-
meoloa ds. ú e 5 de caiajjarin, 3" corpo de arLlIharia monlada, e 9*
batalhão de caçadores (Vide o decreto do 1° de Dezembro de IS3ú).
(57) FraDcisco de Paula Massena Rosado.
(58) AiéentAo a Cisplatioa fora governada pelo visconde da Laguna,
TOMO XXXI P. fl 15
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— II* —
A 20 de Dezembro, occupado em aiigmeotar as forças
da proviacia, do seu quartel-general de S. Gabriel dirigia
o lltustre baiio do Serro-Largo aos rio-grandeoses uma
proclamaçio, coQvidando-os a lomar as armas coulrao
inim^ Gominum : * Emquanto Deus me der forças, dizia
entio elle, prometto-Tos nAo «nbainhar a minha espada,
sem que o inimigo seja lançado além do Rio da Prata, que
deve ser a nossa divisa para a conservação da paz, para a
seguraoça de nossos interesses, e para a gloria do graode
Império a qoe perteocemos. > Um mez depois, a 33 de
Janeiro de 1826, despedia-se dos seus camaradas e patri-
cios.depois de ter passado, oito dias antes, ao novo governa-
dor das armas o commando do exercito.
Cheias de nobreza foram as palavras dedespeflida do
veibo e dbtiDclo general. Diante da ingratidão immensa de
que era victima, vendo seus serviços esquecidos, e olvi-
dados os dias de gloria que dera á sua pátria, o illustre
veterano, com a grandeza d'alma que tanto o distinguia,
não fez uma única recriminação, não soltou um só quei-
xume (S9}.
Depois de annuDciar a sua exoneração, terminava os
seus adeoses com as seguintes palavras, que por si sós
bastam para exprimir o seu desinteresse e patriotismo :
■ Tou contente beijar a mio do nosso Imperador, e pedir-
lhe permissão para voltar como simples soldado a unirnue
ás fileiras dos meus antigos camaradas, pois deveis ter co-
nhecido que sou mais propenso a obedecer do que a com-
mandar. •
«qualidade de capitio-genenl. O bário de Vllla-Bella foioprioieiro
presidente nomeado para ella.
(59) Nfto vimos o original doesse documento, mos sim a tradução
fefU por nm do« periódicos de Baenoa-Ayres : « Despedidas que Taz o
bário áo Serrç-Largo aos hsbiUuteg d'e9la província de S. Pedro do
DictizedbyGoOJ^IC
— 115 —
A demissão do birio do Serro-Largo foi om dos muitos
erros que o governo imperial copametteu durante o decurso
avessa guerra, táo mal encamÍDhada e dirigida.
Possuindo um nome prestigioso, conquistado por sua
bravura e honestidade, e pelos serviços que havia prestado
á província do Rio-Grande, cujo território livrara duas
vezes (em 1816 e 1820) da invasáo estrangeira, sympa-
thisado geralmente pelos brilhantes dotes de seu coração,
pratico no sjstema de guerra adoptado n'essBs paragens,
e perfeito conhecedor do terreno em que tinham lugar as
operações, teria o general Abreu sabido conduzir o exercito
brasileiro 6 vicloria, evitando os erros do seu successor, que
tão falaes foram ás nossas armas, e que tio funestamente
inflairam sobre a campanha de 1837.
KkMJrsDde. —Honrados habitantes. Tenho empregado todos os dias,
que Deos me tem concedido, desde a idade de treze annos alé boje, no
serviço d'este paiz.
■ Sois teatemaohas dos esforços que liei empregado na defesa d'e8(a
província, quando invadida pelo estrangeiro, sem outro interesse
que o de ser útil ao lugar em que nasci, e podeis dizer como procedi
n'es8as circumslancias, e se obtive algum lucro, abusando dos cargos
que occupei. A imprensa é livre, e por esse canal podem todos publi-
car livremente o que sabem, ou o que pensam.
■ A occasiSo é propría,porqne foi servido Sua Magestade Imperial sub-
stiluir-me pelo Eim. Sr. brigadeiro Francisco de Paula Massena Ro-
sado, official babiiilado para o Ingar que acabo de deixar, pelos co-
nhecimentos e petas qualidades que possne. Ordenou-me o mesmo
AngustoSenhorque me recolhesse âcftrledo Rio de Janeiro,ordens que
pasto unntediatamente a cumprir. Despeço-me, pois, dos meos honra-
dos patrícios, agradecendo o modo por que fui sempre tratado, db> s6
durante o perfodo em que occupei o ca^o de governador das armas,
emno em todas as épocas da minha carreira militar.
• Levo, com o tenthnento de aparlar-me de tSo dignos ddadaoa, a
gloria de nlo ler perdido um só palmo de terrada provinda coja de-
fesa me foi cooflada até ao dia 14 do corrente, emqae Squei iieolo de
ioda a responsabilidade, etc. •
;dby Google
— 116 —
Se, em lio criticas circumstancias, afasfar do sapnmo
commaado militar um tal homem era ji um erro funesto,
o governo parece que esforçou-se em aggraval-o com a
nomesçáo do novo governador das armas, bomem desco-
nhecido, e que, supposto tivesse boas intenções, não eslava
os altura do cai^o que ia desempenhar.
Abreu eotregou-lbe a provincia, virgem, durante o seu
commando, das plantas inimigas. Com efteilo, graças ás
providencias por etle tomadas.o inimigo não ousara penetrar
uma única vez em nosso lerritorío, e conservou-se inactivo,
apezar de já ter cerca de quatro mil homens. Apenas pelo
lado do Serro- Largo e de Santa Theresa, na parte da fron-
teira entregue pelo barão ao general Corrêa da Camará
)B enlo},mostrou-se o inimigo em força.
No departamento do Serro-Largo apresentou-se o coronel
J^acio Oribe, intrincheirando-se perto de Conventos, A
malhem do Taquary, d'onde foi a 7 de Dezembro desa-
lojado por quinhentos dos nossos bravos ao mando do
coronel (Bento] Gonçalves, deixando em nosso poder, além
de muitos mortos e feridos, trinta e quatro prisioneiros
(entre os quaes um oíDcial), uma bandeira, muito arma-
mento, seissentos cavallos, e toda a correspondência (60).
Em frente ao pequeno forle de Santa Theresa apresentou-
se a trinta e um d'esse mesmo mez o coronel inimigo
Leonardo de Oliveira, que conseguiu sorprender a guarniçfio
d'csse ponto, coramandada por ura alferes, e a guarda do
Chuy, retirando-se pouco depois com algum armamento e
vários prisioneiros, entre os quaes alguns oTiciaes (61).
[GOi Sobre esse combate «eja-se a parle ciliciai do inareclial de
campo CorrCa da Gamara, comonaadaDle da fronteira do Rio-Graade.
Iguacio Oribe reiirou-se em desordem, acossado pelos nossos, até
Frayie-Muerlo.
(61) Este successo, cuja icsigaificancia é maDÍfesia, passa todavia
ídbyGoOJ^Ic
— 117 —
Esta sorpresa e aquelle combate foratD os dois udícos
feitos de armas que tiveram li^ar na fronteira desde que o
barão do Serro-Lai^o voltou para a província até que entre-
gou o coaimaudo das forças, que a guarneciam, ao geueral
Rosado.
Este, desde que tomou conta do governo dns annas,
começou a contrariar Iodas as sabias disposições tomadas
pelo seu antecessor para cobrir a fronteira.
Amontoou em SanfAnna do Livrameulo todo o eiercilo,
excepto a pequena brigada de Bento Gonçalves, que con-
servou-se no Jaguorão, pela enérgica resistência d'este
chefe.
Reunidas as tropas sobre um pequeno recinto, começa-
ram a apparecer moléstias, que, tornando-se epidemicas,
dizimaram cruelmente suas fileiras e reduziram os solda-
dos a um estado de abatimento, que muito influiu sobre
as ulteriores operações do exercito. Desprovidos de tudo,
mal vestidos, pessimamente alimentados, entregues a meia
dúzia de cirurgiôes,que, além de baldos de conhecimentos,
não dispunham de um hospital regular, nem dos medica-
mentos mais indispensáveis, os infelizes soldados soiTre-
ram toda sorte de privações e de soffrimentos duranlo o
commando do general Rosado. A. desinleilígencia mesqui-
nha, que existia enlre este e o presidente da província, ge-
neral Gordilho (primeiro visconde de Camamú) a^^ravou
consideravelmente esse triste estado de cousas (62).
Concentradas em SaafAnna do Livramento todas as
DO Eslado OrieDtal por uma brilhante e assigmtíada vietoria.
Mais de uma vez temos visto apontado o combate de Saata Theresa
(nem coml>ale houve 1 ) como um padrão de gloria das armas Oríenlaes.
(63) Veja-se a interessante if^mona do Sr, Machado de Oliverat
sobre a campanha de 1827, no tomo XXttE da Revitla do Intliluto
Híííoriw.
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nossas forças, a (roDleira iicou ÍDleiramenle aberti. O ini-
migo, «proTeitaDdo-se d^isso, entrou por ella mais de uma
vez, entregando ao saque e á devastação o tenitorio ba-
nhado pelo Uruguay, sem que encontrasse um só destaca-
mento nosso, pob a brigada de Bento Manoel, que o barão
do Serro-Largo collocáta no Rincon de Calatan, e que po-
deria obstar áquella incursão, se tinha reunido lambem ao
exercito por ordem do nOTO commandante das armas. Era
tal o estado do exercito, que, pedindo uma vez Benio Ma-
noel aatorisação para bater o inimigo, que se apresentara
no Uruguaj', foi-lhe respondido que não havia no acam-
pamento cartuchos suSicientes para semelhante empreza !
Ainda assim algumas vezes mediram-se os nossos com
as forças republicanas, pronunciando-se sempre a victoria
pelas armas imperiaes (63) ; mas essas vantagens, pela má
(63) A 6 de AgOBto o bravo major A. de Medeiros Goaia deiroUm
em Caraguaíá a vanguarda de Ignacio Oribe ao mando de Claudia
Berduo, deslniiodo-a de (at modo, que só trinta homens escaparam,
ficando cento e quarenta e oito mortos ou Teridos, e vinte e dois, entre
os quaea dois officiaes, prisionciroB.
A vanguarda da Rolomoa do lenente-coronet J. A. Martins, expedida
para os lados do Quarahjm contra iresenlos bandidos, commandadoe
por um Lopez-Cluco, bIcaqqou-os já em retirada, passando o Toro-
passo. Bastou essa pequena iorça, commandada pelo capicio Gabriel
Gomes Lisboa, para arrojal-os á margem direita do Uruguay, reto-
mando grande p.iite dos roubos que haviam feito.
Mas o combate da Capilla dei Rosário no Merínay (Gorríentes)
(bio mais importante d'esBes feitos d'armaa. Bento Manoel fAra des-
pachado com a primeira brigada contra uma força correotina ao
mando de Félix Aguirre, que saqueava as Missões Oríentaes. A' soa
approiimaçSo fugiu o inimigo para Gorríentes.
Oiotrepido paulÍMla atnvessou oUmgaaf aSI de Outubro, e a
5 de Novembro colheu a genie C". Agoirre. Collocou-ae este na Ca-
pilla dei Rosário com oitocentos liomens e três peças, postando
muito adiante, e d'este lado do Morinay, o coronel Pedro Gomes
Toribio com outros duzentos. Bento Manoel desbaratou Inleirameole
DictizedbyGoOJ^Ic
— 119 —
coUocação do nosso flxdrcilo, eram alcançadas depois que
o inimigo assolava nosso território, causando prejuisos
immeDsos,epunbfl a salvo grande parte do que roubava.
E,como se não bastasse a inépcia com que o novo comman-
dante das armas abandonou ao inimigo toda a fronteira, a
demora na remessa de forças para o sul, conservando du-
rante todo o anno de 1826 inactivas as nossas tropas, veiu
dar tempo a que os argentinos preparassem e disciplinas-
s«D um magnifico exercito .superior a doze mil homens.
Taes foram as consequências da demíssãodeAbreu. Tal
eeta força. Geando Toríblo entre ob mortos, e avaeçoa sobre aoatra;
mas AgDirre com sua artilharia pbz-selogo em retirada, deixando,
para proiegèl-a, trexeottffi soldados, que foram i gualmentedesU'oçados.
No campo deixou o iaimigo Irezenlos bomeos mortos ou rcrídos, muito
armamenlo e mais de mil csvbIIm. Tivemos um oflicial c Irínia e sete
praças f<íra de comlute Só falíamos nos combales que tiveram lugar
com ss forcas que guarneciam b provincia do Río-Graude. No Rio da
Prtla muitas accSes brilbantes íl lustraram, Q'i,Bse anno de 1826, as
anuas imperiaes, sendo BB mais noiaveis a defesa da praça da Colooia
(atacada pelo almiraute argentino Browo e pelo general Lavalleja, c
defendida pelo general Rodrigues, barão de Taquary), e a viclorín
uaval alcançada pelo chefe de divisão James Norton, no dia 30 de
Julho, sobre a esquadra inimiga. E já que tocimos o'esses feitos d'ar-
mas,cnmpr«>nos dizer que o Sr, A. D. Pascual enganou-se nos seug
Àpvntet, qutaio disse, á pig. 259 do l" voL, flrmando-se em Ar-
mitage, que sofTrAmos uma qutui derrota junto A Enseada no dia
9 de Fevereiro. N'eBse dia travou-se perlo da ponta de Gorales um
combate naval, sendo Brown npellido e batido peto vice-aJmirante
Rodrigo Lobo. No dia 11 de Abril n3o sorprendea Brown nossa
esquadra, como dii o mesmo escriptor. Apreseniou-se elle nas viii-
nbsnças de Montevideo, e foi logo perseguido por Norton, que sabiu
BO seu enconlro.e com elle bateu-se,pondo-o em',fuga. Quanto A abor-
dagem da fragata ímparatrit, na noite de 27 doesse mesmo ma,
de qae falia o Sr. Pascual i mesma pagina, houve com effeito blta
de vigilância da nossa parle, mas, apeiar d'isBO, foi Brown repel-
Udn e obrigado n fugir.
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— 120 —
o estado da província e do exercito depois que elle deixou
o corammaado das armas.
Estas noticias desoladoras puderam alam chegar aos
ouvidos do Sr. D. Pedro 1 ; e o Príncipe patriota tomou
a resolução de ir pessoalmente iaspeccíooar o tbeatro dos
acontecimentos, para que por si mesmo podesse, usando
de sua influencia e prestigio, dar remédio a tantos males.
O Imperador comprehendeu que era preciso augmentsr
o exercito, e habílital-o com os meios necessários para mar-
char contra o inimigo, sem esperar que este se fortalecesse
e viesse procurar os nossos soldados na occasião que lhe
fosse mais; coavenieute.
IX
o bário do Seiro-Largo otTerece-se para organísar um corpo de vo-
luotarios, — O imperador regressa á corte. — O marquez de Bar-
bacena é nomeado commaDdante em chefe do exercito. — Confe-
reocia do marquez com o barão do Seno-Largo. — Este recusa
aceitar o cummando de uma divislo, e só pede o do corpo de
volantarios que ia orgaajsar. — Parle para S. Gabriel, para oude
cUama os seus velhos companlieiros de armas. — O exercito ai^en-
tioo djrige-se á noBsa fronteira. — Movimentos dos dois eiercilos.
— JuocçãodeBarbaceaaede BrowD no arroio daa Palmas.— Fuga
simulada de Alvear. — ObarSo doSerro-Largoreune-se aoeiercito
no passo dos Enforcados. — EMocambido de commandar a van-
f^ guarda. — Marcha do exercito em direcção ao passo do Rosário.
— Batalha de [tuzaingb. — Morte do barâo do Serro-Lai^o.
Votado ao esquecimento, vivia o bravo barão do Serro-
Lai^o ignorado nos subúrbios de Porto-Ãlegre, só entre
gue ás atTeiçôes dafamilia. Tragava em silencio a injustiçai
de que fora victima, quando a presença do excelso funda-
dor do Imperio.despertando entre os rio-grandenses o amor-
tecido enthustdsmo, fél-o sahir do seu retiro para oiTerecer
á pátria ciimosimpins soldado asua espada gloriosa.
DictizedbyGoOJ^Ic
lofelizmeDte a presença do Imperador, se muitos benefi—
cios levou ao exercito, não pôde todavia produzir todos as
vantagens que aram de esperar.
E a sua volta súbita e inesperada fez com que a pro-
víncia recahisse na mesma prostração em que estivera antes
mergulhada. Foi assim que mui difficilmente se pdde re-
colher o produclo de uma subscripçSo popular, agenciada
durante a presença do Príncipe, com o 8m de auxiliar as
ui^Srencias do Estado nas despezas da guerra, e que dos
hooieas que se haviam ofTerecido para reunir voluntários,
destinados a engrossar as fileiras do exercito, apenas o
bariio do Serro-Largo cumpriu a sua promessa.
Que fatalidade pesava então sobre o governo do Brasil .'
Possuíamos um exercito numeroso e aguerrido, que facil-
mente poderia ler-nos assegurado prompta victoria, e, nJo
obstante, no Ihealro da luta havia apenas recursos iosigm-
ficantes e uma forfa mais que diminuta I
Ao regressar para a corte, o Imperador deixírajáno
Rio-Grande o novo presidente e o commaDdaoteemohefe
do exercito. Para o primeiro d'esses lugares havia sido
nomeado o brigadeiro Salvador losé Maciel, e para o se-
gundo o tenenle-senera' marquez de Barbacena (Felisberto
Caldeúa Brant Pontes ).
O novo general qi*'^ aproveitar os serviços do illustre
barão do Serro-LarBO, cujo nome conhecia e respeitava, e
antes de partir para SanfAnna do Livramento teve com
elle uma larga confei^icia, maniíestando-lhe por easa
occasião toda a estitna e veneração que Ihevotovo.
Querendo dar-lho oo exercito uma posição condigna ao
elevado posto que occupava, offereceu-lhe o marquez o
commando de uma divisão, mas o velho general oppAz-sa
formalmente a isso, e preferiu combater como simples sol-
dado a aceitar tâo honrosa coniniissSo.
TOMO I3UU P. U
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Dictzedby Google
r^r^:x!>. -ir _"!.■, _i. i i
'i^a ; ':«•■ ^ar»ídi)Ser
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D,i.,.db, Google
— 1*2 —
' Depois d'essa conferencia o bário do Serro-Largo dirí-
^D-se a 3. Gabriel, onde começou a reunir os voluntários
que acadiam ao seu chamado, e o marquez encaminbon-se
para SanfAnna do LÍTramento, onde chegou no 1* de Ja-
oeiro de 18ST, tomando posse do commaodo do exercilo
10 dias depois (64).
Ji a esse lempo roovia-se em procura da nossa froft-
isira (65) o exercito argentino do general Alvear, forte de
(fH) Tilara, Das suas Memoriai do grande exercito ailiado liberta-
dor do lui da America, diz erridameDle que o marquez inrairao com-
inando DO dia L* N'este dia aprescotou-sc ellc ao exercito, passaado-
Ibe rensta, mas b6 a 11 tomou coala do conunaudo. Eis a proclamaçio
que dirigiD ai» seus soldados : — « Bravus do exercilo do sul I
& boura de commaadar-vos é a maior á quo pode aájiirar um general
brasileiro. O Imperador nol-a concedeu, e eu procurarei compensar a
IBo alta mercê, proporcionando ao exercito todos ns tornecimentos ne-
cessários a seu commodo e exlstenciii, dispondo e aproveitando Ioda
a occasião de encontrar com o Inimigo.
• A proclamação imperial de 16 de Dczejubro, que acaba de ser
distribuída, me dispensa de recommcndar-vos cousa alguma. Cumpra
cada um de nós o que o magnânimo Imjierador determina, que a dis-
ciplina, a abundância eavicioria seião inseparáveis dcnos<as liteiras.
— Quartet-general em SnnfAnna do Livramento, 1° de Janeiro de
18S7. —Marqwtde Barbacena. »
(66) Começou a mover-se no dia 2G de Dezembro, deixando o acam-
pamento do Arroio-Orande (Vejam-se os bolleiina do exercito repu-
bticaao). Ao pisar om nosso terjilorlo fez o general inimigo espalbar
1 seguinte proclamação: — « Brasitciíos l o exercilo da republica
pisa o vosso terrilorío. Olhai, e por ioda porte eiicooirareis n*elle
ospremmcios da liberdade. Os que com ioaudíto valor escalaram os
ncTidos Andes para romper as cadãag do meio mundo, e desde uma
até outra zona levaram nas ponlaa de suas baionetas a grande carta
da soberania do povo, b3o os mesmos que tioje vos saúdam. Brasilei-
ros t O exercito republicano é o amigo de todos os povos, porque a
foa cansa é a mesma dos povoa : —liberdade, igualdade c independen-
da. Elle se move para obrigar vosso Iniperadoradcsisiirdeumapre-
IsnçSo injusta. Um dia alreveu-se elle a jnsullar a mageslade do
,ôbvGoOg\c
— 123 —
onze mil homeas e viote e quatro bocas de fogo (66).A inac-
ção em que estivemos por espaço de mais de um anno
dera tempo a que o ioimigo se preparasse descansada-
mente e assumisse a ofTensíva, recotihecendo-se habíli-.
lado para guerrear-nos em nosso próprio território.
À direcção que traziam os contrários era ignorada dos
nossos, mas, qualquer que eila fosse, devera decidir o
msrquez a abandonar SanfÁuna do Livramento, para reu-
nir-se ás forças que ás ordens do marechal de campo Ga&-
tavo Henrique Brown, chefe do estado-maior, achsvam-se
na fronteira do Jaguarão (67).
O intento de Alvear era penetrar por Baga, collocando-se
grande povo argeDlíDo, e o governo da republica encarregoinnos de
fazel-o entrar em Beus deveres. O Imperador é o luiico responiavel
petos males que podem cahir Kobre vús ; tralae de evitalM}g com o
vosso procedimenLo, nãã d^o vos caus.ireraos directamente o menor
prejuízo. Oexercito republicano nilo levacomsigo senão força, justiça,
ordem, liberdade e igualdade ; dom do céo, património da America, e
do qual só vós estais ainda excluidos. Brasileiros l Repousai tran-
quiilos em vossos lares; o pavilbilo republicano scrâ vossa eglde : vofr*
sas propriedades serUo rcspeíladas, vossas pessoas gai-antidas. Rosaaa
armas só se dirigem contra os soldados do Imperador; porém, des-
graçados dos que, conrundinclo os inlcresses do povo com os
d'aquelle, tratarem os argentinos como inimigos. EItes nSo deiíarto
de ser livres, mas será a espada quem os conduzirá á telicidade, que
agora desprezam, e que, em nome de sua pátria, Ibes promette al-
cançar—Caríos de Alvear, »
(66] Formava três corpoe ou divisOes : um de Infantaria ao mando
do general E. Soier (era o 3° corpo), e dois de cavallaria (1* e 2°} ao
mando dos generaes J. A. Lavalleja e Julian Laguna, /t artilbarlB era
commandada pelo coronel Iriarte.
(67) Titara diz erradamente na citada obra, pag. IIB, que essa forca
se desmembrou do exercito marchando para o Jaguuto, O Sr. A. D.
PMeual, que o copia n'esse ponto dos seus Apuntm parm i* Uttori»
de la Republica Orient<^, repete o mem» erro ã pag, 3MÍ. AqueUa*
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eotre Barbaceoa e Brown.para bat£I-os separadamente {68} ;
mas, apezar das precauções que tomara no inlnito de occul-
tar seus moTÍmen(os(69], passou pela decepção de ver frus-
trado o seu plano.
A. 13 de Janeiro o general em chefe deixou SanfÃnna do
Livramento, efoi acampar na várzea do Morro-Grande \70),
margem esquerda do Cunha-perú, destacando n'esse dia o
general Sebastião Barreto com mil e setecentos homens de
cavallaria para observar em Bagé o inimigo, ecertificar-se
de seus movimentos.
Moléstia repentina e perigosa deteve o marquez n'8quelle
sitio até ao dia 19 ; mas três dias antes ( a 16), recebendo
Gommunicação de que o inimigo se mostr<ira em força no
passo das Pedras, e que uma de suas grandes avançadas
penetrara em Bagé, expediu ordem a Gustavo Brown para
que, quanto antes, se reunisse ao exercito, e começou a
forcar es marchas, tomando a 4 de Fevereiro posição no
forcas haviam deHmbarcado do Hío-G nnãe, e marcbavam a reunir-se
ao exercito.
(6S] Alvear o diz oa Expoiicion qae publicou em resposta 6. mensa-
gem do governo.
(69) O inimigo seguia por um terrena deserto e de dífficil acceaso,
deliando em frente de SanfAtina do Livramento, pare lltudir o mar-
quez, uma Torça de cavallaria. TSo seguro eslava Alvear de que pode-
ria realizar o seu plano, que no boUelim n. 3 fez escrever o segnlnle
■ Tudo ananncla que o Inimigo aerã sorprendido ao mbet da
verdadeira dlrecçSo do exercito, e que esse triumplio se conseguiu por
uma marcha de flanco executada com rapidez e ordem por um
camlnbo deserto, por onde ninguém antes ha?ia passado. »
(70] Além dos bollelins dos dois exerdtos,dois e8criptos,docnmeDtoi
e infiwmacjfes que obtivemos, guia-nos a Rêtpoita do hrigadein
Cmfta Mattoi ao Sr. Saiíada — Rio, 1837.
DictizedbyGoOJ^Ic
— 125 —
arroio das Palmas (7t), onde, prot^ido pelo (erreno, es-
perou qae o inimigo o viesse atacar.
No dia seguinte realizou-se a juacção das forças que
Brown cooduzia desde a cidade do Rio-Grande (72).
Tendo destruído o seu pisoo, Alvear não ousou atacar o
pequeno exercito imperial na formidaTel posição que este
occupava, e tomou o partido de attrahil-o para o interior da.
provincia, procurando o valte de Santa Maria.
Até então tinha o marquez de Barbacena manobrado com
tino e habilidade. O rápido movimento que executou, para
operar a juncção com as forças da esquerda, separadas da
direita por mais de oitenta léguas, desconcertou completa-
mento o general Alvear, e arrancoa doeste palavras de
admiração, qae, partindo de um inimigo, constituem o
mais bello dos elogios (7^1) ; mas, desdo que teve noticia da
marcha do exercito contrario em direcção a S. Gabriel, e
da sua simulada Tuga, o nosso general abandonou o campo
das Palmas, e forçou as marchas em seu seguimento, ca-
hindo assim no laço que lhe armara o seu adversário.
Acreditou que um exercito com côrca de onze mil ho-
mens, composto de excelleute tropa, fugia dianie dé um
quenSo chegava a contar sete mil, edeixou-se arrastar pelo
inimigo até ao lugar que este escolhera para offerecer-lhe
batalha.
O barão do Serro-Largo, cumprindo a sua promessa, já
ÇJi) Chegou DO dia 2 ao arroio das PaImaB,mas ai no dia A occupou a
posição em que esperon o inimigo.
(73) Essa força elevava-se a dois mil e qniobenlos homens.
(73) ■ erOao (diz Alvear) tomou vma raoluç&o gue lhe fat
miãta honra, nâo$ó f^os conheeimeníos militarei que revela, vendo
a difpdl poneOo em qae o havúim collocado aa manobras do tta eon-
trarto, etG. » Veja-«e a Expaiição de Alvear em reiposta á Menaagem
ão Gaotrm — Buenog-Ayres, 1836, 1 volume.
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— 126 —
então tiaba reunido em S. Gabriel grande numero de
veteranos, seus companheiros de armas, e desertores indul-
tados, que ao grito de seu nome acudiam dos districtos da
Serra.
Resentido do procedimento que para com elle se teve,
apenas solicitou o comoianJo do pequeno corpo que or-
ganisjra e n^essa mediocre posição reuníu-sc ao exercito no
dia 13 de Fevereiro, encoatrando-o acampado á raai^em
esquerda do Camacuan-Grando, em frente ao passo dos
Enforcados.
Este facto por certo recommenda-o muito ao respeito e i
admiração da posteridade. Foi sem duvida um exemplo
raro de abenega^-ão e de amor pátrio esse que então deu o
marechal de campo barão do Serro-Lorgo, sujeítando-se a
commaiidar um simples corpo de cavalUria, elle que em
outros tempos occupára cargos e commissões importantes,
e a quem fora já commettido o mando de todas as tropas
em operações no Rio-Grande.
A força com que se aprtisentou, e que não chegava a
seiscentos homens, recebeu ao exercito a denominação de
Corpo de paisanos, denominação bem cabida, porque as
praças de que se compunha já tinham perdido todos os
hábitos de disciplina que caracterisam as tropas re-
gulares (74); só havia n'ellas aquclle valor antigo, dedica-
ção pela pátria e confiança e amor para com o intrépido
cabo de guerra que os commandava.
Aoreunir-se ao exercito, Abreulevou-lhe a noticia de que
Alvear seguia em direcção a S. Gabriel, noticia que foi
poucos instantes depois confirmada, sabendo-se mais que
as forças inimigas haviam acampado já n'aquelle ponto.
O marquez conQou ao illustre barão do Serro-Largo a
importante missão de fazer o serviço da vanguarda do
(74) Veja-Be a JUmoría do Sr. Machado de Oliveira.
DictizedbyGoOJ^IC
exercito com o seu pequeao corpo de volunlarios, e começou
a accelerar as marchas. Em qtialro dias venceu o nosso
exercito, acampando successivamente em vários galhos do
Camacuan, as vinte e três léguas que separam d'aqueila
povosçSoo passo dos Enforcados.
A 17 a vanguarda de Serro-Largo entrou em S. Gabriel,
achando-a abandonada do inimigo, e lívrou-a do incêndio,
que havia deslruido já três casas.
Em S. Gabriel soube o marquez que Alvear procurava o
passo do Rosário, no Santa Maria, e que linha abandonado
algum Irem pesado. Isso coovenceu-o ainda mais de que
o seu adversário fugia precipitadamente diante do exercito
imperial, o dirigindo a este uma proclamação, continuou
a forcar as marchus ( 75 j,
(75] Eil-a: — « Soldados 1 Quando o inimigo 36 apresentou n'esla
'rantejra, estava o centro do exercjlo imperial a mais do 80 léguas de
disliDcin das divisões d,i c^qut^rda; cbiavois sem traosporle, e alá
com falta de armanii'nlo e munições de guerra, Vusso valor e vosso
palriutismo veiicerani toda^ as dilliculdadcs, c por inarciias torçudas
e atrevidas, qiiasí é. vísla do inimigo, e eslando os postos avançados
em constante lirulcio, consoguisles fazer juncção com a maior parle
das Iropas da esquerda no dia r> do corrente ; as outras reuoirara-se
nos diiis 11 e IX EntSo fazia o inimigo todas as dcmonslraçuc^
de atacar-rios, e poslo que, por sua superioriílade numiTica, e pela
linguagem de sum proclamai,'rii.'s, o ataqu; parecia provável, nilo passou
de dcmonsIr.içíJcs, e, deixando as margens de Camacuan, colorou
aquelle principio de retirada, dizendo que nos esperava nos campos
de S. (iabriel, ou que seguiria para Porto-Alegii:. for novas marchas
[orçadas aqui cliegasics esta manlij, e, longe de encontrarmos o ini-
migo, achamos a certeza de sua tcrgoniiosa c precipitada (ugidi, ha-
vendo a retaguarda, commandada por Lavalleja, deixado a povoagrio
de S. Gabriel hontem pelas ú 1/2 da tarde, entretanto que Alvear
adiantou de quatro marchas a intantaria e artilharia, fiem quizéra eu
dar-vos algum descanso depois de tantos centos de Icguus de marcha
com um sol abrasador, e ate alguns dias sem agua, e muitos sem pão
ou larlnhn ; mas um inslanle de demora dos privaria de colher os
Dictzedby Google
— ias —
Na madrugada de 19 fez reforçar a vanguarda, e foi
acampar a três léguas e meia de S. Gabriel, do campo dos
Salsos, depois de ler atraTessado o banhado de lobatium,
que estava quasi todo secco pelo rigor da estação calmosa.
No campo dos Sabos houve um ligeiro ataque entre as
forças do barão do Serro-Largo e a retaguarda inimiga,
formada poi um corpo considerável de cavallaria. Depois
de renhido tiroteio, a nossa vanguarda atacou o inimigo, e
forçou-o a pAr-se em retirada.
Sabendo, pouco antes das i Vi ^^ tarde, do resultado
d'essa escaramuça, o marquez levantou o campo, e foi
coUocar-se ji á noite em uns banhados seccos da estancia
de António Francisco, situada á esquerda da estrada, três
léguas adiante do ultimo acampamento.
Ahi apresentara m-se-lhe alguns prisioneiros soltos por
Alvear, dando a noticia de que esle efFectuava a passagem
do Santa Maria.
O ardil, de que lançou mão o chefe ioimigo, acabou de
allucinar o nosso general ( 76 }, que apenas deu ao exercito
Ires horas de descanso, ordenando que a cavallaria e a
artilharia não soltassem os cavaltos, e os conservassem
presos pela soga, aGm de que pudesse marchar ao primeiro
signal.
(ructoB de uoaso3 traballios, e de Lermos acabaUo a guerra parn sem-
pre, como eiigom a honra e a gloria do exercito imperiaL Soldados I
Redobremos de esforços; a vícloria é cena, na cidade de Bucdos-
Ayrcs vingaremos as hoslilidades commcUidas nas pequenas povoações
de Bagé e S. Gabriel l Quartel-general em S. Gabriel, 17 de Fevereiro
de IS^l.—Narquez de Barbactna, tenenle-general, commaodanlc em
cbeTe. >•
(76) Em mais de um ponto da sua inlereBsante Memoria, publicada
no tomo XXllI 4a llecisla do Instituto, diz o Sr. general Machado
de Oliveira que o exercito inimigo reiirava-se diante do nosso, evi-
tando uma acção geral. NSo podemos lufeliimente deixar de divergir
DictizedbyGoOJ^Ie
Logo que a lua começou a despontar, os nossos solda-
dos puzeram-se de novo em movimento, posto que exte-
nuados de cansaço. A vanguarda foi n^essa occasiâo reror-
çadacom a brigada do coronel Bento Gonçalves, composta
dos regimentos de segunda linha ns. 21 e 39 e de quatro
companhias de guerrilhas, reforço este que elevou as for
ças do bar&o do Serro-Largo a mil e cento cincoeota ho-
meas de cavallaria.
Mo.devemosomittir aqui um facto de muilo valor pelas
consequências que teve. Reunindo-se ao exercito o barão
do coDceílo de \5o distinclo esrríplor, e quando dissemos que a reti-
rada de Alvear era simulada, feila do iotuilo de dividir as uossas
forças, e de attralii-las para terreno mais vanlujoso a elle, dissemol-o
com fuodameolos muiio valiosos.
As razões em que se basía o sr. Machado de Oliveira para assim
pensar eocootram-se a paginas 5'J6, 53íi e seguinles da referida
Revista. Em substancia são estas: 1', ler-se o inimigo abslido de ala-
car-nos no arroio das Palmas, quando o exercito nlo estava ainda
lodo reunido, e subsequentemente tcr-se afastado das nossas forças
em direcção a S. Gabriel ; 2', a precipitação com que deixou esse
pODto d approiimaçSo da' nossa vanguarda, abandonando trem de
guerra, bagagem e a cavalhada inutilisada (pag. 53Ci1, o que foi cm
verdade encontradn no passo do arroio Gacequy ; 3>, ler deixado as
adjacenciaí (!>? S. Gabriel, onde a sua cavallaría podia manobrar com
muito mais vantagem do que no Itigar em quo se deu a balaiba ; ti',
ler começado a passagem do Santa Maria, para cuja margem esquerda
fez Alvear passar o Irem pesado do seu exercito e até um rcgimcnlo.
De tudo isto cooclue o Sr. Machado de Oliveira que os argentinos
retiravam-sB diante do nosso exercito, e que, se aceitaram a batallia,
foi porque este, que os seguia de perlo, obrígou-os a isso.
E' certo que os argentinos não se anbnaram a atacar-noB no
arroio das Palmas, porque o terreno nos favorecia immenaammiei
e tolhia o concurso da cavallaría, que era a arma maia poderosa
do seu exercito ; mas a precipitação de sua retirada, quando ellea
possuíam um exercito mais nunteroso que o nosso, não passou
de uma hábil táctica de Alvear. Para mais facilmente illudir o
nosso general, deixou elle no passo do Gacequy vários objectos,
TOMO XIXI f. 11 *',
Dictzedby Google
— 130 —
do Serro-Largo, requisitou do general em chefe o numero
de cavsllos necessários para o seu corpo, por não Ibe ins-
pirarem confiança a^uraa os que trazia, em consequência
do seu estado de fraqueza ; e o marquez, atlendendo a tâo
jusia requisição, ordenou immediatamente ao general
Sebastâo Barreto, incumbido da distribuição da cavalbada,
que satisrizesso ao pedido de Abreu.
A reclamação de Serro-Largo não foi, porém, altendida.
Barreto recusou-se positivamente a fornecer-lhe os cavai-
los de que carecia, porque, segundo então declarou, os
que Denhuma falta lhe [aziam, ki Iransporlar para a onlra mai^
gem do Santa Maria as suas bagagens e trem pesado, ordenando
ao mesmo (empo que um regimenlo Iranspuzesse o rio. Esta ultima
operação toi feita na presença de alguns prisioneiros, aos quaes ell«
deu litwrdade, e forneceu cavallos, afim de que levassem ao nosso
campo, como succedeu, a noticia de que o exercito republicano co-
meçava a atravessar o rio. Mas, apenas estes partiram, o regimenlo,
que se havia transporlado para o nutro lado do Santa Maria, regressoQ,
incorporando se novamente ao exercito. Quanto aos objectos que o ini-
migo abandonou no Cacequy, e de que falia o Sr. Manhado de Oliveira,
nSo passavam elles de caixões com papeis velbos, mappas, relaçdes
e partes, armamento inulilisado, canastras velhas, etc. Tudo isso foi
examinado no dia 21 pelo i:xm. Ur. marechal de campo Luiz Manoel
de Lima e Silva, quo nos mii:istrou obsequiosamente muitos e impor-
tant''s csclarpcinicnlos S'>hyp ossa cnp?[),-i'|n. Fia, porem, uma outra
eircuinstnncn de muilo pi'-;n, que nos toi communicada pelo mesmo
Sr. Lima e Silva, e que nus levou a dizer que Alvear tinha escolliido
de antemão o campo de batalha. Esse general conhecia perfeitamente
todo o valle do Santa Maria nas proximidades do Ibicuby. NSo havia
ainda 20 annos, tinha elle residido por krgo espaço de tempo na os-
tancia do brigadeiro António Pinto da Fontoura, situada do outro lado
do rio, tendo muitas vezes percorrido os terrenos circum vizinhos nos
frequentes passeios que dava. Das relações que teve n'8queile tempo
com a família Fontoura mostrou elle conservar ainda recoidaçdes
e reconhecimento, porque, quando o seu exercito esteve acampado no
passo do Rosário, levantando todo o gado que encontrava, respeitou
«ssít çstancia, e s<i a ella mandou pedir alguns carneiros.
Dictzedby Google
~ 131 —
que existiam mal chegavam para os diversos corpos do
exercito. Se o motivo era fundado, ou se dictou-o sómeute
a ioimizade que esse official votava desde 1S25 ao barão,
é o que Dão podemos dizer com segurança : Dão faltaram,
porém, accusadores que o deouaciassem como antepondo
aos interesses e á honra do paiz seus despeitos e ódios
pessoaes. O certo é que essa recusa produziu resultados
funestos, e quem conhece os hábitos dos cavalleiros do
sul, pôde avaliar a impressão que causou ella eulre os
soldados do barão. Não obstante, guiados pelo prestigio
de seu chefe, puderam suffocar o desanimo de que esta-
vam possuidos, e contiDuaram no encalço do ioimigo.
Quando o dia começava a despontar, avistou a nossa
vanguarda forças inimigas. O barão deu-se pressa em
prevenir o general em chefe (77), e esle, Qrmementc persua-
dido de que grande parlo do exercito arguntiiio L.sl,ay já
na margem esquerda do Sínila Maria, aeccljrou a m:. relia,
julgando que linha de haver-se unicamente com uma frac-
ção d'elle.
Qual não seria a sua sorpresa, quando ás S Yt da manhS
avislou em linha mais de dez mil homens, esperando-O'
lirmes no lugar que haviam escolhido para offerecer-lbe
combate?!
Já era tarde para recuar. Nossa vanguarda , ao mando do
intrépido Serro-Largo, sustentava ura renhido fogo de ati-
radores com as avançadas inimigas. Era preciso tomar
posições e pelejar.
Nosso pequeno exercito, apenas composto de cinco mil
e quinhentos e sessenta a sete homens.com dez bocas de fogo
(77) Tilara diz que o barSo suppfiz que Tosse um pequeno corpo
ioimigo, e que, dSo quei'GQdo reparlir com outros os louros davícto-
rla, níto parltcfpou ao general em cliefe que havia avistado os contrá-
rios. O Sr. A. D. Pascual, noi seas Apunfes ullimamenle publicados, -
repele essa ccusura, que i iateírameott infundada.
DictzedbyGoOgle
— 132 —
(78), coUocoii-se em írente do inimigo, que se achava pos-
tado na coxilha de Santa Rosa, e o ataque começou, tendo
lugar a celebre baUlha de Ituzaingó.
Esse punhado de bravos (79), que não descansavam desde
«madrugada de 19, e que desde então quasi não haviam to-
mado «timen(o, tiveram de bater-se com exercito duas ve-
zes superior em numero, e que a esta vantagem reunia a
de eslar em repouso havia dois dias (80).
(78) A força total do exercito brasileiro, incluindo os quiohcnlos e
sessenta volantarios do barSo do s«rro-Largo, montava a sete mil e
dntenioB e oitenta e sete homens, dos qiiaes quatro mil duzentos e
noventa eoito de cavallaria, dois mil e cenlo e oiteuu e nove de ín-
laotaría, dozentos e quarenta de arlilharía. Mas a 1' brigada
ligeira, ao mando de BeDlo Manoel e forte de mil e duzentos homens
dã eicellente cavallaria, tendo sido destacada do exercito no dia 3,
b6 se reuniu a elle no dli seguinte ao Aa batalha, á qual n3o assisti-
ram tauibem cenlo e ciacoenla e três iulanles. Dedozindo-se do nu-
mero lúlal estes mil e trezentos e cincoenta e três homens,ver-se-ha que
siesliveram preseoLes a pila cinco mil e quinhentos e sessenta e sete
homens.
[79) N'es8a manhã sahiram de S. Gabriel e pararam no campo dos
Snlíos, descansando apenas três horas; ás 5 horas da tarde conti-
nuaram a marcliar, e fizeram uma parada desde as 10 da noite até
1 liora da madrugada de 20. A essi hora conlinuaram a marcha,
avislaudo o inimigo ás 6 horas.
(80} Está hoje provado pelos mappas oflicíaes, tanto do nosso exer-
cito, como do exercito republicano, que pelejaram em liuzaingd, de
um lado dez mil e quinhentos e cincoenta e sete argentinos e orieniaes,
com vinte e quatro canhões,do outro cinco mil e quinliontoa e sessenta
e sele, com dez bocas de fogo. Entretanto Alvear teve a habilidade de
dizer na sua Expoíidon que só líalia seis mil e duzcnios homens, e
que os nossos eram dez mil ; falsidade que ainda hoje se repele no
Rio da Prata, apeiar de estarem de ha muito no dominio publico os
documentos que edesmcntem. Não transcrevemos aqui esses mappas,
masellesencontram-se na obra de Titara, que primeiro os publicou,
• na lf«moriis do fb'. Machado de Oliveira, assim como nos Apmtes
do Sr. A. D. PaacDBl, •
Dictzedby Google
— I3S —
Nõocdbenos limiles (l'este humilde trabalho dar aqui
uma noticia circumstaaciada da batalha de 20 de Fevereiro
de 1827, batalha em que lanlos rasgos de valor e de be-
roismo obraram os nossos soldados, faltando-uos apenas
um general hábil e experimentado. Talvez o façamos mais
tardo, se, como desejamos, pudermos escrever a historia
d'cssa guerra desgraçada, cuja direcção foi uma serie não
interrompida de desacertos fataes.
As duas divisões do general Callado (2'j e Sebastião Bar-
reto (1') foram collocadas a grande distancia uma da outra,
de sorte que não puderam durante o combate manobrar
deaccordo, nem auxiliarem-se mutuamente.
Quasí em frente i grimeira d'aquellas divisões Ocou o
barão do Serro-Largo com o seu corpo de voluntários, a
brigada de Bento Gonçalves e uma peça de artilharia, man-
tendo com o 1* corpo do exercito aif;eatino um fogo renhido
do atiradores.
A divisão Barreto, composta de dois mil e seiscentos e
trinta e cinco homens, avançou contra a esquerda e centro
do exercito de Alvear, recebendo n'essa occasião Bento
Gonçalves ordem de abandonar o ponto que occupava, de
sorte que unicamente ficou em noiso flanco esquerdo a
força do barão do Serro-Largo, e a peça que lhe foi entr^ue
no começo da acção pelo general Callado.
Vendo o movimeolo da 1' divisfto, ordenou Alvear á
cavailaria do general Laguna que o atacasse, emquaulo a
do general Lavalleja se arrojava contra as forças da nossa
esquerda, Aquella divisão repelliu galhardamente as duas
cargas que lhe dirigiu o inimigo, e continuou a avançar
sobre as posições contrarias. A 2', do general Callado,
estava ainda immovol, esquecida pelo oosso general na
posição que lhe Í6ra destinada desde o começo da batalha,
quando a cavailaria de Lavalleja moveu-so para atacal-a.
Dictzedby Google
— 13* —
Antes de chegar até ella tiaha este chefe de encoalrar se
com a pequeaa columaa do barão do Serro-Largo, que,
como dissemos, guardava o aosso Qaaco esquerdo, e era
como que a vanguarda da 2' divisão.
Com o grosso de suas forças, em numero de três mii e
cem homeas, avançou Lavalleja para atacal-a pela frente.
O bário, que apenas Unha quinhentos e sessenta volun-
tários mal montados, não leve a insana pretenção de resistir
áquella massa imponente, que marchava ao seu encontro.
Dispunha-se a recuar, batendo-se em retirada, até procurar
a protecção da divisão do general Callado, quando subita-
mente appareceu uma columna de perto de setecentos ho-
mens, que se lançou sobro elte, atacando-o de flanco, em-
quanto Lavalleja o ameaçava pela frente.
Essa carga repentina e inesperada, e o cansaço dos
cavallos não deram tempo a que os seus soldados, dis-
persos a maior parte em linhas de atiradores, se formassem
com rapidez.
O inimigo apanhou-03 em confusão e carregou-os. Não
o teriam talvez feito se Sebastião Barreto houvesse podido
ou querido attender á requisição do brioso o velho general,
substituindo os cavallos fracos e cansados do seu corpo por
outros mais fortes e frescos ( 81 ).
Todos os esforços que fez o intrépido barão do Serro-
Lai^o, para conter os seus soldados, foram inúteis.
A' carga do inimigo segaiu-se o completo destroço dos
bravos e infelizes voluntários, que, confundidos com os
orienlaes, vieram sobre a 2* divisão.
( 81 ) No começo da balaltia lintia ainda uma vez o barão do Serro-
Largo requisitado do commaiidante em chefe a remonU de sua cava-
lhada, declarando lerminaDlemeiil< que não podia manler-se no campo
com a quo tinha NenhnmaprovideuciasetonioiiIVeja-seaparteoíGcia!
do general Soares de Aodréa (liarão de Caçapava), que exercia aa
funcçSes de ajudanle-general.
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— 135 —
Esta, não podendo dislinguír os contrários dos amigos,
formou quadrado,, e rompou o fogo sobre a massa desor-
denada e confusa que lhe vinha em cima, sendo n'essa
occasião morlalmeote ferido o velho barão do Serro-Largo.
Poucos momentos depois expirava o nosso bravo, com a
mesma serenidade de animo com que tantas vezes se
arrojara aos perigos dos combates.
Assim terminou sua carreira gloriosa esse dislincto vete-
rano. Ã vida, que inteira consagrara & pátria, devia ser
também sacrificada a ella, c, defeito, sua espada só deixou
de combater quando a mão que a brandia cabiu des-
fallecída.
Com tantos serviços, com tantas glorias, com tantas vir-
tudes, tanta abnegação e civismo, o illustre barão do Serro-
Largo teve nos últimos dias de sua vida, como premio o
recompensa, a ingratidão e o esquecimento do governo do
seu paízi...
Bem o disse Mme de Sevigné : « Ha serviços tão grandes
e Ião importantes, que só a ingratidão os pôde pagar. >
Mas acima das fragilidades e misérias dos contemporâ-
neos, acima de seus ódios e de seus erros, eleva-se um dia
o juizo da posteri(lade,sempre severo, inQexivel e imparcial;
o a posteridade, póde-se já díz6l-o, ba de destinar a tão
exímio cidadão e a tão illustre victima um lugar distincto
entre os maís gloriosos e prestantes filhos da terra de
Santa Cruz.
S. Paulo, U de Julho do 1865.
: PINHEIRO & COMP. — RUA SETE DE SETEMBRO N. 15!>.
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D,i.,.db, Google
REVISTA TRIMENSAL
DO
INSTITUTO HISTÓRICO
GEOCRAPBICO, E ETBNOGRAPEICO DO BRASIL
íi" miMESTRE DE 1868
BIOGRAPHIA DO BOTAl^lCO BRASILEIRO
JOSÉ HimtNIlO Dl CONCEIÇÃO VELLOSO
Hénoria lidi no Inilltnto Hittorieo petanlt S. M. o Imperador
JOSÉ DE SALDANHA Uk GAMA
A S. M. I. o Seihot D. Pedra
Qusndo um Sob«rano, chefe de uma grande qbçSo, anima cora
Bua benevolência os trabalhos e patriotismo de um cidadão, a este
não deve ser recusado o direito de oITertar-lhe um dos frucloa de
suas lucubrações, como o mais profundo traço de reconhecimento e
dedicação. Digne-ae Vossa Magestade Imperial de acceitar esta bio-
graphía, considerando-a como a prova mais evidenle do desejo que
alimento de ser útil a Vossa M/igeslade, e á minba palria.
Sou, com o mais profundo respeito, de
Vossa Magestade Imperial,
subdilo reverente e dedicado
J0S£ DE SlLDADHA DA GiHA.
Rio de Janeiro, 8 de Junho de 1868.
TOIIO~XXX1, P. II 18
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BIOGRAPHIA DO BOTANÍCO BRASILEIRO
JOSE' MABIANNO DA CONCEIÇÃO VELLOSO
Venera-ee a memorji de um gnnde
vullo, propagindo-se st ausg virtudes
& Ittt do mnndo, ou rendendo cullo aoi
raios luminotos da soa iDlelligencfs.
aPITULO I
Si a glória de uma nsçâo altéa-se resplandecente sAbre
o tumulo de seus filhos, que porella sacriBcaram-se, a
gratidão da pátria deve ser o vehiculo dos seus nomes para
ojuizo da posteridade.
A Suécia sempre oi^lhosa pela vida illustre de Ixnnèo ;
A SuiãSB sempre altiva no campo da sciencia pelo génio
de De-Candolle ;
 Grã-Bretaniia antepondo os talentos robustos de um
Brown, de um Booker aos labores profícuos, e iocommen-
suraveis pelo seu valordas duas oscholas, francesa eallemS,
representadas por Jussie», Adanson, Brogniart, Bail-
lon, ele, Endlicher, Humboldt e Martius ;
Todas ellas reunidas compulsam diariamente as paginas
da história da sciencia, e rendem homenagem ás lucubra-
ÇÕ6S de Fr. Velloso em prol da phytologia brasileira I
O Império d^America do Sul é o império floral do globo
terrestre, sem o esplendor do concurso de muitas inlel-
ligencias para o Qm commum e grandioso das verdades uti-
lissimas, que estão sepultadas no silencio das suas florestas.
Quando a principal riqueza de uma nação reside nos or-
namentos do seu reino vegetal, o maior esforço da intellí-
geacia deve applicar-se ao conhecimento dosseus predicados
essenciaes, em harmonia com os âns para que foram crea-
dos. Este grande resultado das indagações do homem sAhre
Dictizedby Google
— 189 —
a Dalureza, reuaido á necessidade palpitante das obras
clássicas e sistemáticas, que constituem uma das maiores
glórias para qualquer nacionalidade, obtem-se somente
deseovolveado-se o amor pela scieacia ; mostrando-se
incessantemente o seu lado útil, e garaatiado a vida es-
pinhosa e sem ruido do naturalista contra os efTeitos ne-
gativos da oratória abstracta t A penaa e a palavra são os
únicos meios de transmissão, para os contemporâneos e
vindouros, das impressões que o naturalista bebe na natu-
reza, com o pensamento sagrado de brindar a pátria com
os fruclos de suas observações. No professorado e na
imprensa resume-se, pois, o grande fundamento para a pro-
pagação dos conhecimentos úteis. Dar ao primeiro o maior
brilho e amplitude, e tornar o segundo accesstvel aos ho-
mens laboriosos, sem o tributo de sacrifícios impossíveis,
eis a luz da verdade, que os sábios do mundo desejariam
derramar no espirito dos legisladores de lodos os paizes.
Si a mão magnânima de um príncipe não dispertassea
modéstia de um sábio, que estudava o mundo orgânico no
silencio profundo de um claustro, o Brasil não possuiria
nos seus archivos o único monumento,de origem brasileira,
aliás incompleto, relativo é. sua flora, que o estrangeiro
consulta nas capitães das naçOes cultas. O amor ao traba-
lho e a intelligencia não são partilha única do velho conti-
nente. D'ahi emana a luz, é verdade, para todas os pontos
da terra, e a explicação d'este facto não é diíBcil.Os homens
de sciencia, em Europa, adoptam a especialidade e a circum-
screvem até a um dos ramos de uma scieacia. Ãfastando-se
por este modo da oncyclopedia, consagram 30, 40,$0annos
da sua existência ao estudo profundo d'uma parte limitada
das verdades naturaes, enriquecendo a sciencia com as
suas pesqaizas e honrando a pátria com o titulo glorioso
da sabedoria. G' a divisão do trabalho na sua mais lata
Dictzedby Google
— 140 —
applicação, determinada pelo amor á sciencia e pelas ga-
raatias que eavolvem a vida do professor, que eDCODlra
um apoio para o sen fuluro, e recursos para a satis-
farão da sua oobre missão. As monographiat, os gmeras,
o* prodromus,a historia das plantai, omhm, saem <l'eslas
mãos que empunham o facbo do progresso alumiando as
lerras separadas pelos mares. O que recebem olles em troca ?
Descripções parciaes, aliás importantes ; trabalhos in-
terrompidos pela accumulação improficua de estudos em
uma só ^alma, pela difficil acquisiçSo dos meios de sub-
sistência, ou pelos obstáculos que separam-uos do tribunal
universal, a imprensa. Esta deveria ser igualmente acces-
sivel aos que cultivoro as sciencías physicas, descobrindo
as riquezas indispensáveis á vida da sociedade, como o
tem sido até hoje para aquelles que abraçam as sciencias
moraes, applicando-as ágovernançado Estado. Eis os tro-
peços que convém destruir.
Séculos de glória a José Maríaano da Conceição Velloso,
diante do qualaniquílavam-seasdifiiculdadesdavída, lan-
çando a pedra fundamental do monumento scieatifico que
as gerações futuras admiravam.creaado o ponto culminante
doesta pyramide immortal !
Esforcemo-nos pela vulgarização dos seus actos, como
exemplos vivificantes para os espiritos puros, que boje ale-
vam-se do seio da pátria;
Curvemo-Dos perante a memoria de quem encheu o
mundo com actos de virtude, engrandecendo a sociedade
brasileira com as glórias da sciencia, com os louros do
trabalho perenne.
Respeitemos a imagem imponente do grande vulto ame-
ricano, que elevou-se sobre as azas do catholicismo, for-
talecido pela fé profunda, que, na pbrase de Bossuet, é
capaz de subjugar a nossos pés o mundo inteiro.
Dictzedby Google
- 141 —
CiPITULO II
A' provJDcia de Minas-Geraes cabea gliiria de íocluir no
numero de seus fílhos,o aoroe illusire de José Haríaaao da
Conceição Telloso (que no século se diamava José Velloso
Xavier], filho legítimo de José Velloso da Camará e de Rits
de Jesus Xavier. Em 1742 recebeu o sacramento do bap-
tismo na freguezia de S. António, villa de S. José, comarca
do Rio das Mortes, bispado de Marianna, onde nascera.
Seu pai era natural da freguezia do Carmo, arcebispado de
Braga.
Com 19 annos de idade, a 11 de Abril de 1761. abragoa
a vida do claustro, tomando babito no convento de S. Boa-
ventura de Macacú. O seu primeiro passo na vida eccle-
siaslica foi guiado pelo guardião Fr. José da Madre de
Deus Rodrigues.
A vida de Velloso é um complexo de assigoalados servi-
ços á scieDcia.e de virtudes cbristans,que garantem a perpe-
tuidade de seu nome nas paginas de nossa bistoria, A ve-
neração qua consagramos aos grandes homens do Brasil
supprirá a insuficiência do nosso espirito na indagação dos
factos que mais possam abrilhantar a existência do celebre
naturalista. A analjse substancial das suas obras será
accompanhada de uma exposição succinta de outros factos
inherentes á vida a que dedicou-se, com santo fervor
pelos dogmas do cbristianismo.
Os seus sentimeHtos religiosos cresceram ainda mais
quando, em 12 d'Abril de 1762,depositou no altar o voto
solemne do abandono do mundo social e das ambições
humanas. O juramento sagrado que prestou foi ennobre-
cido com actos repetidos da sua proverbial virtude. Si
algum facto de sua vida podesso ser citado como indicio
provável de um espirito menos prudente, ou de um cara-
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cier por demais expansivo, schanamos facilmaDte, como
compensação, um sem oamero d'acç<>es generosas, filhas de
um coração bem coníorroado, de ama cabeça desenvolvida
i custa de notáveis pesquizas scienlificas e dos sólidos
princípios da roais pura Feligiào. A perfeição absoluta não
existe na esphera limitada e imperfeita da crealura, que é
apenas um reflexo, quasiiroperceptivel, de poderosa mão
qaeocreou. As suas qualidades moraes nSo podem ser
obscurecidas por uro ou dois pontos, que não brilham
oem mancham a alma que as alimenta.
O curso de philosopbia creado no convento de S. An-
tónio pelo Revm. provincial Fr. Manoel da Encarnação
foi o seu primeiro impulso na carreira das letras. Ambi-
cionavaas lições do seu mestre,o ex-leitor de theologia, Fr.
António d'Annunciaçèo, como os momentos mais festivos
da sua mocidade. O amor do estudo crescia com o enthu-
siasmo de subír os grãos da hterarchia monástica. Recebeu
ordens, por imposição de mãos do Bxm. Diocesano o Sr.
D. António do Desterro, com letras do Revm. Fr. Ignacio
Graça. Na congregação de 23 de Julho de 1T68 foi
eleito pregador.
Elevando-se sempre na escala do merecimento, foi co-
lhendo novos litulusá consideração da ordem a que perten-
cia, e procurando desempenhar com escrupuloso cuidado
os dilBceis encargos que depositavam nas suas mãos,
como provas irrecusáveis de uma justa e bem aquilatada
confiança. A tradição não nos lega prinoipio algum pelo qual
deixemos de mencionar os serviços que prestou, quando
foi instituído confessor dos seculares e repetidor ou passante
de geometria da cidade de S. Paulo, a 27 de Julho
de 1771. Apezar dos dotes oratórios que a natureza conce-
deu-lhe, o seu nome não brilha no mesmo nivel em que
pairam os de outros pregadores franciscanos que a posteri-
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(Ude aponta como distinctos oroamentos do pulpilo bra-
sileiro. Os nomes de Honte-Alverae, Fr. Sampaio, e de
Fr. S. Carlos, o sempre lembrado autor do poema da
ijíumpfao, illustram es páginas da historia do Brasil;
e si mais distinguiram-se como oradores sacros, do que
Velloso, seria justo attribuir este facto á diversidade de
épochas em que viveram. A sua eleição para lente de
rbetorica do convento de S. Paulo, na congr^ação de 8
de Maio de 1779, as^im como a de pregador em épocha
anterior, encerram uma conârmafão implícita dos seus
talentos oratórios.
Eis-nos chegados a uma das faces mais notáveis de sua
vida, em que deu começo ás suas excursões botânicas pelo
interior do Rio de Janeiro, em consequência de ordem do
vice-rei Luiz deVasconcellos e Sousa, intimada ao reveren-
díssimo provincial Fr. Jos4 dos Anjos Passos, e das quaes
resultou um trabalho phytolugico de immenso alcance
scienlifico, por eUe intitulado Flora Fluminente, um ver-
dadeiro monumento de glória para seu autor e para o
paiz que o possue.
Nas suas eicursões foi accompanhado por Fr. Anastácio
de Santa Ignez, escrevente das defjiniçõea herbareas, e por
Fr. Francisco Salano, o habíl pintor e desenhista das
plautas que Velloso descobriu, estudou o classifícou. O
nome do franciscano Fr. Solano recommenda-se par muitos
títulos: o quadro insigne da Assumpçlo da Virgem, a pro-
pósito do celebre poema da Atsumpçio de Fr. S. Carlos ; o
passo do Senhor representado no £cce/)omo; uma multi-
plicidade de pinturas que ornam os tectos e paredes do
claustro em que viveu; e diversos objectos de ornamento
imitados com extrema delicadeza e perfeição. A elle per-
tencem 03 oríginaes dos desenhos que accompanham a
Flora Fluminense de Velloso;e estes também encerram pro-
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— lu-
vas irrecasaveis do alto talento de Fr. Solano, que no secalo
cbamara-se Francisco José Benjamin. Peço ao Instituto
Histórico que examine estes desenhos que Ih^ apresento,
para que avalie com exactidão o immenso auxilio que elle
prestou aos trabalhos do illustre botânico.
Com perseverança e amor decidido pela sciencia, soffreu .
Telloso e com resignação algumas enrermidades, que
vieram interromper os seus trabalhos; e transpondo o
oceano foi em pessoa sujeitar o fruclo de suas luctibrações
ao juizo esclarecido dos homens eminentes da-cdrtede
Lisboa, os quaes receberam-no com aquelle agazalho a que
tinha direito incontestável. Como sócio da Academia Real
deScienciasdeLisboa coUocou o nome de seu paiz emuma
altura digna, sustentando a importância e riqueza do seu
território, e prestando outros serviços relevantes, que mais
uma vez exigem o reconhecimento dos filhos da primeira
nação da America do Sul.
Quaes as desintelligenciss que se deram com os mem-
bros da Academia Reat de Sciencías, e pelas quaes.
segundo alguns affirmam, o seu nome desapparecéra da
lista dos sócios? Nâo conheço documentos que me habilitem
a uma pronuncieção clara e precisa sdbre este pequeno
eclipse de sua vida gloriosa ( si tal eclipse se-deu }.
Entretanto será bom lembrar que a presença de um brasi-
leiro tão distineto no grémio de uma sociedade essencial-
mente portugueza, e em epochas talvez precursoras de gran-
des abalos que a historia de Portugal menciona, e que a do
Brasil commemora com vivo jubilo, poderia ter influído
directa ou indirectamente para que se desse o facto em
que alguns acreditam, e que nós deploramos como brasi-
leiro. Nada mais direi sobre este incidente desagradável ;
oxalá que possa não ter existido.
A sua eleição para mestre de historia natural, na con-
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— 145 —
gregação iatermedia de 2S de Janeiro de 1786, é uma das
provas evidentes do quanto valiam os seus estudos na
opinião dos que mui espontaneamente o elegeram. Os
seus conhecimentos em mineralogia e zoologia estão paten-
tes em algumas das suas obras, e provam evidentemente
que o outro ramo dn historia natural não era o único campo
de suas investigações.
Não tocarei em outros testemunhos de consideração e
apreço emanados de personagens elevadas, e que lhe foram
outorgados como homenagens ao seu talento e serviços,
sem que conssgce algumas linhas a uma aaslyse succinta
de algumas das suas primeiras producções. Um espirito
tão vasto em seus conhecimentos, como profundo na
indagação da verdade, vem corroborar a crença que ali-
mentamos de que a fé robusta em uma causa essencial-
mente intelligente, cujos elTeitos, por demais esplendidos
e maravilhosos, nem sempre são accessiveis á razão hu-
mana, impelia a creatura que recebe um átomo doesta luz
vivificante ao descobrimento de muitas verdades úteis, que
jazem occultas ou desconhecidas, perante as quaes o
pensamento limitado do homem curva-se com o sen-
timento da mais pura e íntima religião, admirando a
magestade que D'ellas reside, e contemplando a harmonia
que revelam I O religioso que , na solemne solidão
d'um claustro, onde o ruido do mundo apenas o bafeja
sem o abalar, entrega a alma ao estudo das leis que a
Providencia estabeleceu, para que a sua sabedoria n'cllas
fosse reflectida e impuzesso aos homens a séria convicção
do que são em relação á Força Omnipotente que os creou,
enriquece a scíencia com os dados e princípios que des-
cobre e imprime-lhe um impulso, cuja amplitude sÓ pôde
ser percebida e avaliada pela posteridade. Este facto
confirma o pensamento de Gbateaubriand, no Génio do
TOHO xxxt, P, II 19
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chrUlianismo, que a íciencia muitas vexes aqueceu^ie sob
o abrigo da» azai da r^ião.
VOLVER d'oLHOS AHALYTICO SOBRE 03 PRIMEIROS TRABALHOS
DE VELLOSO
No numero coDsídersvel das suas obras contemplarei um
pequeno opúsculo com o titulo Memoria sobre apreUica do
se fazer o siUitre, o qual comprova o pensamento apontado
de que a íntellígencia do sábio Velloso tínha um caracter
mais universal do que até certa epoÃia se acreditava.
A scieocia de Lavoisier e Berselio, a cbimica, occupou
a sua séria altençio; e muitos momentos da sua vida
fotam consagrados com proveito ao estudo dos pheno-
meaos, que tém por base uma força desconhecida em sua
essência, mas de cujos efTeitos ninguém poderá duvidar,
« aflínidade. As pbrases desanimadoras a respeito do cara-
cter scienlifico da cbimica, que o pbilosopho pouco orlbo-
doxo Augusto Comte emprega em sua philosopbia positiva,
não serviram de obstáculo ao desejo santo e sublime, que
tantas e tão repetidas vezes manifestou o illustre Velloso,
de enriquecer o seu espirito com um novo cabedal do
idéas, que poderiam ser úteis á sociedade, debaixo do
duplo ponto de vista industrial e Iherapeulico. K previsão,
que somente pôde dar o caracter de sciencia a qualquer
dos ramos dos coubecimeolos bumanos, Augusto Comte
só reconhece existir nas leis de Bertbollot, que regem
as acçSes dos ácidos e bases sobre os saes, e dos saes
uDtre si, e marcam uma aurora bem dislia cta u^cste ramo
das scieucias pbysicas; porém antes de seu nppare-
cimeato já eram em grande numero os bene ficios que ella
derramava súbre a sociedade. Si era uma arte, e não uma
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- 147 —
seieDcia, diremos como Cousia em sua esthetica : — toda a
seiencta nasce de uma arte correspondentt ; alguma» dam'
volvemrse mai» rapidamente, e ouíreu aó alcançam mais
lentamente o supremo gráo de perfeição.
Como deffiae Velloso o que seja salitre : « um sal, mis-
turado de ar mui subtil, cujas partículas sâo voláteis e
elásticas, que lhe provdsi de sua mesma aatureza. > O sali-
tre ou nitrato de potassa eacontra-se, diz Velloso, nas pa-
redes velhas demolidas, em cavernas húmidas, em abo-
badas frescas, e em pedras expostas muito tempo ao ar,
que lhe introduz as suas partículas, d*onde vem cbamar-se
8 este salitre sal pelrae, ou flor de muro ; era cnrraes, em
cavalhariças, dos quaes accumulam-se matérias azotadas,
e sobretudo ammoniacaes, e em terras que naturalmente
o produzem.
Actualmente os chiraicos não se conleatam com uma
exposiçSo tSo perfunctoris. Estabelecem que quando em um
terreno húmido eiislem carbonatos de potassa, tnagnesia
e cal, em contacto immediato com matérias orgânicas
azotadas em decomposição, o acido carbónico sendo muito
menos fixo que o acído azolico, desprende-se e é substi-
tuído pelo ultimo, (ormando-se saes d'iiquollas bases. Por
uma acção capillar, o sal, em dissolução, vem A superfície
do terreno, como seobserva no Egypto, oa Hespanha e em
outros lugares. Tem-se procurado explicar a formação do
salitre, não só peta pulrefacçâo das matérias orgânicas,
como por diversas bypotheses sAbte a origem do acido
azotico nos pontos em que eacontra-se o nitrato de po-
tassa. À acção da electricidade, a natureza do terreno e
as condições de temperatura t6m sido estudadas com
escrúpulo. Que o oxygenio pôde combinar-se com o azoto
para formar o acido nítrico, sob a inDuencia da scentolbs
eléctrica, parece-nos um facto averiguado; porquanto nas
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— 148 —
aQályMs das aguas que caem em forma de chura depois
de uma forle trovoada, aaályses feitas pelo celebre cbiraico
Liebig, encontramos o nitrato de ammonia como um dos
seus componentes.
Como meios para reconhec6l-o, Velloso aponta: a pro-
priedade organoleptica, ou o sabor que sen(e-se collo-
cando-o sAbro a língua ; o resfriamento que se produz, o
crepitar sftbre brazas, que é caracter geral dos nitratos
e chloratos; e Gnalmente a adherencia do sal em uma
barra de ferro que deiíava resfriar depois de o ter ex-
posto a uma alia temperatura. A propriedade aimiamenta
úif dante do salitre, em que elle não falia, está contida
DO terceiro processo para o seu reconhecimeuto. A forma
cryslallina, quando existir em crystaes mais ou menos
perfeitos, não deverá ser considerada como auxiliar? £'
uma combinação de prisma de seis faces, com pyramide
hexagonal. (Nolnção : MP, oe P.
Continuando n'este exame, encontro o processo para
obter quantidades consideráveis d'este sal, por flllrações
e lavagens successivas, enunciado d'um modo rápido e
totalmente pratico. A maneira que elle indica para co-
nhccer-se que o sal está formado, a qual consiste em deitar
algumas gottasd'agua, proveniente de primeira manipu-
lação, em um prato vidrado em que deve dar-se a conge-
Iaç3o,approxima-se do meio quo Cahotirs e outros chimicos
apontam para que se verifique a suíHciente concentração
de licor, isto é, a crystallização em massa pelo contacto
de algumas gottas com ura corpo frio.
Não raoncionaa perfeita refinação do sal, ou a sua se-
paração dos cblorurctos. Falia em aproveitar-se das aguas,
que resultam d'esta operação, e que elle denomina omrír-
gosas; nas proporções segundo as quaes a sgua dove
enlrarem cada reservatório; na necessidade de utilizar-so
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— uo —
A terra mais d'uma vez para o mesmo fim, reviviftcaado-a
com a espuma que se tira das caldeiras, e com substancias
ammoniacaes, processo mais breve para obtdl-o ; processo
para a purjiicaçào, e termina aponlaudo que os signaesdo
bom salitre são : cõr branca, dureza, crystallíieção, transpa-
rência, boa purificação do óleo, e a sua exposição aos
ventos do norte, que o dessecam melhor e o purificam.
O modo pratico de verificar ss suas boas qualidades deve
ser citado com o fim de augmeatar a importância d'este
pequeno traballio. Aconselha que inflamme-se um pouco
de salitre em pó, deveado este orepitar si contiver muito
sal, não deitando matéria terrosa, como residuo ; a
inflammação sendo veloz é indicio da ausência do óleo
o do seu estado de pureza.
O apreço e valor do nitrato de potassa pairam no espi-
rito dos que não ignoram que ollo é um dus ingredientes
principaes da pólvora ; e este opúsculo é uma das pedras
brilhantes para a corda que deve ser creada em memoria
do grande vulto sciealifico, que hoje vive na mansão dos
justos. [*rocurou servir ao paiz bebendo sempre os conhe-
cimentos da sciencia.
Em 1797 foi impresso, em Lisboa, na ollicina de João
António da Silva, um opúsculo intitulado Extracto do
modo de se fazer o salitre nas fabricas de tabaco da
Virgínia, traduzido d'uma obra iugleza pelo insigne Velloso,
e oETerecido aos lavradores de fumo das provincias por-
tuguezas de ultramar. O interesse e apreço de que foi
objecto este segundo opúsculo deiíam-se perceber na
ordem para a sua impriissão emanada de S. A. tt. o
Príncipe Regente.
O pensamento cardeal d'esta producção, e que transluz
logo nas primeiras linhas, é o de aproveitar-se a dose
de azolato de potassa que accumulava-se nas fabricas, que
Dictzedby Google
— IW —
Mia dsftiiiadis á iodastria do famo. CaleubTam qae em
om «difido dfl 90 pés poder-se-hia obbir 16 qainlaes de
ulitre anatulmeatfl. O primeiro conselho qae ella miois-
Ira éo da preparação do assoalho, saa limpeza, oiíeU-
meoto das laboas, e o reTeslimoDlo d'uiiia camada de
ealeareo argilloso, sAbre a qual dere ser deitada orna certa
dose de cinzas. Nr> Gm de 15 diss achar-se-ha o sal coo-
densado como geada branca ; e, extnhiodo-se diariamente
o sal qae se fór impregnando, obler-se-ba, no Sm de algum
tempo, uma notável quantidade, que dereri soffrer os
processos qae eslão indicados, como sejam : o da refi-
nação, clariãcação do cremor de nitro congelado. -Ás pa-
bTtas finaes da oitava e ultima pagina contam ainda uma
observação, que prima pela utilidade que d^ella resulta.
A terra de que se tiver exlrahído o salitre, assim como a
matéria terrosa que fAr precipitada na reSaação, devem
ser espalhadas ligeiramente pela manufactura, por ser a
mais própria para atlrahir e absorver o salitre contido
no ar.
Estes dois pequenos opúsculos anaiysados, ainda que
mui summaria mente, contribuem para que se possa bem
conhecer e avaliar a verdadeira natureza da ínlelligencia
de Pr. Velloso. Arrojava-se com promptidão e certeza
aos conhecimentos positivos, porque n^elles reconhecia a
dupla vantagem de illustrar o seu espirito, sempre sequioso
de saber, e de elevar o nome de sua pátria favoreceodo-a
com idéas de magna utilidade.
CAPITULO IV
O seu Aviaria brimlicQ ot* GáUria omithologica ãa$
anes indigm:i$ do Brjsil, dedicado a S. A. R. o Priocipe
do Brasil e impresso na officins da Casa Litteraria do Arco
Dictzedby Google
- 15! —
do Cego, proporciona-iios mais um ensejo para que possa
ser consignado a*e3ta noticia biographica um poderoso
elemenlo, indispensável ao conhecimenlo exaclo dos seus
serviços, pelos quaes, mais uma vez o repeliremos, o
Brasil deve-lbe uma boa cópia de gratas recordações.
O primeiro capitulo (em por tilulo — Compendio da
historia dos ornithologos. Na sua opinião data de 1550
o estudo dos pássaros, considerando como os que pri-
meiro interessaram -se pelo verdadeiro estudo da orDitho-
logia ao Crancez Bellou, e ao suisso Gesner, os quaes
lizeram gravar em madeira as figuras das aves da Europa
que podcram estudar,accompanhando estes desenhos de al-
guns apontamentos sobre cada um d'elles*em particular.
O italiano Aldravandi, no século XVI, com o impulso do
século anterior, contribuiu com os seus esforços para
o adiantamento d' este importante ramo da zoologia. Fr.
Velloso faz também menção do allemão Harcgrave, que
em 1648 viajou pelo nosso território; presta homenagem
aos trabalhos do inglez Willugbf , que foram impressos
em 1713 por seu companheiro de viagem e amigo o
inglez Ra;; os desenhos foram abertos em cobre; e s6-
moDte em 1700 o illusire Rudbeck, que, além de natura-
lista, era hábil pintor, desenhou as aves que estudou,
porém os originaes foram sepultados oo musdo do marechal
Geer. Em 1730 o in^oz Albino, hábil pintor, primou
pelos desenhos de algumas aves, conservando as verda-
deiras cores de cada uma d'elUs. Ao inglez Caterby, em
1731, coube a merecida glória, segundo as próprias ex-
pressões de Velloso, de apresentar um grande numero de
desenhos deavos porelle encontradas na America do Norte,
O prussiaoo Frisch é incluído por Pr. Velloso n'esta rela-
ção de homens notáveis, occupando o primeiro lugar o
inglez Edward, a respeito de quem o ittastre brasileiro ex-
Dictzedby Google
— 153 —
prime-56 do saguinto modo : i Mis Edward inglez segu-
raoieole excedeu « lodos de tal sorle, que a mais re-
mota posteridade reconhecerá sempre a esto respeito o seu
relevaote merecimeolo. Vivendo esle famoso homem em
Loodres, para onde, como para o centro do mundo,
corriam á porfia muitas aves, trazidas de todos os pontos
da sua- mais distante circumferencia, não deixou escapar
OGcasi&o alguma, em que cora incansável trabalho, cui-
dado e destreza nSo as desenhasse, ílluminasse com vivas
cdres, ú Qâo as descrevesse com a maior exactidão pos-
sível, de maneira que no anoo de 1745 publicou 330
gravuras de aves raras com tanta belleza, quanto até este
tempo se nSo tinham visto, e talvez tarde so verá cousa
semelhanlo. >
Transcrevendo estas palavras do conspícuo Velloso,
assim como estes dados históricos da oraíthologia, dei-
xamos bem pateale as suas laboriosas pesquízas em um
assumpto que nos parecia extranho á sua especialidade.
Encontramos sempre o mesmo homem nos diversos ramos
de que se occupou; o mesmo estylo conciso, um decidido
amor pela verdade, único alvo das suas lucubrações; e
um grande servidor do Estado, porque o nome d'uma
nação muito so avantaja com o desenvolvimento scienti-
fico que n^oiia se opera, e para o qul contribuiu effi-
cazmenle o talento ubérrimo de Fr. José Mariaono da Con-
ceição Valioso.
Nos signaes diagnostico^ das aves, capitulo 2", principia
enumerando as seis classes a quo pertencem todos os ani-
maes, quantos existem na natureza, grandes, pequenos,
e mínimos, a saber: mammaes ou mammenladores, aves,
amphibios, peixes, insectos e vermes.
Não posso prescindir diurna ligeira snãlyse sobre esle
systema de Carlos Linnéo, adoptado por Velloso. A ausen-
D,:„i,;cdtv Google
— 163 —
cia da uoidade é a primeira impressão que se desperta em
nosso espirito, quaado coalemplamos as quatro primeiras
classes qae approximaro-se naturalnaente por caracteres
fuDdamflntaes, que residem db estructura aDalomica dos
antmaes que a ellas pertencem, embora se distingoam
pelas modiScsçÕes que sofTrem os seus órgãos em maai-
festa harmonia com a diversidade dos meios em que
TÍvem, e com o lugar que cada aaimal occupa na escala
zoológica. O celebre Cuvier, cujo nome é celebrado nos
grandes movimentos intellecluaes da humanidade com
aquella veneração e religioso enthusiasmo que só os gran-
des bomens sabem inspirar, da posicáo elevada em que
o collocoQ o seu saber, dominou e observou o maravilboso
quadro da naturezn, e estabeleceu com o seu espirito alta-
mente perscrulador e profundo as solidas bases para uma
classificação que abrangesse não só os animaes actuaes,
como todos aquelles que são do domínio da paleontologia.
Quaes foram estas bases, e quaes os príucipios que d'ella3
3e derivam? Em poucas palavras poderemos completar o
nosso pensamento. Todos os animaes que t£m apparecido
na superficie do globo, desde a epocha cambriana até aos
nossos dias, pertencem a duas grandes divisões : uma que
se distingue pela presença d'um esqueleto ósseo, composto
d^um certo numero de partes que sõroenle variam d'uns
animaes para outros, quanto ao numero, consistência,
grandeza, perfeição, e maior ou menor desenvolvimento;
outra que se caracteriza perfeitamente bem por um
sígnal n^atívo, isto é, a ausência completa de esque-
leto ósseo. Os primeiros são conhecidos por vertebrados ;
os segundos por invertebrados. Eis o primeiro funda-
mento da sciencia dos animaes, estabelecido pelo immor-
tal Cuvier, e que fundamenta-se na escrupulosa e exacta
observação da natureza. Os peixes, reptis, pássaros e
TOHO xsxi, p. II 20
Dictzedby Google
- 184 —
mammaes que cúnslituem as quatro classes do primei-
ro grando ramo, tSm linhas divisórias bem traçadas, e o
zoologo nSo as confuade porque s9o bem deffiaidos os
signaes que as distinguem ; estes signaes exprimem
fielmauta as modificações de certos oi^âos, impostos pela
Datareza para que as funcções de cada grupo de auimaes
possam ser accommodados és circumstancias em que vivem .
Mas o observador com facilidade descobre traços com-
muQs de estructura auatomíce, que passam d'uma classe
a outra perfeitamente intactos, e que se revelam com a
maior nitidez ao primeiro olhar de quem deseja perce-
bêlos. Estes traços, que estendem-se a todas as classes
d'um grande ramo, e que as unem d'um modo indissolú-
vel, constituem o signal primordial, a unidade emfim.
A divisão das classes em ordens, d'estas em famílias e das
familias em géneros são as diversas ramificações d'um
mesmo tronco, sempre de valor decresr^ente, e que se
prendem a um nó, ao qual eslão forçosamente subordi-
nadas. A classificação seguida por Velloso e em substan-
cie, na sua ornithologia, uao satisfaz a estn condição fun-
dameotal, e ser-nos-ha fácil deraonstral-o.
Depois de enumerar as classes, diz Velloso : . De lodos
estes, 03 mammenladores e as aves sâo os que mais con-
cordam entre si em razão da affinidade e da maior seme-
lhança no seu caracterislico interno. Gozara d'um coração
provido de dois ventrículos, de sangue quente, e também
de bofes, que reciprocameute respiram ; mas differem entre
si DO vestido, porque dos mammaes se forma este de pelles
singelas, e nas aves de pennas ramosas e formadas em
feição de pentes. •
Cuvier e Agassiz nas suas bellas palavras sflbre a ana-
tomia comparada, e com elles os outros zoologos moder-
nos, revelom d'um modo convincente os laços anatómicos
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— 155 —
que ligam os seres verteluados, e que coostituem a verda-
deira unidade que parece ter escapado aos dois aaturalistas
que DOS occupam a' este momeoto.
Atteadamos ao zoologo suisso, que com as suas pala-
vras r^rá desapparecer a immensa lacuna d'este trabalho
do illus Ire Vel toso, a qual poderá ser alteuuada si re-
cordarnao-nos da epocha em que elle escreveu.
I Os vertebrados são construídos segundo um mesmo
plaao. E' verdade que entre elles existem grandes diffe-
renças ; os modos de execução são variados, os msteriaes
diversos, mas a Iravação das partes é a mesma, »
Depois de fazer a analyse anatómica d'um peixe, eipri-
me'SO ainda de modo a corroborar o nosso pensamento.
■ Ora, o que é verdade quanto ao poixe,é verdade em rela-
ção Q todos os outros vertebrados. Para passar d^aquelle ani-
maia uma salamandraa única cousa que ba a Tazer é obrigar
a retrabirem-se as dobras da pelle, que formam as barba-
tanas, prolongar a cauda, marcar uma exígua separação
entre a cibeça e o corpo, e alongar um pouco os ossos que
sustém as barbatanas peitoral e abdominal, de modo que
elias venham formar membros. For pouco que se reduza
a cauda, que se levante a cabeça augmentada, que se es-
tendam os ossos dos membros e que se dé a estes força
suQicienle, ter-se-ha um quadrúpede; e alongando os
membros posteriores, encurtando um pouco os anteriores,
ter-se-ha uma ave, chegando-a por esta forma até ao
homem .
« Não ha dilTerença na organização geral.
« Vejamos o que são os membros do homem. No membro
anterior lemos uma omoplata cora uma clavícula consti-
tuindo o hombro i um humero nu braço-, depois dois
outros ossos (radio e cubito) no antebraço; finalmente
pequenos ossos, em numero de oito, em duas fileiras, no
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piiDho. Na mio, o poUagsr eom dua» phalaiigeB, que sAo
suppohadas pelo melacarpio, e quatro dedos de bres pba-
laoges, com um melacarpio cada um. Ora, examinando a
barbatana peitoral d'iim peixe, o que vemos por f4ra não
4 o membro todo ; debaixo da pelle, pequenos ossos que
apoiam-ae sabre o craneo reproduzem a omoplata, o
humero e os outroi ossos, e a barbatana nada mais é do
que uma mão, com vinte dedos talvei, longa e flexível
para bater a agua, mas imperfeita.
I E', pois, sempre o mesmo thema, mas o modo <l'exo-
caçSo é muito variado, do mesmo modo que as variações
introduzidas pelo musico recordam sempre o motivo prin-
cipal. ■
Estas linhas que acabamos de transcrever armam bem
qual o verdadeiro plano do Creador, e a sábia interpre-
taçto dos que, como Cuvíer, procuraram deswivolv6l-o
dissipando as trevas do século passado com os raios lumi-
nosos d'iima verdade adquirida á custa dos magoiãoos
ímpetos de seu espirito.
Outro plano presidiu i formação dos animaes articulados;
um terceiro e quarto para os dois grandes ramos : molluscos
e radiados. Nio ba um sá anima! actnal e da todas as
epocbas anti-díluvianas, que dSo possa ser comprehendido
em uma d'e3tas grandes divisões, o que vem confirmar a
crença geral que hoje acba-se enraizada em todos os es-
píritos, de que ellas são a represeotaçio pura e fiel da
natureza, ou melhor, a própria natureza ao alcance da razio
humana. A classificação zoolo^ca de Cuvier, que tem sido
alterada a beneficio da sciencia que deseovolve-se a passos
agigantados, satisfaz em toda a sua plenitude ao grandioso
fim a que se propdz, e a ella pôde applicar-se o pensamento
de Augusto Comte, enunciado na sua philosophia positiva,
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de que: a elamfieação de uma torneia, é apropria
tciencia condensada em teu retiuno o rrunt ittbslancial.
Provado que sejj o quaalo tem de natural o primeiro
fundamento da classificação do celebre paleoolologista, fica
ipto facto obscurecido e aniquilado o systema de Carlos
Lianéo, que Fr. Vetioso aponta oa obra que preseotemente
discutimos.
Si por infelicidade Cuvier alo tivesse produzido tão
estupenda revoLutão no estudo doeste grande ruino de seres
organizados, e si por conseguinte vigorasse o decahldo e
esquecido systoma de Linnâo, em qual das suas classes
coUocariamos os animaes das ordens dos chelonios, ophi-
dios e saurios? Na sua classe dos amphibiosf Os reptis
amphibíos pertencem hoje a uma classe distincla— a dos
batracios, e são representados actualmente por quatro
ordens: a dos descaudados, como o sapo, a rã e outros;
a dos perenibraochios, como a sereia ; a dos urodelos e
a das cecilias.
Os crustáceos actuaes, como a lagosta, o camarão « o
carangiuijo, o os dos terrenos de transição conhecidos por
trilobiles, são animaes articulados, paraosquaes não en-
contramos uma classe no systema que analysamos. O
mesmo acontece para os molluscos actuaes, de qualquer
das três classes : cepbalo podes, gasteropodes e acepbalos ;
assim como para os que deixaram os seus despojos em
todos os uiveis da serie geognostica. As conchas Techa-
das, ou cephalopodes conhecidas por ammoaites, belemni-
tes e nautilus, dos terrenos secundários ; e as numOiulilesda
epocha terciária; as conchas bivalvas e univalvas que abun-
dam como fosseis, easque vivem nos mares actuaes, ou não
teriam um lugar distinclo na elassificaçSo de Carlos Linnéo
si ellas fossem conhecidas e estudadas n'aquella epocha, ou
SMÍam oollocadas, oom toda a impropriedade, ao lado de
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— 158 —
r ■"■
outrds aaiiaaoí coiO os qases nSo manírestam a menor
samolbinça oa sui organização
Palta-nos mencionar os zoophylos, ou radiados, que
pela imperfeição de seu oi^anismo, e estado apenas elu-
menlar de alguns órgãos, cr)nrun'le(n-se com os seres do
reino vegetal, 4s suas fua^çães de relação são ena tão
diminuto gráo de importância, que quasí não eiislem, pela
natureia elementar do syslema nervoso, que em alguns
parece não existir absolutamente. Os coraes, o ouriço do
mar, os espongiários e Jnfusorios, quu contém em si
caracteres que accusam um ptaao dilTerenle presidindo á sai
creaçio, e os separam completamente dos outros anímaes
que occupam os grdos mais superiores da escala zoológica,
poderão, porvuntura, ser altendidos em qualquerdas seis
cbsses: inaminãntadores, aves, pt)lites,amphibias, Insectos
e vermes? Decerto que oão.
Não podemos furtar-nos ao prazer de confessar que este
trabalbo de Pr. José M.irianna tem allraclivos, p^los dados
curiosas que aponta, priucipios que ministra a quem,
n'aquella epocha, quizesse ontregar-se ás tal)0rinsas pes-
quizas sobre os animaes que, nos srus voos, elevam-se
muito além da região material em que habitamos, mas
muito áquem do ponto em que alcançam os mios que a
intelligencis do homem arroja em busca de verdades
que emanam do Creador, e que pousam tranquillas no es-
pirito profundo de quem as pôde possuir.
O Dossoillustre naturalista combate, e com muito critério,
a designação de volaleis com que os antigos brindaram as
avos ; para isso recorre ao facto de terem os insectos azas
sem ser pássaros ; o morcego e outros cbeiroptnros, que
também voam sem ser avos, pertencendo estes ã grande
classe dos mammaes, pelas j^andulas mammaes que
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— Ift» —
possuem, e pola ropro<lucção vivipara, que síío os traços
distioclívos doestes aoimaes.
Para que o lUârecimeato d'esta produuçâo possa ser bom
aquilatado, julgamos convantenle apontar as boas qualida-
des com o mesmo direito que coasurámos as desvantagens
que se deduíom do syslema por elle adoptado, o quat na
sua opiai&o abran;;ia todos os auiraaes eiisteales. Uma
proposição assim concebida e destituida de fundamento.
Dão devia escapar, ao menos, a uma ligeira censura.
Os traços anatómicos não são dados com Iodos os por-
meuores.como os que fijurariam em um tratado completo de
orniihologia; mas são expostos com clareza e exactidão,
ao alcance de todos, por isso que meaciooain muitas vezes
os nomes vulgares equivalentes aos termos tecbnicos que
elle emprega. Faz uma resenha das partes principaes de
que se compde o corpo de um pássaro ; considera como
eminentemente favorável ao vòo d'esles animaes a forma
em quiltia de navio, do osso conhecido por sterni}, e em
virtude do qual podem romper o ar com mitJs facilidade,
no seu movimento descondente, prolegendo-os os ossos
contra um choque inesperado. Menciona a conformação
das azas; descreve o apparelho locomotor, com os aomes
dos ossos que o comp6em ; e a existência de uma mem-
brana impermeável á agua, que reveste os pés das aves
aquáticas.
Velloso liga grande importância idelineaçao das ci3ros
das aves, por serem o seu principal ornato, e para o qual
chama a attenção dos ornilbotogos. E,com o fim de prevenir
qualquer confusão a respeito das partes constituintes dos
pássaros e dos nomes que as exprimem, faz uma relação de
todas ellas, pondo á margem, e em termos claros e simples,
as competentes definições. Occupa-se em primeiro lugar
do órgão mais complexo e delicado, a cabeça, centro das
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- !«• -
imiMvssdes que os nenos transmittem dos objectos ex-
teriores, por iatermedio dos sentidos, e dos oi^oa inte-
riores por meio de meduUa. Segue-se o casco, orbita, so-
brancelha, fonles, face, focinheira ou bocal, toro oo rédea,
crista ou topete, barbas, pescoço, goija, nuca, degoladouro,
cerviz ou gacho, costado, omoplata, espádua ou cernelha,
bombro. peito, abdómen, membros, azas, remeiras, azi-
nha, uropygio ou rabadilbo, crisso, regentes ou directoras,
cauda, cuberteiras, e espelho das azas. Falia ligeiramente
na estructura das pernas e suas vantagens.
Achamos deficiência no modo por que descreve as outras
partes do corpo de um pássaro ; contentasse era enumerar as
formas mais usuaes, sem entrar no sen estudo anatómico, e
era outras parUcuIsridades que mais interessam. A anatomia
comparada é inseparável da zoologia ; e quando um mesmo
oi^So éexlensivoa mais de um grupo de animaes,ella deve
iotenrir para o conhecimento das modificações mais ou
menos profundas que este órgão sotFre, não emquantoá
forma e grandeza, mas principalmente no que fAr relativo
á estructura, que pôde não ser iguaimenle complexa. O es-
tômago do homem, ou de um mammal carnívoro, não
é perfeitamente idêntico ao do herbívoro ruminante, que
tem quatro cavidades em lugar de uma, e muito mais se
afastará da dos aoimaes inferiores.
Em am mesmo grande ramo como nos vertebrados, o
coração de um mammal ou de um pássaro é o centro de
uma dupla circulação, e compAa-se de duas aurículas e dois
ventrículos, quando o de um peixe e do reptil é mais
simples, porque a funcção que exerce é menos complexa.
Esta deficiência que notamos estA mui longe de ser um
anathema; prova somente que o illustre franciscano nfio
teve em pensamento o fazer um trabalho completo sobre os
pássaros; manifesta antes a intenção de reunir um certo
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oumero de ooDhecimentos qua podessem, no tempo em qne
escrevea, derramar luz e dispartaro amoi por estes estudos,
que alie cultiraTa com proveito. Coosiders ainda outros
elementos que juiga indispensáveis i historia exacta d' estes
animaes, e que todos hoje reconhecem como de iadecli-
navel necessidade, o que em nada desmerece do valor qua
lhes devem ser concedidos, visto terem sido lembrados em
uma epocha remota, quando tratava-se de coordenar os ma-
teriaes para a conslnicção do edificio omithologico-
O primeiro elemento é o do del^eamento, op descripçio
completa do pássaro, accompanhado do respectivo desenho.
A vantagem do primeiro nSo se discute; e a do se-
gando ainda menos pela impossibilidade, não diremos de
Gomprehender, mas de conservar semo auxilio do original,
ou de uma figura queo represente, as descripções minuciosas
dos seres oi^anizados, com todos os seus pormenores e com
todas a!> particularidades que caracterizem a cada um
d'elles. Si. es(udando-se qualquer dos três ramos da
historia natural, tendo por base a obserTação da própria
natureza, a memoria nem sempre p6de ser o fiel deposi -
tario dos conhecimentos que se adquirem, quanto mais se
nos contentássemos com simples informações por escriplo,
ou mesmo com a leitura das descripções. Vamos ainda
mais longe: não basta que os desenhos sejam fieis e brí-
Ibanlemente coloridos, como os que accompanham a inte-
ressante obra de Buffon ; seria muito mais útil e conve-
niente que a^mas aves fossem delineadas com todos os
pormenores a'respeito da sua estructura anatómica, que as
caracterizassem d*um modo especial.
Nio menos interessantes são as indicações da habi-
tação, o tempo da incubação, os lagares em que vivem
de preferencia, a criação, arribação, aUmento, forma dos
ninhos, e sna cooslmcção. A historia das aves cresce
TOMO XIXI, P. II. 21
Dictzedby Google
— 16» —
de importBDcia quando, segando pensa Fr. Velloso, n'elto
esláo ÍDclaidos os seos osos, e m rantageas que d'tila8
pôde a sociedade auferir. Qnaes as que podem ser uti-
lizadas eomo alimento; as que accusam crimes, desco-
brindo os lugares em que jaiem cadáveres que podem ter
sido o resultado de crimes que derem ser punidos com
r^r; e entre outros auxílios qae ellas prestam, por elle
mencionados, os dos transportes das semeates para lognres
mais ou menos longínquos, e dos grãos poUinícos para a
fecoodaçSo das pIaDtas*unisexuae8 dioicas. Assim como
as correntes d'agaa e do ar são os vefaículos das sementes,
principalmente as correntes aéreas quando as sementes
tdm alas ou pellos que as tomam menos pesadas, lambem
é facto averiguado que ellas podam ser conduiidas pelos
pássaros para um ponto bem distante, onde ás vezes
germinam e produzem indivíduos vegetaes que em nada
assemelbam-se aos que abi existiam anteriormente. Outro
tanto não diremos a respeito da conducção do pollen pelas
aves, e afastamo-nos um pouco da opinião do illustre
brasileiro. A experiência confirma que os grãos pollini-
cos das plantas dioicas são transportados pelos vmtos
e pelos insectos, do individuo masculino ao feminino. Mas,
como conceber, a não ser por acaso, que uma ave desta-
que o pollen d'uma aulbera para ir deposital-o no stigma
de individuo d' outro sexo(e d'um modo tio intelUgente coroo
Velloso lhe attribue), facto este que sendo repetido muitas
vezes, faz suppdr nm acto de para intelligencia muílo
superior ao que resultasse do instinclo o mais desen-
volvido?
Não escaparam-lbe também um certo numero de pro-
gnósticos, que augmentam a sympathia que as aves nos
inspiram, como sejam : o apregoar nos matos da jtuida
dos cadaverss doa animqes, pelo gnunido do corvo corai» |
Dictzedby Google
— IM —
o optntiu' dá primavera no primeiro dia do detabroUM-
mento das folhas, pelo canto do cuco canoro; o de indicar
ut» inverno rigoroto e apparedtnento da erriberiza da
nevt ; a immvMnãa fTum temporal, preaentida peZa procA-
laria do pego, que dd o signal de almma encaatellando-ae
na proa epôpa dos navios i e mais oatros prognósticos
qae Yelloso apoota, convencido da sua eíBcacia e ve-
racidade.
As suaves impressões que ellas produzem nos nossos
sentidos, quer pelos cantos maviosos de algumas, como
pela belleza das odres de outras, são outros tantos atb-a-
ctivos com que foram brindadas pela natureza.
■ Concluamos ãualmente, diz Yelloso depois deezpâr as
bases da sua ornithologia. Quem poderá lembrar-se, e
eipâr com energia, todos e cada um dos proveitos e or-
namentos que nos resultam das aves? As aves despertam
e movem os nossos sentidos, enfeitam e aformosentam
o mundo, e o fazem agradável ; amigavelmente conversam
comnosco no retiro das solidões; e por Iodas as parles
nos cercam em tomo, saltam ligeiras, e revoam alegres.
Por este respeito, os lugares em que nSo as encontramos»
se reputam adros.
4 Ora, quanta não é a alegria e satisfação que sentimos,
quando com toda a atleni^o e socego do espirito ouvimos
a estas bellas e suaves cantoras da natureza, transportadas
da maior alegria, soltar toda a variedade e harmonia do
seu canto nus louvores do seu Creador? Que cousa baverá,
que nos possa ser de maior gosto, do que o ver as suas
ternas caricias, os seus doces meneios, quando* brincam,
quando se namoram, quando festejam seus desposorios,
quando fazem seus ninhos, quando tiram seus filhos, e os
defendem contra os insultos dos seus inimigos, ainda á
fluata de sua própria vida? Ora, quem haverá que, estando
Dictzedby Google
— 184 -
em seu juizo perfeito, vendo e oarindo o «ine fica dito,
oio reconheça o cuidado do Supremo Eale e a sua pas-
mosa providencia? Foi tão maravilhosa a bondade do
CreadoT, a respeilo destes animalejos, que nio duvidou
impAr oa lei ceremonial este preceito : c Si passando
vires no cháo ou em qualquer arvore o ninho d'uina ave,
Dfto a tomarás a in8i com os filhos ; mas deixa ir a pri-
meira, e cODteota-le com os segundos, para que te vá bem ,
e vivas largo tempo. > O próprio Deus promulgou uma tal
lei penal a favor das aves. Isto basta. •
SSo estas as ultimas palavras de Fr. José Harianno da
Conceição Telloso que servem de remate aos princípios
fundameotaes da sctencia dos pássaros, que elle estabele-
ceu com aquelja lucidez que serve de privilegio aos espirítos
indagadores. Discutimos alguns defeitos, que reconfae-
cem-se SIbos do tempo em que viveu: e procuramos
patentear e elevar os conhecimentos úteis e claros con-
tidos nas paginas interessantes do seu Aviaria Omt-
thologico.
CAPITULO V
A FLORA PLUHIEIENSE
O trabalho mais importante e de maior alcance é. sem
a menor contestação, a Flura Flumineme, que os homens
competentes veneram como o fruclo de laboriosas pes-
qoizas e amor decidido pela botânica. Ja vimos Velloso
como adepto da zoologia, e cultor da cbimica. Agora é o
phytologista incansável; o creador de géneros e espécies
novas, na observação aturada dos vegetaes indígenas ; é o
pbyt(^aphÍ5ta conciso e consciencioso, que arrancou da
nossa natureza vegetal os segredos d*uma primeira classifi -
Dictzedby Google
— IM -
caçio, feeando exemplo para 09 seus TÍDdoaros; jemAmo
religioso monge, que convergia as saas Tistas profaoclas
sobre as plaalas do solo brasileiro, para corroborar a
fá em Deus, com a destambnmle imagem do Sapremo
Ciaador reflecUda nas relações harmoniosas do mando
orgânico !
Esta obra, de cuja importanúa ninguém pôde doridar,
foi dedicada ao seu patrono Luiz de Tasconcellos e Sousa.
Adoptou o sjstema sexual de LÍnn4o, hoje abando-
nado pelas noras concopçdes de A-dansoo, De-Candolle, de
Jussieu, e BrogQÍart, na classificação das plantas do seu
herrario.
Nos tempos actuaes o botânico que se propõe tratar
da descripçÂo de espécies lera sempre em vista o estado
pbjtographico de cada órgão em particular, e a descrípçio
minuciosa de todas as partes integrantes d^um T^tal,
e procura descrevèl-o abrangendo todos os orgios fun-
dameotaes, raiz, partes componentes do tronco, folhas,
QÒT, fruclo, semente, embr;ão ; e também os orgios ac-
cessorios, como sejam : as estipulas, pellos, gavinhas,
espinhos, glândulas, não olvidando todas e quaesquer
particularidades que lhe forem ioherentes. Percorrendo
pagina por pagina a Flora Fluminense do virtuoso fran-
uscano, encontra-se uma lai concisão nos caracteres de
cada [danta, que a impressSo que ella produz no nosso
espirito díssipa-se totalmente, porque atlendemos para o
tempo em que elle viveu, e reconhecemos por este volver
d'olbos retrospectivo que os elementos indispensáveis no
completo desenvolvimento d'uma scieacia vão se aecu-
mulando gradualmente por esforços parciaes, que conver-
gem para um mesmo &va, e que toma-se notável a intel-
ligencia que entra como um dos alicerces na construcção
e monumento tão glorioso. Velloso nSo fez tudo porque
Dictzedby Google
— iêê —
era boBMD ; mu fax nniilo por ser TÍgonua a ÍoteU%eneia
que a Datarau ooncedea-lhe.
Em 1700 plantas, âlamoa 400 (1}, algumas das quaes
figuram ainda oom os Domea que Teltoso offereceu aos
Icigialadores da seienãaf e oatros já subatiloidos, ou por
direito de prioridade d'oatros botânicos, oa pela maior
propriedade dos nomes botânicos hoje adoptados. PropAz
muitos géneros dotos, e alguns ainda v^ram; oatros
sio «penas mencionados ao lado dos que os sobstituiram,
como homenagem á memoria de quem os estabeleceu.
Ainda posso tirar outra illaçío, confrontando as
snas espécies com as que figuram em lugar d'eUas no
fecundo trabalho do Dr. Martins. Telloso incluiu em um
mesmo género dirersas espécies, que hoje achom-se sepa-
radas, o que ÍnelinaTa-me a crer que êHo oão restringia
muito os caracteres particulares de cada género. Devemos
entretanto confessar que a par d^eslas pequenas deficien-
cias* apontadas porque assim o pensamos, manifesta-se
uma tal ou qual art>itrariedade da parte d'aquetle8 que,
em outro continente, decidem como juizes supremos dos
trabalhos que lhes são euTÍados. Mudam os géneros, as
espécies, modificam, reformam, e tudo quanto fazem é lei.
Em certos casos procedem com todo o critério e com
fundamento ; em outros, porém, parece-oos encontrar um
excesso de solicitude, que realmente deploramos.
Os numerosos desenhos devidos á hábil mSo do Fr.
Solano, e que accompaaham a dascripção das plantas,
peccam, assim o cremos, por falta de minuciosidade; por-
quanto náo abrangem todas as partes integrantes d'um
mesmo orgâo; e alguns apresentam apenas as folhas e
lUhres, s«n os competentes pormenores, e não contempla m
(1) Vide at notas ao fim.
Dictzedby Google
— tm —
o frodo, a Mmenie e a forma particnUr dos mtsn«s 6
mais elementos da fldr, que nio sJo vistos. Hoje atlen-
de-se por tal modo a lodos estes dados, que fallecemoDos Da
maior parte dos piimitÍTOs desenhos, que, observando-se
com coidado ama estampa, ehega-se ao conheoimeDlo
exacto do vegetal qoe se quer estudar, e cujo origioal nto
ae possue. A obra de que nos temos oceapado é* cilada a
eada passo pelos botânicos eminentes de Europa.
O nome de seu illusire autor é venerado por aqneUes
qae dedicam-ae ao estudo da ph^tologia; e palpita-nos
o coraçlo de jubilo quando, ao percorrer pagina por pagina
os 38 fascicoios da Phra Brattiienau, com o fim de saber-
mos quaes as plantas por eite classificadas, que foram con-
servadas com os seus primeiros nomes, encontramos o
nome de Fr. José Mariano da Conceifio Telloso honrando
a pátria com as suas lacubrações, oo lado dos nomes de
Linnâo, De-CandoUe, Hartius, Freire AUemão, Arruda da
Camará, Sellow, Lamarck, St. Hilaire, e muitos outros nSo
menos respeitáveis e dignos de especial mençSo.
Apreciemos a concisão de seu estylo, lendo os seus
apontamentos sAbre um vegetal importante, o codro, exir»-
hidos da Flora Fluminansa, pagina Ti.
Cedràa odorata. €. floribm pemiadatis.
Obserrationes
Gaalis arboreus, folia composila-pinnata, muUíjv^, fo-
liolis ovatis, integerrímis. Habitat sitvis tam marilimis»
qnam mediterraneis.
A estampa correspondente, 67* do tomo S*, contém os
desenhos das folhas, da QAr e estames.
Este fructo de trabalhos tio árduos, e que boje aqoila-
Dictzedby Google
^ 168 —
Umos e apradimos com o ferror do mais justo e saolo pa-
triotismo, permaneceu, por al^ns annos, no mais com-
pleto esquecimento em nosso paix ; e devemos ao primeiro
imperador, ci^^ memoria por tantos titalos reneramos, o
immenso beneficio que hoje usofroimos, e que consistiu
MD mandar imprimir o texto na t;pographia nacional
sob 03 íiuspicios do bispo de ÁDemuria. Fr. António
de Arrábida, e do Dr. JoAo da Silveira Caldeira, tente de
eblmica da antiga Academia Militar. Os desenhos foram
litbograpbados em Paris, 1825. O desBppaFecÍmenlod'uma
prodacçlo de tanto merecimento deveria encher de luto os
corações dos brasileiros; e seria para lamentar que mais
um titulo de gltíría para o paiz, que nSo conta muitos o'asle
género, e mais uma palma de vicloria para o génio que a
creára, cahissem no abjsmo profundo d'um olvido fatal !
Felizmente, podemos hoje medir o valor e a magnanimi-
dade do acto do fundador do Império pelos benoficios que
ella produzia, e que nós test emunhamos com alegria e
vivo contentamento.
NSo diremos, referindo-nos a Fr. Velloso, o mesmo
pensamento que o celebre astrónomo Francisco Arago
applicou a Fresnel, de quem fera biographia : t II esl des
bommes k qui Ton snccède et que personne ne remplace. »
Seria tevar-noa por um excesso de enthusiasmo, prati-
cando uma clamorosa injustiça contra o alto merecimento
de brasileiros que ainda vivem, e cujos nomes irSo i pos-
teridade envolvidos pela mesma aureola brilhante com que
lemos brindado o nome illustre de Fr. José Hsriaono da
Conceição Tdloso. Mas ninguém ousará negar que foi elle
o primeiro a despertar o amor pelo estudo da phytologia,
e que só a elle ced» a ^ória de ler estabelecido uma base
bem solida para as novas ÍDvestigaç&es.de que seria theotro
nosso paiz.
Dictzedby Google
A Floria Fhurunente apresoDta-DOs um doto interesse,
fl este rem ds importância de algumas arvores seculares
dassifícadas por seo illostre aulor. As sttcopiraa, o cedro,
o buranlté { ibira-èe em liogua indígena), os jacârandátf
o angelim, e outros ornameatos^ sem rivaes, da esplendida
flora brasileira, serviram de fundamento para diversas
descripções. Os géneros mmâoxia, chrysophyUitm, niuo-
Ua ou tnachoerium, etc, são descriplos concisamente, e
is vezes de um modo incompleto.
O texto d'este trabalho interessante está incompleto, nSo
por culpa do seu autor. O seguimento existe em manus-
oipto, e é o complemento indispensável a esta obra clássica
que bonrará sempre a bibliotbeca brasileira. Mais um
râforço, o pequeno sacriScio de poucos contos, uma nobre
resolugSo emPirn, bastarão para a terminação d*este glorioso
monumento, que VolLoso legou á posteridade.
Mais uma palavra a respeito da Flora Flwmnmse.
De par com os eminenhss predicados d'este trabalho, já
mencionados, lacunas existem, que não desmerecem o valor
que lhe attribuimos.
A' brevidade das descripções e i imperfeição de muitos
desenhos, ajuntaremos o systema pouco natural da classi-
ficação, que elle foi obrigado a seguir, valendo-nos para
isso dos descobrimentos taxonomicos, que hoje enriquecem
a sciencia das plantas. O sy stema de Linnêo pertence agora
ao monumento histórico da sciencia. Os methodos appare-
ceram graças aos vdos impetuosos dos génios botânicos.
O sjstema em taxonomia é um meio artificial de classifica^
ç3o; afasta a muitos seres vegetaes que mostram, pelos
trados semelhantes da sua organização, ter participado
de um mesmo plano de creação ; e approxima outros, por
sua natureza differentes. O melhodo, ao contrario, é a
expressão exacta da natureza, porquanto fundamenla-sc no
TOHO XXXI P. II 32
Dictzedby Google
- 170 —
complexo de todas as relações orgânicas ; não são simples -
meale os orgftos geoitaes, e menos ainda a corolla conside-
rada isoladameate, os únicos elementos para a coordenação
das plantas em grupos naturaes. Todos os oi^os fundamen -
taes do vegetal sio atleodídos na creaçáo da hierarchia ta-
xonomíca; apezar porém da perTeicSo relativa dos trabalbos
mais moderaos, a scíencia nSo pronunciou a sua ultima
palavra. Abi temos a classe de Jossieu — cíútimtu— para as
plantas unisexaaes. As espécies do género euphorbia tèm
fldres hermaphrodítas, segundo as observações organo-
genicas de fiaillon, e por este facto ficam separadas, quanto
á classe, das outras euphorbiacess, cujas fiôns são uni-
sesBwut.
CAPITULO VI
A gratidão foi sem duvida uma das qualidades mais
proeminentes do sábio religioso; e encontramos provas
irrecusáveis no respeito e veneração que tinba para com o
Príncipe que outorgou-tbe tamanba cópia de benefícios.
El-rei o Snr. D. João VI, então Príncipe Regente, houve
porbem nomeal-o director ds lypograpbia litteraría do Arco
do Cego, estabelecimento por elle creado em 1800, com o
fim de promover e divulgar os conhecimentos das scienúas
naluraes, agricultura, desenboe gravura, sob os auspícios
do ministro d^Estado D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois
conde de Linbares. Este estabelecimento foi pouco depois
annexado á imprensa nacional, creada em 24 de Dezem-
bro de 1768, que linha o titulo de regia oíScina I;pogra-
pbica, e por fim o de impressão régia, á frente do qual
figuraram como directores os nomes de Fr. José Hariínno
da Conceição Telloso, Custodio José d^Oliveira, Joaquim
José da Costa e Sá e Hipolyto José da Costa Pereira. Os
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saas relevADles swviços valeraiu-lhe unia pensio de SOOf
concedida pelo Príocipe Regeate; e por uma nora gra^a foi
elevado á posiçáo de padre da proTincia^ no anuo de 1801,
como proTa o seguinte documento extrahido da pagina 149
do 3* livro do tombo da província:
ORDEM REGIA
Qoe o Exm. 5r. D. Rodrigo de Sousa Couttolio dirigiu ao Reverendo
Provincial para qne o Sr. ex-r«itor Fr. José Harianno da Conceição
Velloao sega contemplado padre da provinda.
■ O Príncipe regente nosso Senhor, attendendo ao zelo e
desinteresse com que se tem empregado no real serviço
Fr. José Marianno da Conceiçio Telloso, é servido que
elle seja contemplado como Padre da provincia, para cujo
fim expedirá V. P.' R."' as ordens que forem precisas. —
Deus Guarde á V. P.* R."* Palácio de Queluz em 19 de
Maio de 1808. D. Rodrigo de Sousa Coutinho. — Senhor
ministro provincial dos capuxosda provincia da Conceição
do Rio de Janeiro. »
Como correspondeu o padre mestre Fr. Telloso a tão re-
petidas provas de consideração, emanadas de um perso-
nagem tão altameale coUocado ? De um modo digno de si
e da pessoa, que tanto o beneficiara. Esforçou-sepor bem
desempenhar as suas funcções, dando á luz da publicidade
diversas obras, que honram lanto o seu nome, como á pá-
tria, á quem amava com extremo. Dedicou alguns dos seus
trabalhos a Sua-Magestade o rei D. João VI, por ordem de
quem traduziu, com esmero e presteza, diversas obras de
séria importância -, e mostrou ser em todos os seus actos
um servidor leal e dedicado.
Uma das plantas por elle classificadas, o andatiçú, das eu-
pborbiaceas, tèo conhecido por suas propriedades medici-
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— I7S —
DiM, foi offereeida lo at^usto stA do Sr. D. Pedro n, com
o nome de Jo<mne$ia Prineapi.
O que Yelloso poderia faser, pelo reconhecimento, fèl-o,e
BsponUDeameate. Assim como é grato a um cidadão o me-
recer as antmaçfiesde quem dirige os altos destiaos de um
pais, a este deve ser agradável o receber a maior riqueza
qoe, a um homem d^estudos, é dado possuir, isto é, o
fructo das suas constantes rigilias.
' Commemoremosoatrosserriços, dos quaes tivemos co-
nhecimento lendo as paginas do tombo da província da Iro*
maculada Conceição.
Regia dirigida ao procorador di província Fr. Aotonio da Victoria,
Bobr« a collecçSo de plantas do Brasil, psrao real museo.
■ Sendo presente a SuaMagesladea proposição que V.P.*
fez de conseguir que a sua província se enoarregue de fazer
vir d^Ameríca dos sítios, onde tem conventos, todas as plan-
tas,ou vívas,ou séccas, ou em sementes, segundo o melhodo
que lhe der o P. Telloso, para a collecção do leal musèo ;
sendo dirigidas estas remessas á secretaria d'£stado da
marinha, espera Sua Magestade que V. P., e toda a sua
corporação, com seu zéto, e amor pelo real serviço, exe-
cutarão esta commisslo de maneira a desempenhar a
alta idéa, que Sua Magestade tem das suas virtudes, e
fidelidade. — Deus Guarde a V. P. Mafra 19 de Outubro de
1797.— 0. Rodrigo de Sousa CoutinAo.— Senhor Fr. An-
louio da Victoria. ■
Hals um docamento,que a historia deverá registrar, po^
que refere-se a um vulto eminente, digno de nm monumento
wa que se inscrevam em letras de ouro os actos mais assi-
gnalados da sua gloriosa vida .
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— 173 —
No silencio de ata gabioele, do retiro de ooa elatistro,
perscratando os s^redos da natureza, também alimoDla-se
e desenToWe-se o sagrado amor da pátria ; e «Abre o sen
altar deposita-se uma somma de boas serviços, que dereoi
ser lio bem considerados e estimados como os que presta
o bomera político de sã consciência e de elevada intelligen-
cia, e 03 do soldado intrépido, qae sacrifica a Tida, os sen-
timentos de Slho, pai e esposo, tudo emflm, pela honra da
pátria, e pelo amor que a ella rota.
R^ia dirigida ao Sr. ministro {HvvliKial Fr.
ttbn a collecç9a pan o real nmsea.
fl Sua Magestade é serrido que V. P/R.™ faço crear nas
hortas dos cooTentos d'essa provinda as plantas que Fr.
José da Conceição Telloso designar na lista, que ha de re-
metter ao procurador geral da mesma província ; as quaes
depois de creadas e postas em caixões, T. P.* R." deverá
entregar ao intendente da marinha para as fazer embarcar
nos navios, que partirem para o porto d^essa cidade. —
Deus Guarde a V.P.^R.™ — Palácio de Queluz em 3 de
Outubro de 1798.— D. Rodrigo de Sousa Continha. — Sr.
ministro provincial dos capuchos da província da Concei-
ção do Rio de Janeiro. >
aPITULO VII
Na tjpopaphia cbaleographíca e lilteraria do Arco do
Cego foi impressa a tradacção, por Velloso, de uma col*
leoçáo de Memorias sAbre a quassia amarga e símaraba,
com desenhos perfeitos e brilha nten»Dle coloridos. E*
d*88(e trabalho que nos vamos occupar, e ao qual consa-
gramnosalgUMsliDbaspela importância do seu conteúdo,
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- 17i -
e para que mais uma vez curvemos a cabeça perante a me-
mOTÍa do Uluatre brasileiro, a quem votamos a mais pro-
funda veoeração.
Às suas vistas coDcentravam-se sempre oo lado uti) da
acieDoia, o que facilmente se poderá perceber lendo com
atteDQfio o primeiro capitulo doesta producção :
• A' vista de ser a saúde só por si bastante para coostj'
tuir o homem ditoso ou desgraçado, deve a medicina, que
toda se applica em ensinar os meios de a coQseivar, e de
a recobrar, quando perdida, ter de justiça um lugar supe-
rior entre as primeiras sctencias, e ser de toda a sorte
honrada. Ella,como dizem, marcha apoiada sAbra dois pés,
dos quaes um é a Pathologia, que nos dá o conhecimento
das eufermidades, e o outro a Therapmtica, que nos faz ver
os remédios que lhes podem ser próprios e convenientes. E
por esta razSo deve ser indispensável a todo o medico o
conhecimento de um, e de outro fundamento, sobre que
apoia a sua faculdade. Bem como um relógio, quando se
quebra, ouso decompõe no seu movi-neoto ordinário,
nio pôde ser concertado, sem se ter conhecimento da
qualidade do seu desmancho, e da propriedade dos instru-
mentos ; assim também, nio sendo bem conhecida a
qualidade da moléstia e dos remédios convenientes, não
pôde cila ser bem curada.
c Estas diversas partes, que constituem a medicina, pa-
deceram,segundo a diversidade dos tempos, seus altibaixos
e revezes, '
■ Os antigos, conformando-se ao goslo que reinava nos
seus dias, dirigiam com todo o esforço de que eram capa-
zes as sons applicações igualmente sobre o conhecimento
das fOrças dos remédios simplices, da semiótica, dos prog-
nósticos. Restabelecidas, porém, as sciencías, e reinando
sdbre ellas uma luz mais clara e mais intensa, aquella
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— 17« —
parte que mostn o differeote estado do homem, ou são, ou
doente, é a que foi levada ao mais alto cume da perfeição
pela diliguicia, applioaçâo e esforços dos anatómicos e
pbysiologos ; e pelo contrario, a outra, que expõe as fAr-
Ças dos medicamentos, se conservou (ignoro a razSo), ao *
menos por muito tempo, como era desprezo, envolta nas
mantilhas do berço. D' esta causa procede que todo quanto
respeito temos pelas nossas plantas medicinaes, nos Tem
somente do uso que d'ellas fizeram os antigos gregos e
árabes, pelo qual, enganados os modernos, nio tendo ave-
riguado as suas forças, como era razão 6zessem, compuze-
ram receitas prolixas, que só podem servir para descrédito
edamnoda medicina, e nio para honra sua e proveito :
logo ao deleixamento e desapplicaçio dos médicos á botâ-
nica, isto é, a esta proveitosa parte da medicina, conU-a
o que era justo e conveniente terem feito, é que se deve
fazer a imputação do desfavorável revez de uma parle ISo
útil, e necessária. A esta talvez se poderia ajuntar outra
causa e vem a ser a opinião, que grassou e se propagou
pelo circuroferencia do orbe medico, de queo nsodosre-
medios venenosos deveria ser desviado, e ainda totalmente
desterrado do foro iherapeutico, como de facto para in-
felicidade da medicina o conseguiram. Graças ao nosso
presidente, que nos cânones 16 e 17 da sua Matéria Medica
impressa em 1749, fez vfir aos seguidores d'esta doutrina
fatsa que dos venenos se occullavam grandes forças me*
dicas, e que estes só d iiferiam d'aquelles na qualidade,
00 na dose. Vieram em seu abono as gloriosas victorias,
que o mercúrio, ou sublimado corrosivo, tem conseguido
contra certas moléstias teimosas, e reincidivas, apezar de
ser um dos mais refinados venenos.
■ Mas apenas entrou a campir nos horizontes dos hu-
manos conheoimentos a historia natural, como uma soien-
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— 176 -
da, e principalMMito a botaniei, eono bom dtf sou into-
iMcaotM {Mrtas dando-M-lhe um ar » gesto sáaotifieo.
quando m Máòrcaram en esmerilhar todo quanto podia
haver mais partkolar eescoodido dos remédios «mpliees-"
Depois de entunerar dÍTersos vegelaes, que sàode ito-
OMOsos reeofsos medícioaes, lai a apoOieose da Quina, as
eofermidades que eUa combate ; meoeiona os pwies qoo
mais t<m lacrado com a saa exportacSo, e termina com o
dito de tun poela :
NaUtra beati*
Omnibw ette dtãit, tiqui» cosnowriíuí».
Eis o Tsbr qoB Telloso Ugave ao estado da phytologia,
em cajo peosameoto nós procoraremos sempre imiial-o
eomo om dísdputo qae reconhece o merecimento dos seus
trabalhos, aos qoaes considera como uma fonte inesgo-
tável de idéas fecundas, que sempre primaram pela grande
dose de utilidade qae d'ellas emanam.Não receiamos avan-
çar que a botânica seria uma saencia de mero laxo embora
interessante e deleitavel, si quraa a cultivasse, se conteit-
tawe com as leis de anatomia elementar e descriptiva, com
o estudo da physiologia, taxoaomia e phytographía, orga
DOgonia,etc., sem procurar conhecer e divulgar, em benefi-
cio da humanidade, os difTerontes fins para que foram as
plantas creadas. Os prineipios activos conhecidos por oí-
calofdM as tornam ateis á medicina, como a atropina na
belladona, a stryehmna na DÓz-vomica, a morphina no
ópio qae se extrahe da papoula ou dormideira, a meoNna
no fumo ; e assim por diante. Msa Fr. Telloso contenla-se
com a exposição d*eslas plantas, sbstrahiado dos proces-
sos que a chimica aconselha para a indagaçto d'estes prin-
cípios activos, assim como de outras propriedades qae re-
oommdenam os vegelaes ao desenvolvimento das artes e
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iodustru, comofiejaiB : os princípios conates qae muilos
coDlém, a galta-pereha e Ixu-racha que de outros se extra-
hem, e o estudo dos cerues das arvoras, que são de um
immenso auxilio pare a engenharia ; os óleos esseneiaes ;
as phnias que tãm lanoino, oleos fíxos, etc.
Estas lacuDas que se percebem aas suas diversas obras
estáopleaameDte justificadas, porquanto.por uma lei pro-
videacial, o deseurolvinieoto de (odas as partes de aoia
scieacia não deve ser obra de ama uaica iatelUgencia. A
glória divide-se pelos diversos collaboradores, cabeado
uma maior quola a quem tiver direito pelo maior numero
de beneficios que u'ella descobrir. Fr. Velloso fei muito, e
por isso a pairía deve coasagrar-tbe um reconhecimento
eterno, coutem p)ando-o sempre no numero dos homens
beneméritos e que mais contribuíram para a glória de seu
passado, do presente e do Tuluro.
Velloso procuroua origem da palavra quatsia,Q a apresen-
ta depois de descrever as condições climatéricas da ilha de
Surioam. Aponta as moléstias que alli dominaram e os
meios improficuos de que lançaram mão os seus habitantes
para extorminal-as, O desanimo lavrava com intensidade
em todos d'aquella sociedade, quando um preto escravo de
Dome Quosn descobriu ama plauta que, como remédio, foi
por elle empregada para debellar as febres, que de con-
tÍDUO sepultavam aos seus parceiros. Divulgadas Uo maravi-
lhosas curas, tomou-se Quaaii um ente necessário e res- .
peitado, a quem os seus próprios senhores recorriam e
consultavam sdbre os seus padecimentos ph}'sÍcos, e de
quem recebiam o efficaz tratamento. Foi necessário que
Carlos Gustavo Dahlberg captivasse a confiança eafFeição
da Quatsi para que este ihe confiasse o seu segredo, mos-
Irando-lhe a planta, cuja raiz tinha operado curas láo mila-
grosas, e até então desconhecidas. O nome da qitasaia
TOMO XXXI p. ti 23
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— 178 -
'oi rpois.eoDserrado para que semi^e se tíresie em lembrança
os beneficjos prestados pela mio de quem a descobrira.
Faremos uma reBexão sAbre a sua descrípçio meoos snc-
cÍDla éo guoêsi-amara, ou tjwuti-amargota. Ao ínvwso
das plantas que elle descreTe na Flora Flummmse, desce
a mais alguns pormenores; aponta o gráo de composição das
folhas . a sua forma e ontros muitos caracteres ; o sumo
d'estas folhas ; ausência de estipulas e de armas de defesa;
a existência de bracleas ; ó peciolo marginado de ambos os
lados, por uma larga membrana ; dimensões dos órgãos
foliaoeos, e outros elementos dignos de interesse.
A descripção dos órgãos da flor não é muito completa ;
mas basta,' para que se conbeça a planta, observar o
bello desenho colorido que a accompsnha. Não menciona
a espécie de fnicto ( que é uma capsula ), por não existir,
na epocha em que escreveu.uma classificação carpologica a
não ser a de Candolle, e de outros ainda mais imperfeitas
e meoos completas do que a que a sciencía hoje possue.
Diz apenas que os cachos são terminaes e singelos,
quando pelo desenho vemos claramente que a inflo-
tescencia é um raâmo.
A descripção do cálix, corolla, estames e pistillo é exacta
no que contém, mas deficiente si a compararmos aos tra-
balhos dos Bcluaes botânicos.
Ha uma originalidade n^esla planta que não escapou ao
botânico que a descreveu, a qual consiste na existência de
cinco capsulas em uma mesma flâr, o que é mui raro
enconlrar-se nos vegelaes da família das simarubeas.
Esta planta foi cultivada no nosso Jardim Botânico, e
como não desse fldr por muitos anoos a confundiram, pela
semelhança no porte e por traços exteriores, comoexprime-
se Velloso, com o subonete doBrasil(3apindacea),oque
Dictzedby Google
— 179 —
depois veii6cou-se não ser aiaoto. Cresceu até a altura de
oito pés.
O amargo iasupportavel do lenho é reconhecido geral-
mente, e este principio amargoso foi sempre applicado
para coBil>a(er entre outras moléstias as febres iotermitten-
tes. Ainda hoje para algumas affeq^es do estômago os
médicos actmselham a bdbida d'agua fria que esteve em
contacto com olenhodaçuosmu. No mercado encontram-se
c(^s d'esta madeira, que tem a propriedade, depois de
humedecida, de impregnar rapidamente o liquido que con-
tiver de uma grande dose do principio amaino. Pela acção
do calor a impregnação torna-se muito mais forte e veloz.
Todos os usos conhecidos na actualidade, e que dei-
xamos apontados, estão consignados na obra que discu-
timos, assim como em que doses deve ser applicada aos
doentes, e termina esta primeira parte enumerando três
casos nos quaes o emprego da qtuuaia foi efficaz.
Pulrís levou ainda mais longe o seu interesse por esta
planta. Tendo observado, em 1770, a 13' carta de Buchox
e uma estampa da t/uosm, a convite do marquez de Furgot^
procurou-a em diversos lugares que percorreu e nunca a
pôde encontrar. Só em lins de 177ã é que chogoa-lhe ás
mãos pelo facto do governador de Cayenna a ter solicitado
do dii ilha de Surinam. Fez um estudo particular d'esla
planta e uma descripção muito mais minuciosa do que a
precedente.
Começa a sua descripção pelo caule, que contém tallos
ou troncos ^rciaes de 12 a 15 Unhas; passa á casca, raízes
e sua profundidade; occupa-se por menor das folhas,
approiimando-se a sua glossologia da da epocha actual ; e
percorre os órgãos da fructificação com muitas particulari-
dades interessantes, até o interior da semente.
Alguma deQcieocia que se possa notar não constituo am
Dictzedby Google
— 180 —
grande defeito, porque já mnitos annos nos separam da
epocha em que elle escreveu e publicou este trabalho. Es-
tende o principio amargo a todos os oi^Sos princípaes
doeste arbusto, que elle compara com a quina, pelas boas
qualidades que Ibe são communs, e pelas quaes Velloso e
outros aceitam o epilbeto de divino para o trabo do
primeiro v^etal, e de arvore da vida para o segundo.
Em seguida apresenta Fr. Velloso uma serie de in-
teressantes apontamentos sobre a quossia simartéa, per-
tencente hoje ao grupo das simarabeas. Parece-nos ser o
timaruba offieinalia, ou marapá em linguagem vulgar;
espécie congénere da ParahU>a, simaniba versicolor.
A simaruba cresce na America e nas índias Occidentaes,
e recommenda-se pelas propriedades medicioaes da casca e
da raiz. Woodvile faz um histórico dos diversos nomes bo-
tânicos que ella tem tido por ter faltado uma base solida
para os convenientes estudos dos seus caracteres funda-
Posteriormente reconbeceu-se, pela observação sobre os
seus princípaes órgãos, ser uma verdadeira simarubea pelos
pontos Íntimos de semelhaaça das partes d'esta planta com
as de outu quassvw Em 1772 Línnéo reconheceu não
estarem bem determinados os tragos caracteriscos d'aquella
espécie, que por outros foi classificada comn uma bursera,
betula, etc, etc. Foi enviada da Goyana para a França em
1713 a casca da simaruba, onde de 1718 a 1723 a empre-
garam vaotajosaraenle do curativo de certas moléstias
epidemicas.
Esie opúsculo do sábio brasileiro cresce de importância
quando attende-se aos serviços prestados á humanidade
pelas duas plantas que acabamos de fallar. Fazendo
conhecidas as suas propriedades, para o que colleccionou
diversas memori as parcíaes, mostr ao intimo e louvável
Dictzecfby Google
- Í8I -
desejo de ser útil aos seus compatriotas e á pessoa que o
encarregara de tão honrosa tarefa. HAo sendo elle senão
o fiel interprete de taes trabalhos, de qualquer crítica
rigorosa resultarj maior luz sAbre estas pesquizas, sendo-
nos licito pensar que uma obra de tanto merecimento e
utilidade deve perpetuar o nome de seu verdadeiro colla-
borador, como quem procura divulgar os conhecimentos
úteis que ella contém.
Mais oDlros factos importaules para a medicina encoa-
Irámos nas ultimas paginas d' este trabalho, e que resumi-
remos em poucas palavras.
Na ilha de Suriaam apparecéra de tampos a tempos
uma moléstia conhecida por mal de S. Lazaro ou l«pra
lécca, qoe desfigurava as pessoas que d'ella eram victimas,
produzindo um desanimo e abandono dignos de lastima.
Os escravos que soEíriam d' este mal ou suicidavam-se ou
morriam á Fome, porque os seus senhores preferiam não
fornocar-lhes os indispensáveis meios de subsistência.
O que contém as ultimas linhas da presente obra é o tra-
tamento mais ou menos radical d'esta moléstia, introdu-
zido por uma preta liberta, por certos principios contidos
em uma planta muito semelhante ao nosso cipó chumbo,
a cascula racemota das convolvulaceas, na herva de passa-
rinbo (loranthus vulgaris), e no tin^ó (serjania). Experi-
mentando com as plantas citadas conseguiu achar esta
virtude, que applicou emp iricamenle contra o funesto mal
quo a todos horrorizava. Estas tros plantas estão em dese-
nhos coloridos, e constituem a ultima parte d' este trabalho.
Reflictam os homens do nosso paiz no valor inesti-
mável d'estes rasgos d'uma intelligencia consummada ; e
d'uma vida sem mancha, que teve por ponto de apoio
a religião, o por única ambição a sciencia, que é, conhe-
cimento de Deus !
DictizedbyGoOgTe
CUTTDLO VIU
A quioographia portugaesa merece dos homens da
sciMKÍa ama seria attenção.e ser-aos-ha facQdemoQSlral-o
buçaodo um volver d' olhos sAbre mais esta fonte de co-
ahecimralos, que tem por títtilo : CoUeção de vcuiat
memoriai iobre vinte e dua$ etpecuã de qmnat.
Encontrámos na sua dedicatória a El-rei o Snr. D . JoSo VI,
entáo Príncipe Re^nte, dois paragraphos, em um dos qaaes
exprime seu peoBamento sabre a espinhosa tarefa do botâ-
nico; e no outro um serviço prestado por S. A. Real, e para o
qual, embora não o confesse, concorreu elle efficazmente
com os seus escriptos ; ouçsmol-o :
* Não é. Senhor, o brando leíto o que constituo o
caracter do botânico pratico e activo. Candidatos de Linnéo,
devem ir ao seu alcance. Eu rodeei, diz elle, e subi a pé as
nevoadas serras da Lsponia, montei as desabridas cabeças
dos montes de Norlandia, palmilhei as suas collinosas
ladeiras, e penetrei as suas intrincadas matas. >
Outro paragrapho :
■ A gloria omnímoda que caraclerízará o reinado de
T. A. Real, nos assegura esta feliz descoberta, como um
facto, que se deve esperar com moral confiança. Já não
são amostras de salitre as que vôm do Brasil, mas sim
arrobas. Não é de um uoíco lugar, é de muitos que tem
vindo. E assim de todos os outros géneros.
« Eu me congratulo do feliz effeito das reaes ordens de
V. A. Real.
« Eu estou certo que por outro feliz effeito das mesmas
gozaremos dentro em pouco tempo d' este soberano donativo
da natureza, que n&o tem outro que o sobrepuje na sua
prestan^. ChÍDe-China(dizWerIhof}Divi[ue Providentis
Dictzedby Google
moDos, qnuin nihil adhac supper Notara, vel ars simula
exhibuerit.>
Mo caracter genérico da qatoa notámos uma dtfferença
Da glossologia , que nio concorda muito com o modo actual
de indicar certos caracteres botânicos.
Na familia dasrubiaceas, á qual pertencem as quinas, a
ipecacuanha, o café, e outras plantas, o cálix é sempre
gamosepalo.islo é,formado por um certo numero de sepalos
soldados entre si até uma certa altura, e a parte não sol-
dada constitua o limbo ; de uma corolla gamopetala ; de
eslaiues epigyuios ; e de ura ovário sempre infere.
Velloso exprime estes caracteres de um modo differente;
4 Cilh: {periando, ou capulho da fl6r) é uma folha;
mui curto, acampainhado [a], fendido em cinco partes agu-
das, como dentinhos, e qae cortam o gérmen, (ou rudi-
mento dn cavinha) ainda ao depois de sAcco. Corolla : de
um só pelalo afunilado {b). ■
Em lugar de estames inclusos : eatames eseon^dos dentro
da garganta do tubo. E outros termos que hoje sio substi-
taidos, e que t£m a vantagem de resumir melhor os pontos
distinctifos de qualquer órgão. O terceiro e quarto ver*
ticillo estão comprehendidos Q'esta descripção, assim como
o pericarpio e as sementes, com a sua glossologia particular.
Lendo o caracter genérico da quina, concluímos que o
fructo é dehiscenie, sécco, polyspermo e bi-locular ; e que a
dehiscencia é septicída, isto é, pela sutura ventral ou afas-
tamento dos bordos de cada folha carpellar.
Tudo isto exprime Velloso por outros termos que não
são usados actualmente. Mais uma deficiência : os géneros
einchona das quinai, e eephelis da ipecacuanha, lambem
(a) Canpanolado.
tb) Iníundibulifonne.
D,c,t,zedbyG00g1«
- IW - .
dífliSTem p^i infloresceoeis : copitolo para a segunda,'
racimo pars a primeira ; eatretaoto não foi este facto men
cionado dob caracteres genéricos das qninss.
Pata apreciar-se devidamente esle útil trabalho sen
DOcessario que nos afastássemos dos limites dentro dos quae
deve gjrar a mão do biogrspbo, analisando pagina pc
pagiDa, e deroorando-nos em apresentar todos os pre
dicados que.em Dumero avultado,omamentam esta prodac
(io. CoDlentar-nos-hemos, pois, em indicar os pontos mai
essenciaes dos estudos das diversas quinas, Uo bem collet
cionadas pelo padre-mestre Fr. Velloso.
A quina officioal, cinchona officmoXiM, occupa o primeir
lugar na ordem das descripções quiaographicas. Todos o
seus príncipaes órgãos estão iacluidosna exposição, princi
piando pelo tronco, cujas dimensões slo apontadas, assio
como os traços que distinguem a casca, como sejão : a cõr
grossura, gretamento, rarnosidade e aspereza. Os impor
tantes meios para o reconhecimento da quina d'esta especif
são apontados por menor e com todo o cabimento, por-
quanto ninguém ignora os serviços que ella tem prestado, t
continuara a prestar na cura das enfermidades, para as
quaes é considerada como o primeiro dos remédios. Todas
estas circumstancias augmeolam a importância doestas labo-
riosas pesquiza8,e auxiliam efScazmente a quem entrega-se
por amor ao útil estudo dos seres organizados do reino
vegetal.
O gretamento transversal, a aspereza e escabrosidade são
elementos que distinguem a casca da melhor quina d'ests
espécie ; assim como outros traços tirados da cõr exterior e
interior, qne variam : poUegada e meia para grossura ; uma
linha paraa espessura da parte carnosa;8COOSÍstencia com-
pacta ; o sueco gommoso e resinoso ; aroma bem pronun-
ciado ; fractura da casca; e sabor amargo. A presença do
Dictzedby Google
- 185 —
prioeipio activo fuinttta, no envoltório cellular das qui-
nas, ou cascarilbas comoaschamaTam.quelaotoas recom-
menda pela sua propríeclade aoti-febril, justifica a mi-
nnciosidade que todos observavam do estudo doestas cascas.
Vem em segundo lugar a quina delgada, ou dnehona
temas, que tem as folhas meoores e mais carnosas do que
qualquer das outras. Observa o mesmo melhodo na des-
cripção d'esta espécie, que nio se vulgarizou tanto pela
difiiculdade com que extrabiam a sua casca.
A quina lisa, cinchona glabra, que os kespanhóe» deno-
minavam cascarilho bobo, por lhe faltar d% suas cascas a
e&r exlema e interna, tão communs nas outrai espécies, e
çue habitam em lugares montanhosos^ é tão util á medi-
cina, como qualquer das duas plantas precedentes, embora
alguns contestassem este facto.
Outro tanto não acontece com a quinamorada, cincho-
na purpúrea, como se poderá ver pelo seguinte trecho, que
transcrevemos : c Os cascareíros misturam as cascas doesta
espécie com as das três anteriores, e assim as vendem aos
commerciantes ; pois são mui ratos os que as saibam dis-
tinguir com perfeição ; mas os mesmos cascareiros e peões,
pelo uso e pratica que tdm, as distinguem com muita fa-
cilidade. >
Sem embargo de que estas cascas nío estejam admittí-
daspor si sós no commercio, podem muito bem snpprír a
falta das três antecedentes pela efficacía da sua virtude me-
dicinal, ainda quando os facultativos e droguistas as pre-
ferem ás outras anteriores ; no que se equivocam e não
procedem com a intelligencia que deviam ter n*esta parte ;
pois ainda que a cdr interior, cheiro e sabor, requisitos
principaes doestas cascas, sejam muito bons, é necessário
para aa qualificar de superiores, qoe correspondam seus
TOMO XXXJ, P. II 24
Dictzedby Google
— 186 —
effeiíos depois de ama contiDuada experíeacia ao apreço,
que d'eUa fazem e á superioridade que lhe querem dar. ■
Em todo o caso é um regelai util, e tauto o reconhece,
que o descreve com a mesma minuciosidade, não esca-
paodo-lbe todos os sigoaes distioctivos do envoltório corti-
cal dos melhores iodividuos d'esta espécie.
Segue-se a quina amarella, ànchona Uitetcent (de cuja
descrípçSo também abstrahiremos), e que D'aquella épocha
Dão figurava com igual valor no commercio, sendo
certo que seu extra cto fora applícado com vaolagem no tra-
tamento de certas enfermidades.
A quina pallida, cinchona palescena, prima como a pre-
cedente, pela grandeza das folhas ; mas a sua casca oio
era admittida, o que prova a sua menor importância rela-
tiva. E o respeito da çuina partia, cíncAona^ca, escreveu
o illustre autor : ■ Até hoje não tem uso algum em medi-
cina, nem ainda os iudíos a reconhecem por quina.
I Quando esta arvore está em flor faz uma formosa vista,
pela abundância das suas fiares racemosas, e pela frondo-
sidade de suas folhas. As índias se servem d'aquel[as,
para ornarem as suas imagens e capellas.
t E' perseguida por uma espécie de formigas, a que os
DBluraes chamam tragineiras, isto é carregadeiras ou ar-
rieiras. Do uão que estas fazem das suas folhas se iafere
que ellas terão alguma virtude, que não sabemos. ■
Quaotos beneficios não tem colhido a sociedade do co-
nhecimento d'esta planta, que todos consideram como
maravilhosa nas applicações therapenticas ? Como osta
existirão muitas outras, de grande utilidade para a huma-
nidade, disseminadas pelo interior das nossas florestas,
que ainda não foram exploradas, e que não serão tão cedo
por ser mui limitado o numero de pessoas que não duvi-
Dictzedby Google
— 187 -
dam sacrificar-se pelo estudo dos productos do nosso fortíl
e extenso território.
A parte menos completa doeste trabalho é a que se refere
á aaaijse cbimiea da quina; por isso que, pelos conbeci-
menles que tinham da analyse, que depois aperfeiçoou-se
d'um modo admirável, apenas puderam determinara exis>
tencia d'algumss substancias, que foram encontradas nos
licores que restaram d'6lgumas experiências pretimioares,
e em que se fizeram as decocções.
Quem recorrer á cbimiea orgânica de Justus Liebig,
volume S°, pagina 575 e seguintes, ficará sciente do quanto
se sabe a respeito do alcalóide quinina, sdbre o estudo do
qual não encontramos uma única palavra na obra que pre<
sentemente díscatimos. Esta aponta simplesmente a mu-
cilagem, muriato calcareo, magnesia, greda, acido gallico,
potassa e ferro, como princípios dos licores que analy'
saram. Jfustus Liebíg começa dando a composição da qui-
nina C." H." N.^ O.', isto, é a natureza dos componentes,
carbono, hjdrogenio, azoto e oxigénio, e as proporções
em que elles sa unem para formar o composto quaternário
conhecido por qmnina. Expõe o processo que se deve
seguir para obtél-a, a sua crystallização, os meios para se
reconhecer si uma especía do quina poderá fornecer uma
maior ou menor dose do principio activo, por ser lacto
sabido que algumas apenas a contém em tão pequena
quantidade que não vale a pena ser extrahida ; meio de
separar-sa o alcalóide do acido, com o qual pôde estar
combinado, assim como com uma matéria corante de cdr
vermelha; acção dos alcalis mineraes sabre ella, como se
comporta peta acção do calor e d'agua, suas propriedades
(undamentaes ; acções dos ácidos sulfúrico e nítrico, da
potassa e do álcool, propriedades dos saes de quinina, e
meios de obtel-os, hydrochiorato de quinina, chlorato.
ídbyGodgíi^
— 188 —
hydriodalo, iodatOi sulfato, byposulfato, pbosphato, oxslato
básico, tartratos, citrato, ferro-cyanbydralo, acetato, gal-
lalo e qainato da quiaioa.
Deseavolver ídéas Ião importantes seria repetir o que
Liebig explica com proficiência na sua obra citada. Bastam
estes apontamentos para que se confronte o estado de
adiantamento d'estes conhecimentos com os que existiam
na épocba em que os principies activos das plantas medi-
cinaes jaziam, pela maior parte, na mais absoluta obscu-
ridade. Assim como os antigos gregos consideravam como
pernioiosai todas as plantas, que hoje em lugar de matar
curam, também, mas com menos ignorância, os homens
do fim do século passado souberam das virtudes parti-
culares de certos vegetaes d'um modo puramente empy-
rico, levando-se unicamente por um certo numero de
tentatÍTas, sem indagar scientificamente quaes os corpos
que communicam tão maravilhosas propriedades As plantas
que os contam.
Estas redexões nos foram suf^erldas pelo desejo ardente
e sincero de sermos exacto na apreciação d' este trabalho
succulento, exaltando as suas boas qualidades, e apresen-
tando algumas lacunas que, em grande parte, provém do
estado menos perfeito das sciencias, que elles cultivaram.
O adiantamento diurna sciencia não deixa os traços mais
profundos da sua marcha progressiva senão no decorrer
dos séculos ; e percebe-se o seu maior ou menor estado
de perfeição recorrendo-se á historia, que nos attesta
todas as phases de seu desenvolvimento e os inlervallos
de tempo que as separam. Os nossos vindouros farão o
mesmo raciocínio quando quiserem compenelrar-se do
estado actual dos nossos conhecimentos, comparsudo-os
com os que possuírem sobre qualquer dos productos
creados pela íntellígencia superior que nos dirige.
Dictzedby Google
— 189 —
Voltemos á qaíoographia do nosso illustre compatriota,
e vejamos outros elementos que ella coDtém, e dos qaaes
aioda não dos occupámos.
Tudo quanto falta-nos mencionar consiste ainda na
descripção d'outras espécies de quinas, exaltação das pro-
priedades d'BqueUa8 que as possuem, os lugares d'onde
foram tiradas, traços exteriores que as distinguem, e apon-
tamentos sdbre os seus usos. Ãs quina» colorada ou ver-
melha, a quina da Jamaica, e de Santa Luxia ou quina
pitou, completam a primeira parte d'esta memoria ; so-
bresahindo a ultima, que o autor reconhece coara ums
verdadeira quina, depois de examinar os caracteres dis-
tinclivos dos principaes órgãos ; e também como uti) á
medicina pelos resuUados que alguns colheram da analyse
da casca, e das curas que obtiveram. Não daremos asta
analyse em sua íntegra por julgarmos desnecessário; mas
convém saber que por ella concluíram que a agua, fria ou
aquecida, basta para extrabir os principios activos; qae
existe um principio adstringente nas camadas corticaes ;
existência de aroma, ausência de matéria salina e Terru-
gínea. E dos sem usos como remédio concluem que é
purgativo, que sua acção é prompta, útil nas febres inter-
mittentes, etc.
Muitas memorias encontramos a respeito da quina de
Santa Luzia, e por ellas passaremos sem observação alguma,
assim como sAbre outras espécies do género cíncbona,
conhecidas por quinas espmhotas de Santa Fé, alaran
jada, pmujenta, rAxa e branca, que nio occupam, pela
maior parte, um lugar tão distíncto como as precedentes.
N'este numero incluiremos também as quinas de folha
estreita, corimbeira, quina real, de Surinaro, de três
Qdres, sobre florida, de pequeno fnicto.
Ao todo 33'especies, muitas das quaes merecem menção
Dictzedby Google
— 190 —
especial por sens notáveis attríbutos, e pelo immeDso
aaiílio qoe t£m prestado á therapeutica como remédios
efficazes eootra a permanência de certas enfermidades.
Estas sio as quinas chamadas, por Yelloso, verdadeiras,
para distiagaír de outras plantas conhecidas, «té certo
tempo, peto mesmo nome, e que hoje são designadas por
falsas quinas, como a carqueija do Brasil, planta resinosa
e medicinal; a guinado Píaoh; ou quina ciregeira, envia-
da para a cArte de Lisboa por ordem do rei o Snr. D. João VI;
e outra que habitava em toda a costa do Brasil, e cuja
casca (Ara applicada contra as sezões, na provincia de
Pemambaoo; e a quina d«camamú, que foi remettida pelo
governo da Bahia, e mtregue em Lisboa no musâo do
Real Jardim d'Ajuda. As quinas do campo também são
plantas anti-febris. (Slrychnos pseudo-quina) ; solanum
pseudo-quina ; exostemmas; evodia.
A ultima parte d'esle trabalho, de tão alto merecimento,
consiste na indicação do meio pelo qual se deve certificar
do bom estado da planta, cuja casca tem de ser destacada
para os usos convenientes. Apresenta a cAr roxa, que
adquire o interior doeste envoltório quando praticam-se in-
cisões nos ramos e no caule, como indicio certo de que o
principio adstringente e os suecos gommoso e resinoso
estio completamente formados. Quando não se satisfaz a
esta condição, todos os requisitos citados anteriormente
deixam de existir, ou não se patenleam do mesmo modo.
Todas as outras considerações referem-se aos processos e
instrumentos necessários para obter-se a parte da planta
que preenche o fim humanitário em que já falíamos.
Eis, em substancia, um dos fructos dos constantes tra-
balhos de Pr. Velloso. Sempre prompto a obedecer aos
dictames do espírito nimiamente patriótico do seu pro<
tecior S. A. Real, procurou reunir todos os trabalhos par-
Dictzedby Google
— 191 —
cises reUtiTOi i esta planta maraTÍlhoM, cujos bene&cios
tio reconhecidos e atlestadoa pelos cultores das scieucias
medicas.
Weddell,oaotor moderuoda historia natural das quinas,
OD da monograpbia do género cinehona, resultado das suas
excursões pelo território daimerica do Sul, em um raio
de latitude de S9* (extensão geographica das verdadeiras
cincbonas), exclue algumas espécies estabelecidas a men-
cionadas por Telloso, e as substituo por outras que oc-
cupam hoje o primeiro lugar na extensa lista das plantas
doeste género de rubisceas. A einehona caliiaya, e a es-
pécie congénere C. condamínea, são as mais importantes,
segundo o pensamento de Weddell, e constituem a princi-
pal riqueza de exportação dos terrenos de algumas repu-
blicas do Pacífico. & sua cultura nas colónias neerlandesas
e nas Índias inglezas é boje um facto consummado, que
deveria 'ser imitado, e em grande escala,no território brasi-
leiro, para que possamos enviar um dia ao commereio do
estrangeiro esta immensa riqueza tberapeutica.
Valioso reconheceu a importância das quinas. Weddell
ordenou o seu estudo botânico, alterou-o, amplificou-o.
St. Hilaire transmiltiu aos europfios alguns substitutivos
anti-febrís, dos terrenos do Brasil, laes como, a guina
do campo, a larangeira do maio (evodía febrífuga], o so-
lanum pamdo quina, e outras, sAbre as quaes deve reca-
hira altenção dos médicos.
CAPITULO IX
Os serviços prestados pelo nosso conspícuo compatriota
com a iraducção do Compendio sobre a Canna, do medico
francez Dulrone, foram recahir sobre a lavoura, que ainda
luta hoje com todos os inconvenientes da rotina.
DictzedbyGoOgtS
— 192 —
Attendamos ao uliíino paragrapho d« sua dedintoria ao
Priocipe R^nte :
■ Mas eu devo confessar juoto ao throoo de V. A.
Real, que, apezar da imperfeição da minha traducção,
tem sido tal o effflito das soberanas e efficazes ordens de
V. A.. Real, que os povos do Brasil se tém acoro-
çoado a grandes reformas oas suas praticas ruraes. Os Ta-
brícantes de assacar I4m melhorado as saas moendas, e
fornalhas por toda a soa marinha, e a sua notória utilidade
acabará a obra. Si eu. Senhor, tenho recebido cartas de
pessoas, que me são desconhecidas, de agradecimento,
sendo d'isto um instrumento meramente passivo, quaoto
ntodeve ser a obrigação para com V. A. Real, á cuja
illuminada providencia tudo se deve t ■
Basta lèr-se um parecer da Academia Real das Sciencias
com data de Si de Maio de 1788, assignado por Darcet,
Fougeroui deBouderoy, e Bertholet de Fourcroy, assini
como o decreto da faculdade de medicina na Universidade
de Paris, para preparar o espirito de modo a receber as
impressões agradáveis de um livro tão interessante, que os
homens mais entendidos rscommendavara a sua leitura, e
a realização das idéas nVIe indicadas com esmero e pro-
ficiência.
O primeiro capitulo é consagrado á historia minuciosa
da canna e do assucar ; reconhece as índias Orientaes
como sua pátria; a sua cultura pelos chins, egypcios,
phenicios, e por outros povos que com ella commercia-
vam ; e outras muitas circumstanclas que esclarecem a sua
disseminação por differentes pontos do globo, com a ex-
posição dss pessoas que, desde épochas bem remotas,
coDlribuiram para qu» ella se divulgasse e Tosse conhecida
dos habitantes de outras parles do mundo, que ainda nSo
tinham aproveitado do seu beneficio.
Dictizedby Google
£' uma fonte rica de coabecirnsiitos históricos, a que
de?e-se recorrer, com certeza de BproYeitamento e utili-
dade.
Lembra-D03 uma idéa quenno eacontramos oa exposi-
ção que elle fez do caule da caona, seus nós, entrenós,
folhas, reproducçío por estaca, raízes, etc. Anaiysaado a
casca nada diz sobre a existência da silica, que também é
commum em outras gramíneas, e que por ser iafuslvel é a
uDÍca causa de não alterar-se ptofundamente qualquer
doestas cascas depois de uma forte calcinação : a sua forma
primitiva subsiste. N3o podendo penetrar pelas raizes de
qualquer vegetal senão os princípios cbímicos que se po-
derem dissolver completamente n'agua que os tem de con-
duzir, devemos concluir da presença da sílica no interior
das plantas que ella é solúvel, no quo muitos nno acredi-
tavam até certo tempo.
Os nós do um colmo tãm uma tal ou qual importância
na physiologia das plantas ; bnstn considerar-se que, sendo
elles o resultado de incruslnções miiieraos, produzem a
estagnação de uma parte da seiva, que tem de circular por
todo o vegetal a fim de nulril-o convenientemenle.e por este
facto os gomoaosque ahi se formam vão nulríndo-se á custa
doeste deposito de alimento, até que as necessidades da
planta os obriguem a expandír-se em ramos e folhas, ou,
como na canna, em um novo colmo contendo a todos os
órgãos superiores, quando se introduz na terra um frag-
mento do mesmo caule.
Estas duns observações escaparam á dissertação de Du-
trone. Convém agora estabelecer com a maior clareza po»-
sível uma proposição por elle enunciada e de algum
modo desenvolvida, que no estado actual dos nossos co-
nhecimentos deve ser qualificada da inexacta, porque fere
TOHO XXXI, P. II 25
Dictzedby Google
oa prÍDcipios fundamenUes da chimica agrícola e uma
das bases da physiología vegetal.
Procuremos ser exacto na aprecia{4o que fizermos. Vel-
toso, D'esta traducção, yaleodo-se das experiências de Du-
hamel e Bayle, nega que a terra intervenha com os elemen-
tos que a compõem, na vida das plantas, a não ser con-
servando e cvdendo a agua ao poder absorvente das raízes,
a qual penetra no vegetal sem conduzir nenhum dos cor-
pos componentes do terreno, que supporta o mesmo vege-
tal. Qual o fundamento para tal opinião? Exp6l-o-hemos
em breves palavras.
Bayle seccou uma porção de terra vegetal, e fez germi-
nar algumas sementes de uma planta das cucurbitaceas ;
pezou-a depois do crescimento da planta, e não achou que
ella tivesse diminuído.
Duhamel fez germinar em esponjas ensopadas semen-
tes do castanheiro e amendoeira, e obteve individues que
fizeram progressos tão grandes nos primeiros annos,como
se tivessem sido ereados em ferra. Um carvaUta subsistiu
por oito annos. PPesta idade tinha de quatro a cinco ramoi
que sahiam de uma haslea de dezenove linhas de circumfe-
rencia e de dezoito pollegadas de altura, O lenho e a casca
estavam bem formados, e todos os annos se cobriam de
bellas folhas. Estas pequenas arvores, submettidasa ana-
lyse, deram os mesmos productos que outras pequenas ar^
vores da mesma idade,e da mssma espécie que foram erea-
dos comparativamente em pura terra.
1* OBJECÇÃO.— Nos numerosos estabelecimentos agrí-
colas de Campos foi sempre cultivada, e com vantagem, a
canna de Cayenna, de preferencia á canna râxa, porque
aquella continha muito maiorquantidade de matéria sac-
charina. Mas hoje qual é o lavrador que não apressa-se om
substituir a primeira pela segunda, convencido da ínuttU-
Dictzedby Google
dade da que oulr'ora era a fonie uaica do assucar pop
ellos exportado 7 Qual a explicação d'este facto ? Os terre-
nos em que ella foi cultivada ficaram exhaustos porque
tiveram de ceder, por muitos annos consecutivos, os pria-
cipios chimícos indispensáveis ao crescimento da canoa
cayanna. Por perdas pwciaes, durante muitos annos, tor-
nou-se impróprio paraa cullara doesta planta ; e a agricul-
Xura, n'este bello torrão da província do Rio de Janeiro,
não seria mais uma realidade, si os lavradores nâo tives-
sem lançado mão da canna rôiji, que pôde viver no mesmo
terreno, á custa dos elementos que nSo foram utilizados
pelo outro vegetal. Mas, si os processos para a fertilização
do solo, nâo forem por elles aproveitados, tempo virá em
que o mesmo terreno tornar-se-ha completamente estéril
para esta ultima, como já o ó para a primeira.
3* OBJECÇÃO. — Em consequência de perniciosa rotina
dos nossos fazendeiros, desde que um terreno não se
presta mnisá cultura de uma planta, elles o abandonam
por algum tempo, convencidos de que poderá adquirir a
sua primitiva fertilidade, após um descanso de quatro ou
cinco ou mais annos. Qual será a explicação scientifíca
d'esle facto ? As rochas existentes no terreno vâo desaggre-
gando-seedecompondo-se soba influencia da humidade
e dos agentes atmospliGricos, e as matérias que resultam
dissolvem-se na agua, e são transportadas para differontes
pontos do terreno eihauslo, enriquecendo-o, e sanando
assim asfaltas produzidas pelas successivas culturas de um
mesmo vegetal. A planta que não pódpmais viver no pró-
prio terreno, em que por muitos annos deseovolveu-se
com todo o vigor, e que após o lapso de tempo em que
tém lugar as acções cbímicas que citamos, continua a
prosperar no mesmo solo por ella exhaurido, não attesta do
modo o mais evidente que a sua conservação e o seu cres-
Dictzedby Google
_ 196 —
«moito dependem em paile dos elementos de que elle se
compõe?
3' OBJECçiLo. — CalcÍDando-sa a raiz, o lenho, a casca,
os ramos e as folhas, emRm qualquer órgão de uma plaala,
despreodem-se acido carbónico, vapor d'8gua e outros
gazes, obtem-se um excesso de carvão que oão se volatili-
zou, e ciuus que são íormadas exclusivamente por princí-
pios mineraes.
Aconselham os homens de sciencia, como elementos
fertilizadores, não só as partes da planla de mais fácil de-
composição, como principalmente as cinzas, porque estas
restituem ao teneno os saes que lhe foram roubados pela
propria planta, que tem de ser novamente cultivada.
4' OBJECÇÃO. — Os homens práticos sabem perfeita-
mente que uma terra que se tornou estéril para um vegetal
é muito adequada á vida de outros, que elles procuram
cultivar, obtendo vantajosos resultados. Este facto, que a
sciencia prevft, e que a pratica conQrma, prova exube-
rantemente que em um mesmo terreno existem diversos ele-
meatos, os quaes não são absorvidos por uma mesma
planta ; os que convém a uma podem não servir a outra;
no primeiro caso penetram em dissolução na seiva, e no
segundo são abandonados, e íicam como elementos de
fertilidade para outra qualquer planta que d'elles necessita.
5* OBJECÇÃO. — Nas plantas que vegetam nas proximi-
dades do mar, a aualyse chimíca accusa geralmente uma
dose mais ou menos avultada de chiorureto de sódio ; e
nas que vivem em pontos longínquos da custa, encontra-se
ausência de saes de sodia e mais abundância de saes de
potassa.
A primpira não poderá viver no terreno em que a se-
gunda deseovolver-se, nem esta na da primeira, ó isto
exacto para alguns vegeíaes. A vida de cada uma (festas
DictizedbyGoOJ^IC
— IW —
plantas oio eslará em relação immediata com os compos-
tos cbimicos que coosUtuem a differeoça fundamental dos
dois terreoos, i custa dos quaes ellas alimentaiam-se ?
6' oBJBCçiLo. — D'oQde tiram as plantas o acido carbó-
nico para a sua subsistência e deseoTolTÍmeoto ? Nfto é
somente da atmosphera pela influencia da luz. Todos os
carbonatos que penetram no vegetal,conduzldos pela agua,
cedem o seu acido carbónico, que é decomposto nas fo-
lhas pela influencia do mesmo agente. As matérias orgâni-
cas, que accumulam-se na terra, a que tanto a fertilizam
pela acção do oxj^genío do ar, que pôde banhar as raizes,
quando o terreno é fdfo.se pulrefazem, e o acido carbónico
é um dos productos d'esta acção chimica. Estes priocipios
são arrancados do solo pelos fibras radicaes.
7* oBJECç\o. — À caseína tem por elementos componen-
tes : o oiygenio, hydrogenio, azoto, carbono e enxofre; a
fibiina : os quatro primeiros, com uma molécula de en-
xofre e uma de pbosphoro; e a albumina, além dos qua-
tro primeiros metalloides, duas de enxofre e uma de pbos-
phoro. Estes Ires corpos são encontrados nos v^taes, e
não se poderiam formar si a seira não contivesse sulfatos
e phosphatos em dissolução.
8* OBJECçJlo. — E* um facto averiguado que certas plan-
tas particulares de um terreno não vivem, ou vivem di0i-
cilmenteem outro de composição diversa.
Seria ocioso mostrar com mais alguns aqumentos o
quanto tem de inexacta a proposição de que se fez patrono
Fr. Velloso, embora procure elle apadrinhal-a com as ex-
periências de Ba;le e Dubamel, que nío (Am o valor que
elle Ibes quer dar. A agua chimtcamenie pura convirá á
vida da planta 7 De certo que não. Outra qualquer agua
lem certos principies em dissolução em maior ou menor
dose que foram tirados do solo, e estes são aproveitados
ídbyCoO'
N
— 198 -
pelas plantas qae os recebem no interior de seas o^os.
As substancias minoraes facilitam as reecções que operam-
se oo organismo dos vegetaes : s2o, pois, necessários e abi
sio sempre encontrados ; e si ama planta pôde viver, se-
gando as experiências de Duhamel, & custa da agua embe-
bida em uma esponja, é porque este liquida continha,
certamente em menor quantidade, muitos dos elementos
que teria de encontrar no terreno que conviesse a soa
cultura. Si porventura alguns factos nos fossem apresen-
tados como provas irrecusáveis de que uma ou duas plan-
tas poderiam viver com os elementos fornecidos pelo ar
e á casta de uma seiva de composição extremamente sim-
ples, não duvidaríamos acei(al-os como verdadeiros, mas
com a intima convicção da sua excepcionalidade, ede que,
se fossem cultivadas em outras círcumstancias mais favorá-
veis, como em um terreno naturalmente fértil, ou prepa-
rado segundo os processos que a sciencia ensina, apresen-
tariam outro vigor, mais probabilidades de longa existên-
cia, e as suas propriedades muito mais pronunciadas. Não
si deve estabelecer como regra geral o que não passa de
uma má interpretação dos factos.
Apresento um argumento que tem applicaçSo : o calor
exerce uma íafluencia directa na formação das resinas, dos
suecos lacleceotese dos princípios voláteis, mas si estas
plantas forem cultivadas ao abrigo da acção directa dos raios
solares em lugares sombrios formar-se-bão sempre os
mesmos suecos, porém em menor quantidade.
Na zona temperada, por exemplo, em Europa, onde a
temperaturaé muito mais benigna, onde sente-se um io-
verno rigoroso, também existem plantas resinosas e lac-
tescenles. Dever-se-ha concluir por estes dois factos que
ocaloraãoBugmeata a secrepíod^ertas substancias ?
Conlentaroo-nos com estas reflexões, que bastam paro o
Dictzedby Google
— IW —
ascUrecimeolo do aosso peasamento. Vejamos outras iàéàs
imporltiQtes de Dulrone, ioterpreUdas pelo coospicoo
Velloso.
Em uma serie de capítulos occupa -se ds estruclura ana-
tomica docolmodacsona, o aumero de vasos qae como
orf^s traosmissores leram o sueco absorvido pelas fibras
radicacs a todas as partes da planta, para nutril-as depois
de coDveDJentementA elaboradas nas foibas, caracteres
(I'este sueco depois de purificado, as modificações que
soffre no interior do vegetal, acções de diveisos ageates
sdbre o sueco exprimido, incluindo o calor, os alcalis, o ar,
o álcool, os ácidos, etc, fermentação acida e espirituosa
e outras considerações de grande interesse, que não de-
vem ser mencionadas, porque o estudo da canoa se tem
divulgado, e poucos ignoram as circumstaaciss que accom-
{Mobam as diversas manipulações exigidas para a extrac-
ção do assucar.
Os diversos compartimentos de um ongenho, a passagem
da canna petas moendas, o seu transporte desde os canna-
viaes até aos engenhos, o numero de cylindros de ferro
fundido necessários para expremer a canna, a utilidade e
o estado cm que sabe o bagaço, a c^sa que Ibe serve de
deposito,o movimento ds sueco d'esta plsnta até os reserva-
tórios em que tem de ser purificado, e os motores empre-
gados n'aquelle tempo, são mencionados com exactidãoe
clareza.
Se 83 descobertas de Papin, Seguin, Savart, Jouffroy,
Fulton e Watt tivessem apparecido D'Bquellaépocha com o
gráo de importância que todos apressam-se em reconhecer
na actualidade, a obra habilmente escripta por Fr. Velloso
ainda nos poderia ser hoje útil, como o fAra nos tempos
coloniaes ; mas com a introducção das macbinasa vapor
nas diversas industrias, e com o seu rápido aperfeiçoa-
DictizedbyGoOgle .
nenio, cadaesram em maiios dos nossos eslabelecimen-
t09 Bgricolas os antigos o imperfeitos processos para o
esmagamento da canna, os quaes sSo apontados na obra
de que nos occnpamos.
As macbioas a vapor foram creadas com o flm de faci-
litar o esgoto das minas, que podiam coater uma tal
quantidade d'agua,que servisse de forte obstáculo á eiplo-
raçlo e utilização das suas riquezas raiaeraes. A primeira
machina que se construiu apenas serviu para dar uma
idáa approximada do etfeito produzido pela fArça elástica
do vaper d'agua. (Jm simples embolo contido em um
cilindro, e cujo movimento ascendente era determinado
peta acçio do vapor d'agua sobre a sua face inferior ; para
a descida do embolo afastava-se a origem csloriflca afim
de obler-se a condensaçno do próprio vapor, que imprimira
o primeiro impulso. Repetindo-se sempre este processo,
obtínba-se, com uma lentidão extrema, o movimento da
macbina, que só preonchiu o fim da sua creação d'um
modo assis imperfeito. Savart tomou este movimento
menos lento, fazendo injecções d'agua fria sdbre o vapor
formado com inlermittencia para o levantamento do embolo.
Walt coltocou um peso na extremidade opposta do balan-
cim. fazendo desapparecer, em parte, o grande incoa-
venienle doestas macbínas a simples elTeilo; inventou as
de duplo effeito, -pie differem das primeiras em que o
vapor actua alternadamente em ambas as faces do embolo;
introduziu diversos melhoramentos, entre os quaes cita-
remos o moderador & força centrífuga. Vieram as machinas
de alta pressfto (quando as precedentes eram de baixa
pressfio ou munidas de condensadores para o vapor que
sabia do cylíadro), que têm a imm ensa vantagem de occu-
par menos espaço, e de serem mais poderosas nos seus
efTeilos. De aperfeiçoamento em aperfe içoamento, surgiram
Dictzedby Google
— 201 —
o sjstema HsucIsIb;, no qual o volaote executa muito
maior aumero de circumvoluções, porque o niovimento da
arvore é produzido por duas manivellas; o systema Fleau
é modernissimo, d'um« fôrça cousideraTel, com o cylindro
horizontal, e com dimensões notavelmente pequenas.
Que immenso impulso para a nossa agricultura ! Reflec-
lindo-se maduramente, e ohservando-se com attenç8o os
progressos, embora lenlos, da lavoura no Brasil é que nos
podemos compenetrar do atrazo da agricultura na époctia
em que viveu o botânico Velloso. Cita, para as colónias
inglezas, o ar como motor; a agua, para outros estabele-
cimentos; e as fastidiosas almanjarras, movidas por ani-
mães, como as mais usadas oa generalizadas ! Infelizmente
ainda temos encontrado este ultimo systema em algumas
fazendas; mas este facto pôde ser explicado ou porque os
seus donos nâo são muito favorecidos da fortuna, ou pela
perniciosa rotina que os ha deaccompaahar até a sepultura.
Em compensação, muitos outros procuram introduzir os
melhoramentos que a intelligencia humana tem descoberto
nas suas constantes peregrinações pelo caminho que nos
conduz ás verdades úteis. Abandonaram, a maior parte, o
antigo systemn, que foi substituído pelas grandes rodas
movidas pela agua, ou por três ou quatro animaes collo-
cados no seu interior; experimentaram as machinas a
vapor de Watt, começando pelas de du;^-l'o efleito a baixa
pressão, e hoje trabalham com as de duplo effeito a alta
pressão, com todos os meios de segurança e melhora-
mentos que a sciencia aconselha. Tempo virá em que esta
revolução se estenda a todos os grandes estabelecimentos
agrícolas do Brasil.
Velloso aconselha que se utilize o bagaço da cnnna
como combustível.
Hoje, os nossos lavradores que não possuem muitas
TONO XXXI P, II 36
Dictzedby Google
nulas, que lhas forneçam a lenha necessária para o con-
sumo diário, lançam mão do primeiro combustível, não
só no aquecimento d^agua das caldeiras das macbinas,
como lambem para os bangués. A sciencia vai mais longe:
indica que do bagaço da canna pôde o lavrador eilrahir
um gaz, o carbureto de hydrogenio, que servirá para a
illuminação do seu estabelecimento. SAbre este ultimo
facto apenas diremos que auxiliámos ao illustre Dr. Paula
Cândido, de saudosa memoria, nas suas experiendas, e
que 03 resultados não corresponderam á nossa eipeclativa ;
a pouca intensidade da chamma que obtivemos nos fez
appeltar para aovas experiências, que infelizmente não se
repetiram pela fatal resolução que o levou longe da pdtria,
que nunca mais tornou a vér.
Vejamos si o trabalbo de Dutrone ainda nos proporciona
um meio pelo qual possamos perceber o adiantamento dos
tempos que correm, volvendo os olbos pêra o passado.
As phases pelas quaes passa o caldo da canna até o
ponto em que o assucar crystalliza-se são apontadas como
as que aindn buje observamos; mas com a invenção das
turbinas, que vSo-se vulgarizando, a separação do assucar
é muito mais rapída, e não exige o longo e prejudicial pro-
cesso das formas de madeira ou de argilla. O emprego
d'osta3 é baseado no principio de Vauquelin de que a
agua dissolvendo, até a saturação, qualquer corpo não po-
derá exercer a sua acção dissolvente senão sobre os outros
principios eslranbos que estiverem em mistura com o pri-
meiro. Collocando-se pois uma camada de barro, pre-
viamente humedecido, sdbre os vasos em que o assucar tem
de cr;stallizar-se, a agua ir-se-ha impregnando de assucar
até saturar-se completamente, ponto em que começará
a sua acção sfibre os corpos estranhos. A primeira pro-
priedade toma a ser adquirida depois de segunda acção
Dictzedby Google
— 203 —
dissolvente, o que augmeota o prejuízo da malería saccha-
rÍQa ecD cada vaso. Além doeste íDcoDvenieDte, aponta-
remos o do loogo tempo que é necessário esperar, e o da
necessidade rigorosa de conslruir-se em cada engenho um
grande teodal que o emprôgo das turbinas dispensa. M'es-
tas oblem-se, por um simples .movimento gyratorio com-
municado pela mesma machiaa que produz o movimento
ás moendas, 14 kilogrammas d'assucar por minuto, sem o
emprego da argilla humedecida, e a sua cAr depende da
maior ou menor quantidade de álcool que se introduz oa
turbina. E em que principio se basâa esta ultima? Tão
somente na ÍArça centrifuga ; as moléculas de assucar de-
posilam-se na parede interna do cylindro interior da
turbina, passando a parte liquida pelos intervallos das
malhas da rede de que se compõe o cylindro de menor
diâmetro. Estes melhoramentos, que já vão sendo utili-
zados no Brasil, fazem com que a obra por nós analysada,
e que devemos a Velloso, não seja tão considerada como
o fora ao principio d'este seculo; porquanto Q'este tempo
ainda estavam para ser concebidas muitas idéas que vie-
ram servir de grandes beneGcios á agricultura no Brasil.
Façamos entretanto justiça ao seu merecimento. Em rela-
çãti aos conhecimentos d'aquella épocba.a obra que Velloso
nos fez coahecida encerra um grande cabedal de idéas
mui aproveitáveis, quer debaixo do ponto de vista histórico,
quer sAbre a anatomia e pb}'siologia da canna, e principal-
mcDle no que diz respeito á sua cultura, e minuciosas
informações relativas aos estabelecimentos que a cultivam,
e aos processos que devem ser empregados para extracção
do caldo e preparação do assucar. Não deixaremos de
mencionar outros pontos bem importantes, para que não
fique totalmente incompleto este esboço d'uma producção
tão succulenta. Com aquella certeza que distingue os espi-
Dictzedby Google
— 204 —
ritos pensadores e profundos, Telloso atirava-se sdbre os
trabalhos dos quaes pudesse colhei alguma lui para si, e
utilidade para o seu paiz, no que foi sempre auiiliado,
senão impellido pelas vistas allamente patrióticas de quem
lhe prodigalizara tão grande somma de beneficies, como
lesteinunhos de estima e pouco vulgar coasíderação. Em
todos os outros trabalhos que formos analisando acha-
remos a confirmação mais exacta do pensamento que lemos
enunciado.
Faz ligeiras considerações sAbre a fermentação e distil-
lação do mel, producçio de aguardente, e passa a histo-
riar os meios empregados nas colónias francesas para a
extracção do assucar, emprego dos alcalis na purificação
do caldo, como prova da existência de um acido n^este
liquido, sua neutralização, natureza das caldeiras, seus in-
convenientes.
Não são menos importantes os dados fornecidos sAbre a
maior ou menor pureza do assucar, conforme a dose de
matérias terrosasefeculentas que encerra;a separação d'es-
tas pela seção do calor e pela ca],potassa etc, acção das es-
cumadeiras, e emprét;o mais vantajoso das caldeiras de
cobre. Todas as outras particularidades d'esta industria
não escaparam ao seu espirito investigador, e são tão co-
nhecidas na actualidade que tomar-nos-hiamos fastidioso
si consagrássemos mais algumas linhas ã enumeração
d'ellas. Alguns princípios da chimica são apontados como
auxiliares.
Resta-nos incluir a parte que trata das propriedades do
assucar, e apresentar algumas refiexões sAbre o linal do
trabalho que analisamos, as relativas a diversas considera-
ções sobre as fazendas das colónias da America.
Quanto ás primeiras, resumem-se na acção do assucar
sdbre o paladar.diversos grãos de sabor, segundo o seu es-
/
D,i.,.db, Google
— 205 —
tado de pureza, aphosphorescencia, facilidadede queimar,
producção do acido oxalicu pela acção do acido azolíco,
sua alteração, em dissolução na agua distillada, pelo cod-
taclo do calor; influeacia de um alcali; separação de uma
substancia glutiaosa, que dá, pela dessecação e disliliaçâo,
o ammoniaco, quando abandona-se o sueco extrahido da
canna; emprego do assucar nos remédios, enos alimentos,
o que o eleva ao nível dos productos vegetaes mais estima-
dos e úteis.
Além d'estes resultados, que a chimica orgânica hoje
confirma, existem muitos outros devidos aos fructiferos
trabalhos de Liebige de outros cbimícos Dão menos cele-
bres do nosso século, que abrangem uma somma pioduc-
liva de conhecimentos que illustram o importante estudo
da canna , saccharum officinarum, e das espécies do
mesmo género, S. violaceumB S. sinense. Justus Liebig e
outras ootabilidades levaram ainda mais longe as suas
indagações relativas a este producto : não só estudaram o
assucar contido na seiva da canna, debaixo de lodos os
pontos de vista, como também estenderam a sua analj^se
ao assucar contido aos órgãos de outros vegetaes, e escre-
veram sAbre a diversidade da composição ; depois por
uma aualyse quantitativa e por um serie de experiências
reconhecer ara as difíerenças nas suas propriedades. O os-
sucar chamado de resina e que forma-se nos fructos das
parreiras ou uvas, vitis vinifera, não gosa dos mesmos
predicados que o da canna, e a sua composiçSo varia
quanto ás porporções dos elementos que entram na com-
binação, e o mesmo poderemos dizer a respeito do pro-
ducto sacchariao da niz á&beltavulgaris dos fructos na
épocha do seu completo amadurecimento, e do assucar
queencontra-se nas intumescências das plantas que tém
raizes toberosas.
Dictzedby Google
- 206 -
Faltoo ao celebre naturalista o completar o seu trabalho
com o estudo botaoico das espécies do género aacefuvnun.
Segundo os conhecimentos que possuímos existem somente
três especíces d' este género :
Saccbarum officinarum Catma eayenna.
S. Yiolaceum Ccmna roxa.
S. Sinense Cannacreôla.
Com um grande numero de variedades, para cada uma
das quaes existe um nome vulgar.
aPITULO X
Em 1800, um anno antes da publicação da precedente
obra, Fr. Velloso imprimiu na typographis cbalcograpbica
e lilteraria do Arco do Cego um extracto sdbre os engenhos
de assucar do Brasil, tirado da obra. Riqueza e opulência
do Brasil, pela qual passaremos rapidamente : muitas idéas
actiam-se consignadas no trabalho, que acabamos da ana-
lisar.
Deparámos no primeiro capitulo com uma apreciação
do pessoal, materiaes e importância dos engenhos d^aquella
épocha. Suppomos que o numero de cento e cíncoeota bra
ços, calculado para os maiores engenhos, não é de uma
exactidão rigorosa ; porquanto muitos houve que possuíram
quinhentos, mil ou mais escravosqueviriara em completa
ociosidade ; os serviços da lavoura não eram tantos, que
exigissem o emprego de todos os braços, de que dispu-
nham. Ainda hoje, que não testemunhamos mais o
escandaloso e anti-humanitario tralico d'estas creaturas in-
felizes, em muitos estabelecimentos agrícolas conta-se o
numero de duzentos, treieiAos e mais.
Facto importante. O autor já lamentava em princípios
d'este século o que hoje presenciamos em larga escala na
Dictzedby Google
— 207 —
Dossa indastria agrícola, e que muito contribue para o seu
atrazoe decadência. O lavrador que tem de lutar com um
sem numero de difficuldades para collocar o seu estabele-
cimento em certo pé, afim de obler algum interesse em
Rompensação do trabalho que emprega, nem sempre o
poderá conseguir sem o auxilio directo de quem lhe for-
neça 03 capitães in dispensáveis ; contrahe uma pequena
divida, da qual nem sempre se desembaraça, porque os
interesses da agricultura são prec arios e estão sujeitos a
muitas circurostancias que não dependem da sua vontade.
O seu compromisso augmeata de valor, pela accumulaçSo
mensal, temestral ou annual dos juros ;' e d'islo resulta
que DO fím de alguns annos o próprio estabelecimento com
todos os matetiaes e escravos não são sufficientes para o
pagamento da divida !
Ainda não é tudo. Muitos dos nossos senhores de enge-
nho não calculam as suas despezas pelo rendimento
annual que d'elle tiram, consomem o producto deuma
colheita ootavol, sem se lembrar de que a do anno se-
guinto poderá ser menor, ou quasi nuUa, o que é verdade
não só para um anno como para muitos consecutivos.
Estes deBcits accumutsdos acabam por arruinal-os comple-
tamente.
No 2* capitulo oiTerece um certo numero de conselhos
para os que t£m de comprar terras ou arrendal-as, meios
de livral-os das falsidades dos vendedores, garantias plenas
nas Iransacçítes, pontualidade nos pagamentos, etc.
Em outras paginas eaconlrãmos os defeitos de que
devem cobibir-se os senbores de engenho, como sejam o
despotismo nas acções, arrogância e soberba para com Os
que d*elies dependem mediata ou immediatameate. Dire-
mos de passagem : seria bom que alguns, que merecem
antes o nome de malfeitores, fossem beber n'e8te livro ss
DictizedbyGoOJ^IC
idéas mortes e DímUmeQte sociaes que d'elle trnnsluzao,
e que são uma lição para os que» ainda em nossos días>
afastam-se dos seus deveres para com os semelbaotes, ^
em relação aos seus subordinado s.
A missão do sacerdote uas fazendas é especificada d'um
modo rigoroso, severo e diguo. Si estes esclarecimentos'
dictados por puros sentimentos religiosos, fossem obser-
fados com o aecessarío escrúpulo, a simples presença d**
sacerdote serviria para prevenir muitos abusos, que uns
praticam por ignorância das obrigações que a religião
ímpfie, e outros por uma tendência para o mal, que só
poderia ser aniqu'^tada por uma educação severa e pro-
veitosa.
Estão igualmente estabelecidas as atlribuições de cada
um dos outros empn^ados, assim como a moralidade que
deve accompanhar a todos os actos, em relação aos seus
inferiores. Procedimento do cbefe no governo da sua casa.
economias a realizar, preceitos a observar pnra com os que
se utilizarem da sua hospitalidade, e com outras pessoas
com as quaes alimenlero relações commerciaes.
Julgamos desnecessário discutir o objecto de cada um
dos outros artigos, porque já foram tratados no outro
trabalho, principalmente o que diz respeito à preparaçSo
do assucar. Contentar-nos-hemos com apresentar ou indi-
car os pontos desenvolvidos, á excepção do capitulo XIX,
que merece ser transcripto.
Escolha do terreno para o plantio da canan, e outros
vegetaes alimenticios ;
Preparação de terra, depois de escolhida, para que a
canna possa deseavolver-se com vantagens; as limpai,
queimadas, etc. ;
Inconvenientes das grandes chuvas ; das séccas prolon-
gadas ; mexes em que a chuva torna-se necessária ; dos
Dictzedby Google
obstáculos, para a canna, da presença de certos vegetaes
e animaes nos caDnav íaes ;
ladicações para o corte da canoa, numero de braços
que devem ser.empregados n^esse serviço, épocha do corte,
distrihaiçlo do serviço pelos escravos de ambos os sexos,
modo de cortar, transporte da canna ;
Descripçâo d'um engeobo, tomando por typo um obser-
vado na província da Babia ;
Modo de moer a canoa ; tempo necessário para moer
uma certa quantidade de caules, perigos das moendas,
numero d^escravos para este trabalho.
Abramos um parentbesis para as interessantes paginas
68.64 e 6S :
« Antes de passar das moendas para as fornalhas e casa
das caldeiras, parece-me necessário dar noticia dos páos
e madeiras, de que se faz a moenda e lodo o mais madei-
ramento do engenho, que no Brasil se pôde fazer com
escolha, por não haver outra parte do mundo tão rica de
páos selectos e fortes; nio se admittindo n'esla fabrica
páo que náo seja de lei, porque a experiência (em mos-
trado ser assim necessário. >
A estas palavras accompanham outras sdbre a dífll-
nição de páos de lei, comprebendendo n'esle numero: a
sapucaia,, o vinhalico, pdo d'arco, pdo brasil, jacarandá,
pdo d'oUo, picai, jetai amarallo, jetai preto, maçaran-
dvba, metsetauba, sapupira,, sapupirit cari, sapupira miritn
e sapupira açú.
Estes nomes de sapupira e massetauba não sfiu mu'
adoptados actualmente; cremos que o autor refere-se á
Dossa sucopira, bowdícbia vírgilioides das leguminosas, e i
mocitayba ou muçutuayba, zolleroia mocitayba, da mesma
familia.
Fallaodo na maçaranduba, aponta a sua applicaçÂo em
TOMO XXXI, P. II 37
Dictzedby Google
frechaes, sobrefrechaes, tesouras, tiranles, espigões, ele.,
coDstrucção dss diversas partes d'iini engenho ; coosídera
as boas qualidades d'esta bella madeira, e iudica os poa-
los do Brasil em que pôde ser encontrada : em toda a
costa do Império e na proviocia da Babia.
Tudo quanto diz é verdade, mas nâo diz tudo, e sem
que nos venha o pensamento de repetir a descripção que
já fizemos d'esla importante arvore, entendemos dever
accrescentar duas palavras. O emprego da madeira é boje
muito mais lato do que o suppunham em épocbe mais re-
mota ; é muito procurada para es construc{ões navaes,
sob a forma de quílba, sobrequilha, vdos e cavilhas ; nas
obras immersas é perdurável, embora existam outras de
maior duração como o jacarandá-tan, ipés, sucopira, ele. ;
em esteios á utilizada frequentemente, e racba com faci-
lidade. Quanto aos lugares em que pôde ser encontrada,
diremos que em muitos outros, que não estão mencio-
nados n'esla obra que analisamos ; por eiemplo : em
muitas florestas por nós percorridas de diversos muni-
cipios da provinda dr> Rio de Janeiro, e em outras pro-
víncias do Norte, pelas informações que temos coibido.
Ha uma tal ou qual deficiência, no mesmo capitulo,
a respeito d'oiitras madeiras, que não podemos passar
por alto desde que assumimos a grave responsabilidade
de emittir o nosso juízo sobre os gloriosos trabalhos do
digno Fr. Velloso.
Mencionando as madeiras e suas applicações, expri-
me-se do seguinte modo :
( Os eixos da moenda se fazem de sapucaia, ou de sapu-
pira cari : a ponta, ou cabo do eixo grande, de páo d'arco,
ou de sapupira ; os dentes dos Ires eixos da moenda, do ro-
deie e dd volandeira são de messetauba. As rodas da agua»
de páo^de arco, ou de sapupira, ou de vinhatico. Os arcos
Dictzedby Google
— 211 —
do rodeie e Tolaadeira, as aspas e contraspas, de sapupíra.
As ri^ens e mais esteios e vigas, de qualquer páo de lei.
Os carros, de sapiipira merim, ou de jetaí, ou de
sapucaia. A calíz, de vitibalico. As candas, de picai,
joairana, jequilibd, utussica e angeli. As cavernas e bra-
dos das barcas, de sapupíra, ou de laudim carvalho,
ou de sapupira merina ; a quilha, de sapupira, ou de
paroba; os forros e costados, de utim, paroba, buraiém,
e unheúba : os mastros, de inheúbataa ; as vergas, de
camassari ; o leme, de averno, ou aogeli ; as curvas, e as
rodas de proa e popa, de sapupira, com seus coraes
mettidos : as varas, de maogue branco ; e os remos, de
lindírana, ou de genipapo. i
K" necessário partir da base, que estes nomes são os
que applicam-se actualmente ás mesmas madeiras, salvo as
alterações na orthographia ; n'este caso, observaremos que
estio muito longe dos verdadeiros nomes iudigenas, que
exprimem sempre qualidades ou propriedades de cada
vegetal.
Si esta dissertação, sobre o emprego das madeiras,
refere-se somente a uma localidade etn que foi observado,
toda e qualquer retleino será mal cabida \ mas, si esten-
der-se aos seus usos geraes, seremos forçados a reconhecer
muito atraso no conhecimento d'estes vegetaes, compa-
rando-os com os dados que possuímos, o que se l&m
utilizado nos diversos ramos da engenharia. Actualmente,
os costados das candas, barcas, lanchas, botes e esca-
leres são de peroba, lapinhoã, ou cedro ; nas grandes
embarcações, são de taboas de peroba vermelha.
I^os engenhos do Brasil as moendas .^são de ferro ,
salvo as de algumas engenhocas, que são de jatobá.
As candas que navegam em nossos rios são, pela maior
parte de peroba branca, oiti-cica, tapinhõa, cedro, gamel-
Dictzedby Google
— 312 —
leira e outras. Lonibraremos aioda outros TOgelaes utiliza
dos na arte naval, e que nlo estfio incluídos na obra de
Fr. Velíoso : o angelina amargoso, angelím pedra, oangtco,
a sucopíra, o pinho da Suocia, a sapucaia e algumas mais.
Outras diflerenças encontramos n'esla succinta exposi-
ção. O nome inhuibatan é uua corrupção igual á de chi-
batao, ubalan, quibalan aderne, da palavra ind^ena
yb-atan, que quer dizer arvore ou páo duro, assim como
paroba em lugar de pernba,que significa casca amaina.
Na lavoura fazem de óleo vermelho os eixos dos carros,
que conduzem o cafó, a canna e outras plantas Q'ella cul-
tivadas, para o en:^enho e armazéns ; os raios d'estas
rodas são deguarubú, que alguns conhecem pelo nome de
roxinho. As rodas dos engenhos são muitas vezes de suco-
pira, de jacaraadA-tan ; os dentes, d' esta ultima. Si pro-
seguissemos n'esta analyse, afastar-nos-hiamos certamente
dos limites em que nos devemos conter, porque leriamos
necessidade de apontar quaes as madeiras que entram na
cODStrucção dos nossos engenhos, também os seus usos
nas construcções civis e navaes. Dar-nos-hemos por satis-
feito, indicando quo uma parte das nossas madeiras estão
classificadas n&o só botanicamente, como segundo os seus
usos nas obras internas, ao ar e immersas. Entre as pri-
meiras ainda escolhem as que servem para caibros, ripas,
tesouras, traves, frechaes, baldrames, barrotes, portas,
portaes, taboas para soalho o forro, caixilhos e rodapés.
Os lavradores já as applicam com algum acerto na cons-
trucção das casas de vivenda, de engenhos, psioes, arma-
zéns, senzalas, pontes e outras dependências. Procuram
certiScar-se da duração de cada uma d^ellas em contacto
com o terreno; e com a agua apressam-se em empregar em
esteios, por exemplo, a SBpncaÍB,a ibirauna, asucopira, os
ipés, e outras de reconhecida capacidade e duração, e
Dictzedby Google
— 213 —
possuem um certo numero de dados práticos, qne muito
auxiliam a quem deseja entregar-se ao estado das nossas
arvores. Esta r^ra soETre algumas excepções, que slo de-
vidas ás vezes á impossibilidade com que lutam na acqui-
siçio de hons materiaes para as suas obras.
Depnis de varias considerações sobre o fabrico do as-
sucar apresenta uma tabeliã dos preços das diversas quali-
dades d'este produclo, qae nno eslí em perfeita harmonia
com o qae se tem estabelecido nos nossos dias, mas que
confirma o jaixo queav.mtãmos sõbte o espirito indagador
e relativo aos serviços prestados pelo nosso compatriota.
Estudou, em diversas obras, os processos para a cultura
da canna, eofferton i sua pátria uma fonte para de co-
nhecimentos proveitosos para aquella épocha, em que a
nossa agricultura começava a desenvolver-se.
CAPITULO XI
Em virtude de tio assignalados serviços S. k. Real, a
quem dedicou muitos dos seus trabalhos, ordenou que elle
fosse galardoado, como dissemos, com o titulo de padre
da província. Resla-nos apresentar os seguintes documen-
tos, extrahído o primeiro do livro das actas e eleições do
deSnitorio da província da Immaculada Conceição do Rio
de Janeiro, á fls. d. 49 v. e 50., pelo qual nos poderemos
certificar do modo por que eueutaram a ordem supracitada,
e que allesta mais uma voz a protecção que lhe fdra sem-
pre concedida por S. M. o Sr. D. João VI,
Termo de concessfto de i»ÍTlIegfo de padre da proviaoia ao irmSo
ei-leltor Fr. José Harísano da CoDcelção Velloso.confonne a ordem
de 3. A. Real, expedida pelo hq miniitro d'Eitado o Sr. D. Rodrigo
de Soma Coatíobo.
Aos 19 de Dezembro de 1800. — Estando nós l«gittiiM-
DictzedbyGoOgle
— 214 —
mente congregados em mesa deãnitorial, apresentou o
irmão ministro provincial uma carta do ministro d'Estado
em que nos ordena S. A. Real que o irmão ei-leitor Fr.
José Harianno da Conceiçio Velloso fosse contemplado
como padre doesta proviocia em razSo do grande zelo e
desinteresse com que tem servido ao Estado O que nós
em consequência de nossa fiel vassalagem concedemos ao
sobredito padre, e desde agora o reconhecemos e have-
mos por padre d'esta provincia com todas as proeminências
anoexas a esle titulo. O que tudo para que mais constasse
fizemos este termo por nós assígnado no mesmo dia, mez
e aono uf supra. — (Assignados) — Fr. António de S. Ber-
nardo Monsão, ministro provincial. — Fr. António Agosti-
nho de Sanl''Anna, custodio. — Fr. José Cariai de Jesus
Maria Desterro, definidor.— Fr. Yiclorino de S. JosiMa-
rianno, definidor. — Fr. João de S. Francisco Itíendonça,
definidor. — Fr. Fernando António de Santa Rita, — de-
finidor.
Seguado documeoto copiado do livro de registro du paslorfteB e or-
dens dos Rms. Prelados, e A. oBscapilularesá Da. M v. eú5.
Fr. António de S, Bernardo Monsão, pregador, ex-deS-
nidor fl ministro provincial da provincia da Conceição do
Rio de Janeiro, etc.
A todos os religiosos da mesma provincia.assim prelados
como súbditos, saúde e paz em Nosso Senhor Jesus Cbrísto,
que de todos é verdadeiro remédio e salvação. Fazemos
saber a VV. GC. quepor carta do Illm. e Eim. secretario
d'Estado o Sr. D Rodrigo de Sousa Coutinho nos foi or-
denado que o augusto Príncipe nosso Senhor era servido
que o irmão Lente Fr. José Marianno da Conceição Velloso
fosse contemplado padre d'esla provincia em remuneração
dos avultados progressos que tem feito nos inventos e
Dictzedby Google
- 2Í5 —
observações relativas i bislorío nalura), de que lAm resul-
tado alo vulgares serviços ao Estado e á Nação.- Pelo que
desejando dós dar a S. k. Real, tuna sincero testemuabo
da nossa obedieDcía, que ser^ sempre invariável a respeito
das suas soberanas e sagradas determinayões, e querendo
lambem coDcorrer quanto aos é possível para distinguir
am sujeito d'esta nossa humilde corporação a quem o
mesmo soberano se digna favorecer empregando-o no seu
real serviço, do que recebemos uma bem assignaiada e in-
comparável honra, havemos por bem eleger, nomear, íds-
liluir ao dito irmão lente Fr. José Marianno da Conceição
Velloso em padre d*esla província, ficando de boje em diante
gozando de todas as preeminências, privilégios e isenções
que são annexas aosque gozam d'esle predicamento na
nossa ordem e ao dito irmão lente Fr. José Harianno da
Conceição Velloso assim nomeado e instituído queremos e
mandamos a VV. CG. reconheçam padreda província, res-
peitiindo-oegusrdando-lheemcodose em cada am dos con-
ventos onde estiver morador es dispensas e privilégios que
pelos nossos estatutos são concedidos aos rev e rendos padres
da província. £ para que se faça publica esla nossa reso-
lução e prompta subordinação ás ordens e mandamenlos de
S. A.Keal,mandaiaos passar a presente encyclíca, que será
lida em plena communidade, transcrípla no livro compe-
tente,remettida de convento em convento com certidão dos
respectivos prelados locaes e discretos, e por ultimo re-
mettida'á nossa secretaria. — Dada n'este covennio de S.A.n-
tonio do Rio de Janeiro aos 28 de Setembro de 1801. —
Sob nosso signal e sello maior da província. — (Asslgnado)
Fr. António de S. Bernarda Mansão, Ministro Provincial.
—Lugar do sello.—P. M. D. S. P. Rm". —Fr AnUmioda
Natividade Carneiro, Ex-DeGnidor e Pro -Secretario.
As iostituigões monásticas são de uma origem tão remota.
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_ sio —
a Mm rMJstido por lanios soculos aos golpes da impiedade,
que para veaeral-as basta cooãiderar-se o ÍDuneoso valor
doestes dois títulos. O espirito piedoso ,que bebe dos dog-
mas e preceitos do christíanismo as ídéas cardeaes que
guiam a sua alma e a equilibram aas tremendasoscillações
doeste muado, recoohece como necessária a oonservaçio
d'a8(e3 templos seculares, em que se commemoraro dia-
riameote os diviaos beneficies que dos foram derramados
pelo Salvador do mundu, e dos quaes vamos procurar le-
DÍtivoa para as dAres que dos assaltam, para os males que
DOS aotbroDbam.
Si areligiioaagmenla de valor do espirito do povo,
toda a gloria deve ser para os que, em todos os tempos
readeram-lhe um culto constante, propagando os seus prio-
ãpiosnimiameDlesalutaresemoralizadores.Blóem épochas
bem tristes para a humauidade, porque recordam sceaas
saDguÍDolentas,em que o direito foi s upplantado pela fArça^
a justiça pelas coDveniencias, a verdade pela mentira, o
sagrado pelo sacrilégio I
Qual é o primeiro fondamento para uma sociedade que
deseja prosperar, garantindo o bem estar e os sagrados di-
reitos dos seus membros? A moralidade, assim como a
moral, tem por única base a religião. Esta engrandece-se e
euraiza-se no espirito dos povos pelos esforços dos seus
ministros, e os bons sacerdotes não podem sercreados nos
embales das praças publicas, nem nas festividades dos vi-
oios e muito menos no turbilbão das paixões. A. solidão é
luberente á vida do verdadeiro sacerdote e essencial á alta
missão que tem de desempenhar.
NSo se deve atacar um principio reconhecido por tantssge-
rações.e que os séculos nos tra nsmittem, por causa d'8lgUDs
abusos apontados oo seu progressivo desenvolvimento, e
que sío devidos a um oo outro que se tem afastado das
Dictzedby Google
— 317 —
regras qae foram rígocosameDte estabelecidas como aormas
invariáveis de seu proceder. Estes abusos desapparecerão
perante a efScacia de fortes medidas correccioaaes, que po-
derão ser impostas pelos poderes competeoles.
Segundo alguns a existência dos claustros tocou ao seu
termo, porque actualmente já não podem preencher os
fins para que foram destinados I
Quantos bomens itiustres bbo tem aquecido a sciencia
por elles adquirida com o modesto e solemne habito de
religioso ? Em lodos os ramos dos conhecimentos huma-
nos Xèm apparecido vultos notareis que desenvolveram a
sua intelligencia no silencio eloquente de uma cella,
contemptandoa suprema intelligencia do autor do Universo
na indagação das leis da natureza. Longo do ruido do
mundo e das distracções que elle acarreta, a disposição
para o estudo augmenta ; forma-se ou nasce uma inclinação
para qualquer sciencia, que com o tempo poderá produzir
seus fructos. A nossa tribuna sagrada tem brilhado sob o
peso de sãos e eloquentíssimos discursos pronunciados por
intelligeocias robustas, que deveram o seu saber ao retiro
do claustro. Muitos já não existem n'este mundo, roas
descansam no outro, onde terão recebida a devida recom-
pensa pelas suas virtudes ; e a memorin il" c.i'^ um d'elles
é e será lembrada o sempre avivadn n > ;ias da nossa
historia. A poesia, a pintura, as math-' ..- is, as sciencins
pbysicas, a lilteratura, a pbilosopbia, u uutros ramos, tem
sido por elles cultivadas com esmero e com proveito para
a sociedade, e os seus conhecimentos se patenteam nas
obras que legaram á posteridade.
Nos conventos podem ser guardadas, como de focto o são,
muitas relíquias de incontroversa utilidade para a historia
do paiz. Encerram documentos valiosos, que são uma
foote fecunda de illustração para os que desejam possuir
TOMO XXXI, P. II. 28
DictizedbyGoOJ^IC .
— 918 —
dados exactos sAbre homeos illustresdeépochas mais remo-
tas, os quaes honram a leira em que TÍreram, augnaentam
coosideraTelmente a sua importância.
A pobreza encontra sempre um abrigo na caridade que
os distingue ; o espirito religioso procura consolações no
cumprimento dos diversos preceitos da religião, a qae
elle se impõe.
Suppondo pro?ados os benefícios que a sociedade po-
derá colher da uma ordem monástica estabelecida sobre
solidas bases, não insistiremos mais D'esta discussão, alias
estranha ao propósito eé natureza do presente trabalho.
Fr. JoséMarianno da Conceição Velloso é um eiemplo,
que conGrma o pensamento que enunciamos. Os primei-
ros priocipios foram apanhados depois da sua profissão.
Na solidão om que viveu por alguns aanos levo por único
encanto a leitura de diversos livros, que lhe forneceram as
primeiras bases para os seus estudos posteriores ; tinha por
única distracção a companhia de alguns amigos, e os
conhecimentos que diariamente adquiria. Pouco a pouco
foi se desenvolvendo a sua inlelligencía e identilicando-se
com o trabalho, de sorte que de 1789 cm diante achou-
se convenientemente preparado para desempenhar os di-
versos deveres que lhe foram prcscriplos, não só pola nobre
missão de ser útil á pátria, como pelo seu constante bem-
feítor S. M. o Sr. D. João VI. Tomou-se celebre peta íllus-
tração e serviço.s, como um notável servidor do Estado
pelas obras que publicou. Honrou a ordem dos francisca-
nos, a que pertenceu, pelas virtudes e pelos fruclos de
suas lucubraçSes.
CAPITULO XU
Aloyraphia dos alkaíis fixos, segundo as meViorts me-
moriai estrangeiras que se têm escripto sobre este assumpto:
eis o titulo de uma das producçies de Velloso.
DictizedbyGoOJ^IC
— 819 —
EDcarregado de escrever, em idioma porlt^ez, lodos os
trabalhos concerneotes i extracção de alguas alkalis, exis-
tentes em plantas do Brasil, Velloso conseguiu, do espaço
de três mezes, reunir e publicar os dados que colheu das
suas pesquisas. Para tomar o seu trabalho mais completo,
anaexou-lbe os desenhos dos vegetaes mais importantes,
que constituem a segunda parte d' este volume.
Na primeira dedicatória ao seu Protector, mencionava as
vantagens a aproveitar-se d' este estudo para :
A agrictUtura, pharmacia, chimica, tinturaria, saboa-
rias, vidrarias e brangiieariat.
Na segunda, encontrámos novas provas do quanto era
Velloso reconhecido aos benefícios que lhe prodigaUzavam.
Um documento tão valioso merece um lugar dístincto Doesta
biographia, e para elle solicitamos a benévola attenção do
Instituto :
Senhor.— £i«/epar«wpaírtí5, princeps pius, mgeJoan-
nes noslrum cura, decus, gloria, fautor, honos.
( Desde os mais remotos e confusos séculos, ainda lendo
os illustres Phidias e Praxiteles lavrado os mármores o
fundido os bronzes, a humanidade verdadeiramente agra-
decida, em despeito d'estes padrões, que o devorador
tempo deslroe, conservou o costume de erigir estattus de
vivos vegetaes á memoria de seus íltustres hemfeitores.
Quem não vê que estas, pela sua succcssivareprodiicção,
e multiplicação, contra as quaes uão tem o tempo podei
algum, são mais capazes de levar á ultima posteridade o
nome, que se quer, perennal?
« Ah ! Revolvidos milhares de séculos, quando já Mem-
phis das suas soberbas maravilhas nem as ruiaas pôde
apreseiilar-Qos, si Flora nos convida a visitar os seus ame-
nos vei^eis, n'estes encontraremos erguidas, e respeitare-
mos tantas augustas vegetaes estatuas, quantas foram as que
Dictzedby Google
— aao —
n'esse3 prímitiTos tempos se ÍDaagararam aos seus gracio-
sos soberanos, e a outros illuslres persooagens. Elias
ainda despregam com a mesma loQçania todo o subido ma-
tiz das cAies, que tiveram quando foram inauguradas, eves-
tidas de régias purpuras : ainda deixam lâr escriptas nas
suas fldres, com indeléveis caracteres, os augustos Domes
dos seus Ludigetes : de Clymeoo(a), de Gupator(&), de
Gencio(c), de Lysimaeho(íQ, de Phamaceon (e), de Tele-
ptaioi/*), de TeaorÍo(9), de Valerio(/i), de Arlemisia{i), de
Althea(fc), de Helena (Q, de Bellis(m], de Carlos V(n).
■ Para haverem de fazer esta representação augusta, t^m
eltas, em st próprias, nobreza sobeja sobre toda a preciosi-
datle dos metaes. Estes unicamente são nobres, emquanto
a nossa phantasia quer que elles representem os bens, que
só as plantas nos podem dar, e pelos quaes privativamente
d'ellas dependemos. Na grande escada da natureza os cor-
(a) Príncipe da Arcádia.
(6) Rei do PoQlo.
(c) Rei de Hlyría.
(d) Priacipe de Sicilia.
(e) Rei de
íf) Rplde Mysta.
(g) Rei de Troya.
(A) CoqsdI Romano,
(í] Rainha, mulfier de Maosolo.
(t) RaÍDiía, mulher de Eoeo.
(I) Ramba, mulher de Heoeláo.
(m) Príncipe da Diuanuu^a.
(n) Carlos V.
Dictzedby Google
- 321 —
pos orgânicos, que se ai^imentam por inias tuiceptionem,
como vegolantes, mais próximos aos animados, a todos su-
periores, tém um melhor lugar do que os corpos iaorgaai-
cus, que crescem por extra positioaem, e que ficam do seu
ultimo degráo.
« Talvez poresle motivo os antigos se houvessem de en-
thusiasmar tanto pelas plantas, que chegaram a suppdr, c
ainda a crer, ou que nSo havia planta alguma, que não re-
presentasse, e a que não correspondesse um benéfico
/VíBsetiíem referat qucelibet herba Deum
ou que não a protegessem por uma particular escolha sua
Quas vellent esse in sua potesíate
Divi iegervnt plantas.— (Vhedro, liv 3, fab. 17. )
ou que a ellea se não poderia Tazer maior obsequio do que
respeital-os nas plantas, que lhes eram consagradas. Tal
foi o carvalho consagrado a Júpiter, ta) a oliveira a Mi-
nerva.
« O seguinte facto, Senhor, mostrará decidida a questão
da duração a favor dos vegetaes. António Huza e Eupbor-
bio foram irmãos, e ambos médicos de dois soberanos dif-
ferenles, o primeiro de Augusto, e o segundo de Juba ; e
tendo cada um curado aos seus respectivos soberanos de
enfermidades graves, foi decretado a Huza uma eril estatua
por Augusto, e a Eupborbío uma vegetante planta por
Juba. A estatua de Huza periitl evanuiti a de Eaphorbio
perdurai / perermat I
a O cavalheiro Uma, reformando a relaxação introduzida
Da botânica, a respeito da inauguração d'esta8 vegetaes es-
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tataas, ou reproductivos monumeotos, propõe aos outros o
sen exemplo por norma
Nomina genérica.... Regum eontecrata eteorwn.qai
boianicam promoverunl, ntituo
persuadido de que, não offerocendo a botânica lucros al-
guns aos que a ella se applicam, e só trabalhos, si os mo-
oarchas nlo a tomassem debaixo de sua protecção, e aos
seus professores, não poderiam estes jamais fazer alguma
fortuna brilhante pelas immensas despezas que seriam
obrigados a fazer, a não serem auxiliados pelo seu pode-
roso braço :
NUi Reges arti opem adferant, sumptibusque necessariis
siibUvml, pauci existerant digni botânico namine.
f Ora, si eu devo ter a qualidade de botânico, mais do
que aos meus débeis estudos, o confesso devera V. Á.
Real, que tantas vezes me tem honrado com a sua real
firma. Eu seria, Senhor, ingrato, si uma vez me não visse
o mundo prostrado no supedaneo do real Ihrono de V. A.
Real, confessando a minha divida; si não procurasse per-
petuar fl minha conlissão pela inauguração de uma vegetal
estatua, que hnja de transmittir á posteridade o augusto
nomo do V. A, Real, denominando-a Jfoannena.
■ Os botânicos estranhos so tõm lembrado de perpetuar
os nomes dos seus soberanos em plantas, quo espontanea-
mente nascem no Rrasil, sem terem um direito tão sagrada
a esta província. Acham-se já nos seus catálogos, postas
com o nome de Caroiinea Princeps (a), e outra insignii, e
de Giistavia itigusla a japarandiba e o embíruçà dos bra-
sileiros, dedicadas á prioceza D. Sophia Carlota, marqneza
de Baden, e a Gustavo, rei de Suécia ; e os nossos botâni-
cos atá aqui se não tAm lembrado de tributarem este censo
t») Hoje Pachira Prinr^i.
Dictzedby Google
aos seus soberanos, que tanto tém promovido entre dós
esta scíeacia, com cadeiras em que se ensinem, rxim hor-
tas, em que se cultivem; com viagens em que se obser-
vem, etc.
I Eu me não devo p6r a par d^elles, emquante ao mereci-
mento ; imitando, porém, aos estranhos, introduzirei nu
botânica o novo género de Joannesia, sendo V. A. Real o
augusto typo, o seu soberano iadigílo.
Euge parem pátria, e/c.
■ E para que ceremonia alguma, das que observam os
botânicos n'estas dedicações, me não falte, passo e etpdr
a analogia, que descubro entre este vegclal estatua eV. A
Real, para verificar a pretendida conveniência do nome.
< Connexio nominis a botânico derivaticum planta, nulla.
vulgo credi/«r, atqui rei leviler in kiitoria litteraria ver.
satus, fadle vincvlum quo connectot nomen et plantam
repariet, imo cum tanta suavitale, e/c — (Lin. )
1 Julga este sábio que as baubinias são semelhantes aos
dois irmãos Bauhinios, ambos iguaes botânicos, em te-
rem íguaes os dois lobos das suas folhas. A scheuchzeria
aos dois irmãos botânicos Scheuchzerios, em o serem am-
bos eicellenles, um no conhecimento das grammas, outro
uo das plantas, etc.
■ Querendo, portanto, discorrer á maneira d'este sabío,
descubro as três seguintes connexões : 1.* Nas folhas digí-
taes, umas mãos abertas, quaes têm sido as de V. A. Real
para favorecer aos beneméritos. 2.* No fructo lenhoso, em
figura de coração, e cicatrizado, um coração constante,
mas assignatado pelos sentimentos das desgraças politicas
da ultima dccaila doeste século. 3.* Nas duas sementes, que
encerro o fructo, os dois bens da religião e da monarchia.
que V. A. Real tem no coraç&o. E também os dois objec-
Dictzedby Google
— asi-
los de am amoi ipul, o reino e o principado. Ah ! &à in-
terprete de ambos, eu lavro já uo pedestal doesta eslataa,
para que presentes e vindouros létm ;
Euge parens paírioB, princeps, eage Joannes
Félix mb tanto príncipe turba sumus.
Fr. José Harianno da Conceição Velloso.
DEFPlinçÃO DA PALAVRA SAL
A* duas idéu mais commuiis ou geraes, que Ibe podem pertencer.
b30'. 1* o sabor, 3* ser solúvel em agua Concluindo: Que toda
a substancia, que fõr solúvel em agua, e capai de alTeclar pelo seu
sabor o orgSo, pôde com Ioda a segurança ser chamada sal.
Estas duas proposições, embora tenham um grande fun-
damento, comtudo sofTrerei excepções, que deviam ter sido
attendidss, e que podemos apontar em qualquer das duas
classes dosaes — amphHos a haloideos. Todos os sulfatos
são solúveis, exceptuando o de barjta ( barytina dos mine-
ralogistas), o de eslronciana ( celestina) e o de chumbo
{anglesites). De todos os carbonatos, os que se dissolvem
facilmente são, os de potassa e soda : o de lilhina é pouco
solúvel; os alcalinos terrosos só dissolvem-se em uma
agua, que contenha acido carbónico, porque fórma-se um
bicarbonato; os outros são completamente insolúveis. Na
classe dos saes haloideos, lemos alguns chlorurelos insolú-
veis, assim como bromurelos e ioduretos ; sirvam de exem-
plo o chlorureto de prata, os bromuretos e ioduretos do
mesmo metal ; o calomelauos ou proto-chlorureto de mer-
cúrio, e alguns mais.
Quanto á propriedade organoleptica, diremos também
que nem todos os saes tdm um sabor pronunciado : alguns
são amargos, outros de sabor adocicado, e certos saes são
mais ou menos insípidos.
Dictzedby Google
Nem sempre é sal acido aquelle que lem a propriedade
de envermelhecer o papel azul de gyrasol. Muitas vezes
o excesso de acido em um sal, mais do que é necessário
para neutralizar a base, é a causa única da mudança de
côr que opera-se n'aquelle reactivo, quando em contacto
com o mesmo sal ; mas acontece que, tendo sempre o acido
mais afíinidade para a base do papel de gyrasol, do
que para o oiydo, com o qual está combinado, forçosa-
mente deixará a segunda pela primeira, e immediata-
raente mudar-se-ba a côr do reactivo, de azul para verme-
lha, sem que este pheooraeno seja devido a um excesso de
acido ; esta acção poderá dar-se com alguns saes neutros.
Concordamos em que seja difficil achar-se uma exacta
dermição para a palavra sal. Emquanlo a classe d'estes
compostos cfaimicos comprefaendia apenas os que boje são
chamados saes ampbidos, como sejam os sulfatos, carbo-
natos, nitratos, phospbatos, etc., etc, a deliniçâo poder-
se-bia circumscrever a um gráo certo de combinação ( me-
tal, oxygenio e um metatloide), sempre um acido e uma
base ou oxido metallico, ambos compostos binários, ajun-
tando algumas propriedades fundamentaes, assim como a
indicação do elemento eleclro-negativo e a do corpo elec-
tro-positivo. Hoje, porém, que se incluem sob a denomina-
ção de saes as combinações binarias de qualquer dos halo-
géneos : chloro, bromo, flúor, iodo, enxofre, selenio e
tellurio, com os metaes, toda e qualquer definição deverá
começar pela eiactu dislincçSo dos dois grandes grupos, e
ós traços particulares de cada um d'ulles. A propriedade
electro-chimica já não pôde servir de característico funda-
mental e distinctivo ; porquanto ser-nos-ha fácil provar que
etla eslende-se aos hydrscidos, oxydos, ácidos e saes, se-
gundo os principies estabelecidos na electro-chimica por
Gavarrel, Daguin e muitos outros physicos notáveis.
TOMO XXXI, P. 11 29
Dictzedby Google
o oxydo de potássio, submettido i acção de uma
correole eléctrica, em um apparelho coDTenieDtemente
disposto, decompõe-se; o oxigénio, como etemeDlo elec-
tro-negatÍTO, diríge-se para o polo positivo da pilba, e o
metal, sendo eleclro-posilivo, para o polo Dt^ativo.
Em todos os ácidos, o radical é sempre electrízado posí-
tivameote na decomposição; assim como o são os metaes
que formam oi;dos, combÍDando-se com o oxjgenio, e saes
haloideos em combinação com os metalloides das duas clas-
ses dos sulfuroideos e cbloroideos.
Nos saes amphidos, os ácidos são sempre os elementos
electro-oegatÍTOs. Nos hydracídos, o bydit^enio na de-
composição electro-cbimica, electriza-se positivamente ;
mas na eIectrolysed'agua, toroa-se etectro-positivo em re-
lação ao oifgeoio.
Eis tudo quanto nos convém dizer sobre as duas prima-
ras paginas d'esta obra. Tornando-se fastidiosa a descrip-
Ção dos processos para a extracção dos alcalis, contentar-
nos-bemos com apontal-os.
Occupa-se em seguida da verdadeira significação da
palavra alkali, (a) que segundo uns vem da planta kaii, ou
do grego kalos, que quer dizer sal; e diversas plantas
marítimas taes como o kali, o kelp, a barrílba, de cujas
cinzas tAm-se extrabidu diversos saes alcalinos, com a
exposição dos processos para obter os alcalis, assim como
(a) Na opínicEo do meu antigo o illusirsdo Dr. fienjamim FraolcliD
Rsmia Galvão :
Parece que o vocábulo— alca/i—escrípto por algoos — alkali—, tem
sua origem elymologica aates no árabe do que no grego; como
opjaam Constâncio e o Sr. D. J. de Lacerda a palavni vem do artigo
ai e~haii ou cali— nome de uma planta cujas cinzas Forneciam soda.
Para faièl-a provir do grego, fora necessário torcer elymologias; em
todo o caso não pudera ser kaloí,^ como dá Fr. Velloso, mas kaU,
kaiót que signi6ca— o ttU.
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as proporções obtidas; calcinação ou carbonizaçlo de al-
gumas madeiras para das suas cinzas eitrahir a potassa ;
origem do tarlaro, sua differença do cremor de tártaro ;
propriedades do sal de tártaro; terminando por uma sue-
cinta exposição sdbre os saes Deulros.
Esta primeira memoria de que occupoa-se o conspícuo
Velloso é original de Watson, professor régio de theologia
da uDirersidade de Cambridge. (Cbemical Essais, Tomo 1.
Essais 111.)
Á segunda parte comprebende o estudo de diversos
corpos cbimicos, que estão hoje muito bem estudados,
e cujo conhecimento se tem vulgarizado, como sejam : os
ácidos sulfúrico, azotico, bórico, fluorico, ele. ; as bases :
potassa, soda e &mmoniaco, e diversos saes como : o
sulfato de potassa, o de soda (sal de Glauber), de ammonia,
de magnesia, e com outros oxydos; muriatos, nitratos,
boratos e carbonatos.
As propriedades e processos apontados não são des-
conhecidos na actualidade ; pelo contrario, a sciencia
de hoje possue idéas muito mais desenvolvidas, e que
não eram bem conhecidas n'aquelle tempo. Menciona-
remos também algumas cartas publicadas em seguida,
todas relativas aos meios para obter a potassa, e ao sea
estado, o que prova de sobejo o espirito pesquisador de
nosso compatriota, que esforçou-se em colligir todos os
documentos valiosos sdbre este importante objecto.
Occupa também um lugar dislincto o extracto, sobre
o melbodo de se preparar o oxjrdo de potássio, tirado da
enciclopédia melhodica, que- passaremos por alto por
suppâl-o muito conhecido; merecendo particular men-
ção as diversas appIJcações das substancias alcalinas nas
artes, na branquearão, e m(Ueria$ colorantes dat linhas,
por Richard Kirnau; e outros elementos que são des-
Dictzedby Google
- 228 -
tinsdos a preencher ou, confirmar o titulo d'e5te tra"
balbo.
A segunda parle é intitulada — Flora Alograpttíca — ou
exposição e descripçjlo de alguns vegelaes do Brasil, e
de outros que são mencionados na primeira parta d' esta
obra, e dos quaes póde-sa extrahir o alcali, de que nos
temos occupado.
As estampas são nitidas; os característicos botânicos
laconicamente enunciados, e são accompaahados d'uma
exposição sobre as propriedades de cada uma das plantas.
Começa pelo andauçií, Joannesia Princeps (Aada Go-
mesii), cujas propriedades medicinaes residem no óleo
graio, que se forma no interior do pericarpio, etc. O de-
senho é claro, e contém todos os orgSos fundamentaes nas
suas posições respectivas, e lambem separados para que
a planta possa ser estudada em todos os seus pormenores.
Vem em seguida a alfavaca de cobra — parielaria offi-
cinalís; o — trevo d'agua — menyanthes trifoliata ; o —
gyrasol — helianlhus annuus ; a — iosna— artemisia absin-
thium; — a herva malarinha — fumaria ofllcinalis; — a
embaiba ou ambaybn — cecropía peltata ; — o fumo — ni-
cotiana tabacum ; o — verbasco branco — verbascum tha-
psus; o — castanheiro da índia; o — milho; o — marroio
vulgar; a — bananeira da terra ; o — pdo d' alho ou guara-
rema ; a — samambaia ; a — ortiga ; o — meimeru^o ; a —
douta; o — keltotropio ; — e a borragem. Os nomes botânicos
d'essas plantas foram substituídos posteriormente; ellas
acbam-se hoje classilicadas, segundo o metbodo de Jussieu,
em famílias naturaes, por exemplo: o heliotropio e a
borragem — na familía dos borragineas ; o gyrasol e a losna
na extensa família das synantbereas ; u fumo na das sola-
naceas: a embaiba nas artocarpeas; o milho nas gra-
míneas; a bananeira nas musaceas; o páo d'albo ou
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— 929 -
guararema, (a) o — Gatlma ícot^ododmdrwn — Css.; oaa-
dauçú nas euphorbisceas ; a ortiga nas urtLcaceas. elo.
Resta-nos fizer duas observações.— O trakiá, que per-
tence ao grupo das capparidoas, deréra ser incluído qo
numero dos vegetaes, que contam na casca uma grande
dose de potassa.
A descripção da enAaiba é tanto menos completa quanto
não contempla o curioso pbenomeno que apresentam as
antbéras, na épocba da fecundação, o que foi tão bem
observado e descripto pelo itlustre botânico Dr. Francisco
Freire Allemão.
CAPITULO XIII
Diremos algumas palavras sAbre um opúsculo publicado
em 1800 pelo padre Mar.* Velloso, e que tem por titulo
Naturalista iiistruião nos diversos methodos antigos e
modernos de ajuntar, preparar e conservar as producções
dos Ires reinos da natureza.
A zoologia é uma sciencia vasta, para o estudo da qual
a vida do bomem não é sulGciente. Dividida segundo
Cuvier em quatro grandes ramos, cada ramo em um certo
numero de classes, as classes em ordens, estas em famílias
até aos géneros ; quantos annos nâo são necessários para
aprofundar-se o estudo de uma classe de aoimaes? Um
verdadeiro zoologo, reconhecendo a impossibilidade de
tornar-se especial em todos os íamos da sciencia, procura
colher um grande numero de conhecimentos sdbre cada
uma das suas divisões, e entrega-se com mais afinco ao
estudo de uma clasn deanimaes; restringe d'esse modo
o campo de suas investigações.
Outro tanto acontece com a sciencia dos vegetaes. Não
ha quem possa ser profundo em todas as divisões dos Ires
(a) Nas Phjtolacaceas.
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gnBdes ramos : aoo^edoneo, monocotyledoDeo e dícot;-
ledoneo.
Qualqaer dos tres comprebende am grande Qumero de
famílias, cada uma das quaes pôde constituir uma especia-
lidade ; e actualmente a botânica ollerece outros campos
para ioTestigaçdes de grande interesse e importância, taes
como : a analomia elementar, a anatomia descriptiva ou or-
ganographia, a ph^siologia, a teratologia, a organt^nia, a
distribaiçAo geograpbica das plantas, etc, etc. Quantos
factos nSo existem desconhecidos e por descobrir? Que
my sterios nio occultam verdadeiras maravilhas 1
Sendo, pois, uma verdade inconcussa o que acabámos
de dizer, resta-nos um único pensamento. Os grandes
musèos são estabelecidos com o fim de fornecer aos homens
de estudo o material necessário para a illustração de sen
espirito.
D^ahi nasce a necessidade das grandes coUecções, per-
feitamente coordenadas e methodizadas. E como conservar
os animaese vegetaes que se corrompem desde que deixam
de existir? E' forçoso loQçar mâo do artificio para que estes
seres organizados possam, depois de mortos, figurarão
lado dos corpos Inorgânicos ou mineraes, e ser observados
e estudados com proveito pelos que se dedicam á historia
natural.
Esta é a idéa que Frei Velloso procurou realizar, contri-
buindo com a valiosa offerta das suas pesquizas.
Principia expondo a preparaçSo dos quadrúpedes e
reptis, das tartarugas, lagartos, sapos e pássaros ; os pro-
cessos para abrir-se cada um dos anímaes, e para enchél-os.
Descreve minuciosamente o modo de abrir-se o animal, por
incisões longitudioaes, ou transversaes ; indica os meios
de preparar parcialmente cada o^ão, separando-o , des-
tacando coED cuidado a pelle , extrabindo os músculos cd-
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taaeos e agordura, assim como outros dados iodispensaveis,
que são hoje conhecidos. Cita os diversos ingredientes que
deTom ser introduzidos em cada grupo dos animaes acima
cilados, e a proporção de cada um. Eipõe o methodo de
preparar as pelles séceas, e a composição do liquido para
amotlec61-as. Em substancia, eis o pensamento cardeal
d'este opúsculo.
CAPITULO XIV
Consagremos algumas linhas i Memtria sobre a cuUur
da urumòeòa e sobre a creação da cochonilha, extrahida
por Ba'tholet das observações feitos em Guaxaca por
Thierry de MononvillCj e copiada do 5" tomo dos armaes
de chimica por Frei José Marianno da Conceição Velloso.
fl Espero que, sendo esta memoria espalhada pelo Brasil,
e particularmente pelos poros de beira mar, que possuem
tantos tratos arenosos, inúteis a toda outra planta, excepto
esta, haja de produzir um maravilhoso effeito no commercio
nacional, pela graude feita que se experimenta doeste gé-
nero, assim na Europa como na Ásia. Que ella se dè bem
nas arãas, é um facto da nossa agricultura do Brasil ; pois
governando o Rio de Janeiro o Exm. Luiz de Tascoo-
cellos e Sousa, animou tanto a sua cultura nas fregue-
zías que ficam pela praia ao norle da mesma cidade, isto é,
Taipú, Maricá, Saquarema e Iraruama, de que se lembra
a Relação do inglez Fauton, que não só chegou a mandar
grandes partidas para esle reino, compradas pela real fa-
zenda, como também a dar um tom de vida a estes
ichthyophagos povos, que só viviam dos peixes que pescam
nas grandes lagoas, em cujas margens eslAo aquellas fre-
guezias, e os vendem na cidade. A longitude de 18 léguas,
que ha entre as duas cidades de S. 'Sebastião e da As-
sumpção deCabo-Frio, sem contar o mais, e menos dalar>
DictizedbyGoOJ^IC
— a32 —
gura, como roubada pela eafiada de lagoas, que se poderiam
contar, e fazer navegáveis até ao Rio, seodo coberto de
urambebaes, plaotados e cullívados em regra, quanta ri-
queza não deveriam esperar de um semelhante estabeleci-
mento ? >
O primeiro facto é o que foi observado pelos hespanhóes
quanto aos usos que os índios do Meiíco faziam da cocho-
nilha, da qual serriam-M para tingir o algodáo e na pintura
das suas casas. Foi Reaumur quem lembrou ao príncipe
regente de França a vantagem de desenvolver-se a co-
cbonilba nas colónias francezas ; e coube a Henonville a
glória de vir ao México em procura do insecto, cujas qua-
lidades eram por muitos apregoadas. De Vera-Cruz dirígiu-
se a Guaxaca vencendo mil obstáculos materiaes; illudia a
vigilância das autoridades, misturando a urumbeba com
outras plantas, para que todos attribuissem um Tim botânico
â sua viagem, e d'esse modo conseguiu embarcar depois de
attingir o alvo da sua espinhosa missão. Mas não transpAz
o oceano sem lutar com outras contrariedades. Este im-
menso sacrilicio não obteve a recompensa devida, e em
1780 succumbiu sob o peso de um profundo desgosto.
O estudo da urumbeba é importante, porque sobre ella e
á sua custa vive o insecto de que temos fatiado. E^ uma
planta da famitia das cacíaceo^,— espécie — Cacíiu coccinil-
lifer , cujo caule e cujos ramos são articulados entre si>
parecem nascer um dos outros o são de um comprimento
regular. Na opinião do autor, a seiva é muàlaginosa, como
uma gomma opaca, branca ou amarellaj e com mais
outros traços característicos.
Na descripção summaria das follias nota a existência de
muitos espinhos na axilla de cada uma d'ellas; espinhos de
diversas câres, de C a 30 linhas de comprimento, duros e
agudos, que se prolongam em sedas ; nada diz quanto é
Dictzedby Google
— 238 —
origem d' estas armas de defesa. Não conhecemos a ptenta
senão em desenho ; mas, pelo raciocinio, talvez possamos
esclarecer mais o fado, ainda que ligeiramente.
r facto. Um espinho p6de ter por origem uma esti-
pula, como em uma planta leguminosa conhecida por tapa-
pipa. Estudando-se alguns ramos d'esle vegetal, nota-se
que algumas estipulas são foliaceas ou membranosas, e
que as de cima tCm mais consistência, augmentando até
ura gráo de considerável rigidez. Estas ultimas são tão
duras que os tanoeiros servem-se d^ellas para brocar as
pipas.
â.* Abainha d'espada (iheophrasteas imperiali3?i assim
como a pequena arvore grumamé ou Santa Luzia daseu-
phorbiaceas, (em os bordos das folhas guarnecidos de agu-
dos espinhos, que são formados pelo próprio tecido Sbro-
vascular das nervuras secundarias, que se prolonga alòm
das ortas das respectivas folhas.
3." No joá, da familia das solansceas, as armas de
defesa nascem do dorso de cada folha, e por isso ofTendem
aos que ignoram a sua existência. Tèm uma relação ím-
mediata com a estructura anatómica das nervuras de que
provém.
4." Na linguaciba (xanthoxylum spinosum), da família
da rutaceas, os espinhos são constituídos pelo tecido sube-
roso da casca dos ramos ; elles na roseira tomam o nome de
aculeos.
5." No citrus aurantrium provém da parte lenhosa dos
ramos, ou dos feixes fibro-vasculares que a constituem ;
de sorte que é necessário maior esforço para destacar-se
um d'estes do que um ecúleo.
6." Assim como o peciolo de certas folhas transfor-
ma-se em gavinha ou mãozinha, como em algumas bígno-
niaceas, lambera pôde produzir uma arma de defesa.
TOMO KXXI p. n 30
Dictzedby Google
— 23* —
T.* Um itmo abortado n^axiUa d'ama Coíba pôde (ansfor-
ma>se oa em orgio de appreheosSo como em algumas
passiíloreas, ou em arma defensiva.
8.* Á nervura mediana de cortas folhas lambem pôde
produzir os dois órgãos já citados, do mesmo modo que
as Unhas medianas de alguns sepalos, bracteas, etc.
Regra geral: todo o elemento d'um vegetal que tiver
a propriedade de transformar^se em qualquer dos dois
orgfios — gavinha ou em arma de defesa, poderá apresea-
tar-se sob a forma do outro.
Appliquemos estes princípios á urumbeba. — Nas cacla-
eeas (a) ha ausência da folhas, que representam os pulmões
e o estômago dos animaes ; de maneira que a respi-
ração n'essas plantas faz-se pelos slomas da epiderme do
• caule, que é d'um verde distincto, muitas vezes ca)'noso,
e guarnecido como na fldr da noite ou do baile, e nas
opuntiat mamillarias, etc, de espinhos agglomerados de
distancia em distancia. A presença, pois, d'este oi^ão
n'axílla das folhas da urumbeba, onde formam-se e deseo-
volvem-se os gommos, indica uma tal ou qual ligação
com os órgãos que estes encerram. Um gommo contém
um pequeno ramo em miniatura, e uma serie de folhi-
nhas em rudimentos, cujos merilhallos são nullos, arran-
jadas de diversos modos. Si estes elementos foiiaceos não
se desenvolverem, as-suas nervuras principaes poderão
subsistir sob a forma de espinhos, si tiverem adquirido
a necessária consistência. Só vimos o desenho da planla ;
por isso não afQrmaremos qual a verdadeira origem d'elles,
embora estejamos inclinados a explical-a como ha pouco
o fizemos.
(a) Fazem ezcepQ&o as espécies do género peresiia,
quaes eDContromos nos arrabaldes do Rio de Janeiro.
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o estudo d'estes orgSos accsssorios cresce de impor-
taocia, porqae muitas vezes auxilia-DOS Da classificação
das plantas, que os contam ; citaremos quatro exemplos.
Na Tamllia das passifloreas, cada gavinha nasce da axilla
d^uma folha, porque provem do aborto d'um ramo.
As plantas, como as parreiras, que possuindo gavinhas,
as apresentam na posi^o do pedúnculo, tiram d'fllle
a sua origem. Na vitis víniftra a inflorescencia, e a gavinfaa
(mais tarde], são oppostas ás folhas.
Nas cucurbilaceas as mãosinhas nascem de diversos
pontos do caule, que é volúvel. Segundo De Gandolle*
em alguns casos resultam das estipula)!, o que nSo se ap-
plica ás plantas que temos observado, como sejam : as
espécies de cucumis, cucurbita.
Finalmente em algumas bignoniaceas os pecioios, depois
da queda das fuibas, torcem-'se em espiral, constituindo
verdadeiras gavinhas,|qtie prcndem-se ás plantas visinhas
afim de sustentar o vegetal a que pertencem.
Continuemos a nassa aaalyse. Depois de descrevei a
ildr da urumbeba, comprehendendo os quatro órfãos que
a compõem, aponta diversas espécies de urumbebas, como
sejam; a tuna, ou raqueta da bordado mar na phras^
dos colonos de S. Domingos; a pata de tartaruga, em
cujo caule encontram-se longos espinhos, -e sobre o qual
vive a cochonilha silvestre; a raqueta kespanhola, cujo
crescimento é notável ; o nopal silvestre, arbusto de 18
a 20 pés de altura ; — considerando como melhores as
urumbebas de Castella e do Jardim do México, primando
aquella pela sua belleza. As menos espinhosas favorecem
mais a colheita da cochonilla, comquanlo algumas, que
possuem muitas armas de defesa, sejam adequadas i nu>
trição doeste insecto.
Os apontamentos que em seguida esboçamos, alguns dos
Dictzedby Google
— 236 -
qiues o&o escapvam ao autor da obra que discatimos,
tém por fim presncber as pequenas lacunas qae tt^ella
eacontráiQOs.
A classe dos insectos, do grande ramo dos articulados,
compde-se das seguintes ordens, s^undo a classificação
do immortal Cuvier :
Hymenopteros, Uemipteros, Coleopteros, Nevropteros,
Ortbopteros, Lepidopleros, Dipteros, Anoploios, Rhipí-
pteros e Tbysanureos. — Ao todo 10 ordens: cada uma
d'estas ainda se divide em famílias.
A cochonilha é um insecto da ordem dos bemipleros,
da família dos gailínseclos; e vem do grego cocànos,
que quer dizer cõr escarlate. Pertence ao género coccus ;
e a espécie mais importante é o cocctu .cacíi. Vive, em
geral, sobre a urumbeba e á custa do seu sueco, que elte
absorve com a pequena tromba que possue ; prefere as
articulações d'esla planta, e a que tem menos espinhos.
As parles principaes do seu corpo consistem: em duas
antenas, que alguns consideram como o órgão da audíçfto ;
tem C pés curtos e duas azas {a do sexo masculino),
cabeça pequena, e duas sedas na extremidade inferior do
abdómen. Quando se quer cultivar a cochonilha, prepa-
ram-se previamente os urumbebaes, distribuindo sobre
cada individuo d'esta espécie um certo numero de ninhos
fabricados com o tecido utricular das folhas das palmeiras,
e repartindo por elles os pequenos insectos afim de serem
fecundados.— Depois de um mez contado da épocba da fe-
cundação, apparecem os cachos formados pelos insectos,
que por algum tempo abrigam-se no abdome» de quem lhes
deu o ser, e pouco a pouco vão-se desenvolvendo e pro-
curando por si mesmos o alimento de que necessitam na
própria planta, sabre a qual passam todas as phases de sua
curta existência, ou até o momento em que o bomom julga
DictizedbyGoOJ^IC
opportuaa a sua colheila. À vida do iaseclo do seio
mascuIÍDo leriiiina pouco depois da focuadação; e a da
fêmea proloaga-se até ao nascimento dos seus Slbos.
A colheita doeste insecto consiste em tirai-o do vegetal
que o sustenta, raspando-se a epiderme com um instru-
mento não muito cortante. Introduz^se n'agua em ebul-
lição, e depois de morto, deixa-se seccar ao sol, até
adquirir o aspecto d'ura pequeno grão escuro. A sua im-
portância reside no principio corante que elle contém,
e que as artes utilizam com o nome de carmim. Si pu-
zcrmos em contacto com a agua os grãos que vendem no
mercado, no (tm de algum tempo augmentarào de volume,
o poderão apresentar alguns traços da estructura anató-
mica do insecto que foi transformado.
Alguns preferiam cultivar a cochonilha fina, de prefe-
rencia é cocbonilha silvestre, por ser a primeira muito
mais rica de matéria corante ; mas, em compensação,
a segunda resiste melhor ás chuvas e ás inconstancias
dos climas, e exige menos trabalho para a sua conservação.
A cochonilha contém, além do carmim, uma matéria
azotada, saes de potassa e de cal, e uma substancia graxa.
A lã e a seda tornam-se escarlates pela acção do prin-
cipio corante já citado ; também certos pós, tintas*e alguns
licores devem a ello a sua câr carmesim. Os alcalis tém
a propriedade do mudar-lbe a cõr.
Accrescen taremos mais algumas idéas, antes de darmos
por anda esta succinta analyse :
Não nos consta que o algodão segregado no corpo d'esle
insecto tenha sido aproveitndo para qualquer fim notável -
Este insecto, que se procurou introduzir no Brasil,
graças também aos esforços do nosso digno compatriota,
tem por pátria o México, onde o distinguiam em cochonilha
fina e silvestre; foi cultivado na ilha de S. Domingos, eos
D,:„i,;cdtv Google
— 238 —
europõos o coabecena desde 1523, pouco mais ou menos.
A acção do alun é necessária para obter-se o carmim
do animal, que o encerra.
A sua preparação foi descoberla por um monge fran,
ciscano, segundo alguns afBrmam.
O merecimento d'esle trabalho, ainda que pouco ex-
tenso, é percebido por quem lè cada uma das suas pagi-
nas com todo o escrúpulo e decidido interesse. — O estudo
da urumbeba augmenta de valor pelo auiilio indispen-
sável que ella ptijsta á cocbonilba, a quem cede o alimento
necessário á sua subsistência. A importância d'este inse-
cto reside do princípio corante que d'GlÍp se oxtrabe e que
a sociedade aproveita para fms diversos. Temos além
disso a descripção do vegetal, que é de grande interesse
para o botânico que deseja cnnbecer, assim como os
traços caracteristicos da cochonilha, que são de ímmenso
valor para os que estudam a zoologia, principalmente
para quem se fizer especial nos conhecimentos da classd
mais importante do grande ramo dos articulados.
CAPITULO XIV
Em Lisboa publicou Fr. Veiloso diversas memorias,
sobre a pipereira negra ou pimonta da Índia, do go-
vernador da índia (a), de Guilherme Piso, de Savary, e
de Edward, guiado pelo pensamento de facilitar a sua
cultura no território do Brasil. Accompanha uma única
estampa, em que facilmente se observa a forma e inserção
das folhas, a grandeza relativa dos peciolos, a conlinuidade
dos bordos, e a nervação ; articulação dos ramos, a in-
florescencia, a forma do cálix, numero de dentes, a Qôr
(a) tioveraador e capilio-general. Francisco da Ciinha MeDeies.
Dictzedby Google
aberta, e o fniclo situado sabre o pedúnculo. O deseoho
Dão é completo, por isso que não comprehende os estames,
nem o fructo e o ovário abertos, para que se reconheça
o numero de lojas e « disposição dos grãos, nem o numero
de carpellos, e outros pormenores, que facilitam muito o
estudo de qualquer planta.
As applicacões da pípereira são conhecidas, quer na me-
dicina, quer nos alimentos. No commercio da índia sempre
figurou como um dos productos de eiportação para di-
versos pontos do globo; todos apreciaram as suas pro-
priedades, e d'ella5 utiliza ram-se em larga escala. E' o
Piper nigrum da família das piperaceas, a respeito da qual
Achilles Ríchard exprime-se do seguinte modo na sua
Hisloi'ia Nali^al Medica (a) :
-- Cette petíte famillu doit étre rangée parmi celies òu
les propriéiés médicales presenteai runiforinilé la plus
grande. >
Diz o mesmo illusire botânico que a pimenta da índia,
em mistura com os alimentos, excita as forças diges-
tivas e favorece a digestão de certas siAstancias, çue
sem ella, este órgão não poderia supportar. — E' um dos
medicamentos excitantes mais enérgicos, aconselhado con-
tra as febres intermiltonles e contra outras moléstias.
Analyse do fructo por Pelletier. — Estos dados não são
encontrados nas memorias publicadas pelo illustrado Fr.
Velloso, e por isso apressamo-nos em patentaal-os (b).
Uma substancia crystallina, insípida, que não se com-
bina com os ácidos, designada por piperina;
Oleo concreto, esverdeado e de sabor acre ;
Óleo volátil balsâmico ;
(a) Botânica de Acliiltes Ricbard.
tít) Tomo I[, pagiaa 2^1-
Dictzedby Google
— 240 —
SobsUncia gommosa ;
Saes terrosos;
Principio extractivo;
Ácidos malico e uríco ;
Bassorioa .
A pimenta cresce naturalmente na Índia, mas tem sido
cultivada vantajosamente em outros lugares; citaremos
como exemplos : nas ilbas de Java, Malaca, Sutnalra e
Bornéo.
A ausência d'estes elementos no trabolbo, que nos
occupa n'este momento, torus-o menos romplelo; mas
sobresabem outros pontos não destituidos de interesse,
em que toraremos ligeiramente.
As dimensões do caule, assim como os caracteristicos das
folbas, elementos do fructo, épocba da colbeita, modo de
colber as semeates, o plantio, influencias do clima e do
terreno, são os principaes dados para o estudo doesta
plania, que encontrámos na primeira memoria.
Mio descreve o fructo [que é uma baga), em todas as
suas parles, e passa muito por alto no exame da Qõr ;
menciona as arvores em que ella se apoia ;é de opinião
que, nos terrenos arenosos de Gõa, esta pimenta não
prospera; prefere os terrenos argillosos, vermelhos na cõr,
ou d'um vermelho escuro, ou lodosos. A mais aromática
provém de Bragare, Talicheira, e Catecut ; mas a saa
cultura estendía-se a outros pontos, como Salcete, Panda,
GAa, Bardez, etc.
Não é esta a única planta das piperaceas que goza das
propriedades supracitadas. Além da pimenta da índia,
temos a de Madagáscar conhecida pelo nome cubeba,
ou pimenta rabada, e a pipereka da China; ambas ollas
são ciladas n'eslo trabalho, porém não estão descriptos.
Segundo Acbilles Richard, os fructos da piper cubeba.
Dictzedby Google
- Ml —
sjo esphericos, d'um pardo escuro, carnosos, com liabas
saliflDles na superficie e longamente pedicellados ; um
pouco menos aromático e de sabor menos pronunciado que
o da pimenta da índia ; maito efficaz contra as blenorrha-
giat uretbraes, segundo os resultados obtidos pelos Drs.
Grawford e Barda;, em In^aterra, e depois por Velpeau
e CuUeríer, em Paris. O principio activo da cubeba, que
lhe dá o sabor acre, foi descoberto por Cassola e por elle
denominado cufre&tna.
Vauquelia anaiysou-a (a) ; e correm impressos os resul-
tados das suas experiências. Exislé na índia uma outra
espécie — o piptr Umgum que muilo se approxima da
precedente; ofmclo é escoro, accompAobadopor um certo
numero d^esoamas do caiii, e empregado na medicina.
O piper angusHfolliam do Peru (b), quer em infusio,
quer em tintura, foi empregado com vantagem no Irata-
mento da leucorrbéa chronica. — Os índios serfiam-ae
d'esta planta para estancar o sangue de qualquer ferida.
A. bebida conhecida por ava, que éra usada em algumas
ilbas do {c) Oceano Pacifico, prepara-se com a raÍE do
piper metítysiieum. — Humedece -se primeiramente com a
saliva, e depois fermenta-se, ajuntando-lhe o leite do
coco.
A. substancia que os habitantes das ilbas de Sonda mas-
tigam é uma mistura das folhas do jnper betei, da índia,
com alguns príncipios adstringentes, cal e noz da Areca
catechu; segundo as indicações do eminente botânico
francez A. Ricbard.
Estas poucas linhas sSo mais que sufficienles para que
ia) Pagina iUiO da HMoria Natural MtiieaX de A. Ricbard, T voL
(6) Pagina 3ãl da Ralaria Natural Medicai de A. Ricbard, S* vol.
[c] PagÍDa 341 da Hiitoria Natural Medicai, <le A. Ricbard,
2» vol.
TOHU XXXI P. II 31
Dictzedby Google
p essamos ajuizar coDScieaciosanieQle do ralor das Memorias
publicadas por Fr. VeUoso; e para o cooseguii frisi-
mos bem o grio de importância da pbota que elte teve
em TÍsIa vulgariíar, patenteando ao mesmo tempo dodos
interessantes sdbre outras piptreiroã, que não estão in-
cluídas no seu opúsculo, mas que hoje rnriquccem as
paginas de diversas obras monumenlaes de botânica. Si
não foi completo o'esta parle, primou pela exactidão e
pelos conhecimentos uteia que ahi accumuloa.
CAPITULO XV
No qaadro das obras que foram traduzidos pelo sábio Tel
loso incluiremos a Belminlhologia Portvgveaa de Jacques
Barbut, ou o estudo de diversos articulados, alguns zoophj-
tos e molluscos, com bons desenhos ootoridos, e enume-
ração de muitas espécies já descriptas. O estudo d'ellas
não offerece taoto interesse ; estes animaes oecupam,
pela sua organização imperfeita, os gráos inferiores da
escala zoolc^ica. Teltoso reconhece esta verdade em sua
dedicatória a Sua Magestade o Sr. D. João VI. Para os
que lém cultivado a zoologia, este trabalho não será uma
fonte de idéas novas, porque foi publicado quando a
sciencia ainda não apresentava o desenvolvimento que
boje apptaudimos. Entretanto, si considerarmos somente
os conhecimentos helminthologicos d'oulro5 tempos, se-
remos obrigados a prestar homenagem á importância scien-
tífica â'esla prodocção.
Mais uma vez notaremos a confusão de certos animaes
em grupos próximos, os quaes, presentemente, formam
divisões distinctas, que baseam-se no estudo profundo dos
seus característicos anatómicos. Já discutimos em outro lu-
gar o quonto tioba de imperfeito o syslema estabelecido por
Dictzedby Google
— 2*3 — ,
Lianéo, qae de modo algum podia abranger as diffflrenças
fundamentaes que distinguem mais naturalmeale os seres
oigaaizados do reiao aoimal. Os qusiro typos de organi-
zação que serrem de liase á classificação de Cuvier, hoje
aperfeiçoada, são representados pelos animaes de cada
um dos grandes ramos, e alids reconhecidos até pelos
que adquiriram somente idéas geraes sftbre esta scieacia.
O homem, como o primeiro dos vertebrados, ou outro
qualquer ser d'uma das quatro classes, afasla-se comple-
tamente d'uma abelha, que é um articulado da classe dos
insectos, assim como esta afasta-se manifestamente d'uma
ostra (mollusco acepbato], e, principalmente. d'um radiado
echinoii»rino — como ú ouriço do mar, e, d fortiori, d^ou-
Iros zoopbylos de organização ainda mais imperfeita.
K sciencía passou por muitas phases, que a historia
commemora, e que constituem os diversos degráos do
monumento scienlifico que os séculos nâo deslruiram,
atteslando os embates vigorosos de muitos espiritos labo-
riosos e profundos nas suas indag-tções. Doestas tenta-
tivas resultaram desejos de emprebender outras ainda
mais profícuas; e todos estes elementos reuuidos serviram
de solido fundamento para o descobrimento da verdade,
único alvo e a mais legitima aspiração dos profundos
observadores da natureza.
Este defeito que apontamos na obra de Barbut, e que
Velloso não discute, tem uma explicação bem plausível nas
palavras que acabámos de escrever. Agora só nos resta
apontar a natureza do trabalho, assim romo as suas divi-
sões e subdivisões, algumas das quses não estão muito em
harmonia com os conhecimentos acluaes.
Estes animaes imperfeitos foram por elle distribuídos
em cinco ordens : intestinos, molUs, testaceos, lHhophytOê
e zoopbyiús, isto 6, animaes molluscos e articulados, que,
Dictzedby Google
— ai4 —
segundo o melhodo natoral bcqe admittido, formam dob
grandes ramos.
A ordem dos intettinoi cootém aaimaes rimpUi, nús e
sem nwmòrt», e comprebeode sete géneros a que perteo-
com as espécies que vamos mencioDar.
O gordio ou aú>eUo aquático, que tira o seti nome do as-
pecto filiforme do corpo, que é Uso, arredondado e Ião
delgado como um fio de cabetlo. Vive em tenenos aigillosos
ou em aguas doces.
O gordio d'argilla tira o seu nome do fado de ser sem-
pre encontrado no barro, e differe do primeiro pela cdr
amsrella das suas extremidades.
O gordio mufcuíar procura de preferencia os músculos
dos braços e pernas, e é natural das índias, onde encon-
trasse no orrslbo da manha.
O gordio do mor tem o corpo em espiral ; vive n^agua
aalgada e ataca aos peixes, como o gordio muscular ao
homem.
Ogenero asearis 6 notável por uma espécie aacarídavér-
mieular ou lombriga, que introduz-se pelo tubo intestinal,
e é considerado como verdadeiro flagello, por ser a causa
de sérios incomraodos e de diversas moléstias, que tomam
máo caracter nas idades pouco avançadas. Tem o corpo
comprimido nas duas extremidades.
No reino vegetal os médicos encontram poderosos venni-
fogos e os utilizam vantajosamente ; e entre eites citaremos
iandira vtrmifaga e a anthelminthicai papilionaceas, esta
é acoohecido vulgarmente por aogelim amargoso, por que «
madeiratemum amargo ínaupportavel e duradouro; ob-
lem-se o podo cerne, mistura-se com leite e bebe-se para
expellir os Termes. Na família dos artocarpeas encontramos
a gamelleira, urostigma dolliariumy cujo sueco toma
a oArde breu, em contacto com a atmospbera.
Dictzedby Google
— JW —
Das ulsolaceas utilizamos os cheDopodims , cujos
effeitos aão salutares, mas que nem sempre são usados pelo
seu sabor repugaaote : é o <^unopodium ambrosioides de
LioDèo, «te. Como medicamento mais brando, muitos
aconselham a infusão das fotbas de ortetã, planta da famí-
lia natural das tabiadas^ tão commum nos nossos jardins o
hortas.
O autor aponta os meios de debellar os males produzi-
dos pelo gordio muscular ; mas nada diz quanto á outra es-
pécie, e esta lacuna justificará as nossas ultimas obser-
Tacões.
O género lun^ricw tem os seus caraclerislicos substanci-
almente enunciadas, assim como os das duas espécies
descriptas, que podem ser verificados no desenho que
accompanha a descri pção.
Os armeiida» mais importantes sSo, sem conlestaf^o, as
sanguesugas, porque prestam uno immenso auxilio á medi-
cina, e distioguem-se em sanguesvga medicinal dos caral-
los, geometra e ouriçada. Menciona um certo numero de
signaes, mas olvida alguns elemenios interessantes para
a sua historia.
Os antigos não ignoravam a faculdade que íém estes ani-
inaes de sugarem o sangue ; mas o seu emprego na medi-
cina foi conhecido annos depois de se ter vulgarizado este
facto. Eram importados da Asia-Meuor, da S;ria e da Geór-
gia, para a Europa.
Náo ha quem desconheça o sen modo de viver, os seus
usos, a maneira deapplical-os e os dados analomicos que
fornecem. E' a sanguesuga officinalis da pequena familia
dashirudineas.
A sua segunda classe é muito impropríamenie designada
por motluscot, como si a estrella do mar e o ouriço do
mor, que elle contempla só debaixo d'esta denominação.
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— aw —
nSo tiressem uma textura radial, como outros aoimaes do
grande ramo dos zoopbjrtos, e aos quaes estão igualmente
ligados por outros pontos de semelhança !
Nos dezoito géneros descriptos Sgoram muitas espécies
conhecidas, embora separadas dos grupos naturaes a que
hoje pertencem, com as suas competentes figuras e tragos
dislÍQCtivos.
Eis o quadro de algumas espécies da segunda classe ;
Asterias ou estrellas do mar. — Estrells lua, estrella empo-
lada ou de mamillos, estrella purpúrea, estrella
reticulada, estrella nodosa, estrella equestre, es-
trella lisa, estrella cauda colubrina, estrella pesta-
nuda, estrella com pente, estrella cabeça de Me-
dula.
Ouriço (echinus). — Ouriço comestível, ouriço das pedras,
ouriço diadema, ouriço turbante, ouriço de ma-
millos, ouriço do mar negro, ouriço enxada,
ouriço lagda, ouriça rosa, ouriço rAde, ouriço
balo. ouriço circular.
Medusa. — Medusa encruzada, medusa de orelhas, medusa
cabelluda, medusa barrete, medusa oral, medusa
globosa, medusa ondeada, medusa bolsa, medusa
de véo, medusa parda, medusa tuberculads.
Ciba, cinco espécies; clio, duas; scilea, uma; lemea,
trez; tritão, uma ; berbequim (tefebelia), uma ; bolotha-
ria, cinco ; IhetiB, uma ; actinia, trez ; ascidia, quatro ; ne-
reida, rinco; apbrodíta, quatro; limão domar, trez; lebre
do mar, duas ; lesma, quatro.
Bem diz o padre-meslre Velloso aa dedicatória ao seu
bemfeitor, quando procura realçar a importância d'este
trabalho : ■ Isto supposto, Senhor, o estudo d'este3 dimi-
nutos animalejos não é d'aquelles que s6 se devem fazer
por um simples recreio ou mera especulação, roas sim por
;dby Google
- 247 -
necessidade. Porquanto, si o seu útil nSo lem taota
extensão quo os faça credores de grandes resultados, sem-
pre se lhe earontra algum, que pôde muito bem despertar
a nossa sensibilidade e estimação. Quem olhari coro apa-
tbia as sangradouras sangueaugas em muitas moléstias, a que
são applicadaa e propriasT Qoem será insensível ao beneficio
que Cizem os gordios ou cabetios aquáticos, rompendo a
argilla e guiando a agua pelos meatos iatraterraneos, que
acabaram de abrir? para o ouriço comestível, de que se
alimentavam os antigos romanos, e ainda lioje os franceses
de Marselha, que os vendem como mariscos?
t Mas o damnoso dos da primeira ordem, chamados
intestinaes, certamente requer que os esmerilhemos até
onde puder chegar a nossa penetração, s
Muitas outras linhas d'esta dedicatória foram consagra*
das por Fr. Velloso i apologia do Príncipe regente, cujo
espirito bemfazejo, altamente patriótico, e sempre iucli-
nado a beneficiar com profusão aos homens de leiras e
laboriosos, foi por elle lembrado com a mais profunda Te-
neração, e com o mais acrysolsdo reconherameoto.
Deploramos que o nosso compatriota não tivesse publi-
cado outros trabalhos, que provassem os conhecimeo-
tos por elle adquiridos em pbilosopbia, nas matérias
ecciesiastieas, estudos que mereceram igualmente a alten-
Ção de Velloso em todas as epocbas de sua vida monástica.
Como pregador, assim nos lega a tradiçio, a sua erudição
maaifestou-se, mais de uma vez, em diversos sermões bem
elaborados, os quaes foram sempre dictados pelo sentimento
da religião que abraçara, e pela fé robusta nos dogmas e
preceitos do cbristianismo.
Na ausência de mais estes documentos, que seriam ver-
dadeiros títulos de gloria para a nobre fronte do Uluatre
franciscano, sobejam-nos outras provas irrecusáveis de sua
Dictzedby Google
— S48 —
Tflita UlastraçSo a da vigorosa iatelligoBoii qae a oatanu
lfa« coneedâra. Alada afio percorremos todos os opusoolos
dados por elle A luz da publiúdade. E si a ooisa tigetn
analyse nio pôde abranger a totalidade dos seus esraiptos,
s eansa reside na iminensa diffieoldade de os reaair.
Os manosoríptos, e os livros qae enooolraratn depois da
sna morte, foram offerecidos peto vigário provincial Fr. An-
tooin Agostinho de Sanl^Anna a S. A. Real, qae, por um
aviso de 8 de Novembrode 1811, assiguado pelo aoade de
Aguiar, hoove por bem aceital-os e maodar depositar ns
redl bibliotheca. Provavelmente El-rei levou-os para Porln-
gal, como homenagem á memoria do sobdilo Sei a quem
sempre cobrira com o seu maato protector.
CAPITULO XVI
AAaljse do tratado «obre a cultura, nso e ntllidade du batatas, oa
papas, do HetpBDbol [>. Henrique Dojie.
Fr. Velloso, depois de reunir Iodas as informacdes qae
colhAra do estudo d'essB obra, publicou em portuguez o
seu conteúdo com o fim de valgarizar a utilidade e usos
do Solanvm tuAaromtm. A agricultura do Brasil recebeu
das mãos do illusire botânico mais este importante serviço,
gozando dos beneficies que elle soube descrever a respeito
d^esteoroamenlo do mundo das plantas.
Na phrase de D. Henriquo Doyle : No ai rengUm d» la
agricultura, detpue» dei trigo, tjue maviça mat aíífrUion
para la conservacion y aumento de la poblaeion dd pais
que »ea que el cultivo de las batatas.
Faremos sobresahir o pensamento cardeal d'esle útil
trabalho; começaremos, porém, por algumas consideracOes
que Tellosoesqueceu-se de mencionar na sua Iraducçio.
Dictzedby Google
- 8*9 -
O Sokmum UAeroiwn é originário da parte da cx)rdi-
Iheirados Andes pertencente á republica do Peru. Nos ar-
redores da cidade de Lima foienr,ontrado em estado selva-
gem. O nome de Parmentière, pelo qual era coubecida em
outros tempos, faz lembrar o de Parmsntier, a quem a
França deveu o grande desenvolvimento da cultura doesta
planta e o conhecimento dos seus usos.
Transporlaram-na para a Europa no fim do século XVI.
E' cultivada com vantagem em diversas latitudes, tanto
nos paizes situados na zona temperada, como entre os tró-
picos ; cresce em diftereoles alturas de montanhas eleva-
das eem pontos taes que, pela sua baiia temperatura, não
comportam a cultura de muitas outras plantas, Cresce em ter-
renos de composição diversa.comtantoque não sejam com-
pactos, para que os seus ramos inferiores possam in-
Iroduzir-se na terra e encher-se de fécula iiu certos
pontos. Estas intumescências de amido são conhecidas
pelo nome de tubérculos.
Em outras plantas muito usadas, como o inhame ou
taioba (a), o cará [b), a mandioca (c), a batata doce (d), o
aipim [e), a dahlia (/), etc, as raízes são tubetosas, por-
que os depósitos de fécula ou tubérculos são encontrados
na porção inferior do axophyto, emquanto na batata in-
gleza existem nos pequenos galhos que nascem da porção
inferior do caule, os quaes penetram no terreno, confun-
dindo-se d'este modo com as raizes propriamente ditas.
Nas plantas que (6m tuberas o deposito de fécula faz-se
{□) Caladiam eículentum da família das aroideas.
{b) Dioscorea alata das dioscoreas.
(c) Hanihotutilisaimadas euphorbiaceas.
Id) CoDvolvuIus batatas das cODVolvulaceas.
{e) Manitiot aipim das eupliorbiaceas.
(/) Dahiia dae s^naolhereas.
TOMO XXXI, P. 1[ 32
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ou DO rhizdma, ou raiz mestra, nas fibnu radieaet, ou nas
raizei adventidai.
Estes tubérculos são usados em lai^a escala como sLi-
mento muito outriente, quer isoladamente, quer em mis-
tura com outros alimeo tos. Além da fécula, contém maté-
rias graxas, mioeraes, azotada, cellulosa, agua, dextrina,
etc, ele.
Em qnasi Iodas as obras de botânica figura a descrípção
das folhas, flâr, fructo , caule, raiz, e por isso nada diremos
a este respeito.
A fécula, em rela^io aos vegetaes, tem a mesma utilidade
que s gordura nos animaes;é um depósito de alimento,
á custa do qual elles nutrem-se quando estão impossi-
bilitados de o procurar nos meios em que vivem. As
sementes da batata ingleza não são abortivas; podem ger-.
minar, pKduzindo novos individues, mas a sua cultura
funda-se também na reproducção por gommos; introdo-
zindo-se um tubérculo no solo, o olao ou gommo expan-
de-se á cu9ta do amido que elle contém, e produz um
caule, que cobre-se de folhas, que floresce e fructifica.
" Todos os embriões, endospermicos e epíspermícos, en-
cerram uma certa dése de grãos de fécula nos utriculos
do endosperma, ou nas cellulas das cotilédones; esta
fécula transforma-se em dextrina, e depois em assucar,
que, dissolvido n'agua, constitua o primeiro alimento do
gérmen reproductor. Terminado o periodo da germinação,
as raízes passam a exercer as suas funcções, absorvendo
do terreno o sueco mecessario á vida da planta.
O autor abstrahe d'algumas d'estas considerações; e
principia exultando as óptimas qualidades da planta, sua
importância como alimento, comparao^o-a com outras
substancias nutritivas.
No capitulo 3° menciona as condições de fertilidade
Dictzedby Google
— 251 —
do (erreoQ ; considera a terra arenosa como não pre-
judicial ao desenvolvimeoto d'esta planta, e como per-
niciosa a qae peia sua compacidade obstar á livre expaosSo
das raizes ; nota as vantagens dos adubos, e a indicação
dos meios de preparar o terreno para a cultura da batata
nas provindas da Hespanba. De todos os tnetbodos o
que elle aconselba como mais conveniente e vantajoso é
o de abrir regos, d'um pé ou mais de profundidade, com
um e meio de largura, di<:tantes uns dos outros dez pal-
mos, sondo fertilizados com uma camada d'estrume. As
sementes devem ser envolvidas por uma certa quantidade
de adubo, não só para favorecer o seu desenvolvimento,
como também para abrigal-as contra o rigor do inverno.
Cila o facto das Ires colheitas em um auno, na ilha das
Canárias, com ires plantaçõesem mezes diversos: Janeiro,
Setembro e Novembro ; e o rendimento de mais de 16,000
pesos, obtido na ilha de Tenerife.
Os pães, que alguns povos utilizavam como alimento
mui substancial, eram feitos rom fécula das batatas. Para
isso escolhiam as mais fariohosas; depois de cozidas,
separavam as duas partes amarella e branca da polpa,
e obtinham essira duas qualidades de pão, a primeira das
quaes era mais delicada e appotecida.
I'ara tornar o seu trabalho mais completo, o autor soli-
citou do Dr. Timotheo O. Scaulau o seu parecer a respeito
da utilidade doesta planta, que consta d'uma carta, em que
foram incluídas as observagões de Parmantier.
Os habitantes ds Irlanda foram os primeiros que a cul-
tivaram na Europa, pelo facto de terem encontrado as raizes
espalhadas em alguns pontos dn costa occidenta) da Irlanda,
onde foram lançadas casualmente pelo navio em que via-
java o almirante ingl«z Walter Raleyg, em consequência
de am forle temporal qne sobreveiu antes do termo da sua
Dictzedby Google
— J5a —
viagem. Transportou-as d' America; e os seus usos vulga-
rizaram-se Da Irlanda, e em outros paizes de Europa.
Para provar o quanto tem de succuleulo este alímeato,
lembra a robustez e boa saúde dos habitantes d'8quella ilha,
a maior parte dos quaes nutría-se principalmente á cust&
dos tubérculos do solanum tvberosum. Menciona as diversas
applicações da batata ; quaes os alimentos que a continham,
quer entre as pessoas abastadas, quer nas classes menos
favorecidas da fortuna.
Partnentier, a quem se devem tantos estudos sobre esta
planla,quiz fazer conhecidos os seus usos; para o conseguir
reuniu seus amigos em um banquete, cujos guisados com-
punham-se exclusivamente d'estes tubérculos preparados
de differentes modos; lembrou-se do fructo para a com-
posição de uma bebida que substituísse ao café.
Louva a sua acção contra o escorbuto, e em mais outras
alTecções do nosso organismo. Ao excesso d'agua, que in-
dicámos na analyse chimica da batata, attribue elle a
grande facilidade com que é digerida, pelo facto doeste
líquido conservar os princípios componentes em estado
de extrema divisão.
Em razão da prodigiosa riqueza d'e5tas tuberas a sub-
sistência dos povos está garantida contra a escassez das
más colheitas; o consumo do trigo pôde diminuir; ou-
tros animaes nutrem-se á custa das suas folhas, e da pró-
pria raiz; e tudo isto não depende de grande extensão
territorial para a cultura ; porquanto os factos provam que
de cada um dos indivíduos obtem-se um peso considerável
de matéria atimenticia.
Outras idéas, que engrandecem a utilidade d'este tra-
balho, foram bebidas nas observações de diversos homens
notáveis, aos quaes não escapou a importância do vegetal
em questão.
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— 453 —
No anão ãc 1786, o Dr. Adam Snilh publicou em
Londres uma obra, que tem por titulo a BiqMza das
naçõet, onde incluiu as suas observações sobre a cultura
8 propagação das batatas. Eialta as vantagens e proprie-
dades d'esla planta; aponta como inconveniente, que não
estende-se ao S. tuberosum, o estado de extrema humi-
dade a que se reduziam os terrenos, em que cultivavam
o arroz {a) (comquanto reconheça o seu préstimo e uti-
lidade), o que não acontecia com a batata ingleza, cuja cul-
tura éra adequada a todos os climas e a lodos os terrenos.
Em sua opinião, uma certa porção de terra que fornece,
por exemplo, doze a treze mil arráteis de peso de tubér-
culos, não poderá produzir mais de dois mil arráteis do
melbor trigo.
Prova a superioridade do pão de trigo sAbre o de aveia,
assim como as vantagens do pão de balata, comparando
a robustez dos habitantes da Inglaterra, da Escossia e
Irlanda, que os procuravam como alimentos substancíaes
e de difficil substituição.
A sociedade de Agricultura de Paris recompensou o<
esforços feitos por Parmantier n'este sentido, approvando
em um resamido, mas luminoso parecer, assignado por
Thovin, e Cadel de Vauí, a obra por elle publicada,
o que se deprebende do certificado passado pelo secre-
tario perpetuo Mr. Brossunet. Conveacendo-se todas as
classes dos povos agrícolas, que não cultivavam os cereaes,
do facilidade com que se obteriam vantajosas colheitas
d'umB planta tão alimonlnr, quanto não pouparíam na
importação d'outros produclos que eram consagrados á
nutrição do homem? Melhorar esta industria agiicola i
incutir no espirito da população a intima convicção dos
(a) Orysa eatlva da família das gramÍDeas.
Dictzedby Google
— 354 —
seus effeitos salutares; poupar ao Estado maiores sacri-
fícios pecuniários com a compra, no estrangeiro, das
sementes do trigo, e outros elementos pata a sua subsis-
tência ; tornar conhecidas as propriedades fundamentaes
da preciosa planta, que encerra nos seus org&os. ■ Uma
substancia igualmente nutriente e de fácil acquisição ■, taes
foram as idéas capitães e patrióticas que determinaram
a coordenação de todus os trabalhos parcíaes, que estão
reunidos n'esta obra, que Fr. Velloso traduziu com o sen-
timento profundo de generalizar os benefícios incontes-
táveis de sua cultura.
O principio económico consistia em fabricar o pSo das
batatas, consumindo uma dose bem diminuta de farinha
de trigo : a quarta parte, ou menos ainda, do peso do trigo
seria sufficiente para a subsistência diária da população I
O processo resume-se em oito operações : o cosimeoto das
batatas cruas pelo calor do vapor, que desprende-se da
agua em ebullíçAo; separação ou extracção da pellicula
que envolve cada tubérculo ; esmagamento das tuberas por
veio de um cylindro e por tempo não determinado ; a fer-
mentação ; addição do fermenlo, farinha e batatas ; forma-
ção dos pequenos pães ; sua introducção no forno para
perderem pela evaporação uma parle da humidade ; e, fi-
nalmente, o resfriamento gradual ao abrigo de qualquer
compressão.
A preparação do chunho branco e do chunho negro pela
acção do gelo, expondo-os por muitas noites successivas á
acção de um frio rigoroso, protegendo-os durante o dia
contra a influencia dos raios solares, separando os seus
envoltórios e amassando-os com certos intervallos, para
que a humidade desappareça e as papas tornem-se contí-
nuas, (ai é o objecto de uma carta escripta por D. Ramon
deMaya. Mas no numero doestes elementos, Ião importan-
Dictzedby Google
— S55 —
tes para o estudo de um dos vegetaes mais úteis, depará-
mos com uma deficiência, que, para maior gloria do itlus-
tre autor, seria melhor que uão existisse.
Todos estes altributos tão maravilbosos do vegetal em
questão, t6m por principal causa a fécula contida nas tube-
ras; logo o estudo d'esta substancia, que se presta tarabem
a outras applicações que elle não aponta, deveria ter atlra-
bido a sua attenção, porque é digno de meação mui espe-
cial. E como a sciencia de boje nSo é a mesma que a dos
tempos em que elle viveu, julgamos conveniente appellar
para uma das primeiras notabilídades cbimicas da Allema-
nha, o mestre por eicellencia Justus Líeb^ (a).
Os grãos de fécula da batata ingleza são mais brilhantes
e volumosos que os do trigo ; e, para obtèl-os, machuca-se
ou moo se fortemente cada tubérculo, sujeitando-o a sue-
cessivas lavagens, até que adquira um aspecto leitoso,
passando por uma peneira mui lina ; o deposito da fécula
obtem-se logo em seguida. Os grãos são inodoros, insipi-
dos, sem cAr, de forma espherica, oval ouangulosos^ ode
dimensões variáveis. A. sua purifica^So consiste em faz£l-a
ferver em uma dissolução de uma parte de potassa cáustica
em cem parles de álcool, e depois em laval-a com agua
pura ou álcool.
A gomma não é roais do que o amido em dissolução
n^agua quente; a frio não se dissolve. Si deitarmos 30
partes de agua, na temperatura de 72° a 100% sAbre uma
parte da fécula extra hida do soíanum íuÒerosum, obtere-
mos uma massa muito mais gelatinosa do que a que se
produz, em iguaes circumstaocias, com a fécula do trigo e
do arroz, cujos grãos são menores.
Quem procura reconhecer a presença de amido em
(a) Tratado de chimica orgânica, 3* vol.
Dictzedby Google
- aM —
qualquer utricnio vegetal, lança mSo do iodo, que lhe com-
municaama cdr azul característica, formaudo-se o iodurelo
de amido. Sdbre esla reacção baséa-se a determinação da
ozona na atmosphera. Os papeis de ozona, laes quaes os
preparamos para as nossas observações no Rio de Janeiro,
compoem-se de amido e iodureto de potássio. O oxyge-
QÍo electrizado decompõe o segundo e apodera-se do radi-
cal ; o iodo permanece em presença do amido, com o
qual combinasse em presença da agua ; e pela cdr mais ou
menos intensa, que se observa n'esla ultima reacção, con-
clue-se a maior ou menor quantidade de ozona que ha na
«tmospbera; o grão de ozonização nos é indicado pelo ozo-
Dometro de Schoenbein.Jã publicámos um pequeno traba-
lho a este respeito, e não vem muito a propósito repetir os
nossos apontamentos.
Ainda mais outra propriedade das batatas. Scaulan diz
que os escossezes extrahiam d'ella3 um licor semelhante á
agua ardente ; o celebre chimico Payen obteve de suas ex-
periências um resíduo oleoso, que continha um corpo graxo
crjstallizavel.
Segundo Liebig, submettendo-se a fécula doestes tubér-
culos á acção de uma temperatura de ãO!>% depois de bem
sécca, ella poderá dissolver-se n'agua fria, formando um
liquido mucilaginoso. Mas si a operação fór feita em um
vaso hermeticamente fechado, em razão da agua que con-
tém, haverá fusão em uma massa diaphana e homo-
génea.
Mais um attributo. A fécula, a cellulosa e a dextrina são
três corpos isomeros, isto é, compostos dos mesmos ele-
mentos (carbone, hydrogenio e oiygenío } nas mesmas
proporções, mas que gozam de propriedades differentes.
A cellulosa é insolúvel a frio e a quente ; a dextrina dissol-
ve-se com facilidade em ambos os casos. A fécula, já o
D,:„i,;cdtv Google
— 257 —
dissemos, só pelo aDxilio do cslor poderá ser dissolvida ;
Dão resiste á acção da agua n^umacerla temperatura; é ata-
cada pelo iodo e bromo; os ácidos e alcalis a transformara
em deitrÍDa(a). 1,000 parles de amido das batatas, mistu-
radas com 60 partes de acido tarlarico, a 135" de tempera-
tura, dão peta concentração uma massa transparente e ge-
latinosa, com textura concboidaa, e a parte insolúvel no
álcool é a dextrina, que tem a propriedade de desviar para
a direita um raio qualquer de luz palarízada.
Poderíamos ir mais longe, substanciando as particulari-
dades que accompanham o estudo d'esta substancia, as
quaes ofTerecem um amplo interesse sciantifico, sem que
apresentem uma relação ímmedíata com o objecto princi- .
pai do nosso trabalho. Contentam o-aos com as idéas que
enunciámos, e coro a exposiçSo exacta de todos aquelles
pontos, que porventura lizerem realçar o merecimento da
obra que Velloso traduziu.
Em consequência do alto preço a que chegou o trigo ao
anno de 1795 em Londres, a real junta da agricultura,
allende&do á necessidade de urgentes medidas que favore-
cessem a população contra a crise, que ameaçava enfraque-
cél-a, publicou uma longa lista, em que se contam 70 clas-
ses de pães, confeccionados com ingredientes novos, e
misturados entre si em doses determinadas, muitos dos
quaes seriam obtidos á custa de pequenos saciilicins pi.>cu-
niarios.
O pão sem mistura abrange as seis primeiras classes,
occupando o primeiro lugar o de trigo, eera seguida o de
cevada, centeio e aveia. Seguem-se os que deviam ser
feitos míslurando-se estes elementos entre si, e outros que
apontaremos.
(o) Tratado de chimira orgânica de J. Ltebi^', vol. 3*. pag. 10.
TOHO XXXI, P. II 33
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Em moitas classes a bauta entra ccHno parle iategrante,
occupaudo quasi sempre a terça parte ; ora com grãos de
trigo e ceateío, ora com o primeiro e cevada ; com o milho,
arroz, etc. ; para cada pão duas ou Ires plantas em quanti-
dades variáveis das que em seguida enumeramos : trigo, ar-
roz, batatas, milho, favas, centeio, cevada, trigo inferior,
aveia e bico. Emfim, quasi lodos cereaes, plantas da famí-
lia natural das gramíneas, que encerram ^íuíen nas suas
sementes ; as favas tèm abundância de fécula nos seus
grãos, e as batatas são um poderoso alimento pelo amido
que contém.
Aproveitando-se todas estas sementes alimeaticias, co-
lhiam uma dupta vantagem : a de diminuir o consumo do
trigo, poupando-se o dispêndio de grandes sommas na sua
importação ; e a de augmentar consideravelmente a cultura
de muitos vegetses uleis, promovendo o interesse pela in-
dustria agrícola, e ministrando à população os necessários
recursos para a sua subsistência por preços módicos, e em
relação com as posses mais ou menos vantajosas dos diver-
sos grãos da hiersrcbia social.
Da Encyclopedia Britanka vêm á luz maís algumas idéas,
que ainda não foram referidas, sobre os usos da planta em
questão. Todo o terreno em que se cultivam as batatas nada
perde da sua primitiva fertilidade, porquanto os restos do
vegetal que não forem utilizados poderão restituir muitos
princípios mineraes, que foram roubados durante o período
da vegetação.
O leite dos animaes, que se sustentam em parte á custa
d'aquelle alimento, nada perde das suas boas qualidades ;
pelo contrario torna-se ainda mais próprio para os Qns a
que ó destinado. Os factos confirmam esta asserção.
Dando-se bera em qualquer terreno, até nos mais esle-
reis ou silicosos, convém que o agricultor aproveite os de
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maior fertilidade no plantio de outras sementes, cuja ger-
minação depender da composição chimica do solo. De-
vendo notar que as batatas cultivadas em lugares descam-
pados, sob a influencia dos raios solares e das correntes de
ar, são superiores ás que desenvolvem-se nos valles ou em
terrenos baixos.
Avultam outras considerações de peso, que, a serem
enumeradas, tornariam o nosso trabalho por demais ex-
tenso, contra o pensamento que presidiu á sua confecção.
Seja-nos permillido contemplar esta utit producção no
quadro imponente das que primam por um grande numero
de predicados, que as recomraeudam á attenção dos ho-
mens entendidos. Os documentos que a accompanham são
uma origem notável de numerosos conhecimentos, que íl-
luslram o espirito de quem interessa-se pelo estudo do
reino vegetal ; e vêm confirmar o juizo que sempre susten-
támos, de que a scioncia das plantas seria de nenhum pro~
veito para qualquer sociedade constituida, si não abran-
gesse as minuciosas indagações sobre todas as proprieda-
des de cada planta em particular. Elias foram creadas
para diversos fins; e ao botânico compete discriminar as
que se prestam a certos usos das que são susceptíveis de
menor applicação, estudando-as, descrevendo-as, classifi-
cando-as e indagando quaes os seus usos nas artes, in-
dustria e medicina.
CAPITULO XVII
A solicitude do illusire botânico Velloso pelo estudo dos
vegetaes úteis seta mais uma vez comprovada pela publica-
ção de outras obras. Sirva de exemplo a Memoria sobre a
culfura, maceração e preparação do cânhamo, apresentada
á real sociedade agraria de Turim, e traduzida do italiano
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- 9«0 —
pelo Dosso dislJQCto compatriota, com o justo fim de bene-
ficiar a ioduslria cora mais um fructo de suas lucubraçdes.
Haverá quem desconheça o préstimo da fibra do cânhamo
e 05 usos das sementes t
Linnéo classillcou-o na família das urticaceas : é o can-
nabis saliva da Pérsia e de ha muito conhecido oas manu-
facturas da Europa ; planta annual, cujas fiòres são unise-
xuaes dioicas, e como taes imperfeitas.
Carlos Linnéo, em sua obra Systema, genora, spedes
plantaram, pagina 975, apresenta os signaes dístincli-
vos dos dois indivíduos masculino e femiaino, mas nãu
se occupa das suas propriedades (a).
(o) TranscrcvemoB as palavras do Dr. Matliui, iosertas nas pagi-
nas 311 e 312 do fascículo 12' :
■ Gannabis saliva (cânhamo liisit. ), ei Europa allata, indicam suam
vim narcoticam sub fervida Brasilife ccolo, denuo adipisri videlur.
■ Raro, inquil Marliiis (Syst. Uat. taed. bras. 121] in parle imperi'
quHm maxime versus Austram sita, a colotiisnoQDuIltscolilur, nec
eam bic commemoramus ob semínuiu indolem oleosam, sed propterea
quod herba pollel matéria quadani volatili narcótica. Medicaster cinga-
rus, quem Soleropoli nobilis arlis ntedlcce viilirous vices eipleolem,
tam liujus berke qiiam Daluríe StmmoniimultipMcea usus nobt« lau-
davil. Neque fihiopes herbce et extracli ex ea parati vires toxicas et
anodyaas iíioorant quippe qui, alia ut sileam, su<Timeola Toliorum opti-
mum esse contracrapulam remediam perhibent. D Quanta aui«msilnar-
cotici hujus atirpis principii in Asíe auslraliaris plagis eoergeia, vetus
jam fama est,recentioruinobservnlionibu3 compro bata. Maiimuaeslfo-
lioruiD per oranem orientem ad parandag ofTas opíatas (vulgn Bhaugh,
Subxee, Haschisch, Molak) usus. In plante apiid indoscults rdiis
inlerdum materies narcótica sub glandulanim resinorum forma (vulgo
Gberris] secernitur, farins simills, ob virtutis vehementiamsummo
belluonumglQdioqussiln. E cannabis seminibus pneter resinam, albu-
minam, muco-saccharum, el aubstantiam extractivam gumraosam olei
siccativi ffEtidi speolss, in inlegumento inleriore (enilopleuro) potissi-
mum residens, obtinetur. Quíc ei ejusmodi semine in oRicinis paran-
tur emulsiones etinfusa, viribus sedantibiis, involventíbus et lenien-
Dictzedby Google
— 261 —
Além da immensa vantagem da abra cortical, menciona-
remos desde yí nutras qualidades que o tornam ainda mais
apreciável. Alguns querem que o carvão que eitrahem do
caule seja leve e muito combuslivel. As sementes contém
um óleo graio nas cellulas da amêndoa, branco e adoci-
cado, que aconselbam p:ira a pintura e illuminação. Os
médicos as empregam em emulsões, como calmantes, eem
certas infla mmações.
Occupa-se da natureza do terreno mais adequado á cul-
tura do cânhamo, e diz ser preferível o que se quebra ou
esmigalha com mais facilidade, o que tem a propriedade
de conservar a bumidade por mais tempo e a que chama
terra gorda.
A presença da arâa cm qualquer terreno nimiamente
argílloso é ás vezes uma condição para quo o excesso de
humidade, que a segunda substancia podo conservar ( o que
é nocivo á vida das plantas), desappareça em parte, por
isso que as partículas da agua em contacto com a silica não
se poderão lixar facilmente, e muitas passarão a estado de
vapor,
A presenga de pedras em um solo por demais argílloso
tem uma vantagem que devemos assignalar. O barro,
quando exposto por muitos dias á acção dos raios solares,
vai perdendo successi vãmente a agua que accumulára
nos seus poros, acaba por se tornar tão compacto, que o ar
Dão poderá mais penetrar até ás raizes, dissolver o seu
acido carbónico na seiva, e accelerar a putrefacção das
matérias orgânicas pela acção do seu oxygenio. Mas, si em
um terreno de tal nnturezn existirem fragmentos de al-
gumas rochas de origem ignea, formar-se-b2o fendas pela
tibus imprimia. íd varíis orgaDOnim urinam parantium et evehenlium
passionibug. etiam ablndomm medíeis commendaDtur. ■— Eudliclier
EDClierid., paB.172, 173.
Dictzedby Google
influencia de ura calor inleaso e prolongado, e por ellas
o ar passará afim de banhar bs raízes dos vegetaes que
desenvolveram-se a'este terreDO argillo-pedregoso.
ÀpoQlaremos mais outra vantagem. Si estes fragmeatos
porteDcereai a rochas graníticas, s huraídade e o C ^ são
suOicieDtes para transformal-os : o feldspatho separar-se-ha
oos seus dois componeales — silicato d'aluiDÍaa, e silicato
de potassa (si o feldspatho íòt o orthoclasto ou orthosio) —
o quartzo produzirá a aréa. Já tratámos da utilidade do
culcareo e outros compostos.
Estas idéas são susceptíveis de grande desenvolvimeolo ;
e, comquanto não tenham sido tratadas com amplitude
pelo autor ds presente memorio, têm comtudo manifesta
relação com as proposições, que n'el]a encontrámos, no
capítulo que se refere ú composição dos terrenos em que
o cânhamo deve prosperar, "
Todas as outras considera^;ões são relativas d maior ou
menor inclinação do terreno, ao esgdto das aguas, ao
lavrar da terra, sua preparado e estrumes.
N'esta traducção estão assjgnados outros princípios úteis
que serão consultados com proveito por aquelles a quem
interessar o estudo d'es(a importante urticacea. Descreve
as condições que devem ser attendidas na escolha das
sementes : a còr do episperma, o peso da semente e o seu
sabor, e outras qualidades tiradas d'um trabalho do
Dr. Fabrício Berti Centen, onde estão detenninadas as
propriedades que separam as boas das más sementes.
Militas outras considerações sobre a planta, preparação dn
terreno, e os meios de abrigal-a contra os anímaes, afim
de obter-se a maior colheita possível, não ofFerecem tanto
interesse.
Não passaremos em silencio o capitulo em que elle
eipõe: os signaes do completo crescimento dos dois iodí-
D,:„i,;cdtv Google
— 263 —
viduos masculino e íeminino, e qae consistem no etíiola-
vMnlo das folhas, nas sementes luzidias e pardacentas, e
na cAr amarelLada do caule; o methodo para a maceração
do cânhamo, ou separação da casca, e das fibras libe-
rianas. Para maior clareza doesta ultima questão, o autor
faz um resumo histórico de alguns processos adoptados
em cortas épocbas, os quaes tinham um único fim, embora
houvesse divergência nos meios, — era dissolver a gomma
que serve de união ás fibras texlis do Cannabis satíva, e
que liga a casca ao caule. Todos os nomes dos diversos
personagens, que occuparam-se d'esta matéria, são refe-
ridos como homenagem aos seus esforços assim como
ás suas opiniões ; inconvenientes e vantagens de cada uma
d'eslas em particular. Segundo o seu pensamento, a me-
lhor maceração se faz em Ianques (cujas dimensões elle
nfto olvida) construídos nas proximidades de asa rio, do
qual os primeiros recebam a agua necessária (por meio
de canaes convenientemente estabelecidos), para a sepa-
ração dos fios do cânhamo nos feixes ou montes pre-
viamente collocados n'eslas bacias artificiaes. Um excesso
d'agua poderá damnificar os fiosje a deficiência d'este
liquido deiíal-os-ha impregnados d'um excesso de substan-
cia mucilaginosa, que convém separar antes de serem em-
pregados na industria. Aponta as precauções para a sécca
dos feixes, ou a evaporação d'agua logo depois de termi-
nada a primeira operação; os diversos modos de separar
a casca do pequeno tronco ; a arte de assedar e afinar o
elemento têxtil, e quaes os instrumentos mais adequados
a esta industria. Sentimos que n'este opúsculo tão interes-
sante não fossem contemplados o desenho da planta, e os
seus característicos botânicos mais fundamentaes. Houve
omissão completa d'estes dois elementos, que não deviam
ter escapado ao génio investigador do illustre traduclor o
Dictzedby Google
— 2C4 —
padre-mestre Fr. Velloso. Devemos confessar, entretanto,
que prestou mais um serviço á industria vertendo para
a Ung;ua porttigueza esta serie de conhecimentos sAbre um
vegetal, cuja fibra é de tantos recursos para a industria
manuractureira e de cordoaria, e cujas sementes encerram
propriedades tão importantes coiuo as que enunciámos
nas primeiras linbas d'estQ capitulo.
Mas, hoje, que as nações cultas tém dado um vigoroso
impulso ás sues manufacturas, as idéas contidas n^este
opúsculo ficam a quem dos conhecimentos, que se traos-
mitlem aos povos agricolas. O processo de maceração do
cânhamo em tanques, e em seguida a fermentação, tinham
o iDConveoiente, embora separassem as fibras das matérias
glutinosas, de produzir uma tal ou qual deterioração nos
fios, pelo que não podiam ser applicadas com a mesma
vantagem, que dVlas se poderiam colher em outras cod-
dições. Doeste fado nasceu a necessidade de se descobrir
outro processo, que tivesse por Rm decompor a substancia
glutinosa, de modo que a mesma decomposição não se es-
tendesse ás fibras, que deviam ser utilizadas em estado de
perfeita conservação. Appareceram diversos modelos de
machinas, que na pratica não provaram bem, assim como
o processo, seguido por algum tempo, de separar as fibras
das matérias estranhas e nocivas que as accompanhavam,
por .meio de diversos agentes cbimicos, que cora ellas se
combinavam.
ú autor cita que, na Sabóia, expunham os feixes de
cânhamo ao orvalho, ao sereno, is chuvas e ao sol, occa-
sionando uma decomposição das fibras ainda mais intensa,
do que a que se operava nos apregoados tanques de mace-
ração. O melhor melhodo deve consistir pois na separação
das fibras por meio de machinas, com o emprego das quaes
desapparecerá o inconveniente do contacto com a agua.
Dictzedby Google
— 865 —
Actualmente a proparação do cânhamo consiste em trez
processos, para rada am dos quaes a industria fabril
fornece uma macbina especial : reducçio da casca em
pequenos fragmentos, fazendo-a passar por dois oylmdros
de ferro, raiados; separação dos ãlamentos, dos frag-
mentos lenhosos, por meio d'uma segunda raachína, com-
posta de dois tamboret guarnecidos de braços que se
cmsatn e gyram no irUmor d^uma caixa, em sentidos
oppostot; finalmente, em uma terceira machina conse-
gae-se amadal^as, assedai-m e limpal-as.
O processo belga, de Lefebure, applícado ao linho e ao
cânhamo, estende-se igualmente ás outras matérias textís
do Brasil ; guaximay mungidta, carrapicho, etc. Desappa-
rece igualmente, graças a esta invençSo, o grave incoa-
veniente das moléstias adquiridas nos campos, em que
maceravam aqaellas abras, pelos (rabalbadoras que res-
piravam o ar corrompido pela putrefacção dos corpos
orgânicos inberenles a estes vegetaes.
CAPITULO xvni
A conversão das moedas estrangeiras em dinheiro por-
tuguezé um trabalho original de Telloso, por elle publi-
cado em Lisboa com o fim de baneciflar ao commercio
portuguez.
Muitas noções económicas servem de ornamento a este
opúsculo : padrão monetário de diversos paízes : China,
Japão, índias, etc. ;valor intrínseco, e extrínseco da moeda;
divisões e nomenclatura do dinheiro portuguez ; idéa de
cambio.
Percorre as moedas de circulação em outras nações, taes
como o ouro, a prata e'o cobre, e estabelece qual o seu
equivalente era moeda portugaeza. E' una trabalho ioteres-
TOHO XXXI, P. 11 34
Dictzedby Google
— 368 —
saote porque abraoga o valoi relativo das moedas eoi di-
versas regiões do globo, ao passo que conserva as divisões
e subdivisões, particulares a cada uma das nações, iodi-
caodo os termos adoptados aas diversas liaguagens moae-
larias. N'esle quadro figuram : as moedas de Inglaterra,
França, Hespanha, Rússia, Áustria, Prússia, Amsterdam,
Toscana, Dinamarca, Saxonia, Hamburgo, Baviera, Hano-
ver, Suécia, Veaaza, Polónia, Milão, Roma, Génova, Ná-
poles, Malta, Turquia, Tunis, Argélia, colónias portuguezas
d'Africa, Pérsia, Cbíoa. Japão, America (principalmente o
Brasil.)
Ricaf de considerações ^ometricas são : a traducção
por Velloso, da sciencía das sombras relativas ao desenho,
de Dupaín, para estudo dos que se de dicavam á pintura e &
arctxilectura ; e a cópia do Mineiro Livelador, ou Bydro-
meira de Febure.
Com a publicação da primeira brochura o íUustre natura-
lista teve em vista : reunir bons elementos para o desen-
volvimento.em sua pátria, das bellas-artes, estatuária, pin-
tura e archilectura. Os pontos essenciaes são os seguintes :
Projecção das sombras. Queda dos raios solares em uma
superfície dada de posição invariável, accompanhando o
observador o deslocamenlc do sol scinia do horizonte.
Intensidade da luz variando com a maior ou menor obli-
quidade dos raios solares ; isto para as superfícies planas.
Sombras produzidas em uma superQcie abahulada, que re-
cebe.em alguns dos seus pontos, os raios de luz. Acção dos
raios solares sobre as superEcies concavas. Meios para de-
terminar a largura e longitude das sombras. Natureza
d'estas sobre o capitel e base de uma columna. Applicações
dos princípios deduzidos das experiências. Desenhos expli-
cativos. Eis a synopse d'esta obra ; as quatorze estampas que
a accompanham augmentam ainda maisa sua importância.
Dictzedby Google
— 267 —
A s^unda brochura, a que nos referimos, comprebeode
todos os processos para o livelamento, com a descrípção
dos instrumeulos de Picard, etc, adequados a esle fim,
sobresahiodo grande numero de cousideragões geométricas
tendentes A maior clareza das questões figuradas por Febure.
N'esta brochura, cuja substancia Dão era tão familiar á in-
telligeocia do P, H. Velloso, existem somente as idéas do
seu autor. O naturalista brasileiro copiou-as por ordem da
S. A. o Príncipe Regente, cabendo-lbe a glória do traba-
lho material da cópia e o da impressão.
Figuram igualmente entre os fructos dos seus labores as
instrucções que çlle publicou para o transporte por mar
das sementes, arvores, plantas vivas, etc. N'esta producção
falia o naturalista eminente, aos que tiverem de enviar para
pontos longínquos, os elementos dos seus estudos. São
conselhos práticos relativos também às indicações que
devem accompanhar as plantas ; seus usos ; procedência ;
épocha em que a planta foi colhida ; formação dos catálo-
gos ; collocação dos rótulos ; acondicionamento das plantas
vivas, que teriam de ser transportadas, e bons esclareci-
meatosa respeito de outros objectos de historia natural.
Na traducção do trabalho de Pattdlo, relativo ao me-
lhoramento das terras, não escapou-lhe o principio salu-
tar, e o mais importante em relação i agricultura, sobre os
melhoramentos dos terrenos pelas applicações dos elemea-
tos fertilisadores, A fertilisação artificial do solo para as ne-
cessidades agrícolas é ponto já esclarecido pela cbimica
agrícola. A sciencia nos tempos que correm não é a sciencia
do principio d'este século: estudos novos e proficuos vie-
ram coroar os esforços dos chímicos dos tempos actuaes.
Estas leis são conhecidas ; seria ocioso repetil-as. Oxalá
que os lavradores do Brasil d'ellBs se aproveitassem para o
uso constante da mesma área de terreno que a sua cultura
Dictzedby Google
— 868 —
abrange, prolegendo doesse modo as oossas florestas es-
plendidas contra os golpes destruidores do macbado.
Finalmente, a memoria do Jfosnic— Qualidade e emprego
dos adubos ; a de fwírond— Tratado d'agua em relação á
economia rural ; a do Freire Aragão — ^Tratado das abelhas ;
o discurso de Moraes Navarro ; a memoria sobre os queijos
de Roehefort ; trabalhos estes originaes dos autores citados,
foram por elle publicados ou traduzidos.
Duas palavras acerca da obra de Murei. Velloso a tradu-
ziu por ordem do governo portuguez, conservando o titulo
Moedvra de grãos. Da leitura d'este opúsculo sobra o pen-
samento de divulgar os processos para a preparação da fa-
rinha de trigo, etc. Os fructos do trilicMm aalivwn sSo o
alvo d'estas investigações. Além da enumeração dos pro-
cessos, deparámos com diversas considerações sobre moi-
nhos, fornos, fabrico do pão, etc, sendo ellas acompauba-
das de um grande numero de dados estatísticos e de longas
tabeliãs, que Muret orgaaisou com os elementos colhidos
de diversas localidades a respeito do preço das sementes.
Eis o titulo das tabeliãs : Preço proporcional dos grãos con-
forme as medidas de cada lugar.
Um certo numero de çuodroa refere-se ás experiências
sobre 03 moinhos j cálculos relativos ao peso, em arraieis
e em onças, dos grãos moidos para comparação com o peso
da farinha obtida e dos pães fabricados.
Finalmente, os resultados das experiências quanto á co-
xetktra das sementes constituem o objecto de outras ta-
beliãs.
Velloso teve somente a parte de traductor. "Ho fronlespi-
cio d'este opúsculo figura a sua dedicatória ao Príncipe
Regente, onde deixa perceber a idéa cardeal que pairou no
espirito do governo de Portugal. Tornando conhecidos ao
reino os processos mais adequados á preparação da farinha
D,:„i,;cdtv Google
— 269 —
de trigo, craava-se d'este modo a eoonomia Ateste ramo da
industria agrícola, preveaindo para o futuro que não fosse
mais importada a farinha do commercio estrangeiro. Re-
sotvia-se assim uma questão económica coro os esforços do
benemérito Fr. Velloso.
Dos trabalhos botânicos importantes traduzidos pelo
coDspicao Velloso só não analysaremos : A culiura dos
algodoeiros de irrufía tia Camará, porque algum dia apre-
sentaremos uma memoria sobre a vida d*este phytologista
brasileiro.
O trabalho de Persoon sobre os Fetos, que também está
incluido no numero das suas traducções, ó hoje raro nas
nossas bíbliothecas. Consola-nos, porém, o facto de que a
familia dos Fetos virá í luz da sciencia com todo o esplen-
dor das monograpbias modernas. Payer escreveu sobre
esles vegetaes na sua Cryptogamia. Outros botânicos da
Europa preparam obras monumentaes em que brilharão os
conhecimentos adquiridos em relaç&o aos ornamentos d'este
girupo.
CAPITULO XDt
VELLOSO E BOCAGE
A mão generosa do virtuoso Velloso tocou as fibras
do coração do insigne poeta portuguez Manoel Maria de
Barbosa du Bocage. As suas relações d'amizade crearam-se
em Lisboa, onde Bocage admirava os (alentos do natu-
ralista americano, em troca do sentimento de respeito que
inspirava ao iltustre brasileiro o talento raro do poeta
portuguez. Nos momentos mais dilSceis da sua vida, Bocage
apertava a mão piedosa do sábio botânico, offerecendo-lhe
o mais puro sentimento de gratidão.
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- «70 —
Lega-Dos a tradiçSo este facto, que alíAs é corroborado
pelas poesias que Barbosa du Bocage dedicou ao dosso
conspícuo compatriota. No primeiro volume dos suas
poesias deparámos com um soneto, com o titulo :
ios Amigos,
{em agradeãmenlo)
em que se transluz o pensamento que avançamos n'eslas
linhas.
E' etla dedicada a: Fr. Valioso {Soeio de Flora). — João
Vicente Pimentel {Maldonado. — Desembargador Vicmte
Joii Ferreira Cardoso da Costa.~Diogo José BlanchevOle.
— ittrsjío Rodrigues. — Alvares, etc.
Temo Paz, bom Maneschi, Aurélio Charo,
Alvares extremoso, Almeida humano,
Ferrão prestante, Valedar Montano,
Moniz, que estiraes teu nome ao (empo avaro I
Freire, Vianna, BlancbeviUe, oh raro
Moral tbesouro, que possue Elmano ;
Soão de Flora, e tu, de som (hebano
Oh cysne; e tu, Cardoso, em letras claro!
Monumento honrado da humanidade,
(Se o fado me sumir da morte no ermo)
Grata vos deiío cordeal saudade ;
Ireis nos versos meus do globo ao termo,
Por serdes com benéfica piedade
Kuncios, núncios de um Deus ao vate enfermo I
Sob a direcção de Velloso imprimiu-se, na typographia
do Arco do Cego, uma das ultimas producções do poeta
^silano, escripta no leito da morte, e por elle dedicada ao
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sen amigo. Referimo-nos ao drama : ^1 virtude laureada^
precedido de uma dedicatória, em Epistola, que figura
□o 3* volume das suas poesias :
Ao Revm. padre mestre Frei José Mariaoao daCoDceição
Velloso.
Qual d^eutre as rolas, naufragas cavernas
Oo lenho, que se abriu, desfez nas rochas.
Colhe affanoso deplorável nauta
Relíquias ténues, com que a vida estde.
Em erma, ignota praia, a que aboiaram.
E onde a custo o remiu propicia antena :
Tal eu, que da existência o pego, o abysmo
(De que assomam, rebentam, surgem, fervem
Rochedos, escarcéos, tufões, e raios)
Tal eu, que da existência o mar sanhudo
Vi romper meu baixel, e arremessar-me
A ínhospitos montões de estranha aréa.
Triste recolho os miseros sobejos
Com que esvaido alento instaure, esforce,
E avive os dias, que amorteço em magoas.
— Em ti, constante, desvelado amigo.
Do mundo contra a sorte asylo e sombra ;
Oh das musas fautor, de Flora alumno I
(Rasgado o véo da allegoria) estende
Ao metro, que desvale, a mão, que preste.
Se azas lhe deres, em suave adejo
De Lysia ao seio que a virtude amima,
D^ella cultores, voarão meus versos,
E o pátrio, doce amor, ser-lhe-ha piedoso.
M. M. DB B. Du Bocage.
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CAPITULO XX
Basta. Para qoe Velloso seja em todos os tempos um
heróe DO trabalho, e um vulto no mondo da scíencia, não
exige esta noticia qae mais um só dos seus talentos seja
lembrado. Foi um typo do dever — pela sciencia ; nm
coraçio com om throoo para a gratidão ; — uma alma
grande para o exercicio da piedade ; um caracter sincero
e expansivo— para os amigos extremosos; um espirito
forte e inabalável pelas virtudes christAs I
Os acontecimentos que realizavam-se na Europa, em
convulsão com as marchas progressivas do exercito francez
pela península ibérica, determinaram a partida da cdrte
portugueza para a cidade do Rio de Janeiro. Em 1809,
Velloso seguiu os passos do seu bemfeítor, S. M. o Bei
D. João TI. Atravessou* o oceano em busca da pátria,
ambicionando o repouso para os últimos annos da sua
vida; dilatou-se-the a alma ao contemplar a modesta
cella em qoe passara os primeiros tempos da sua existên-
cia ! Deus não contrariou a sua ultima vontade I
Limilou-lhe, porém, o gozo do patriotismo! A 13 de
Junho de 181 1, á meÍa-noÍte, a sombra implacável da morte
penetrou na eoTermaria do convento de Santo António,
do Rio de Janeiro, e roubou ao mundo a sua alma pu-
rificada pelo bálsamo do Sagrado Tiatíco ! Telloso passou
ã mansão dos justos!
Na phrase eloquente do maior vulto do púlpito francez,
o illastre Bosiuet, as honras e as glorias confandem-se
no sbysmo profundo da sepultura, como as aguas dos
mageslosos rios, de par com as dos modestos ribeiros,
desapparecem na immensidade do oceano !
Verdade fecunda, mas que não aniquila a quem lança
os olhos para a sentença da posteridade. No pensamento
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— S78 —
grandioso do poeta americano, Alvares d'Agevedo, o admi-
rador das sublimidades poéticas de Byron t de Goethe,
encoDtra-3e o lenitivo para a memoria dos que deixam
a vida finita. Dizia Alvitres d" Azevedo :
O sol d'além dos tumalos
não é do morto a lâmpada sombria.
Velloso já DÍo existe I Perduram, porém, os traços pro-
fundos da sua vida illustre, sobre o thrdno que os vin-
douros lhe erigiram,
Seja seu epitaphio :
Amor pela sciencia ! Gratidão ao rei ! Fé immaculada
para cora o Supremo Arbitro do Universo 1
José de Saldanha da Gaha.
Rio de Janeiro, 8 de Junho de 1868.
TOHOXZXI, p. n
;dby Google
— 2H —
Géneros {a) creados por Fr. José Marianoa da ConceiçSo VelIoM
para a flora firtutíeirn.— Dados colliidoj oa Flora Brasileira i
Dr. Uartius; no Gen planlanim d'IIookce Blh : e no de Eadlidui
ele, etc., moDographias, etc., eic
I Aadisous (hoje, Auda) Enphorbiaceas.
3 Anligona (boje. Casearia) Samydaceas.
3 Eachrjon (hoje, Pícrena) Simarubeas.
& Benjamiaia (hoje, Dictfoloiua) SJmnrubeus.
6 Boca (boje, Banara) Samydaceas.
6 Braddleya (boje, Amphina) Violareas.
7 Brolera (boje. Lufaea) Tiliaceas.
8 Brya (boje, llirleila) Chrysobolaneas.
9 Buchosia— Arrab. (Alguns o atlribiiem a Vclloso.)
10 Bragantia (de Volloso ou de Loureiro?) Arislolochías.
II Bessera. (Não cremos que seja de Velloso.)
12 Barberina. (Idem.)
13 Coesia (hoje, Carmooema) Ithamnaccaa.
IA CanicidÍa'(hojc, Rourea) (3onnaraceas
iS ChODielia [hoje, Ilex) lliceas.
16 Ctercia ihoji?, Salacia) Cfla?lniieas,
17 Correia (hoje, Goniphia) Ochnaceas,
18 Cosia (hoje, TÍOTrea) Rulnceas.
19 CavantUa (hoje, Caperooa) Euphurblacens.
20 Coletía (hoje, Mayaca) Xyridcas.
31 Columella?
23 Danpervilla [hoje, Galipea) Rutaceas.
23 DigonocarpuB (hoje, Cupnniaj Saplndaceas.
24 Dulacia (boje Líriosma) Olacineas.
26 Desfonlanea (adoptado) Euphorbiaceas.
26 Dicknekeria (hoje, Hhopala) Proteaceas.
27 Dupatya (Eriocaulon) Eriocauleas.
28 Epigeuia (SlyraxT) Slyraceas.
29 Enydrja (boje, Myriophylluni) Halorageas.
30 Forsgradia (boje, Combretum) Combretaceas.
31 Hieronia (hoje, Davilla) Dilleneaceas.
33 Hesioda (hoje, Heistería) Olacineas.
33 Uillería (hoje, Mablana) phytoiacaceas.
tí) Algnna fbrun attríbaidas a Velloeo, peto fneto d« terem lido mearionidoa
na sua Plvra Fluminttm.
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— 275 —
^ j?^^ líioje. Mjrslna) Myrsineas.
cSis j- ^ '"*esia (o) (Aada) Eupborbiaceas.
3^ .aJ*^**** lliojfi. Bougalnvilka) Níctagineaa.
5[f ^ '''^Oonia (hoje, BeiaDgera)Saii[ra6a3.
Í9 _^^*'-^«<Jia (Adoptado) Violareas.
-■J i(j ^''O {hoje, Mappia) Olacineas.
M (kj„'?*^*icidia [hoje, ADdira) Leguminosas.
43 Ma***,^* Euphorb. (Incerta sedis )
^^Ua (hoje, Slerculia) Slerculiaceas.
4â
45
j^^^^-ííiieraíboje, Kielmeyera) Ternslremiaceas.
IVj ^^lia (hoje, Slerculia) Slerculiac'""'
H^**^«*ia (Adoptado) Samydoceas.
^^ -IV^ **<Íozia (Aíiiptado) Acanlhaceas.
^^ «:>»^^**.via (lioje, jch uidelia) Sapindaceas.
^* :t:»i^^^*:*tanla (hoje, Galipea} Rutaceas.
^® **■&.» ^'^** (hoje, Sabicea) Itubtaceas.
oí> t*»n ^^^■vana (hoje, Gloxinia) Gcsnetaceas.
5*- "^rfcj ^^itia (hoje, Myreiae) Myrsiocas.
&* t>j*^^Tda (hoje, MlcrantUemum.)
5* ^-^ *^<ihia (hoje, Uicliilanlhera) Sapotaceas.
6A ^^ ^ *~Cískia (6) (Adoptailol Celastrineas.
6* t* ^*- '^''«snia (nílo adoptado) Rulaceas.
5* j^fc^^^^eveura (hoje, Hrpericuru) (ifpericineaB.
í^ j^^^^ssenia (hoje, Oalipej) Rulaceas.
&^ .^ç^^^^cia (hojo, Zonaria) Algas.
'íí^ i^~*^\»warl2Ía (hoje Korentea) Marcgraveas.
60 ^^'X.rukcria (hoje, Vochysia) Vocliysiaceas.
«1 ^^^-^.rdinia (hoje, Guettarda) Rubiaceas.
aa ^^^^ilvia (hojfi. Escobedia) Scrophularineas.
6a ^^^onza (hoje, Sisyrinchjum) trideas.
6^ -^^^igonocarpus (hoje, Cupania) sapindaceas.
6^ ^^^■ismia (Adoptado) HypericiDcas.
«^ Tigiera {hoje, Escallooia) Saiitrogaa.
/»^ -^acyniha (Myrsine) MyrsiQeas.
""^■^^ grUB seãii : —Romana.
Bulilia.— Thevelia— Torrubin.
AdhuDÍa. ~ Casania. — cbcbula.
( cynolOKÍcum,— Democritca.— Ivonia., ele.
• J ^-^^ ■^- pj._ BaUlonii»«-°'»''e™P"i«.<iiat*''*'*"'*"'° Pftra adoptar*
* *°^ oBto nomo ha um Bsnero de Mill. MB CactaceM.
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— ÍT8 —
HiDtu cUMiOcadaa por Velloao, que evnsUm da floro ffroifleiro.
FIMILU DU GBMUUCSiS
1. OrobBDCbe hirta (é boje o Gesoera Allogophf lis]. Eacontn-M
em Hinai, Uootendéo. E' ddm peqneoa planta, cujo caule lem de 1
i 8 péi de eomprimuilo.
3. Orobancl» ipieaU (Gesnera Tribracteata]. Habita em Hinat-
Genes perlo de Ouro-Preto.
3. Orobaoche ambellala (Gesnen CouferlifoliaJ. Planta herbácea,
cujo caule tem 1 A 3 pés de comprimento. Habita naa províncias tnh
picaei do Brasil.
a, Orobaoche verticillata. (Gesnera macalala}. Provindas de
S. Paulo e Rio de Janeiro ; serra da Bslrella. Floresce de Deiembro a
Janeiro.
5. Orobaoche tubalosa (Geanera Donglasii). Proiimldades do Rio
de Janeiro. Floresce no mez de NoTembro.
6. Orobancbe ceroua (LigeríaSpecioM). Serra dos OrgSos. Rio de
Janeiro ; Pernambuco. Planta de caule curto.
7. Orobaoche perianthomeya [AUoplectua Dichrus). Tem sido en>
Gontrado na provinda do Rio de Janeiro, Sumidouro, Paquequer,
perto de Caotagallo ; em Goyaz (Villade Santa Crai) ; em Hioas (Agua
Limpa) ; Villa do Presidio. Floresce em Fevereiro.
8. Ombancbe veotricose (Codonantbe Gracilis). Habita em luga-
res paludosos, perto do Rio de Jaaeiro ; Lagoa de FrdLas ; Lage de
JacarepagoA ; perto de Oeiras, proviacía do Plaaby ; no Haranliio ;
Pará ; Barri do Rio Negro. Floresce e fructiUca em Abril, Junbo e
Novembro.
9. Orobanche carnosa (Codonaalhe Carnosa de Gardner). Habita
noCorcovado. Floresce em Setembro,
ruailk SiS LECTTHIDIAS
10. Lecjthis Ollarja (Foi substiloida por Lecylbis Pisonts). Este ve-
getal fomec« uma óptima madeira para as construci.íles ; cAr verme-
lha. A amêndoa é medicinal, oleosa e comestível. Floresce em OuIih
bro. Habita na província do Rio de Jandro ; e nas florestas proiimis
do RioDoce,na proviociadoEspirito-Santo.E" uma arvore corpolenta,
elevada e conhecida por sapucaia.
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— 277 —
11. LeeyUtbiniDordlaije conhecida por LecTtLlsISDceohU). Sapo-
caja mirim, Provioch do Rio de Janeiro ; liba Grande. Ftoreice em
Asosto.
12. Iiecfthis compressa (l^ecjlhis angustirolia). Ibiribi-raoa é o
nome vulgar. Floresce de Uarço a Junbo. Fdí eaconlrada no Core»-
vadoi e em pontos proiimos do roar.E' uma arvore de dimensOes mais
aponcadasdo qae qualquer das duas anteriores.
13. Lecrtbis pjramidata (Lecy tiiopsis ruíescens). E' uma arvore que
babila nu matas prodmas do litoral. Floresce em Maio, e a fdrmi
mais ou meaoa de uma prraaiide triangular é que di o nome i es-
pecie,
MTRIACBiS
i&. Eugenia Dítida, acha-se snbatituida por Gomid«$Ía Ci^mlfteatui.
(o género Gomidesfa Foi estabelecido em bonra doDr. Gomides aulor
do Mappa da$ Plantas do Brasil ; suas virtudes e lugares em qtu
floretcem) (Nota do Dr. Martius). Província do Rio de JaneU-o. Fio-
(resce em Jonho.
15. Eugenia ampleiicanlís. ou gomidesia* ampleiicaulis. Província
do Rio de Janeiro ; maUs de Santa Craz. Floresce em Agosto.
16. Prímia crocea (Goroidesia Jacquiaiana). Dá flAret em Margo.
Foi acbada em Santa Cnii por Veltoso.
17 Hjrlns rufa (Harlierea? rata). Provincia do Rio de Janeiro.
18. Ujrtns racemosa (Eugénio opals Carmaerolí&). Provinda do Rio
de Janeiro.
10. UyrtDs sylveslrís (Ufrcia Brevipes). Floresce em Setembro.
Província do Rio de Janeiro.
20. Eugenia humilis (Eugenia Hypericifolia]. Serra dos Org3os.
Floresce em Março.
91. MyrIuB decussata [Eugenia axlllaris). Nas matas próximas da
Cõrle. Floresce etn Dezembro.
32. Eugenia arvenslB (Engenia Oxfphjlla). Província do Rio de
Janeiro.
33. (A espécie Eugenia Vellozil Tol-lhe oITerecida por Berg).
34. HrrtQS terticlllata, (Eugenia Riedeliana]. Serra da Estrella;
Santa Cruz ; Qoresce em .... ; fructiflca em Maio.
35. Eugenia monoeperma (Eugenia Compaclidora). Habita no Cor*
GDvado ; perto da I. F, de Ponta-Cruz. Floresce de Junho a ^osUi-
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— a78 —
36. HttIus gtabra, (Eugenia Badla). Floresce em Janeiro on Feve-
reiro, SiDta-Cnii.
27. Myrtas quadriOora [Eugenia laDceolata).SanlaCnii. Província
do Rio de Janeiro. Di flores em Setembro.
2B. Hjrlus albida (Eugenia parvifolia). Proviocia do Rio de Janeiro;
perto do mar.
29. Hjrtusnitida (Eugenia Candollcana], Provinda das AlagOas.
Floreace em Agosto.
30. Myrtns qnadrispcrma (Eugenia Uikaniana). Provinda do Rio
de Janeiro.
31- Eugenia axillaru (Engenlasupraaiillaris). Província do Rio de
Janeiro, Corcovado e Itagoabr (rio). Floresce do Jonbo a Agosto.
33. Eugenia díspcrma (Eugenia Pbaca). Serra Negra da provincfa
de Miaas-Geraes, c na do Rio de Janeiro. Floresce em Julbo.
33. Eugenia bracleata (Pb;lloca];x iQvolucratus). Rio Taguaby.
Provinda do Rio de Janeiro. Floresce em Julho.
34. Hyrlus aggregala ( Pb^llocalfi CcraslDorus). Proviocia do Rio
de Janeiro.
35. Pliaia rubra (Steoocalyi Hicbellí) . Vulgo Pilnnga (Eugenia Mi-
cbelii de Lamarcli) Nos trópicos, provinda do Rio de Janeiro ; Calcula,
Cbina.
30. Eugenia gramixanu (Sieaocalyx brasilfensis)- Vulgo, grumi-
xama. Provinda do Rio de Janeiro (alguns lugares] ; Uangaratiba e
lllia Grande. Provinciade Pernambuco.
37. Ujrtus jaboliuaba ( Hfrciaría Jaboticaba ). Provindas de
S. Paulo e Rio de Janeiro. Nos campos, pequenos matos, e nas flores-
tas.
38. Eugenia jE'iulÍ3{M. Plicatu Costali)Vulgo cambLicá. Floresce em
Selembro e rnii'IÍGca em Novembro. Província do Rio de Jandro.
39. Jambosa vulg^ris (e o Eugenia Jambos de Velloso e oulros). Flo-
resce em. agosto. Província do Rio de Jaoeiro, Veaeziiela, Guatemala,
Antilbas, enaBabia.
AO. Psidium pilosum.(M. p9Ídium rufum, deMartius). Em alguns
campos da provinda de Miuas-Gerses ; e toi encontrada porTelloso
em Santa-Crut. Floresce em Outubro.
41. Psidium pjriferum (Psidium guayava de Raddi). México,
Jamaica, s. Domingoa, Santa-Cruz, Hartinicn, Guatemala, Veneznelii
Gojaaa, Bahia, Hinat, Rio de Jandro. Vulgo Goiabeira,
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— 279 —
&3. Piidium arboreuna (Psidium Sellowiaaurn). Provincii- do
Bio de Janeiro. Velloso designa por Araçi.
63. Pdiíiium hufflile fPiiJium Coriaceum). Floresço em Ouliibro.
Proviotía do nio de JaDeiro, província de 5. Pauto.
64. PBJdium anlliomega (nio foi substitaida). Phra Fluminense,
pag. 21H.
A5. Mirrtns cai7opbilíaU [Psendo Caryophillasseriraus). Provincia
do Rio de Janeiro, em S. Gonçaio, Boa-Visla (aos campos). Em Minas.
46. Psidinm dulce (Abbeviliea intennedia). Provincia de Minas.
hl. Psldium MediterraDeam (GampomaDesia Mediterrânea). Araci
do campo. Floresce em Outubro. Foi encontrada Provincia do
Rio de Janeiro,
A8. Psidium racemoíum (Gampomaneeia racemosa). Floresce em
Setembro. Província do Rio de Janeiro.
Ú9. pgidiuffl rniclicosum (Campomanesia belicosa). Ftoresce de Se-
tembro a Outubro. Província do Rio de Janeiro.
50. Psidium apricum (Campomanesia apríca]. Guabiroba-mirira.
Floresce de Selembro a Outubro.
51. Psidium TransaJpinum (Campomanesia Transalpina). Guabiroba.
Provincia do Bio de Janeiro. Floresce em Outubro.
52. Psidium Terminale (Acrandra lauriroliaj. Velloso encon(roa-a
no Cónego secco, hoje cidailede Petrópolis. Floresce em Fevereiro.
LECUHIItOSAS. Til. OAS PAPtLIOHACBiS
63. Crolalaría oerolea (LnpfnQS velutinas, de Benlbam). Proiin-
cia de Mioas. serra do Caraça; vílla da campanha; Rio S. Francisco ;
nas proximidades da fazenda da Fortaleza em S. Paulo.
M. Cylisus heptaphytius (Lupinus hiiarianus.} Provincia do Rio
de Janeiro; Montevideo; rios Paraná e Uruguay.
65. Crolalaría sagiltalis (Crotalaria stipularia). America Meridional.
Proviucía do Rio de Janeiro. Floresce de Agosto a Seplembro.
56. Crotalaria racemosa (Crolalaría Paulina), Schraock). Província
de Goyaz, Minas, ele.
57. Crotalaria difusa (Crolalaría lucana, Linnèo). Em differenles
pontos do Brasil.
68. Crolalaría slípulala [Crotalaria anagyroides). Em muitos pontos
do Brasil.
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59. entalaria lrlph;)U (Crotalaria Bracb;itachra]. Benl. Prarloeia
de Piauhj ; Bahia ; Goyaz ; Minas e 5. Panlo.
60. LoloB PaluEtTiB [Sesbaoia exaspenla}. ProTiadaa do Rio de
Janeiro; Gojai; Piauhf; Peroambuco e S. Paulo. Gojaiia Ingteia;
Jamaka ; Gnalemala e Venezuela.
61. Hodfsannn frncticosnm (ílBchinomene Sellolj. Provincía do
Rio de Janeiro.
63. £schiaomeae flamlneniis (Foi conservado). Província do Rio
de Janeiro.
63. Uedraanim dilTusnin (iEscbinomene Atlcata). Sena do Itambé,
em Minas ; Ria de Janeiro ; província do Rio-Oraade do Sul ; Go;ai ;
Bahii.
6à- Hedysanim hirtum (fichinomeDe brasilisBa], Andaraby, na
cidade do Rio de Janeiro; Pari; Bahia; Hinas; e perto de Oelras;
no Piaoit;.
65. Coronilla hinuta (leodesmia tomentosa). Foi acbada por VellosB
Aaaem doa Orgios, Rio de Janeiro; e em Hinas por S. Htlaire.
66. Coroniila Scaodens (Chactocaifx braslliensls). lUo Negro, Iri-
bntatjo do Amazonas, ele.
67. Hedysarum procumbens (Desmodium barbatam). Floresce em
Outubro. Peru, ftúil, Colnmbla, GoyBna, ele.
es. Hedysarum «iolaceum (Desmoodíam axUlare). Rio Itapicuni;
Rio de Janeiro ; outros pontos da America Meridional ; índia Ocddeatal.
69. Heâysaram ereclnm (Desmodíom leiocarpnm). Nas proximi-
dades do Rio de Janeiro; No sul do Brasil; em Minas; entre Campos
e a capital do Espirlto-Santo (Victoria) ; e Caravellas.
70. Lotus fluminensis (Clilorla cajanifolíaj. Em lugares arenosos
do Rio de Janeiro ; Ceará ; Peroambuco ; fithia. Outros pontos
d' America.
71. ClUoria Qamloensls {Ceolrosema plnmieri). Santa-Cnu e CArte ;
Pari; Rio Amazonas; America Central ; Columbia ; Peru, Goyana....
72. Clitoria genuina {Ceutrosema Virginianum). Nos subúrbios do
Bio de Janeiro; Hinu; Babia; e outros pontos d' America.
73. Glycyrrblia mediterrânea (Pcríandra dulcis). Províncias do
Geará, Mtnas, S. Paulo, e Babia. |
7ú. Lotus amerlcanuB (CoUtea speciesa). Floresce cm Novembnk
Província de Hinas, & Paulo, Bolívia e Peru. '
75. Cylisua boa vista (CoIloBa Grewiaerolia). Encontra-se nos campos,
Hioas, ele.
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— 281 —
76. Dolíchos allissimusi (Díoclea violácea). Floresce de Dezembro
a Junho; perto do Bio de Janeiro; Pará; Ceará; Mucury; Curral
Falso, Santo Aotonio e S. Jo3o Marques.
77. Clitoría brasiliana (Canavalia gladíaia). Nas malas proxlmaa
da barra do Rio Negro; nas regiões tropicaes; Bahia e Piauby.
78. Dolicboa liltoralis (Canavalia obtusifolia). Floresce em Agosto.
No litoral; uos trópicos; lagares arenosos.
79. Lotus marHiiDUs(Phaseolu3lathycoides]. Floresce em Novembro.
Província do Rio de Janeiro ; Alio Amazonas, etc.
80. Pterocarpus fniiescens (Dalbergia varlabilis). Gommum nas flo-
restas do Brasil; perto do Rio de Janeiro; P. do Rio Grande; P. de
S. Paulo; Minas; Bahia; nas matas do Ceará, proiimas ao Orato,
Goyana Ingleza, no Penl.
81. Pterocarpus niger (natbergia nigra, Freire Alleroão). Misco-
labium nigrura). Cabiuna ; jacarandá una. Provinda do Rio de Janeiro;
pj de Minas. Arvore procurada e mui estimada.
83. Pterocarpus ecastaphylbum (HecaB'apbylInm Brownei). Rio de
Janeiro; Cabo-Frío; nas malas da Bahia; em Minas; e em outros
pontos da America; índia, e AMca.
83. Pterocarpus querciuus [Secastopbyllura monetária]. Amazonas;
Rio Negro ; e em outros lugares do Brasil.
84- Nissolia uncinata (Hachsrium uncinatum). Floresce em Se-
tembro. Rio de Janeiro; Santa-Cruz.
85. Nissolia hirta (Mncbairium eriocarpnm). Provinda de Mato-
Grosso, perto de Cuiabá,
86. Nissolia declbata. (Hacfaierium discolor). Provinda do Rio
de Janeiro.
87. Nissolia aculeata (Machaerium Vellosianum). Offerecido a Velloso
por Bertham. Floresce em Dezembro. Porto do Rio de Janeiro.
88. Nissolia níclitans. (Machaerjum niclilans'. Foresce de Agosto
a Setembro. Vive nos campos.
89. Nissolia incorrupiibilis (MachaBrium Incorruptlbile de Freire
Alleroão]. Jacarandã-tan. Enconlra-se nas florestas de muitos munt-
cipios da provinda do Rio de Janeiro, Uma das primeiras, senão
a primeira (IJ, du Brasil.
90. Nissolia firma (Machaeríum flrmum). Jacarandá roxo. Nas
florestas da provinda do Rio de Janeiro. Arvore menos prestimosa
que a precedente.
TllHO xtxi. P. II 36
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9t. Nissolia legalis :Machaeríum legale). Outro venial a qae tam-
bém dUo o aome de jacaraadá, na província do Rio de Janeiro.
93. Nissolia lauceolata (UacbaerJum secimdiQoruraJ. ProvíDcia do
Rio de Janeiro.
93 \issolia debilis [Uar,liaeríum pedioellatum). Hontaoba do Cor-
covado; rio Tagualiy. [Rio de Janeiro).
9à. NiaaoUa fructicosa (Macbaeríum nlgnim). Provinda do Rio de
Janeiro : Porto da Estrella.
95. Nissolia robugla {Centrolobium robostomi. Iríribá, ou iríríbá
roxo. Provinda do Rio de Janeiro; uliatuba; Cantagallo; Larangeiras.
Miideiía de cooBtrucção, ealimada.
9t. Nissolia reticulaia. (Pterocarpua violacens). Nas matas que
sao viziobas do Rio de Janeiro. E' uma arvore.
97. Pierocarpus luteua. (Ptaljmigcium majua . Floresce em Janeiro.
Sanla-Cniz; Rio de Janeiro; Engenha da Vai^m; nas matas pro-
limas do rio Parab;ba.
■ O género Lumbriãdia, estabelecido por Velloso, acba-ae boje
BObítiluido por Andira^ de Lemarck. ■
9)i. Lumbricida legalis 'Amlira stipulacea). (Bentham). Anftelim
doce. Alguns conhecera por angeliin coco, ou urarema. Pontos pró-
ximos do Rio de Janeiro; de Cantagallo.
99. LumbrÍcidiaantbelmia(AndiraanlhelminthJca). Angelímamar-
goso. Província do Rio de Janeiro.
100. Sophora occidentalis. (Sopbora tomentosa). Brasil,
tOl. Abrus arboreus. [Ormosia nilida]. Ftoreataa da província do
Rio de Janeiro.
102. Piscidta crythrina. (Caiaptosema primatiím). B. Floresce em
Agosto. Provinda de Minas.
FiHILIA OAS SáLSOLiCCAS, 00 CHEDOPOniACEAS
103. Cbonopodium Saneia Maria. (Chenopodinm ambrosioides, de
Linneo, denuta (?). Herva de Santa Uaria. Em dilTercnles pontos
da America, e no Brasil.
WinTERACEAS, PARTE DAS lIAGtlOI.UCBjlS.
lOíi- DrirrvB Winteri. (Drimjs GranHtenafs). America Cenlral
Auslral ; do estreito de Magellan até o México ; existem outras espé-
cies do mesmo género Drimys, classiãcadas por diversos botânicos.
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ProviíMia de 5. Paalo, em M(^y tias Cruzes; P. do ItitMirande do
Sal; Rio de Janeiro, Serra dos Or^iios, ríoParahjba; P. de Miaas,
Barbacena, Ouro-Preto, e outros pomos, ParacaW, Cachoeira do
Campo^ Pico d'[tabira, etc. Nome vulgar : casca d'ADla.
r. UNDNCOLACKAS
106, Clemalis dentlculata (Clemalis Holeríl). VelloBo encontrou-a
nas mtízt da P. do Rio de Janeiro. Eiiste também oa Banda
OrieDlal, Arroios do ftoaario e Santa Luzia. Floresce de Novembro
a Fevereiro.
106. Ciematis iniegra (ClematÍB dioica de Línaéo, ou Brasiliana? )
America Central, Anlilbas, Venezuela, NoTa-<;ranada, Província de
S. Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Bahia.
KEHISPIiaHACEAS
107. Cissampelos convexa e G. tomentosa [Abuta rurescens). O gé-
nero Cissampeloa foi creado por Velloso. Província do Rio de Janeiro,
Serra de Tinguí, Provinda do Pará, em outros lugares.
108. Cissampelos ovata (Abuta Selloana).Em algumas localidades do
Brasil
109. Cissampelos Parreira (Cissampelos glaberríma],S. Hilaire. Pro-
víncias do Rio de Janeiro e Uinas, rios Macacú e Urubu em Mato-
GrOBSO. Floresce de Novembro a Jaoeiro.
110. Cissampelos Caa peba (Ciiisain pelos rasciculala). Provit.cias de
S. Paulo, Mioas. Rio de Janeiro (Cantagítilo). Proiimidades do lapurd
tributário tio Alto-Amazonas. Coyana iogleza.
111. Cissampelos llennandia. EsiH espécie de Velloso o Dr. Marlius
considera como duvidosa. Província do Rio de Janeiro.
ii'l. Cissampelos Abiitua (Botryopsis Piatyphylla.) Província do
Riu de Janeiro ; Serra do Mar ; Cantagallo; Minas Novas etc. Floresce
em Abril.
FAHILIA DAS OILLEUEACEAS
113. Ilieronlascabra (Davilla rugosa). Tem sido encontrada em la-
gares arenosos. Piovincta do Rio de Janeiro ; Rio-Doce, Província de
Santa Catharina; Proviocia de S. Paulo ; Minas i Babia ; Pernambuco
e no rio Amazonas, elcCambaibinha.
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UPOTACEAS
U&. Pometialacteacens [Lucumauu Gtirygophyllum ?) TomaraDi pelo
GhrysophirUum Buranhem de Riedel. Nome vulgar: Guaraolièu. Habita
em muitos lugares da provÍDCía do Rio de Janeiro (Corcovado), etc. O
Dr. Marlius enganou-eei.não é o Chrysophyliam glyvy^^úamm. Gasaretb.
MALPIGHUCEAS
115. Maiptghia crassifolia (ByreoQÍma verbascifolia). Tem sido en-
contrada em campioas de diITt-rentea {trovincius do império, e Leiu va-
riedades.
HO. Malpighiahir8nt&(Byr80DÍ[DaPacb]rpbyUa).De Setembro aOutu-
bn> ; aos campos da proviocía de Minas e da deGoyaz.
117. Malpighia marítima (Bunchosia Ourninensis). Província do
Rio de Janeiro, Tfjuca; eS. Paulo.
lis. Banisteria mutabílís (Tliryallis Brachystacliys]. Província do
ttio de Janeiro, Santa-Grnz, entre Gabo- Prío e o Espirito-Saalo, Serra
dos Órgãos e s. Paulo.
119. BanÍBturia ni(ida{5tígmapbyllonciliatum). Floresce em Novem-
bro- Província do Maranhão e Rio de Janeiro.
HO. Banisteria megac^trpos (Slígmapbytlon tomcntosum). Floresce
de Janeiro a Fevereiro, segundo as índicaçSes de Velloso, em Sanla-
Cruz. Províncias do Rio de Janeiro, Minas, 5. Paulo e Bahia.
121. Banisteria angulala (5 igmaphyllon affine). Floresce em Pio-
vembro. Proviucias do Rio de Janeiro e Babia,em lugaree arenosos
133. Banisteria uoialata (Hanisteria ferruginea]- Província do Rio
de Janeiro e em aiguus puntos d'Anieríca Austral.
1S3. Banisteria áurea. {Banisteria Gardneriana). Em Paranaguá,
províncias do Piauhy e do Rio de Janeiro.
134' Banisloría macroslachya (Banisteria Clausseníana). Províncias
do Rio de Janeiro, Mínas-Geraes [Congonhas.)
12S Banisteria triflora (Banisteria CrotoníFoJia). Fruclífica no mez
de Abril. Em Itacolumi, perto de Maríanna na província de Mínas-Ge-
raes, e na do Rio de Janeiro.
136. Banisteria fructicosa (Heteroplerís umbellata). Em Ipanema,
província de S. Paulo; provinda de Minas ; Congonhas do Campo, etc.;
província do Rio de Janeiro, Santa-Cruz.
1^7. Malpighia (nictícosa [tleleroptarís Sal ig na). Floresce de Novem-
bro a Dezembro, província da Babia, sul do Brasil.
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128. Baotatería moDOptera (MetiiMpierí^ cbrjsophrIU). Em poDtoe
próximos da cidade do Rio de Janeiro.
1S9. Baotatería Cordata (Tetra pteris rotundltolia) . Ao mez de Se-
tembro, em BotafoRO. Serra dos Oi^Sos. Gabo-Frío. As outras varie-
dades, em diversos pontos do Brasil, Coram observadas por outros bo-
ta dícob.
130. Banistería egiandulaia (Tetrapterís CrebriOora). Proviocias de
tlinase Rio de Janeiro
131. Baaisteria muilialata (Tetrapterís glabra). Em pontos proiimos
da cidade do Rio de Janeiro; Minas-Geraes.
133 Banistería solilaría (Hínea Salzmanoiana}.' Babia.
133. Banistería hexaodra (Scbnannia elegaaa). Em Malo-Orosso,
proiimo á cidade de Cuyabd ; Em Ipanema, província de S. Paulo.
134. Banistería mediterrânea (Jaroesia mnricata). Floresce em NOi
vembro. Acbou-a na província do Rio de Janeiro .
135. Uaipighia singularis (Oamarea afSnis). Em Ouro-Prelo, Mínas-
Oeraes; noyaz (próximo á capital) ; Em Guaralinguelá e Taubalé, pro-
víncia de S. Paulo, e na da Babia. Floresc« de Outubro a Novembro.
136. Eahites isibmica (Condyiocarpon Istbmicum). Floresce em
Agosto. Santa-Cruz, província do Rio de Janeiro.
■ O género Tibememontana de Velloso nSo está mais adoptado
para as espécies que elle descreve-o na sua Flora Fluminaise. Vigora o
geuero Geissospermum do Dr. Freire Allemio, para aquellas espécies.
137. A espécie Tabememontana laevis, de Velloso, foi substituída
por tieiasospermum Vellozií, do Dr. F. Allemio. a qual Ibe foi dedi-
cada pelo segundo botânico. Foi encontrada nas malas da serra do
Jeracuino. Floresce em Agosto, província do Bio de Janeiro.
138. Malooetia sessilis (Echites sessilis de Velloso). Floresce em
Outubro, província do Rio de Janeiro.
139. Echites pilosa [Forsteronia pilosa).
lúO. Ecbites Ibyrsoidea (Forsteronia Ibyrsuidea). Santa Crui.
lAl. Ecbites bracteata (Forsteronia bracteala). E' o Ecbites Vello-
siana de De-Candolle.
U2. Ecbites Coalita. Espécie hoje admiilida, de Velloso na Flora
Bratileira do Dr. Martins. Província do Bio de Janeiro, Serra dos
Oi^loB. S. Paulo, Mbag, Babia; Gojaz e Ceará.
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-m-
U3. EcbJlea DUtiu. Provlociailo Rio de aDelro.(AdmílUdo.)
Hà. Ecbitea odorUen. PtovÍdcíh <Iu EUo de Janeiro. (Admittida.)
U6. Ecfaites Tlolaeea. Provinda do Rio de Jaoeiro, provÍDcia de
S.Panlo, em S.Carios, província da BabU, perto do rio S. Francisco,
pravincla de HÍDaa. (Espécie admiltidaj,
1&6. Echitea iDtea, Provinda do Rio de Janeiro. Também nio foi
sdbatitoida.
U7. EdiitM peluis. Floresce em Fevereiro. Provincia do Rio de
Janeiro, Cantagallo; provincia de Minas, etc. [aj
1A8. Ecliítes suberosa. (Hemadictron Gaudichaadii). FloreKce em
Agosto. Velloso ençoDtrou-a na fuenda imperial de Santa-Cniz, onde
aconheciam por cipó carneiro. Kabarra do Bio Negro Qoresce em Ou-
tubro.
1^9. Echiles denticulala (Hsmadfctyon macroneurnn). Provinda
do Aiode Janeiro. C. no ríoJapuri provinda do Allo-Amazoaas.
160. Echitei megragor (EIaemadict]roD Hegalagríon]. Na fraguezia
de Campo Grande, munidpjo neutro da provinda do Rio de Janeira
Floresce em Março.
BIGONUGUB
151. Begónia buUta (Begónia angalaris). S. JoSo Marcos, serra da
Eslrella, na proviocia do Bio de Janeira.
152. Begónia angulaU. NKo foi lubititnida. Pd encontrada no
aqueducto ds Carioca; serra da Estrella; nas protimidades da cidade
do Bio de Janeiro ; na provincia de Minas, ele.
163. Begónia acida. Foi conservada. Provinda da Babia.
15&. B^onla genículata (Begónia convolvulacea). I>rovindaa do Rio
de Janeiro, Minas, Bahia. ..
156. Begónia tnincala. (Begónia Vitifolia) Scholt. Rio Abaelé. Pro-
vindas de Minas, Bahia, etc
166. Begónia vertidllau (Begónia digitata). Serra dos OrgSos e
Pelropolis. Outros ponlos da provincia de Uiaas.
157. Begónia vaginans (Begónia tomentosa). Tijuca e Pelropolis.
158. Begónia diinídiata (Begónia arborescena]. Nas metas da lijnca,
ddade do Rio de Janeiro, Corcovado ; Pelropolis; Serra dos Or^B....
169. Begónia herbácea. Foi conservada por Martius, na pagina
383 do aiCDlo 17. •>
(a) Em S. Paulo chamam ctpd copodor.
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-aí» -
160. Begónia laoceolala. (Begooia alleDuaU). Vive Bobre o tronco
das arvores. Petrópolis, serra da Estreita, e Rio de Jaoeiro.
161. Begónia repens.
162. Begónia acetosa.
163. Begónia cordata.
16A. Begónia cruenta.
166. Begónia declinata
166. Begónia dúbia.
167. Begónia erecta.
168. Begónia obiiqoa.
169. Begónia procumbens,
170. Begónia radicans.
171. Begónia renifonnis.
172. Begónia rotundata.
173. Begónia scandeoa.
174. Prinos inlegerrimus (llei iotegerríma). Floreace em Agosto.
Foi encontrada em Botafogo, província do Rio de Jaoeiro.
175. Prinos serratus (llex acrodonta). Protincias de Minas e Rio
de Janeiro, {Cachoeira do Campo, na primeira).
176. Cbomella amara (llex panguariensis, oo acutffolia (T). Foi
encontrada, assim como algnmas variedades, nos seguintes lugares :
Serra dos Orgàos ; Jardim Botânico ; Lagoa de Freitas ; lljuca ; cidade
de Coritiba; em alguns pontos da província da Babia: e em outras
localidades do Brasil.
177. Prinos glaber. (Espécie duvidosa). Floresce em Outubro ou
Setembro.
UuifBACUS
O género Caula de TelItfM foi lubatHoido por Com&nmo úe
Reiss.
178. Caesia ipinosa (Gonnonema splnosa). E' um arbusto. Esta
espécie floresce de Maio a Jnnbo. Provinda do Rfo de Janeiro ; cOrte.
As variedades (ém sido encontradas em outros pontos do Brasil.
Eis o que Fr. Venoso dfi na sua Flora Ptuminaue a respeito
do género caesia : ■ In memoriam Frederícl Caesii SUtctl Angeli Prio-
cipis botânicas tabulas constnienlls. »
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179. Gelastnia ipicatus (GouaoU corylifólia). Radd. Velloso encon-
troada ns fregaeaa de CampMirande. Existia também do Corcovado ;
Ssqnareina, e outros pontos da província do Rio de Janeiro. O fnicto
madurece de Fevereiro a Março.
180. Celastnis lunbeilattu [Reissekia Gordifolia), Em muitos logarea
próximos da cidade do Rio de Janeiro. Provincia da Bahia. P. do
PiSDbf, perto de Oeiras. Floresce em Maio.
181. (^ÍQOpodium repens (Peltodoo radícans). Floresce em Abril.
Província do Bio de Janeiro, e em algumas malas da província de
Mina»-Geraes. Velloso esiudou-t na primeira das doas províncias.
182. GlJnopodlum albidum (Hjptis paludosa] S. H Provinda do
Espirito-Sanlo ; e Rio de Janeiro. Floresce de Maio á Junho.
183. Clinopodium imbrícaium [Hyplis pectinata). Enire a capital
do Espirtto-Santo, e Bahia ; em lugares seccos ; em Sanla Calharína ;
em Sanla*Cnu; bzenda do Ribeiro Manso, etc. Floresce, segundo
Velloso, de Julbo a Agosto.
184. SIacbfs flumioeiísis.íLencas marlinlcensis). E' conhecida vul-
garmente por cordão de frade, ou cordão de S. francisco Encontra-se
nos campos, mais ou menos afastados das florestas. Floresce durante
08 mezes do verão.
185. Stacbys Mediterrânea (Leoootis Nepeterolia). Floresce em
Setembro. Sepítiba; nas margens do Parabjba ; e em alguns lugares
da província da Bahia.
SGROPHOLiHIKBiB
186. Besleria inodora (Brunfelsia panciflora). Província de Minas.
187. Besleria bonodora (Brumíetia latifolla). Pravincia do Rio de
Janeiro, serra da Estrella ; entre Campos e capital do Espiríto-Santo ;
em algumas mootanhas da província de Mlnas-Geraes.
188. Silvia curialis (Escobedia scabrifolia). Floresce de Outubro
a Novembro. Hablla nas províncias de S. Panlo, Minas e Goyaz.
Nola: O género Silvia foi oITerecido por Velloso ao Dr. Barlbolomêo
da ^Iva Lisboa, como se vi dss seguintes phrases tiradas da sua
Flora Fltaninensis : ■ In memoriam Birlhotorosl da Silva Lisboa, Do-
clorís in utroque jure, et in Historia Nalurall Auctoris cujusdam
Libelll de progressu Historie Naturalis in LusitaDia ; nunc vero judieis
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FOreosis, el tVnsidis'SeDtliis FInmineoBis locum occu^aotÍB, et de
RebuB NaluralJhuB BrasiBa scnbonij» diii, ■
1S9 Scropbularia DumiDeiisis (Aleclrff brasUtoDUB). Floresce de
Fevereiro a AdosIo. Foi encontrada na proviocia do Aio de Janeiro;
Serra do Tingui . Macahé, Cabo-Frio ; proviacia de Mioas (Congonhas
*> Campo) : província de S. Paulo ; rio Paraod ; em lugares húmidos ;
províncias d« Go^ez, Minas i; Vliiraabiu. Velloso estailou esta para-
sita na primeira das províncias ciladas.
190. Buddleia auslralia [ Buddleia bruailiensis , Província do
Rio de Janeiro: Porto da Estreila, Corcovado, na raiz da Serra da
Estrella; na fa^nda de 5. Beato* [inuaici pio de Campos], e no morro
Qneibado Nova-Frlburgo . Província do Minas-Geraes. (Verbasco).
19t. nomana Campeslrís íBuddlela píegans). Barbaceoa, em Minas.
S. Paulo, etc. Floresça nos mezes de SeiPDibro, Outubro ou Novembro. .
193. finarda repens (Micratithemum orbiculatum). Rio de Janeiro
e província da Bahi i. Ftoresr^ de Janeiro a Fevereiro.
193. .Scropluilaria subliastata (Stenotlia sutihastata). Rio de Janeiro.
19Ú. Scropbularia proqimbeos iHerpestes lanígera). Florasce em
Janeiro. Velloso encoolrou-a em lugares humiitoa, e em aguas SBla-
gnadasda proviocia do nio de Janeiro. Também perlo de S. Chrístovão*
riMILU D&S BBIOCADLACaM
195. Dupatja acqualb (Pi^anthus Blepharocnenís). Províncias
de & Pauto, Minas e Rio de Janeiro.
196 Dupalya hirsuta (Pxpalanlbus Dupalfa). Fevereiro. Provín-
cia de s. Paulo: serra do Cubatio, entre as cidales de Santos e de
S. Paulo.
197. DupBt;a ligulala (Eriocsuloir Kunlhii). Rio das Pedras, ele.
CONIPBRAS
198. Pinus dioica (Araucária brasiliana). Pinho do Brasil, ou
Pinbeiro- Enconlra-se entre 15* e 30° de latitude austral. Províncias
de Santa Catharina, Uinas, S. Paulo, Río-Grande do Sul. Arvore mui
corpoienta e elevada; fornece uma madeira estimada e procurada
para certas obras.
BRIGA r.BAS
199. Andromeda hirsata (Gaullliería lerrqginea}. Serra doe Órgãos;
TONO XXXI, P, II 37
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— aw -
Nota Frlbnrgo, P. do ftio de Jaaeiro. Pronncia de Mioas: Itacolsni,
m. do Oaro Branco, da Piedade, V. Rica ; a uma allura de 4,000 s
5.000 péí. Floresce de Março a Agosto.
300. Andromeda serraU (GaiiKheria elliptica]. Alto da Boa-Viíts,
e em raajs algnni togares da protincia do Rio de Jaoeiro.
201. Andranieda lanceolata (LeucoUioe multiflora ). Cidade A
UiamanliDa era Ulaaa-Geraeg. E* uma variedade da espécie muIU/Iora
de De Caadolle.
SOS. Andromeda nítida [Espede Leaocttate revolula de De Caudolle).
Nus arredores do Rio de Janeiro e na provinda da Bahia.
OPBIOGLOSSEAS
908. Ophioglonum retlcalatum (Linneo, mencionada por Veltoso).
frovlncia do Rio de Janeiro : serra da Eafrella. Em ouins paiies
da Amerira e na Jamaica.
* E' nma peqnena tamflla, e por isso nio admira qne o nome
de Fr. Velloso n3o appareça repetldaa veze% •
SGHIEAEACEAS
30A. OphioglosBum sca adens (Ljgodium hastatum). Proviacias do
Aio de JaDeiro, Minas e Babla.
305. Horta KpjQoga (Clavijainacro|Aylla). Floresce no mcz de De-
zembro, Corcovado, Copacabana provinda do Rio de Janeiro. Eiisle
também na província do Cará; no Aio Negro, iribiilario do Amazonas,
floresce em Outubro.
206. Zacyntba nutans ( Clavtja integrifolia ). Rio Panhjbnna,
Bocalna, etc
S07. (*eGkia vertidllala(UfbyaniliU3 cuoeirolius). Floresce no mei
de Outubro Rio de Janeiro, Corcovado, eic., etc.
SIHPLOCiCUS
SOS. Epigeniacrenala (Sfmptocos crícophtea.) Proviocia de Goyai.
• /n mewtoritxm Epigenis Rhoiii de Be natica seribaUi» a . {Flora
Fluminense, pag 183.)
209. Barberína hirsuta rSjmt^ooos bírsula.) « In memoriam iuirdi-
nalis Barberini raaguiflci Horli Bolanici Constructorís. ■ (FioraFlu-
\ de Velloso pag. S35.)
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AUTRAMBRUB
910. Alstrsmeria salsilla [Boraarea B^eclabilÍB, ou parvifulia 1)
211. Alstrameria cuulia i^^io foi subatiluida por Martins, na
sua Piora BrasUieraif). Floresce de Agosto u Setembro. Perto de S. JoSo
das Aolaa
312. Aistrxmeria Pelcgrino (AUtiamería caryopb;Ilea]. Perto de
Cabo-Frio.
C01IHELIN£*S
213. GODvallarie ditriisa(Dichorgaiulra Luscbnathiaiul). Serra dos
Orgios, e moDtaatid do Corcovada.
21Ú. Tradescaiitiacapiiata(CampelÍBZaaoaia).
3iã. Tradescaolia fltiminensis {Tradescantia Modula). Sul doBrasil.
216. Tradescaotia Gummelina (Tradescantia SellowiaM). Enlre «
cidade da Vicloria e Babla.
217. Tradescantia geniculala (C. que foi congerrada).
318. Oommelina conununensis (CammeliDa agraria). Perto de
5. CbristovSo.
POLTGOKACBAS
219. Polygonum marltimiira (Polygonum acre). Província do Rio de
Janeiro ; da Bahia; Pará (margens do Arnazonasj ; riodcS. Francisco;
llio^irande do Sul. America do .Norte ; e em algumas republicas da
America do Sul.
220. PolfgoQum ereclum.
321. Poljgonum scaodens.
222. PoljgoDum declinatum [Goccoloba declinata, ou Velloiiana t
Provinda do Rio de Janeiro. Taubalée MndamonliaDgaba na provia]
cia de 5. Paulo.
223. Polfgonum frutescens (Coccolaba Gardoeri). Serra doe Orgloe ;
província do Rio de Janeiro.
230. Polygonum arbarescens (Coccolaba nitida). Rio de Janeiro :
Joazeiro, província da Bahia, Províncias do Piauby, Bahia. Rio Mag-
dalena. (Mageniascandens).
THrHBLAEACEAS
335. Bosca stupacea (Fnnitera ulilis). Conhecem alguns por en
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bira bnnca, oa dm^esmeDle embira. Floresce no mei de Julho. Nas
matas praiitnis do Rio de Janeiro.
PROTEACtAG
336. Diaeckaria [egalís [AdeDoslephnnDsSellowií}. Sul do Brasil.
Floresce de Julho a Agosto. Velloso diz que a conhecem por Cuticaem
■ In roemoriaiD D. Dicrecker diii. a (Pag. U2 da Piora Flumirunse).
ORTICáCElS
137. Picus hirsuta. (UroetigoN birautum). Praviocia do Rio de Ja-
neiro; Serra do língua; no caminho de 9. Clemente.
33S. Gecropia peltata (Gecropia Adeoapua) Hartius.fíreace nos cam-
pos, DBS capoeiras, e nas margens dos rios, em difTerenles pontos do
Brasil, e, principalmente, na província do Rio de Janeiro. Río de
S. Francisco ; rio Amazonas, seu atQuenle Rio Negro ; e em Mioas-
Geraesi. Gonliecem vulgarmente porEmbiiiba.
239. Horus tinctoria (Uaclura tiiictoria)..ProvÍDcia de G«f az, Ri-
beiíito d' Anta.
330. MorOB latalba (Madura Hfflnis).Cresce em Cabo-Frlo, etc. etc.
Nota : U género Morus pertencia a antiga tríbu das Moréas do ex-
tenso grupo das Urticaceas ; e esta tríbu coosLiLue hoje a iamilia dns
Moréas á qual pertence a tatajaba e outras que primam pela tinta
amarella que pruduzem, pelo cerne ainarello, e pelo lefle que a casca
coutem. ■
231. Oorstenía erectii (Foi conservada peto Ur. Martins). Em difTe-
renles pontos do Bruaíl.
332. DorsiMia caulescens ([)or&lenÍ)i nervosa). Serra do Mar. Foi
também encontrada na fazenda de Malhjas Ramos, e abaixo da Serra
do Tjnguá.
233. Dorsienia Ticus (Dorsteuia multiroriDÍs; Foi encontrada em
lugares jiroxi IDOS do Rio de Janeiro.
a3ú. Dorsienia cyperus (Nio sei se foi conservada). Foi encon-
trada em lugares próximos do Rio de Janeiro. Abaixo da serra
do Tioguá ; nu Corcovado ; freguezia do Campo -Grande ; em Marapicú ;
e no Jerissinó.
235. Dorstenla Drakena (Dorstenia pitmaiifida, variedade da espé-
cie Dontrnia arifolia de Umarck. Provindas do Rio-Grsnde, Miuas
e (tio de Janeiro.
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— 293 —
236. Urtica mitis (Urera mllis). Em alguoB pontos do Brasil.
iSl. UrticB mli<ia (Urera armigera). Mez de Julho. Rio de Janeiro.
338. Urtica dioica ;Ur(ica urena). Lianéo. E' nma planta da Europa,
que cresce no Rio de Janeiro, e em outros pontos do Brasil.
239. Ficut Indica de Veltoso. (Foi conservada (?)
3Ú0. Parietaria offlcinalis. (Espécie obscura, a respeito da qual
o Dr. Mariius nulre dpvidas, conforme o modo por que expnuM-se
na soa Flora Brattiiengis).
2A1. Solunum triptifllum [Solatium' prunirolium). Boa-Vista e ou-
Iros lugares.
9AS. Solannm nigrum (Velloso e Linoío). Herva moira. F^arabjba
do Suh municipio neulroi rio Piabanha (iributarío do Parabyba;
nasce em Petrópolis). Em outros pontos da provinda do fUo de
Janeiro. Províncias do Ceará e Minas. Planta medicinal
2&3. Solanum dIfTusum. (Solannm Aguraquya (?) P. Floresce em
Janeiro. Tem diversos nomes vulgares e alguns coobecem ímpro-
priamenie por berva-moira.
'24A- Solannm Caavurana {Foi conservada). Nas matas do Corcovado ;
em Gabo-Frio. Província do Piauhy. Floresce..,.
Ilii. Solanum CiBruleum (Foi conservada). Perto do nio de Janeiro ;
e, segundo Martius, na Cachoeira do Campo em Minas-Geiaes.
346. Svianuni Carmanlhum (Também é admíltida). Floresce era
Março ; Cachoeira do Carapo em Minas. Velloso encoatrou-a na
fazenda de Saota-Cruz : Qoresce de Agosto a Setembro.
2íi7. Solanum stipnlatum [Solanum Rlvulare, ie ^jHrtiuB). Floresce
em Fevereiro (Váloto). Segundo o Dr.'Marlitts, floresce de gelembro
a Oulubro, na serra dos Órgãos. Sehott encontrou-a nq serra do
Tinguá : e Sellow no .Sul do Brasil.
ihS Solanum inequale (Foi conservada ). "Tíjuca ; Corcovado j
serra dos Órgãos; nas malas viziobas do rio Taguahy KVelhuo),
Floresce de Agosto a Setembro, seguiidoo^efíoso; de Oulubro a
Novembro, segundo SíarUiís.
3^9. Solanum Guapbalocarpum (Idem). Floresce de Oulubro a
Novembro. Serra da ERtrelIa, ele.
350. Solanum lacleum Jdem). Floresce de Janeiro a Fevereiro.
251. Solanum uniflorum (Solanum spseudo capsicum, de Linnêo).
Floresce de Setembro a Oulubro. Boa-Vista.
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— »* -
352. Solanum teminale (Solannm iHidyDSiiiani).
253. Solanuai danUtemnm (SnlsDum concinonoi, de Schotl).
3Sa. Solanom coronalnm (SoIsduib ranibanlQorain). Floresce de
Outubro a Novembro.
255. Solanum tabaccifolíum (Solanum auriculatum; . CoiibeciíJa vul-
garmente por Caa, ou tuino bravo. Segundo VtUoso, lloreace em
Outubro ou Setembro. Eucontram-ae variedades d'esta espécie em
ouIraB provinciaB do império.
356. Solaoum Oerouum [Não Toi substituída). Este arbusto tem
sido eocoutrado do Parabyba, ParahjbuDa, « oa estrada i«al da
província de Minas, segundo as Indicaçdes do Dr. Martíus.
'257, Solanum Bullatum (Idemj ■ A espécie Solanum Vellosianum
de Dunel creio eu que foi dedicada ao illustro botânico brasileiro
Fr. VelloBo. o
258. Solanum ínodonim (Solanum decurlicans]. Floresce em Feve-
reiro. Paraty.
S59. Solanum flaccidum (Fui conservada). Floresce de Fevereiro
a Março.
360. Solanum odorifenim (idem). Floresce de Fevereiro a Março.
Tijuca. ele.
361. Solanum biBssum [Solanum sordidum}. Nos limites de S. Paulo
e Uiaas-Geraes (Morro do Lobo;. Floresce de Dezembro a Fevereiro.
263. Snlanum sub-umbellaium [PoÍ con^rvada). O Sokaum ter-
minale, também de Velloso, creio que é n mesina, pelo que diz
o Dr. Martins Entre S. Paulo e Minas ; S. Jorio d'£l-Roy ; Itarbacena ;
Congonhas do campo.
ãC3. Solanflm congestum.
36ã. Solanum havanensis.
265. Snlanum arrebenta (Solanum aculealissimum). Conhecida vul-
garmenie porjoa arrebetiia cavtJh. Floresce e Iruclilica de Agosto
^ Novembro, na montanha do Corcovado. Encontrase também em
Minas-Geraes e Goja/. .
J66. Solanum sinuaiifolium. (O Dr. Martins considera como a
mesma espécie precedente; e Velloso exprime-se, na sua Flora
Flumintnse, de modo a confirmar ou a autorisar o que fez o
Dr, Martius: " Bacca eoccinea Solani arrebenta stmitít. »
367. Solanum billssum (Solanum spectabile). Alguns conhecem por
Jubeba, ou Juropeba. Floresce em Deiembro, entre Lorena e S. Paulo;
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— ftOK —
I^. Martiut ;a' vista da repelicSo da espécie Solaouin bifissuv, deve-
se considerar o Dumero 261 como dSo escriplo).
968. Solaaum multiangulatum {Foi conservada).
269. Solauum Ambrosiat^um Jdem) Jod amarello. Em Santa-Cniz.
210. SolaDum hexandrum (Idem.]- Floresce em Dezembro, Santa
Cmz ; Campos etc.
271. Solaaum edule (SolaDumBalbisii). ProviDCia do Rio de Janeiro,
onde é^ntiecido vulgarmente jjelo Dome de Joã; província de S.Paalo,
Martius.
272. Soknum repanduro (Solanum variabile). Rio de Janeiro. Tan-
balo, província de S, Paulo Floresce na primeira, em Junho ; e no
mez de Dezembro na segunda.
273. Solanum Jubeba. (Solanum insidiosom ?) Curral Falso.
27íj. Solanum subscandens (Foi conservada). Floresce em Março.
Rio de Janeiro: montanha do Corcovado ; e em outros pontos da pro-
víncia.
375. Solanum Para tyeuse [dera. Província do Rio de Janeiro : Pa-
raly, Cabo-Frio, Angra dos Rei». Floresce em Outubro ou Julho ?
276. Solanum oleraceum (Solnnum Jucíri;. Província do Rio deJa-
nejro. Guaratinguetá, provtncia de S. Paulo Ifloresce em Dezembro).
Nas matas do Pirahy, diz tíarlius, que floresce lio mez de Fevereiro
a Uargo. Tíjuca. .Sul do Brasil. « (Juquerióba (quod interprelatur
planta spinota, edulis dicítur.^ Florn Fluminense, pag. 89.
277. Solanum decurreiís íNão foi substituída). Floresce em Agosto,
Santa-Cruz, e nas margens do rio ltagualt]r.E'rara no Corcovado e ar-
redores do Rio de Janeiro (Pohl. j Serra Brande (Scboll.;
378. Solanum elegans.
379. Solanum conicum.
280. Solanum elliptjcum.
281. Solanum fasciculatum.
282. Solanum períantliomega.
283. Solaaum cylindricum. Estas espécies, que Feí/oso consagra na
sua obra, não são descrtplas no género Solanum da Flora BrasHimsis,
do Dr. Harlius ; estSo incluídas pelos géneros Aureliana e Cypho-
mandra.
tSU. Cfphomandra flciadosljlis (Solanum conicum de Velloso). Flo-
resce de Julho a Agosto. Mogy-gOassú; s. Paulo. Suldo Brasil.
286. Solanum elegans 'Cyphomandra Vellosiana). Arredores do Rio
de Janeiro; província da Bahia. Floresce de Janeiro a Julbo.
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386. Solanum elliptlcum [Cjphomtndra dlllptici}. ProriDcfa do fUo
de Jaoeim
287. Snlanum cyliiKirIcDm CyphomaiMlra Cfliadrica). Proviociado
Rio de Janeiro. Floresce deUutiibroa Novembro.
i288. SoInaucD Ijcopereicuin Lycupersicum esnuleulum). Nome
vulgar: tomate. Planta cultivada naa hortas. E' culltvada em todo o
BraHI.
3ft9. Solanum raiclculatum (AurBliaoi fasciculaia). Florescede Fe-
vereiro i Março. ProviDciad» Ríode Janeiro, Minas,
290. capaicum Gonixrini Gapsicum frnlewena'. O capskumortorí-
ferum, a C.baccaLum.que Velloso estabeleceu como espécies distioclas
assim como a primeira, achSo-se sobstiiuidas pelo Gapsicnm frulesreos
de Wildd. E' conhecida nilgannente por pimenta de eomary. E' cul-
tivada em larga escala em muitos ponLoB do Braail.
291. Capsicum conicuni [Capslcum baccatum de Liunèo)
293. Capsicum sylve'<tre (Capsicum anouum, de Llnnío). Floresce
de Setembro a Oolubro.
293- Capsicum unibilicatum. Variedade do Capsicum grossum.
29A- Capsicum Axi. Variedade do Capsicnm cordiforme.
296. Capsicum lorulosum. Variedade d> Capsicum:
Sho plautaa que encerram um príoclpío acre no fruclo, conhecidas
por pimenlas.
296. Dalura scaodena !S<)laodra grandiQora) Floresce em Dezembro.
Hangaratiba.
997. Dalura arl>orea (De Velloso, Línneo, Willad e oulros). Nome
vulgar, Asaucena do brejo.
398. Daturn slramnnlum ;De Velloso, Linnto, Pavon, Mnrlius ç
outros]. Figueira do ioreroo [nome vulgar). Cresce nos campos, e a
flAr ã menor que a da trombeta, Datura factuosa, qu« Velloso não
menciona.
299. Nicotlaoa tabacum (Velloso, Lamark, Linnío, ele ] Fumo,
tabaco. Planta cultivada «m muito* pontos do Brasil, e cujaa follias
enoerran a nicotina, principio activo do fumo.
300. Nicotiana ruralis (Mcoliaua LaogsdorBi). Foi encontrada em
Minas, s. Paulo, etc, por Pohi, Martins, Sellow, e estudada também
por VeltOBo.
CESTBIHEAS
SOL Gestrum (a) sub sessile (Cestnim Schottil). Serra da Eatrella,
ia) As Coeratkts. no Rio de Janeiro, sito do género cestroh.
DictizedbyGoOJ^IC
- ím -
prorincia do Rio de Jaotín). Cuyabd, capital da provÍDCfa de Malv
Grosso.
303. Gestrum aiillare (Cestrum Uevigatum}. Em lugares arenosos.
ProvíDcia do Rio de Janeiro: porto da Estrella. Segundo a indicação
do Dr. Martins, Qoresce de Agosto a Outubro.
303. Cestrum slipalaluia (Cestrum bractealum;. Floresce em Se-
tembro. ProvÍDcia do Bio de Janeiro; cidade; serra da Estreita.
Cresce em Setembro.
30Ú. Cestrum arvense [Espécie duvidosa, de Velloso). Floresce de
Janeiro a Fevereiro.
305. Lisianthus opliiorrhiza. (Hetiernicbia Principis). Milcan. Flo-
resce de Novembro e Dezembro a Janeiro. Provincia do Rio de Janeiro :
Cabo-Frio, Corcovado, etc.
PI PERECE AS
806. Piper stellalum (Peperomia PerestitEfolia;. Rio Paraty, Santa
Calharína, etc.
307. Piper quadrirolíum. (Peperomia Valantoides). S. Paulo, etc.
308. I>iper monostachyon (Peperomia hederacea). Cresce no Rio
de Janeiro: no Corcovado; em Santa Catbarina.
309. Piper umbellatum [Polomorpbe sidstolia^ Nome vulgar :
pariparoba, ou caúpeba. Nas margens de pequenos rios; vegeta em
lugares húmidos. Angra dos Reis, [taguah; (serraj. Mungaraliba,
Rio de Janeiro ; serra do Araripe. . . .
310. Piper reticulatum (Enekea c^enotliiMia). Perto da cidade
do Rio de Janeiro ; e s. Jo3o D'El-Rei.
311. Piper cernuum (Arthante spectabilís) ou Arthante caruvaT
312. Piper Iruncatum (Arthante polhirolia) Serra dos Órgãos ;
Rio de Janeiro.
3t3. Piper adnncum (Arthante olphersiana) Cidades de Campos,
Victoria e Bahia. Em algumas localidades da província de Goyaz.
31Ú. Piper sylveslre (Arthante ampla). Floresce em Outubro.
Provinda do Rio de Janeiro: Corcovado ; serra da Estrella e Minas.
315. Piper crasBum (Arltaante crassa (T) Será uma simples va-
riedade da ultima P
316. Piper jabomndi (Ottonia amisum). Montanha do Corcovado;
e em muitas malas da provincia do Rio de Janeiro, inclusive nas
da Parahyba do SuL
TOMO XXXI, P. II 38
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TBIIBEBACEAS
317. Verbens cunea (Verbena pholigiflora, ou vulgarls (T). Provin-
eias de Hiius, S. Paulo e Rio~Graade do Su), ele.
318. Verbeoa lobsta (Foi cooservada). Floreace em Dezembro.
Sul do Brasil.
319. Verbena quadrangularii [Verbena bonarieitifs;. Floreace de
Janeiro a Fevereiro. Sul do Brasil. Santa Calharias. Serra dos
Oifioe. ProTincla de Uioas. Em B., Cabo da Boa-EBperaoça.
31o. Verbena braailíensis (Verbena liloraifsj. Nome vulgar; herva
do Pai Caetano. Sul do Brasil ; e em algumas republicas da America
(lo Sul: Veneiuela, Penl, Chile. Planla medicinal.
331. Verbena Quminensis (Bouchei, pseudo gerv9o). Floresce du-
rante os mezea de Setemliro, Outubro e Norembro. Nome vulgar:
gervOo da folha grmde. PrOTiocIas de Uinas e S. Paulo.
332. Verbena jamaicensis. (Slacby tarpha dicholoma). Nome vulgar;
gervOo ou urgtrvOo. Em muitas localidades da província do Rio
de Janeiro. Nas provinciae de Santa Cathariaa, Minas e BaUa. Fm
lambem encontrada na montanha do Corcovado.
323. Lautana spicata (LaiilaDa brasillensis. Cresce em abundância
nos campos. Proviacia de S. Paulo: Ypanema e Porto-Felíz. Ka
cidade da Victoría, capital do Espirito-Santo. Províncias do Minas
e Halo-Gnwso.
3ÍA. Lantaua lonleala (Laotaoa Camará). Enconlra-se em lagares
próximos do Rio de Janeiro; na proviacia de Minas. . . .
3â5. Pétrea volubilis (Pétrea subserrala). Floresce em Setembro.
Eacontra-se nas Qoreslas da proviacia do Rio de Janeiro ; em s Paulo,
Minas.. . .
326. £gipbilit verticillata. (£egiphila tomentosa). Em Taubalé,
província de S. Paulo ; em Barbaceoa, e outros ponlos da provinda
de Minas.
327. j£egipbila flumineasia (Foi conservada). Na montanha do
Corcovado; na Copacabana; e nas florestas da província do Bio
de Janeiro. Floresce do Julho a Agosto.
338. vGegjphiU bracbiata (fegiphila tríantba), Brasil....
339. .fgipbila serrata (.Egipliila graveoleas], Martins. Em Mogy
das Cruzes e Taubaté da provinda de S. Paulo; em alguns pontos
do Rio de Janeiror inclusive ao Corcovado.
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— Í99 —
330. JEgipbila mediterraDea [Foi aceita). Proiiocia do Rio de
Janeiro; em matas próximas da cidade do Rio de Janeiro.
33). jGgiphiln racemosa £giphila cuBpIdaU). Floresce de Setembro
a Outubro. Praia Grande: Ilaip<i. Na proviocia do Pará fructiQca
em Setembro ; fructiflsa em Janeiro para os lados do Rio-Negro e
Japurá, proviocia do Allo-Amazonaa.
332. £giphita abdiícta [Foi adoptada' Provlacia de MIimb: moo-
tanlia do ttacolomi; serra dos Orglios, e nas proilmidadeB do Rio
de Janeiro.
ANOn&CUB
333- Anona maricata [Velloso, Linnéo, Swarts e outros). Nome vul
gar Frveta de ctmde. E' cultivada em muitas hortas, e em diversas
pontos do Brasil Floresce de Setembro a Outubro, e o fructo madu-
rece 2 ou 3 mezes depois.
33Ú- Anona reticulaU (Anona Pisonis). Em malas próximas da
cidade do Rio de Juaeíro j provinda de Pernambuco. Floresce no mez
de Novembro.
335. Anona sqiiaraosa (Anona oblusiflora)
336. Anona silvestris (Roílinia xilvatica). Fruclifica em Março. Foi
encontrada por Velloso, na provinda do Rio de Janeiro ; e por St.
Hilaire, na provinda de Minas Geraes.
337. Anona eiaibida Roílinia eialbida. Casca adstringente. Provin*
das do Rio-Grande, e Rio Oe Janeiro.
338. Uvaria sessilis (Duguetia bracieosa:. Província da Rahia. Flo-
resce e rructldca nos primeiros mezes do anno.
339. Uvaria monosperma (Guatteria aigrescons). Floresce efracli-
fica nos últimos mezes do anno Em Lorena, província de S. Paulo ;
serrado Tinguá ; provinda do Riode Jandro.
3A0. Uvaria hirsuta [Guatteria Hilartanal Províncias Iropicaes do
Brasil.
341. Uvaria brasiliensís (Foi adoptada aa Flora BratUienti* do
botânico Marlíus). Floresce efructiflca no fim do anno. Velloso estu-
dou-a em algumas matas da provinda do Rio de Janeiro ; lambem
eiisle na província da Bahia, (a)
3úâ. Anona auminensis(Xylopia sericea. (u) lirovindas de Minas e
Rio de Janeiro. Rio Amazonas.....
a) Nome vulgar : Píndahiba.
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iCABTHACEÁS
363. HendoDcia albida (Hendozia pubenila, <te Marlins'. Provincii
do Rio de Jaoeiro ; urra dos OrgAi». Lorena, província de S. Paulo.
Floresce e fruclifica de Novembro e Dezembro á JaDeiro. Nas Olhos da
Agua, provÍDcia da Bahia. O género Mendoncia ou Mendoxia foi es-
tabelecido por VelloBO.
3A4. lleDdoiicia>£occÍDea .Hendoiia YeUotiaita]. • Esta e^iecíe foi
dedicada, pelo Dr. Martins, ã Velloso. » Serra dos Orglos ; cidade do
Rio de Janeiro....
3ú5. Rouellia diflusa. .Neleonia Pohlil). Provioclasde Gojai ePei-
aíi6. Pedicuiaris sessilis llygropliila costaia , Em Paquequer. E'
cuilívada aas hortas bolanícas ; Toi lambem eocootradaem pontos pró-
ximos do cidade da Rio de Janeiro.
3íi7. Bouellia Bolilaria (Dipieracanlhus Bchauerianus). Foi encon-
trada nas malas da Tijuca; na montanha do Corcovado, serra da Es-
trella, ele.
3ii8. Rouellia pilosa iDipleracanthus) nesianus). Floresce em Ja-
neiro. Em SanU-Cruz. Goyaz e Malo-Grosso.
3í|9, Kooellia hirsuta (D. geminiilorus). Municipio de Campos e
Cabo-Frio, m província do Rio de Janeiro. Taubalé, província de
S. Paulo, cidade da Vlctoria, capital do Espirito- San to ; e nas provin-
da da Bahia, Minas-Ceraea.
350. Pedicalaris sceptrum Mariaoum (Azrhostoirlon acutangulom).
Serra da Estrella. perlo da cidade do Rio de Janeiro, rio Parabjba.
■ In memoriam D.Augusiae sceplnim Marianum-n f íoro Flumínensís,
pag. S70.
351. Roaellia geniculata .Stemandrium mandioccarum) .Copacabana,
Cabo-Frio, montanha do Corcovado.
352. Rouellia spicaU (Geiasomeria distans). Floresce em Janeiro.
Velloso encoDlrou-a nas matas de Santa-Cruz, província do Bio de
Janeiro.
353. Rouellia prismática (Strobilorhachis prismática). Serra da Es-
irelta. Corcovado, Santa-Cruz e era outros pontos da província do Rio
de Janeiro.
554. Rouellia colorata (Lagochilium montanuro). Província de
S. Paulo Santos , província de Minas-Geraes, eic.
355. Rouellia coniosa Aplielandra squarrosa). Serra do Gubalão,
província de s. Paulo; serra de Macacií, província do Rio de Janeiro.
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— 801 —
356. Roaellia qn&draogularii rAphelaodre sclophila). Floresce oo
mez de Novembro. Em alguos lugares do Bradl.
Nota. A espécie Jostida Vellosil, foi dedicada, por SehuU ao botâ-
nico Velloso ; O Dr. MartJas, na sua Piora BraiUimtu, subetituiu-a
pela Behperone hirsuta de 19.
BtPOXIDBAS
357. Anlhericum eoiifonne (variedade da espécie HypoBit decum-
bens de LinDêo.
358. O Antberícum gramioeum de Velloso serA idêntico a de LÍd-
Dèo 7 Floresce em Outubro. Foi eacootrada no Corcovado, e em outros
lugares do Rio de Janeiro. Em Jacobina, província da Bahia. Na pro-
víncia de Hlnas-Geraes ; e também foi estudada dosqI do Brasil.
A Tamitia das VeUo$ias foi dedicada ao ilhistre botânico brasileiro
Fr. Velloso , assim como o género Vellosia, por Vandell.
POnTEDESIACEAS
369. Buchosia aquática (Heleranthera reniformis, de Pavon e R.
Copacabana ; província do Rio de Janeiro. Floresce em Jiilbo. Gua-
temala; Peru; Meiico, e n'Aroerica do Norte até a Virgínia.
360. PoDiederia aquática (Eicfafaornía azurea). Joazeiro, e rio
S. Francisco, na provinda da Bahia. Provinda do Pará; e encontra-ae
também Kra do império.
^61. Sagittaria sagíttilolia (Alísma macrophyllum'. Provinda do
ftio de Janeiro ; porto da Eairella.
363. Aloe perfoliata e (Aloé barbachnsis). Provincias do R
Janeiro e Bahia. Floresce era Setembro, segando Velloso.
vulgar: Baboia.
AHARTLLtDEAS
3fi3. Amarjlli4 illugtris (Amarjllis Pelllaclna).
3eã. Amarfllis princeps (Araai7llis príncipis). Velloso i
Santa-Cruz, lugar onde encontrou-a; Marliu& aponta o Espírito-
Santo.
365. Amarjllis Drjades (GríBlnin Hfaoínthiaa). Rio de Janeiro.
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UiniCDLlIlIAS
366. Utrícularía vulgarú {iitricularia oligoaperma; SI. Hilaire). I>ro-
viQcías doRiodeJaoeiroeS. Paulo; Rio-Negro; Pará ; Pernambuco.
367. Smilax chÍDa (Smilai sfiingoides). Sul do BrasiL
36S. Rtgaaia verticillata (Herreria salsaparrilha, de Marliat). E' cuU
Ijvada em muitos pontos do Brasil).
DIOSCORCAGEAS
309. Dioscorea conferia (Oioscoreapiperilblia) Província do Pará, ele.
37D. Dioscorea subhastata (Dioscorea glandulosa (7) Será urna
simples variedade t
371. Dioscorea undecimnervis (Dioscorea glandulosa (?) Será lam-
bem uma variedade? Província do Rio de JaDeíro; entre aa cidades
de Campos e da Yiclorla (capital do Espirito-Santoj. Nas matas da
província de S. Paulo, etc.
373. Dioscorea ovala (Dioscorea adenocarpa, dtMartiw). Floresce
no mez de Abril; e o fructo madurece ao mez de Maio, Troviocia
de Minis-Geraes : S. Jo3o d'Et-Rei. etc.
373. Dioscorea dodecaneura (Foi conservada). Provinda do Rio
de Janeiro: porto da Estreita. Provindas de Mínaa-Oeraes e Uato-
Gnwso. Floresce de Fevereiro a Abril.
37íi. Dioscorea quinquelobata (Dioscorea brasiliensiB]. Nas provín-
cias mais ao norte, como o Pará ...
375. Dioscorea heptaneura (Dioscorea saliva, do Linnéo). Floresce
de Fevereiro a Março. Provinda do Rio de Janeiro; enlre Campos
c Victoria. Provincia de Mínas-Geraes.
376. Dioscorea siauaia (Foi adoptada). Sul do Brasil. Nas proximi-
dades da cidade do Rio de Janeiro, etc. Floresce no mez de Maio.
377. Dioscorea tuberosa (Rajania brasiliensis;. Provincia de Minas-
Geraes, proviocia de S. Paulo, etc.
ROSAGB&S
O género Brya de Velloso foi subsiitnído pelo Hirlel/a de Linnéo.
COMBRETÍGEAS
378. Bucida Buceras, de Velloso (Subsiste, porém, o Bucida Buceras,
de Lin. Mangue branco, etc.)
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379. Combretum aecnudum (C. Laeflingfi). No Corcovado, Co-
pacabana, Ganlagallo, Macahé, Cuiabá, Goyaz, Mioas-Oeraes.
3S0. Porsgordia Iffivis. (Combretum Jacquioii . Santa-Cruz, Can-
tagsllo ; (Velloso colheu o specimeo em Sanla-Cruz). A espécie
abunda em qaasi todo o Brasil tropical,
LÃDRIHEAS
381. Meoestrata racemosa. (Oreodapl)ae ? epltiana). Uoica espécie
meficioDada na Piora Brasiliauis).
383. cleome pednnculata (Gleome gigantea Lio). Proviocia do Rio
de Janeiro, etc.
3B3. Cleome dodecaphflla {C. dendroides]. Petrópolis. Canlagallo.
38à. Cleome penlaphylla, (C. rósea). Proviocias do Rio de Janeiro
e de Miuaa.
385. cleome tripbylla. (G, aflQnis D. C.) Botafogo, Carioca....
386. Capparis acandens (Capparis lineala). Floresce em Oatubro,
província do Rio de Janeiro, ele.
387. Capparis neclarea (Adoptada). Velloso encontrou-a na pro-
víncia do Rio de Janeiro.
38S' Capparis llexuosa (Adoptada). Provlnrias do Dio de Janeiro
e do Espirito-Santo.
389. O capparis declinala, de Velloso, é uma variedade do capparis
cjnophallophora de LinnCo.
390- SizynlIiriamauviatileCNaslurtlum olBcina)e)..<9rtdoor(Itn(ino.
Lepídtura ameríciDum [Seoeblera pemiatifida} .
GERTUnACEAS
391. LisianlhuB ovalifolius. (L. alpestrís-Mart). Serra da Haati-
qoetra; Campanba, etc.
392. MenyantheB brasilica (Limnanlbemum Humboldtianum-Gfú.
S. ChrísIovSo, Cabo-Frio, Minas, ele.
Ao lodo 393 espécies croadas por Velloso, que estão mencionadas
nos 43 lasciculos da Flora Bnuiliauii do Dr. MaHins. D'eBtas
espécies foram adoptados 63 nomes botânicos estabelecidos pelo
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— »* —
nalnndltta bnslleiro- Nos fulunn fueicDloa da Fbra BniriHnuú
serSo coDUmpladu as espécies ainda nlo mencioDadas, e por ellea
*er-8e-ha se foram ou dSo adoptadas.
O Andaiífã é o JòAonneiMi Prineept de Velloeo, das eapborbiaceas,
que alguns chamam Anda Gomtti*. B como oc precedentes pode-
ríamos citar muitas oolras, que ainda estio snjeilas & deliberagSo dos
[egisladoree da botânica.
O Dr. BaiUlon, professor de l>otaQÍca na escola de medicina de
Paris, publicará brevemente o complemento da sua monumental
moDOgraphia das eupborbiaceas, onde serão mencionadas as espécies
que Velloso classifícou.
Alguns nomes botaoicos creados pelo padre mestre Velloso, pare
plantas eophorbiaceas do Brasil, foram adoptados.
O insigne Dr. fiureau, aín olvidará, na mia doscripçâo das plantas
brasileiras, da ontem das bignoneaceas, as espécies que Velloso classi-
Bcou. Uma pane d'esteB trabalhos j& nos foi enviada de Paris pelo
Dr. Bureau, e abi encontrámos as espécies, de Velloso :
Bignonia fascicnlata, substituída por Tfuantbus laiiflora de Uiers.
Bignonia cordata, substituída por Lundia umbrosa de Bui.
Bignonia longa, substitQÍda por Lundia longa de O, c, etc.
APPENDIGE
LOGAKIICUS
Gardénia trinervisV. ^StrjchnosTripIJDervIaM.).
Narda spinosa V. (St. brasilienses M,|.
jisuaKCSàs
Jasminum Fluminense V. [J. AzorícumL.).
strucBis
Epigenia integerrima V. (St; rax glabralum S.;.
LORAItTHACEAS
Loranthus grandlQorus V. (Psittacanthas robustus M.).
LoranthUB emericanus V. (Paittacantiiua Dichorus M.j.
Loranthus oJotiferus V, iPhrygilanlhus Eugenioides H )
Loraoihiis vulgarisV. [Struthauthus marginatus}.
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— 805 —
APPENDICE AO CAPITULO VELLOSO E BOCAGE
Vellow é o autor da Nomenclatura Linneana pata as planUs me> in.
tt»A»tBO Poema de Bostel: — Agrtadtura — qus Bocage lrad<i/'<
verso porlDgaez. Acha-seno &.' volume das poesia de Bocage, paginai:
187, 188,189, 190, 191 e 193.
No QcQ do 1.* volome das poesias de Bocage encoolnunos aa se-
guÍDies linhas, relativamente á Velloso : « o mesmo homem, que rejei-
tara redonda mente de José de Seabra a nomeaçfio para um lugar de
offlcinl na bibliotheca publica.acbaado ingupportavel a sujeição do em-
prego, melhor aconselhado pela uescessidade uão teve duvida em
aceitar de Pr. José Uarianuo Velloso, religioso arrabído, e director
eniao daolBcina chaleographica, creada pelo ministro D. Rodrigo de
Sousa Gouliiiho, o partido que lhe propôi de se occupar em rever
aluradamente as provas de obras apropriadas a dlfrundjraÍnatruc(3o,
applicando o resio do tempo as versões de boos autores e a composi-
ções origiuaes. O ajosle foi dos mais modestos. Vinte e quatro mil réig
mensaes, flcando a primeira edição toda para a casa, efs o que obteve
o grande poeta, e ao que se submetteu para grangear os soccorros,
que a indigência tornava preciosos.
Sem este contraio, em que o padre Velloso se lios íigura mais favo-
recido do que benifeilor, como diz o Sr. Castilho, a lltleratura portu-
gueza contaria de menos algumas primorosaa traducçSes.
Homem de vasto saber, e amigo por nstureza dos engenhos desva-
lidos, devemos suppor que o religioso arrahido oíTereceu quanto lhe
pormitiiam as posses do estabelecimento ; e o reconhecimento de
Elmano, conservado alé a morte, asses o atlesta.
P6de ioferir-ae até, pek dedicatória do drama «A Virtude Lau-
reada, D que a n^ do protector discreto e liberal soube escolher as
occasiOes, acudindo com dadivas esponUneàs aos maiores apuros de
Manoel Maria.
Da transacçSo com Velloso safairam as versões admiráveis dos ■ Jar-
din» de Dtliile, das Plantas de Castel ; do CoMorcio das Fbwfs de
Lacroixttáo Canto de Tripoti-Cardoso.M
TOMO XXXI, P. [1
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BIOGRAPHIA
DOS BRiULEIROS ILLOSTRCS POR ktlMkS, LETRAS, VIRTUDiS,
FRANCISCO UANOBL DA SILVA
Se as leiras, as sciencias tém fílhos inspirados, pu-
jantes lidadores, romeiros dedicados, que, sem sentirem
os pés sangrarem nas urzes da estrada, nem o fogo da
ebre requeimar-lhes « cérebro, e minar-lhes a existência,
tSo caminhando sempre como o Moysés do povo de Deus ;
se as scienciaR contam entre seus cultivadores homens
como Galiléo, que, apezar das perseguições da inquisiçáo,
das penitencias impostas pelos cardeaes, para declarar
heresia o systema de Copérnico bateu com o pé no chão,
e agitado, inllammado pelo amor di verdade, pronunciou :
t E todavia a terra move-se ; i Se apresentam um Augustin
Thierry, que, apezar do afan do estudo ter-Ihe apagado
a vista e prostrado o corpo, repete estas memoráveis pa-
lavras: « Ha ums cousa que vale mais que os gozos mate-
riaes, mais que a fortuna, mais que a própria saúde, o
sacrificio á sciencia ; ■ também as artes tém apóstolos seus,
cultores devotados, Pygmaleões que, eicitados pela flamma
do amor artístico, procuram dar vida á argiUa, movimento
ao bronze, pensamento ao mármore ; génios como o cego
Affonso Domingues, o architecto do convento <la Batalha,
que sacriGcou-se pela arte perecendo depois de três dias
de jejum sentado na pedra collocadn por ordem sua
debaixo do fecho da abobada d'esse monumento, a qual
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- 307 —
já uma vez desabara ; lambem as artes tôm seus sacer-
dotes, e é de um d'elles, cuja ÍDlellígeacia illuminou
sempre o altar de Apollo, que vamos repetir D'este recinto
a biograpbia cum singeleza desenfeitada, como costuma
ser a nossa locução.
Aos 21 de Fevereiro de IT95, na cidade deS. Sebastião
do Rio de Janeiro, nasceu Francisco Manoel da Silva,
e na igreja parucbial da Candelária, recebeu as aguas
santificadas pelo cordeiro de Belém ; foram seus pro-
genitores Josquim Marianno da Silva e D. Joaquina Rosa
da Silva, que , estremecidos de amor por esse (ilbo,
concitaram esforços para dar-Ihe educação cuidadosa e
ensino útil. Cedo revelou o menino o espirito alçando
vAo para a arte que os poetas chamam divina. Como
Voltaire e Bocage, que aos oito anãos de idade já se ma-
nifestavam poetas, em Francisco Manoel pairavam ainda
no semblante as graças pueris, e já a sua alma vibrava
aos sons cadentes da Ijin.
Entregue aos cuidados do inspirado musico o padre
José Maurício, aprendeu em pouco tempo os segredos
da arte, e mais (ardo ouviu com aproveitamento as lições
de Neukotnm, o celebre compositor do concerto composto
de três mil artistas, e executado na inaugurarão da estatua
de Guttemberg.
Era muito moço Francisco Manoel quando compdz um
Te-Deum, e oITereccu-o ao príacipe real D. Pedro, que
prezou tanto a ufTerta do novel compositor, que prometteu
mandal-o á Itália para completar seus estudos musicaes.
Pertencia Francisco Manoel á orcbeslra da reat camará,
cujo mestre era Marcos Portugal, que, para roubar ao
joven artista o tempo de compdr, passou-o de violoncello
para o estudo de violino, ameaçdndo-o despedil-o se aão
mostrasse muita applicação.
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— 308 -
O cancro da iavsja corroia a alma do compositor porlu-
guez, e eis porque cerceava as azas d^aquelles que cedo ou
tarde podiam alçar vAos altisonos.
Gado relumbrou o disciputo como mestre oa arle de Eu-
terpe, e por dar-lhe maior cultura e estabelecer couca-
teoação BDtre os írmlos da mesma arte fundou, em 16
de Dezembro de 1833, a sociedade BeDeSceDCÍa Musical,
cujo instattador, primeiro sócio e orgaoisador dos esta-
tutos foi elle; e em reconhecimeoto aos serviços pres-
tados á esta associação, a junta, que administra va-a, con-
feríu-lbe, em 28 de Abril de 183&, a patente de director.
Em 1838 publicou Fraacisco Haooel, e dedicou ao
Imperador, para uso dos alumnos do collegio de Pedro II,
um compendio de musica aonde estão conglobados metho-
dlcamente r^as e preceitos da arte musical, tendo-se
esgotado diversas edições doesse bem elaborado trabalho.
Essa arle, que no tempo do velho rei D. João VI tanto
se avantajara a concorrera para ornamentar as repetidas
e pomposas festividades celebradas na real capella, e as
abrilhantadas e régias solomnidades da corte, foi deca-
hindo, amurlecendo-se-lho o brilho e fama em que sobre-
pujara ás outras; desappareceram seus sacerdotes mais
dedicados, e com elles as recordações dos sons melodiosos
que, soando dentro da alma, retiniam nas naves da capella
real. Em 1831 foram despedidos lodos os músicos da
capella imperial, e sumiram-se no turbilhão da politica,
que tudo arrastou comsigo e derruiu. Mada mais era um
artista ; a palheta, a l^ra, o escopro, o compasso, tomá-
ram-se instrumentos degradantes, e os icouoclastas da arte,
subindo ao primeiro altar da capella imperial, apagaram
com a esponja esquálida dos Vândalos o painel de José
Leandro! Felizmente desraneceram-se as nuvens caligí-
nosas que desluziam o horizonte da pátria, iniciando o
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— 809 —
Dovo reioado uma época tranquilla em que as srieDcias e
artes puderam avoejar.
O decreto de 36 de Junho de 1841 bonrou o hábil
artista DomeandoH} mestre compositor de musica da im-
perial camará.
Aproveitando as disposições dos ânimos, esforçou-se
Francisco Manoel, para facilitar o estudo da musica, em
crear um conservatório, e por sua peiseverante dedicação
conseguiu fundar o estabelecimento, aonde se deviam en-
sinar gratuitamente todos os ramos da musica. O governo
louvou o patriotismo a dedicação do artista, e por decreto
de 27 de Novembro de 1841 sanccionou essa instituição,
dotada com tantos recursos pelo seu installador, que se oão
tomou pesada aos cofres públicos.
Devia estar satisfeito o amor próprio do artista ; a mão
poderosa do Estado erguera sua obra e dera-lhe existência
permanente.
Ainda a'esse mesmo anuo deviam brotar os virentes lou-
ros da coroa de gloria de Francisco Manoel, que revelou-se
compositor notável no hymno escripto pela coroação do se-
gundo imperador do Brasil : essa musica pomposa, pátrio'
liça e inspirada, encanta aos ouvidos pela cadencia e^rbj
thmo da forma, e pela belleze e sublimidade dos sons faz
pulsar DO peito o coração dos filhos da pátria ; a nação
chama seu a esse hymno, que é de Francisco Manoel o
hymno de gloria.
Havendo falleeido Marcos Portugal, foi nomeadot por
decreto de 17 de Maio de 1842, para substiluil-o no lugar
de mestre da capella imperial, o artista Francisco Manoel,
e durante 23 anoos dirigiu magistralmente a orchestra nas
solemnidades celebradas na sé e calhedral do Rio de Ja-
neiro.
Compôz, para ser entoado nas festividades e galas do
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baptisado do príncipe ímperínl D. Affonso, um pomposo
bymoo, que taolos gabos mereceu, que o mioistro do im-
pério João Carlos Pereira de Almeida Torres, depois vis-
conde de Macahé, em carta de 18 de Fevereiro de 1645,
agradeceu em nome do Imperador ao artista seu primoroso
trabalho.
Os serviços prestados ao paiz e és artes pelo notável ar-
tista eram dignos de galardio, e o Imperador aio demo-
rou-sa em concedél-o, boorando o musico com o habito
da ordem da Rosa por decreto de 5 de Março de 18i6, da-
tado no palácio da cidade de S. Paulo.
Dotou o corpo legislativo o conservatório de musica com
16 loterias, cujo producto devia ser empregado em apólices
da divida publica para fundo e manutenção do estabeleci-
mento, que, não lendo edifício apropriado para funcclonar,
foi inslallado em um saUo do muséo nacional em 10 de
Agosto de 1848, achaado-se presente o ministro do impé-
rio, o conselheiro José Pedro Diasde Carvalho.
Contratada para o Rio de Janeiro uma companhia de
canto e baile, que em i8Sl colheu npplausos e avantaja-
dos (ucros no espaçoso salfio do theatro provisório, foi
Francisco Manoel nomeado seu director, e exerceu gratui
lamente esse afanoso cargo, no qual patenteou seu amor e
dedicação pela arte.
Não havendo no conservatório uma directora a quem
fossem confiadas as jovens que queriam applicar-se á arte
musical, requereu-se ao ministro do império paro estabele-
cer a aula do sexo feminino no collegioda íiociõdade Amanle
da InstrucçSo, tendo-se oblido prévio consnnti mento do
conselho da mesma sociedade ; e autorisando o ministro, o
Dr. T.uíi Pedreira do Couto Ferraz, a remoção d'essa aula,
começou ella a funccíonar em 10 di; Novembro de 1853 na
casa n. 10 da rua dos Barbooos, regoodo-a interinamente
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— 31! —
Francisco Manoel, e cnmo mestre effectlvo desde f( de Fe-
vereiro de 1855.
Tendo iacertose tardios recursos e estando mal organi-
sado, não marchava o conservatório desassombradamente !
porém o ministro do império, o conselheiro Luiz Pedreira
do Coulo Ferraz, reorganisou-o por decreto de 23 de
Janeiro de 18K5, ficando desde então esse estabelecimento
sob a ímmmediata inspecção do ministério do império.
Inaugurou-se em H de Março d'esse anno a aula de contra-
ponto, crearam-se duas de iastrumeotos de corda e duas
de instrumentos de sopro, e ficou vaga a aula de canto
para opportuoamente ser preenchida. Por decreto de 14
de Maio do mesmo anno passou o conservatório a formar
a quinta secção da academia das Bellas-A.rtes, congraçan-
do-se em um só templo a pintura com a musica, Apelles
com Therpandro, Raf;iel com Rossini.
O fundador e mestre do conservatório recebeu do Impe-
rador, em 2 de Abríl de 1857, o oflicialato da ordem
da Rosa.
Quando as condecorações premiam valiosos serviços
prestados ãs letras, ás artes, ao paiz, quando cabem em
cidadãos de mérito lilterario, artístico ou civil, tém dupli-
cada e refulgente significação, illustram quem as dá e
quem as recebe; são como a Inz do sol, que apezar de
reilectir-se em milhares de corpos não perde seu brilho
impervio.
Desejando tornar móis relumbranle a festa inaugural da
estatua equestre do fundador do império, prop6z Francisco
Manoel a celebração de um Te-Deum executado em pleno
ar por grande instrumental, e incumbindo-se de dir^ir
a orchestra, composta de 242 instrumentistas e 653 can-
tores, com tanta mestria o fez que o próprio monarcba
elogiou-o.
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Apreciando as qualidades arlisticas e pessoses de Fraocis-
CO Manoel, eaviou-Ibe a sociedade Mosical Gampesiua,
fundada em 13 de Abril de 1851, o diploma de sócio
hoQorario em 30 de Setembro de 1862. Um anno depois,
em IS de Março de I86S, assistia o artista ao lançamento
da pedra fundamental do edificio do conservatório de
musica, monumento ei^ido is artes pelos seus afanosos
esforços e incessante dedicação.
Vibraram sempre agitadas pelo patriotismo as cordas
sonoras da lyra de Francisco Manoel ; ao cfa^r ura dos
muitos balalbões de bravos, quevoluntariamenle correram
ao campo da guerra em desforço do pavilbfio nadonat, avoe-
jou a musa do artista entoando um hjmno de guerra. Fo-
ram também compostas por elle as matinas de S. Francisco
de Paula, musica que em cada nota resvala melodia.
Escuipturando o vutlo d'este artista nio devemos occuU
lar por entre louvores e gabos sous defeitos; não tinha
Francisco Manoel a imagina^^, o génio fecundo do José
Mauricio -, penoso estudo e aturado trabalbo eatretoceram-
lhe a corda que cingiu-lhe a fronte j mas ha uma com-
posição sua de verdadeira inspiração artisUca, é o hymno
nacional. Ainda bem. Os raios da inlell^ncia divina illumi-
naram a fronte do artista quando cantou o hymno da pátria.
Eram eminentes as qualidades moraes de Francisco
Manoel ; para elle a honra era um culto, a probidade lei
absoluta e a virtude uma fé. Casado em primeiras núpcias
com D. Mónica Rosa da Silva, e em segundas, em 36
do Jnnho de 183S, com a vínva D. Theresa Joaquina
Nunes dos Santos, que lhe trouxe cinco filhos, criou-os
Francisco Manoel com desvelo e carinho, deu-lhes apri-
morada educação, não mostrando ter mais amor a seus
filhos que a seus enleados, o procedeu sempre assim para
não ouvir o menor écho de censora contra seu caracter ;
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— 313 —
era homem puro, simples, affavel e Ibano, e o menor úa-
gimeoto DUQca mascarou-Ibe o semblante.
Em 18 de Dezembro de 1865, na casa n. 48 da rua
do Conde, vía-se prostrado em um leito um velbo com
o roslo pallido e descarnado, olhos empanados e membros
lividos e inteiriçados-, observavam-no os tilhos e amigos
occultando lagrimas e abafando gemidos ; estava o ancião
calmo, resignado e como enlevado em meditação profunda,
quando repentinamente agitado pelo sopro algido da morte
estremeceu, agonisou e succumbíu. Acabavam os fiibos e
amigo:^ de Francisco Manoel de perder seu pai e amigo,
e a corporação musical do Rio de Janeiro seu cbefe.
No dia seguinte teve jazida no cemitério de S. Francisco
de Paula o corpo do musico e compositor notável ; a pátria
espargiu flores sobre esse tumulo, e incumbiu ao Instituto
Histórico de dizer á posteridade quem era o morto que
alU dormia; ouviu o Instituto a voz da pátria, e cumpriu
sua missão.
Dr, Morara de Azevedo.
TOMO XXXI, P, II
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AUTAS DAS SESSÕES EH 186S
SESSÃO EXTHAORDIMÍRU em 5 DE MARÇO Dí 1868
Pntidmeia do Sam. Sr. amtelkeiro de Mitado visconde
de 5apuca^
A's 6 bons d& tarde, achando-se reunidos na sala do
iQBtitato os Srs. visconde de Sapocaby, cónego Fernandes
Pinheiro, Drs. Sonsa Fontes, Carlos Honório e Harqnes
de Carralbo, conselbeiros Bohan e Clandio Luiz da Cosia,
Coruja, Drs. Pinheiro deCampos, Pereira Pinto, Gabaglia,
Horeira-de Azevedo, Silva Rio, Alencastre e A. de Pascoal,
o Sr. proNdenle abria a sessio, e declaroa qne a tioha
convocado afimde nomear ama commissSo do seio do
iDsUtato para felicitar a S. M. o Imperador e com elle
coDgratular-se pelo brilhante feilo das armas íraperiaes,
obtído, DO dia ts de Fevereiro nltimo, pelas forças de
mar e terra contra o Paragiiay, e duplamente pela memo-
rável passagem de Hamaílá, effectusda, com geral admi-
ração, pela esqaadra brasileira.
O Institnlo, ouvindo com jubilo as palavras do Sr.
presidente, naanimemente adoploa a moçSo ; nomeando
eolSo o Sr. presidente a referida comnoissão, qae ficoa
composta, não só de todos os membros presentes, como
de todos 08 mais membros qae qnizessem fazer parle
d'ella ; para o qae se daria conhecimento com a pabli-
caçSo d'es(a acta.
Em seguida, o Sr. Dr. Pereira Pinto tomando a palavra
abandoa em patrióticas coosíderaçoes sobre este mesmo
assomplo e apresentoa as segaíntes propostas :
l.* < Qae o lostitato, cheio de admirarão pelo brilhante
feilo de Hamaili, consigne om voto de profando e ardente
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— 315 —
reeonheoimeDto ao exercito e armada, aos bravos generaes
marqaet de Caxias e visconde de Inhadoa, ao intrépido
barSo da Passagem e ao destemido capiíao-teoeDle Ma uríQr-
« Sala das sessões, etc. >
c 3.* Como testemunho do recoabecimeoto pela memo-
ravet jornada de Humailà, feito qae lega á historia pátria
a mais brilhante [>agÍD a, propcobO' para sócio honorário
do loslituto ao visconde de Inhaúma, não esleadendo a
mesma proposta quanto, ao marqnez de Caxias, porque já
é sócio honorário d'este InsUtuto.
■ Sala das sessões, ele. •
SeDdo aqaella primeira unaoimemeote approrada, e
achando-so esta assígnada por todos os membros preseo-
tes, na forma dos eslatatos, foi remetlida á commlssSo
de admissã') do sócios para esta dar o respectivo parecer.
E não havendo mais uada a tratar, o Sr. presidee-
te convidou a todos os membros, qoe quízessem fazer
parle da commissão. a se dirigirem ao pa^o imperial de
S. Christovão no sabbado 7 do corrente, ás S horas da
larde. e levantou a scssSo.
Ciwlos Eonorio de Figueirodo
SBCRETAEIO SCPHJaiTE
!• SESSÃO EH 8 DE HAlO DE 1868
SONHADA COM A AUGUSTA PKESBRÇA DE S. H. O IIIPERADOR
Presidência do Eam. Sr. comelheiro de Estado visconde
de Sapucahy
A's 7 horas da tarde, achaado-se presentes os Srs.
visconde de Sapncaby; Dr. Macedo, Joaquim Norberto,
cónego Fernandes Pinheiro, Drs. Carlos Honório, Moreira
de Azevedo, conselheiros Cláudio e Freire jUlemão, Coruja,
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— 316 —
Drs. Homem de Mello, Capaaema. Marques de Carvalho,
Miguel Aaloaio da Silva, A. de Pascoal e teDeote-corooel
Bolces, e PIobeíro de Campos, aDounciando-se a chegada
de S. M. o Imperador, foi o mesmo augusto senhor rece-
bido com as honras do coslume, e lomaado assento o
Sr. presidente abriu a sessão.
Leu<se e approvoD-se a acta da sessão extraordinária
do dia 5 de Março do corrente anno.
O Sr. 1° secretario deu conta do expedient«, que constou
do seguinte :
Um aviso do Exm. Sr. ministro do Império, coro data
de 8 de Janeiro do presente anno, declarando, em res-
posta ao ofticío do Sr. 1* secretario, de 24 de Dezembro
próximo passado, que ficava inteirado do resultado da
eleição a que esle Instituto procedeu para os lugares da
mesa adminíslrativa e commissões.
Dito do Exm. Sr. minísiro de estrangeiros, de 28
de Novembro próximo passado, declarando, em solução do
ofiicio qne o Sr. presidente d' este Instituto lhe dirigiu, que
opportuoamente expedirá ordem para se verificar a (ras-
ladação dos restos mortaes do desembai^ador Rodrigo da
Silva Pontes da cidade de Buenos-Ayres para esta ca-
pital.—Inteirado.
Dito do Sr. direclor geral da secretaria de estrangeiros,
remettendo por ordem de S. Ex. o Sr. ministro d'aquella
repartição, o 6° lomo da CoUecção dos documentos inéditos
do Àrchivo das índias.
Dois otíicios do Exm. Sr. secretario do senado, remet-
tendo ao Iiistilutonm volume úíCollecção dos pareceres
da mesa do senado, da sessão de 1S6T ; um exemplar da
Collecção dos Annaea c um volume da Sytwpse dos objectos
pendsntes de deliberação.
Dilo do Sr. official-maior da secretaria da camará do
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- 317 -
senhores depatados, eoviando, por deliberação da mesma,
a collecçSo de seos Ánnaes de 1867, em !( velames.
Officios dos Srs. presidentes das proTincias do ParaDá,
Alagoas, Rio-Grande do Sal, Bahia, Aaiazonas e Sei^ipo,
rcmetleodo rarios Belatorios e coUecções de leis.
Carla do Sr. Dr. Aolonio Pereira Pinto enviando ao Insti-
(alo epara serem distribuídos aos sócios presentes á sessão,
diversos exemplares da saa obra com o título Estudos
sobre algwnas questões intemacionaea.
Officio do rosso corsdcío o Sr. Dr. José Maarício
Fernandes Pereira de Barros, communicando que se retira
para a província de Pernambuco, onde deseja ter occasião
de prestar serviços ao Instituto.
Dito do Sr. Dr. Maximiano Marques de Carvalho, accu-
sando o recebimento do oHicio em que o Sr. 1' secretario
lhe commanica baver sido eleito membro da commissão
de revisão de manuscriptos do Institato na ultima eleição
a que procedeu em Dezembro do anão passado, decla-
rando que aceitava o encargo, e que faria todo o possível
para o seu bom desempenho.
Dito do Sr. Boulanger, nosso consócio, ofterecondo
au Inslilulo um exemplar da obra Augusls parmU de
lews Magestés VEmpereur D. Peih-o II et L7mperoírtce
0. Tberesa C^rislina Maria.
Diio do Sr. secretario geral da sociedade Auxiliadora
(la Industria Nacional, remelteodo, por ordem do runselbo
administrativo da mesma, uma collecção de seus jornaes
e publicações sobro differentes assumptos, e pedindo que
este Institato a contemple com uma collecfão de suas
Revistas.
Dito do Sr. Luiz H. Ferreira de Aguiar, cônsul geral
do Império do Brasil nos Estados-Unidos da America,
cobrindo outro do Sr. secretario do Instituto Smithsonian
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— S18 —
de WasbiE^D, em qne aecasa o recebimento das Reristas
do tastital') Histórico remettidas pelo Sr. 1* socrelarío.
Dilo do Sr. secretario porpetao da Real Academia de
Sciencias de Madrid, accosando a recepção das nossas
Revistas TMoettidas iquella academia pelo Sr. 1" secre-
tario, e agradecendo a offerta.
Carla do Sr. Emin. Uais remetteado as soas obsenrações
astronómicas. ■
Dita do Sr. secretario da sociedade de Archeologia da
Bélgica, coDTidaodo o Instituto a entrar em retaçSe» scien-
tifioas com aqoella sociedade, collaborando para realização
dos Gos de sua instiluição.
Dez cartas do Sr. Dr. Cezar Anguslo Marques, nosso
consócio residente na provincia do Maranhão, acompa-
nhadas das segaiotas offertas: Tarios números do Pu-
bUeador Saranhmse, onde foram publicadas as biogra-
pbias dos 1*, 2*, 3°, 4*, 5* e 6* bispos do Haranhdo ; vários
números 'do Semanário Maranhense, contendo artigos
sobre o canal do Arapahy, Instituição da Santa Casa da
misericórdia do Maranhão ; hospiíaes da misericórdia, mi-
litar e Laiaros. casa dos expostos, cemitério velho, e do
GaviitO; Relatório com que o Dr. Francklin Américo de
Menext» Dória passou a administração da província do
Maranhão ao Sr. Dr. António Epaminondas de MeUo. —
MemoriahistoricaàaadminislraçãoprovinciíU do bacharel
Francídin Américo de Menetes Dória, no íforanWo ; Artí-
gos históricos sobre a igreja de S. Pantaleão, no Maranhão.
—Almanak histórico delambrançat brasileircu \ Carla con-
tendo a historia da capella da câmara municipal ou ca-
pella municipal do Maranhão, e um retrato do desembar-
gador António Rodrigues Velloso de Oliveira.
Carta do Sr. Joaquim da Silva Mello Guimarães, en-
viando um mappa das fragatas portuguezas que se incor-
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— 819 —
poraram à armada do snl, darante os aonos de 1774
até 1776.
Dita do Sr. Dr. Sataraino de Sousa e OlWeíra, da cidade
de Loanda, remetteado os seus Elementos grammaíicaes da
Imffua Bundu. — Essai de grammaire pongwée; et Diction-
naire (rançais wolof e wolof-français, par lesR R. P P.
Hissionaires, Dakar, 1865.
Dita do Sr. AEfonso de Castro, offerecendo a soa obra
sobre possessSés portaguezas oa OceaDia.
OFFERT&S FEITAS AO IKSTITDTO :
Pelo Exm. Sr. cooselheiro JoSo Máooel Pereira da
Silva: Le Brésilcontemporain, races, nueurs, instituíiotu,-
paysage, colonisaíion, efe., par Adolphe ifAssis, Paris,
1867, ÍD-8; — L' Industrie modeme au champ de Mars, coup
d^oeii aur Pexposilion wiiversel de 1867, in-4 ; — Lista dos
eoniratoi que tem a capitania do Rio de Janeiro, elC-,
(maouscripto) ; Carla patente, nomeaado familiar do Santo
officio da cidade de Lisboa a Aotooio Borges de Carvalho
em 1761 (maaoscripto) ; Histoire de la navigation de Jean
Huffuea de Linachot, Hollandois aux Indes orientales, ete.
Avec awwtations de B. Paludanus. — Les Campagnts dt
Duguay — Trouin, com estampas.— Le Nouveau etgrand
illuminant flambleau de la mer^ 1684.
l>elo Sr. José Ricardo da Silva Neves, Memoria sobre a
cafec/ieH e ctvíítsapõo dos indioa do Braãi, Maranhão,
1867, folheto.
Pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, a
soa Beoista da Agosto a Dezembro de 1867, s vol.
Pelo Instituto de Coimbra, o sen jornal.
Pela reJacção da Gazeta Medica da BahiOf 17 nomeros
do,sea joroal.
D,:„l,;cdtv Google
— 390 —
Pela Sociedade de Geographia de Paris, 3 nameros dos
seus BoUtint.
Pelo lostituto Histórico de França, 3 aumeros do Inva-
tiç^odor, joraal do mesmo insUlnto.
Pela redacçfto do jornal Bahia lUtatrada, 4 aamerus
do seu jornal.
Pelo Sr. Dr. Higael Ferrejra Vieira, as snas RefUxões
acerca do progretso materiai da provinda do Maranhão.
Pelo Sr. José Silvestre Ribeiro, Quadros de litteralura,
das sfíiencias e artes ruiRussia, por It. Lzovitich, precedido
d'nm rápido lance de vista, por José Silvestre Ribeiro.
Pulo Sr. Dr. Anionio Udnriqaes Leal, por int«rmedio
do Sr. conselheiro Cláudio, Curso de lilteratura por
Francisco Sotero dos Reis, professado n.j Instituto das
Uumanidadea dapromruÀa do Maranhão. — Almanak admi-
nistrativo para 186% ; e — Poesias de António Joaqmm
Franco de Sd.
Todas as offertas o loslitalo recebeu com agrado.
Offiuios dos E&iDS Srs. marquez de Caxias e visconde
Inhaúma, agradeuendn as felicitares que, por intermédio
do Sr. 1* secretario, lhes dirigiu o Instituto, por occasião
da gloriosa jornada de 19 de Fevereiro ultimo, cujos
teores- são os seguintes :
c Commaudo em chere de todas as forças brasileiras e
interino dos exércitos allíados em operações contra o
governo do Paraguay. Quartul-general era Paré-Cué, 8
de Abril de 1868. Itlm. Sr. — Com muita satisfação re-
passado de profundo reconheci mento recebi e li a cópia
da acta da sessão do Instituto Histórico e Geographico
Brasileiro celebrada nu dia S do mez de Março próximo
passado, e qae V. S. me remeiteu por ordem do mesmo
Instituto, de que é digno 1* secretario, em seu oilicio
datado de 11 do mesmo mez.
Dictzedby Google
« Recebendo a delicada manifestação de sens senlimen-
tos, que pelos successos do dia 4?» de Fevereiro do cor-
rente aDno resolveu unanimemente o Instituto ITislorino e
Geographico Brasileiro dirigir-me e ao esercito, e agra-
decendo do fundo d'alma Unta e Ião distincla honra,
rogo a V. s. de, em meu nome, supplicar ao Instituto a
graça de permitiir que, declinaniio de mim todo o direito
a essa manifestação, eu a passe integralmente ao exercito,
que lenho a gloria e ufania de commandar.
«Se o Instituto Hislorico e Geographico Brasileiro en-
tende em sua sabeiloria qae o acto de havermos eu e meus
camaradas d'armas cumprido n'es9e dia nosso dever me-
rece ser elevado á altura de extraordinário, tornaodo-se
por isso digno de encómios, se julga que para a sanli
causa que « Brasil e seus alliados suslenlam no Paraguay
resultaram d'esse dia vantagens, eu e o exercito mui fol-
gamos por haver concorrido para que o Instituto Histórico
e fteographico Brasileiro possa guardar no archivo de tra-
dições gloriosas para o Braail aqnella, qne parece, se-
gundo suas expressões, estar ligida ao dia 19 de Fevereiro.
« Associandn-me. dorainailo p!'la justiça, au profundo e
ardente reconhecimento que o Instituto manifesta á ar-
mada,aoseucommandante em chef«\ visconde delnhaúma,
ao barão da Passagem e ao c;>pílão-teoente Maurity, o
agradecendo em seus nomes ao Instituto, terminarei decla-
rando que muito devidamente apreciei a distincçSo com
que elle honrou ao visconde de Inhaúma, conferindo-lhe
u titulo de seu sócio honorário. De certo eu invejaria essa
dislincção, se já niío tivesse a honra .subíJa de pertencer
ao grémio do Instituto Histórico e Gengrapbico Brasileiro.
«Deus guardeaV.S.—ífítrguea de Coxins,— Illm.eRijvm.
Sr. cónego Dr. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, l-se-
cretariodo Inslitoto Histórico e Geographico do Brasil,»
TOKO XIXt, P. II 41
DictzedbyGoOglC
— 329 —
< Cominando em chefe da rofça oaval do Brasil em ope-
rações coQtra o gove>[M do Paraguay, bordo do vapor
iVincexa, em freote a Curupaíty, 14 de Abri) de 1808.—
Illm. e Revm. Sr. — Teobo presente a cópia da acta da
sessilo extraordioaria do Instituto Histórico e Geograpbico
Brasileiro, qne V. S. me fez a bonra de enviar com o seu
officio de 12 de Março próximo passado.
« Á enfermidade que me retém no leito de dAr ba viole
e quatro dias não me permitte responder desde já condig-
namente a esse documento, que eleva a esquadra do mea
commando, e a mim próprio, a uma altura invejável para
qualquer cidadão, qne ame, como nós amamos, de todo
o coraçiio o sen (laiz e lhe dedi'|ue sua vida.
I Posso afCrmar a V. S. que a esquadra recebeu com o
maior prazer a importante demonstraç^ío qne lhe é diri-
gida pela primeira corpora^^o scientifica do Gslado, da
qual Ibe dei conhecimento opportunamente. Rogo à V. S.
que, como digno órgão d'essa illustre corporação, seja
perante ella o interprete da alta consideração e respeito
qne lhe tributamos, eu e aquelles que servem debaixo de
minhas ordens.
« Se aprouver ao Altíssimo restitnir-me a saúde, terei a
honra de, com mais vagar, tratar do assumpto a que se
rerere o oflicio que na presente occasião respondo.
Deus guarde a V, S. — Visconde de Inhaúma, comman-
dante em chefe. — Illm. e Revm. Sr. cónego Dr. Joaquim
Caetano Fernandes Pinheiro, 1* secretario do Instituto
ní!4lorico e Geograpbico Brasileiro, t
finalmente, foi rcmellida á commissAo de fundos e
orçamento a carta dirigida ao Instituto pelo Sr. commen-
dador José Luiz Alves, procurador geral da ordem terceira
dos Hinimos de S. Francisco de Paula, a respeito da tras-
ladação das cinzas do finado marechal Raymundo José da -
Dictzedby Google
— 323 —
Cunba Mattos, que existem em uma uroa, o'aqueUa ordem ,
para o seu cemitério.
Achaado-se a hora adiantada, o Sr. presídeate, obtendo
vénia de S. H. Imperial, levaolou a sessãii.
Carlos Honório de Figueiredo,
Secretario supplente.
2' SESSÃO EM 2â DE MAIO DE 1868
HONRADA COM A AUGUSrA PRESENÇA DE S. M. O IMPKRAW)
Presidência do Exm. Sr. senador barão do Bom-Reíiro
As 6 horas da tarde, achaodo-se presentes os Srs. barão
do Boui-Retiro, eonego Fernandes Piaheiro, Drs. Carlos
HoDoiio, Moreira de Azevedo, Pinheiro de Campos, con-
sfilheiros Freire Aliemào c Cláudio, senador barão de
S Lourenço, Silv;i Rio, Drs. Saldanha da Gama, Capanema
e Miguel António du Silva, lendo antes se retirado, por
incommodados, os Srs. Coruja e Borges, aonunciou-se a
chegada de S. M. o Imperador, e, sendo o mesmo augusto
Senlior recebido cora as honras do eslylo, o Sr. 1° vico-
presiJente abriu a sessão.
Lida a acta da antecedente, foi approvada.
O Sr. V secretario deo conta do seguinte
EXPEDIEHTE
Uma participação do Exm. Sr. presidente, viscoode
de Sapiicahy, de níio poder comparecerá sessão por in-
commodado.
Um otficio do Sr. presidente da província da Bahia,«-
mcttcndo para a bibliotheca d'este Instituto um exemplar
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do Relatório cem tine abriu a assembléa (egislaliva
cfaqueUa provinda, no dia 1 de Síarço do corrente anno.
Dito du Dosso consócio o Sr. Dr BfiiphaDio Caadído
de Sousa Pitanga, agradecendo a nomeacSo de membro
da commissão de geograpliia, para que Tora eleilo na ulti-
ma eleição a que procedeu o Instituto em Dezembro pró-
ximo passado
Três cartas docuDsocio o Sr. César Augusto Marques,
da 1'iilade do M.irariliào, acompanhadas das seguintes of-
ferlas : Planta da cidade de S. Laiz do Maranhão ; Retra-
tos pliulographjcos do Exin. Sr. visconde de Sapucahy,
quando presideiiio du pruàiui;! d) Majanliâo, e capitães-
goneraes 1). Aotouiu do Saldanlia tia Garoa, capitão de
fragata da anuadu, real e de Bernardo da Silva Pinto, por
antonomásia o Dente d'alho; e Folhinha seaUar compos-
ta por (1. U. Dingée.
Revista da Sociedadi! Auxiliadora da Induslria Nacio-
nal do mez de Março do corrente anno, remeltida pelo
Sr. íecrelario da mesma.
O tomo 8" do Diccionario bibliographico portuguez,
renK'tlid.ipi>rscu autor o Sr. Inuocencio Francisco daSilva.
Dois números do jornal liakia Illuslrada, remettidos
pela respectiva redacção.
Vaiios follitlos da Escola Central e Especial d'Architec-
tura de França, oíTencidos [lelu Sr. Dr. Saldanlia daGyma.
(> Sr Dr. Miguel António da Silva apresentou por parte
dii Sr. Dr. D. Juan Villanova y Pieri. professor de geolo-
gia rj Faculdade de Screncias de Madrid, Cartoí topo-
graphicas dos districtos de Madrid, Garabáncliel bajo y
Titalcia, levantadas pela Junta Geral de Statistica de fies-
panka.
'Collecção de leis do Império do Brasil, do anno de 18tí7,
rcmetiida pelo Sr. administrador da typograpliia nacional.
Dictizedby Google
— 32Õ —
Varíus joroaes e periódicos remettidos, pelas lespeclivas
redacções.
Tutlas as ullerlas são recebidas com agrado.
ORDEM DO DIA
Lea-se. e licou sobre a mesa, o parecer da commissão
subsidiaria de trabalhos geographicos, dado sobre o i(t-
nerario da Cruz Alta ao Campo Novo da provinda de S.
Pedro do Sul, feito peln Sr. Scbotel.
Leram-se. e taciibem ficaram subre a iiicsii, dois parece-
res da CDiQDaissão de fundos e orçamealo; o l* subre
as coQlas du Sr. tbesoureiru d» aiiQO fiodu, e orçameDto
da receita e despeia do presenie, e o 2° sobro a des-
peza que o loslitulo tem de fazer com a urna para en-
cerrar ns ciQias de seu fundadur, marechal Raymundo
José da Cuiibd Mattos.
Ficou lambem subre a mesa, para ser velado na próxi-
ma st!S3ã'i, o paracer da cunimissão de admissão de sócios,
sobre a admissão, para membro bonorario do Instituto,
do Exm. Sr. visconilo de luhaúmj.
Foi approvado em escrutínio o parecer da u<esm» com-
Qiissão de admissão des<icios, favorável á admissão do Sr.
Dr. Luiz Francisco da Veiga.sendo este senhor proclamado
pelu Sr. presidente, membro correspondente do Instilalo.
LEITURA
O Sr. 1* secretario cónego Fernandes Pinlieiro leo
uma parte da Biographia do general José de Abreu ( barão
do Serro-lMrgo ), «cripta e idTerecida ao lnslituto peio
Sr. Dr. José Maria da Silia Paranhos Fillio.
A's 8 huras o Sr. presidente, obtendo vénia do S. H.
Imperial, levantou a sessão.
Carlos HoTiorio de Figueiredú,
SECRETARIO SVPPLEKTE.
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— 326 — '
3* SESSÃO EM 5 DE JUNHO DE 1868
ÍHADA COM A AUGUSTA PRESENÇA DE S. M. O lliraRADOIt
Prcíúíencío do Exm. Sr. visconde de Sapucahy
A.'s 6 horas da tarde, achando-se reunidos os Srs. vis-
ide de Sapucahy. barão do Bom-Reliro, cónego Fer-
odes Pinheiro, Carlos Honório, Moreira de Azeredo,
nselheiro Cláudio, Marques de Carvalho. Capanema, Co-
ja. Ribeiro de Almeida, Saldanha da Gama. SilvaBio.
nheiro de Campos, Pinlo Júnior e Miguel Anlonio da
va, annunciou-se a chegada de S. M. o Imperador,
e foi recebido com as honras devidas. Em seguida o
. presidente, obtendo vénia, abriu a sessão.
Lida e approvada a acta da anterior, passou-se ao ejpe-
onte, que constou do seguinte :
Um aviso do Sr. ministro do império, remeltendo para
Instituto seis tomos da CoUecção de documentos tneái-
s relativos ao descobrimento, conquista e organisação
w antigas possessões hespanholas da America e Oceanta.
Três ofiicios do Sr. Dr. César Augusto Marques, acom.
anhados dos Semanários Maranhenses, onde se acham
opressos os seus artigos, um sobre a agricultura, nO"
ortação, exportação e tributo do algodão da província do
aranhão, outro sobre a freguezia e villa de Analajuba,
o 3" sobre o cemitério inglez da cidade do Maranhão.
em como um exemplar do fíeswmo da Historia do Brasil,
icripio por D. Herculana Firmina Vieira de Sousa.
Dito do Sr. António Alves Ferreira, remetiendo um exem-
lar da sua obra Hidrologia geral.
Offertas feitas ao Insliluto:
Pelas secretarias do império e fazenda, os Behlorioí
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que os Exms. miDHiros )l'esias repartições apresentaram
á assembléa ^eral lei^islativa na actual sessão.
Pelo Instituto Histórico de França, um numero ilo /n-
vestigador, jornal publicado pelo mesmo instituto.
Pela Sociedade de Geographia de Paris, os seus Bole-
tim dos mezes de Fevereiro c Março do corrente anno.
Peio Sr. Vivien de Saint-Martin, L'Année géographiqtte,
reuue annuelle des voyages de terre et mer, 7"* année, Paris,
1868.
Pelo Sr. Dr. António Henriques Leal, os dois primeiros
volumes das Obrax posthumas do Dr. Gonçalves Dias, de
que o mesmo oltertante é editor.
Vários jornaes e periódicos, remettidos pelas respecli-
Tas redacções.
Todas as oíTertas são reci'bidas com agrado.
ORDEM DO Dli
O cónego Fernandes Pinheiro propòz para sócio
correspímdcnte do Instituto o Sr. Vivren de Saint-
Martin. presidtintii da Sociedade de Geographia de Paris,
membro de outras socii>dades e autor da obra Ann^e G^o-
graphique, servindo-lhe ellade Ululo de admissão.— Na
forma dos Estatutos, fui a proposta fumettida á commis-
são de admissão de sócios.
PARECERES APPROTADOS
Foi unanimemente approvado o parecer da commissão
de admissão de sócios, sobre a admissão do Exm. Sr. ?ice-
almiraote visconde de Inhaúma para membro honorário
do Instituto.
Dictzedby Google
Foi approvado o pirecer da commíssão de faados e or-
çamento, sobre a despeza de 250$, qae sr tem de fazer
para serem gaarJadas. em jazigo periielao, as cinzas do
finndo marechal Uaymundo Jo'4é da Cunha Matlos, modos
fundadore<> do Insliluto.
Foi igaalmento approvado o parecer da mesma com-
missio de faodos, dad» sobre as conias do Sr. tbesoa-
reiro relativao an anno Ondo, e fixando a receita e despeza
do presente anno social.
Finalmente, foi remettido ácommissão de admissão de
sócios o Itinerário da Cruz Alia ao Campo Novo da
provinda de S. Pedro, escriplo pelo Sr. Ambaaer Sctm-
tel, conjuQctamente com o parecer dado. sobre o mesmo
Itinerário, pela commissão subsidiaria de trabalhos geo-
t;raphicos , visto serrir de titnio de adminsão o dito
Itinerário.
LEITURA
O Sr. Dr. Joã» Ribeiro de Almeida proseii^iu na leito-
ra de suas Considerações sobre a acclimataçâo das raças
hitmanas para servirem ao estudo da colonixação do fíraail.
A's K hor.is o Sr. presidente, obtendo vénia de Sua
Magestade, levantou a scssSo.
Carlox Ronorio de Figueiredo,
SECRETARIO SDPPLEPrrE. .
DictizedbyGoOJ^Ic"
— 8a» —
' 4* SESSÃO EH 19 DE JUNHO DE 18G8
HONRADA COM A AUGUSTA. PRESENÇA DE S. H. O IHPERADOR
Presidência do Exm. Sr. visconde de Sapucaf^
A's 6 horas da tarde, acbando-se presentes os Exms.
Srs. visconde de Sapucaby, cooego Feraaades Piabeiro,
Carlos HoDorio, Coruja, conselheiros Freire Allemão e
Claadio, teoentã-coronel Xavier de Brito, Drs. Saldaaha
da Gama, Pinheiro de Campos, Miguel António da Silva.
Bonlanger eDr. J. M. da Silva Paranhos Júnior, aimun-
cioa-se a chegada de S. H. o Imperador, que foi recebido
com as honras do estylo, e (omoa assento. O Sr. presi-
dente, obtendo vénia, abriu a sessão.
Lúu-se e approvou-se a acta da antecedente.
O Sr. 1° secretario deu conta do expediente, que cons-
tou do seguinte:
Participação do Exm. Sr. barão do Bom-Raliro de não
poder comparecer ã sessão por incomuodo.
Um ofScio do Sr. Jo3o Carlos Pereira Pinto, cônsul geral
do Brasil em Baeaos-Ayres. declarando ter, em executo
d'ordeQS do miaislerío de estrangeiros, feito embarcar a
bordo do vapor nacional Recife, com destino a esta corte,
03 restos mortaes do desembargador Rodrigo da Silva
Pontes: eremettendo os documentos das despezas Teitas.
por conta d' este Instituto, com a exhumaçSo e Iranspurte
dos mesmos restos mortaes.
Dito do nosso consócio o Sr. Dr. F. T. M. Homem de
Mello, enviando o Itinerário da viagem feita pelo capitão
Joaquim António Xavier do Valle á provinda de Mato-
Grosso, pelos rios Tibagy e Brilhante, em 1855.
Dito do Sr. padre Lino do Monte Carmelo Luna, remet-
tendo um exemplar da Descripção das exéquias solemnes
TOKO XXXI, P, II 42
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- 830 -
do Exm. general D. Venanno Flores, ceMtradai .na cidade
de Pernambuco, em ci^o eiempUr vem aaoexa a oração
fuaebre qae o mesmo Sr. padre Lído recitou, por essa
ocasião, na tribaoa sagrada.
Uiiu do Sr. Dr. Antooio de Castro Lopes, aeompaabado
d'am exemplar de sua obra Musa lalina, ou collecção de
Jyrat de M. de Di/rceu tradmidat para verto latino, que
offerece ao iDatiluLo.
Dois officios do Sr. Dr. Gesar Angasto Marques, remet-
teado 08 Semanários Maranhenses ds. 3S, 40 e 41 , onde
vAm impressos : um artigo sobre a historia do cdUíto do
arroz em Maraablio, e a historia da Ordem Carmelitana da
mesma proviocia.
Pelo Eim. conselheiro J. H. Pereira da SiWa foi remet-
tido ao InstitDlo, como contiauação de offerla, o tomo 7* e
ultimo de sua Historia da fundação do Império do Brasil.
Pela sociedade Uaíão BeneGceacia Commercio e Artes,
dois exemplares do Relatório da mesma, apresentado em
sessio d'assembléa geral de 26 de Janeiro do corrente
anno.
Todas as offerlas sSo recebidas com agrado.
ORBEH DO DIA
Os Srs. Drs. Saldanha da Gama e Silva Paranhos Júnior
occnparam a altençâo do InsUtnto, lendo : o 1*. a Iiitro-
ducçAo e 1" parle da Biographia do natwalisia Fr. José
Marianno da Conceição Velíoso; e O 2*, am capiloto da
Biographia do general José de Abreu (barão do Serro
Largo).
Levantoa-se a sestôo ás 8 boras.
Carlos Honório de Figueiredo
SBCHBTAHIO SUPPLENTE.
DictizedbyGoOJ^IC
S* SESSÃO EM 3 DE JULHO DE 1868
HONRADA COH A AUGUSTA PRBSEHÇA DE S. H. O IMPERADOR
Pretidencia do Exm. Sr. visconde de Sapucahy
A'3 6 boras dx tarde, achando^se reaoidos na satã do
Instituto os EiDa<i. Srs. visconde de Sapacabj, bailio do
Bom-KeUro, Drs. Macedo, cónego Fernandes Pinheiro,
Carlos Honório. Coruja, conselheiros Clandio e Freire
Allemão, Drs. Saldanha da Gama, Ribeiro de Almeida,
barão de S. Lourenço, Braz Rabim, Pinto JaQÍor.Laiz
Francisco da Veiga, Miguel António da Silva. Paranhos
Júnior e Epíphanio Cândido de Sousa Pitanga, aonuu-
ciou-se a chegada de S M. o Impendor, e sendo o mesmo
augosto senhor recebido com as honras do eslylo, o .Sr.
presidente abriu a sessão.
Leu-se e approrou-se a acta da sessão anterior.
O Sr. 1° serretarío deu conta do seguinte
EXPEDIENTE
Cirtado Sr. Francisco José Borges, cominunicaacto que,
por se achar doente, não podia comparecer à sessão.
Officio do Sr. director da sticrntaria d'Estado dos ne-
gócios listrangeiros, traosmittindo um pacote com livros
que a Academia Real de Scieaciasda Bélgica remette ao
Institnio Histórico por intermédio da legação brasileira
n'aquelle reino.
Diiu do Sr. presidente da província do Amasonns, re-
meltendo dois exemplares du Regulamentado 1* dê Âoasto
de 1867, que reformou a admii
^'aqaeila provinda.
OIQcio do Sr. Or. António Henri
ao Instituto um exemplar da obra
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— 3S2 —
cisco Manoel com o litnlo E^cho politico em Portugal,
e um manuscriplo sobre a revolução e levaote em Per-
nambaco dos anãos de 1710 e 1711.
Pela Sociedade Geographica de Paris foi ofTerecidoo
seu Boletim do mez áe Abril do corrente anno.
Pelo Sr. Dr. Ricardo Gumbleton Dannt The catue
poorCatholic imigrants pleaded before the catkoliccongrest
ofBelgiwn. Seíemfeer, 1867.
Petas secretarias d'Estado dos negócios cslrangeiros e
da jnstifa, os Aeía/ortos que os Srs. ministros d'eslas re-
partições apresentaram á assembléa geral legislativa na
presente sessão.
Pela Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, o sea
ÂtixUiador do mez de Maio do corrente aono.
Pela redacção da Bahia Illustrada, o numero 69 do
sea periódico.
Pelo Sr. Dr. Joaquim António Pinto Júnior, as seguin-
tes obras : Uma excursão á comarca de Iguape em 1866 ;
— O charlatão Expelly e a verdade sobre o conflicto entre o
Bratil, Buenos-Ayres, Monlwiàéo e o Paraguay ;e — Dis-
curso pronunciado perante o tribunal do jury da ddadfi
de Santos pelo Dr. Joaquim António Pinto Júnior na
accQsação de Henrique Begbie e seus 13 co-réos pelo as-
sassinato de Nicoláo Cbrist, etc.
Pela Academia Real das Sciencias de Lisboa : Quadro
elsmentw das relações politicas e diplomáticas de Portu-
gal co"i as diversas potencias do mundo, pelo visconde
de Santarém, 2 vol. i' i— Corpo ãiplomalico poríugwz,
Conluudo os actos e relações politicas e diplomáticas de
Portugal, publicado, por ordem da Academia Real das
DictizedbyGoOJ^Ic
— 383 —
ScieDCias, por Luiz Augusto Rebsllo da Silva, tomo 2° ;
e— Memorias d'aeademio, 1 vot. folio.
Ptíla Academia Real da Bélgica, Baletins, Memorias
coroadase Annaes de meteorologia, pablítiados pela mesma.
Vários ioraaes e periódicos, remelUdos pelas respecti-
vas redacs^s.
Todas as offerlas são recebidas com agrado.
ORDEM DO DIA
O Sr. Dr. João Ribeiro d' Almeida coDtinauu com a lei-
tura da sua Memoria sobre a acdimação das raças Au-
manas, para servir de est^ido d colonisação do Brasil ; e
o Sr. Dr. Saldaaba da Gama proseguiu na leilara da Bio-
graphia de Fr. José Marianno ia Conceição Velloao.
A's 8 horas da noite o Sr. preaiiíenle, obtendo vé-
nia de S. M. o Imperador, levantou a sessão.
Carlos Honório de Figueiredo
SBCHETARIO SUPPLEHTE.
6- SESSÃO EM 17 DE JULHO DE 1868
HUHHADA CON & AUGUSTA PRESENÇA DB S. H. O IMrERADPR
Presidência do Exm. Sr. visconde de Sapucahy
A's O horas da tanle, acbaiido-su reunidos na sala do
Instituto os Srs. visconde de Sapucahy, barão do Bom-
Retiro, Joaquim Ttorberto, Drs. Sousa Pontes, Carlos Bo-
uorlo. Pinheiro de Campos, conselheiro Cláudio, Ribeiro
de Almeida, Cunija, tenente-coronel Xavier de Brito, Sal-
danha da Gama, Filgueiras e barão du S. Lourenço, an-
nuncioo-se a chegada de S. H. o Imperador, que sendo
recebido com as honras do costume e tomando assento,
o Sr. presidente visconde de Sapucahy abriu a sessão.
Dictzedby Google
— 33* —
Lida pelo Sr. secretario sappteote, Dr. Carlos Hodo -
rio, a acta da anlecedente, foi appmvada.
O Sr. Dr. Sousa Pootes, 2* secretario servindo de V,
deu conta do expediente, que constou do seguinte :
Um officio do Sr. 1* secretario cónego h'ernaiides Pi-
nheiro, em que comoiunica não poder comparecer k sessão
por iocommodado.
Três olficios do Sr. Dr. César Augusto Marques, remet-
teuão: o numero 73 do Paix, publicado no Maranhão,
onde vêm impressas as biographias de D. Jaciutho Carlos
da Silveira, D. José do Menino Jesus e D, Juaquim Fer-
reira de Cirvalho, 7*. 8* e 9* bispos do Maranhão ; Gii-
pía da ode composta pelo ex-presidunte da província do
Maranhão, Pedro José da Costa Barros, quando na mesma
província, em 1836, se Tustejou o feIJz annívorsario de
S. M. o Impera Jor; O Iniice aiphabetico das leis, de-
cretos e avisos relativos á incompatibilidade na aecuma-
lação dos cargos e empregos pablicos, pelo Dr. Oví-
dio da Gama Lobo ; e os Pensamentos e máximas do
Dr. Frederico José Corrêa.
Relatórios das repartições de marinha e da agricultura,
apresentados á assemblía geral na presente sessãa, re-
inettídos au Instituto pelas respectivas secretarias d'Estado.
Catalogo geral da Ej^posição Univerml de Paris, offert!-
cido pelo Sr. Ur. Masiniiaiio Marques de Carvalho.
Vários jornaes c periódicos, reineltidus pelas respecti-
vas redacções.
Todas as oftertas foram recebidas com agrado.
ORDEM DO DIA
Leu-se. e foi remettida á commissão de admissão de
sócios, a seguinte proposta :
Dictzedby Google
— 335 -
Propamos para sócio correspoodeote do losUlato His-
lorioo e Geugraphico Brasileiro o Dr. Eduardo de Sá Pe-
reira de Castro, eoffareceDaosparaservirile titulodesua
admissão am eiemplai- dos seus Heróei Brasileiros, no
campanha do StU em 1865 ; obra comprehendtda aa letra
dos estatutos. Rio de Janeiro, em 17 de Julho de 1868. —
Ih. Caelano Alves de Sousa Filgueiras. — Bacharel Pedro
Torquato Xavier de Brito. — Carlos Honório de Figuei-
redo.
O Sr. Dr. Saldanha da Gama cootiauou com a leitura da
Biographia de Fr. José Marianno da Conceição Veiloso.
A's 8 horas, o Sr. presidente, obtendo vénia de S. H.
o Imperador, levantou a sessão.
Carlos Honório de Figueiredo
SECRETARIO SUFPLBNTB.
7' SESS.VO EM 7 DE ACOSTO DE 1868
HONRADl CUH A AUGUSTA PRESBNÇA DE S. M. O IMPERADOR
Presidência do Exm. Sr. visconde de Sapucaky
\'s G horas da larJe, achaodo-se reunidos na sala do
iDslituto os Srs. visconde di Sapucahy, cónego Fernan-
des Pinhi'iro, Drs. Carlos Honório, Moreira de Azevedo,
Pinhuiro de Campos, conselheiro Cláudio, Braz Rubim,
(enentu-coroniil Xavier de Brito e Drs. Saldanha da Gama,
Luiz F. da Veiga, e Corujn, annuaciou-se a chegida de
S. M. o Imperador, que, sendo recebido com as honras
do estylo, tomou assento, e em seguida o Sr. presidente
abriu a sessão.
Dictzedby Google
— J»8 —
Lan-se e approTou-se a acta da anterior.
O Sr. l' secretario den conla do expediente, que constou
do seguiiíle :
Officio do Sr. preâdeoleda profincia do Rio-Grande
do Sul, remettendo o Relatório comqaeo seu anteces-
sor Dr. Francisco Ignacio Marcondes Homem de Mello
passoQ-lbe a administração da mesíoa.
Dito do Sr. presideote da proíincia do Amasooas, re-
mettendo differenles Relatoriot da presidência d'aquella
província.
Quatro ditos do Sr, Dr. César Augnslo Marques, re-
mettendo o segainte: ReUtíorio gue d assembléa provin-
cial do Marimfiâo dirigiu o Sr. Dr. Manoel Janten Fer-
reira, í* vtce-preaidmte da provinda ; quatro números
do 5emaTMirio Maranhense, onde se acbam impressas a
bií^raphia o bailas de D. Frei António de Padoa, 9*
bispo do MaranhSo ; Historia do Convento de Nossa Se-
nhora das Mercês da mesma província ; — Direitoi e deve-
res dos estrangeiros no Brasil, escripto pelo Dr. Ovidio
da Gama Lobo, e — jWuafimos, sentenças e provérbios do
padre CyriUo dos Reis Lima.
O Sr. Dr. Sousa Fontes communica que, por se acbar
incomm"dado, nao pôde comparecerá sessão, eremette
os snguioles folhetos, que seu autor o Sr. Dr. Nicoláo
Joaquim Moreira offerece ao Instituto : Coníiiíwapõesffe-
raes sobre o suiãdio, discurso prommciado perante S. M.
o Imperador, ele.; — Duas palavras sobre a educação moral
da mulher, discurso prommdado perante S. M. o Impe-
rador; — Oufurso pronunciado em nome da Academia Im-
perial de Medicina na sessão anniversaria do Instituto
dos Bacharéis em Letras ; — Relatório da cwnmissâoespe-
ci<il nomeada pela Âcadmnia Imperial de Medicina para
iníerpâr seu parecer sobre a memoria do Dr. José Luiz
D,:„i,;cdtv Google
— 337 —
da Costa — O que é a sauile ? O que é a doença ? e — Re-
latório medico-legal : Exame de sanidade feilo pelos peri-
tos da justiça sobre a pessoa do Dr. José Marianno da
Silva em 13 de Abril de 1867.
0KFERTA8 FBITAS AO WSTITUTO
Pela secróUria da gaerra, tiin exemplar Ao Relatório
a,>re3eDtado á assemblóa geral Da sessão do corrente
anão, pelo Sr. iDÍDistro d'aquella reparlição.
Pelo Sr. tenente-coronel Pedro Torqoato Xavier de
Brito, manascripto coatendo Historia do assedio eren-
dição da praça da Colónia do Sacrannento, em 31 de
Miiio de 1777.
Pela Imperial Sociedade doa N:ituralisias de Moscow,
2 volumes deseus Boíeítns.
Peln Sociedade Porlugucza de Beni'ficeniúa do Rio de
Janeiro, o Relataria apruseotado á mosma pela admi-
nistração 6 parecer da commissiio de contas.
Pelo Sr. padre Joaquim Pinto de Campos, Polemica
Religiosn, refutação ao Ímpio opúsculo que tem por titulo
O Deos dos JudSns e o Deos dns Christãos.
Peto Sr. lenenle Alfredo d'Esrngnolle Taunny, Scenas
de viagem— Exploração entre os rios Taquary e Aquidaua-
na, no distrido de Miranda, em a provinda de Hnto-
Grosso.
Pela Academia Re.il de Napules, Memorias e actas da
mesma, dosannos de 1863 a 1867.
Pelo Sr. Dr. Joaquim Manool de Macedo, por parte do
Sr. Dr. J, F. Carneiro, fazendeiro da província de Minas,
vários aulograplios do desembargador Thomaz António
(jonzaga.
P.;Ia redac\-íÍoda Gazeta Medica da Rnkin, uru nuTiero
do seu jornal.
TOMO XIXI, p. 11 *3
Dictzedby Google
Vários jornaea e periódicos, remettidos pelas respecli-
vas redacções.
Todas as offerbs são recebidas com agrado.
ORDEM DO DIA
Leram-se as seguintes propostas .-
4.* Propomos parasocioscorrespondeolesdo Inslítoto
Histórico e Get^raptilco Brasileiro os Srs. Dr. Joaquim
Jerooymo Feroandes da Canha, conselheiro José Marti-
niaoo d'Aleacar e Antooio Ferreira Viaooa, servindo de
lilulos de admissão numerosos trabalhos de historia lít-
teraria e politica, antiga e contemporânea, eihibidos na
imprensa e na tribuna parlamenlar e indiciaria, e uma
coliecção de 3S obras que offerece o 1* proponente.
Sala das sessQes do Instítato Histórico e Geographico
do Brasil, em 3 de Julho de 1868. — Luiz Franeitco da
Veiga. — Migwl Ântomo da Sitoa.— José Maria da Silva
Paranhoi Jvnior. — Epiphanio Condido de Sousa Pitan-
ga. — Saldanha da Gama. — C. H. de Figueiredo. —
A. A. Pereira Coruja. — Remettida á commissSo de
admissão de sócios.
i.* Proponho para sócio correspondente do Instituto
Histórico e Geographico Brasileiro o Sr. Alfredo d'Es-
cragnolle Taaaay, 1* tenente d'arttlheria, engenheiro
get^rapho, bacbaiel em letras e mathematicas, e aator
das Scenas de viagem : Exploração entre os rios Taqua-
ry e Aquidauana no districto de Miranda, provineia de
Mato-Grosso, pelo mesmo senhor offerecidas ao Instítato.
Sala das sessões, em 7 de Agosto de 1868. — Cónego Dr.
}. C. Fernandes Pinheiro. A requerimento do autor fla
proposta, foi o trabalho do Sr. Taunay remettiilo á com-
Dictzedby Google
— 339 ~
dqÍssSo subsidiaria de geographia para e$ta emiltír sobre
elle parecor.
Foram lidos, e Qcaram sobrea mesa para serem vola-
dosn a próxima sessão, sete pareceres da commissão de
admissão Je sócios, conclainlo qoe sejam admittídos ao
grémio do lostituto, como sócios correspondentes, os.
Srs. Heoriqae AmbaaerSchatel, José Maria Pinto Peixoto
Alexandre Hí^do de Castilho, Cavalleiro José de Lucca,
Revm. padre Brasseur de Boorboorg, Vivien de Saint-
Martin e bacharel Eduardo de Sà Pereira de Castro.
O Sr. Dr. José de Saldanha da Gama proseguio na lei-
tura da Biographia de Fr. José Marianno da Conceição
VeUoso.
A'8 8 boras, oSr. presidente, obtendo a imperial ve-
oii, levantou a sessão.
ReÍaç,io dos livros offerucidos pelo Sr. Dr. Laiz Fran-
cisco da Veiga, a qne se refere a proposta sopra :
Noticiai reconcUtas sobre a Inquisição, pelo padre A.
Vieira. — Oração fúnebre dmemoria do senador D. A.Feijó.
— Nitherohy (poema) , pelo cónego Januário da Cunha Bar-
bosa. — Relatório da commissão de visOa ds prisões, con-
ventos e estabelecimentos de caridade. Bio de Janeiro,
1830.
Glosaaria linguarum brasiliensium.
Elementos de historia nacional, de economia politica, por
CG.
Le Koran, traduction par Kasimirski.
VEurope révolvÀionnaire, par ivanGolovine.
VAngleterre, la France, la Rwsie et la Turquie.
Relação breve e verdadeira daentrada do exercito jrancez
em Porttigal. Lisboa, 1809.
L'Empéreur Piap<^éon III et VAngleterre, l858.
La Lombardie et le Vénetien, 18S8.
Dictzedby Google
— 340 —
UAtUriche U le prince Roumain, 18'>8.
Politique nationale, par «n ancien depute, 4859.
Rome el ses provinces^ IStiO.
Li nouvelle carte de VEurope par E. About, 1860.
La vériii sur les évenements de Candie, i858.
La Question lonnienne devatd i'£urope par François Le-
normatU, lK&í>.
La nouvelle altitude de la Frawe, 1860.
LeUred'un joumaliste calkoUqae à Monseigiieur Vévéqm
d'Orléans, 1860.
Coiidamnotion de VAutrirJie, 185 ).
LesRomaynes,parJ. de Saint-Ámand, 1860.
fAngleterre et la Russie par Amédée de Cesena, 1859
L'AvenÍr de l''Europe par Fred. d HainaiUt, 1830.
LEmpéreur NapoUon III et les principautés roumainet.
Aprés la guerre. Recomtitution de Ui Hongrie par Ámadét
Le Faure, 1859.
La Fruste et la question ilaiiennc, 18t>9.
La Prasse en 1860 par E. Aòout.
Venise, complémcnl de la qaetlion ilaUenne par Hr.
le Comle du Hamel, 1860.
La Coalition, 1860.
La Hongrie et la gemutnisatMn aulrkkienne. 1860.
Est-ce la paixf Est-ce la guerre, 1859.
La paix de Zurich el le nouaeau congrés européen.
Carta pastoral do Exin. arcebispo da Bahia sobre o
spiritismo.
Corographia brasílica pelo padre Manoel Ayres de
Casal, 1833.
Dictzedby Google
— 311 —
8- SESSÃO EM 21 DE AGOSTO DE 1868
HONftA.nA COH A AUGUSTA. PRESENÇA DE S. H- O IMPERADOR
Presidência do Exm, Sr. visconde de Sapucaky
i\'s 8 huras da Quite, achando-se reuDidos os Gxins. Srs.
visconde de Sapucahy, D. l>o<>.iDgos F. SarmieDio, Drs.
Macedo, cooego Fernandes Pinheiro, Sonsa Fontes, Carlos
Houorío, Uureira de Azevedo, conselheiro Cláudio, teoeDle-
corooel Xavier de Brito, Drs. Pinheiro de Cam|j03, Fil-
gueirus, Paranhos Júnior, Saldanha da Gama e Boulaoger,
aonuiicioD^se a chegada de S. M. o Imperador, que foi
recehído com as hooras do estylo, e, lomando assento,
o Sr. presidento ahriu a sessão.
Lida e apijroTada a acta da antecedente, o Sr. 1' secre-
tario deu cunta do expediente, qae constou do seguinte:
Participação do Sr. Comia, de não poder comparecer
á sessão por incommodado.
Omcio du Sr. barãu do Agiiapehy, vice-presidente da
província de Mato-Grossu, rcineltendo am exemplar do
Relatório que apresentou ã assemblóa legislativa d'aquella
pruviacta no acto de sua ÍnstalldV''io em 3 de Haio ultimo.
Bitu do Exm. Sr. harão de Melgaço, rcmetieodo uma
cópia da Tahella das "posições yeographicas por eUe deter-
minadas astronomicamente na província de Malo-Grosso ;
e um Mappa geographico, chronologico e estatistico da
mesma provinda.
Dito do Sr. Luiz Aleixo Boulanger, romettondo, por
parle do Sr. JosJ Mircellinu Pereira de Moraes, o Átlat
GeograpMco Universal (in-folio) por Soherto de Vaugondy
e C. F. Deiamarche \ e por parte do Sr. Joaquim Feliciano
de Almoíila Lousada, secretario do governo da provincia
Dictzedby Google
— s*s —
de Mato-Gro680, am livro manascriplo contendo Doca-
mmto* officiaet portu^mxea e hôtpanhóet relativo» aoi
limite* do Império na província de Mato-Groeso. compi-
ladoi dé ordem do minielro da marinha pdo então capitão
de fragata Avgutlo Lmerger, luije chefe de egqiuidra, barão
de Mdgaço, com ani aato original da fundação do forte do
Priocipe da Beira na mesma prorincia.
Carla do Sr. Dr. César Aogosto Marques, remetiendo ao
Instilato dois nomeros do PvbUcador Maranhente, onde
sabiram impressos : Caiias desde Aldêas Altas ate a creação
de sua respectiva comarca, Arsenal de Harioba, Assacar,
Alfandega do Haraoh3o, Ananaz, Arado, Armazém de
Pólvora e Arredai do Príncipe Regente; e o n. 62 do Paiz,
onde sabin impressa a acta commemoraliTa da cotlocação
da 4* pedra para a ediflcaçSo da igreja matriz de Nossa
Senhora do Rosário da rilla do mesmo nome.
Rdatorio apretenlado á uuemòUa geral dot afxioaittas
do Banco do Brasil na sua reitnião de 1868, remetUdo ao
Instituto pelo Sr. secretario do mesmo banco.
Reflexões lobre a brochura do Sr. Ch. Expelly — Le
BrésU, Baenae-Áyra. Montevideo et le Paraguay devant la
eivUitatiún, offerecído por seu anior João Carlos More.
Algumat contiderações a re^iHo da historia da Imperial
Sociedade Amante da InstrucçXo, etc., folheto offerecido
por sen íiutor Laiz José de Murínelly.
Vários jornaes, remettidos pelas respectivas redacções.
Todas as oITerlas são recebidas com agrado
ORDEM DO DIA
Achando-se a hora adiantada, resolveu o Instituto qae
os pareceres da coinmissão de admissão de sócios, qoe
haviam ficado sobre a mesa para serem votados n'esta
ses^, ficassem adiados para a seguinte.
Dictzedby Google
— 34;^ —
o Sr. Dr. Saldanha da tiania terminoo a leitura da
Biographia de Fr. Joti Mariarmo da Conceição Velloto, a
qual dedicou a S. M. o Imperador.
Levaotou-se a sessSo às 9 horas da noite.
Dr. Souta FonUt
3* SECRETARIO.
d* SESSÃO EH 11 DE SETEMBRO DE 1868
HONRADA COH A AOCUSTA PRESENÇA DE S. H. O IHPER4D0R
Prendencia do Bsem. Sr. visconde de Sapucahy
A's 6 horas da larde, achando-se reunidos oa sala do
tnsliluto 08 Srs. visconde de Sapucahy, Drs. Macedo,
con^o Fernandes Pinheiro, Sousa Fontes, Carlos Honório,
conselheiro Cláudio, Pinheiro de Campos, D. Francisco,
tenente-coronel Xavier de Brilo, Drs. Saldanha da Gama
e Paranhos Júnior, annuncioo-se a chegada de S. M.
n Imperador, qae foi recebido com as honras do estylo, 6,
tomando assento, o Sr. presidente abriu a sessão.
Len-se e foi approvada a acta da antecedente.
O Sr. 1* secretario deu conta do expediente, que constou
do seguinte :
Um oSicio do Sr. Comja, no qual participa que não
pôde comparecer k sessão por se ar.bar incommoJado.
Dito do Sr. conselheiro director da secretaria do império,
rogando, de ordem do Sr. ministro d'aqaella repartição,
que o Instituto informe se possua o manoscriplo on a tra-
docção em francez da Detcripção do Estado do Maranhão,
Pard, Corvipá e Rio Amazonat, feita por Maurício Heriarte,
em 1662 —Ao Sr. 1* secretario para informar sobre a
requisição.
D,:„l,;cdtv Google
— 3*4 —
Um officio do Sr. presidente da províocia da Bahia, re-
melteodo ara exemplar das Leis e r«»oliições da assembUa
legiúahva provincial, lanccionadas e pubitcadds no cor-
rmUa/nno.
Dito do Sr. prosideote da províocia do Amazonas,- re-
mettendo dois oiemplares do relatório com qw, no dia
t* de Junho abriu a atienUiléa legiilativa provincial.
Dito do Sr. presideate da proviDcia do Pará, remelleodo
um eiempldr de cada ama das CoUecções de lãs d'aqaella
província, dos aonos de 1866 e 1867, e da 3' parte
de 1853 e 1856.
Dito do Sr. presidente do Honte Pio da Bahia, remet-
tendo o Relatório apreteníado pelo contelho administrativo
d assembléa geral dos aecumitlas, no corrente anno.
Dilo do Sr. conselheiro Manoel da Cunha GalvSo, romet-
tendo am cxempUr da sua obra sobre o Melhoramento do
porto de Pernambuco.
Dito do Sr. Dr. Caodído Mendes de Almeida, remel-
tendo um exemplar do SfU Atliu do Imporio do Brasil.
Dito do Sr. secretario do lasututo da Ordem dos Advo-
gados Brasileiros, remeltendo, por ordem do mesmo (iisii-
tuto, o n. 12 da sua Revista.
UBRAS OFFBRECIDAS
Pelo Sr. J. M. P. de Vasconcellos, um exmplar da
Selecta BrasUienie, ou Noticias, descobertas, observações,
factos, curiosidades, em relação aos homens, á historia e
cousas do Brasil.
Pelo Sr. bjcharel Eduardo de Sá Pereira de Castro, o
n. 15 dos seus Heróes brasileiros na campanha do Sul.
Pela secretaria do império, os Relatórios dos presídt!Dles
djs piovincias do Amazonas, Píauhy e AlagAas, e CuUecção
Dictzedby Google
— 8*5 —
de lei$, regulamentos e outros actos expedidos pelo governo
da provmeia do Maranhão.
Pelo Eva. Sr. D. Francisco Balthazar da i^ilveira, am
fixemplar do Relatório com que o Sr. presidente da pro-
vinda do Amazonas abria a assembUa provincial no dia
i* de Junho vitirrw.
Pela Sociedade de Geograpbia de Paris, o sen Boletim
do mez de JuDho do corrente anno.
Pela redacção da BaJiia lUxutrada, o D. 83 do sen
jornal.
Vários periódicos remettidos pelas respectivas redacções.
Todas as offertas sSo recebidas com agrado.
ORDEM PO DIA
Foram onanimemente approvados, por escnitioto, os
pareceres da comraissão de admissSo de sócios, favoráveis
aos Srs. E. de S. Pereira de Caslro, Cavalleiro José de
Locca, Henrique Ambauer Schatel, Alexandre Magno de
Castilho, Tivien de Sainl-Hartin, Rev. padre Brassear de
Bonrbourg e José Maria Pinto Peixoto, os qnaes pelo Sr.
presidente foram proclamados sócios correspondentes do
InstilQto.
O Sr. Dr. J. M. ^a Silva Paranbos Júnior prosegoiu na
leitnra da Biographia do general José de Abreu {barão do
Serro Largo).
Terminada esta, o Sr. presidente, obtendo vénia de
S. H. .0 Imperador, levanton a sessão às 8 horas.
Carlos Honório de Figueiredo
SECRETARIO SUPPLENTE.
TOMO XXXI, p. n
Dictzedby Google
— 346 —
10* SESSÃO EH 35 DE SETEMBRO DE 1868
BOMHIDI. COH Á ÂUGDSTA PRESENÇA DE S. H. O IHPERADOK
Pretidencia do Etr*. Sr. visconde de Sapucahy
Ás 6 horas da tarde, achando-se reanidos na sala do
iDstilato os Srs. visconde de Sapucaby, Drs. Macedo,
cónego Fernandes Pinheiro, Carlos Honório, Moreira
de Aze\edo, Perdigão Malheiro, Capanema, Pinheiro de
Campos, Paranhos Jaoior, Braz Rubim e teneole-coronel
Xavierde Brito, annunciou-seachegada deS. H. o Impera-
dor, qae sendo recebido com as honras do estylo e tomando
assento, o Sr. presidente abria a sessão.
Lea-se e approvoo-se a acta da sessão anterior.
O Sr. 1* secretario deu conta do seguinte
EXPEDIEtfTE
Cartas dos Srs. conselheiro Cláudio e Coruja, partici-
pando que por doentes não podiam comparecer & sessão.
0£ãcio do Sr. presidente da província das Alagdas,
remettendo dois exemplares do Relatório com que o Sr.
Dr. António Moreira de Barros entregou a administração
da mesma, no dia 23 de Maio ultimo, ao Dr. Graciliano
Aristides do Prado Pimentel.
Dito do Sr. Dr. F. I. Marcondes Homem de Mello, re-
mettendo um exemplar dos seos Escriptos Histórico» e
lÃtterarios, recentemente pnblicados n'esla c6rte.
Carta do Sr. commeudador Francisco A. de Vambageo,
do seguinte teor:
« Vienoa, 20 de Julho de 1S68.
« lUm. Sr. — Peço a V. S. se digne levar ao conheci-
Dictzedby Google
— 3i7 —
mooto d'ess6 iDstitulo, que na minha passagem por Paris
tive occasião de ver o mappi feito por Gaspur Viegas em
453i, de cuja existência o publico deveu jo Sr, Fordinand
Denisjo ler conhecimeoto.
< Este mappa Dada tem duorigioal. Viegas não me pareço
ter sido verJadeiro autor du mappa, mas simples copia-
dor, como o Toi de outra carta marítima, que se acba com
a do Brasil, na mesma pista. N'esse tempo, em lugar de
se gravarem, como boje, taes mippas. para aso dos nave-
gantes, copiavam-se á mão em vitella ou pergaminho e
havia quem d'isso quisi fazia pro&jsHo.
c O que, entretanto, se coíbe d'este mappa, privavel-
menie copiado por Viegas, é o verem-se n'elle confirma-
dos os mesmos dizeres que se lém nas cartas do Brasil
do Lazaro Luiz (4563) e de Vaz Dourado (4571), respec-
livos ás exploiafões de Harlim Affoaso, Diogo Leite e
anteriores. Enconiram-se já alli, como devia succeder,
visto serem anteriores a 1534, época aliás importante, por
ser a da distribuição do Brasil em capitanias.
d Dois inappas sobre o Brasil mais importantes que
essas cópias se encontram, porém, na mesma pasta na
Bibliotheca Imperial de Paris. São originaes e dizem-se
feitos em Dieppa por Jacqucs de Vau de Claye em 4579.
« O primeiro d'estes mappas representa o Norte da costa
do Brasil d'-sde um pouco a Oeste do Maranhão até o rio
Real. Esle mappa patenlòa quão bem informados estavam
os franceses acerca d'esta parle da nossa costa, e nos
revela os projectos que elles tinham de guerrear com
vantagem as recentes colónias portuguezas no Brasil, va-
lendo-se dos indios e dos recursos do paíz. Para outro
lugar reservo o d»r d' esle mappa mais individuada ies-
cripção.
DictizedbyGoOJ^IC
— 848 —
f O segando mappa representa a babia do Rio até
Cabo<Frío: le vrai pourtraicí de Geneure (sic) et da cap
de (rie.
I Começando do Ho d'Assucar, a que chama Pot à
beurre, e nu cimo do qual se vè ama guarita, assignala em
segaida (no Botafogo?) àS maisont d fere [sic] le eucre, e
depois a que se diz • Rivière d^eau doulce, et »*appeU
Carioca, i Segue-se « íci on pretUa V huille » e logo a Olaria
■ [La briquetterie). » Vem depois o morro doCastello com
17 casas a a igreja, e na ponta do Calabouço tUf&ri de
la rivière. » Sobre 0 sacco de S. ChrislovSo (ao parecer)
lé-se I /cí estie coslé pour prendre Genevre. ■ Segue-se
f En ce lieu sont force» sucreries ■, o que se repete sobre
a ilba do Governador.
< No fundo da bahia do Rio eslà representada a aldêa
<t Syrisé », e do outro lado a aldda da Jurujuba, que abi
se escreve « Jerijm. »
I Creio estas informações do maior interesse histó-
rico, e penso que V. S. faria serviço au publico, ao passo
que muito me obsequiaria, se Ifaes déssc lugar na nossa
Reoiíta.
« Deus guarde a V. S.— lllm. Sr. serretario do Instituto
Histórico do Rio de Janeiro. — F. Ad. de Vamhagen. »
IVla Sociedade Etbnograpbica de Paris foi ufftírecido ao
Instituto o tomo 1* da sua Revista..
Pela Sociedade Imperial dos Naturalistas de Moscou os
seus Boletins de 1865 e 1866.
Vários jornaes e periódicos, remettidus pelas respectivas
redacções.
Todas as oSerlas são recebidas com agrado.
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- 349 —
ORDEM DO DIA
0 Sr. Dr. Perdigão Malheiro, como relator da commitóão
de admissão de sócios, fundamentou e maodoa à mesa o
s^uinte requerimento:
• Requeiro que o Instituto, ouvida a commiss3o de esta-
Ittlos (arl. 24 dos mesmos], resolva sobre as seguintes
duvidas :
« 4.' Se em vista do art. 6* dos estatutos basta a suffl-
ciencia titteraria do candidato para ser admittido sócio
effectivo ou correspondente.
« 2.' No caso negativo, se devem ser proferidos para
(itnio de admissão trabalhos próprios dos candidatos e
espociaes sobre historia e geographia do Brasil, e sobre
ethnographia, arcbeologia e lingoas dos seus indígenas,
tendo-se em attenção o fim da creação do Instituto (art. 1")
e o que dispOe o final do arl. i:i combinado com o art. C*
dos estatutos.
-I 3.* Sa a offerta para titulo de admissão deve s<:r feita
pelo próprio, ou basta que o seja por algum dos sócios
ou por terceiro.
1 Sala das sessOes, em 25 de Setembro de ]868. —
Áyostmho Marques Perdigão Malheiro. »
Foi o requerimento remeilidn á commissão de esla-
lutos para esta dar subre elle parecer.
O Sr. tenente-coronel Pedro Torqualo Xavier de Brito
propõz para sócio correspondente do Instituto o Sr. Dr.
Cândido Mendes de Almeida, servindo de titulo de admissão
o exemplar do AUas do Império do Brasil oiTcrecido ao
mesmo Instilulo pelo candidato.— A requerimento do Sr.
cónego Pinheiro foram a proposta e o referido Atlas remet-
tidos á commissão de geographia para emittir juizo.
Dictzedby Google
— $50 -
Passaodo-se á segnada parte da ordem do dia, os Srs.
Drs. Moreira de Azevedo e Paraobos Joaíor occaparam a
aiteaçSo do lastituto, lendo, aquelle a Historia da consti-
tuição política do Brasil, e este a altima parte da Biogra-
phia do genercU José de Abreu, barão do Serro Largo.
As 8 horas da noite o Sr. presideote, obieado vénia
de S. H. o Imperador, levantoa a sessão.
Carlos Honório de Figueiredo
Secretario sdpplentb.
11' SESSÃO EM 9 DE OUTUBRO DE 1868
BONRADA COM A AOGDSTA PRESENÇA DE S. H. 0 IMPERADOR
Presidenàu do £xt», Sr. visconde de Sapucahy
Ás 6 boras da tarde, acbando-so presentes os Srs.
visconde de Sapucahy, Dis. Macedo, cónego Fernandes
Pinlieiro, Carlos Honório, Moreira de Azevedo, conseibei-
ros Freire AliemSo e Cláudio Luiz da Costa, Drs. Perdigão
Malheiro, Pinheiro de Campos, Copanemii, lenente-coronel ,
Xavier de Brito, Boulanger e Dr. Paranhos Júnior, fal.
taodo com causa os Srs. Dr. Sousa Fontes e Coruja,
aniiunciando-se a chegada de S. H. o Imperador, [oi o
moáfflo augusto senhor recebido com us honras do cos-
tume, e tomando assento, o Sr. presidente em seguida
abriu a sessão.
Lida e approvada a acta da antecedente, o Sr. 1° secre-
tario den conta do expediente, que constou do seguinte :
Um offlcio do Sr. presidente da província do Río-Grande
do Sal, transmittindo ao Instituto um exemplar do Reiaiorio
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com que o Sr. V vice-presidente passou, no dia ii de
Julho próximo futuro, a administração da mesma ao ^.
marechal de campo Guilherme Xavier de Sousa.
Dito do Sr. presidente da provÍDcia do Espirito-Sanio,
remettendo dois exemplares do Relatório com qae foi
aberb a sessão eitraordioaria da assembléa legislaliva
d'aquella províacia.
Dilo do Sr. Dr. Domiogos AntODÍo Raiol. remettendo
um eiemplar do 2* volume da obra qoe está pablicando,
com o lilulo Motins Politicos da Província do Pará.
Dito do Sr. Dr. César Augusto Marques, remetlondo
os os. 50, &1 e 52 do Semanário Maranhense, oode
satiíram impressos os seus artigos sobre Mearim e Lai^o
do Campo de Ourique, na província do MaranbSo, e a
biographia de D. Luiz de Brito Homem, 1 1" bispo da mesma
provinda. -
Pdo Sr. João Baptista Cortines Laxe foi offerecido ao
Instituto o Hegimenio das Camarás Muni(npaes,por elle
annotado, com as leis, decretos, regulamentos e avisos que
revogam ou alteram suas disposições e explicam sua dou-
trina.
Pelo Instituto dos Bacharéis em Letras, seis exemplares
contendo : o Discurso do presidente, Relatório do secre-
tario e Elogio histórico do orador, lidos na sessão magna
d'aqaella associação, celebrada em 2 de Julbo do corrente
anno.
Vários joroaes e periódicos, remettídos pelas respectivas
redacções.
Todas as ofTerlas são recebidas com agrado.
ORDEM DO DIA
Foi lido e approvado o parecer da 2* commissSo de
geograpbía, dado sobre as 5c«n<u de viagem ou Explora-
Dictzedby Google
ÇÕea entre os rioi Taquary e Àquidauana no distríOo de
Miranda, na provinda de Mato-Grosto, offerecídas ao
iDstituto por soa antor o Sr. Alfredo de Escragaolle
Taanay, e remettidos à commissSo de admissão de sócios
o referido parecer cooJDQtanieDte coid a proposta feita pelo
Sr. cooego Pinheiro, para ser admittido o Sr. Escragpolle
como membro correspoadeote.
O Sr. Dr. A. M. 1'erdigão Malheiro, como relator da
commissio de admissão de sócios, leu a Esi^osição a esta
anoexa com reierencia ao parecer da segunda commissão
de geographia, emittido sobre o Itinerário da Crux Alta
ao Campo Novo, na província de S. Pedro, feito pelo Sr.
H. A. Schutel, e jà approvado em sessão de 5 de Julho
do correote aono.
O Sr. Dr. Capanema, como relator da referida com-
missão de geographia, obt«ndo a palavra, deu explicações
a respeito da maneira por que havia redigido aquelle pa-
recer, oão se deprebeudendo d'elle a menor censura
feita á commissão de admissão de sócios.
Resolvea o Instituto que a Exposição fosse aonexa a
esta acta.
O Sr. cónego Fernandes Pinheiro leu um trabalho seu
sobre os Padrei do Palrocvnio, ou o Port-Royal de Itú.
Ás 8 horas, o Sr. preâídeote> obtendo a imperial vénia,
levantou a sessão.
Dr. Sousa Fontes
Dictizedby Google
EXPOSIÇlO ANNBXA A' ACTA SUPRA
Ao Instituto Histórico e Geographico Brasileiro
Desculpe o Instituto se lhe roubo alguns momeotos de
sua attCDção. Mas, como relator da cominissão de admis-
são de sócios, não posso deixar passar sem reparo uma
pbrase que li em um parecer da illustre commissão subsi-
diaria de geographia, que acompanhou a proposta do Sr.
H. A. Schutel para sócio correspondente. Ahi se diz que
no trabalho d'esle senhor ha matéria mais apropriada aos
fins do Instituto do que a de outras memorias que serviram
de titulo de admissão á diversas pessoas.
Parece, com esse juizo comparativo, fazer-se alguma
censura quanto à admissão d'essas diversas pessoas ; cen-
sura que recahiria sobre o Instituto, sobre a commissão
respectiva, e mais particularmente sobre o seu relator.
Se. com efTeitn, houve intenção de fazêl-a, e se ella se
refere a admissões do anuo de 1859, em que sirvo de
relator da commissão, até agora, ou não declino da res-
ponsabilidade toda de laes admissões. !N3o lenho por cos-
tume fazèl-o. porque entendo que cada um deve supportar
a responsabilidade e ter a coragem dos seus actos.
Aquella censura, porém, não é fundada; e o Instituto se
convencerá pela ligeira exposição, que peço licença para
fazpr. da conducta que tenho tido como relator, e sempre
de accordo com os collefras da commissão.
Com ofticio do digno secretario datado de 13 de Janeiro
de 1859 recebi uma relação de propostas para admissão
de sócios correspondentes, em numero de 17. Dei pare-
cer apenas para a admissão de 9, que foram approvados e
admiltidos n'esse anno; ficaram esperados 8.
Achei o es^lo de não dar a commissão parecer, desde
TOMO XXXI, P. II. 45
Dictzedby Google
— 364 —
que entendesse que o candidato nlo eslava nas condições
de ser approvado. E o lenbo respeitado.
De 1859 em diante até a actualidade, tenbo successi-
vamente dado pareceres para admissão de mais 40 sócios
correspondentes; ficando esperados 14 dos conslaoles
das propostas que me foram remottidas. D'e8tas ha ama
assignada por 11 sócios, e outra por 8. E todavia entendi
-Dão dever dar parecer.
(^nsta que ha ainda outras propostas, qae nSo Tieram
á commissSo por dependereoi de parecer das commissOes
respectivas sobre os trabalhos oSerecidos como títulos
de admissão.
Não tem havido proposla nem parecer para admissão
de sócio effectivo; porque dos correspondentes se preenche
o quadro, na forma do arl. 13 dos estatutos.
Para banorarios apenas dei parecer, e foram approvados
5, ficando esperados 3. Dos approvados 4 são estrangeiros
e só 1 é brasileiro.
Dos approvados correspoudenles 31 s3o brasileiros e
18 estrangeiros.'
Os correspondentes são :
A. D. Pascual. ^
Braz da Gosta Rubim ]
Reybaad 1
CeroBi /
(^pitão de mar e guerra Lourenço da Silva [
Araújo Amazonas }> 1859
Padre Lino do Monte Caimell • Luoa. ... 1
Dr. Francisco Ignacío Marcondes Homem de i
Mello 1
Rodrigo José Ferreira Brees i
Tenente António Maríanno de Azevedo. . . /
Dictzedby Google
- 355 —
loDocencio Francisco da Silva
Francisco Evaristo Leoni
Jorge César de Figanière
Dr. Ernesto Ferreira Fraoça
CoD^lbeiro FrudeDcíoGiraldes Tavares da Vei-
ga Cabral
José Franklin Massena da Silva
Dr. ÀDtonio Joaqnim Ribas
Capítão-tenente Manoel António Vital de Oli-
veira
Cónego João Pedro Gay
Joio Brigido dos Sanios
RuT. James C. Flelcber
Capitão- tenente José da Costa Azevedo. . .
Dr. Manoel Duarte Moreira de Azevedo. . •
Dr. José Vieira Couto de MagalbAes. . . .
Dr. Francisco Ferreira de Abrea
Dr. Luiz António Vieira da Silva
João Carlos Pereira Pinto '. .
D. José Maria Torres Caicedo
Frederico Francisco de Figanière
Dr. tieorge Martinho Tho[n;)S
Padre Angelo Seccbi
Dr. César Augaslo Marques
Dr. José de Saldanha da Gama
Dr. Levy Maria Jordão
Dr. João Ribeiro de Almeida
Dr. António Henriques Leal
Dr. Emmanuel Liais
Dr. Miguel António da Silva Júnior. . . .
Dr. Domingos António Raiol
}
D,i.,.db, Google
— 3ÍS6 —
Dr. José Maria da Silva Paranhos Junior, . \
CapiUo Epifaoío Caadido de Sousa Pitanga. . | 4867
TeDeale-corooel Pedru Torqualo Xavier de Brito J
Dr. Luiz Francisco da Veiga \ *
Eduardo de Sà Pereira de Castro
José Maria Pinto Peixoto
Padre Brasseur de Bourbourg \ |ggg
Cavalheiro José de Lucea
Alexandre Magoo de Castilho
Henrique A. Scbutel
Vivien de Saiot-Martia
Os honorários são :
I- ^«^'^'^ ! i86i
G. BaDcrofl )
Luiz Augusto Ktíbello da Silva ) iriis
Alexandre llerculaiiu (
Visconde de Inhaúma 1868
Não pôde censurar-se a ;tdmissão em lazão de grande
numero. Em iO annos admiltireni-se apenas 49 socíos
correspondentes, cabem somente, termo médio, 5 por
anno. E 5 honorários no mesmo espado de tempo é 1,
por cada bieonio.
Nem o total de 54 (correspondentes e hoi.orarios) preen-
cheria os claros que a morie tem aberto nas fileiras da
phalange litteraria d'esle Instituto; porquanto desde 1859
ate 1867 perdômos 1'2 dos nossos consócios, como consta
da nossa Revista; numero que se elevará provavelmente
aSO, ou mais, incluiodo-se os fallecidos no corrente anno.
Poderia talvez censurar-se a desprof^orção entre o nu-
mero de estrangeiros e o de brasileiíos admiltidos ao
Instituto. Mas a commissão tem procedido com maisal-
Dictzedby Google
— 357 —
gum rigor a respeito ilus nacionaes, não* só porque é
d'esle3 que, por via de regra, saliem os sócios elíeelÍTOs,
ubservando asm » disposto do art. ti* dos estatutos com-
binado coiQ o art. 13 e tendo eiu vista o fim da instituição,
mas também purque, a respeito dos estrangeiros distioc-
tos que tém sido admitiidos, reputa antes um titulo de apre-
ço da sua iliuslraçilo, trabalhos, c da consideração que
prestam ao luslituto, equivalonle quasi a um titulo de
membro bonorario para não baratear esta elevada dis-
lincção.
As propostas de admissão, os pareceres fundamentados
da commissão, acompanhados, sempre que possÍTel, de
noticia biographica dos candidatos, o juizo critico dos tra-
balhos ofierecidos como titulo de admissão, quer das cora-
missOes respectivas, quer da própria commissão de que sou
o menos digno relalor (o i|ue tudo cojisla dos archivos
d' este instituto e até da sua Revista), põem fora de duvida
o escrúpulo com que se tem procedido : sendo que a
commissão tem sempre dado a preferencia a candidatos
que, além de suas Labilitações iitterarias, exhibem Iraba-
Ihos próprios e especiaes sobre a historia e geograpbia
do Brasil, etc, conforme os arts. 1* e 6° dos estatutos.
Não se pôde, portanto, com justiça dizer que a com-
missão, ou antes o seu relator tem comprebendído mal o
seu dever. Estabelecer comparação entre trabalhos de di-
verso género, embora tendentes (odos ao grande e patrió-
tico lim a que mira o InsliioLo, não é fácil, nem mesmo
possível. Não é sua a missão do Insliluto, nem da sua com-
missão. O que se deve é apreciar se o caodidato esl&, por
suas qualidades e por seus trabalhos, nas condições de ser
admiltido.
Parece-me que nenhum dos approvados desde iS59 até
hoje desdoura o Instilulo.Se nem todos são summidades, é
Dictzedby Google
porque não ha propostas, aem o paiz as possne. As gran-
des capacidades eilluslrações são raras, mesmo noãpaizes
mais adiaDlados e populosos. No Brasil Ita, porém, muitos
talõDios modestos, obreiros conscienciosos, e alguns íafa-
Ugaveis- E' preferivttl acintar o sea concurso, desde que
mostrem boa vontade cm cooperar para o fim que o nosso
Instituto almeja. Eis o que a commissão e o seu relator
não tém perdido de vista.
Se lenho i^radu, submelto-me resignado à censura. E o
Instituto tem em suas mãos o remédio; confiar Ião espi-
nhosa e ingrata missão a quem melhor comprebenda o seu
pensamento.
Rio, 9 de Outubro de 1868.
Agostinho Xarqwa Perdigão MaVieiro.
12* SESSÃO EM 23 DE OUTUBRO DE 1S68
HONRADA Cail A AUGUãTA paGSEHQA l>E S. H. O IMPERADOR
Presidência do Ea>m. Sr. visconde de Sapucahy
A's 6 horas da tarde, achando-se munidos na sala do
Instituto os Srs. visconde de Sapucahy, Joaquim Norberto,
cónego Fernandes Pinheiro, Sousa Fontes, Carlos Honório,
Saldanha da Gama, Piíihein) de Campos, Coruja, conse-
lheiro Cláudio, 1'eidigão Malhoiru, Moreira de Azevedo e
Capanema, anounciou-se a chegada de S. M. o Impei ador
que foi recebido com as honras do costume, c tomando
assenti), o Sr. presidente abriu a sessão.
Leu-sc e approvou-su u iicta da sessão anterior.
O Sr. t" secretario deu conta do expediente, que cons-
tou do seguinte :
Um aviso do Sr. ministro do império, dando conheci-
nionto da existência, na bibliolbeca imperial de Vieooa, do
;dby Google
— 359 —
manuscripto e iraducçio franceza da Descripção do E$tado
do Maranhão, Pará, Cwupá e Rio Amasonas, feita no
armo de 1662 por Maurício d'Hmarte, a fim de qae este
Instituto resolva sobre a acquisiçSo d'e8te docamentn, que
jalga de importância para a bisloria pátria.
Dito do Sr. director geral da secretaria da agricultara,
remettendo du ordem úo Sr. ministro da mesma reparti-
ção, um osomplar do 4" tomo do Relatório apresentado a
S. M. o Imperador pelo presidente da commissào frroíi-
leirajunto d ultima exposição universal.
Dito d» Sr. presidente da província da Babia, remet-
tendo um eiomplar do Relatório com que o Sr. Dr. Joié
Bonifaíno IVascentes d' Azambuja passou a administração
da mesma província ao Sr, 2' Vice-presidente desembar-
gador António Laãisldo de Figueiredo Rocha.
Dito do Sr. presideolií da província do Paraná, rumet-
tendo um exemplar áaCollecçôode leis e decretos promul-
gados pela assembléa legislativa provincial no corrente
anno.
Dito do Sr. presidente da província deS. Pedro do Rio-
Grande do Sul, remelleiído o Quadro estatístico egeogra-
phico, e carta topographica ãa mes^ma província.
Pela Sociedade de Geugraphia de Washington ,List ofàts-
tancesinthe Vniled-States^ compiledinthis office, fromthe
lalest information obtavnable, 1808.
Pela Sociedade de Ijeogntpbia de Paris, o seu BiUletin
do mez de Juabo do coireole aiioo.
Pelo Instllulo HisEorico de França, o seu jornal de maio
e juobo prosimos passados.
PeU Imperial Sociedade dus Nalunlistas de Moscow, o
seu Boletim de 1867.
D,:„l,;cdtv Google
— 360 —
Vários joniaes c periodícos,ren]eUiâos pelas respectivas
redacções.
Todas as ofTertassSo recebidas com agrado.
Terminado o expedleote, o Sr. Joaqaim Nurberlo eipAz
que desde o dia 7 de Maio do coireote aono está a coni'
idIss3o promotora da estataà de José Bonifácio, qae tem
de ser erecta n'esta cdrte por deliberação do Instituto His-
tórico, privada de seu presidente pelo fallecimenio do
conselheiro de estado Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso
Camará, e ponderou que a guerra actual, a viagem do pre-
sidente á Europa e a moléstia que o levou á sepultura lem
atèhoje impedido os trabalhos da commissão. Apreseuiou-
igualmente a conta corrente da subscripção a cargo do the-
soureiro o barão de Hauá, que apresenta D'esta data um
saldo de 45:1293380 ao qual ba de addicionar-se iS6$l£íO
reis de juros vencidos de 30 de Junbo do corrente anno até
boje.
Ficou sobre a mesa para se providenciar a respeito na
próxima sessão.
ORDEM DO DIA
Leu-se, e foi remettida á commissão de admissão de só-
cios, a seguinfe proposta: Atlendendo ao alto mereci-
mento dos botânicos de França o Sr. Dr. H. Baillon, pre-
sidente da Sociedade Linneana de Paris, e do Sr. Ed. Bu-
reau. vice-presidente da Sociedade Botânica de França, e
aos serviços que elles prestam actualmente ao Brasil, com a
classificação edescripçSo de muitas planiasde nossa flora,
temos a honra de os propor para sócios correspondentes do
Instituto Histórico e Geographico Brasileiro.
Sala das sess(1es,23 de Outubro de 186S. /. de Saldanha
da Gama. — Carlos ffonono de Figueiredo. — Dr. Sousa
Fontes.
Dictzedby Google
— 361 —
O Sr. Joaquim Norberto leu um tnbalbo sou, com o tí-
lulo: — Beatriz de Assis — , mais algumas paginas lara o
livro das Brasileiras celebres.
OSr, Dr. Moreira de Azevedo terminou a leitura da- His-
toria da Constilui^ão Politica do Império.
A's S botas, o Sr. Presidente, obtendo a imperial veria,
levaníou a sessão.
Carlos Honório de Ftgaeredo
SECRETARIO -UPPLENTE.
13' SESSÃO EM 6 DE NOVEMP-RO DE 1808 '
HONRADA CfM A AUr.USTA PRBSrNeA DE 3. «. O IMPERADOR
Presidência do Erm. Sr. visconde de Sapucahy
A's6horasda tarde, achando -se reunidos nasalado
InsliUito 03 Srs. visconde de Sapucahy, Dr. Macedo, Joa-
quim Norberto, cónego Fernand 's Pínhíiiro, Drs. Carlos
[lonorio, Saldai ha da Gan:a. João Ribeiro de Almeida,
(0^selhei^o Cláudio, Rubim, Dr. Capan- ma e Boulanger,
annunciou-se a chegada de S M. o Imperador, que sendo
recebida com as honras do cstylo, e tomando assento, o
Sr. prcsideníe abriu a sessão.
Leu-se e foi approvada a acla da antecedente.
Constou o expediente do s^^gutntr :
Um oBicio do Sr. tenente-coronel P. T. Xavier de Bri-
to', communicanJo que ' ão podia comparecer à sessão ;ior
incon modado.
Dito do Sr. director geral da secretaria de estrangeiros,
remeitendo.de ordem de S.Ex. o Sr. minisiro d'esta repar-
TOMO XXXI, P. II. 46
Dictzedby Google
lição, o 7" e 8* lomos da Colleeçãa de documentos inediU
relativos ao discobrimento, conquitta e organUacâo dt
aniiga» possessões hespanholas da America e Oceania.
DÍ(o do Sr. secretario da secretaria da camará dos ã
piAados, remelleado, por deliberação da mesma, os ii
naet do 2* aoDo da 13* legislalara, 2 exemplares.
Dilo do Sr. coQselbeiro Fraocisco Xavier Bomtempo, o
ferecendo 3 exemplares das Instnuxões para a navegaei
do rio Amazonas.
E pela 83cretaria do império o Relatoria com que oS
Dr. Joaquim Vieira da Cunha, t' vice-presidenle da pr
vinda deS. Pedro do Rio-Grande do Sul, passou a adm
nistraçâo da mesma ao Sr. marechnl de campo Guilhem
Xavier de Sousa.
Vários jornaes e periódicos, remetlidos pelas respi
clivas redacções.
Todas asofferlas são recebidas com a-.'ra'lo.
ORDEM DO DIA
Passando-se à ordem do dia, e oão havendo proposii
oem pareceres de commissões, o Sr. Dr. João Ribeiro (
.almeida occii|)ou a altenção do Instiloto lendo ama pari
da saSí^Memoria sobre a acdimataçào da^ raças humana:
paraservir deestudo d colonisaçlo no Brasil.
A's 7 Va boras o Sr. presideate, depois de obUda a ia
perial vénia, levantou s sessão.
Dr. Sousa Fontes
â* SECRETARIO.
Dictzedby Google
— 363 —
14- SESSÃO EM 20 DE NOVEMBRO DE 1S68
HONRADA COM A AUGUSTA PRESENÇA DE S. M. O IMPEBADOtt
Presidência do Exm. Sr. visconde de Sapvcahy
A*s 6 horas da tardo, achaado-se presentes os Srs. vis-
conde do Sapucaliy, barao do Bom-Retiro, cónego Fernan-
des Piobeiro, Drs. Sousa Fontes, Carlos Honório, Moreira
de Azevedo, consellieiro Cláudio, João Ribeiro de Almeida,
Coruja, Capanoma, Braz Rubim, l*aranhos Jnnior, Fran-
klin Massena e Miguel António da Silva, annuncioa-se a
chegada de S. M. o imperador, que foi recebido com as
hODras do esijlo, e tomando assento, o Sr. presidente
abriu a sessão.
Leu-se Q approvou-se a acla da sessão do dia 6 do cor.
rente.
O expediente apresentado e lido pelo Sr. 1° secretario
constou do seguinte:
Ura officio do Sr. lenente-coronel Xavier de Brito, no
qual communica que, por se achar incommodadu, dSq
pude compareciT á sessão.
Dito do Si-. Presidente da província de S. Pedro Jq
Rio-Graiule do Sul, transmillindo um exemplar dos
Itelalorios, qni._ por occasião de deixarem a adminis^
traçãoiraqueila iiroíincia, aprcsenláramos Srs. marecha
de campo Guilherme Xavier de Sousa e Dr. Israel Rodri.-
guês BarcelJos.
Dito do Sr. Dr. Latino Coelho, secretario da Academia|
Real das Sciencias de Lisboa, accusando o recebimento do
tomo 30.' da ftevim do Imtimo, remettiJo áquella aca-
.demia pelo Sr, i« secreUrio eonego Fernandes Pinheiro.
Dito do Sr. or. César Augusto Marques, remoitendo ô
Dictzedby Google
D,i.,.db, Google
D,i.,.db, Google
n. 3i6 du PMicailor Maranhense, onílo se acha pulilicadu
um artigo bistorico, escriplo pelo mcsmu Sr. sobrú o Largo
i}u Carmo do Maranhão.
Ptíla Sociodadú Auxiliidora da Itiduslriu Naciuaal, dos
seusjorQdes de Agoslo e Soteinbru do correDio anno.
Pala Sociodadc de Guograpbia de Paris, do seu Balletin
do mez de Agosto.
Pelo Sr. Dr. José Joaquim Tavares Bulfurt, de uraa col-
Iccção dojoraacs, oud» o mesmn senhor tem poblicado
alguus lrjbalh')S sobre a eslalislica da proviacia do Mara-
nhão.
Pelo Sr. r sjcrulario cónego FernauJos Pinheiro, a
obra qtie tem por tilulo— O Brasil e a Inglaterra ou o tra-
fko de africanos, cscrípla pulo Sr. Conselbeinj Tito
Ftancode Almeida
Pelo Sr. Dr. Joaquim dos R imodíos Mouleiro, por in-
lor.nedio do Sr. Dr. Joiio Ribeiro du Almeida,— i/y(/íene e
Educação da Infanda.
Vários join;ics o periódicos, remellidos pulas respectivas
redacções
Todas as offurlas foram recebidas com agrado.
DELIBERAÇÕIíS
O Sr. presidente nomeou o Sr. barão do Bom-Reliro para
siibsUluir ao finado Sr, conselheiro Eusébio de Queiroz,
na pri-sidencia da commissão nomeada pelo InsUlulo para
tratar da erecção do monumento á memoria de José Boni-
Tacio de A idrada.
Dictzedby Google
— 303 —
Foi remellido á commissão de admissão de sócios o pa-
recer da de G;ograiihia, dado sobre o Alias do Império do
Brasil, du Sr.Dr. Cândido Mendes de Alioeída.
ORDEM DO DU
O Sr. Dl. João Ribeiro da Almeida prosoguiu na Icilura
da saà~Meinoria sobre a acciimatação das raçashumanas
para seimr de estudo á colonisação no Brasil.
A's 8 horas, o Sr. Presidenle, obleado vonia de Sua Ha-
gAStado luwDiou a sessão.
Carlos Honório de Figueiredo
SECRETARIO SUPPLENTE.
i5' SESSÃO EM i DE DEZEMBRO DE 1868
HONRADA CO» A tUGUSTA PUESBNÇA DC S. ». O IMPEUADOH
Presidência do Exm. Sr. visconde de Sapueahy
A's 6 horas ds tardts, achando-se presentes os Srs.
vÍS--ODde de Saiiucaliy, har^o do Bom-Rutiro, Drs. Macedo,
cónego Feruaodes Pinheiro, Sousa Fontes, Carlos Honório,
Moreira de Azevedo, Coruja, consGUiuiros Cláudio e Poiítcs
Ribeiro, tencnle-coroael Xavier deBrito, Pinheiro deCam-
pos, SLildanha da Gama, Biaz Rubim, Ribeiro de Almeida,
Pereira de Caslro, Filgueiras, e Miguel António da Silva,
aqnunciou-so a chegada de S. M. o Imperador, o qual fui
rectíbido com as honras que lho são devidas. E)m seguida, o
Sr. pr>3sídente abriu a sussão.
Foi lida e approvada a acta da ultima sessão.
Pelo Sr. i." secretario íoÍ lido o expediente, que cons-
tou do seguÍDle:
Dictzedby Google
— Í66 —
Om aTÍ8o do Sr. ministro do império de 29 de Notem-
bro ultimo, tommunicando ter expedido as necessárias or-
dens ao miuislro do Brasil em Víeaaa d'Austria, para que
este remelti ao Instituto a traducção franceza da obra— Des-
cripçâo do Estado do Maranhão, Pará, Corupd e rio Ama-
zona», por Mawido UeriarU, seodo a despesa descontada
da 2.' prestação que o Instituto tem de receber do ibesouro
nacional no corronie exercido. — Inteirado.
Offiiio do Sr. Dr. José Manada Silva Paranhos Júnior,
no qual communica que deixa de comparecer às sessões por
ser obrigado a retirar-se lemporíamente d' esta cdrle, por
incommodo de saúde.
Dilo do Sr. Alexandre Magno de Caslilbo, agradecendo
ao Instituto a boora de o chamar para o sen grémio, como
sócio correspondente.
Dois ditos do Sr. Dr. César Augusto Marques, remet-
lendo os números do Publicador Maranhense, onde frz pu- .
blicar os seus ariigos sobre a Alfandega e Largo do Carmo
da provincia do Maranbão.
Dito do Sr. secretario da Imperial Sociedade dosNatu
ralisias de Moscow, accusando o recebimento do vol. 30
da Revista d'esle Instituto Histórico, remeltido àquella as-
sociação pelo Sr. V secretario.
Dito do nosso consócio o Sr. Dr. Joaquim António Pinto
Júnior, oferecendo 20 exemplares da Biograpkia [por elle
escripla) do Sr. conselheiro padre Manoel Jcaquim do
Amaral Gurgel.
Findoo cxpediciitco Sr. Dr. Eduardo de Sá Pereira de
Castro pedin a palavra e agradeceu ao Instituto a sua ad-
missão de sacio correspondente, e leu um trabalho sobre o
estado actual do Brasil, em rcUção á Industria, Commer-
cio, elC'
Dictzedby Google
OADEM DO DIA
O Sr. Dr. Macedo propòz para sócio corresp todente do
Instituto o Sr. D. José Rosendo Gaterres. proposto de la
faz. Da Bolívia, e autor da Memoria sobre limites do Brasil
com aquella republica.— Koi a proposta á commissSo de
admissão de sócios.
O Sr. Dr. Jo9o Ribeiro de Almeida terminou a leiturada
sua — Hemoria sobre a acclimeUação das raças humanas,
para servir de estudo d coloniiação no Brasil.
Sendo esia a ultima sessão ordinária do coireate anno, o
Sr. presideDte fez correr o livro das ioscripcões pelos só-
cios presentes, e D'elle se inscrevt^ram.para trabalhos que
tém d? ser apresentados no próximo futuro aono suciai,
os Srs.
Tenente-coronel l*edro Torquato Xavier de Brito,— ffs-
luãos geograpkicos e estatísticos sobre a provinda do Itto
de Janeiro.
Dr. Eduardo de Sá,— o que llie suggerir sobre historia
ou geographia.
Dr. Felizardo Pinheiro de Campos,- Esíudo histórico e
geographico do território da provinda de Minas, para ser-
vir de introdttcção a uma Memoria com o fim de mostrar a
necessidade urgente de sua divisão.
Dr. José de Saldanha da Gama Filho, A Vida do botânico
brasileiro, o carmelita Fr. Leandro do Sacramento.
Cónego Dr. Joaquim Caetano Peruandes Pinheiro, um
trabalho histórico.
A's8horas. o Sr. presideole, obtendo veDÍa deS. U.
o Imperador levantou a sessão.
Dictzedby Google
SESSiO DE AS^EMBLÉA GERAL DE ELEIÇÕES EM 21
DE DEZEMBRO DE lf68
Presidência do Exm. Sr. conselheiro d'Estado
visconde de Safucahy
A's S boras da tarde, a( hando-se presentes os Srs. Vis •
coDde de Sapacahy, cónego Fernaades Piíiheím, Drs. Car-
los Honório, Jo!^o Ribeiro il'Almei(Ja, Felizardo Pinheiro
de Campos, leneiile-coronel Pedro Torquato Xavier de
Brito e AntoQÍo Alvares Pereira Coruja, o Sr. presidente
abriu a Sfssão ^'asseniblèa geral para a eleição dos mem-
bros da mesa e dsis commissOes, que devem servir no nnno
social de 1869; e sendo designados para escrutadores os
Srs. Drs. Carlos Honório e J03o Ribeiro, procedeu-se á
eleição na Tórma dos esUilutos, e sahiram eleitos os Srs. :
PREStDCNTB
Visconde de Sapu&iby, reeleito.
i° VICE-PRLSTOENTE
Barão do Bum-Reliro, reeleito.
2* VICE-PRESIDENTE
Dr Joaquim Manoel de Macedo, reeleito.
3* VICE-PRESIDENTE
Joaquim Norberto de Sousa e Silva, reeleito.
2° SBCRi.TARIO
Dr. José Ribeiro de Sousa Fontes, reeleito.
SECRETÁRIOS SUPPLENTES
Dr. Carlos Honório de Figueiredo, reeleito.
Dr. Manoel Duarte Moreira de Azevedo, idem.
Dictzedby Google
OKADOR
Dr. Joaquim Maooel de Macedo, reeleito.
THESOQKEIEO
AntoQJo Alvares Pereira Coruja, reeleito.
COHHISSiO DE FUNDOS B OttÇAHBNTO
João José de Sousa Silva Rio, reeleito.
Braz da Costa Rubim, idem.
Francisco José Boi^es, idem.
COHHISSÃO DE ESTATUTOS E REDACÇlO DA REVISTA
Barão do Bom-Retiro, reeleito.
D. FraDcIsco Balthazar da SílTeira, reeleito.
AdIodío Alvares Pereira Coruja.
COHHISSÃO DE REVISÃO DE MANUSCRIPTOS.
Teneute-corooel Francisco José Boi^es.
Dr. Carlos Honório de Figueiredo.
Dr. Pellsardo Pinheiro de Campos, reeleito.
COMHISSZO DE TRABALHOS HISTÓRICOS.
Dr. Joaquim Manoel de Macedo, reeleito.
Joaquim Norberto de Sonsa e Silva,
Dr. Agostinho Marques Perdi^ Malheiro.
COHHUSlO SUBSIDIARIA DE TRABALHOS HISTÓRICOS
Dr. José Maria da Silva Paranhos Janior.
Dr. Caetano Alves de Sousa Filgneiras, reeleito.
Dr. João Ribeiro de Almeida.
TOMO IXXI, p. n. 47
Dictzedby Google
comiumo de nUMMOS geooeuphicos
Conselheiro Henpiqoa de Beaorepaire RohM, rseli
(.onselhe.ro Ricardo José Gomes Jardim
Br. GnillienneSchacli deCapaoema.
COMinSSiO StlSIDUMA DE TBJDmOS GEOCTAPEIK
Dr, Giacomo Haja Gabaglia, reeleito
Tenente-coronel Pedro Torqaalo Xavier de Brilo.
ur. José de Saldanha da Gama Jnnior, reeleito.
COMUlSSiO DE »«CHEOI.0<!U E ETOMOGIUHU
Conselheiro Dr. Francisco Freire illemSo, reeleilo.
Conselheiro Dr. CUodio Luiz da Cosia, idem.
Dr. Miguel Antooio da Siha, idem.
COMUISSÃO DE ADMISSÃO DE SÓCIOS
Dr. Agostinho Marqnes Perdigão Malheiro, reeleilo,
Dr. Manoel Duarte Moreira de Azevedo, reeleito.
Dr. JoSo Ribeiro de Almeida.
COHHISSAO DE PESOOZA DE MAWUSCRIPTOS
Dr. António Pereira Pinto, reeleito.
AntODioDeodoro de Pascoal, reeleito.
Braz da Costa Rubim.
A eleiçSo do !• secretario nSo teve lugar este anuo
ter sido feiu em 1867, e ser, pelus csututos, o caiso
euual.
Terminada a eleição, o Sr. presidente declarou qu.
Instituto entrava em férias.e levantou a sessSo.
D,i.,.db, Google
— 371 -
PARECERES
DE
OomniissSes ou oonuxàlSBarlOB espeolaes
PARECER DA COHMISSiO DE FUNDOS E ORÇAMENTO
IlliD. Sr. — A conamissão de fundos e orçamenlo do
Insliluto Histórico e Geograpbico do Brasil lem a boora
de devolrer a V. s., os livros, coDlas e docamentos de
receita e despeza do Sr. Ihesoareiro, acompaohados do
sea parecer sobre as mesmas contas, e do ortameoto qae
lem de ser submetlido á approTação do lostitoto. — Dens
guarde a V. S. — Rio de Janeiro. 22 de Maio de 1868.
Ulm. Sr. Revereodo cónego Dr. Joaquim Caetano Fer-
nandes Pinheiro, 1* secretario. — Os membrosdacom-
missão. — J. J. Sousa Silva Rio, relator. — Franàíco
Joié Borges.
k commíssão de fundos e orçamento, cumprindo o
dever qne Ibe impQe o arl. 23 dos respectivos estatu-
tos, procedeu a minucioso exame nas contas do Sr. ihe-
soureiro, relativas ao anno social de 1867, e acbou-as em
todo exactas e conformes com os livros e documentos
qne Ibe foram apresentados.
Resaiu d'esse exame, que a receita foi de R8.8:993f 70»,
excedendo á orçada em Rs. 72^709 ; e arrecadada pelas
verbas seguintes :
S 1* Jóias dos sócios SOjjiooo
$2* Prestações semeslraes 7l4f000
$ 3" Cobrança de divida activa 456j;000
$4* ÀssignaturaevendadaAeuula. . . . Í488000
Somma 1:398^0
Dictzedby Google
— 8Ta —
TTiUSpOrte . . - 1:3981000
$&• Diridendo de acfSes 375Í000
Jnros de apólices 6Ô|000
$ 6* Jnros de dinheiro em c/c 39|709
$ 7* CoDsigaação do Thesoaro NacioDal 7:000|000
Somma. 8:873f709
i qual tem de se addicionar o ágio na
compra de 1 apólice 120|000
Total. 8:9921709
qne com o saldo existente em Dezembro de
1866, de 6:88S|0I6
Importa em Rs. 15:877r3S
A despeza effectnoií-se petas segaiotes verbas :
$ V Impressão e reimpresso da Revista . 4;39t|200
$ 3* Compra de livros e acqoisíçSo de ma-
onscriptos 1:330|600
S 3* Ordenados e ^encia ...... 2:003S800
$ i* Expediente e eventaaes ..... 92Í|6K0
Somma Rs. 8:t42i([250
quantia menor que a fixada do orçamento,
Rs. K5I|58S.
Da receita acima demonstrada de . . . 15:877|72S
abatida a despeza realizada de 8:4i3|250
ResnlUosaldodeRs 7:435|475
o qnal comparado com o do anno anterior,
de 6:88Sl(0t6
O excede oa qaantia de Rs E!t(Oj|í459
Dictzedby Google
— 373 —
Este saldo consta dos faDdos do iDStituto, que foram
esto aano augmeatados com uma apólice comprada pelo
Sr. tbes)aT^iro, e de dinheiro em c/c Da Caixa Ecoao-
mlca, ou em caixa pa a jccorrer ás despezas do 1" tri-
mestre do aoDo corrente.
Consta elle do seguinte :
Daas apólices da divida publica, de
Rs. 1:0000000 cada uma, e juro de
seis por cento 2:000{|000
âS acções do banco Rural o Hypothecariú
a 2001000 SiOOOjOOO
Di nheiro om c/c 430 1 52
■ em caixa, em 31 de Dezembro
de Í867 . '. 3921323
Somma iMi$iTó
que passam á receita do anno de 1866.
AVista do qno, é a commissão de parecer que sejam
as ditas contas approvadas.
Sala das sessões, em 20 de Maio de 1868. -/. /. Sousa
Silva Rio, relator. — Francisco José Borges.
A commissão de fundos e orçamento tem a bonra de
submetter á approvação do Instituto Histórico e Gec^ra-
pbíco o seguinte :
ORÇAMENTO
Ari. 1.* Corçada a receita para o anau social de t8(i8
na quantia de Rs. 16:3860000, a saber :
§ r Jóias de sócios SOJOOO
% 2° Presta);5es scmsstraes 720<|000
§ 3* Cobrança de divida activa . . . 4200000
Dictzedby Google
— 874 —
Transporte 1:320{000
S i* Assignalura e veoda da RevUta. 180S000
§ 5* DiTideodo de acedes 400f000
§ 6* Juros de apólices ISOfOOO
§7* > de conta corrente . . . 308523
% 8* Subvenção do Thesouro Nacional. . 7:000j[000
8:950f523
Saldo du annu anlurior. . 7:43Kf477
l<t:386|000
Art. 3.* E* fixada a despezi em 8:9501000 dislriboida
pelas s^aintes verbas :
§ 1* Impressão e reimpressão da Revisia
trimental 4:600j000
% a* Compra de livrus u manuscrípios.
§3* Ordenados e agencia, sendo:
Um archivista e revisor 600j)000
Um amanuense. . .
Um porteiro . . .
Um ^ente, gralificação
commiss3o
§4* Despezascom o expediente,
e eveotuaes
Somma. , . . Rs.
60OSO00
480 $000
300SOOO
24«000
1 :600|000
ã:004<000
746t000
8:9S0$000
Art. 3.* As verbas de despezs. á excepção do § 3*,
poderão ser suppridas umas por ontros ; e as sobres da
receita serio depositadas na Caixa Económica.
Sala das sess&es, em 20 de Maio de 1868. = /■ J.
Sousa Silva Rio^ relator. — Francisco Josi Borges.
Dictzedby Google
— sn —
qiH ao mesmo lostítulo dirigiu o Sr. José Luiz AItm,
procurador geral da venerável ordem terceira dos mioimos
de S. Francisco de Paula, a respeito dos restos mortses do
finado sócio fundador do nosso Institato o Sr. marechal
Raymundo José da Cunha Mattos, que jazem n'aqueUa re-
neravel ordem ; e que o Instituto, i vista do ultimo periodo
da referida carta, deseja ootíf a sua commissfio d* fundos,
para poder resoWer definitirameale. — Deas guarde a V. S.
— Secretaria do Instituto fii^rico, no paço imperial da ci-
dade, em 11 de Halo de 1868. — Illin. Sr. JoSo José de
Sousa Silva Rio, membro relator da commissSo de fun-
dos e orçamento do Instituto Histórico e Geograpbico Bra-
sileiro. — Cónego Dr. Joaquim Caebmo Fernanda Pi-
nAetro. 1* secretario.
PABECEKES DE ADMISSlO DE SÓCIOS
A commis^ de admissão de sócios, tomando na de-
vida consideração a proposta de 6 de Dezembro de 1866,
assignada pdos consorios Drs. Joaquim Caetano da Silva,
Carlos Hiinorio de Figueiredo e António Pereira Pinto,
é de parecer que o candidato Sr. Dr. Loix Francisco da
Veiga está no caso de ser approvado membro corres-
pondente do Instituto Histórico e Geograpbico Brasi-
leiro.
Sala das sessões, 23 de Novembro de 1867. — O re-
lator, Agotlmho Marques Perdigão Malheiro. — CluiuHo
Luit da Coita.
ItOTICIA
Filbi) legitimo do cummendador João Pciro da Veiga
e D. Joaquina Rosa da Veiga, naacea o Dr. Luiz Fraa-
TOHO XXXI, p. n 48
Dictzedby Google
J
— 87« —
lD8titato Histórico e Geographico Brasileiro, em resposta
ao que tive a hoora de dirigir ao seu digno presidente
o Exm. Sr. conselheiro d'EBtsdo visconde de Sapuc&hy,
commaDÍcaodo-lhe a existeocia das cinzas do finado ma-
rechal Raymando José da Cunha Mattos, um dos fun-
dadores d'este lostitQto, cujas ciozas existeai guardadas
com religioso cuidado em uma uma ua igreja de S. Fran-
cisco de Paula.
Nada me tem o lostitato a agradecer, porqub serviço
nenhum fiz digno de Ião elevada honra, e se chamei a
atlenção dos dignos associados d'essa famosa arca da
sciencia, foi não só peto respeito devido &s cinzas dos
mortos, como para salvar da indifi^ereaçaasdo dístincto
servidor do Estado a quem taoto devem as letras pátrias,
e para que com ellas nfto acontecesse como ás do famoso
Piodaro da tribuna sagrada, com as do cónego Januá-
rio da Cunha Barbosa.
O Instituto Histórico mediante a quantia de 250j|IO0O
poderá guardal-as em jazigo perpetuo, no cemitério
de S. Francisco de Paula, e assim transmittir à mais re-
mota posteridade sua gratidão para com um de seus fun-
dadores.
Nada mais se me offeiecé dizer ; só serei com a mais
alia estima, respeito e consideração — De V. £x. muito
respeitador e criado. — José Luiz Alvei, procurador geral
da ordem terceira de S, Francisco de Paula. — Rio de
Janeiro, em 17 de Uarço de 1868.
Illm. Sr. — Em cumprimento de deliberação do laslituto
Histórico e Geograpbico Brasileiro tomada em sessão de 8
do corrente, tenho a honra de passar is mãos de V. S.,
como relator da commissão de fundos e orçamento, para
esta dar seu parecer, a carta constante da còpía junta,
Dictzedby Google
— tn -
^■^cu™d"r.°M'°""°'° '^»'" ° "• •"»«••"« ai™..
«*« "ferida !fj f " '°"""'°' "'""^ 'i° "l""» ?="»««>
í>aM poder lili " /í """"^ ' ™ «"■""■ímío J» toíos.
Secretari? ? , . °'''"™'''»-»««»«'»"'«>T. S-
«iodo, em " S r.^'í™"°"«'. "op-çotoperi.! di ci-
Sousa Silva B V ""—'"°'- Sr.JoaoJo.éde
«íos e oream.^'/; " ™'"°' ■•" «inmiMío de fun-
sileiro, -_ cl^ iolesfUilo Histórico . GMgr.pbico Br.-
ríhtin. ». .t?^° . ■ ■'"e?'»'» Coítono fínioniiM K-
• » secretano.
PAKECERE5 DUBwsslO Dt SÓCIOS
Tida consTrt*"^"!* "'"''^o áe sócios, tomando na de-
assignad» ^«'"WO a proposta d« 6 de Dezembro de 1866.
Carlos a.. J?' ™ "°»»"'os Drs. Joaqnim Caetano ,1a Silva,
é de pare J?""" •''«"«iredo e intonio Pereira Piuln,
Veiga esta "" ''°° ° <^°<'W«o Sr. Dr. Lnii Francisco da
pODdenlo ^^°,'^ "' "' "PProíado membro corres-
leiro. """^ Histórico e Geograpbioo Biasi-
lalo^ í?^,,^'*^ '' "• »ovembr.del867.-Ore-
líOTIClx
e Dl''íoagSi''°"L '"' «"""""'Jador Joio Peíro da Veiga
'""° «m, p. n 4g
D,i.,.db,Googlc
i
,**. *f i;ii,5 ""-^ '^je direito I
j^ **->-iM.»j, ,1» qual recebeae
-^ '^ a iv»*.oi Qomeado promotor pi
* -^aicn « jToy, cai^o qne eierceo ^
- ' ' ^ a -^g (Qj nomeado 2* officiaJ da si
J**",- negócios da jusliç*. E em Harç
,^^ jlJâ secretaria ã'Estado dos negocio
,' .' .,«fflercío e obras publicas, emprego qn
\^ gite-
y^^rario do Instituto ScienliOcodeS. Paulo
. f^ firevea elle alguns artigos políticos no pe
j ' fi Maio; d'esta data em diante pablicoí
-,;.' jf 00 Jornal do Commercio e Correia Merca»
vu!* J A ^^^^ collaboroQ na redacção do Contii'
j» «ta cArte, e também no Espectador da Amt-
.-•**'# publicou algQDS artigos.
n.'- ^ artigos trouxe-lhe a nomeação, por parle
■yis municípaes das províncias da Parabyba, S.
iir (oas, Espirito-Santo e Rio de Janeiro, de mem-
r> .«mmissões encarregadas de felicitar o conde
í^jupy pela defesa d'esl6 a favor da jasta causado
3*'j conlra as pretenções do governo da Grã-Bíflt»-
ur
"'^ 18t>2 publicou em fotbeto um estudo histoiico íd-
Dictzedby Google
— 379 —
Em 1863 deu á laz o poama Cartas Chilenas, iítti'
buido a Tbomaz AdIodío Gonzaga, com uma iDlrodacçío,
notas e epilogo.
No mesmo sddo pabltcoa a comedia politica Os im-
possíveis.
Em 18ÕS foi impresso na typograpbia nacional, de
ordam do governo, o Repertório das leis e decisões do go-
verno concernentes d 2' directoria da secretaria d''Estado
dos negócios d'agi'iciUtura, commerdo e obras publicas,
polo mesmo Dr. L. p. da Veiga orgaoisado.
Ainda em 1S6& deu & publicidade am estudo sobre
bistoria e geograpbia antiga comparada com a moderna,
sob o litalo Ás nacionalidades mortas.
Cm l86íi a Biographia de sou pai JoUo Pedro da Veiga,
Em o corrente anno de 18S7 um outro estuda bislo-
tiío. As Revoluções jr^ Braiil desde 1544nl8i8. Bem como
no Correio Mercantil alguns artigos sobra direito pu'ilico
constitucional e politica especulativa.
Rio, 22 de Novembro dJ 18t7. — O relator, ^groííí-
nho Marques Perdigão Malheiro.
A commíssão de admissão de sócios, tendo em conside-
ração a proposta de 24 de Outubro de 1867 do consócio o
Sr. Dr. Guitberme Scbuch do Capanema, e o parecer da
commíssão subsidiaria de geograpbia d' este Instituto, ap-
provado em sessão de 5 de Junho do corrente anno, sobre
o Itinerário da Cruz AUa ao Campo Novo da provinda do
Dictzedby Google
Rio-Grandt do Sul, pelo Sr. HonriqQe Ambaoer Schulel,
é de parseer qao o candidato está do caso de ser approndo
membro correspondente do Institato Histórico e Geogn-
pbico Brasileiro.
Sala das sessSei. Rio, 31 de Jnlho de 1S68. O relator
Â. M. Perdigão Kalhnro.—Dr. Hanoel Duarte Moreira
de Azmsedo,
Illm. Sr.— Estando aoseate da cArte, foi-me remettido
officio de V. S- de 26 de Oatubro passado para com os mais
membros da commissSo sabsidiaria de trabalbos geogra-
, pbicos dar parecer sobre o incluso Itinerário do Sr. Sm-
baaer Schatal.
Qaando regressei estava o Instituto em férias, por isso
sÕ agora forneço as informações ao meu alcance.
Conheci o Sr. Schutel no Desterro em casa do sen tio o
illustrado medico do mesmo nome, pedi-llie alguns escla-
recimentos sobre a proviacia do Rio-Grande, que ellc havia
percorrido: satisfez-me cabaimonte: mais tarde pedi-lhe om
itinerário parj o distrícto de Campo Novo, que tem Interesse
geológico por eiistirem alli jazigos de cobre. EUe ainda
n'isso me serviu, e como encontrei ao trabalho matéria mais
apropriada aos Sns do Instituto do qne a de outras memo-
rias qne serviram de titulo de admÍss3o a diversas pessoas,
offereci-o e propaz o seu autor para sócio.
O Sr. Scbolul tem mandado correspondendas a nosso
favor para as folhas de HilSo, deondeé filho.
No Iienerario incluso vâm apontamentos importantes so-
bre a produccão, colheita e exportação do mate na provín-
cia do Rio Grandu do Sul, que seria talvez conveniente
Dictzedby Google
mandar deseoTolrer mais para estadar meios efScazes de
melhorar essa indaslria.
Gomo talreí ea a9o me possa enconb^r com os outros
membros da comoiíssao, rogo a V. S. se sirva dar-lhes co-
nhecimento d' estes esclarecimentos.
Deos gaarde a Y. S. Rio de Janeiro, 3 de Maio de 1868.
nim. e Revm. Sr. cónego Dr. Joaqaim Caetano Fernan-
des Pinheiro. 1*. Secretario do Institoto Histórico e Geogra-
phlco Brasileiro. — Guilhernu Sehvch de Capanema.
Concordo. Era ntsnpra.— SaídanAa.
líinerario da Cruz Alta ao Campo Novo da Provmeia do
Rio Grande do Sul, a que se refere o parecer acima.
tllm. Sr. Dr. Guilherme S. de Capanema. —Apresso-me
a remetter osapoolamentos sobreo Campo Novo, que V. S.
pediu-me, rogando-lhe haja de desculpar a insuISclencla
do trabalho, não possuindo eu conhecimentos nem tempo
necessário para melhor fazM-o, nem encontrando Irabatlio
algum que me podesso guiar sonSo tradiç-des verbaes.
Não sei se será a prevenção algum tanto desfavorarel não
só estrangeira como nacional que circula contra a provio-
cia do Río-Grandedo Sul, que a tttm privado de nmamono-
grapbia exacta; on que não me tenha vindo ás mãos ne-
nhuma descripçAo circnmstanciada, a n^o ser os Annaei da
provvncia pelo Sr. visconde de S. Leopoldo.
Essa falia é tanto mais sonsivel para a província, que o
seu desenvolvi mento tanto agrícola como industrial não
tem tido o impnlso que poderia alcançar, allendendo não
só á sua posição geograpbica, sen excetleole clima, sua
admirável hydrographia fluvial, como ás suas ríqnissinias
prodacç5os mineraes e vegetaes.
Contrariado com a teitufa bastante erropea e rigorista
Dictzedby Google
em deniuia dealgoos artigos dejornaesillostrados e scie
tiScos, alrevi-me a tomar algumas huUs de mi Dbas viagei
para poder contestar comprovando, quando precisjsse.
Rratetto o resumo d'essas notas a V. S-, dando-me p
feliz se D'ellas encontrar o que deseja.
CilVO-me ao pequeno Itinerário da Cmz Alta ao Cam
Novo, pornãojulgarde interesse aigum para V. S. ore
da dcscripcão, compilada na parle histórica e scienlit
dos Ánnaes do Sr. visconde de S. Leopoldo e de algi
jomaes locaes.
O ponto de partida do meu lUrurario é da villa da Ci
Alia, cabeça da comarca do mesmo aome, sitQada sobn
plató que corda a serra geral, cordilheira que acompanb.
litoral com a denominação de serra do Mar aas provinc!
do N., declina bruscamente ao O. entre 29' de lat.
caoça a 39' 38', e segue a mesma lai. terminando em 5'
10' delong. occiílenlat do lueridiaooae Paris.
Esse plató é considerado por Baibi como fazendo pai
do grande plató que corda todo o systema moDtanboso i
litoral brasileiro, composto de umaserie continua de el
Tac<tes, mais oa menos marcadas, c valles profundos, di:
gindo quasi sempre suas aguas a E.-ES. O. OS. até a s
termioação oriental e occideolalda mesma cordilheira.
A villadaCruzÀ.ltaacha~secoIlocadaenlre3S° 36' dei;
meridional e 23' 26' delong. occídenlaloodeclÍTo occide
tal da Cochilba-Grande, d'0Dde o plató declina insensivi
mente terminando em planicie alagadiça nas costas orie
taes do Urngnay.
As oitiniOes dívei^em sobre a formação da Cochilt
Grande, tida por uns como prolungação da Serra Gor;
por outros como cadêa separada. .Na primeira hypotbese d
monstrarta nm pbenomeno importante na geologia, d3o
pela sua pequena elevação, deprimida algum tanto na 3|
Dictzedby Google
— 888 -
proihoaçio da' Serra Geral, a sQaprolODgac3o aobre oplaló
maDlendo a direcçSo N. S., como também a soa fonnaí^o,
domiaaDdo o basalto e rochas graníticas oa Serra Geral, e
a argilta, o carvão, e oatras slralificaçffes dos terrenos se-
dimeatares na textura geolc^ica da Cocbilha-Graade.
Os terrenos do litoral, comprebendendo a parle meridio-
nal da províacia, cortada pola Serra Gera), da mai^emoccl-
denlal das lagoas dos Patos.Goabyba e Mírino, elevam-se em
pequenas ondulações chamadas cocbilhas qnasi ã allnra da
Cocbilha-Grande, a qual Torma o devorlium aquantm das
principaes artérias fluvíaes da provincia, escoando sem
grandes obslacntos nas lagdas dos Patos e Mirim as orien-
taes, e no Urugoay as occidentaes.
A villa da Cruz Alta é muito importante pelo commercio
das tropas de malas para as provincias de Minas. S. Paulo
e ODtras, e o fabrico e deposito da berra raatte dos berraes
do munieipio, a qual forma um importantíssimo ramo de
fixportaçSo para as republicas limitrophes. E' um dos pon-
tos mais ricos e avantajados da província, e sua p^^siçSo
permitte desenvolver para o futuro o empório commercial
d'aquellas reeiOes.
O municipio da Cruz Alta acha-se encerrado a E. peta
sem do Botucarahy, que a meu ver não é senSo o cume
de uma cordilheira de remota formaçlo ou continuaçifo de
alguma cadôa central; ao S. o versante meridional da Serra
Geral ; a O. 08 bosques de Ijuhy e Jaguary, antigos limites
das missões jesuíticas do alto Druguay; e ao N. os inier-
minuveis matos dos faervaes. Esses bellos campos, initultos
em soa maior parte, possuem uma flora herbácea das mais
variadas, distincta da do litoral, intercorlados por lagea-
dosou riachos de aguas crystallinas, e a temperatura mo-
dificada pela altura torna mais aprazível o viajar-se n' essas
paragens do que nas planícies do litoral.
Dictzedby Google
— a» —
Soffire porém o elemeDlo pastoril com iSovico3oa pastos,
seodo preciso dar sal aos aoimaes bovíDos e muares, sem
o qnal fenecem. A Tegeta{So arboresceote é das m&ísim-
pooenles, semeiando e encerrando de lindos bosqaes todo
o município. Duas estradas condozem da Cruz Alta ao
Campo Movo, om dos tierraes ao N. do manicipio : a estra-
da de baixo flaaqDeaado o versante da Gocbilba-Grande. a
oatra de cima on de carreias percorrendo o come das co-
chílbas. A primeira é menos extensa, porém muilo acci-
dentada e perigosa no inverno, a segaoda offerece facU
viação.
O primeiro pouso partindo da Croz Alta em direcção ao
Campo Novo, remontando ao N. pela estrada de carretas,
foi no LagoSo, peqaeno arrolo que tem nascença em uns
banhados a cinco legnas da Cruz Alta. Franca e attenciosa
hospitalidade foi-nos offerecida pelo Sr. Victor, proprietá-
rio da estancia do Lago9o além do passo, eqoe captou tanto
de meus companheiros de viagem como de mim mni grata
sympatbia. Não é Ião pródigo de liberalidades o habitante
do plató paia com os viandantes, motivo por qae foi-nos
assaz seosivel as maneiras do Sr. Victor, reiteiradas no
regresso da viagem com a mesma cordialidade.
Tive occasião. durante minbas viagens pela provincia,
de notar a differen^ característica, e direi bem distincta,
dos babiiaotes áoplatá e do litoral. Parece que a Serra-
Geral, cortando a provincia em duas partes, dividiu o ca-
racter e índole dos seus habitantes, favorecendo pybsica-
mente ao serrano, desenvolvendo as faculdades racíonaes ao
campeiro do litoral. Essa differença era caracttirisada no
taoipo da descoberta por duas tribns indii;ei>as da intelli-
gente família dos Guaranis; os JIftnuanas em toda a penín-
sula formada pelo Urugnay, a Serra Geral e o mar,'e os
Charruas habitando o plató. Hoje, que não exbtem sequer
Dictzedby Google
09 vesligius d^tissas Iribus, não por toreiu siJo absorvidas
na mesch das laçaii, mas sim por terem em sua maior parte
fenecido e emigrado para us republicas do ceutro ; qual
será a inDuencia d^ossa distincção de caracter? Causas io-
caes, teudencias Iradícionacâ, uu effditos puramente de ori-
gom? Proopino [lor esta ultima hypothose.
O segundo pouso foi na invernada ou fazenda (l'um í^''-
major de origom franceza, antigo oificial nus republi-
cas do Prata. Essa invomada, ou campo fechado para en-
gordo dos gados, diiitd uma Icgua do passo da Palmeira,
pequeno arroio que Lcin nascença dos banliados e saugas
uas adjacências da vlllinha da Palmeira.
Pela estrada de baixo a passagem d'esse arroio é sobro
uma pequena cascata que elle forma, algum tanto perigosa
quando está cheio pela rapidez de sua corrente, molivo
por que preferimos a estrada de cima, onde o arroio não
tem mais que Ires a quatro palmos de profundidade e com
pouca velocidade.
A villinha da Palmeira eocontra-se situada á direita da
estrada na distancia d'uma o meia milba, sobre ama co-
cliillia. E' centro da encruzilhada dos hervaes adjacentes e
deposito das hervas que n^ellea so fabricam, composta de
vÍQt'3 a trinta casas e ranchos de palha, e uma capellinha,
única om todo o Uistricto que tiaha sacerdote.
Na seguinte noite peraoitámos a'um alpendre aberto
por três lados, o infelizmente por um d'elle9 soprava um
venlozinho acompanhado de chuva fina e fria, que nos re-
gelava até os ossos, e nos impossibilitava de manter o fogo
acceso. E' na paisagem do arroio por nome Novaes, divisa
da estancia do mosmu nume, à esquerda da estrada, n'iim
pequeno rancho, habitação do posteiro, tendo uma intitu-
lada venda, sem cousa alguma alimentícia, nem sequer
TOMO XXXI, P. U ■ 48
Dictzedby Google
um pouco de pbilantropia do seu proprietário para n
veoder uma galliaba.
Passámos no dia s^uinte pela encruzilhada formada d
duas estradas dos hervaes, fazenda juncção D'esse pool
Os Èampos, até ahi de admirável fecuadidade, de terrei
areenlo, cessam completamente, priocipiando doesse poi
um terreno de argilla vermelha mui escorregadiça e fn
lurada, entrecortado de sangas barrentas e atoleiros. A i
getação herbácea cessa como por encanto succedendo
aridez desoladora para os carreteiros, apenas algun
macegas reverdecem as cocbilhas d'um verde amarellad
Porém o que torea-se notável é a quantidade de codon
e perdizes que se encontra, das quaes caçávamos algum
a chicote, alimentaudo-nos de sua saborosa carne i
Os bosques tornam-se mais espessos e annunciam ou
região não menos imponente. A' esquerda vém-se as ma
do Ijuby a perder de vista, limite, como já disse, :
missões jesuíticas, oude vinham das costas do Urugi
grande numero de índios fazer berva para o consumo
cateclieses, o abaslecer de quarenta a cincoenla mil at
bas os mercados de Santa Fé e Corrienles.
Esse commercio favorecia um dos módicos rendimer
dos santos martyres do apostolado calholico nas glorie
missões do 0ruguay e Paraguay, e na desinteressada i
bl(3o do proselytismo de humaDitario alarde encontrai
as fabalosas sommas com que affroatavam os golpes do li
ralismo social.
Centenaresd'e8ses infelizes indígenas, segundo os osc
tos do Sr. visconde de S. Leopoldo e Bomplaod, perecei
à fome, fadigas ou perigos nas longínquas matas dos \
vaes; outros eram capturados por quadrilhas de pauli
á caça d'eile3 para vendâl-os nas provindas do nortt
Dictzedby Google
— 387 —
outros emfim tíTeram a gloria de combater pela inviolabi-
lidade dathflocratica repabiica, contra a expedição de limi-
tes, o qoe promoveu segando aos a causa principal do
ramoso edicto do marquez de Pombal.
Lamentável destiao d'uma raça merecedora de melhor
sorle ; onde quer qne a raça branca abordasse, quer fossem
audaciosos conquistadores de abjectas ambioSes, oa faná-
ticos calecbisadores d'uma crença diametralmente opposla
ao evangélico espirito persuasivo do Divino Mestre, o mí-
sero índio sofireu o contagio, perecendo sem merecer
compaixão.
Tanto os matos de Ijuby como os do Botucaraby a E-NE
ligam-se sem iaierrupção, a não ser pequenos campes-
tres DO primeiro, du immenso bosque do Campo Novo,
antigo mato castelhano. Oceano grandioso de verdura que
abrange, segundo a opinião de Humbotdt e de Rojer
n'uma carta geographica das republicas do sul, toda a
região comprebendida entre Uruguay, Paraguay e Paraná.
A estimativa de algumas estatísticas dão 1,70U léguas qua-
draihis de bosques pertencentes á província, porém joigo-a
inferior d'uma terça parte.
Passámos a quarta noite em casa d^uro velbo paulista
á esquerda, n*uma baixada um pouco retirada da estrada.
Esse senhor, recommendavel por suas maneiras francas
e cordíaes, pertencia á briosa populaç9o paulista affoíta e
exploradora, a quem o Brasil deve a maior parte de suas ex-
plorações no interior de seu vasto império, incluindo a
província do Rio-Grande, na qual penetraram por cima da
serra, apropriando-se do que lhes fazia conta. No dia
seguinte avistámos o recanto onde existe a picada do berval
do Campo Novo.
O ponto de vista que se desenrola da proeminência
Dictzedby Google
d'iinia cochtlha antes de chegar á picada è dos mais gran-
diosos.
Por lodos os lados o horizonte é obscurecido por uma
barreira verde-nogra dn soberba vegetação dns inatas se-
culares, e essa imponente perspectiva era apenas iurbada
pelo ronco piar das aves de rapina. A entrada da picada,
por menos timorato que seja-se, quando ó a primeira vez
que se peneira n'amn mata virgem, sente-se certa emoção,
que leva inslinctivamenle a revistar as armas, como se
fosse possivrl divisar o perigo por enlre a espessura de
troncos, Tolhagem c cipós.
No principio a picada é boa, porém pouco a pouco
torna-se, na descida das cochilhas, de diflicit transito,
devido ã numerosa passagem de carretas sobre o terreno
húmido, não podendo os raios do sol penetrar por entre
as copadas arvores. Graciosos bosques do ulilissimo taqua-
russú bordam a estrada, c o bello itcx-congonha ostenta
seu altivo porte e sua lustrosa e productiva folhagem.
Após dnns léguas, pouco mais ou menos, de picada pene-
trámos por uma porteira no campestre do Campo Novo.
denominado antigamente Inhocoré-guassú, de cinco léguas
de circumpherencia. Esse campestre, segundo a opinião
dos engenheiros da estrada para o alto Urnguay, acba-sc
situado entro 27" 30° do lat. meridional c 55' 26" ác long.
occ. 3i léguas no N. da Cruz Alt3, é de árida appa-
rencia como o terreno que tínhamos passado, mui fractu-
rado o não tendo pasto algum para os animaes, os quacs
alimontam-se dos vcrtieillos do taquarusíi. Circulando a
esquerda encontrámos na encosta septcrtrional do bosque
oito 011 dez ranchos, três dos quaos occnpados por enge-
nhos de socar on moor lierva mate. Um dos ranchos é a
venda d'um meu címpatriola o Sr. Pedro Pagg', onde hos-
pedámos e recohòraos franco acolhimento.
D,:„l,;cdtv Google
Os engenhos d'essi] recanto servent-sc, como todos os do
Campo Novo, das aguas d'uns regatos para m^itur, os qaaes
aflluem no Turvo, que serpenteia na costa soplenIrioDal do
campestre. No dia soguintc, costeando a margem do Turvo
passámos polo Povinho, aggiomoração do dez a doze ran-
chos o alguns engenhos. O terrono Q'usse lugar é pedre-
goso c mais árido aiodj, e por sua cdr indica a presença
de mincraes metalifcros. Não pude saber d'ondo foi ei-
trahida o Tragnionto rle rocha cobríÍL-ra que tve a honra
de remetter a V. S., porém não deve ser mui distante
d'essa localidade.
Do Povinho dirigimo-nos ao O. Após tertnos passado
outros tagcados allluentcs do Turvo entrámos no povo do
S. Xavier.
Cotiposto d'uni grupo de trinta a quarenta casas do
pobríssimo aspecto, o povo do S. Xavier len uma forma
irregular, uma capelltnha situada na extremidade da pra^a,
e os engenhos succedendo-se á hcira d^um riacho. Tendo
deixado os pi^es c a cavalhada antes de Iranspfic o riacho,
dirigimo-nos á residência do Si-, capilílo João Pedro de
Campos, para quem eu traicias varia.^ cartas de recom-
mondaçAo.
Apraz-rae citar n'cslos apontamí^nlos o nome do Sr.
Campos, não só pelas delicadas attençdes c coodescen-
dcnle bondade, de que usou (lara comnosco, como pelo
caracter enérgico, reclo o humaniiario que possuo. I'ri-
meira autoridade poliria! do districto, merece os encómios
do governo imperial e a estima e reconbccimcnto dos
babilanles do Campo Novo por seus releviínles serviços.
Justiceiro c harmonisador, porém recto e inflexível no seu
dever, é eite a força moral que reprime os máos instinctos
da heterogénea e pouco escrupulosa população dos hervaes
circumvizinhos. Ilrioso quão ínlelligenle, tem melhorado,
Dictzedby Google
— 300 —
quanto é possível a um só homem, a Gscalisação e aper-
foiçoamento de Ião productivo commercio, alcançando nas
bervas de seu fabrico igualar a bondade e qualidade das
do Paraguay, avaotajadas nos mercados do Praia.
Á. população dos bervaes coinpõe-se em grande parte
de desertores dos batalhões de lioba, de indivíduos de
equívocos precedentes, e mulheres de pouquíssima consi-
deração, com quem vivem livremente; elevando-seap-
proximativameote a 3,000 iadíviduos dos dois sexos.
Consciências elásticas e mãos instínctos presidem entre
ellos em seu commercio. o a impunidade, que podem gozar
embrenhando-senos matos pelo labyrintbo de trilhos só
por elles conhecidos, os incita a praticar actos reprováveis
e algumas vezes cruéis.
O campestre do Campo Novo, segundo me informou o
Sr. major Borges, velho catharlneta morador do Povinho,
a queoi se deve o reconhecimento do alto Uruguay, fdra
descoberto em 184.... por uns caçadores, os quacs leodo-se
perdido DO mato, viram a pcpoena distancia levantar-se a
fumaça d'alguma fogueira, e diriginJo-se D'esse rumo não
encontraram ninguém. Altestaram, porém, já ter tido lia-
bitadores uma cruz com ínscripção em portuguez, uma
roda de carro, algumjs teibas e traços d'uma estrada de
carretas. Uma caria gcographica dos jesuítas dava D'essa
lat. nm campestre denominado Vaccas-Brancas. no qual-
a crença popular hr.ià o Juposilo das riquezas dos míssios
narios, e a moradia de uscetícos anacboretas de torturada
privações. Nada foi eucontrado, nem podiam: o povo
apraz-lhe forjar formosos eldorados e grutas de Monte
Christo em toda a parte. Os jesuítas não eram uma ordem
contemplativa; ao contrario, eminenlemenle políticos, não
lhes convinha o ascetismo, e mm t3o pouco accumular
capitães ímproductivamente.
Dictzedby Google
o fabrico das hcrvas, que eleva-se aduzenlss mil arrobas
por safra, carece de severas medidas fiscaes, tanto para a
conservação de tão producUvo commercio, quanto para a
bondade do sua qualidade. O Sr. capitão João Pedro de
Campos tem envidado todos os seus esforços para coDveucor
praticamcDle que a vantagem das hervas do Paraguay,
duplamente pagas que as das missões, é devida ao cuidado
que tem o hcrveiro no desgalbar somente vegetaes robus-
tos, dessecal-os e moer promptamcnte para não perder a
fragrância e a c6r, que naturalmente perdem expostos ás
intempéries. No eugenlio requer lambem o caídado de
n3o aventar, coudicionando-a e removendo-a com cuidado.
Nada, porém, convence a sórdida e brulal ambição dos
herveiros. Destroem o regelai derrubaodo-o para o des-
gaibar; deiíam os galbos estacionar pelo cbãooo, lugar
onde desgalbaram, emquanlo não tém quantidade avul-
tada para às levar ao carijó e dessecal-os ; mesclam diSe-
rentes vegetaes para terem maior provirão, e condiciouam
de maneira que muitas vezes purdem o fruclo de suas
fadigas.
Tosco bastante é aiada o systema pelo qual remoem a
berva, serviodo-se de engenhoj de dez a doze pilões com
enormes rodas, de moinhos e eixos, movidos pelas aguas
dos tageados, as quaes conduzem com muito desperdício.
Servem-se também do monjolo, o qual é um pilão com
um braço em forma de colher, a qual encbendo o faz Ie~
vaelar, recabiado o pilão logo que u receptáculo derrama a
aguj. Creio que não alcançam moer duas arrobas de berva
por dia por esse modo. Esse ramo de comiuercio escas-
seará para o futuro, se, como ja disse, Dão bouvcr uma
fiscalisação enérgica, possível sómeiite quando fôr com-
preboadida a importância de t3o lucrativa industria. Enor-
mes gastos acarreta ao commercio dos hcrvacs a grande
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distaocia em que se acham os bervaes. mórmeote, pela
morosidade dos moios de Iraosporte. Carretas puxadas
a seis e oílo bois não transportam mais de cem a cento
e dez arrobas de horva, e o lempo quo levam no trajecto
dos bervaes missioneiros ao passo do Ijoly, o d'ahi ao
passo do Itaquy, e muitas vezes á Uruguayaoa, quando o
Urugaay eslà baixo, c de dois a trcs mezes.
A época da safra é nos mezes bibernaes, om que a vege-
tação está em repouso e favorece a arrebentação ua pri-
mavera ; e isso ó um dos airazos ã rápida coodncçSo. Muitas
vezes o carreteiro vè-se obrigado a descarregar as berras
00 meio do campo por qualquer iocídeale dos muitos qoe
se dão, e a bumidade que possa penetrar nas bervas é
sufficíoDte para deteríoral-as.
Dm grande inconveniente para esse commercio é que as
bervas das missões e Botucaraby não cbegam ao mercado
do Prata sen&o depois d'elle estar abastecido petas bervas
do Paraguay, o que diminue muitissimo o seu valor, além
de terem absorvido maior despeza. Estes contratempos
foram previstos pelo governo provincial, o qual ordenou
a abertura d'uaia estrada do herval da Guarita ao alto-
Uruguay.
Mo foram, porém, beni tomados os dados para melhor
j-acilitar os meios, e essa estrada não pôde offerecer van-
tagem notável, attendendo a que tem que percorrer nove
léguas de picada, e encontra-se com o Uruguay acima do
Salto-Graode, obslacnlo enorme para a navegação fluvial.
O campestre do Campo Novo teria ofTerecido menos dis-
pendiosa, mais fácil e muito mais ulil realização. A dis-
tancia que o separa do alto Uruguay é de seis léguas
pouco mais ou menos, ficando abaixo do Sallo-Grande ;
utilisando o Turvo, arroio de quinze léguas de curso, lendo
cinco legnas em igual direcção do Uruguay, permitlindo
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— 3a3 —
por meio de estacadas aproveitar o volume de suas aguas,
teodo juatameate na época da safra fundo suficiente para
a naTsgação de cbalanas ou mesmo de jangadas á imitação
dos Estados-Unidos. Uma estrada do campestre do Campo
Novo ao alio Uruguay não seria tão somente para o com-
mercio das hervas de económica e urgeale realizarão,
desetivolveria ootrosím immeasas vautagens para a ex-
ploração d'outros ramos do commercio e industria. A eiís-
teocia do mineral de cobre é incontestável ; não me sendo
possível dar os informes que V. S. pediu-me, creio,
porém, que a sua pasíç9o deve ser exterior, oào crendo a
pussibilidade de que bajam foito excavações para obter o
frdgmenlo que tive a honra de remelter. tirande numero
de especuladores remontam o aito Uruguay, e arrancban-
(lo-se no mato construem cascos de navios, carregando-os
de madeiras de lei, descendo o rio quando offerece as en-
chentes de periódica regularidade. Essa fraude, impossível
de obstar por ora, poderia sâl-o centralisando no Campo
Novo ama guarnição militar de duzentos a Iresentos homens,
a qual protegeria o coramercto das hervas o sua liscali-
sa^o, a conservação da estrada, manteria a ordem pu-
blica, e chamaria grande afflueDcia de especuladores em
pouco tempo.
O Peperi-guassú, aOluiudo no Uruguay na loog. do
Campo Novo, limite politico do Império com o Paraguay,
oão tardará em ser por estes utilisado em via de ccmmu-
nicação, e poderão uSo só ser concorrentes em dupla van-
tagem ao commercio das hervas, como viriam a importal-as
DO Rio-tirande, como acontece com o gado do Estado
Oriental, que, além de ser em concorrência uòs charques
com as províncias do norte, a província do Rio-Grande
lhes favorece maior proveito, comprando-! bes o godo,
considerado de melhor qualidade.
TOMO XXXI, P. 11 âO
Dictzedby Google
— 39( -
Haitisaimas espécies de madeirdS de lei próprias para
a marceaaria, a constniccSo t>aval e oatros ramos de ío-
dQStrja puilem ser fdcilmeDte extrubidas, e offereceriam
fácil e lucroso commercio nas cidades c villas do longo
corso do Urugoay.
Resinas e gomoias procaradãs pela industria e phanna-
cias encontram-so eiii graode quantidade, o qoe promove-
ria com vários fructos silvestres um ramo imiportaQte de
especulação.
Esses differentes géneros de exportação angnieotariam
a renda publica, o serviriam do attracUvo a uma emigra-
ção tanto estrangeira como uacioDal para esse ponto de
florida perspectiva.
Rogo, porém, qoe V. S. haja de considerar estas mlobas
observações como mero parecer, descutpando-me a íosof-
flciencia dos necessários conhecimenlos.
Queira Trancamente dispor do
De V. S.
Attento venorador e criado
Hmriqtu Atéauer Schuttí.
Rlo-Grande, 30 de Selembro de 1867.
A commissão de admissão de sócios, aquilaluido devi-
menle a proposta de 5 de Março do corrente anno, assíg-
nada por todos os consócios presentes á sessão d'esse
dia, e adherindo inteiramente á mesma proposta, é de
parecer que o Exm. visconde de Inhaúma, vice-almí-
rante Joaquim José Ignacto, está no caso de ser appro-
vado membro honorário d'este Instituto por^sua iUostra-
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ção, emlneales qualidades a relevanlas serriços ao Im-
pério.
Sala das sessões do Instituto Uisiorico e Geograpbico
Brasileiro, 23 de Maio de Í96S. — O rehior, Agostinho
Marques Perdigão Malheiro. — Dr. Matwel Duarte Mo-
reira de Azevedo.
A cooimissão de admissão de sócios, teodo em attençio
a proposta de 32 de J^ovembro de 1867 do codbocío o
Sr. cónego Dr. J. C. Fernandes Pinheiro, é de parecer
que o Rerm. Sr. padre Brasseur de Bourbourg está no
caso de ser admiUído membro correspondente do Insti-
tuto Histórico e Geograpbico Brasileiro. Sábio ameríca-
oista, autor de diversas obras, e especialmente relativas
á archeologia meiicana, é o candiílalo um eiimlo cultor
das letras, um espirito investigador, sobretudo das cousas
da America.
Sala das sessSes, em 31 de Jutbo de 1868. — O relator,
Agostinho Marques Perdigão Malheiro. — Dr. Manoel
Duartfi Moreira de Azevedo.
A oommissão de admissão de sócios, teaduem vista
a proposta do consócio o Sr. cónego Dr. J. C- Fernandes
Pinheiro, de 5 dtijuabo du corrente auno, é de parecer
que o Sr. Vivien de Saint-Martin eslá do caso de ser ad-
miitido membro correspondente do Instituto Hislorico e
Geograpbico Brasileiro. Vice-presidente da Sociedade de
;dby Google
— 396 —
Geognpbia de Paris, membro correspondente de varias
sociedades litterarias, cavaileiro da legião de boora, é
o caDdidato autor de varias obras e memorias de histo-
ria e geographia, das quaes alRomas tfim sido premia-
das. Enire ellas occupa distincto lugar L''Année géoyra-
phique \ revista annual de viagens terrestres e maritimas,
explordçOes,missões. publicações sobre geographiaeethDo-
grapbia, de lodo o globo ; o volume do 6* aono foi pu-
blicado em 1867 ; obra estimada.
Sala das sessSes. em 3t de Julho de 1868. — O rela-
tor, Agostinho Marques Perdigão Halhtiro. — Dr. Manoel
Dtiorte Moreira de Azevedo.
À commissão de admissão de sócios, coosiderando a
proposta do consócio Sr. cónego Dr. J. C. Fernandes Pi-
nheiro de 22 de Novembro de 1867, c de parecer que o
candidato Sr. cavalleiro José de Laca está no caso de
ser admlttido sócio correspondente do Instituto Histórico
e Geographico Brasileiro. Prolepsor de geograpbia e esla-
listica na universidade de Nápoles, secretario da facul-
dade de letras c philosopbia na mesma universidade,
antor de diversas obras scientiAcas, entre as quaes so
distinguem a Descripção Geographica Histórica e Admi-
nistrativa da Itália 3leriàional e as Cartas Náuticas da
Idade Média da Itália, c sem duvida o candidato um apro-
veitado cultor das letras.
Sala das conrerencias, em 31 de Julho de IS68. — O
relator, A. M. Perdigão Malheiro. — Dr. Manoel Duarte
Moreira de Asevedo.
Dictzedby Google
— 3«7 —
A commissãii de admissão de rocío;;, attendenr1o& prn-
posu de 22 NoTembro de 186T do consócio o Sr. cóne-
go Br. J. C. Fernandes Pinheiro, é de parecer que o can-
didato o Sr. Alexandre Magno de Castilho, 4* tenente da
armada pnrtugueza, e autor do Holeiro da Cotta Occiden-
tal d' Africa, esiá no caso de ser admiltidn membro cor-
respondente do Instituto Histórico o tieographíco Brasi-
leiro. Pilho do conselheiro José Feliciano de Castilho,
membro de ama distincla família de litteraios, o Sr. Ale-
xandre Magno de Castilho tem dado provas deqoetem
em grande apreço as letras; aqaelle trabalho é dito nm
documento vivo, elogiado pelo Sr. Mendes Leal, sem dii-
Tida juiz competente.
Sala das sessões, em -It de Julho de 1S68. — O relator,
A. M. Perdigão Malheiro. — fír. Manoel Duarte Moreira
de Ãxevedo.
Á commíssão du admissão de sucins, tendo emvistd a
proposta de 17 de Julho corrente assigoadu pelos cunso-
cios os Srs. Drs. Caetano Alves de Sousa Pilgueiras,
Carlos Honório de Figueiredo e tuncnle-coronel Pedro
Torquato Xavier de Brito, é de parecer que o Sr. bacha-
rel Eduardo de Sá Pcrciía de Castro está no caso de ser
admittido membro correspondeu lo cl'estu Insiitutu.
O candidato 6 bacharel um ma^hemalicas u sciencias
pbysicas, tenente reformado do exercito, c professor de
matbemalicas na escola militar, onde roge lia dois annos
a cadeira do historia c geographia. E' autor de diver-
sos escriptus, entre os quaes sobrcsahcm uai syslema de
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leitnra, am explicador de arithmetíca, ama metrologia,
ama geographia astronómica, e biograpbias dos heróes
brasileiros oa actual campanha do Sal. Sio titalosqae
recommendam e provam as habilitações do Sr. Pereira de
Ca!itro.
Sala das coafereDcias do Instituto Histórico eGeogra-
phico Brasileiro, em 31 da Jalho de 1868. — O relator,
Agoitinho Marques Perdigão Mallmro. — Dr. Jfonoel
Duarte Moreira d$ Aieoedo.
A cftmmissSo de admiasSo de sócios, tomando na de-
vida coDsideraçSo a proposta dos consócios os Srs. Dr.
Carlos Honório de Figneiredo e cónego Dr. J. C. Fernan-
des Pinheiro, é de parecer que o candidato o Sr. José
Haría Pinto Peixoto está no caso de ser admittido mem-
bro correspondente d'e3t6 Instituto.
Filho legitimo do general José Haria Pinto Peixoto, e
nascido n'esta cdrte aos 4 de Novembro de 1825, tendo
feito as suas humanidades o o curso da aula do commer-
cio, dedicou-se à carreira diplomática, onde servia de
addido Q secretario na Europa e na America, âemKUn-
do-se em 1855. E' moco Bdalgo com eiercicío na casa
imperial e commendador da ordem do Chrislo. Escre-
veu artigos sobre a livre navegação do Paraná, aberlura do
Amazonas, questão com o Paraguay por occasião da missão
Pedro Ferreira, questão do Oyapock, qaestSo de proprie-
dades brasileiras no Estado Orientai, atém de outros as-
sumptos. Não menos notáveis foram uns artigos pelo
picsmo poblicados no Mercantil de Petrópolis sobra o
Dictzedby Google
— 399 —
Senhor D. Pe Jra I par occasiSo da ÍDaaguração ita esta-
tua equestre do fuodador do Império ; esses artigos re-
faodidos tèm boje por titulo DtMs palavras si^)re
D. Pedro I na época da independência, e em maous-
cripto o seu aulor offereceu a este lastítuto em 1863.
Sala das sessOds, em 7 de Agosto de 1868. —Ore
lator, Agostinho Marques Perdigão Malheiro. — Dr. Ma-
noel Duarte Moreira de Azevedo.
Dictzedby Google
Do.icdt, Google
SESSÃO MAGNA ANMVERSARU
DO
INSTITUTO HISTÓRICO t GEOGIlirillCO BntSILÍIRfl
NO DIA 15 DE DEZEMBBO DE 1868
DISCURSO
DO PRESIDENTE O SR. VISCONDE DE SAPUCAHY
Dois illustres brasileiros, distiuclos peio saber e palrio-
(isoio, a um dos quaes deve o Brasil eoi grande parte o des-
envolvimento dos meios adequados ao conseguimento de
sua independência politica, esses dois Brasileiros, desejando
que a pátria fosse devídamenle conbecídaeaprecíada eutre
os estranhos, porque d'èsse conhecimento lhe resultaria glo-
ria, e convencidos da necessidade de que os natucaes Dão
ignorassem as vantagens da terra natal, eo quanto valiam
seus maiores, conceberam a grandiosa idéa da creaçâo de
uma sociedade, a que, de accordo com o programma que
traçaram, deram o nome de Instituto Histórico e Geogrephico
Brasileiro.
Sabiam esses doutos patriotas que muitas pennas, aliás
illuslres, tinbam escrípto memorias, aonaes e relatórios das
cousas do Brasil; mas faltava uma historia bem organisada
quê apresentasse aos olhos dos nossos e dos estranhos um
quadro fiel de pouco'mais de ttes séculos, em que se visse
a marcha dos nossos successos ralacionadosenlre sidesdea
descoberta d'esla parto do Novo Mundo.
Figurai-vos, senhores, as peças necessárias á construc-
Ção de um grande edificio, confusameilte derramadas em
TOHO XXSl, P. II 51
Dictzedby Google
— 402 —
um rasto campo, Dão podendo por isso apresentar á admi-
ração do munJoo mai;es(oso espectáculo que the oITerecem
essas obras que ainda alTrontara o poder dos séculos ; e vós
tereis uma idéa da importante tarefa que sobre os hombros
tinha de to.nar o projectado Instituto Histórico e Geogra-
phico do Brasil, acompanhando a civilisação da pátria, cujos
progressos se tornam mais rápidos de dia a dia.
Seria o encargo da sociedadci reunir primeiramente do-
cumentos incontestáveis, despil-os de quaesquer sombras
que os possam tornar duvidosos, e assim oITerecúl-os a fu-
turos historiadores, como indispensável material sobre que
trabalhasse a sua critica e a sua pbilosophia.
Eis a concepção dos arrojados emprebeodedores, que,
ajudados de raais 3S verdadeiros crentes, conseguiram, sob
os auspícios da illustre sociedade Auxiliadora da Industria
Nacional, o desejado fim.
Inaugurou-se o conselho administrativo da nascente as-
sociação, composto de doze membros, dos quaes existem
apenas dois, o conselheiro Alexandre Maria de Mariz Sar-
mento e o actual presidente do Instituto Histórico e Geo-
graphico Brasileiro, que tem a honra do dÍrigir-vos a pala-
vra n'este momento. Tão abundante tem sido a ceifa da ni-
veladora fouce !
Surgiram desde logo sinistros agoureiros, que prognosti-
caram a recente sociedade ephemera duração.
p. E' planta exótica no Brasil, diziam, não pôde medrar
fora de sua zona. »
A fé e perseverança dos fundadores, o patriotismo dos
brasileiros, os auxílios do governo, e sobretudo a protec-
ção pessoal do monarcha, zombaram do malfadado agouro,
e sustentaram a empreza a ponto de atlingir hoje o sexto
lustro de existência.
Dictzedby Google
— 403 —
E aqui estamos, senhores, iacolumes para celebrar a so-
Icmne sessão aoniversaria de sua inauguração, e dar-vos
conta dos successos do anno que Andou.
Além das provas do cumprimento de deveres exbibidos
na Revista Trimensal, vereis no bem Iraf^do relatório do
erudito 1° secretario qual foi a marcha do Instituto n^esse
período ; tereis conhecimento dos factos occorridos, e a re-
senha dos trabalhos de própria lavra dos illustres consó-
cios, assiduos nas reuniões determinadas pelos nossos ar-
tigos constitutivos, e essas reuniões nem uma só vez dei-
xaram de ser honradas com a augusta presença de S. M. o
Imperador, pntneiTO sócio do Instituto e o mais interessado
no seuprogresso, segundo a memorável expressão da allo-
cuçâo do 15 de Dezembro de 1849, que tão alto coliocou a
sociedade.
Aqui apenas adiantarei que, sem aparlar-se da habitual
circumspecção que o distingue, o instituto recebeu este
anno em seu grémio Hlteratos distinctos e esperançosos.
Bem vindos sejam os novos obreiros. Venham robustos dar
impulso á mageslosa fabrica em que estão empenhados an-
tigos lidadores, já merecedores de allivío, bem que firmes
em seu honroso posto.
Desapparecõram do nosso quadro, arrebatados peta fatal
ueccssidade, companheiros prestantes, cujos nomes e pe-
regrinação sobre a terra o illustrado orador recommendará
á posleridade com sua olocação encantadora.
Concluindo, cumpro ogralo dever ; l", de agradecer aos
supremos poderes do Estado a benigna allenção com que
lèm acolhido o Instituto, já subsidiando-o, já ministrando-
Ihc documentos c fazendo communtcações que muito faci-
litam a espinhosa vereda por onde caminha ; 2', de render
graças aos conspícuos cidadãos que não desdenharam o
Dictzedby Google
convite do Instituto, e dignaram-sfl de honrar com sua prn-
sença esta fest* litteraria.
A V. M. Imperial, senhor, e á excelsa Imperatriz do Bra-
sil Dão tenho eipressões que demonstrem os sentimentos
de respeilo e do animo agradecido. Seja o silencio o signal
da grandeza do reconhecimento dolnslituto aos beneficias
que lhe t^m sido Ião liberalmente dispensados.
Está aberta a sessão.
Dictzedby Google
RELATÓRIO .
DO PRIHBIBO SECB8TAB10
CÓNEGO DR. J. aETANO FERXANDE8 PINHEIRO
Senhores. — Singular pheaomeno passa-se u nossos
olhos, phDaomeno que sem duvida lerá repetidas vi>zes
formado assumpto de vossas cogitações : a vida nos corre
mais ligeira do que aos nossos maiores ; vivemos mais em
menos tempo.
Transpostas as barreiras que a prendiam, como um cír-
culo do inferno de Dante, a humanidade, atrelando a seu
carro o cavallo d^moamíco e fazendo da electricidade pos-
tilhão, riscou dos diccionarios a palavra impossivel. Mas,
semelhante a esse generoso falerno de que nos falia Horá-
cio, que a miúdo estalava as amphoras que o continham, as-
sim o homem de hoje envelhece prematuramente : alve-
jam-se-lhe os cabellos ou desnuda-se-lhe o craneo, na
mesma sazão em que outr^ora resplandeciam seus avós de
mocidade.
Occorreram-me estas reílexões quando colltgia as bases
para este relatório, recordando-me que solemnisamos o
nosso trigésimo aniversario, e que poucos [ahl bem pou-
cos !) são os romeiros d'essa patriótica peregrinação que
vejo sentados n'estas cadeiras, ou que por motivos impe-
riosos deixaram de concorrer ao nosso jubiléo ! !
Trinta aiinos, senhores, na vida dos povos modernos,
correspondera a três séculos na dos unligos ; por isso o sá-
bio Babinet, maravilhado do miraculoso progresso em que
víimos, propdz quo a década substituísse ao século.
Lançando rápido olhar para a historia da nossa associa-
DictzedbyGoOglC
— 4oe —
cão Teremos confirmado o que á primeira vista parecerá
paradoxo.
Em Agosto de 1838 dois beneméritos cidadios (um mi-
litar e um padre) propuzeram ao conselho administrativo da
sociedade Auxiliadora da Industria Nacional a creação de
um Instituto, que se occupasse de centralísar os immersos
e preciosos documentos esparsos pelas províncias e que
podessem fervír d historio egeograpbia pátria.
Aceita a idéa, fundou-se o nosso Instituto sob a presi-
dência de um venerando aaciâo de saudosa e immorre-
doura lembrança. Passado o primeiro assomo do enthusias-
mo, congénere aos povos meridionaes, o desanimo e a
descrença coáram-se pelos poros da nova sociedade, sendo
então preciso que três atlantes carregassem sobre seus
bombros o tabernáculo da scÍencÍa.D'estes três atlaoles pede
a justiça que faca eu aqui expressa e honrosa meucão do
mais vigoroso, mais activo, quiçá mais dedicado, D'uma pa-
lavra do cónego Januário da Cunha Barbosa, a quem in-
dignamente succedo, d'esse prestimoso ccclesíastico, que
descobriu o segredo de ser ao mesmo tempo útil á religião,
ás letras e i pátria.
Bem que favorecido pelos supremos poderes do Estado,
definhava o nosso Instituto : e muito de vós se lembrarão
do tempo em que as nossas sessões eram apenas concorri-
das pelo limiladíssimo numero de sócios exigidos pelos
estatutos. O dia 15 de Dezembro do 1849 raiou alGm no ho-
rizonte das letras : o Imperador, depois de havcr-nos mu-
oiricentemenle hospedado cm seu palácio, veiu sentar-se
entre nós, honrar com a sua augusta presença os nossos
trabalhoso vivilical-os.
Muito se falia nos séculos do Augusto, de Leão \, de
LuizXIVedeD.Manoel;longe, bom longe demim o sacrílego
pensamoniu de mingoar o tributo do gratidão que lhes deve
D,:„l,;cdtvG00J^IC
a posteridade: não mo consta, porém, que nenhum dVsses
preclaros príncipes descesse do fasligio da magestade para
nivelar-se com seus súbditos, trocando o sólio pela cadeira do
académico. As mesmas pensões que asseguravam aos sábios
e litteratos a áurea mediocridade, tão suspirada pelo poeta
de Venuza, seriam perniciosas em nossa época, em que
todo o homeno deve viver de seu trabalho, seguro e valioso
penhor de sua independência. Melhor do que ninguém co-
nhece o Imperador essa fatídica lei da sociedade moderna,
e de sua bolsa, sempre franca aos necessitados, não tem
sahido essas pensões que humilharam Corneille e Racine,
que alimentavam chronistas que mentiam á historia, qne
subsidiavam, em noma da religião e das artes, fantásticas
creações como as do Escurial, .Mafra e Versailles. Não, se-
nhores, a verdadeira, a legitima, a única protecç.ão de que
em nossos dias carecem as sciencias e letras é a que nos li-
beralisa o Sr. D. Pedro. 11, protecção que ainda este anno
não faltou ao instituto, como ides ver pela minha descorada
narrativa.
Em preciosas caçoulasíoia myrrha da historia queimada
em nossas aras por zelosos levitas. O Sr. Dr. José Maria da
Silva Paranhos Júnior prendeua attenção do Instituto cotn
a leitura daeslimavel — BiograpkiadogeneralJosédeAbreu,
barão do Serro Largo, que lhe serviu de titulode admissão,
e do que vos fallei em meu anterior relatório. Occulta o mo-
desto titulo de biographia a minuciosa historia dos grandes
acontecimentos quo so passaram na plaga austral do Brasil,
ou nas ribeiras do Prata, onde nossa honra ou graves in-
teresses compromettidos levaram as armas, quasi sempre
victoriosas, do Impcrio. O nome de José de Abreu era tão
legendário como mais tarde devfira sor o de Osório, porque
pertencem ambos a essa raça inlelligenle e vigorosa que a
Dictzedby Google
Com et]
^ de Josn
«> toma CO'
, enviado p.
> Trogua).-
K-epclUdo S<
Andréa Arll
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.^-m mjbe dar, mai
t:»s-Ajres, a de.-.
-^^ pulsão dos heb
^-^os de alguns L
I -^ez se diga que -
t^K^re, e, pois, julgai
— j^ • Auio-Biograph
. = _» ArliBM em p<
D,:„l,;cdtv Google
D,i.,.db, Google
D,i.,.db, Google
ãfflw Lamentávamos aausonciado nosso 3' vice-presideníe,
a quem motivos alheios á vontade conservava arredio de
^^ nossos trabalhos. Eis que, superando esses obstáculos, ©
dando com isso exuberaote prova do quaoto se interessa
" por esta associação, quo lhe deve os primeiros amores A&
" ■■ mancebo metaraorphoseados na amizade do homem pro -
~ ' vecto, veiu na sessão de 23 de Oatubro ultimo confiar-nos
'^^' o fructo de suas judiciosas iudagações concernentes á vida
^■'^- de uma illustce poetiza, compatriota nossa. Sabeis que me
*'-' refiro a D, Beatriz Francisca de Assis Brandão, qua estrei —
"!!*■■ los víqcuIos de parentesco ligavam á celebre Marília de Dir—
1^— cea, e cujo original talento, combinado com erudição não
'-- vulgar, attrahiram os sinceros e imparciaes gabos do nosso
'''^' coUega, competente e mui autorisado contraste.
Pagando páreas ao Instituto do muito que lhe devo, sub-
n- metti a seu acrysolado juizo um ligeiro estudo que empre—
•V hendi acerca dos padres da Patrocínio de Ilú. Meu intuito
foi demonstrar que nem a maior piedade, nem os mais
i- austeros costumes podem sublrahir-nos do contagio de
:■ falsas doutrinas, e render ao mesmo tempo homenagem a
esses santos varões, que, advertidos do perigo que se appo-
pinquava, submetleram-se com a edificantedocilidade que
outr'ora tanto ennobrecôra ao sábio arcebispo de Cambraia.
Reservei adrede para ultimo lugar a monção de uma
substancial memoria lida este anuo no Instituto peio Sr,
Dr. João Ribeiro de Almeida, porque mais de espaço que-
ria d'ella occupar-me, atteota a importância e momentoso
interesse do assumpto.
AUudo ao luminoso trabalho do nosso illuslre consócio
intitulado — Considerações sobre o acclimamento das raças
hnmanas para servirem ao estudo da colonisação no Bra~
sil.
Começada no anno passado, ijotívéra-se na seguinte con-
TOMO XXXI, P. II. 52
ídbyGooJ^lc
— 408 -
Providencia coUocou de atalaia em nossas sempre dispu-
tadas fronteiras.
Um joven naturalista que nas tradições de familia de-
parou com o culto do passado, e que ainda na ÍDrancia bal-
baciava com respeito os nomes dos nossos varões illuslres,
veiu lèr-nos a mui erudita e copiosa— BiogrnpAía de frei José
Marianno da Concàção Velloío.Migao era por certo de apre-
ciar o autor da Flora Fluminense o St. Mr. Josó de Saldanha
da Gama, que tantos encantos descobre na contemplação e
estudo da nossa pomposa natureza tropical, e que na qua-
dra em que a mór parle dos homens saboream, a longos tra-
gos, as delicias da vida, eotrega-se com indefessa activi-
dade ás áridas pesquizas da sciencia de Linneu, Jussieu e
De Candolle.
Habituamo-Dos a ver no Sr. Dr. Moreira de Azevedo um
infatigável esmerilhador da nossa historia, que,compulsando
esquecidos documentos, já interrogando coevas testemu-
nhas, vai conseguindo restabelecer a verdade sobre um pe-
ríodo tão vizinho de nós e já tâo obscurecido pelas fabulas.
Nâo é a nossa constituição politica um mylbo, como a da
Inglaterra, não a arrancou a aristocracia á fraqueza de ne-
nhum rei, nem a diclaram demagogos em lumaltuosas as-
sembléas.
Delineada no mais magestoso e Ubérrimo con'^sso que
o Brasil tem tido, e interrompida a sua feitura por lamen-
táveis occurrencias, realizaram-na a pratica sabedoria de al-
guns prestantes varões, animados, e quiçá coadjuvados,
pot um principa cubiçoso de todas as glorias. Recorda o
nosso iilustrado consócio a origem do pacto fundamental
que nos rege, o enthusiasmo com que foi acolhida a sua
promulgação, e por um juslo e louvável sentimento de gra-
tidão deposita grinaldas de folhas de ibirapitanga sobre
os túmulos meio abertos d'esses patríarchas da liberdade.
Dictzedby Google
Lnmenta vamos aauseDciado nosso 3* vice-presidente,
a quem motivos alheios á vontade conservava arredio de
nossos trabalhos. Eis que, superando esses obstáculos, e
dsodo com isso exuberante prova do quanto se interessa
por esta associação, que lhe deve os primeiros amores de
mancebo metamorphoseados na amizade do homem pro-
vecto, veiu na sessão de 23 de Outubro ultimo con&ar-nos
o fructo de suas judiciosas indagações concernentes á vida
de uma illustre poetiza, compatriota nossa. Sabeis que me
refiro a D. Beatriz Francisca de 4ssis Brandão, que estrei'
los vinculos de parentesco ligavam á celebre Marília de Dír-
ceu, e cujo original talento, combinado com erudição não
vulgar, atlrahiram os sinceros e ímparciaes gabos do nosso
collega, competente e mui autorisado contraste.
Pagando páreas ao Instituto do muito que lhe devo, sub-
metli a seu acrysolado juizo um ligeiro estudo que empre-
hendi acerca dos padres do Patrocínio de Itú. Meu intuito
foi demonstrar que nem a maior piedade, nem os mais
austeros costumes podem sublrahir-nos do contagio de
falsas doutrinas, e render ao mesmo tempo homenagem a
esses santos varões, que, advertidos do perigo que se àpro-
pinquava, submelteram-se com a ediricante docilidade que
outr'ora tanto ennobrecéra ao sábio arcebispo de Cambraia.
Reservei adrede para ultimo lugar a menção de uma
substancial memoria lídu esle anno no Instituto pelo Sr.
Dr. João Ribeiro de Almeida, porque mais de espaço que-
ria d^ella occupar-me, altenta a importância e momentoso
interesse do assumpto.
AUudo ao luminoso trabalho do nosso illustre consócio
intitulado — Considerações sobre o acclimamento das raças
hnmanaí para seroirem ao estudo da colonisação no Bra-
sil.
Começada no anno passado, (]etivéra-se na seguinte coo-
TOHO XSXl, P. II. S2
Dictzedby Google
— 410 —
clusão: — as innumeraveis o dolorosas eiporienctas por
que tem passado a humnnidado om suas emigrações acon-
selham que nos cinjamos ao pequeno acclimaraento, fir-
mado ainda pelo cruzamento com os naturaes do paiz. —
Ksta conclusão, corroborada pelos factos hauridos na his-
toria aoliga e média, é levnda á evidencia pelas iovestiga-
rões dos factos modernos. Do estudo consciencioso das di-
versas colónias fundadas na America desde o seu descobri-
mento, e em todas as zonas, pelos habitadores de varias re-
giões da Europa, lira as saguinles conclusões :
!.• As emigraçSes de climas quentes para outros tempe-
rados ou frios I6m sido sempre bem succedidas, sendo fácil
o acciimamenlo. Quanto mais meridional ha sido a raça eu-
ropéa emigrante maior gráo de resistência o mais proraplo
acciimameato tem apresentado.
2.' Nos climas quentes a raça latina conservará sempre
grande superioridade quanto á aptidão para sujeitar-se ás
inlluencias dos novos climas; contribuindo poderosa-
mente para semelhante resultado os cruzamentos com
os aborígenes. E' o que demonstra a observação rela-
tivamente aos bespanhóes no Meitco, em Cuba e nas repu-
blicas sul-americanas, nas Philippjnas, etc., e quanto
aos portuguezes om Ciibo-Verde, S. Thomé, Príncipe,
índia, Brasil, e sobretudo nas possessões da costa
oriental e occidental da Africa, onde resistem ás influen-
cias delecterias de um clima extremamente insalubre. Para
acolonísação da Argélia concorrem francezes, italianos,
hespanhócs e altemães; estes últimos, porém, succumbera
era globo: conseguem os francezes manter o equilíbrio
entre os nascimentos e os obílos, os italianos prosperam,
e o hespanbóes acclímam-sa de tal modo que o seu aug-
menlo annuo cheg3 a exceder ao do próprio paiz natal.
I.I.* Ikefirdiam e succumbemnas regiões do equador e dos
Dictzedby Google
- Hl -
trópicos as raças supleatríonaes da Europa; c se inilividua-
lidades privilegiadas resisteia e chegam a adaptarem-se ao
clima, a grande maioria morre ou degrada-se physica e mo-
ra Imeate.
Resumindo os fados dispersos e fracciooados de accli-
mamento segundo as ranas, deduz o erudito autor eslcs co-
rotlarios : que os inglezes e outros povos de origem germâ-
nica só podem colonisar paizes temperados ou frios ; sondo
que se acham em completa decadência as colónias que pos-
suem fora d^essas regiões, as quaes unicamente conservam
como pontos estratégicos, empórios commerciaes ou sim-
ples feitorias. Os francezes podem acclimar-sc nos pai-
zes temperados e mesmo em al^iuns quentes, uma vez que
sejam salubres. Os italianos, hespanhóes c porluguezes
prosperam em lodos os climas salubres, queates, ou tórridos
e até nos insalubres, mediante o cruzamento com os indi-
genas.
Das raças européas passando ás asiáticas e africanas,
verifica-se que os indianos em geral supportam bem os
climas quentes, como acontece aos chins, que tão bons
serviros estão prestando ás colónias inglezas. Dá- se admi-
ravelmente a raça negra nos climas quentes; sobretudo se
é tratada com doçura e lhe deiíam certo gráo de liberdade,
(iuza mais que qualquer outra esta raça de immunidade ou
de uma maior resistência à acção do miasma paludoso.
A propósito do cruzamento das raças, demonstra outro-
sim a observação que a raça germânica, caldeando-se com
os autocblhones de Suas colónias ou não são prolíficos os
seus productos, ou constituem uma raça hybrida e anti-
engenesica. Sirva de exemplo o que acontece com os in-
glezes na Austrália e com os hollandezes em Ceylão. Os
hespanhóes e portuguezes, em seus cruzamentos com os
indígenas da America, ou com as raças negra, indiana, cht-
Dictzedby Google
— 412 —
Doza, etc., têm sempre produzido mestiços perfeilamei
engeaesicos.
OccupaDdo-se em seguida da mui debatida questão se
mestiços degeneram ou não das qualidades caracteristit
das raças mais, eoteade o dosso laborioso Gollega que s
melhaate degeoeração não existe, e appelta para o facto,[
todos DÓS reconhecido, da aptidão dos mestiços para
artes, sciencias e letras.
Como preliminar de um plano geral de colooisação, i
tendeu o nosso erudito consócio conveniente estudai
condições climatológicas do paiz, e, depois de algumasi
judiciosas reOeiÓes acerca da sua topograpbia, orograpb
geologia, meteorologia e salubridade, divide o Brasil
quatro grandes climas : o tórrido ou equatorial, que se
tende do cabo de S. Roque ao extremo septentrional
Império ; o quente ou tropical, que comprebeude o tn
de terreno sito entre o cabo de S. Roque, a cidade de S
tos, margeando o Atlântico, e no interior as provinciaf
Mato-Grosso e Goyaz ; e sub-tropical, que prolonga-st
Santos ao cabo de S. Matbeus no litoral ; islo é, lod
resto da província da S. Paulo, a de S. Catharina, com
cepgâo da comarca de Lages, e no interior uma grande p
da província de Minas-Geraes ; e finalmente o tempen
de que gozam aparte mais elevada da província de Hini
comarca de Lages ( na de Santa Catharina ) e a do 1
Grande do Sul.
Tal é, senhores, o pallido reflexo da mui curiosa e '.
elaborada memoria do Sr. Dr. Ribeiro de Almeida,
opportunamente será registrada nas paginas da nossa
■vista.
Tendo ouvido a sua commissão de fundos e orçamf
e se conformando com o sou parecer, deliberou o InsI
que modestos jazigos recolhessem ao cemiíeiio da vec
Dictzedby Google
- 413 —
vel ordem terceira de S. Francisco de Paula os restos mor-
taes de seu benemérito fundador o marechal Raymundo José
da Cunha Mattos, e no de S. Francisco Xavier os do desem-
bargador Rodrigo da Silva Pontes, que se Snára em terra
estranha, prestando á pátria reteraolissimos serviços. Foi,
por certo, bem'grande sacriãcío que se impdz o Instituto
ordenando a factura d^esses modestos jazigos, porque não
lhe permittem seus exíguos recursos pecuniários satisfazer a
generosos impulsos -, abriu, porém, ums excepção, porque
lambera excepcionaes haviam sido os méritos d^essos presti-
mosos varões.
Prestando culto aos grandes nomes que abrilhantam nos-
sos fastos, nem se olvidou o Instituto que uma estatua era
devida ao grande ministro da independência *, faltsndo-lbe,
por^m, meios para realizar essa idén, recorreu ao patrio-
tismo nunca desmentido dos brasileiros, incumbindo de
agenciar subscripções a uma commissão que esmerada-
mente escolheu. Ceifou, porém, a segure da morte o pre-
sidente d'essa commissão, o conselheiro Eusébio de Quei-
roz Coutinho Maltoso Camará, 3pás uma dolorosa enfermi-
dade. Para succederatáo distincto cavalheiro lançou o
Instituto vista sobre o seu 1" vice-presidente, cujo zelo e
actividade são proverbíaes, o qual aceitando esse novo en-
cargo deu mais uma prova do vivo interesse que lhe inspi-
ram as glorias nacionaes.
Mas não é só aos mortos que paga o Instituto a dívida
da gratidão : merecem-lhe também particulares attenções
os vivos que sobrelevam por nobres feitos. De tal proce-
der exhibiu ainda recente e incontestável documento.
Refocilla vamos das annnaes fadigas quando cht^u a
fausta e inesperada noticia que uma divisão da esquadra
brasileira, vencendo o impossivel, arrostara ovante as for-
midáveis baterias de Humaitã,emquaDlo o exercito, cobrin-
DictizedbyGoOJ^Ic
— ÍH —
se de Dovos louros, lomava a viva força iaeipugnaveisfor-
tiãcaçõos paraguayas.
Ao nosso venerando e digníssimo presidente occorreu
logo a idéa de convocar extraordinariamente o Instituto,
que, acudindo ao seu reclamo, nomeou uma commissão
para ic felicitar ao primeiro brasileiro por successos tão
gratos ao seu magnânimo coração, eem acto continuo, por
proposta do Sr, Dr. Pereira Pinto, deliberou que se exa-
rasse na acta um voto de profundo e ardente reconheci-
mento ao exercito eá armada, aos bravos generaes que os
commandsvam em tão gloriosas jornadas, fazendo-se, ou-
trosim, especial e honrosa menção aos destemidos chefes
Delphim e Maurity.
T(ão se limitou a isso o nosso reconhecimento: resolvía-
mos mais que umacópia authentíca do nossa deliberação
fosse enviada ao exercito e á esquadra, e que ao íllustre
visconde de Inhaúma expedíssemos diploma de sócio ho-
norário, dístincção esta de que ha muito gozava o nobre
marquez de Caxias.
Souberam devidamenlo apreciar os distinctos generaes
as manifestações do Instituto : e um após outro Iransmit-
tírani-lhe expressões de viva gratidão n'aqueltíi lingungem
f^ranca e leal de que os guerreiros soem usar.
Sobre vários assumptos elaboraram nossas commissões
lúcidos pareceres : n de fundos e orçamento examinou com
habitual proficiência o estado dos nossos cofres, e ainda
mais uma vez reconheceu, e bem alto proclamou, a ioexce-
divel solicitude de nosso honradissimo thesoureiro, que
com tanto esmero procura equilibrar a receita com a des>
peza.e, medianlea mais severa economia, consegue sem-
pre que algum saldq appareça. Penso conslituír-me órgão
de todos os membros da nossa associação, agradecendo
hoje o n'estc lugar solcmnc tudo que por ella tem feito tão
DictizedbyGoOJ^IC
_ 4Í5 —
benemérito fuDCcionario. As 1' e 3* coramíssões degeogra-
pbia emitUtam seus votos acerca de alguDs trabalhos que
Ibes foram submettidos, e que ora pendem de aquilata-
inento da de admissão de sócios. For sua própria natureza
mais activa elaborou esta ultima vários pareceres que, me-
recendo a plena anaueocia do Instituto, preenciíeram com
os novos adeptos as nossas fileiras, annualmente rarefeitas
pela morte.
Os cavaibeiros chamados a formar parte da nossa socie-
dade foram os seguintes senhores : Visconde de Inhaúma,
que dieta a historia pela voz dos canhões, podendo escre-
vâl>a com áurea penoa ; Rev. Brasseurde Bourbourg, sábio
commendadorde /'a/>u/-FuÃ'Zen(í-iuesía americano; ca-
valheiro Josá de Luca, autor da mui conhecida e estimada
Vescripção geographica, hislorica e adminUtraliva da Itá-
lia meridional; Vivien do Saint-Martin, autor do AnnoGeo-
(jraphico, uma das poucas publicações estrangeiras cm que
cabal justiça nos é feita ; Alexandre Magno de Castilho, que
ainda na aurora da vida sabe escrever livros tão importan-
tes como o Roteiro da costa oriental d' Africa ; Dr. Luiz
Francisco da Veiga, vantajosamente conhecido na imprensa
politica e litteraria e autor de vários opúsculos históricos ;
Henrique Ambauer Schutel, que em um precioso Itine-
rário da Cruz Alia ao Campo iVouo revelou-nos muitas na-
turaes riquezas da província de S. Pedro do Sul ; Dr. José
Maria Pinto Poíiolo, a quem devemos um capítulo da his-
toria contemporânea sob o titulo Duas palavras sobre
D. Pedro l na época da ind^endencia, recommendavel por
mui luminosas apreciares ; Gnalmeote bacharel Eduardo
JeSã Pereira de Castro, que com louvável zelo e ardente
patriotismo está escrevendo as mui populares Biograpkias
dos Iteróes brasileiros na actual campaniia do sul.
tio empenho de coUigir quantos ^documentos possam il-
DictizedbyGoOJ^IC
— 416 —
loslrnr Dossa historia, ou fazer-nos melhor conhecido o
paiz qu« habitamos, solicitou o Instituto do governo impe-
riat a expedição das necessárias ordens para que lhe seja
remettida, mediante a somma estipulada, uma cópia au-
tbentica da traducçio fraaceza da Descripcâo do Estado do
Maranhão, Pará, Cwvpá e rio Amaxonas, no anno
de 1612, feita por Maurício Heríarte, cujo maousmplo
consta existir na bíbliotheca imperial de Vienaa d'Austría.
GontÍQúo a encontrar nos emproados subsidiados do
Instituto toda a cooperação e fidelidade que os recommen-
dam aos nossos lavores e benevolência.
A denlora da remessa do papel em que se imprime a
Reviata, cujo papel recebemos immedíatameDte de França,
prívou-me da satisfação de communica^-vos, como decos-
tume, achar-se ella em dia : está, porém, no prelo o nu-
mero correspondente ao 3* trimestre do corrente anno, e
conto que mui proximamente vos será elle distribuído.
Successiva e lentamente vamos reimprimindo os volu-
mes da mesma Revista que escasseam, afim de que jamais
se sinta falta de tão precioso repositório, avidamente soli-
citado pelas academias e sábios estrangeiros e ainda pelos
poucos que entre nós prezam o estudo das cousas pátrias.
Cumpro um grato dever participando-vos que as nossas
relações scíentificas e titterarias com as sociedades e aca-
demias do velho e novo continente tendem a estreitarem-
se cada vez mais, á medida que mais conhecida vai-se tor
nando a nossa associação.
Envido todos os esforços para que a correspondência e
a permuta das respectivas, publicações se faça com a pos-
sível regularidade. Cabe-me aqui registrar um testemunho
de gratidão ao nosso íllustradíssimo consócio o Sr. conse-
lheiro José Feliciano de C&sttlbo, que tão generosamente
olTereceu-se para encaminhar as nossas remessas paraPor-
DictizedbyGoOJ^IC
— 417 —
tugal, remessas que baviaro sofTrido alguma íntemipção
com a retirada d'esta cArle do outro nosso digno consócio o
Sr. F. F. de Figanière e Mourão. Tão intuitiva é a conve-
niencia da intimidade das relações litterarias entre povos ir-
mãos, que ocioso julgo demonstral-a.
Releva agradecer em nome do Instituto aos supremos
poderes do Estado e a todas as autoridades os innumeros
favores que diariamente lhe estão prestando. Desprevida de
cdr politica, goza osta associação das sympalhias de todos
os bons brasileiros, recebendo geraes e inequívocas provas
de estima e consideração. Os multiplicados e valiosos do-
nativos que ainda este auno lhe foram feitos servem de
abono ao que acabo de dizer-vos.
Cumprindo-me especificar esses donativos, quasi todos
constantes de livros, mappas, cartas o manuscriptos, peço
vénia para fazer uma solomne declaração. Além da minha
reconhecida insuHiciencia intellectiial fallecem-me indis-
pensáveis lazeres para conscienciosamente apreciar assump-
tos de summa transcendência e responsabilidade : assim,
poucas serão as obras de que me occuparei, porque poucas
foram as que foi-me possível rapidamente manusear na an-
gustia do tempo de que pude dispAr.
Reraetteu-nos o nosso consócio o Sr. Dr. A. H. Leal os
dois primeiros volumes das Obras Poslhumas do sempre
lembrado Gonçalves Dias. Compulsando com alvoroço essas
paginas, em que se espelha a grande alma do poeta, la-
mentei que a morte o arrebatasse quando passava a lima
boraciana nas producções do seu juvenil engenho, dei.
lando-as inacabadas como ess.is inimitáveis estatuas do Día
e da Noite, que o cinzel de Miguel Angelo esculpira sobre o
tumulo de Juliano de Medicís.
Com gralU satisfação recebemos o 8* volume do Z)iccto-
nario Bibtiographico, que o nosso illustrado e labori oso
TOMO XSXI, P. II 53
D,:„l,;cdtv Google -
— 4!8 —
coQSOcio O Sr. Innocencio PrsDcísco da Silva fez-nos mercA
de maadar. Esta obra, hoje elevada á cataria de um mo-
Dumento interaacioQat, dispensa qualquer sDcomio que
lhe pudesse tecer.
Eadereçou-Dos o Sr. Dr. A., de Castro Lopes um opús-
culo cheio de actualidade, a'uma língua que já ninguém
boje falia, Á Musa Latina, ou a Iraducçâo de algumas lyras
da MaTiliot de Dircêo : é uma verdadaira miragem littera-
ria, um prodígio de descommunal e cultivadissímo talento.
Eiprímírna linguagem de Ovídio os sentimentos que tu-
multuavam n'alma do inconfidente de Vílla Rica offerecia
diffinuldades que só poderiio ser magistralmente superadas
por aquelte a quem Varrão o Priscíano revelaram todos os
seus segredos philoiogícos.
Sob o titulo de Estjriptos hiatoricot e UUerarios deu á es-
tampa o nosso distincto collega o Sr. Dr. Homem de Mello
nova edição melhorada da ConslUuinle perante a historia,
addicionando-lhe um estudo sobre o Golpe de estado de 30
de Junho de 1832, e alguns outros trabalhos de secundário
valor. Sobejamente conheceis a valentia de logíca e o vivo
colorido de dicção com que o talentoso publicísts sabe res-
taurar o passado, evocando dos seus túmulos os nossos
grandes vultos históricos. Nunca esquecido da affeíção que
lhe consagramos, comprehendeu-nos no numero dos favo-
recidos com a ofterta de seu bellissimo livro.
O Sr. conselheiro Tito Franco de Almeida fez-me pre-
sente de um precioso trabalho, que acaba de sabír dos pré
los, devido á sua patriótica peona. Quero faltar da mono-
graphia denominada O Brasile a Inglaterra ou o Trafico
de africanos. Acreditei que em parte alguma estaria melhor
collocado este livro do que em nossa bibliotheca ; e por isso
ofrerleí-lb'o. No volver de olhos que me foi dado lançar
sobre elle, vislumbrei sua extraordinária importância, a
;dby Google
— 419 —
nobreza dos senlimeD tosque oinspirarani, e a geaerosidade
do impulBo cora que seu illustre autor proDigou as caliim-
□ias assacadas contra a Dossa raça avessa tão roelindrosa
quão mal apreciada questão do trafico de africaDOS.
Escripla em francez, para ser lida por brasileiros e por-
tugueses, aa epigraramalica phrase de Silvestre Pinheiro
Ferreira, La Belraite de Laguna é uma brilhante pagina
da nossa historia contemporânea. Seu autor, o Sr. 1* te-
nente Alfredo de Escragnolle Taunay, ura dos mais espe-
rançosos officiees do nosso heróico exercito, descreve o que
viu, o que praticou, à guisa de Xenephonte, com singular
modéstia e invejável candura. Dando-lhe conveniente des-
tino, aguarda o Instituto a continuação de tão interessante
trabalho.
Algumas outras obras, de não menor interesse, foram-
Dos oíTerecídas, as quaes, pendendo de estudo das commís-
sões a que foram submettidas, comprehendeis que importa-
me acerca d'ellas aguardar seus alvidramentos.
Se dos livros passamos aos maouscriptos e mappas, at-
trahiram-me particular atleução os seguintes : O Itinerário
da viagem feita pelo capitão Joaquim António Xavier do
Valle d província de Mato Grosso pelos rios Tabagye Bri-
lhante no anno de 1865, oíTerta do Sr. Dr. F. I. M. Homem
de Mello; as Revoluções e levante de Pernambuco em 1710
a 1711, dadiva do Sr. Dr. A. H. Leal; a Historia do assedio
e capitulação da colónia do Sacramento em 1777 (com
mappas),devida á generosidade do Sr', tenente-coronel P. T.
Xavier de Brito : vários autographos do desembargador
T. A. Gonzaga, relíquias de família, com que o Sr. Dr. J. F.
Carneiro miraoseou o Instituto, por intermédio de seu 2*
vice-presideute ; a Memoria Histórica da administração
do Sr. Dr. Franklin Américo de Menezes Dória, escripla
pelo oiTertante, o nosso obsequioso consócio Sr. Dr. César
Dictzedby Google
Augusto Marques; a TabeUa das latiludes e longitttda de
diversos Ivgares da província de Mato-Grosso, delermioa-
das por observações astronooiicas, e o Mappa geograpbico,
(Cronológico e eslalistico da referida província, ludo obras
do Exm. Sr. barío de Melgaço, que graciosamente nos of-
feilou, e Qnalmente o Aulo original da fundação do forte
do Prindpe da Beira e os Documentos o^ctaes, porluguezea
e hespanhóes, relativos aos limites do Império pelo lado da
referida província de Mato-Grosso, compillados pelo enião
capitão de fragata Augusto Leverger, hoje chefe de esqua-
dra barão de Melgaço, e ofTerecidos pelo Sr. Joaquim Feli-
ciano de Almeida Lousada.
A todos os doadores dirigi expressões de sincero agrade-
cimento, que ora reitero.
Fechado, senhores se acha o périplo social de 1868 : sol-
dado mais um annel á cadôa do tempo, percorrido mais
um marco milltario da triumphal via do progresso, em cuja
meta osleuta-se magestoso o templo da gloria, e em cujo
frontal ler-se-ha burilado o nome do Instituto Ilislorico
eGeographico Brasileiro.
Dictzedby Google
DISCURSO
DO ORADOR O SR. DR. JOAQUIM HAKOEL DE MACEDO
A corrente do tempo não para; com ella vem a vida
e com ella vai a morte : sobre a oada que passa cabem as
folhas sem seiva, os mortos para a torra e que lá vfio pnra
a eternidade, oceano que não tem praias, 6 que se chama —
o infinito; mas a arvore não sa despe, folhas antigas
resistem ainda e outras novas e verdejantes a coroam, os
vivos e as gerações que se succedem, para seguir o mesmo
caminho, sendo levados pela onda implacável.
Mas emquanto vive o homem tem deveres a cumprir,
tarefas a desempenhar; cada homem é uma pedra do
monumento social, cada homem é uma leira do livro do
presente e do futuro das nações que a providencia mys-
teriosa escreve: Aquelle que não foi pedra nem letra.
Ou foi pedra ruim e letra inútil, passa como semente infe-
cunda que se desfez no chão, ou como sarça daroninha que
a ninguém afQigíu, quando seccou.
O Instituto Histórico e Geographico do Brasil também
é parte d'um monumento, também é pagina do grande
livro d'uma nação, e também é ramo d'arvoro opulenta
do qual cabem folhas sem seiva que são levadas pela onda
da morte.
Ainda ha pouco na exposição animada dos trabalhos e
serviços do Instituto vimos a quadra brilhante da vida;
agora na commemoração dos nossos consócios finados
veremos o exemplo e a lição que elles deixaram na seara
do seu patriotismo e no altar de suas virtudes.
As gerações se succedem, a arvore não morre; porque
sempre folhas novas e verdejantes vém coroal-a : appli-
Dictzedby Google
— ws —
que-se a pobre e rude imagem ao nosso iDstituto, e venha*
veoha ainda, e muito mais do que lem vindo, a mocidade
enlbusiasta e estudiosa occupar em nosso grémio os vazios
deixados por varões iUustres que morrem, por esses no-
bres velbes que são levados para o oceano sem praias,
e ajudar a ni^ outros, que fraqueamos pela fadiga e pela
idade, a manter activo e fértil o culto d'esta ínstiluii;ão
que é lio bella : venham ainda mais, e muilo mais, as
folhas novas e verdejantes, porque nós, pobres folhas
antigas, começamos a definhar.
Consideráveis foram as perdas que sofTrcu o Instituto
Histórico e Geographico da Brasil em 1868; cumpre-nos
porém lembrar primeiro um nome muito prezado que
ficou escrípto no registro fúnebre do anno antecedente.
Em 1867 deixámos de pagar uma divida sagrada : não
foi, era impossivel que fosse o £rio olvido das cinzas ainda
quentes d'um benemérito, o esquecimento ingrato d'um
brasileiro distincto, devoto fiel de nosso Instituto, que é
íim dos padrões da sua gloria. Mais tarde do que era
indispensável recebemos os apontamentos biographicos
do iltustre finado, e hoje, embora com transgressão dos
nossos costumes, o elogio um anno demorado dá teste-
munho da perdurarão da nossa saudade.
Os monumentos perpetuam a memoria dos seus archi-
tectos : as instituições uteís e patrióticas repetem ao mundo
os nomes dos seus fundadores pela voz agradecida
dos herdeiros d^esses thesouros: o Instituto Histórico e
Geographico do Brasil, que se ufana de mostrar na sida
das suas sessões os bustos do cónego Januário e do mare-
chal Cunha Mattos, jamais esquecerá os serviços que deve
ao brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira, que a
si próprio ergueu uma estatua nos trabalhos com que
enriqueceu esta instituição, que enthusiaslica e sempre
Dictzedby Google
— 423 —
radiante de fervor nacional ajudou a fundar, carregando
também em seus hombros a primeira pedra para o primeiro
alicerce.
Filho legitimo do (eaeate-coronel Francisco José Ma-
chado de Vasconcellos e de D. Anua Esmeria da Silva,
José Joaquim Machado de Oliveira nasceu na cidade
de S. Paulo a 8 de Julho de 1790 : pelo lado paterno per-
tencia a uma das mais distinctas famílias da sua província ;
pelo materno provinha d^um dos ascendentes do celebre
economista francez João Baptista Say, que, deixando a
Europa, se estabelecera em S. Paulo: era primo irmão
do cirurgião-mór Francisco Alvares Machado de Vascon-
cellos, famoso na sciencia como operador oculista, famoso
no parlamento como orador inspirado, e o mais feliz
vibrador dos raios subtís do epigramma e da ironia.
Machado de Oliveira assentou praça ainda dormindo
no berço, a 10 de Fevereiro de 1792, com anuo e meio
de idade : foi reconhecido cadete a 5 de Dezembro de 1807 :
era 1809 teve a promoção de alferes, dois annos depois
a de tenente, capitão graduado a 13 de Maio de 1813,
passou a effectivo em 29 de Novembro de 1817, major
graduado em Dezembro do anno seguinte, effectivo a 1
de Março de 1820, recebeu a graduação de lenente-coronel
a 12 de Junho de 1826, e a etTectividade a 12 de Outubro
de 1837 : em 1818 passara do 2° batalhão da l^ião
de S. Paulo a que pertencia para o estado-raaior do exer-
cito, servindo de inspector do trem militar da provincía
do Rio-Grande do Sul ; a 18 de Agosto de 1820 foi no-
meado ajudante de ordens do governo da mesma provín-
cia; a 12 de Junho de 1826 secretario militar ; a 12
de Outubro de 1827 secretario do exercito do sul.
Não poupamos datas porque ha n'esta, eloquência bri-
lhante : esquecei osprimeiías, que marcam apenas a praça
D,:„l,;cdtv Google
no berço, a entrada no ser?iço e o primeiro posto no fulgor
da juventude : comparai as outras com a historia pátria, e
n^ellas vereis também as guerras, as campanhas do sul
até 8 paz de 1838 : eis o elogio nas datas, eis as datas sym-
bolisando nobres feitos, conquistando postos e dragonas,
postos e dragooas realçando a' dedicação do soldado bene-
mérito, e a gratidão do Estado aos serviços do bravo.
As pelejas e batalhas de S. Borja e dos Passos de
Uruguay, de Arapeby e de Catalão, de Taquarembó e do
Passo do Itosario, e os combates de Ibicuby e de lapejá e
de llacoroby viram a ínlrepidez, a intellígencia, o zelo
do illustre Machado de Oliveira, que n'esses terríveis jogos
marciaes, om que os valentes param as vidas em honra
da pátria, commandou por vezes ora a infantaria, ora a
arlilberia.
Para a gloria d'um cidadão bastam já esles louros de
soldado; mas o distincto paulista ainda lavrou em dois
caTnpos com proveito immenso da pátria: no campo da
vida cívica, no campo da vida litteraria.
A' fonte limpida e rica de continuo se pede agua ; ao
patriotismo esclarecido e puro o Estado pede de continuo
tributos.
José Joaquim Machado de Oliveira foi na época da re-
generação politica do Brasil nomeado membro do governo
provisório e logo depois do primeiro conselho provincial
do Rio-Grande do Sul : foi commandante das armas em
Sergipe em 1830; foi presidente da província do Pará
cm 183ã, das Alagoas em 1834, de Santa Catharina em
1837, do Espiríto-Sanlo em 1840. Foí eleito deputado
da assembléa geral pelo Rio-Grande do Sul na primeira
legislatura, pela província do seu berço na oitava, membro
da assembléa provincial de Santa Catharina uma vez, da
de S. Pauto duas vezes.
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— 42S —
Nas lutas politicas, nos cerlmnens constilucionaes, do
movimento ardente, na acção do grande iheatro, como no
esquivo retiro da fadiga ou das illusões, foi sempre liberal,
e deixou no mundo immenso das cdres cambiantes o
exemplo da firmeza inabalável na religião dos principios,
da constância enérgica que pôde quebrar, mas não torce,
d'aquelles vulhos paulistas que se chamaram Feijó e
Àndradas, Paula e Sousa e Alvares Machado.
No primeiro reinado, a opinião politica de José Joaquim
Machado de Oliveira provou-se em solemne e arriscado
pleito, como o ouro que se prova no fogo. Na camará tem-
porária, de que clle era membro, disculia-se a aecusação
do ministro da guerra Joaquim de Oliveira Alvares, que
além de ministro era general: oíBciaes do exercito en-
chendo as galerias do parlamento, ameaçavam os eleitos
do povo, ousando até interromper com insultuosa grita
o velho Dr. França, o impávido philosopho : soou a hora
da votação, que foi nominal, e Machado do Oliveira, liberal-
arrostou as ameaças que tentavam coagir, deputado não
se lembrou de que era soldado, votou pela aecusação do
ministro da guerra.
Não apreciamos as questões politicas d'esse recente
passado : exhibimos somente um facto que glorifica a inde-
pendência parlamentar d'aquelles tempos de tormenta po-
litica.
A capacidade e esclarecida intelligencia de tão prestante
cidadão foram ainda reconhecidas pelo governo imperial
quando o escolheu para desempenhar importantíssimas ta-
refas, embora na serie succcssiva das Domeaçõcs umas fos-
sem impedindo o desempenho do outras.
A 20 de Abril de 1843 foi Machado de Oliveira nomeado
encarregado de negócios e cônsul geral do Brasil junto ás
republicas do Peru e Bolívia ; a 16 do Junho de 1844 rece-
TOMO XXXI, P. 11. 54
Dictzedby Google
— 426 —
beu a incumbência de compilar um inappahydrographico
dos rios Paraguay e Paraná ; a 24 de Julho do mesmo anno
cumpriu-lhe ir por ordem do governo examinar a fabrica
de ferro de Ipanema, devendo escrever uma memoria so-
bre o seu eslado e necessários melhoramentos; a li do
Margo de 1846 foi nomeado director geral dos índios da
proviocia de S. Paulo; a 21 de Fevereiro de 1856, dele-
gado do director geral das torras publicas na mesma pro-
víncia.
O peso dos annos e a fadiga de incessantes trabalhos le-
varam Machado de Oliveira a aproveitar-se da reforma no
posto de coronel, que obteve pela carta patente de 23 de
Fevereiro de 1844, por contar mais de trinta e cinco annos
de serviço, para retirar-se ao seio amigo e suave da terra
natal ; mas alli o dedicado brasileiro não soube furtar-se
ao dever do civismo.
Em S. Paulo serviu como presidente da commissão ins-
pectora da casa de correcção da capital, como 1' substituto
do delegado de policia e como presidente da camará muni-
cipal da mesma cidade em um quatriênnio. Depois de
commandar armas e de dirigir a alta administração de pro-
víncias ; depois de occupar uma cadeira na camará tempo-
rária em três legislaturas, José Joaquim Machado de Oli-
veira vai nobremente pedir o voto do povo nos comícios
municipaes, e aceita um lugar de substituto de delegado de
policia ; não louveis a sua modéstia, admirai a sua gran-
deza: ello não desceu, subiu: a charrua de Ciacinato era
mais alta que a dictadura ; mas o civismo que não mede o
grjos dos cargos públicos, e que exerce os mais modestos
depois de haver exercido alguns dos mais consideráveis, é
mais alto do que a charrua de Cincinato.
Agora o soldado e o cidadão, o homem da guerra e da
politica, vai mostrar-so sob outro aspecto. A barraca do
D,:„i,;cdtv Google
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guerreiro tioba sido gabinete de estudo ; as lulas dos parti-
dos não absorveram no abysmo das paixões exclusivas a
intelligencia e o zelo do benemérito Machado de Oliveira :
era paladim de um partido politico somente porque amava
a pátria ; e onde bavía campo que o amor da pátria podia
arar, o illuslrado paulista se mostrava lavrador incaasivet.
A historia e a geographia do Brasil foram por isso os seus
estudos de predilecção.
A 10 de Agosto de 1838 duas vozes generosas e patrióti-
cas, a do cónego Januário da Cunha Barbosa o a do mare-
chal Raymundo José da Cunha Mattos propuzeram na so-
ciedade Auxiliadora da Industria Nacional a fundação do
Instituto Histórico e Geographico do Brasil ; o no empenho
de levanlar-se o templo consagrado á historia pátria, um
dos mais activos e laboriosos operários foi José Joaquim
Machado de Oliveira.
Os fundadores de uma instituição são como os patriar-
cbas de um povo : Josâ Joaquim Machado de Oliveira foi
mais que sócio honorário, foi sócio fundador, um dos pais
do Instituto : a veneração ú sua memoria é santo dever que
nossa familia não olvida.
Oh I mas ha pais que abandonam, que não educam os íi'
lhos, que os deixam inertes ou ociosos, pervertidos pela
cega licença quo estraga a natureza, desgraçados pela inu-
tilidade da vida que não aproveita á humanidade ; despre-
zíveis, porque são como as heras fataes ás arvores fruclife-
ras; malditos, porque são o peso c tornam-se a vergonha
da sociedade. São os pais quo possuídos de egoismo louco
se desvanecem dos filhos, porque são seus Tilbos, e não os
sabem criar, educar para a pátria de que elles devem ser
cidadãos, ensinando-os com o exemplo da virtude, corri-
gindo-os com a severidade da justiça.
Não sabemos nem dizemos que nos tempos que correm
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haja réos deste crime de lesa-natureza ou de leso-dever ;
com ufania, porém, asseguramos que os fundadores, os
pais veDerandos do nosso Inslitulo, e entre elles notavel-
mente Josó Joaquim Machado de Oliveira, crearam e edu-
caram o filho com a lição do exemplo e com a severidade
no cumprimento dos fins da instituição.
Desde 1838, desde o berço do Instituto Hislorico e Geo-
eraphico do Brasil até muito recente data, o nosso velho
patriarcha encheu os archivos e s Revista Trimensal d'esta
associação com estudos, mcmoriss, trabalhos sobre pontos
obscuros da nossa antiga o moderna historia ; perdão se
deixo de enumcral-os ; são tantos que formariam|eiteDSa
lista; quasí todos se acham publicados ua imprensa do
Instituto, e todos são luzes que nos esclarecem, palavras
que nos ensinam o caminho que nos cumpre seguir : eis a
lição do exemplo,
£ n'esses estudos, memorias e trabalhos tão diversos e
variados, e no seu labor activo de seis annos de frequência
és sessões do Instituto, o patriarcha zelou a imparcialidade,
a isenção do filho nos processos de que elle não pôde ser
uiz, nas lutas incandescentes, apaixonadas, suspeitas, por-
jqufi sào contemporâneas oo turbilhão de antagonismos, ás
vezes na cratera quo arroja lavas de ódios, na confusão de
gritos, no atordoamento de ânimos, em que n^oha quem
tenha o direito de sentenciar, dizendo : « Sou eu que
acerto, és tu que erras : x eis a severidade no cumpri-
mento dos fins da nossa instituição.
Além dos fruclos preciosos de suas lucubrações, tributa-
dos por seu amor paternal ao Instituto Histórico e Geogra-
phicu do Brasil, José Joaquim Machado de Oliveira escreveu
um excellenle livro da geographia da sua muito amada pro-
viucia, e deixou rico thesouro de manuscríptos e documen-
osrelalivos á historia pátria.
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— i29 —
Sócio etTectivo e depois honorário da sociedade Auxilia-
dora da Industria Naciooal, o nosso venerando consócio
foi lambem fundador e presidente da sociedade Auxilia-
dora da Agricultura, Commercio e Artes da província de
S. Paulo.
A ampIidSo do seu peito mal chegava para as condeco-
rações que attflstavam o seu merecimento ; porque, além
do habito da imperial ordem da Rosa e da commenda da
de S. Bento de Aviz, n^elle fulguravam todas as medalhas
das campanhas que âzéra.
Por decreto do 1' de Outubro de 1835 foi- lhe concedida
a pensão annual de 130|||, approvada pela resolução de 31
de Outubro de 1837, que elle, apezar de pobre, cedeu para
as urgências do Estado, quando em 1863 a prepol«icia
britânica alvoraçou o patriotismo dos brasileiros.
No dia 16 de Agosto de 1867 falleceu oa capital da pro-
víncia de S. Paulo o vaião illustre José Joaquim Machado
de Oliveira, que teve sepultura oude tivera o berço : con-
tava setenta e sete annos de idade e perlo de sessenta de
serviços A pátria. Sua vida foi como o harmonioso canto do
artista consciencioso : difGcil, zeloso, fatigante para o can-
tor ; suave, encantado e precioso para ós ouvintes que sa-
bem ouvir: foi como terra succulenta de pomar que deu
seiva ás arvores, e pela seiva ás arvores ílõres e fruclos,
não para si, mas a pátria que se enriqueceu com a pingue
colheita.
A 15 de Maio de 1826 radiou uma fonte de luz na ph^
nix pernambucana : o Dr. Lourenço José Ribeiro abriu na
cidade de Olinda a academia de sclenciasjuridicas e so-
ciaes, creada como a de S. Paulo pela carta de lei de 11 de
Agosto de 1827. O sacerdote abrira as portas do templo de
Minerva, chamando a mocidade ao culto da sabia densa, e
o primeiro candidato que correu ao generoso convite foi
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— 430 -
um jovoD de quioze annos, agradável e sympatico de phi-
sioaomia. delicada e já circumspecto nas maneiras : cha-
mava-se Euzebio de Queiroz Coutinho Mattoso da Camará.
& nova academia encetou os seus trabalhos com o exame
de latim d'esse estudante, que também foi o primeiro
alumno que se habilitou para matricular-se uMIa. A estréa
íòn de bom agouro: o estudante de quinze annos foi pre-
miado Qos quatro annos em que houve prémios no curso
académico, e em um d^esses annos leve por companheiro
n'essa distincção aquelle que mais tarde havia de ser bispo
do Rio de Jaaeiro e conde de Irajá, e que então já era sa-
cerdote e lente de theologia no seminário de Olinda.
Euzebio de Queiroz, nosso illustre e finado consócio, era
filho legitimo do conselheiro Euzebio de Queiroz Coutinho
da Silva e de D. Catharina Mattoso de Queiroz Gamara, e
nasceu a 27 de Dezembro de 181 2 em S. Paulo de Loanda,
aa Africa, onde seu pat serviu o lugar de ouvidor-geral :
aos três annos de idade veio para o Rio de Janeiro \ aos
seis acompanhou seu pai nomeado desembargador da Ba-
hia, com exercieio de ouvidor na comarca do Serro-Frio
em Minas-Geraes, e abi aprendeu as primeiras letras ; de
1822 a 1827 fez em Pernambuco os seus estudos de huma-
nidades, manifestando sempre talento brilhante e essa
applicação não commum, que é o dever do estudo subli-
misado pelo amor do estudo.
Em Euzebio de Queiroz a educação desvelada encami-
nhou a natureza feliz; o zelo dos pais poliu os dois bri-
lhantes: o coração e a íntelligencia do fílho.
Em 1832, fechando-se antecipadamente a academia em
consequência das perturbações politicas, o notável estu-
dante fez acto do quinto anno, tomou o gráo de bacharel
no mez de Setembro e veio chegar em 20 de Outubro ao
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- 431-
Rio de Jaueiro, oudo seu pai servia do supremo tribunal
de justiça.
Vintd dias depois, a 9 de KoTembro, fallando-lhe ainda
um mez e dezesetfl dias para completar vinte anoos, fot
nomeado juiz do crime do bairro do Sacramento n'esta
cArte, lugar que começou a servir com o de juiz de fora a
24 d^ttquelle mosmo mez. Ha patronato que escandalisa na
elevação inexplicável da mediocridade criança, no deposito
da autoridade em mãos de joven inexperiente e de ínlelli-
gencia acanbada ou negativa; quando, porém, se eleva, se
distingue pela preferencia, se honra pela conliança o man-
cebo, cujo merecimento é garantia de solicito desempenho
das mais árduas tarefas, porque já fulgura como aurora
precursora de resplandecente dia, não ha patronato, ba
acerto, ba voz generosa do governo que proclama : ani-
mc-se, estude, eduque-se e assignale-se illustrada e mora-
lisada a mocidade ! o paiz é dWla, porque é d'ella o futuro,
c porque os grandes trabalhos de cada época devem ser
confiados a todos aquelles que icm nos hombros força para
carregar o peso das altas commissões : o merecimento não
tem idade. Metternich diante de Napoleão, Conde em Ro-
croy, Pítt na Inglaterra, Euzebio de Queiroz no Brasil, can-
taram o b^mno da mocidade, que sabe, por ser distincta,
deixar-se adivinhar insigne.
Euzebio de Queiroz, nosso muito digno consócio, infe-
lizmente finado n'este anno, foi notabilidade na magistra-
tura e na politica.
Na magistratura subiu até desembargador da relação do
Rio de Janeiro, da qual foi por muito tempo presidente ;
a politica o desviou com frequência d'aquelle sacerdócio
social, em que os seus profundos conhecimentos jurídicos
e a sua probidade o leriam erigido em juiz modolo ; pon-
Dictzedby Google
dente de sua mão firme a balança de Astréa pes& x
liei.
À 19 de Março de 1833 recebeu a nomeação
direito cbefe de policia da cdrte, e desempenhoo
até 1844, com a interrupção de cinco mezes em
1833 e ainda depois eram limitadíssimas as attr
chefe de policia ; em Dezembro d'esse anno OM
capital o pronunciamento popular contra a soei
lar e o quebramento insólito de tf pograpbias da
foi voz corrente n'essa época que o diefe de pc
panhára os amotinadores, e fora portanto complíceus
violências ; damos testemunho de que, em conTersi^o íil-
tima e repetida sobre esse ponto da historia contemporâ-
nea, ouvimos ao conselheiro Euzebio minuciosas iníot^v
ções : a força publica nSo estivera á sua disposição ; o
governo só se entendeu com os juizes de paz ; albéio a
quanto se passava, posto de lado pelo ministerio, elle ti-
vera conhecimento dos factos somente depois de se acha-
rem consummados.
À palavra do conselheiro Euzebio foi sempre honrada
portanto a calumnia o feriu em Dezembro de 1833 e insis
tente ainda depois -. sirva a lição aos nossos homens polití
cos vivos, porventura tão descuidados, como aos nosso
políticos já mortos; muitos d'elles envolvidos na confusa
dfl acontecimentos de diversos modos apreciados, abando
nam-se ao juizo da posteridade, suspeitos de sc-tos cod
demnaveis e talvez injustamei^le nodoados por al&íves nãc
destruídos ; ao illuslre cidadão que perdemos, como á ou-
tra notabilidade politica que ainda é mantenedor admirá-
vel apezar do seus velhos annos, na arena da camará ríti-
licia, e que então discorria comnosco sobre aquelle e ou-
tros assumptos semelhantes, dós dissemos o que repelimos
agora : ■ Podeis advogar a própria causa diante dos futn-
Dictzedby Google
ros historiadores; esctevei e deixai memorias: ellas Rpro-
veitarão á pátria o a nós mesmos. ■
Combatida a calumoia de 1833, deixados ao julgamento
dos pósteros, que únicos podem serimparciaes, os ulliraos
aanos em que a policia, dirigida pelo seu chefe Euzebio de
Queiroz, foi accosada de eovolver-se ua politica, favore-
cendo um partido, abstracção feita de pleitos que ainda
não podem ser sentenciados, a justiça e a gralidSo teceram
na capital do império coroas cívicas para a fronte serena
(lo mais dignamente celebre dos nossos chefes de policia.
Euzebio de Queiroz parecia ter dois privilégios: o de
não dormir e o de adivinhar : o crime ou era prevenido,
ou de promplo seguido e npanhado nos recônditos da mais
profunda obscuridade ; o crime deixava sempre rastilho,
vestígios que n3o escapavam á actividade vidente do chefe
de ' policia. Euzebio fazia lembrar Fouché pela sagacidade.
Ministros da justiça de diversos credos politicos realçaram
os seus grandes serviços.
No campo da Dolílica o nosso finado consócio íllus-
trou-se como um dos chefes mais babeis e estimados do
partido conservador; rommandou seus correligionários
nos comicios populares, e n'clles nâo foi primus inier pa-
res, porque nunca houve quem lhe disputasse a primazia :
nos dias d'esses certamens coustitucionaes o chefe dos con-
servadores, o general que planejava, o valente que se ex-
punha, diremos a palavra, o cabalista que procurava, fat-
iava ao povo, era elle. Euzebio de Queiroz era então cabeça
e braço do seu partido, porque era o democrata entre con-
servadores.
Em 183S foi eleito membro da assemblóa provincial do
Rio de Janeiro e pelo mesma província deputado i assem-
bléa geral em cinco legislaturas; no anno de 185i mereceu
Toao XXXI, p. II 85
Dictzedby Google
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ser escolhido senador em lista tríplice offereàda á corAa
ainda pelo Río de Janeiro.
Em 1848 entrou como mínblTO da justiça no gabinete
de 29 de Setembro.
Por decreto imperial de 34 de Outubro de 18&5 foi
nomeado conselheiro de Estado eslraordinario e em i8 de
Agosto de 1866 conselbeiro de Estado ordinário.
Tario grave e sisudo, dispondo de intellígencia vasta,
de vontade enérgica e d*aquella força que provém da consci-
ência do valor próprio o conselbeiro Euzebio onde se mos-
trou, onde serviu, foi notabilidade : inQuencia legitima no
gabinete de que fez parte, chefe parlamentar na camará,
um dos guias do seu partido no senado, laborioso e rico
de luz no conselho de Estado, foi estadista que depois de
Vasconcellos ostealou-se a par do marquez de Paraná e
do visconde do 1'rugua^, se os não excedeu, na direcção
babil da escola conservadora.
Orador doutrinário, de palavra facíl e amena, de dia-
léctica cerrada, m< .^T&do ainda nas mais fervorosas dis-
cussões, sempre cortez na forma, sempre vigoroso na
matéria possuindo o condão apreciavel.o raro privilegio de
não dizer mais nem menos do que lhe era preciso, alcançou
na tríbuna parlamentar esplendidos triumphos.
Põra dos marcos da magistratura e da politica o conse-
lheiro Euzebio prestou ainda ao Brasil diversos e alguns
importantes serviços. Foi durante alguns annos inspector
geral da instrucção primaria e secnndaria do município da
cdrte, lugar cuje exercicio deixou em consequência da
cruel moléstia queo levou á sepultura, acertando o governo
em não dar-lbe demissão, embora fosse evidente a morte
prévia do iUusIre cidadão, condemnado aos martírios de
um longo viver de moribundo.
Mal terrível cahira como um raio sobre o illustre varão :
Dictzedby Google
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profuoda enfermidade que punha em ruína a sua organi-
zarão manlfestou-se ainda mais cruel na paralisia mais ou
manos completa da lingua ; quebrãra-se para sempre ao
valente guerreiro sua melhor espada; ao exímio orador fal-
tou a palavra.
Ainda depois de uma viagem á Europa.que com os cui-
dados incessantes de um brasileiro medico distincto e
amigo extremado, lhe dera fracas melhoras, o conselheiro
Euzebio resistiu alguns mezesá morte.
Os habitantes doesta capital viam as vezes um homem
que vagaroso passava apoiado em bra^o amigo ; não era
velho, e seus passos dúbios se arrastavam, seus olhos ti-
nham perdido o brilho antigo, em seu rosto estampavam-se
a ddr e paciência, em seus lábios triste sorriso, sorriso ir-
mão de lagrimas, parecia o adeus de despedida de um
mart;r, se alguns corriam a fallar-lhe, elle se esforçava,
lutava com a paralysía para responder, e desatadas a custo
da língua semi-mortas palavras mal pronunciadas, incom-
pletas, o homem curvava a cabeia e melancólico se ia
afastaudo ; alguém acaso perguntava : «Quem é t...> lodos
respondiam compungidos : Euzebio em ruinas. i
Deus compadeceu-se doíllustre brasiciro: a longuíssima
agonia do conselheiro Euzebio de ij-ioíroz Coutinho Ma-
toso da Camará terminou a 11 de Maio doeste anno.
Bella intelligencia e nobre coração, probidade e honra
foram dotes doeste nosso finado consócio ; notabilidade
politica, chefe de um partido, estadista influente, julgue
de seus acertos ou dos seus ' erros a posteridade ; pela
nossa parte somos duas vezes suspeito : havia vinte annos
que éramos seu adversário politico, havia dezoito annos
que éramos seu estimado amigo.O adversário não pôde jul-
gal-o : o amigo se lembrara d'elte sempre com saudade.
No anno que vai acabar soffrou ainda o nosso Instituto
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UmeolaTel perda com a morte de seu membro honorário o
sflDador do império Francisco de Paula de Almeida e Al-
buquerque,
Era um cidadlo por muitos títulos digno da estima e do
'espeilo dos brasileiros e de grande consíderaç&o da nossa
sociedade.
Ponnado em scieucias jurídicas na universidade de
Coimbra, o Brasil regenerado politicamente em 1822 soube
aproveílarosdotos doesse seu dislinclo filho, que modestoe
retirado nunca se lembrou de disputar grandezas, e apenas
recebeu as grandezas sociaes, que o foram procurar em
nome do amore da confiani;a dos seus concidadãos.
O Dosso fíaado consócio, natural da província de Per-
nambuco, e digno representante da noiavel familía que
seu nome ÍDdíca.roi por seus com provincianos apresentado
em lista tríplice para senador, o pelo regente em 1838 es-
colhido para sentar-se em uma das cadeiras da camará
vitalícia.
Já tinha sido, durante poucos dias embora, presidente dn
sua província nata), logo depois o senador Almeida e Albu-
querque foi ministro de um gabinete de transicçãu que du-
rou breves mezes, e succumbiu ao choque do dois pnrti-
dos adversos, entre os quaes parecia corpo eslr^nho ; por-
que não era expressão lie! e legitima de nenhum d'elles.
Alheio a paixões politicas, poralt;um tempo ausente da
pátria em viagem pela Europa, o nosso estimado e honra-
díssimo consócio perdeu as vanglorias o escapou aos ódios
da nossa alé hoje muito estéril e mesquinha luta da política
interna.
O senador Francisco de Paula de Almeida e Albuquerque
não morreu ignorado, e descansa para sempre n'esta terra
de Grécia e Troya abençoado por gregos e Iroyanos,
Ha um ministério e uma profissão que aduoam com todas
Dictzedby Google
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as i:lassesdasociedade, com os ricos n os pobres, com os
poderosos e os humildes squelles que sabem cxercet-os
conscienciosa e completamente : ha dois e não mais ; o
ministério do padre e a profissão do medico.
O padre e o medico nos palácios da realeza, nas cazas
faustosas da opulência , nos abrigos mesquinhos da po-
breza, nos azylos sombrios da indigência, tCro os mesmos
deveres a cunriprir;dosempeDb3m dois sacerdócios de frater-
nidade : são, devem ser duas caridades evangélicas a soc-
correr ohonnem : um, o medico, espera o homem á porta
da vida, e ás vezes o acode ainda niiles do seu nascimento,
qnando elle ó apenas feto ; o outro, o padre, acompanha o
homom alé a sepultura, e ainda depois da sua morle ofTe-
rece por sua alma a esmola da oraç9o eo sagrado sacriBcio
a Deus.
Entre o nascimento e o passamento do homem o padre
toma-o na infíiacia, banha-o no Jorlão do baptismo,
depois unge-o com o óleo santo da confirmação, sagra-lhe
os la^fos de amor no hymenèo, ensina-o do púlpito, acon-
selha-o ao confissionario, pede ao rico para o pobre, dá
a este metade do seu p3o, consola o afllicto, absolvo o con-
Iricto, o nos trances [la agonia accende aos olhos do mori-
bundo n luz da fé.que abre o caminho do céo.e lhe cstonde
os braços de Deus misericordioso na divina magestade do
perdão ; e também enlrc o nascimento e o passamento do
homem o medico é o coração amigo que ouve o gemido do
quesoftre c corre a combater o mal que faz sofrer, é na
dArde quem não falia o interprete da mudez da croan^a, das
confusões do pudor da donzella, do silencio obstinado da
victima do erro, e o ouvido sepultura qafs se fecha sobre o
sngredo dn honra ; é a piedosa dls;imuliição da sensibili-
dade quo disfari;a o perigo e finge não ver a morto ', é a mão
subtil que deixa á cabeceira do pobro a bolsa da caridade.
Dictzèdby Google
- 438 —
é o saoto amor do próximo identificado na sua pro-
fissão.
Quando o padre e o medico sabem ser assim, as beoçãos
de todos são os seas prémios mais suaves durante a vida,
e as lagrimas, a alllicção de todos, honras fúnebres gran-
diosas que em sua morte recebem nos altares dos corações.
Mo dia 13 deJuUio de 1868 havia lagrimas e afllicção
de todos na cidade do Rio de Janeiro : Unha morrido um
medico que sabia ser medico.
O velho Dr. Meirelles descansava, dormindo o ultimo
somno.
Joaquim Cândido Soares de Meirelles, filho legitimo do
cirurgião Manoel Soares de Heirelles e de D. Anna Joa-
quina de S. José Meirelles nasceu em Santa Luzia do Sa-
bará na proTincia de Minas-Geraes aos 5 de Novembro de
1777 : de seu pai herdou a vocação para a medicina, s
esse génio medico que tão justa nomeada lhe deu no Brasil
e particularmente na capital do império. Mo seminário do
S. José d'esta cõrle fez com proveito e distincção os seus
estudos de humanidades, em 1819 malrículou-se na aca-
demia medico-cirurgica , tendo passado pelos exames en-
tão eiigidos ; assentou pra<;a como cirurgiào-ajudante no
batalhão de caçadores em 1822, foinumeado cirurgião-mõr
do regimento de cavallaria de Minas, e na sua província
prestou grandes serviços, organizando o hospital militar
no Ouro Preto, e tornando-se tão notável no tratamento de
doentes durante uma terrível epidemia que cotão grassou,
que em 1825,quando de novo se achava no Rio de Janeiro,
a camará municipal do Ouro-Preto, vendo seus municipes
vizilíidos por outro flagello epydemico, representou ao go-
verno imperial pedindo com instancia que the fosse man-
dado o soccorro do illustre Meirelles.
Mas em 182i} o distincto mineiro partiu para a Europa
Dictzedby Google
— 43d —
como peusioDÍsta do Estado para desenfolver e aperfeiçoar
em França os estudos médicos que completara oa academia
medico-cirurgica do Rio de Janeiro. Em Paris a vida do
nosso digno compatriota passou-se toda e exclusivamente
na frequência dos hospilaes militares, no estudo da or-
ganização, feito no livro dos cadáveres, nas manhãs apro-
veitadas em ouvir as liçdes dos grandes mestres,nas noites
consagradas á leitura reflectida das obras dos sábios. Mei-
relles viu em Paris os bospitaes e a escola de medicina ;
mas em dois annos e alguns mezes ja linha visto bastante,
e obtendo a dúplice corda de doutorem medicina e cirur-
gia por aquella escola, voltou á patri^ nas azas da saudade
e do patriotismo.
O amor da sciencia tinha custado a Heirelles provaçítes
cruéis que mais tarde elle contava sorrindo : deixerool-o
fallar e ouçamol-o em 1825 : — já eu era marido e pai ;
da rainha pensão de cincoenta mil réis fortes deixei metade
para minha mulher e filhos e com os vinte e cinco mil for-
tes, que me ficaram, tive, além do mais, de pagar mestres
e de comprar livros e cadáveres : durante os dias úteis da
semana alimentava-me ordinariamente, comendo fructas,
e pão: aos domingos desíorrava-me da penitencia, indo
jantar com Paulo Barbosa, ou com José Marcellino Gonçal-
ves, ou com o capitío-mór José Joaquim da Rocha, ou
com o visconde de S. Lourenço, e eutão eram para mim
inapreciáveis, maviosissimos, esses dias de festa ; por-
que n'elle3 o excellente jantar era o menos, o fatiarmos da
pátria era o mais. >
Em 182S o Dr. Meirelles não se contentou no Rio
de Janeiro com a clinica urbana que om larga escala exer-
cia pela fama e pelas provas da sua sciencia e do seu tino
medico, pediu e obteve uma enfermaria da Santa Casa da
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D,i.,.db, Google
— 441 —
Carlos, o Mirsbedu brasileiro: « Esle sol em seu occaso
ainda brilha como brilhava ao meio-dÍa. >
Velho e cansado, o illuslre medico brasileiro foi nomeado
ciruFgião-mór da armada, e depois de haver n'esse emprego
dado provas ds maior solicitude pelo serviço publico,
melhorando a administração respectiva, zelando a hygíene,
economizando os dinheiros do tbesouro, dando o exemplo
da actividade e do escrupuloso cuidado no cumprimento
do dever, em 1865 remoçado pelo enthusíasmo patriótico,
cego aos estragos da idade, surdo ás reclamações do egoís-
mo bem fundado, vendo e ouvindo somente a aiTronla
e o clamor do Brasil, o impulso e a lição do brasileiro que
é imperador, acompanhou o imperador n'essa nobre viagem
do Rio de Janeiro a Porto-Alegre, n^essa nobre corrida
de Porto-Âlegre a Uruguaiana, onde o estrangeiro invasor
abateu, entregou as armas, para que uma victoria sem gola
de sangue sagrasse um dos mais bellos actos cívicos do
primeiro cidadão.
N^essa honrosa embora facit campanha, em que aliás
sobraram provações, o Dr. Meirelles apenas escapou á
morte para avançar fria e implacavetmeole para a sepul-
tura, que aberta o esperava. Fulminado peto typho, mori-
bundo tornou á vida; mas a que vida?.... a vida da
consciência illustrada do medico que está lendo nt> livro
do seu corpo, dos seus soffrimentos, nas pulsações do
coração, na perturbação, nas ruinas do organismo, oannun-
cío iuíallivel, o agouro sinistro do passamento próximo.
Mas não choremos morto o grande medico, sem que
I) tenhamos saudado patriota.
O Dr. Joaquim Cândido Soares de Meirelles não sacri-
ficou o dever cívico ao culto exclusivo da sciencía, em que
se mostrou exímio. Houve o'clle por assim dizer duas
TOMO KXXI, P. II 96
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— 442 —
naturezas, a da vocação medica, a da religiío liberal na
politica.
Brasileiro como seus pais, brasileiro como seus filhos,
que digDOS d'elle se mostram, sua alma accendia*se aas
Qammas do patriotismo, seu coraçSo era todo da liberdade.
Em 11 de Janeiro del822foielleque,correndoaotheatro
de S. João, depois de S. Pedro de Alcântara, fez prevenir
ao principe regente do pronunciamento das tropas poriu-
guezas, que sob o commando de Jorge de Avillez se revol-
taram armadas contra o Fico magestosamente revolu-
ctoDarío.
Em 1840 Toi ainda elle ura dos mais persistentes pro-
pugnadores da maioridade de S. U. o Imperador, e a essa
causa prestou serviços iguaes aos maiores que então foram
prestados.
Em 1842 o antagonismo violento dos partidos e as
eiagerações politicas da época agitaram anormalmente o
paiz : o Dr. Meirelles teve de seguir deportado para a Europa
com 03 Srs. conselheiro Limpo de Abreu, depois visconde
de Abaete, conselheiro Saltes Torres-Homem e outros ■'
tão boa e dislincla companhia de infortúnio assignala a
importância politica do nosso illustrado consócio, como
assigna)ou-se a sua innocencia, quando, de volta ao Rio
de Janeiro, nSo houve juiz nem tribunal que o chamasse
á contas, e a restituição das honras e empregos desfez até
a mais leve nuvem de suspeitas.
Hembro da assembléa provincial do Rio de Janeiro em
uma l^slatura, deputado da essembléa geral pela provín-
cia de Miaas-Geraes em outra, o Dr. Joaquim Cândido
Soares de Meirelles distinguiu-se como campeão leat, deci-
dido e enérgico dos princípios liberaes e da monarchia
constitucional representativa.
Em politica homem de coavicções puras e inabaláveis.
DictizedbyGoOJ^IC
— ti3 —
oa scieacia medica luzeiro, na vida intima modelo de pai
de familia, exemplo de probidade e virtudes, elle foi ainda
amigo como sSo esses amigos raros, dos quaes basta
um para consolação e encanto da vidn Q'esle mundo de
misérias e de ingratidões.
O Dr. Joaquim Cândido Soares de Itteirelles leve o titulo
de conselho, e em seu peito a insígnia de ofUcial da ordem
do Cruzeiro, a commenda da imperial ordem da Rosa,
o habito de civalleiro de S. Bento de Aviz e a medalha
commemorativa da reodiçfio de Uruguayana.
Além d^essas remunerações de serviços, d'es3as graças
que a mageslsde confere aos beneméritos, o conselheiro
Dr. Joaquim Cândido Sonres de Meirelles gozou da con-
fiança e da maior estima de S. M, o Imperador e de sua
augusta familia e foi medico da imperial camará.
Na republica das letras mereceu ser e foí sempre muito
considerado : os títulos de membro honorário da Imperial
Academia de Merlicina, de membro correspondente do
nosso Instituto, e de muitas outras sociedades scientiScas
e lítlerarias do Brasil e da Europa, foram diplomas que
laurearam a fronte nobre d'esse brasileiro illustrado.
O povo também confere (itulos: sem o direito de de-
cretar, decrota pelo convénio, pelo juizo unanime: o juizo
unanime d'um povo já fez d'um franciscano um santo
antes da canonísaçfio declarada pelo Papa : o juizo una-
nime do povo fluminense agraciou o Dr. Joaquim Cândido
Soares de Meirelles com o triplico laurel da sciencia, da
caridade e do patriotismo.
A lista fúnebre dos nossos consócios finados em 1868
vai agora encerrar-se coro o noroe illustre do conselheiro
Paulo Barbosa da Sllva.cidadão benemérito, quosoubecon-
sagrar ao Brasil seu braço de soldado, seu coraçáo de pa-
triota, sua intelligencia esclarecida de politico e diplomata,
Dictzedby Google
— 444 -
o seu zelo esmerado, sua fidelidade sem quebra, sua de-
dicação, sau amor i sagrada iníancia dos augustos pupillos
da pátria, prestando depois e até a morte todos os tributos
do Ihesouro de seu rico préstimo á pessoa e á casa de
S. M.' o Imperador.
Filho de Anloaio Barbosa da Silva , coronel do 1*
regimento de cavallaria do Snbará em Minas-Geraos, Paulo
Barbosa da Silva nasceu em 1790 n'aquella mesma villa,
o assentou praça de cadete aK^^regado iio regimmilo de ca-
vallaria do Minas a 15 de Maio de 1804, passando a oIToc-
tivo a 12 de Outubro de 1808, c apenas com IS annos foi
encarregado da remonta d'esse corpo militar, eda inspecção
da mineraçio do salitre: doís annos depois era alferes e
por ordem do capitão general marquez do Palma punha
em execução o ordenado na caria régia de 3K de Stílembro
de 1811 sobre a inspecção da mineração do ouro, tarefa
diflicíl e minuciosa, por cujo desempeaho mereceu os
maiores elogios.
O claugor das trombetas guerreiras chamava os soldados
ás campanhas do sul em 1813. Paulo Barbosa partiu ; roas
a convenção de Rademaker fez retroceder da Banda Oriental
nossas hostes victoríosas, e o joven oflicial teve de regressar
de S. Paulo, para onde marchara. Em 1817 vem com o seu
regimento para o Rio de Janeiro, e então obtém do rei li-
cença paia permanecer na capital e frequentar a academia
militar, onde leve o curso mathematíco, sendo premiado
no 2", 3", 4' e 5* annos. Em 1819 recebeu a promoção de
^eneate, o o habito da ordem de Christo com a tença
de 238S annuaes : capitão a 14 de Setembro de l82l,passou
n'esse posto para o corpo de engenheiros por decreto de 27
de Novembro de 1823: um anno antes já elle era mandado
a levantar forlificações em Cabo-Frio e Macalié, quando se
receiava alguma invasão de tropas porluguezss : em 23 da
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— 445 —
Junbo de 1824 foi Domeado commaadante das baterias de
Irajá e três mezes depois oraou seu peito de soldado com o
habito de Aviz.
Em 1826 ÍQ(eiTompem-se as coromissões encarregadas
ao hábil engenheiro, e Paulo Barbosa parte para a Europa
entre os estudantes notáveis que o governo manda i con-
quista dt) mais luzes e sciencia nos grandes focos da civíli-
saçSo do velho mundo.
De lá mesmo o cidadão patriota se empenha em servir
ao seu paiz: é elle quem propõe em Julho de 1827 a
creaçãodaarmadelanceirosnoRio-GrandedoSul, e quem
manda o primeiro modelo de artilhería de montanha e uma
memoria para syslematisar os pesos e medidas do Império.
Chamado em breve a ler pra<;a na diíScil e delicada mi-
lícia da paz, Paulo Barbosn, diplomata, e depois politico
e administrador, não tem mais nam occasiSo, nem tempo
de distinguir-se, como soldado engenheiro, senão no curto
espaço do vinte e um mezes, desde Março de 1833, em que
de volta da Europa seapresenlou noquarlel-general.até 30
de Dezembro de 1833, datn da sua nomeação .p.ira mor-
domo interino da casa imperial; mas esse período etio o
enche, empregado nas divisas d.is freguezias da província
do Rio da Janeiro, em trabalhos da repartição do ministé-
rio do império, a cujo serviço passa, e na tarefa espinhosa
e polriotica, qua dignamente desempenha, acompanhando
o general Pinto Peixoto a Mínas-Cieraes, onde a revolta
alçava o collo e tentava derribar o governo legal da pro-
víncia.
O sangue dns revoltosos era para Paulo Barbosa sangue
duas vezes irmão, sangue brasileiro e mineiro: poupal-o
era mais que dever, gloria verdadeira e sublime : essa gloria
tiveram o general e o nosso venerando consócio: a revolta
do Ouro-Preto dissipou-se como nuvem negra ao sopro de
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suaves auras : não se ouviram tiros nem gemidos : a ordeoa
restabeleceu*«e sem o delírio dos combates, sem o aspecto
de cadáveres, sem o quadro sÍDÍstro das ruÍDas, Uais tarde
em 1839 o posto de tenente- coroael recordava a bella
víctorís insangienla a Paulo Barbosa da Silva, que aliás
tinba sido promovido a major effectivo a 12 de Setembro
de 1837.
A vida militar activa de Paulo Barbosa da Silva, ioter-
rompe-se portanto no 6m do anno de 1833 e não mais se
reaccende : a 15 de Harço de 1844 a suo reforma no posto
de brigadeiro dá-lbe emfim essa jubilação do soldado,
jubilaçãoque foi amaina para o nosso venerando consócio,
pois que elle a procurou desgostoso e como um recurso
contra a iniolerancia politica de adversários, que não lhe per-
doavam a SUB Gdelidade e dedicação aos princípios libcraes.
Eis a carreira militar de Paulo Barbosa, modesta, mas
nobre, e n'6lla a serie de seus serviços de soldado, come-
çando aos 18 e aos 20 annos por commissões do canGança>
em que elle ostentou zelo e honra ; e terminando
aos 43 annos pelo vencimento de revoltosos em armas, em
que elle escreveu a bistoria do tríumpbo sem molhar a
penna no sangue de um só vencido.
Para a sua gloria de soldado modesto bastam estas re-
cordações.
Em balde os anachronismos, corra agora a vida do diplo-
mata antes da vida do politico, que a precedeu e imer-
roediou.
A 6 de Abril de 1829 foi Paulo Barbosa da Sitva nomeado
addido A legação do Brasil na Rússia ; mas a 26 do mesmo
rooze por ordem do raarquez de Barbacena, segue da In-
glaterra paraVienuH d'Auslria, levando offioíos d'«quelle
então embaiiador, o volta a Londres em Julho do mesmo
anno, sendo portador do contrato de casamento do impe-
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railor o' Sr. D. Pedro I com S. A. Real a príaceza de
Lewthembnrg logo depois imperatriz do Brasil.
Por decreto de 23 de Outubro ainda de 1829 sobe a se
cretsrio da legação brasíleirn em Vienna, tendo antes em
MuDÍch merecido por seu espirito a aíTabilídade o mais
obsequioso acolhimento, e concorrido muito alli para des-
truir preconceitos que existiam contra o Brasil. Demittidoa
30 de Janeiro de 1830, volta é pátria, e vem achar no throno
um imperador inda infante.DO governo outras ídéas e prin-
cípios, DO paiz as convulsões resultantes de uma revolução
que foi generosa e salvadora , mus que não podia escapar
aos perigos do abalo virulento da sociedade, e precisava
vencôi-os, como os venceu com o esforço e o encanto do
patriotismo.
Depois de uma interrupção de quinze annos, o nosso ve-
nerando consócio volta á carreira diplomática. Por decreto
de 13 de Dezembro de 1845 ó nomeado enviado extraor-
dinário e ministro plenipotenciário para S. Petersburgo,
passa a servir em Berlin com o mesmo caracter a 10 de
Dezembro de 1847 e d^abiéremovidopara Viennad'Auslria
a 10 de Abril de 1842.
Ffão foi d'esses diplomatas ociosos que presumem fazer
bastante satisfazendo os cumprimentos e deveres da eti-
queta. Quando esteve em Berlin promoveu a organisação
de uma sociedade que teria por Cita favorecer a emigração
prussiana para o Brasil, sendo o principe Alberto o pro-
tector d'essa instituição, que aliás não conseguiu realisar
por ter sido removido para Vienna. Teve occasião de dar
provas de sua dedicação e fidelidade é família imperial, e
S M. o Imperador lh'o agradeceu em honrosissima carta.
Recebido com distincçào e favor em todas ns cortes da
Europa, e especialmente na Rússia, onde o imperador Ni-
coláo o acolheu com a mais penhoradora estima, o conse-
Dictzedby Google
— 448 —
Iheiro Paulo Barbosa da SíIts deixou ein todas essas capi-
tães suaves recordações e vivas sympatbias.quo elle cuidou
sempre de aproveitar em beneficio ou no justo iateresse
da pátria.
Na capital da Áustria moléstia gravíssima pAz em risco
seus dias e atormeatou-o com padecimentos qne por loagos
mezes o tiveram prostrado entre a vida e a morte, e foi do
meio doesse terrível solTrOT, que á família e aos amigos se
aOigurava leota agonia, que lhe chegou o decreto de sua
demissão fulminado por seus adversários políticos, então
no poder. O philosopho riu-se do golpe, o moribuntlp
tornou é vida, o patriota voltou para o Brasil era 1854.
O conselheiro Paulo Barbosa da Silva, como diplomata,
acaba aqui.
Patriota fervoroso, Paulo Barbosa da Silva surge na vida
politica, escrevendo o seu nome na historia da sanla cru-
zada da independência do Brasil. Em Dezembro de 182i
chegou ao Rio de Janeiro o decreto das C6rtes de Lisboa,
mandando retirar para a Europa ao príncipe regente : a
noticia de semelhaute disposição, que de harmonia com
outras já desfachadas preanunciavam tentativas ou de re-
colooisação ou de rebaixamento do Brasil, alvoraçaram
os habitantes da cidade do Rio de Janeiro, e em seus
clubs o capitão-mór José Joaquim da Rocha, José Ma-
rianno, Nóbrega e outros resolveram provocar pronuncia-
mentos públicos em opposição á retirada do priucipe; mas
não bastava a enthusiastica voz do povo tluminense, e
para que se desprendessem uuisonas, com essa, para tão
grande empenho, as vozes das provincías de S. Paulo e
Minas procuraram-se e acfaaram-se promptos dois cora-
josos emissários : para S. Paulo partiu Pedro Dias, depois
marquez de Quiíeramobim, para Minas seguiu dili-
gente Paulo Barbosa da Silva, que tão avisado e activo
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correu a desempeabar a nobre larefa, que, deixando a
nossa capital a 15 de Dezembro, remettia logo a 27 a re-
presentação da viila de Barbacena, e a 4 de Janeiro de
1822 a da comarca deMaríanna, no sentido ajustado;
exemplos poderosos, eléctricas labaredas que obrigaram o
governo provisório de Mioas.que aliás recusava sua obediên-
cia ao principe. a mandar o seu vice-presidente reconbe-
cêl-o como cbefe supremo e pedir-lbe também que fi-
casse no Brasil.
A causa gloriosa pela qual subira ao patibulo o Tira-
dentes, consagrada pela victoría tornou heróes felizes os
revolucionários do Ypiranga ; mas por esse mesmo con-
traste se patentes a ousada e honrosissima dedicação
d'BqueUes brasileiros que se extremaram, trabalhando pela
independência da pátria em 1821 e 1822, e eipondo-se
e sabendo como e a quanto se expunham, se adversa lhes
fosse a fortuna D'esse processo, que era a conspiração e
a luta, e de que o triumpho seria a sentença ; e por isso
mesmo conquistaram brilbanle renome, e a immorredoura
gratidão nacional, os beneméritos que,lembrando a pátria,
esqueceram os perigos, e nem mediram a responsabilidade
que tomaram. Um d^esses beneméritos foi Paulo Barbosa
da Silva.
Em Dezembro de 1833 o governo, impellido por aconte-
cimentos políticos cuja apreciação não seria agora inoppor-
tuna, arredou do palácio de S. Christovão e da tutoria de
S. M. o Imperador e de suas augustas irmâso sabioe vene-
rando José Bonifácio de Andrada e Silva, e chamou para
subslluil-o em tão elevada tarefa o leal e dedicado marquez
de Itanhaen, sendo a 31dome5mo mez nomeado mordomo
iuterino da casa imperial Paulo Barbosa da Silva.
Desde enião o nosso prezadn consócio, consagrando- se
lodo com solicitude e amor ao serviço do imperador e das
TOMO XIXI. P. II. B7
.db^^gogle
— *50 —
augustas príncezas brasileiras, ainda uma vez bem mereceu
da pátria .
Foi ao zeto e á feliz iospiração de Paolo Barbosa que o
imperador deveu ter por mestres priocipaes o muito illus-
ttado Sr. víscoude de Sapucahy, nosso digno presidente,
cuja preseDça aos tolhe o mais justo elogio, e aquelle sim-
ples, modesto e sábio carmelita Fr. Pedro, depois bispo
de Chrysopolis, foote de luz pela sciencia e de virtudes
pela caridade.
Gozando da mais plena confiança domarquezde Itanbaeo,
que nobremente reconhecia a superioridade da sua ei-
periencia intelligente e de sua notável illustração, Paulo
Barbosa da Sílva foi mais do que mordomo da casa impe-
rial, foi o sacerdote da fidelidade da nação, que constante
velou pelos sagrados penhores da monarchia, do patrio-
tismo e da gloria do Brasil.
O augusto pupiUo (Ia pátria declarado maiordeu eloquente
e magnifíco testemunho da grandeza de tão relevantes ser
viços, nomeando a Paulo Barbosa mordomo elTectivo de
sua casa, honrando-o como d'anles e sempre com a sua
amizade, e resistindo na mageslado da sua gratidão ao cal-
culado embale de quantas invenções e tramas engendrou
o ódio politico para cavar a perda e a desgraça do inabalá-
vel e allivo adversário, cujo crime único era a sua posição
no paço, e a conSança intima que merecia do Sr. 0. Pe-
dro 11, confiança e esfima que o acompanharam e o real-
çaram até a morle.
Na mordomia da casa imperial Paulo ^Barbosa da Sílva
prestou serviços que o publico mal conhece ou de todo
ignora. Além de obras que mandou executar no paço da
cidade, foram innumeras as que realizou, reconstruindo e
augmentando o da imperial quinta da Boa-Vista, onda
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lambem completou o hospital, que pôde receber mais de
cem doentes.
Na fazeoda de Sanla-Cruz fez construir grande parte do
palácio e o hospital com capacidade para duzentos leitos.
Considerando a condição infeliz dos escravos da corda,
que nunca se podiam libertar, e interpretando fielmente os
sentímentose os desejos do imperador, foi Paulo Barbosa ds
Silva que m uilo concorreu para que passasse nas camarás a
lei que permilliu a Sua Magestade a quebrar os ferros e
restituir á verdadeira vida de homens quinhentos e tantos
infelizes, e de sua parte, como mordomo, facilitou sempre
a emancipação dos escravos.
A colónia allemã fundada na fazenda do Córrego Secco,
pertencente a S. M. o Imperador, e onde tão vicejante flo-
resceu já a fresca e bella Petrópolis, nasceu do plano com-
binado entre Paulo Barbosa da Silva e o seu intimo amigo
o illustre conselheiro Aureliano de Sousa e Oliveira Cou-
tinho, depois visconde de Sepitiba, e então presidente da
província do Rio de Janeiro.
O muito que ainda fez, as reformas que realizou na casa
imperial, os grandes beneRcios e melhoramentos públicos
para que concorreu, estenderiam este rude elogio biogra.
phico alam dos limites que é indispensável respeitar.
Esse varão preclaro pagou emQm o derradeiro tributo :
ao peso de setenta e oito atarefados annos juntou-se longa
e insensível moléstia que o levou á sepultura.
O conselheiro Paulo Barbosa da Silva foi na vida pu-
blica um cidadão benemérito, e na particular o encanto da
familia eo modelo da amizade.
Illustrado, bom, caritativo, ameníssimo na conversação,
leal aos amigos, até os sacríQcios, cujas proporções só me-
dia pelo dever e pela honra, probo, firme em suas con-
DictizedbyGoOJ^IC
— 452 —
vic{ões, Paulo Barbosa da Silva soaba merecer a inimensa
estima qae gozou.
Tinba os defeitos das suas qualidades, e ainda dos de-
feitos oobrezÀ ; franco pela lealdade, foi ás vezes franco
até a radeza, e sua palavra pungente feria eatão como am
dardo o hypocrita que teotava enganal-o. Os antagonismos
dos partidos políticos o envolveram em suas lutas frequen-
temente enraivadas; alto, e portactto preferido peto raio dos
adversários, Paulo Barbosa, rico de sentimentos generosos
e por Isso altiro, quando aggredido reagia com o impulso
enérgico do seu caracter, e na repulsão as vezes esmagava
com o peso do sarcasmo. Inabalável nas suas idéas, con-
servado inabalável na sua elevada posição administra tíva,
zombando das tempestades, como o jequitibá nas monta-
nbas, como o rocbedo nos mares, eicitou o ódio, as pragas
e os aleives de inimigos.
Em compensação contou elle no Brasil e na Europa nu-
merosos e dedicadissimos amigos. No velho mundo, além
de muitos nas cortes onde fora nosso ministro, teve entre
os melhores Saial-Hilaire e .Martíus, com quem activamente
se correspondia. Na pátria, onde ainda tantos o choram,
nenfaum foi melhor amigo de Paulo Barbosa do que S. M.
o Imperador.
Nâo faltaram ao nosso muito estimado consócio e bene-
mérito cidadão as honras da terra. Elie teve o titulo de
conselho, e foi grande do império, cavalleiro da ordem
de S. Bento de Aviz, oITicíbI da imperial ordem da Rosa,
commendador da de Nossa Senhora da CoDceiçSo de Vilta
Viçosa e da Legião de Honra, grã-cruz da real italiana de
S. Maurício e S. Lazaro, da imperial russiana de Sant^Anna,
da Ernestina da casa ducal da Saionia, e da imperial turca
de Medjidié da segunda classe.
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- *53 -
Mas acima de todas essas hoans, dístÍDCçõese grandezas
sociaes, P«ulo Barbosa da Silva teve títulos mais altos,
mais nobres ainda ; fonm estes :
Na vida militai brilho de inteltigencia e exemplo de dis-
cipliaa.
Na vida particular, o cultodaamizade e o amor da Tamilia
erigidos em religião.
No exercício dos cargos públicos e na administração da
casa imperial, o dever, o zelo e a boora tomados por
pharoes.
Na politica dos partidos, a sua brilhante Brmeza de prin-
cípios, como propugnador do progresso a mantenedor das
idéas liberaes.
No pa{o imperial e fora d*elle,o mesmo rosto sem mas-
cara, o mesmo peito leal, e no rosto a boca para a verdade,
e no peito o coração dieio de amor e de fidelidade para o
imperador e sua augusta familia.
Na epopéa de 1832 emfim, a gloria esplendida esublime
de paladino da independência da pátria .
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MANUSCRIPTOS OFFEREODOS AO INSTITUTO
DURANTE O ANNO DE 1868
PELO EXH. SR. C0N3ELSEIB0 iOXO MANOEL PEREIRA DA SILVA
Carta pateote nomeando familiar do santo officio da ci-
dade deLisboaa Antimio Borges de Carvalho, em 1761.
Lista dos contratos qae tem a capiíaoia do Rio de Ja-
neiro, etc.
PELO SR. DR. CÉSAR AUGUSTO MARQUES
Memoria histórica da administração do, Dr. Franklin
Américo de Menezes Dória na província do Maranhão,
{ escripta pelo offertanle).
Ode recitada no dia 2 de Fevereiro de 1826 pelo ex-
presiJoute da provincia do Maranhão Pedro José da Costa
Barros por occasião do festejo do natalicio de S. lU. o Im-
perador, etc.
PELO SR. DR. FRANCISCO IQKACIO HARCOMDES HOHEH DE MELLO
Itinerário da viagem feíEn pelo capitão Joaquim António
Xavier do Valleà provincia de Mato-Grosso pelos rios Ti-
bagy e Brilhante, em 1865.
PELO 3R. DR. ANTÓNIO HENRIQUES LEAL
Revoln£<}es e levante de Pernambuco em iTiOenil.
PELO SR. TENENTE CORONEL PEDRO TORQUATO XAVIER DE BRITO
Historia do assedio e <^apitulaçãO da praça da Colónia do
Sacramento em 31 de Maio de 1777. —(Com mappas.)
P^O SR. DR. J. F. CARNEIRO
Vários aati^raphos do desembargador Thomaz AnlODÍo
Gonzaga.
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- 456 —
PELO BXM. SR. BÁitlO DE MELGAÇO
Tabeliãs das latitades e loi^fitudes de diversos lagares da
proTiacia de Malo-Grosso determioados por observações
astrooomicas.
Mappa geograpbjco, cfaroDOlogico e eatalísUco da pro-
Tincia de Mato-Grosso, oi^aaizado pelo Sr. capilio de
fragata Angnslo Leverger. hoje chefe de esqaadra barSo do
PELO SI. JOAQllM FELICUKO DE ALMEIDA LOUZIDA
Documeolos offlciaes porhigucizes e hespanhoes relativos
aos limites do Império, na proviocia de Halo-Grosso,
compilUdos de ordem do Illm. e Exm.Sr.AntODÍo Francisco
de Pania HoIIanda Cavalcanti de Alhaqaerque, ministro
da marinha, pelo capitãj de fragata da armada nacioaal e
imperial Aogasto Leverger.
Aato origioal da fundação do forte do Priocipe da Beira
□a província de Mato-Grosso.
HAPPAS OFFERECmoS AO INSTITl^TO DURANTE
O AN.NO DE 1868.
Mappa das fragatas portuguezas que se incorporarão á
armada do Sul durante os aonos de 1774 a J776.
PELO Sft. DR. D. JUAH VILANOVA Y PIEHA.
Cartas topc^aphicas dos districtos de Madrid, Caraban-
cbel baixo e Titaleia, levantadas pela Junta Geral de Sla-
tistica de tlefiiLinlia.
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PELO SR. DR. CÂNDIDO MENDES DE AIMEIPA
Atlas do Império do Brasil, comprehendendo as rcspec-
livas divisões adminislrativas, eticlesiasticas, eieitoraes e
judiciarias. Rio de Janeiro, 1868. in-folio gr.
P£LO Sa. PRESIDENTE DA fROVINaA DE 3. PEDRO DO RlO-GRiNDE
DO SDL
Carta topograpliica da proTincia lie S. Pedro do Rio-
Graode doSul.confeccionada segando os trabalhos odíciaes
existentes oo archivo das obras publicas províociaes con-
cluiJd por ordem do Exm. Sr. Dr. Francisco Ignacio Mar-
cODdes Homem de Mello, presidente da província, sob a di-
recção do bacharel António Cieuterio de Camai^o, 1868.
RELATÓRIOS E DOCUMENTOS REMETTIDOS PELAS
SECRETARIAS DE ESTADO DURANTE O ANNO
DE Í868.
SECRETARIA DO IHPERIO
Relatório apresentado á assembléa geral legislaiÍTa
Da 2* sessão da 15' legislatura pelo Exm. Sr. ministro do
império, José Joaquim Fernandes Torres. Rio de Ja-
neiro, 1868.
Collecion de documei^tos inéditos relativos ao desça-
brinieoto, conquista e colonisação das possessões hespa-.
nholas na America o Oceaaia. — Madrid, os seis
1'. tomos, annos 1864—66.
Relatório com que o Exm. Sr. Dr. João Francisco Duarte
l" vice-presidente da província das Alagoas, entregou a
administração da mesma provincia no dia 9 de Setembro
TOSO XIII, P. II 58
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D,i.,.db, Google
— 458 —
de 1866 ao Exm. Sr. presideDie Dr. AnlODio Moreira de
Barros. Uaeeiõ, 1887.
Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Adelino Anlonio de
Lana Freire passou a admÍDÍstraçíio da proviocia do
Piauh; ao Exm. Sr. vlce-presideote Dr. José Uaooel de
Freitas oo dia 5 de Novembro de 18(^8, precedido de am
officio com qae o Sr. vice-presidente entregou a adminis-
tração da mesma proTiicia no dia 9 de Novembro d'aquelle
anno ao novo presidente, Dr. Polydoro César Bnrlamaqae.
S. Lniz, 1868.
Relatório com que o Exm Sr. presidente da província
Dr. Jactntho Pereira do Rego abriu a asseroblèã legisla-
tiva provincial do Amazonas no dia 1° de Junbo de 186ã.
Hanàos, 1868.
Regulamento D. i7 de l* de Agosto de 1867, reformando
a administração da Tazenda provincia) do Amazonas.
Manáos, 1868.
Collecção dos rognlamentos e outros actos expedidos
pelo governo da província do anno de 1867. Mara-
nhão, 1868.
Relatório com qoe o Exm. Sr. Dr. Joaquim Vieira da
Canha, l* vice-presideate da província de S. Pedro doRio-
Grande do Sal, passou a admiaíslração da mesma ao Exm.
Sr. Marechal de campo Guilherme Xavier de Sousa, no
dia lidelulhode 1868.
* '
SECRETARIA DA JDSTIÇA
Relatório do ministério dajastiça apresentado á as-
semhléa geral legislativa na 2* sessão da 13' legislatura
pelo respectivo ministro e secretario d'Est3do, Hartia
Francisco Ribeiro de Andrada. Rio de Jaaeiro, 1868.
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SeCRETARU DA GUERRA
Reldtorio apresealado i assembiéa geral legislativa na
3*. sessio da IH* legíslatara peloExin. Sr. miolslro da
guerra, João Ltistosa da Guoha ParaDagua.Rjo deJanei-
SECRETARIA DA MARINHA
Rolatorioapreseitado 4 asssembléa geral legislativa na
1'. sessão da 13* legislatura pelo ministro e secretario dos
negócios da roarinba Exm. coDselheiro Affonso Celso de
Âssis Figueiredo. Rio de Janeiro, 1868
SBCRETARIA DA FAZENDA
Proposta e relatório apresentado à assembiéa geral le-
gislativa na 2' sessão da 13' legislatura pelo ministro e
secretario d'Estado dos negócios da fazenda, conselheiro
Zacarias de Góes eVasconcellos. Rio de Janeiro, 1868.
SECRBTARIA DE BSIRANGEIfiOS
CoUeccion de documentos inéditos relativos ai desco-
brimento, conquista y oi^anízacton de las anlígnas Pose-
siones cspaRolas da America y Oceania, etc. Por D. Lais
Torres de Mendonza. Matlrid, 1866, 6 ds. in-i.
Idem idem. Madrid, 1867, 7* e 8* tomos compreben-
dendo 13 ns. ío-4.
Relatório da repartiçSo dos negócios estrangeiros apre-
sentado á assembiéa geral legislativa na 2' sessão da 13.*
Legislatura pelo Exm. ministro e secretario de Estado,
João Silveira de Sousa. Rio de Janeiro, 1868.
SECRETARIA DA AGRICULTORA
Relatório apresnntado ã assembiéa geral legislativa na 2*
sessão da ( 3' legislatura pelo ministro e secretario d'Es-
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tado. conselheiro Manoel Pinto de Sonsa Dantas. Riu de
Jaoeiro, 1666.
Relatório sobre a exposição niiivcrsal de 1867, redigido
pelo secretario da commissâo brasileira, Júlio Constascío
de Villencuve, e apresentado a S. M. o Imperador pelu
presidente da mesma commissão, Marcos António de
Aranjo. Paris, 1868. o 1*. vol. Íd-V.
RELATÓRIOS E DOCUMENTOS REMETTIDOS POR ALGU-
MAS PRESIDÊNCIAS DE PROVÍNCIAS DURANTE O
ANNO DE 1868.
Relatório que ao Sr. presidente da província do Paraná,
bacbarel José Feliciano Horta de Araújo approseotou o
bacharel Círios Augusto Ferrar, do Abreu por uccasiãa de
passar-lhe a administração da mesma pruvincis. Corí-
tiba, 1867.
Collecçfio das leis o decretos da provincia do Paraná dos
annos de 1867 e 1868. Oiritiba.
CoUecção das leis e ro^oluçOes da assembléa provincial
de Sergipe, do anno de 1867. Aracaju, 1868.
Gollccção das leis da província do Gram Pará. Tomos 28
í 29, annos de 1856, 186fi— 1867.
Leis e resoluções da asscmbléa Icgislsiiva provincial,
saaccíonadas o publicadas do anno de 186'. in-8.
D,:„l,;cdtv Google
— 461 —
Relatório com que o Exm. Sr. prí^sideote abrio a assem-
bléa legislativa no dia 1° de Março do 1808', o docomen-
tos aoncxosao referido Relatório.
Leis o Resoluções da Àssembléa Legislaliva da Babia
saoccionadas o publicadas do anno de 1868. Bahia, i86S.
Relatório com que o Exm Sr. Dr. José Bonifácio Nascen-
tes do Azambuja passou a administração da proviacia ao
Exm. Sr. Tice-presidcnle desembargador António Ladisláo
de Figueiredo Rocha, do dia 26 de Julho de 1868.
Babia, 1866.
ALAGOAS
Relatório apresentado á assembléa legislativa provin-
cial das Alagoas na 3* sessão 'da 17* legislatura pelo presi-
dente, Dr. António Moreira de Barros. Maceió. 1867, in-4.
Relatório com que ao Exm. Sr. Dr. Graciliano
Ariitides do Prado Pimentel entregou a administração da
província das AlagAas do dia 22 de Maio de 1868 o Exm.
Sr. Dr. António Uoreira de Barros. Maceió, 18b8.
PROVÍNCIA DO AMAZONAS
Regulamento n. 17 de 1 de Agosto de 1867 reformando
a Administração da fazenda provincial do Amazonas.
Manáos, 1868.
Relatório com que o Sr. presidente da proviacia, Dr.
Jacintbo Pereira de Abreu, abria a assembléa legislativa
provincial do Amazonas, no dia 1° de Junho de 1868.
Mau&os, 1666.
PROVÍNCIA DE HATO GROSSO
Relatório do vice-presidente da provincia de Hato-
Grosso, o barão de Agiiapeby, na abertura da sessHo ordiná-
ria da assemMèa legislativa provincial, em 3 de Maio
de 1868. Cuyabà, 1866.
D,c,t,zedbyG<.10gIe
BSPIRITO-SANTO
Relatório com que foiaberU a sessão exlraordinaria da
assomblèa k>gislaliva proriacíal pelo Etm. Sr. Dr. Fran-
CÍS4S0 Leite Bitieacoart Sampaio, presidente da província.
Vlctoría, 1668.
UO-CRAiniE DO SUL
Relatório com que o Exm, Sr. Dr. Francisco Ignacio
Marcondes Homem de Mello passou a administração da
proTÍQcia ao 1' TÍce-presideale da provincia, no dia l3 de
Abril de 1868. Porto-Àlegre, 1868.
Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Joaquim Vieira da
Canba, 1* TÍce-presídenie doesta provincia, passou a admi-
nistração da mesma ao Eim. Sr. marecbal de campo Gui-
Iberme Xavier de Sousa, no dia 14 de Julho de 1868.
Porto-Ãlegre, 1866.
Quadro estaUstIco e geograpbico da província de S. Pedro
do Rio-Grande do Sal, oi^anisado em virtude de ordem do
presidente da mesma, Dr. Francisco Ignacio Marcondes
Homem de Mello, pelo bacbarel António Eleuterio de Ca-
margo. Porto-Alegre, 1868, 2 vol. ín-i.
Relatório com que o Exm. Sr. marecbal de campo Gui-
lherme Xavier de Sousa passou a administração da provin-
da do Rio-Grande do Sul ao Exm. Sr. Dr. Israel Rodrigues
Barceltos, e este ao Gxm. Sr. Dr. António da CosU Pinto
Silva. Porlo-Alegre, 1866.
OBRAS DIVERSAS OFFEREClDAS AO INSTITUTO
DURANTE O ANNO DE 1868
PELO SR. CONSELBElnO lOkO MAIVOEL PEREIRA DA SILVA
Le Brésil contomporain — races, moeurs, inslitutions.
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— 468 —
payságe, coloDisatíoQ. Par Adolphe d'As8ir. Paris, 1867.
ÍD-8.
L'Iodustrie moderoe au cbami» de Hars — Conp d'CEil
sur l'éxposiUon universel de 1867. Par U. Jales le Roux.
Paris, io-4.
Les campagaes de Dugany-Trouin. (Com estampas.)
L'NoTeau et graod illumiiiaDl flambleau de la mer.
AiDslerdam, 1684, iD-folio.
Historia da fuodação do Império do Brasil, tomo 7°. Rio
de Janeiro, 1868, íd-8.
PELO SH. GRACILU»0 PIMENTEL
A liberdade e o trabalbo. Victoria, 1866, folbeto.
PELO SR. JOSÉ tlCARDO DE SOUSA NUNES
Memoria sobre a calecbese e civílisaçao dos indigeaas
do Brasil. Haraobão, 1867, folheio.
PELO INSTITUTU DA ORDEH DOS ADVOGADOS BRASILEIROS
Revista do mesmo iastíluto, 2 yol. RíO de Janeiro, 1868.
e Tol. 2° tomo 6.'
PELO INSTITUTO DE COIMBRA
O n. 6 do seu jornal.
PELO SR. DR. CBSAR AUGUSTO MARQUES
Almaoak de lembranças brasileiras, 3* anno, 1868.
S. Luiz do Maranhão, in-8.
Os ns. do Publicador Maranhense onde se acham pu-
blicadas as biographías dos bispos do Marauhão.
Semanários Maranhenset, onde se acham impressos os
seus artigos sobro o canal do Arapaby ; Instituição da Santa
Casa da Misericórdia do Maranhão ; a historia da- capella
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— 464 -
da camará municipal ; hospital militar, hospital dos
ros, casa dos expostos ; curiiiterio velho da Hiseric«
cemílerio do Gavião, igreja de S. Pantaleiio, do Uarai
retraio do desembargador A.nlonÍo Rodrigaes Vello*
Oliveira; relatório do Eitm. Sr. FraDklíD Américo di
nezcs Dória ao passar a administração da provinc
Maranhão ao Sr. Dr. Aatonio Epamtnondas de Hello
ladice alphabelico das leis, decretos e avisos relaii
iocompaUbitidade na accomulação dos ai^os e emp
públicos. I'or Ovidio da Gama Lobo. Maranhão, i
in-".
Peosameolos e máximas, pelo bacharel Frederico
Corrêa. Maranhão, 186&, in-8.
Relatório que o Exm. Sr. Dr. Manool Janseo Fer
apresentou á asseiubléa legislativa provincial no dial
Maio de 1868. S. Luiz do Maranhão, 1868.
Máximas, sentenças e provérbios reduzidos k his
pátria pelo padre Cyrilto dos Reis Lima. Maranhão, i
in-8.
Direilosedeveresdoaestrangeiros no Brasil. Pelo bi
rei Ovidio da Gama Lobo. Maranhão, 1868. in-8.
Semanários Maranhenses ~' cQoteuáo : Meurim, l
fregoezia ; Biographia de D. Luiz de Brito Homem,
bispo do Maranhão ; Largo do Campo de Ourique, qu
ememoriaàsagraçãodeS.M. oSr. Dr. Pedro li. Uma
sobre a agricultura, importafSo exportação, e tribui
algodão da província do Maranhão ; artigo sobre a fre
zia e yilla de Ânajatuba ; artigo sobre o cemitério \i
do Maranhão ; artigo sobre a historia e cultivo do a
no Maranhão, e a historia da ordem carmelitana da mt
província.
Resumo da historia do Brasil escript<> por D. Bercu
Firmina Vieira de Soosa. in-B.
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PELA REDACÇXo DA GAZETA MEDICA DA BAHU
Código de eibica medica adoptado pela Associação Me-
dica AmericaDa, tradazido do ioglez, exirabído da Gazeta
Medica Brasileira, Bahia. 1868. Folheto, e 17 os. do sea
jornal.
PELO SR. DR. SATDRNIHO DE SOUSA E OUTEIHA
Elemenlos grammaticaes Ubemdo, composta pelo offei^
taote e Manoel Alves de Castro Francina. Loaada, 1868-
in-8.
Essai de grammaire poogwée. i vol. [n-6.
Dictionoaire Françaís-Wotof et Wolof-Français. Par ies
RR. PP. Missionnaires. Dakar, 1855. ín-8.
PELO SR. AHTONIO ALTES FERREIRA
Bydroli^ia geral, l vol. in-8.
PBLA SECRETARIA DA CAMARÁ DOS DEPUTADOS.
Annaes da camará dos deputados da sessão de 1867.
S Tol. Idem do aono de 1 868.
PELO SR. CONSELHEIRO FRANCISCO XAVIER BOMTEHPO
Instmcções para a navegação do lio Amazonas. Rio de
J»ieiro, 1868.
P8L0 SR. DR. JOAQUIM DOS RFHEDIOS MONTEIRO
H^ene e edocaçio da infância. Rezende, 1868.
PELO SR. CÓNEGO DR. JOAQUIM CAETANO FERNANDES PINHEIRO
O Brasil e a Inglaterra ou o trafico de africanos, es-
cripto pelo conselheiro Tito Fr»nco de Almeida. Rio de
Janeiro, 1868.
TOMO XXXI, P. II 59
Dictzedby Google
— *6fi -
PE..OSR. DR.JOSlÊIOAQUItt TAVARES BELFORT
Collecçâo deiornaes, contendo trabalhos sobre a esta-
listica da provinda do Maranhão.
PELO SR. A. DEODORO DE PASCCAL
Umf^pisodto da historia palria. As quatro derradeiras
noites dos inconfidentes de Minas-Geraes(17í>2). Rio de
Janeiro, 1868.
PELA SECRETARIA DO SENADO
Collecção dos pareceres da mesa do senado da sessão
de 1867, in-8.
Um exemplar da collecção dos Annaes, e um volume
da synopse dos objectos pendentes de deliberação.
PELA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE PARIS
Boletins da mesma dos mezcs de Janeiro a Agosto do
corrente anno.
PELO INSTITUTO HISTÓRICO DE FRANÇA
O Investigador jornal do mesmo instituto : 8 ns.
PELA SOCIEDADE AUXILIADORA DA INDUSTRIA NACIONAL
Collecção incompleta de suas Revistas e Manuaes sobre
differentes assumptos, e Revistas dos mezes de Março a Se-
tembro do corrente anno.
PELO SR. DR. ANTÓNIO PEREIRA PINTO
Vários exemplares da soa obra— Estudos sobre algnmas
questões internacionaes. S. Pfluln, 1867. in-8.
DictizedbyGoOJ^Ic
PELO SR. l. A. B0UIJU4GER
Aagusis|iaroQlsdeleursMagestésrEmpereurD. Pedro 11,
et rimperatrice D. TberesaChrístiDa Maria, io-folio.
PELO SR. DR. UIGUEL FERREIRA VIEIRA
Reflexões acerca do progresso material da província do
Haranbao, io-8 gr.
PELO SR. JOSÉ SILVESTItE RIBEIRO
Quadras da litteralura, das scJencias, e artes da Rússia.
Por R. Lzovitich, precedido de um rápido lance de vis-
ta, por José Silvestre Ribeiro in-8gr.
PELA TYPOGRAPHIA NACIONAL
Collecf^o de leis do Império do Brasil, do auno de 18fí7.
2 toI.
pela reuacçilo do jornal. bahia illustrada
10 aameros do seu jornal.
PELO SR. DR. NICOLÀO JDAQUIH MOREIRA
Discurso jirODunciado pelo Dr. Nicoláo Joaquim Moreira
em nome da Academia Imperial de Medicina, na sessão an-
niversaria do instituto dos Itachareis em U trás, em 2 de
Junbo de 1S6S. Rio de Janeiro, in-8.
Considerações sobre o snicidio. Discurso pronunciado
perunte S. M. o Imperador na sessão solemae da Acade-
mia Imperial de Medicina em 30 de Junbo de 1867. -
Relatório medico-legal. Exame de sanidade feito pelos
peritos da justiça sobre a pessoa do Dr. José Marianno da
Silva em 13 de Abril de 1867, io-8.
Duas palavras sobre a educação moral da mulher. DIs-
DictizedbyGoOgk
\
corso proQQQuiado perante S. H. o Imperador aa sessão
solemDe da Academia Imperialde Medicina em 30 de Jaobo
de 1868. pelo Dr^ Nicoláo Joaquim Moreira, in-8 gr.
Relatório da comrnissio especta) nomeada pela Acade-
mia Imperial de Mediciaa para interpftr seu parecer sobre
a memoria do Dr. José Luiz da Costa-. —O que éa saúde? O
qoe é a doeucaT Pelo Dr. Nicoláo Joaquim Moreira, ío-8 gr.
PELO SB. LDB JOSÉ HURINELLY
Algumas cousideracoes que acerca de um folbelo im-
presso, assigaado e dislribnido pelo Dr. D. de A. C. de
Daque-Eatrada com o tilulo:— Prologo para a verdadeira
historia da Imperial Sociedade Amaole da luslniccão, offe-
rece ao conselho da mesma sociedade o sócio fundador
Luiz José Hurinelly. Rio de Janeiro, 1863, in-4.
PELO SR. JOiO CARLOS NORÊ
Refleides sobre a brochura do Sr. Cb. Expelly. Le
Brésil, Buonos-Aires, Montevideo et le Faraguay devanl
la civilisation. Porto-Alegre, 1868. ín-8 gr.
PELO SH. SECRETARIO DO BANCO 00 BRASIL
Relatório apresentado & assembléa geral dos accionis-
tas do banco do Brasil na sua reunião de 1868 pelo sen
presidente, o cooselbeíro d'Gstado Francisco de Salles
Torres Homem. Rio de Janeiro, 1868, in-folio.
PELO SR. JOSE* MARGELLIMO PEREIRA DE MORAES
Atlas univarsel par Robert, et par Roberi de Vaugoo-
dy, corr^é et augimeaté de la carte de TEmpire Franpais,
derisé ea départemeiís parC F. Delamarcbe. Paris, 1 toI.
ÍD-f0lÍ0.
DictizedbyGoOJ^IC
FEXOSK. J. H. P. DE VASCOHCELLOS
Selecta brasiliense oa nolicías, descobertas, observa-
ções, Taclos e coriosidades era relação aos homens, á his-
toria ecoasasdo Brasil. Rio deiaDeiro,l86S, 1 toI. íq-8.
PELO SR. OR. ANTOMO HENRIQOES LEIL
' Carso de litteratara por Francisco Sotero dos Reis.
Almaaak admiaistrativo do Maranhão para 1868 ; Poesias
de AdIodÍo Joaquim Franco de Sá.
Os dois primeiros volumes das obras poslbumas do Dr.
Gonçalves Dias.
Ecbo politico — Responde era Portugal a la Voz de Cas-
tilla y satisfaço a an papel auonymo oGíerecido a el Rey D.
Pbilippe 4*, Lisboa, 1645, ín-8.
PELO SR. INNOCENCIO FRANCISCO DA SILVA
Díccionario bibliograpbico portuguez. Lisboa, 1868,
tomo8*tD-8 gr..
PELO SR. VIVIEN DE SAIHT-MARTIM
L'anDée géographique. Revue anuuelte des voyages de
terre et de raer. 7' annèe 1867. Paris, 1868, íd-8.
PELO SR. PADRE LINO DO MONTE CARMELO LUNA.
Descripção das exéquias solemnes do Exm. general
D. Venâncio Flores, celebradas na cidade de Pernambuco,
por ordem do cônsul da Republica Oriental do Uroguay.
Recife, 1868.
PELO SR. OR. ANTÓNIO DE CASTRO LOPBS
Uosa latina— Oollecyão de lyras de Maritia de Dirceu
tradusidas para verso latino. Rio de Janeiro, 4868.
Dictzedby Google
PELA SOCIEDADE UNIÃO BENEFICESTE CO» HSR - ? E ARTES.
Relatório apresentado em sessão d'assembléa geral em
26 de Janeiro de 1868.
PELO SK. DR. RICARDO CUMBLETON DAUHT
The canse poor Catbolic emigrants pleaded before the
calholiccongressof Belgiam, Setemberi667. London.
PEU ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DA BÉLGICA
Annalles méléorologiqaes de Tobservalolre Royal de
Bmxelles, 1867. in-folio.
Mémuires couronnées el Mémoíres des savants étrangers
publiées par TAcadémie Royal des Sciences, des Lettres et
de beaoi-arts de Belgique, 1867, iD-rolio.
fiuilelinsde rAcadémie Royal des Sciences, etc, de Bel-
gique, 1867, iD-8.
Annuatre de l'Académíe Royal des Sciences, des lettres
et de beaai-arts. Bmxelles. 1868. in-8.
PEU ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA
Memorias da Academia — Classe de sciencias mathema-
tbicas, pbysicas e natnraes. Tomo 4° parle 1*, Lisboa, 1867.
Actos e rclacOes politicas e diplomáticas de Portugal
comas diversas potencias ilumundodesJeo século 16° até
os nossos dias, publicados por ordem da Academia pelo Sr.
Luiz António Rebello da Silva. Tomoâ.' Lisboa, 1865.
Quadro elementar das relagões politicas e diplomáti-
cas de Portugal com as diversas potencias do mundo, peto
visconde de Santarém. Lisboa, 1866. 2 vol. iu-4.
PELO SR. DR. JOAQUIM ANTÓNIO PINTO JÚNIOR
O cbartatão Carlos Expilly e a verdade sobre ocouflícto
entre o Brasil, Buenos-Aires, Montevideo e o Paraguay.
S. Paulo. 1866, tQ-8.
DictizedbyGoOJ^Ic
— 471 —
Uma excursão á comarca de Iguape, pelu Dr. Joaquim
ÃDtonio Pinto Júnior, em commissão do governo da pro-
víncia desde 4 de Agosto até 2 do Setembro de 1866, S.
Paulo, 1866, in-8.
Discurso proDUQciado perante o tribunal dojury da ci-
dade de Santos, pelo Dr. Joaquim Anionio Pinto Júnior, na
accusa^So de Henrique Begbie e seus (3 co-réos, pelo as-
sassinato de João Pedro Cbrist Júnior, Santos, 18CS, ia-4.
Biographia doExm.Sr. conselheiro Dr. MaooelJoaquim
do Amaral Gurgel, 1868, in-8.
PELO 5H. DR. MAXIMIANO HARQUES DE CARVALHO
Exposição universatde 1867.— Catalogue géoéral, publié
par la commission impértale— Paris, 2 vol. in-8.
PELO Sfl . BACHAREL EDUARDO DE SA PEREIRA DE CASTRO
Os Hetóes brasileiros na Companba do Sul em 18f5, os
ns. 12, 13, 14 eis.
PELO SR. DR. ALFREDO d'eSCRAGN0LLE TAUM*Y
Scenas de viagem. Eipior&çSo enire os rios Paraguay e
Aquidauana, no distrittode Mirandada provinda de Mato
Grosso, memoria descriptiva. Rio de Janeiro, 1868, 1 vol.
in-8.
Le Rètraíte de Laguna, 1868. in 8.
PELO SR. COMEGO JOAOUIM PINTO DE CAMPOS
Polemica religiosa.— Refutação ao impio opúsculo qne
tem por tiiulo o Deus dos Judeos e o Deus dos Chrislãos
sob o pseudonymo de Christ3o velho. Pernambuco, 1868,
in-8.
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PBL* SOCIEDADE POHTUGUKZA DE BEHEFICFUCU
Relatório apresenUdo á assembléa Geral do dia 22 de
JuDbo de 1868 pelo presidente viscoDde de S. Hamede, e
Parecer da commissSo de exame de conlas. Rio de Janei-
ro, 1868, in-4.
PELO Sa. DR. LUIZ FRANCISCO DA VEIGA
Noticias recônditas sobre a inquisição pelo padre A.
Vieira.
OratSo fQDebre á memoria do senador D. A. FeijÕ.
Njcttieroy (poema) pelo cónego Janoario da C. Barbosa.
Relalorio da commissflo de visita a prisões, conventos e
estabelecimentos de caridade. Rio de Janeiro, 1830.
Glossaria línguarumBrasiliensiaoi.
Elementos de bisioria oacionale de economia politica por
CG.
Le Koran, traduzido do árabe porKasimírski.
L'Enrop6 révolulionnaire par IvanGoloTèDe.
L'ADgleterre, la Frsnce, la Rnsaie et la Tarquie. Obra
traduzida do inglez, 1835.
Relação breve e verdadeira da entrada do exercito
francez em Pnrtagat. Lisbda, 1809.
L'Emperear Napoléon lU et TAngleterre, 1858.
La Lombardie et le Venetien. 1858.
L'Aulrícbe et le Prínce Roumain, 1859.
Politiqae nationate par ua ancien depute. 1859.
Rome et ses Provinces. 1860.
La Douvelle carie de l'Europe par L'About. 1860.
La verité sur les événements de Candie, 1858.
La qoestion Sonnieuse devani l'Europe par François
Lenormant, 1859.
La Duuvelle «ittiludu de la France, 1860.
DictizedbyGoOJ^IC
- A73 -
UUre i'vn jooraaliate catbotttiiie á Mooseignour l'ETê-
qoe ()'OrleaDs, 1860.
Condem nati ou de IMotríche, 1859.
LesRomagnes par J.deSaint-ArQaad, 1860.
L'ADgleleiTe el In RqssÍc par Amedée de Ceseoa, 1859.
L'ATeDÍr de l^arope ptr Predcric d'Hanault, 18S9.
L'Eniperaar Napoléoii IH «t les príacipautés roumai-
nes, 1858.
Apre; ta gaerre. ReconstitaUon de Ia Hnagri» par
Amedée Le Paare. 1859.
La Pnissã.el laquesUon iUlieoDe, :1859.
La Pnisse ea isêopar L. About, 1860.
Venise, complemontde la qtiestioa ilalieaae par M. le
CtfmtediiHamel, 1860.
La CoalitioD, 1860.
LaHoagrie, germaoisation auiríchienae, 1860.
Esl-ce la paix ? Est-ce-Ia guerre, 18M.
La paix de Zmícb et te noaveau congros earopéen par
Tchiliatcbes.
Carta pastoral do Revoí. arcebispo da Bahia coDde<de S.
Salvador sobra oespiriUspú, 1867.
Gorograpbla brasílica pelo paãre.ManooUyres de Casal.
1833.
PELO SB. FRESIDBMTE DO MONTE PIO DA BASU
Relatório apresentado pelo consGlho administmUvo da
sociedade Hoate-Plo da Bahia i assembléa geral ordinária
èni 11 de Junho de 1868.
PELO SR. DR. MANOEL DA CVtSBjí GALVÍ0.
Melhoramento do porto de Pernambuco. Proposta dos
Srs. barSo de Maná, conselheiro Manoel da Cunha' Galvão
e Dr. J. P. A. B. Moniic Barreto. Rio de Janeiro, 1868.
TOMO XXXI, P. II 60
D,:„l,;cdtvG00J^IC
PELOSK. D. FRANCISCO B<HAUR DA SILVEIRA
Relatório com que o Exm. Sr. prosidenle da pioTÍncia
do AmazoDAs, Dr. Jacinlbo Pereira do Rego abria a ussem-
biéa legislativa provincial do dia 1° de Junbo de 1868.
Hanàos, 1868.
PELO SR. SR. r. I. HARCOHtlES HOHEH DE MELLO
Escriptosbistorícos elitteiarios. Rio de Janeiro. 1868.
i TOt. ÍD-4.
PELA SOCIEDADE IMPERIAL DOS NATURALISTAS BE HOSCOV
Ossens Boletins de 1865 v 1866 2 toI. íd-8.
Idem de 1867.
PELA SOCIEDADr DE ETHNDGI.APtnA DC PARIS
Assoas Memorias tomol.* Paris, 1867.
PELOSR. JOtO BAPIISTA CORTIKES LAXE
R<>gimenlo das camaran manicipaes ou Lei de 1* de Oo-
lobro dl- 1828. Annotado por ]on<i B-iptista Corlioes Laie.
Pio de Janeiro, 1868. íd-8.
PELO inSl ITCTO DOS BACBAREIS EM LURAS
Discurso do presidente, ReUloriodo secretario e EI<^Ío
histórico do orador, na sossSo ir-agna rm 2 d< Julho
de 1868. Rio de Janeiro, 18C8.
DictizedbyGoOJ^IC
\
SUCIOS ADMITI IDUS AO GRÉMIO UO INSTITUTO
m AflNO DE 1868.
UOHOKAHIO
Exui. viscundo de lQhaú'.ija.
COHRESPONOENTSS
Ur. Luiz Francisco da Veiga.
Reviu. Pa^lre Braitsourdfl Bourbuurg.
Vivieii de Saiot-Marliii.
Cavallcíro José de Luca.
Alexandre Magno de Castilho.
Eduardo de Sá Peroira du Castro.
Uenriqui: Ambanur Schutel.
José Maiia Pinto Peiíolo.
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índice
DAS MATÉRIAS CONTIDAS NO 10M0 XXXI
PARTE SEGUNDA
TXKCBUIO niNBSTRE
A ACADEMIA BRAStUCA ilos Esquecidos. Estudo hUlorico e
lUlerario, lidu do la8'Uulo Histórico BGeQgrapliÍGoBruil«iro
pelo sócio efTectivo cónego Dr. J. C. Fernandes Pinlieiro. , . .
O DIA 9 DE JANEIR J DE 1893. Mumoria lida no Insliluto His-
tórico e Geographico Brasileiro, pelo Dr. Moreira de Azevedo.
ESBOÇO BIOGRAPHIGO lo general José de Abreu. barSo do
Serro Largo, por Joeé Maria da Silva Paranhos Júnior.
I.— Nasdmeiíto de José de Abreu. — Assenta praça no regi-
mento de ilragdei. — E' promovido a capitio,pclos seniçoa
presiados nas campanhas de 1811 e 18J2. — £' elevado a
teoenie coronel, e recebe o cominando raililar da fronteira
do Quarabim
IL— nauida tisla d'ollios sobre o estado da Bunda Oriental
em 1816, r sobre as cautas da interveocSo armada do go-
verno de D. Joau VI — Chegada doe voluntários reaes, —
InstrucçSes ilo capillo-generiil do Rlo-Grande —Cometo
das hostilidades, encontros entre as forças inimigas e as
de José de Abreu, no distrlcto de Enlre-Rlos. — O ge-
neral Curado toma conta do exefiio da direita. — Plano
de Artigas, suas forças invadem as Missões Orientaea e
sitiam 5. Borja,— José de Abreu é enviado para levantar o
sitio de S. Borja. —Sua march.i no longo do Uruguar.—
Combates do Passo de Japejú e do tbicuhy, em qUe é re-
pellidd Sotál. —Abreu atravessa este rio em procura do
coronel Andrés Artigas. ^ Combale de s. Borja e restau-
ração das Missões Orientaea
III.— Factos que se seguiram ao combate de 9. Borja. — O
inimigo resolve alacar-nns com todas as snas forças. -
Uove-se o nosso exercito. — Abreu é íacumbido do com-
mando da vimguarda,— O exercito inimigo, ao mando do
La Torre, marcba ao encontro dos nosxos. — Resolve o
nosso general atacar o quartel- general do Artigas — Abreu
é incumbido d'e«ia missSo. — Ataqne do Arajiehf (3 de
Janeiro de 18t7) e derrota de Artigas — Voita Abr u cun
a noticia de que La Torre a'esse dia devia ntacar-nos —
Batalha de Calalan [i de Janeiro) — Parle que n'ella loie
Abreu
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IV.— Campnnha de !819 a 1830. — Arllgas invade o Rio-
Grande. — Abreu evacun Alegrete, e rclira-sfi dlaiiie do
inimigo — 4kinibaie do Ihírapmtan-Chico (IA de Selrmbri>].
— Renne-K ao general Gorr&t da Gamara, e colloca-*e cim
este no passo do Rosário — São atacados a 17 |ior La Torre,
que é repeltido. — Marcham em obi^rvação da inimigt>
Combale do Ibicuhy-Guassú 27 de Dezembro;. — Arligas
marrJia em dlrecçilo ás vertentes do Taquarembó. e é
seguido por Abreu eCáninra. —Volta para atacal-os. — Estes
re(lram-se, e rennem-se ao Mnde da Figueira. — Marcha
o nosso exercito em pmctira dn inimigo — Baialba de
Taquarembó (20 ile Janeiro).— Parle que n'ellateve Abreu
E' destacado para limpar ^i iraropanha ;ilé ao Uruguat. — E'
recompensado comoposlo de marechal de campo graduadn
a re-
. _ a de rcrorços para o siiio de Montevideo, e marcha
alé Mercedes com uma divisSo auxiliiir. — Volta para o
Rio-Crande depois ds capitulação dos poriuguezes. — E'-ilie
conferido o poslo eíTeciiTo de marecbal de campo
VI.— QoesISo da Clsplatinn. —Revolução de 1625 protegida
pelo governo aif enlmo.— DeFecçío ilo coronel Julian Laguna
e do nrigadeiro Rivera — O visconde da Laguna pede re-
forgoa ao governo gorai, e á província do Rio-Gmndc do
Sul —Abreu prenara uma divisão, e invades Cisplalina —
começa a desinlelligcncia do general Sebastião Bnrreto com
Abreu. — Estado da Cisplatina, quando Abreu pàz-se em
marcha —Demora se este Junlo ao arroio Pregueio á espera
das Torças dos coronéis Jardim e Menna Sairelo. — Ataque
de MGrcedi's pelo general Rivera (23 de Agoslo), que í
rechaç.ado, — Abreu move-se par.i cobrir esse ponlo, e ata-
car Rivera.- Teii'ativi<s inúteis para chamar Rivera a uma
acção geral
VU.— AUreu destaca conlra Rivra o coronel Bento Manoel.
— Combate de Arbolilo (4 de Setembro;, e marcha de BeiUo
Manoel para Montevideo. — Lavalleja levaulao sitio da Coló-
nia, e concentra suas forças no interior. ~~ Posição dos
belligoraotes — l'1ano de operações communicado pelo
visconde da Laguna a Abreu.— Combates <lo RÍdcod e de
Sarandv.—Abreu não concorreu para esses revezes; accn-
sações mfnndadas que lhe foram feitas. — Retirasse para
Belém, e ahi reuno-ae a Bento Manoel — Segue para o
Rincon de Mala-Perros
VIII.— Abreu deixa no Rincon de Catalan Benio Manoel, c
Hxa seu quartel-general em S. Gabriel. — Recebe a noticia
de lhe ler sido conferido o titulo de barão do Serro-l^igo.
—Providencias para defeza da fronteira do Rio-Grande.—
Combale de Taqunry (17 de Detcmbro , e snrpreza do forte
de Santa Theresa [31 de Dezembro). — Vencem os inimi-
D,:„i,;cdtv Google
Ill
g08 du barSo do Serr(KLar|;o, que é eiunerado do com-
matidii das arman do Itio-draode. — Sua despedula. — Es-
tado em que detiou a proviocU. — Erroe ao seu sncce»-
aor.— Ciiiiibuies durunte o anuo de 18i6. — Viagem do
seolior D. Peilro I au Hlo-Graode ***
IX — <) barSo du Serru-Largo offerece-ae para orgaoisaJ' um
Gurpo de VDiuiilaríos. — O Imperador regreasa ã c6rte.—
O marquez de Barbaceoa é nomeado commaodante em
chefe do eiercllo. — Conferencia do marquei com o bário
du Serro-Largo.— lislt recusa aceitar o commando de uma
dÍTÍB3o, e aò pede o do corpo de voluoLarios que la orga-
Disar.— Parte para S. Gabriel, para (uide cbama os seus
'elliOB tompanheiros de armas. — O eiercito argenlíDO
dirige-se á Do&ga fronteira — Mofimenlos doa dolsfxer-
cilos. — JuiiiçSo dl' Barbacena e de Biown no arroio das
Palmas — Fu^a simuliida ile Alyear. — O barSo do Serro-
Largu reune-se ao eiejcilo do passo doa Enforcados. — E'
iucumbidu de iiommand^ir a viioguarda. — Marcha do exer-
cito em direcção uo passo do Bosarío. — Balalliu de Ilu-
zaingo.— Morte do barjo do Serro-Largo liO
QtlAATO TRIXESTKE
BIOGRAPtllA du botânico brasileiro José Mariauao da CoQcei<^o
Velloso. MuiDOíía lida ao Inglitutu Hiblgrícn perante S. U. o
imperador, por J»Bé de Saldanha da Gama
CAPITtiLOl*
D a-
• 3- Volver d'olhos anulytico sobre os primeiros tra-
balhos de Velloso
• a-
» 6* A Flora FlumineaBC
IA 881
U 388
15 SúS
16 Analjse de tratado si.bre s cultura, ueo e utili-
dade das batutas ou \apa, do liespunbot
D. Henrique Dojle 248
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c»piTDLol9 VrilAsoe Bocagfl ., 2S9
■ ao T 27S
CE1IBI16S creadM por Pr. José Mnitono da-Concel^o VpIIoso
para a Fhra BnuiUira.—Jiaif» colbfdnB na Flan Brati-
Itúa da Dr. Martius : naOm. nantanm d'Hoide e Bth,
e DorfeRndtrchpr, etc. etc.; moDograpliíM, etc S7A
pLtHTts danificadas por Vellcnr, que coostam da Flora
Bratíteira 276
ipriHBiCB SOA
APPtRDici ao capitulo VHInsoe Bocage 305
BhKUIAPMIA dos hraslteiros itliistres por anosB, lelraR, viitn-
dea. ele.
Prandseo HmwpI da Silva 306
ACTAS das snsSes em 1B68 3tú
PARECERES de conunissOes OU rominlBranos especlaes.
Parecer da caminlssilo de fundos eorçtinento 37t
Parecer da nonunlasSo de Tirudos, ntxm de um jazigo per-
petuo pira o« reitos Dinrlaes do floiidp marechal Ray-
inuDdo José daCDDha Mattos 375
Pareceres de admissio de soctos 377
SE<^SAO auiícnt anaftertaTia. Discurso do presidrnte o Sr. vis-
coode de Sapncah; &01
RELATÓRIO do 1* secn^tarlo cónego Dr. J. C. Fernandes Pi-
nheiro A05
DISCURSO do omdor o Sr. Dr. Joaquim Manoel de Macedo. ... 131
MANUSCRIPTOS oITereftidos ao Instituto durante 0 aono de
1K68 555
MAPPAS offerecidos ao Instituto durante oannn de 1868 A56
RELATÓRIOS e documeiítoii remellidns pelas secretarias de Es-
tado durante o annode 1S6S 557
RELATÓRIOS e documentos remettido» por algumas presidên-
cias de provindas durante o anno de 1868 460
OBRAS diversas, offérecidag ao Instlliito durante o anno de
1868 Ú62
SÓCIOS admitlldos ao grémio do Instituto no anno de 1868... â75
TYP DE PINHEIRO & OWP , RUA SETE DF SETEMBRO N. 159
DictizedbyGoOJ^IC
Png. 95 — epigraplie — Abreiípre para — lèa-se : Abreu prepara
n 97 — prevenetes — lêa-se : previdenles.
» 98 — Arsenal Graode — lía-se : Arenal Orande.
» 100 — nola W) — ancliões — leo-se : laachOes.
» t23 — nota (63) — responsave — léa-se : responsável.
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